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NotíciasTranscrição
00:00Muito bem, e-mails que estão sob análise da CPMI do 8 de janeiro indicam que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tentou vender um relógio Rolex recebido pelo ex-presidente durante uma viagem oficial à Arábia Saudita.
00:16É isso aí, tentou vender algo que ele conseguiu numa missão oficial. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo com base em relatos de parlamentares.
00:24A reportagem diz que o item foi ofertado a Bolsonaro em outubro de 2019, durante um almoço oferecido pelo rei da Arábia Saudita à comitiva brasileira.
00:34Em novembro daquele ano, o Rolex foi protocolado no gabinete adjunto de documentação histórica do gabinete da presidência da república como acervo privado.
00:47Repito, Rolex foi protocolado como acervo privado.
00:51Nesse mesmo registro, consta uma liberação do relógio no dia 6 de junho de 2022, data em que Mauro Cid teria trocado e-mails para tentar vender o item.
01:02Nas mensagens, o tenente-coronel descreve o relógio como um presente recebido durante uma viagem oficial e pede 60 mil dólares pelo objeto, o que equivale a cerca de 300 mil reais na cotação atual.
01:18A comissão teve acesso a um e-mail em inglês de uma interlocutora.
01:23Abre aspas.
01:24Obrigado pelo interesse em vender seu Rolex.
01:27Tentei falar por telefone, mas não consegui.
01:30Quanto você espera receber por ele?
01:33O mercado de Rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto.
01:42Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa.
01:47Fecha aspas.
01:48Depois, o então ajudante de ordens do Bolsonaro, Mauro Cid, repito, teria enviado a seguinte mensagem.
01:55Abro aspas.
01:56Olá, nós não temos o certificado do relógio, já que foi um presente recebido em viagem oficial de negócios.
02:04O que temos é o selo verde de certificado superlativo que acompanha o relógio.
02:09Além disso, posso certificar que o relógio nunca foi usado.
02:13Pretendo receber por volta de 60 mil dólares pela peça.
02:18Agradeço o retorno rápido.
02:20Mauro Cid.
02:21Fecha aspas.
02:22A defesa de Cid afirma que não teve acesso a esses e-mails.
02:27O item de luz foi devolvido pela defesa de Bolsonaro à Caixa Econômica Federal em abril desse ano,
02:34depois que a PF instaurou uma investigação para apurar outro conjunto de joias da Arábia Saudita.
02:40Falamos muito nesse conjunto retido pela Receita Federal no aeroporto internacional de Guarulhos.
02:46O ex-ajudante do Bolsonaro está preso desde maio, sob suspeita de envolvimento naquele alegado esquema de fraudes em cartões de vacinação.
02:57Greve.
02:58A gente vê mais uma vez a indistinção entre aquilo que é público e que é privado,
03:04uma absoluta falta de aresta moral em relação a tudo que se obtém no exercício do cargo
03:13e aquilo que é para uso pessoal, aquilo que é objeto particular.
03:21Parece que tem aquela catalogação que vai para o patrimônio público, vai para o acervo privado,
03:27e se tenta sorrateiramente transformar os mimos em acervo privado e logo se tenta vender esses mimos para conseguir grana.
03:38A gente não tem aqui os elementos para concluir que houve a venda final com dinheiro, etc.
03:45Mas a gente vê uma articulação, a gente vê uma tentativa de lucrar com um item recebido
03:52durante uma viagem de uma comitiva da Presidência da República.
03:56Não é algo completamente, moralmente, descabido?
04:01Opa! Boa noite, Felipe. Totalmente descabido.
04:06Olha só, quando a história das joias do Bolsonaro veio à tona,
04:13a gente falou bastante sobre esse assunto e mostrou que o caso do Bolsonaro
04:18é ainda mais grave do que os casos do Lula e da Dilma nos seus mandatos,
04:27os primeiros mandatos do Lula e o mandato da Dilma.
04:31Eles também incorporaram, levaram para casa centenas de presentes que receberam em viagens oficiais.
04:40Acontece que, na época deles, e como disse o Felipe, não deveriam.
04:47Deveria ser claro que o que você recebe numa viagem oficial como presidente da República
04:54não é seu, é do cargo.
04:59Foi dado porque você é presidente.
05:01Mas, como disse Sérgio Buarque de Holanda, essa mistura entre público e privado
05:05é um dos vícios de origem da sociedade brasileira.
05:09Então, Lula e Dilma levaram para casa centenas.
05:13Em 2016, o TCU foi lá ver o que estava acontecendo com os acervos dos presidentes da República
05:22e descobriu que era tudo uma bagunça.
05:27Analisaram o caso a fundo e estabeleceram uma regra para o negócio.
05:33Mandaram Dilma e Lula devolverem os presentes que tinham levado para casa
05:39e que, se fossem de bom senso, já não deveriam ter levado.
05:44Mas, quando levaram, falaram, olha, não tinha regra, devolvam.
05:48No caso do Bolsonaro, já existia a regra do TCU.
05:52A assessoria dele jamais poderia deixar que ele interpretasse
06:01presentes como Rolex, como joias, como se fossem dele.
06:07O Mauro Cid, pior ainda, jamais poderia lá na internet
06:12tentar vender de gaiato um relógio de 60 mil dólares.
06:17Gente, eu vou ler o trecho do Acórdão do TCU que pôs ordem nessa questão dos presentes dos presidentes.
06:28Olha aqui, olha, a interpretação de que um presente recebido é pessoal
06:35é equivocada e nitidamente hostiliza os princípios da legalidade e moralidade administrativa,
06:44notadamente pelo fato de que os presentes são recebidos pelos presidentes brasileiros
06:49em razão da natureza pública e representativa do cargo que ocupam,
06:56e não como mecanismo de obtenção de receita ou acumulação de patrimônio.
07:03Ou seja, neste momento aqui, a regra que já deveria ser de bom senso
07:10tornou-se uma regra explícita, clara, do TCU, da administração pública.
07:16Em 2016, Bolsonaro fez essas lambanças, o grupo do Bolsonaro, o Mauro Cid,
07:22fizeram essas lambanças ali em 2020, 2021, 2022.
07:27Já existia a regra, nada justifica que a gente continue tendo que falar
07:37dessa maracutaia que o Cid estava tentando fazer, vendendo um Rolex caríssimo,
07:46que foi dado por um príncipe saudita ao presidente do Brasil.
07:51Não ao meu amigo, irmão, camarada, Jair Bolsonaro, certo?
07:54É, perfeito.
07:58E eu acho muito curioso como eles tentam agir nas brechas
08:03que eles próprios alegam que existem na legislação.
08:10E aí vem o Tribunal de Contas da União e diz que, a partir de agora,
08:14no último ano de mandato de cada presidente, vai fazer um peito fino
08:17em todos os objetos recebidos, etc.
08:20Eu gosto de ser uma questão moral, uma questão básica.
08:24Aquilo que se recebe numa missão oficial não é para uso particular,
08:28muito menos para venda.
08:30O sujeito está no exercício do cargo.
08:32Quem recebeu foi o ocupante circunstancial da presidência da República.
08:38Tudo aquilo que é recebido tem que ir para um acervo,
08:40um patrimônio público, para virar peça de museu.
08:44Você bota lá