Em nome da “paz política e democrática”, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, expôs a Lula (foto) nesta quarta-feira, 17, uma proposta de um plebiscito sobre a fraude eleitoral na Venezuela, marcada para 28 de julho. Ninguém entendeu direito do que se trata. - Ser Antagonista é fiscalizar o poder. Apoie o jornalismo Vigilante:
https://bit.ly/planosdeassinatura
Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp. Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo e muito mais.
https://whatsapp.com/channel/0029Va2S...
Ouça O Antagonista | Crusoé quando quiser nos principais aplicativos de podcast.
Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br
00:00Eu gostaria de trazer uma boa notícia aqui para a gente poder entender isso, mas a má notícia é que é muito difícil entender, para não dizer que é impossível entender quais são esses planos que foram apresentados pelo Gustavo Petro ontem e aparentemente sem combinar com o governo brasileiro,
00:22já que o Lula estava junto com ele ali numa série de agendas em Bogotá. Vamos tentar explicar aí. A proposta é mesmo de um plebiscito que se fale sobre a oposição da Venezuela. Não tem data para ele acontecer, mas é um plebiscito que vai ser organizado pela Venezuela sobre a oposição.
00:44O problema é, há décadas, ou pelo menos há 10 anos, o Maduro está no poder e essa oposição é sistematicamente excluída do jogo e ela não entra no jogo mais e todos os candidatos que são colocados pela oposição venezuelana são cotidianamente e sequencialmente tirados do jogo.
01:09A gente lembra muito bem do Capriles, a gente lembra do caso agora mais recente da Corina Machado, todo nome que entra em confronto ou se posta como uma ameaça direta ao Maduro é sacado do jogo.
01:27Então, assim, é muito estranha a proposta do Gustavo Petro. Vale lembrar, ela não foi aí tratada diretamente, aparentemente, com o governo Lula.
01:38Mas é uma proposta, assim, que, bem, acho que o Petro vai ter que voltar de novo e explicar para todo mundo.
01:46Ainda sobre o encontro do Lula com o Petro, a gente vinha aqui alertando nos últimos dias que podia ser aí uma receita muito complicada, né,
01:58para o Lula poder falar alguma coisa que gerasse novamente uma crise diplomática, tal como aconteceu quando ele viajou para a África.
02:05Não aconteceu, mas ele também não deixou quem esperava algum problema de mãos abanando, né, então, assim, primeiro a gente falou aqui na Cruzoaé sobre a declaração conjunta,
02:19que é um documento lançado após as conversas, que é um documento mais ou menos pré-pronto, assim, sobre as conversas dos presidentes,
02:28que meio que resumem o que eles discutiram, né.
02:34Primeiro que os dois que são abertamente contra o governo de Israel atual, do Benjamin Netanyahu,
02:41eles não criticaram o ataque iraniano no sábado e mantiveram ali uma postura bastante afastada, né,
02:53e desconsiderando esse ataque, cobrando, na verdade, ações de Israel para encerrar a guerra em Gaza,
03:01ou seja, falando que deseja cessar fogo, que deseja o cessamento ali das hostilidades com o Hamas,
03:10mas não citou, por exemplo, o ataque iraniano com mísseis, com mísseis balísticos,
03:14como a gente vem explicando durante a semana.
03:17E também falaram um pouco sobre a questão da Venezuela, mas eles foram ali mais pro forma,
03:23ou menos polêmico do que essa questão do plebiscito.
03:26Eles apenas reiteraram que confiam na democracia venezuelana, seja lá o que isso for,
03:33e que esperam que o governo do Maduro, ele mantenha o que foi acordado em acordos internacionais
03:44pela realização de eleições no país.
03:47Pois é, e esse plebiscito, como a gente falou, vai ser organizado justamente pelo Hugo Chávez,
03:55quer dizer, pelo Hugo Chávez, esse já não está mais aqui conosco,
03:58esse vai ser organizado pelo governo do Maduro.
04:02Você acha que existe uma chance, pequena, quem sabe,
04:07desse plebiscito ser influenciado, visto que interessa ao governo
04:12o permanente cerceamento de direitos da oposição?
04:18Então, ele, um ditador, vai fazer um plebiscito consultando o povo
04:24para saber sobre os direitos da oposição que pode tirá-lo do poder.
04:28Qual a chance de ter, digamos assim, alguma influência direta ou indireta
04:34para que o resultado favoreça mais uma vez o status quo, isto é, ele mesmo, o Nicolás Maduro.
04:41Inácio, acho que essa é uma questão extremamente interessante,
04:46porque a resposta não é necessariamente zero, assim, a chance.
04:49A gente poderia muito bem falar que as chances de eu se dar certo são zero,
04:53mas existe um argumento que faz sentido explicar por que que talvez esse plebiscito dê resultado,
05:06que é o seguinte.
05:08O Maduro sabe que ele pode ser preso em qualquer lugar do mundo
05:13pela acusação de crimes contra a humanidade.
05:15A questão é, cometeu ou não cometeu crimes contra a humanidade,
05:20isso quem decide é o Tribunal de AI, o Tribunal Penal Internacional.
05:25Há ações contra a Venezuela abertas no TPI,
05:29e em algum momento, se o TPI julgar que houve crimes contra a humanidade,
05:34é um crime que não se prescreve, e o Maduro pode ser preso em qualquer lugar do mundo,
05:39como aconteceu com o Pinochet.
05:42O Pinochet, muitos anos atrás, ele havia sido preso na Inglaterra
05:46por ordem de autoridades espanholas, e ele era um ex-presidente chileno.
05:52Então, assim, tendo isso em mente, é possível imaginar que para o Maduro,
05:59hoje, um dos cenários mais suaves para ele terminar uma ditadura,
06:06ou morto, no caso, se ele quisesse continuar uma ditadura eterna,
06:12uma das maneiras era tentar retomar um papel nem que seja menor da oposição no país,
06:20que aconteceria de maneira gradual,
06:23ou tal como ocorreu na ditadura brasileira,
06:26uma abertura lenta e gradual,
06:29poderia ser um caminho pensado pelo governo do Nicolás Maduro.
06:34Então, assim, esse plebiscito, ele pode até gerar alguma coisa interessante,
06:38por mais que a gente não entenda o que seja esse plebiscito,
06:41porque, enfim, Gustavo Petro não deu maiores detalhes,
06:45mas é interessante pensar que pode ser uma saída,
06:52não existe saída honrosa para o Maduro nesse caso,
06:56mas, assim, seria uma saída onde ele permite uma entrada de uma oposição
07:01que volte a ser competitiva, não imediatamente,
07:04mas, assim, daqui a alguns ciclos eleitorais,
07:06haja algum fragmento de oposição
07:11que, pelo menos, ajude ele a dar uma limpada na barra.
07:17Então, assim, é curioso pensar que a resposta
07:19muito provavelmente não vai ser zero,
07:22não seja chance zero disso dar certo.
07:26É, enfim, a frase da ditadura aqui era uma abertura lenta,
07:31gradual e segura.
07:33E, no caso da Venezuela, quanto mais lenta, melhor,
07:38quanto mais próxima de zero o gradualismo for,
07:43melhor e segura.
07:45Nunca dá para ser muito, porque em algum momento
07:47pode haver um levante lá, mas vamos acompanhar,
07:50claro, porque é uma situação muito triste
07:54essa democradura venezuelana, né?
07:58É uma ditadura muito mal disfarçada de democracia.