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NotíciasTranscrição
00:00Olá, bem-vindos ao Ilha da Cultura, o nosso novo programa de indicações culturais.
00:14Toda semana a gente vai conversar com um especialista, um escritor, um cineasta, um músico,
00:20que vão ajudar a gente a se aprofundar em um assunto, conhecer novidades,
00:26ou então simplesmente receber boas dicas de cultura em todas essas áreas que eu falei,
00:33música, cinema, filme, tá bom?
00:37O nosso primeiro entrevistado é o filósofo Luiz Felipe Pondé.
00:43Ele vai conversar com a gente sobre ficções que são tão boas quanto filosofia.
00:50Pondé, boa tarde.
00:52Boa tarde, Carlos. Obrigado pelo convite.
00:55É um prazer estar aqui com vocês.
00:58Obrigado a você por ter topado participar desse nosso novo programa.
01:03A gente combinou que você ia, então, falar de livros e filmes
01:09que são ficção tão boa quanto filosofia para pensar na vida, é isso?
01:15Isso mesmo.
01:16Vamos falar de filmes, livros, porque é claro que a filosofia é grandiosa,
01:24a história da filosofia, que é a própria filosofia,
01:27mas às vezes produções de ficção, elas são o que a gente chama de mais livres.
01:33Livres no sentido que a imaginação pode correr solta,
01:38você não precisa dar conta de ideias claras e distintas,
01:43como dizia o Descartes no século XVII,
01:46que a filosofia deveria operar a partir de ideias claras e distintas,
01:51aí tem toda uma questão de lógica.
01:53Se pegar a filosofia analítica, então, são demandas lógicas extremamente duras.
01:59E a ficção não, né?
02:00Seja ela fílmica, seja ela escrita,
02:05ela pode tratar de conceitos, às vezes, de uma forma mais direta e mais rica
02:12por conta de toda a imagem imaginária que ela lida.
02:16Muito bem.
02:17E você, inclusive, tem uma história na sua própria produção
02:21de ter, não só uma vez,
02:26mas eu me lembro, sobretudo, do seu livro sobre o Nelson Rodrigues,
02:29que você disse que é um dos grandes pensadores brasileiros.
02:32Então, você já tem um olho treinado
02:34para enxergar filosofia em quem a maioria das pessoas não vê um filósofo.
02:39Sim, claro.
02:41Esse livro que você faz referência se chama Filosofia da Dúltera.
02:45Acho que de 2013, se não me engano,
02:48é um livro em que eu discuto a figura da Dúltera
02:52na obra do Nelson Rodrigues.
02:56E quando eu falo que o Nelson é um grande filósofo,
03:01um grande pensador,
03:02eu ainda o remeto à tradição moralista na filosofia,
03:06que é uma tradição que não tem nada a ver com você
03:08ficar fazendo regra para os outros.
03:13Moralista em filosofia significa
03:14alguém que analisa o comportamento humano,
03:18a natureza humana.
03:20E faz isso de uma forma anatômica, de seca.
03:25E é o que o Nelson Rodrigues faz.
03:26O meu outro livro sobre um autor
03:29é sobre Dostoiévski, que aparece aqui atrás de mim,
03:32que é o Crítica e Profecia.
03:34A primeira vez que eu lancei foi em 2003,
03:37que é uma análise da filosofia da religião
03:40no Dostoiévski, nas obras dele, várias obras.
03:44É isso aí.
03:45Bom, você selecionou cinco obras de ficção
03:50para a gente comentar.
03:52Você quer fazer como?
03:54Quer começar por ordem cronológica
03:57ou quer ir saltando de uma para a outra?
04:00Se você quiser ir saltando de uma para a outra...
04:05É, nem sei.
04:07Para mim...
04:09Vamos começar pela ordem cronológica, então.
04:12Você disse que queria conversar,
04:15que queria falar sobre Antígona,
04:18uma peça da Grécia antiga.
04:21Por que Antígona apela para o filósofo
04:25que tem dentro de cada um de nós?
04:28Então, o vínculo entre tragédia e filosofia
04:32é uma coisa que já vem sendo trabalhada
04:37e o foi de forma específica
04:39por grandes filósofos como Nietzsche, por exemplo.
04:43Agora, o meu interesse específico
04:48pela peça Antígona do Sófocles
04:50é porque eu acho Antígona
04:52uma personagem absolutamente apaixonante.
04:56Porque ela...
04:59Tem que dar spoiler, mas veja bem.
05:02É uma tragédia grega, 2.500 anos.
05:04Se você ainda não viu ou não leu,
05:06eu sinto muito.
05:08Mas, assim, ela é filha de Édipo e Jocasta.
05:15Assim como também na versão do Sófocles
05:18é o de Eteóclis, o Policines,
05:20que estão mortos quando começa a peça Antígona.
05:23Um matou o outro numa batalha.
05:26E a Ismênia, que também é a sua irmã.
05:29E a Antígona, eles foram cuidados por Creunt.
05:33É assim que na Édipo Rei encerra
05:36o Édipo pedindo para que Creunt cuide dos seus filhos,
05:39principalmente das suas filhas.
05:40E isso é muito marcante,
05:43porque a Antígona é uma peça
05:44em que ela insiste em fazer honras fúnebres,
05:50em enterrar o seu irmão Policines,
05:53que entrou em conflito com Eteóclis,
05:55querendo tomar o trono de Tebas,
05:57do seu tio Creunt.
05:59Eteóclis defendia Tebas, status quo,
06:02portanto foi enterrado com honras,
06:05enquanto que o Policines é considerado
06:07pelo Creunt um traidor.
06:09Então ele cria uma lei,
06:11segundo a qual,
06:12mesmo jovens aristocratas,
06:14mortos em batalha,
06:16se forem considerados traidores,
06:19não serão enterrados
06:20e serão lançados aos aputres.
06:23Certo?
06:24E condena a morte qualquer um
06:26que não respeitar a sua lei.
06:28Antígona vai lá e enterra o seu irmão
06:30com honras fúnebres.
06:31E a condenada a morte
06:32acaba se matando antes,
06:35ou seja,
06:36tem duas coisas,
06:37entre outras importantes aqui
06:39na peça da Antígona.
06:40Primeiro, o conflito
06:42entre a posição dela,
06:44que defende a tradição,
06:46as religiões,
06:48a religião grega,
06:51digamos,
06:52aquilo que os deuses
06:53os tinham ensinado
06:55através da tradição e dos séculos,
06:57segundo a crença,
06:58portanto,
06:59ela defende a tradição
07:01e a religião,
07:02enquanto seu tio creonte
07:03defende a ideia
07:04de que se pode criar
07:05uma lei nova.
07:07Isso, no século V,
07:08evidentemente,
07:10transparece
07:11a experiência
07:12da democracia ateniense,
07:14pensando em criar leis
07:16que não tinham a ver
07:17com leis religiosas
07:20da tradição e tal.
07:21Então, na peça,
07:22apesar do creonte ser um tirano
07:23e criar uma lei
07:25contra a tradição
07:26e o coro,
07:27o povo,
07:28não está muito simpático a ele,
07:30ali você tem claramente
07:31o conflito
07:32entre alguém
07:32que defende a tradição,
07:34no caso Antígona,
07:35e alguém que defende
07:36a criação
07:37de novas leis,
07:39no caso creonte.
07:40E é muito interessante
07:40porque modernos
07:42normalmente deveriam,
07:43digamos assim,
07:45se sentir
07:46impactados
07:48e simpáticos
07:49ao creonte,
07:50mas a realidade Antígona
07:51é que,
07:53de certa forma,
07:54nos apaixona
07:55pela coragem dela
07:57enfrentar
07:58o seu tio e rei
08:00e também
08:01pelo fato
08:02de que ela
08:02entende
08:03que ela,
08:05assim como seus irmãos,
08:06não deveriam existir
08:07porque eles são filhos
08:08de um útero
08:09incestuoso.
08:11Sua mãe de Ocasta
08:12é a mãe do Édipo,
08:13que é o seu pai.
08:15Então,
08:15seu pai Édipo
08:16é meio irmão dela
08:18e ao mesmo tempo
08:20é o pai dela.
08:21E sua mãe de Ocasta
08:22é sua mãe,
08:23de certa forma,
08:24sua avó.
08:25E ela,
08:26tendo consciência,
08:28ela tendo consciência
08:29disso que os gregos
08:30chamam de miasma,
08:32quer dizer,
08:32uma herança maldita,
08:34ela entende
08:35que a descendência
08:37de Laios,
08:38seu avô,
08:38pai de Édipo,
08:39não deveria existir
08:41e, portanto,
08:42ela aceita
08:43a condenação
08:44à morte,
08:45mas não pela causa
08:46que o seu tio e rei
08:47estabelece.
08:50É isso aí.
08:51Ela mesma escolhe
08:52a sua causa
08:53de morte
08:54ou ela
08:55não aceita
08:58a lei nova?
09:00É isso,
09:01na verdade.
09:01Ela não aceita
09:02a lei nova,
09:03ela faz
09:05segundo a tradição,
09:06ou seja,
09:07ela defende
09:08os deuses,
09:09representado
09:10pela tradição,
09:11e,
09:12por defender
09:12os deuses,
09:14ela também
09:14defende
09:15a posição
09:15do Apolo
09:16no oráculo
09:17de Delfos
09:17que era
09:18Laios,
09:18não pode ter
09:19descendência.
09:21Certo?
09:22E isso faz
09:23com que ela
09:23aceite a morte
09:24porque ela
09:25não deveria
09:26ter existido.
09:28Entende?
09:29Quer dizer,
09:30é uma atitude
09:31que,
09:32para nós,
09:33modernos,
09:34parece absolutamente
09:35absurdo,
09:36porque a gente
09:36só entende
09:37miasma,
09:37herança maldita,
09:38se for,
09:39sei lá,
09:39dívidas do pai.
09:40E você
09:45já
09:45recomendou
09:47a peça
09:47outras vezes
09:48para pessoas?
09:49Já teve
09:50oportunidade
09:50de ver o efeito
09:51em pessoas
09:53para quem você
09:53recomendou a leitura?
09:55Ah, sim,
09:56eu,
09:57na graduação,
09:58eu uso
09:59peças
10:00das tragédias
10:01gregas
10:02para os alunos
10:03montarem cena
10:04já há muitos anos
10:05e discutem
10:06em sala de aula,
10:07e a personagem
10:10Antígona,
10:11pelo texto dela,
10:13pela força
10:14dramática dela,
10:15normalmente
10:15encanta muito
10:17muitos alunos,
10:18de fato.
10:19Ela é,
10:20de fato,
10:20uma personagem
10:21impactante
10:22por essa
10:23capacidade
10:24que ela tem
10:25de enfrentar
10:26uma lei
10:27em nome dos deuses
10:28e ser íntegra,
10:29como diria o Nietzsche,
10:30nesse sentido,
10:31de entender
10:32que se ela concorda
10:33com a lei dos deuses,
10:34ela concorda
10:35que ela não deve existir.
10:37Muito bem.
10:38Bem,
10:40pela ordem aqui,
10:42vamos ver,
10:42o segundo texto
10:44deveria ser
10:45Macbeth,
10:47de William Shakespeare,
10:49certo?
10:50Certo.
10:50Também uma tragédia,
10:53só que uma tragédia
10:54da época do Renascimento.
10:56Isso aí.
10:57Já a passagem
10:58ali do século
10:59XVI
10:59para o XVII.
11:01Isso mesmo.
11:03Macbeth,
11:04inclusive,
11:05entre as tragédias
11:06do Shakespeare,
11:06às vezes,
11:06é considerada
11:07uma tragédia plena,
11:08completa.
11:09Tem, inclusive,
11:10um dos trechos
11:11do Macbeth,
11:12que é normalmente citado
11:14por críticos literários
11:16ou filósofos
11:17que estão discutindo
11:19o que seria
11:19uma essência trágica,
11:21que é uma cena
11:23que o Macbeth,
11:24já ao final,
11:25praticamente derrotado,
11:27ele fala alguma coisa
11:28como
11:29o homem
11:31é um ator
11:33correndo de um lado
11:36para o outro
11:37do palco.
11:37Um roteiro
11:40escrito por um idiota,
11:43cheio de som e fúria,
11:46significando nada.
11:48Assim,
11:50quinta cena
11:51do quinto ato,
11:53quer dizer,
11:54é uma das cenas
11:55mais famosas
11:56do Macbeth.
11:57O Macbeth é uma tragédia,
12:00alguns dizem
12:00que ela é uma tragédia
12:02que trata do mal,
12:03né?
12:05Na realidade,
12:05ela trata do mal
12:06representado
12:08pela figura
12:09da ambição desmedida,
12:11né?
12:12O Macbeth
12:13mete na cabeça
12:14que ele tem direito
12:14a ser rei
12:15e, a rigor.
12:19Se alguém
12:20questionar
12:20por que
12:21alguém é rei
12:22e outro não é,
12:22Macbeth era tão nobre
12:24quanto Duncan,
12:25que era o rei
12:25da Escócia,
12:26né?
12:27Então,
12:28por que ele não podia
12:29ser rei?
12:29Só que para fazer isso
12:30ele tem que matar
12:31muita gente,
12:32inclusive o Duncan,
12:34que é um super
12:35cara legal,
12:36né?
12:36Quando você vê a peça,
12:38o Duncan vai visitá-lo,
12:40honrá-lo,
12:40porque ele lutou
12:41defendendo o Duncan
12:42contra outros traidores,
12:44nobres traidores,
12:45a gente sabe que
12:47na Idade Média,
12:49no feudalismo,
12:50os nobres
12:52brigavam entre eles,
12:54um querendo tomar
12:55o trono do outro,
12:56tinha toda uma cama
12:57de conflitos, né?
12:59Mas o Macbeth,
13:01então,
13:02ele literalmente
13:02atravessa o samba.
13:04Então,
13:05ele mete na cabeça
13:06que ele pode ser rei
13:06e ele devia ser rei
13:08e aí ele sai
13:09devagar
13:10tudo,
13:11além do fato
13:12que tem
13:12uma grande personagem
13:14na peça também
13:14que é a Lady Macbeth,
13:15né?
13:16Que pessoas
13:18com um repertório
13:19mais sofisticado
13:19às vezes dizem
13:20essa aí é uma Lady Macbeth,
13:22né?
13:22Quer dizer,
13:23tem duas grandes personagens
13:25femininas
13:25terríveis na literatura.
13:27Masculinas
13:28existem várias, né?
13:29Femininas
13:30tem duas, assim,
13:31inesquecíveis.
13:32Uma é a Medéia
13:34do Eurípides,
13:35na Grécia,
13:35a feiticeira de Kólkida,
13:38que na realidade
13:38é a Georgia hoje, né?
13:40Que mata os filhos
13:41para se vingar
13:41do marido, né?
13:43Na peça Medéia.
13:44E a outra
13:45é a Lady Macbeth.
13:47A Lady Macbeth,
13:48que se arrepende
13:49depois, né?
13:50Morre louca
13:50antes do Macbeth
13:52morrer em batalha,
13:54ela,
13:55quando o Macbeth
13:56volta para a casa
13:57da batalha,
13:58com a cabeça de ser rei,
13:59ele fala
14:00para a Lady Macbeth
14:01e ela adora a ideia.
14:02Ela é tomada
14:06ela é tomada
14:08pela ideia,
14:09olha de grande ideia
14:11e tal.
14:11Aí vem o Duncan,
14:13vai dormir no castelo,
14:16ele janta,
14:17o Duncan
14:17presta homenagens
14:18ao Macbeth.
14:20E aí o Macbeth,
14:21quando está sozinho
14:22com ela,
14:23ele tem aquilo
14:24que os americanos
14:25chamam de cold feet,
14:26né?
14:27Ele,
14:27cold foot,
14:29quando são os dois,
14:30é feet.
14:30ele tem uma,
14:32uma,
14:33ele para e diz,
14:34não,
14:34peraí,
14:35ele tem uma dúvida.
14:37É,
14:38ele fica em dúvida.
14:39E ela vira para ele
14:40e diz assim,
14:41quando ousaste
14:42foste homem.
14:44Quer dizer,
14:45ela põe em xeque
14:47aquilo que eles chamavam,
14:50ainda chamam,
14:51mas era muito comum
14:51no inglês medieval,
14:54manhood.
14:55Ela põe em dúvida,
14:56sei lá,
14:57a macheza dele,
14:58numa linguagem
14:59mais nordestina,
15:00e ele sai louco
15:02e mata o Duncan
15:03e mata um monte de gente,
15:05cobre a terra de sangue,
15:06né?
15:07E é por isso
15:08que tem essas discussões,
15:10se a lei do Macbeth
15:10vai ser culpada,
15:11se ela não é culpada.
15:12É claro que
15:13quem teve a ideia
15:14foi ele,
15:15né?
15:16Mas naquela hora
15:16que ele teve em dúvida,
15:19talvez pudesse dizer
15:20para ele,
15:20não,
15:21olha,
15:21até que foi uma boa ideia
15:22você pensar duas vezes,
15:23veja o Duncan,
15:24um cara legal.
15:25Mas ela embarca naquela
15:26e ela vai naquele ponto
15:28que,
15:30sabe-se muito bem
15:31que uma mulher
15:32consegue fazer
15:33com que o cara
15:33perca a cabeça.
15:35Ah,
15:35você está com medinho?
15:36Está com medinho agora?
15:38Você não vai,
15:39não tem coragem
15:40de levar adiante
15:40o plano que você tinha feito?
15:42E aí ele sai feito louco,
15:43ela se arrepende,
15:45enlouquece,
15:46fica vendo sangue
15:48nas mãos dela
15:49o tempo inteiro,
15:50né?
15:50Quer dizer,
15:50ela toma consciência
15:52do absurdo
15:52antes dele,
15:53né?
15:54E o que acontece com ela
15:55acaba o levando
15:57a perceber
15:57que ele também,
15:58por isso que ele fala,
16:00é um,
16:00a vida é como a chama
16:01de uma vela,
16:03ele fala,
16:03quer dizer,
16:04é um louco,
16:05ator,
16:06correndo no palco,
16:07um roteiro escrito
16:07por um idiota,
16:09cheio de som e fúria.
16:11Essa parte do louco
16:13correndo pelo palco
16:14como um idiota
16:14é um pouco
16:15a história do Brasil
16:16como completa,
16:17né?
16:17mas brincadeira.
16:20Eu queria te perguntar,
16:22como é que a gente
16:23transporta
16:24para o mundo atual
16:25essa ideia
16:27de ambição
16:28que está no Macbeth?
16:30Como é que tenha
16:31desaparecido completamente
16:32da nossa realidade?
16:34De forma nenhuma.
16:36A guerra.
16:36Ela?
16:37Né?
16:38Eu suponho que,
16:39sei lá,
16:39a mulher do Putin
16:40talvez seja
16:41uma Lady Macbeth
16:42dos dias de hoje.
16:44Talvez tenha
16:44a Lady Macbeth
16:45ali nas milícias,
16:47né?
16:47Empurrando os maridos
16:49para conquistar
16:49mais territórios.
16:51Mas,
16:53na nossa vida cotidiana,
16:55você enxerga
16:56uma aplicação
16:57para essa discussão
16:58sobre ambição
16:59do Macbeth?
17:02Fácil.
17:03O capitalismo
17:05é baseado
17:06na ideia
17:06de que você
17:07seja ambicioso
17:09off-limits,
17:11como eu vi outro dia
17:12escrito em algum lugar.
17:13Off-limits.
17:14Quer dizer,
17:15você é greed,
17:16works.
17:18Lembra dessa famosa
17:19frase do Gordon Gekko
17:21no primeiro Wall Street,
17:23do Michael Douglas,
17:24o bom,
17:24o filme bom,
17:26né?
17:26Wall Street,
17:27quer dizer,
17:27greed works.
17:29Quer dizer,
17:30a ambição
17:32desmedida,
17:33né?
17:34A ganância
17:35move o capitalismo.
17:37É claro que o capitalismo
17:38hoje,
17:38ele está
17:39fantasiado
17:40de colaboradores,
17:42gente legal,
17:43está preocupado
17:44com esse G,
17:46tem sido pressionado
17:47para,
17:48de vez em quando,
17:49agir de forma republicana,
17:50as empresas.
17:51Então,
17:52tem aí
17:52umas tensões,
17:53mas o capitalismo,
17:55ele,
17:55na sua essência,
17:57ele tem um instinto,
17:59né?
18:00Assassino,
18:01de ir para cima,
18:02de conquistar,
18:03de gerar.
18:04puro Macbeth,
18:07né?
18:07Quer dizer,
18:08por que eu não posso
18:09ser o CEO?
18:11Por que que eu não posso
18:12ganhar mais?
18:14Por que que eu não posso
18:15tomar o lugar
18:15desse cara
18:16ou dessa mulher
18:17que está aí?
18:18Se eu sou melhor,
18:20né?
18:21Então,
18:21o problema
18:24do Macbeth,
18:25o problema
18:25da ambição
18:26desmedida
18:27do Macbeth,
18:28ele é
18:28absolutamente atual,
18:30fora das guerras,
18:31dessas situações
18:32mais dramáticas
18:33que você descrevia,
18:34e ele está presente,
18:36inclusive,
18:37sei lá,
18:38em muitos
18:40workshops
18:41que você faz
18:42para ser mais assertivo,
18:44para chegar lá,
18:45mostrar do que você
18:46é capaz,
18:47né?
18:48A ambição,
18:49ela tem por característica
18:51problematizar
18:53o limite de si mesma.
18:55Sempre.
18:56Será que eu parei antes?
18:57Será que eu fui covarde?
18:58Eu não fui resiliente?
19:00Sabe?
19:01Eu não tive coragem
19:02até o fim?
19:04Essas coisas.
19:06Muito bem.
19:07Vamos para o seu
19:08terceiro livro,
19:09Pondé.
19:11Você tinha ficado
19:12em dúvida
19:13entre recomendar
19:14um Dostoyevsky,
19:16que você,
19:17inclusive,
19:17tem aí atrás de você,
19:19ao lado do Freud,
19:20né?
19:21Mas você acabou
19:22escolhendo um outro
19:23russo contemporâneo
19:25dele,
19:26o Turgenev,
19:28com pais e filhos,
19:30que também é um dos
19:31grandes romances
19:33da literatura russa
19:35ali do século XIX,
19:36né?
19:37Por quê?
19:39Esse livro aqui atrás
19:41é o quinto volume
19:42da biografia definitiva
19:45do Joseph Frank,
19:46do Dostoyevsky, né?
19:48Está traduzido em português
19:50e tal,
19:51e esses dois caras aqui
19:53são dois autores
19:53que seguramente
19:55marcaram a minha formação
19:56e marcam até hoje,
19:58tanto ele quanto o Freud.
19:58Mas, assim,
20:00olha,
20:01eu, inclusive,
20:02podia ter até indicado
20:03Mal-estar na Civilização
20:04do Freud,
20:05que é um texto
20:06arrasador, né?
20:08Quem nunca leu
20:09e continua achando
20:10que a felicidade do homem
20:11faz parte dos planos
20:12da criação,
20:14precisa ler
20:15Mal-estar na Civilização
20:16do Freud.
20:17Mas, assim,
20:18a gente escolheu...
20:20Não é ficção,
20:21a gente combinou
20:22que seriam ficções.
20:23É, então,
20:23não é ficção,
20:24por isso que é um ensaio,
20:25né?
20:26Psicanalítico,
20:27filosófico e tal.
20:28Bom,
20:29eu escolhi o Turgueni,
20:30as Pais e Filhos,
20:31porque é absolutamente atual,
20:34não que os dramas
20:35do osifianos
20:36não sejam atuais,
20:38mas esse é absolutamente atual
20:39porque você tem ali
20:41pais e filhos
20:42representando
20:43o contexto russo,
20:45a geração
20:45que amadureceu
20:46por volta
20:47de 1840
20:48e a geração
20:49que amadureceu
20:50por volta
20:50de 1860,
20:52né?
20:52Que são os filhos
20:53e os pais
20:54são de 1840
20:56e o conflito
20:57entre as duas gerações
20:59no sentido
20:59de que a geração
21:00mais jovem
21:01de 1860
21:02que é a geração
21:03do personagem principal
21:04que é o niilista,
21:06chamado niilista,
21:07né?
21:07O Bazarov,
21:08né?
21:09É um jovem
21:10médico formado,
21:11seu pai também é médico,
21:12mas é um médico
21:13de província,
21:14supersticioso,
21:15que não tem treino
21:16científico,
21:18né?
21:18que não sabe
21:20que a melhor forma
21:21de você entender
21:22o amor
21:25ou entender
21:26como funciona
21:27o ser humano
21:27é dissecando sapos,
21:29né?
21:30Ou seja,
21:31o jovem Bazarov,
21:33ele está munido
21:34do inicial
21:35conhecimento científico
21:37da época,
21:38a medicina está
21:38virando
21:39medicina científica,
21:40né?
21:41E ele,
21:42apesar de ser muito
21:43Bazarov,
21:44é extremamente
21:45cavalheiro
21:46no seu comportamento
21:47ao longo da
21:48do livro,
21:49é inimaginável
21:50comparar o Bazarov
21:52e o niilista
21:52boçal do século XXI,
21:54né?
21:54Incomparável,
21:55não dá pra comparar,
21:56mas ele acha...
21:58Por quê?
21:59Peraí,
21:59peraí,
22:00parêntese,
22:01o que que é um niilista
22:03boçal do século XXI?
22:05Ah, sei lá,
22:05é alguém que acha
22:06que é um super-hominitiano,
22:07sabe?
22:08Que pisa na cabeça
22:10de gente mais velha,
22:12sei lá,
22:12que acha que porque
22:13ele tem 15 anos
22:14ele entende tudo do mundo,
22:16que pode ser mal-educado,
22:17antes de tudo,
22:17pode ser mal-educado,
22:19né?
22:20E o Bazarov é um sujeito
22:21extremamente fino
22:23no comportamento,
22:24né?
22:25Ao longo do livro
22:26ele tem um duelo
22:28com o tio
22:29do seu grande amigo,
22:31né?
22:31Akkad,
22:31que é o amigo dele,
22:33que é o seu seguidor
22:34de Zetapó,
22:35o Akkad tem um tio
22:36chamado Pavel,
22:38que acaba desafiando
22:40o Bazarov a um duelo,
22:42né?
22:43Por causa de uma discussão lá,
22:45e o Bazarov
22:46fere o Pavel,
22:48né?
22:49Ou seja,
22:49vence o duelo,
22:51e o Pavel pede a ele
22:53que não contasse pra ninguém,
22:55porque seria humilhante,
22:56que o Bazarov não só
22:58cuida do Pavel,
23:00como faz o que o Pavel pediu.
23:03Hoje em dia,
23:03sei lá,
23:04ia postar no Instagram,
23:05vencia só,
23:06acabei com o cara,
23:08tá claro que é o
23:09anilista boçal de hoje.
23:10Ia fazer uma dancinha,
23:11né?
23:12A dança da vitória.
23:12Ia fazer uma dancinha
23:13no TikTok,
23:15alguma coisa assim.
23:16E, bom,
23:17então,
23:18Pais e Filhos
23:18é um livro
23:19no contexto ruso
23:20super importante.
23:21Bazarov é um personagem
23:22que representa,
23:23então,
23:23jovens revolucionários
23:25que vão andar
23:26nos bolcheviques,
23:27né?
23:28Décadas antes,
23:29como a gente sabe
23:29na história da Rússia.
23:31Foi um livro
23:32que gerou muita polêmica
23:33na época.
23:35Turgenev,
23:35que era um sujeito
23:36que não gostava
23:37de ficar envolvido
23:38em polêmicas,
23:40né?
23:40Era um sujeito
23:41que tinha uma vida
23:42muito recolhida,
23:43digamos assim.
23:45Hoje,
23:46provavelmente,
23:46não apareceria na mídia,
23:48não teria redes sociais,
23:49nada disso,
23:50né?
23:50Pelo temperamento dele.
23:53O Turgenev,
23:54ele consegue descrever
23:55o jovem
23:56ilista
23:57dos anos 1860,
23:59o jovem revolucionário
24:00que acha que
24:01a religião
24:02não presta para nada,
24:03que os valores antigos
24:04são ultrapassados,
24:05e mostrar
24:07o nascimento
24:09daquilo
24:09que depois
24:09se chamou
24:10de conflito
24:10de gerações,
24:11né?
24:12Que tem muita gente
24:13que acha que nasceu agora
24:14entre ele
24:14e o filho dele
24:15de 10 anos,
24:16né?
24:17Quer dizer,
24:17que não entende
24:18que o conflito
24:20entre gerações
24:21criou a própria
24:22concepção
24:22de geração,
24:23né?
24:24A ideia
24:24de que aqueles
24:25que nascem depois
24:26conhecem mais ciência,
24:28como no século XIX
24:29se pensava,
24:30e o que nasceu antes
24:31era supersticioso.
24:32E isso você vai repetindo
24:34de geração em geração
24:35até hoje.
24:37Quem é mais jovem
24:38é mais digital,
24:39quem é mais velho
24:40é menos digital,
24:41né?
24:41Todo esse...
24:42E o conflito
24:43entre visões de mundo
24:45e tal.
24:46E tem uma passagem
24:47no livro
24:47muito interessante,
24:48porque o Bazarov
24:50se chama
24:50Nihilista, né?
24:52Há toda uma polêmica
24:53se os jovens
24:53nihilistas,
24:54de fato,
24:55passaram a se chamar
24:56nihilistas
24:57porque o Turgenev
24:58escreveu esse livro,
24:59ou se o Turgenev
25:00escreveu esse livro,
25:01usou a expressão
25:02porque os jovens
25:04usavam a expressão
25:05nihilista
25:05que, na realidade,
25:06já circulava
25:07na Alemanha também.
25:08Mas no outro sentido.
25:09Na Rússia foi
25:10eminentemente político,
25:12científico, né?
25:13A ideia de destruição
25:14da ordem estabelecida.
25:16Tem uma passagem,
25:17uma personagem feminina
25:19muito significativa,
25:20a Sergeyevna,
25:21que, quando ela ouve
25:22falar do Bazarov,
25:24ela diz assim,
25:24ah, eu quero muito
25:26conhecer esse jovem
25:27que se dá o luxo
25:28de não acreditar em nada.
25:32Não acreditar em nada
25:35é um superluxo, né?
25:36Porque ninguém suporta
25:37uma vida sem acreditar
25:38em alguma coisa.
25:39É claro que o verbo
25:40acreditar aqui
25:41pode ter inúmeros sentidos, né?
25:44O Bazarov, por exemplo,
25:45não acreditava no amor.
25:46Achava que o amor
25:47era um truque feminino
25:48para tirar o homem
25:49da sua vida gloriosa,
25:51de revolucionário,
25:53cientista e tal.
25:54E, no entanto,
25:55como diz o Pavel
25:56sobre ele,
25:58ele diz assim,
25:58o Bazarov não acredita
25:59no amor,
26:00só acredita em secar sapos.
26:02Agora eu não entendi.
26:08Você gosta do Bazarov
26:10ou não?
26:13Então,
26:14você fez a pergunta
26:15que fazia o Turgenev,
26:17tá?
26:18Porque ele respondia assim,
26:20olha, quando eu comecei
26:21a escrever o livro,
26:23a minha intenção
26:25era representar
26:26a geração nihilista
26:27do ponto de vista
26:29da minha geração,
26:29que é dele,
26:30de 1840,
26:31de todos esses
26:32grandes escritores.
26:34A minha intenção
26:34era representar
26:35do ponto de vista
26:36da minha geração
26:37e, portanto,
26:39criticá-lo,
26:41mostrar os seus absurdos.
26:44E aí ele diz
26:44que à medida
26:45que ele foi criando
26:46o romance
26:47e o personagem Bazarov,
26:49ele foi percebendo
26:50que o personagem
26:50tinha ambivalências,
26:53que ele tinha momentos
26:57de, como, por exemplo,
26:58quando ele fica parado
26:59olhando para o céu,
27:00meditando,
27:01pensando,
27:02refletindo,
27:03que ele tem todo
27:04o sofrimento
27:05porque ele se apaixona
27:06pela Ana Sergeyevna
27:07e ela recua
27:08porque, como
27:10mulher sábia que era,
27:12sabia que não devia
27:12se casar com o homem
27:13que ela amava,
27:15que ela poderia amar
27:16e se apaixonar,
27:18ela deveria casar
27:19com o homem
27:19que não causasse
27:20nenhum sentimento
27:22nela, certo?
27:23Melhor, mais velho,
27:25e não da mesma idade
27:27dela, como era
27:28o caso do Bazarov,
27:29como acontece
27:29no final do romance.
27:31Ela se casa
27:32com um sujeito
27:32mais velho,
27:34como foi o seu
27:35primeiro maruído
27:35que a deixou rica
27:36quando morreu.
27:39E ela, na realidade,
27:41de certa forma,
27:41acaba sendo mais
27:42ilícita prática
27:43do que o Bazarov,
27:44porque ela consegue
27:46não pôr em prática
27:48o seu amor nascente,
27:50porque ela fica
27:51encantada com o Bazarov
27:53porque, como ela mesma
27:55reconhece,
27:56é a única pessoa
27:57com quem ela tinha
27:58vontade de conversar,
28:00porque ela reconhecia
28:02nele a inteligência dele,
28:04como ele era diferente
28:05das pessoas que estavam
28:07à volta dela,
28:08e justamente por isso
28:09ela recuou.
28:11E isso acaba com o Bazarov,
28:12porque ele se declara...
28:14Ele abre uma brecha
28:18ali na armadura,
28:19ele abre a brecha
28:21e ele captula
28:24diante da Ana Serguei Évda,
28:26diante do amor
28:27que ele sente por ela.
28:30E, então,
28:31aí o Turgenev respondia
28:32a essa pergunta
28:33que você fez,
28:33dizendo,
28:33olha,
28:34a minha intenção
28:35no começo
28:35era não gostar,
28:37mas à medida do romance
28:38o personagem
28:39foi crescendo tanto,
28:41se tornando
28:42tão grandioso,
28:43que eu acabei
28:44gostando dele,
28:45achando que ele é...
28:46ele não é tão mal assim,
28:48né?
28:49Então,
28:49eu digo a você,
28:50você perguntou
28:51se eu gosto
28:51ou não do personagem
28:52Bazarov,
28:53eu fico na mesma posição
28:54do Turgenev,
28:55apesar de não ter criado ele.
28:57Reconheço a grandeza,
28:59reconheço a violência
29:00das ideias dele,
29:02que há violência,
29:03né?
29:03No niilismo,
29:04nas ideias dele,
29:05e justamente
29:06porque eu reconheço
29:07a grandeza dele
29:08é que eu quis
29:09diferenciá-lo
29:09do niilista
29:10boçal
29:10do século XXI.
29:12E isso é uma coisa
29:13curiosa de ficção,
29:14né?
29:14Você acaba entrando
29:16nos livros de ficção
29:17e você acaba...
29:18Você falou isso
29:19sobre a Antígona também,
29:20né?
29:21Você imagina
29:22que vai reagir
29:23de um jeito
29:24à trama
29:25e aos personagens
29:26e frequentemente
29:28o livro te leva
29:29para o outro lado,
29:29né?
29:30Isso mesmo.
29:30Ao contrário
29:31dos livros de filosofia.
29:32Isso mesmo,
29:33é isso mesmo.
29:35Bom,
29:36agora a gente tem
29:37duas coisas
29:38bem mais recentes
29:39que você se propôs
29:40a comentar.
29:42Um é um livro
29:43de ficção
29:44do Fernando Aramburu,
29:46que é
29:47Quando os Pássaros Voltarem,
29:49e outro é um filme
29:49nórdico,
29:51Rainha de Copas.
29:53Então,
29:53agora você escolhe
29:54aí por onde você
29:55quer começar.
29:58Olha,
29:59o livro
29:59Quando os Pássaros Voltarem
30:01é um livro
30:01que foi escrito,
30:02é um livro espanhol,
30:04né?
30:04O autor é um basco espanhol,
30:05mas que vive na Alemanha
30:06já há muitos anos,
30:08Fernando Aramburu,
30:09ele é o autor
30:10daquele livro
30:11que virou série
30:12da HBO
30:13chamado
30:13Pátria,
30:15muito conhecido,
30:16anterior,
30:17ganhou prêmios
30:18com esse livro,
30:19que é um livro
30:20que narra
30:20o conflito basco,
30:23tá?
30:24O drama da ETA,
30:25como os bascos
30:26sofreram,
30:28inclusive por conta
30:29da ETA, né?
30:30Uma análise,
30:31ele disseca
30:32a relação
30:33entre a ETA
30:34e a sociedade
30:34basca, né?
30:36e ele lança
30:38em 21,
30:39foi traduzido
30:39aqui em 23,
30:40Quando os Pássaros Voltarem,
30:42no espanhol original
30:43o título do livro
30:44é Anduriones,
30:46né?
30:47Os Anduriones.
30:47O que você sabe?
30:49Los Vencejos
30:50é o título
30:52no espanhol original,
30:54né?
30:54E assim,
30:56eu acho o título
30:57brasileiro
30:57na realidade
30:58mais bonito,
31:00mais poético,
31:01Quando os Pássaros Voltarem,
31:02porque os Anduriones
31:04tem tudo a ver
31:05com a questão
31:06do personagem principal,
31:08esses Anduriones
31:09e quando eles voltam
31:09da migração
31:10que eles fazem
31:11para o norte da África
31:12e um ano depois
31:13quando eles voltam
31:14para a Espanha,
31:15né?
31:16O livro é a história
31:17de um...
31:18Esse livro
31:19eu não posso dar spoiler.
31:23Não.
31:24É como
31:25Partículas Elementares
31:27do Michel Willebecq.
31:29É outro livro
31:30que você não pode
31:31dar spoiler.
31:31Você não pode dizer
31:33como é o final.
31:35Esse livro também,
31:37assim,
31:37o último capítulo
31:39do Pássaros
31:40Quando Voltarem,
31:41que é curtíssimo,
31:45ele revela,
31:46na verdade,
31:48o que vai acontecer
31:49com o personagem.
31:50Até o capítulo anterior,
31:52você está indo lá
31:53junto com ele
31:54contando os dias
31:55do ano,
31:56do mês,
31:57certo?
31:58Caminhando em direção
31:59ao suicídio.
32:00E tudo,
32:00tudo que ele vai fazer
32:01não é na vida.
32:02Ele vai...
32:03Ele é professor
32:03de filosofia de escola,
32:05completamente desencanado,
32:07odeia os alunos.
32:09Isso que eu estou falando
32:10não é spoiler,
32:11porque você vai saber
32:11no começo do livro.
32:12Porque o Aramburu
32:13trabalha...
32:15E, além do mais,
32:16todo professor
32:17odeia os alunos,
32:18não é isso,
32:18Ponder?
32:18É, então,
32:20isso não é verdade
32:20no meu caso.
32:22Porque eu gosto
32:23de dar aula.
32:25Eu descobri
32:25que eu gostava
32:26de dar aula
32:26dando aula de inglês
32:27quando eu estava
32:27na faculdade de medicina.
32:29Eu quis ver
32:30se eu te pegava,
32:31mas não te peguei.
32:32Não pegou.
32:33Mas, assim,
32:34o Aramburu,
32:35o personagem dele
32:35chama-se Tony.
32:37Ele é um sujeito
32:38que ele dá aula
32:39no liceu,
32:41no liceu
32:42que a gente chamaria
32:43que acho que
32:43de ensino médio.
32:45Ensino médio.
32:47E escola,
32:48e os alunos
32:48são completamente
32:49desinteressantes.
32:50Eu imagino
32:51que dar aula de filosofia
32:52em ensino médio
32:53seja mais difícil
32:54do que na universidade.
32:56Imagino.
32:56Não tenho essa experiência.
32:58E ele foi...
33:02A mulher dele
33:03trocou ele
33:03por uma mulher,
33:05o que humilha
33:06continuamente.
33:10Isso você sabe
33:11tudo no começo,
33:12como eu estava dizendo,
33:12porque o Aramburu
33:13tem uma técnica
33:14que aparece já no Pátria
33:16que ele trabalha
33:17em várias dimensões temporais
33:19ao mesmo tempo.
33:19Ele vai para trás,
33:20vai para frente,
33:21vai para trás,
33:22fica no meio,
33:22vai lá para frente,
33:23volta.
33:24E você não se perde
33:26justamente pela técnica
33:27narrativa dele.
33:28Então, você descobre
33:29logo no começo
33:30um,
33:30que ele decidiu
33:32que vai se matar,
33:33valia um ano,
33:35que é a viga mestra
33:36da narrativa,
33:37que a mulher dele,
33:39a Malha,
33:39que é uma linda,
33:40ele descreve ela
33:41como uma gostosa,
33:42absoluta,
33:43troca ele por uma mulher,
33:45vai sofrer muito
33:46na mão dessa mulher,
33:47uma peste com ele
33:48e com a mulher
33:50que ela acaba
33:51indo viver a Olga,
33:52ela é submissa,
33:54a mulher bate nela,
33:55queima ela com cigarro,
33:57ela é humilhada,
33:59ela acaba pedindo ajuda
34:00a ele para se livrar
34:01da amante,
34:02da amante não,
34:02da nova esposa dela,
34:04mas eles se odeiam,
34:06se detestam,
34:07tem um filho no meio
34:08que ele fica fazendo esforço
34:10para amar o tempo inteiro,
34:11que é uma questão
34:12nesse mundo de hoje,
34:14desses pais neuróticos
34:15que ficam fazendo workshop
34:17para ser legal,
34:18um personagem que enfrenta
34:21claramente a dificuldade
34:22de amar o filho,
34:23porque o filho,
34:24desde cedo,
34:25parece que é meio besta,
34:26bobo,
34:28faz uma tatuagem,
34:29uma suástica na cabeça
34:30e nem sabe o que é,
34:32certo?
34:33Então,
34:34nem sabe o que é,
34:35não é porque ele tem ideologia,
34:36ele achou bonito,
34:37bonito,
34:38que mostra a ignorância
34:40atroz de uma geração,
34:42uma ignorância atroz,
34:43de fato,
34:45e ele tem um amigo
34:46que ele chama de Patamanca,
34:49porque no atentado de 2004
34:51em Madrid,
34:52perde um pedaço da perna,
34:53e ele vai distribuindo
34:57pela cidade os livros dele,
34:59ele tem uma biblioteca enorme,
35:00como ele vai se matar,
35:01ele vai distribuir nos livros,
35:02né?
35:03Aí tem a relação dele
35:05com os pais,
35:06com o pai,
35:06com a mãe,
35:08a relação dele com o irmão
35:09que ele odeia,
35:10que ele acha um gordinho,
35:11chato,
35:12trouxo,
35:13né?
35:13Que passa a vida inteira
35:15com uma mulher também,
35:16ele tem um trecho que ele fala
35:17que o casal Maria Helena
35:19e Raulito,
35:20que é o irmão dele,
35:22a natureza foi generosa,
35:23porque fez com que duas pessoas
35:25absolutamente,
35:25sem nenhum interesse,
35:27que ninguém se encantaria
35:28com nenhum dos dois,
35:29se encontrasse.
35:30Se encontrasse.
35:32Né?
35:32E pudessem, então,
35:33viver casados,
35:35porque é absolutamente
35:37improvável que qualquer ser humano
35:39que não fosse desinteressante,
35:41como ele acha os dois,
35:42né?
35:43Conseguir seduzir
35:44qualquer outra pessoa,
35:46né?
35:46Mas, afinal,
35:48a chatice a dois
35:49é melhor ou é pior?
35:50É uma tortura maior ou menor?
35:53No caso do Raulito
35:55e da Maria Helena,
35:57veja,
35:58o Raulito e a Maria Helena,
36:00eles criam duas filhas
36:01que são perfeitas.
36:03Do ponto de vista,
36:06perfeitas assim,
36:07super educadas,
36:08limpinhas,
36:09estudiosas,
36:10tocam piano, né?
36:12Do ponto de vista
36:13do Tony e da Amália,
36:15que grande parte
36:16das vezes
36:17em que ele encontra
36:18com o irmão
36:18e com a cunhada,
36:19ele ainda está casado
36:21com a Amália,
36:21né?
36:22O casamento dele,
36:23no início,
36:23era um casamento
36:24extremamente feliz, né?
36:26Eles transavam
36:27enlouquecidamente, né?
36:29Tanto que ele fica
36:31sem entender
36:31o que aconteceu
36:32que ela resolveu
36:34virar lésbica, né?
36:36E é muito interessante
36:37porque no livro
36:38quem, na verdade,
36:40era que sofria
36:42do que se chama
36:42por aí de masculinidade
36:43tóxica
36:44era a Golga, né?
36:48É a nova mulher dela
36:49que bate nela
36:50queima ela,
36:51humilha ela,
36:52manda nela,
36:53tranca ela em casa.
36:54E a Amália
36:55é uma radialista
36:57famosa no romance.
37:00Ela tem um programa
37:00de rádio em Madrid
37:01com um número
37:02de seguidores gigantesco, né?
37:05E no programa
37:06ela é descoladíssima,
37:08moderna,
37:09emancipada,
37:10feminista,
37:10e no entanto
37:11o feminismo dela
37:12morre na escada da Olga,
37:14que trata ela
37:15feito um...
37:16Ela podia ser
37:17um personagem
37:18do Nelson Rodrigues,
37:19essa Amália não podia.
37:20Amália seguramente podia.
37:22Seguramente podia.
37:24Na realidade,
37:24a Olga também, né?
37:26A figura que espanca
37:27a mulher,
37:28que bate,
37:29que humilha,
37:30quer dizer,
37:31que inclusive
37:32goza com a ideia
37:35da mulher
37:36apanhando,
37:37sofrendo,
37:38sentindo dor,
37:38alguma coisa assim.
37:40E no livro,
37:41no entanto,
37:41é a Olga
37:43que faz isso
37:44e não ele, né?
37:45Ele,
37:46a Amália,
37:46inclusive,
37:46quando o deixa,
37:47diz que ele é frouxo,
37:48não é de nada,
37:49filósofo medíocre.
37:50E ele se acha medíocre.
37:52Porque ele não escreveu
37:53nada que preste,
37:54ele disse que roubou
37:55a ideia de um monte
37:56de filósofo,
37:57enrolou os alunos,
37:59passava o ano inteiro
38:00enrolando
38:01para acabar logo
38:02essa porcaria
38:03e não ter que dar
38:04mais aula.
38:04Quer dizer,
38:05ele é um sujeito medíocre.
38:07Agora,
38:08deixa eu entender uma coisa.
38:09Eu não posso contar
38:11o final, tá?
38:12Tá bom.
38:13Mas você disse
38:14que o livro inteiro
38:15parte da premissa
38:16de que ele vai se matar
38:17em um ano.
38:18Isso aí já é anunciado
38:19desde cara,
38:20não é isso?
38:21Sim.
38:21E essa história
38:22de como morrer bem
38:23é um dos temas
38:25eternos da filosofia, né?
38:27É meio isso aí
38:29que o livro...
38:31É um pouco essa a ideia
38:33que o livro traz?
38:35Essa é uma ideia...
38:37Pelo menos eu vou morrer bem?
38:39Sim.
38:40Será que isso é possível?
38:42Essa é uma ideia
38:43que aparece a ele
38:45no começo do projeto
38:47do suicídio
38:48e que ele tenta
38:49se convencer
38:50o tempo todo, tá?
38:52Porém,
38:54tendo lido
38:55o romance inteiro,
38:58não é essa a ideia.
39:00Entendeu?
39:01Não é essa a ideia.
39:02A forma como o personagem
39:05vai evoluindo
39:06dentro da história
39:07e o modo...
39:09Por isso que eu comparei
39:10com partículas elementares
39:11que também no final
39:13nas duas, três, quatro páginas
39:15tem uma reversão completa
39:17e você descobre
39:18quem está narrando.
39:19E você diz
39:20puta,
39:21é isso que está narrando
39:24a história?
39:25Me pegaram.
39:27Você nunca imagina.
39:28Ninguém imagina.
39:29Tem gente que passa
39:30e volta.
39:31Porque não...
39:32O que aconteceu aqui no final?
39:33Esse daí
39:35também acontece
39:37na última par...
39:38O último capítulo do livro
39:39que se chama
39:40Seis Dias Depois.
39:42É o título
39:43do último capítulo.
39:44Seis Dias Depois.
39:45Aí você começa a ler
39:46e aí você vai entender
39:47o que está acontecendo
39:48seis dias depois.
39:49E depois do quê?
39:51Também.
39:52Então, não é a ideia
39:55da boa morte,
39:56da bela morte,
39:57o romance.
39:58Não.
39:59O romance
39:59é, na realidade,
40:02a história
40:02de um homem
40:03de 50 anos
40:05que não teve sucesso
40:07na vida,
40:08que não teve sucesso
40:08no amor,
40:10que veio de uma família
40:11infeliz,
40:12que não conseguiu
40:13ter uma boa relação
40:14com o irmão
40:15e nem com a mulher,
40:17mas que tem uma virtude
40:18que ele não finge
40:19absolutamente nada.
40:20ele parece um pouco
40:22com o Mersot do Camus.
40:25Sabe?
40:26Aquele personagem
40:27tanto que...
40:30É o personagem
40:30do estrangeiro.
40:32Do estrangeiro do Camus.
40:33É o Mersot,
40:35que é...
40:35O Mersot é muito mais radical
40:36que ele no sentido niilista,
40:38de desconexão
40:39com a realidade e tal,
40:40mas o Tony
40:41é um sujeito que...
40:43Ele é aquele tipo
40:45de sujeito
40:45que atinge
40:47uma certa virtude
40:49pelo cansaço,
40:50como diria o senhor Han.
40:52Ser virtuoso
40:53pelo cansaço,
40:54né?
40:55De querer tentar
40:56ser aquilo
40:57que devia ser e tal.
40:59O Rainha de Copas
41:00também é um filme
41:02que eu não posso
41:02dar spoiler,
41:04né?
41:04Não posso dar spoiler,
41:06apesar de que
41:07o spoiler
41:08acontece
41:09no primeiro terço,
41:11não é spoiler.
41:12O que vai...
41:13O que acontece
41:15no filme
41:15já acontece
41:15no primeiro terço
41:17de importante.
41:18Isso eu posso falar.
41:18mas eu não posso
41:19dizer exatamente
41:20como é o fim,
41:21né?
41:22O Rainha de Copas
41:23é uma mulher
41:24advogada,
41:25casada lá
41:26pelos 50 anos,
41:28um pouquinho mais,
41:29né?
41:29Bonita,
41:30mas que já não é
41:31mais jovem.
41:32Casada com um médico,
41:34mais ou menos
41:34na verdade dela,
41:35que também
41:36foi bonito
41:37quando jovem,
41:38médico de sucesso.
41:40Ele é sueco,
41:42ela é dinamarquesa,
41:43eles moram
41:43na Dinamarca
41:44e eles têm
41:47duas filhas
41:48pequenas,
41:50ela é uma advogada
41:50de enorme sucesso
41:52e ela é uma advogada
41:54especializada
41:55em meninas
41:57que sofreram
41:58abuso sexual,
41:59tá?
41:59E ela,
42:03esse é um tipo
42:04de filme
42:04que americano
42:04não tem coragem
42:05de fazer.
42:07Porque filme americano
42:08hoje é tudo frouxo,
42:09né?
42:11Tem certos temas
42:12que Hollywood
42:12pontifica,
42:14não reflete,
42:18né?
42:19Tem muito,
42:19eu reconheço
42:20muitos filmes
42:20escandinavos
42:21que eu digo,
42:22esses filmes
42:22americanos
42:23não têm coragem
42:23de fazer mais.
42:24Então,
42:25o que que acontece?
42:26Portanto,
42:27ela é uma advogada
42:27de meninas
42:29que foram
42:30atrasadas,
42:32violentadas e tal,
42:33e ela fica,
42:34no começo,
42:35logo do filme,
42:35ela fica tentando
42:36convencer
42:37uma menina
42:38que não quer
42:38levar à frente
42:39o processo
42:40porque ninguém
42:42vai acreditar nela,
42:43porque ela é só
42:44uma adolescente
42:45e o sujeito
42:46que fez isso
42:47que não é claro
42:47quem fez
42:48é um sujeito
42:49respeitado,
42:50reconhecido,
42:52né?
42:52E,
42:53o que que acontece?
42:54essa mulher
42:56é chamada
42:57de Rainha de Copas
42:58que é muito poderosa
42:59e acontece
43:00o marido dela
43:02tem um filho
43:03de uma outra mulher
43:05antes de conhecê-la
43:06que ficou na Suécia
43:07e esse menino
43:10por uma série
43:10de razões
43:11acaba indo
43:12morar com eles
43:13na Dinamarca
43:14e um belo dia
43:17ela está trabalhando
43:19em casa
43:19e ele chega
43:21com uma namorada
43:22e ela começa
43:25a escutar
43:25ela vê
43:26como a menina
43:26é bonita
43:27e ela começa
43:28a escutar
43:28a menina
43:28gozando
43:29né?
43:31Ela sai
43:32vai até
43:34o quarto
43:34dela
43:35tira
43:36o vestido
43:37e fica
43:38se olhando
43:39de calcinha
43:40e sutiã
43:40e você
43:42que está
43:42vendo o filme
43:43e que não é mentiroso
43:44ou mentirosa
43:45sabe o que vai acontecer
43:47ela vai dar
43:48em cima
43:49do enteado
43:49certo?
43:52Porque
43:53ela ficou com tesão
43:55ouvindo a menina
43:56gozando
43:57né?
43:58A menina era linda
43:59uma menina
44:00sei lá
44:00de 16 anos
44:0117 anos
44:02né?
44:03Então ela fica
44:04se olhando no espelho
44:05pra ver se ainda é linda
44:06e vai
44:07pra cima
44:08do enteado
44:09e seduz ele
44:10assim
44:11de uma forma
44:12absolutamente
44:13direta
44:14né?
44:16Moleque
44:16fica
44:17de repente
44:18vendo a mulher
44:19do pai
44:19dando pra ele
44:20querendo transar
44:21com ele
44:22com puta tesão
44:22por ele
44:23e aqui eu paro
44:25de contar
44:26a história
44:27porque eu não quero
44:27dar spoiler
44:28mas
44:28então
44:29o filme
44:30assim
44:31ela é uma advogada
44:32de meninas
44:33assediadas
44:34e violentadas
44:35e tal
44:35e
44:36ela faz todo
44:38um discurso
44:38você tem que processá-lo
44:40em nome de todas
44:41nós
44:42e não sei o que
44:42e tal
44:43e o filme
44:44é isso que os americanos
44:45não tem coragem de fazer
44:46inverte
44:48completamente
44:48a situação
44:49e aí
44:50a gente vai ver
44:51ao longo do resto
44:52do filme
44:53como que essa
44:54brilhante advogada
44:55vai agir
44:56em relação
44:57ao seu enteado
44:59e por que
44:59que é tão bom
45:00quanto filosofia?
45:02o filme?
45:04é
45:04especificamente
45:06porque
45:07o filme
45:07ele
45:08ele faz
45:09o que a boa filosofia
45:10deve fazer
45:11né?
45:12apresentar pra nós
45:13o mundo
45:13sem ilusões
45:15né?
45:16de uma forma
45:17que nos ajude
45:18a pensar
45:19mesmo aquilo
45:20que a gente
45:20não gostaria
45:21de pensar
45:21né?
45:24por isso aí
45:24muito bom
45:26é isso aí
45:26é
45:28a gente deu spoiler
45:29dos clássicos
45:30mas acho que não tem
45:31problema nenhum
45:32até mesmo porque
45:33clássico
45:34como dizem né?
45:35aquele livro que você lê
45:36dez vezes
45:37e sempre acaba achando
45:38que é diferente
45:38né?
45:39exatamente
45:40gente
45:40o Calvino fala
45:42né?
45:42você lê
45:43muito obrigado
45:45pelo convite
45:46você ia falar
45:47alguma coisa
45:48e eu te cortei
45:48desculpa
45:49não, não
45:49o que eu ia dizer
45:50é que o Ítalo Calvino
45:51fala que um clássico
45:52é um livro que você
45:52tá sempre relendo
45:53é o que você disse
45:54né?
45:56é isso aí
45:56isso mesmo
45:57então
45:57muito obrigado
45:58pelas sugestões
46:00e recomendações
46:01acho que vão gostar muito
46:02e até a próxima
46:03né?
46:05até a próxima
46:05obrigado
46:06bom trabalho
46:07tchau tchau
46:08um abraço
46:09abraço
46:10tchau
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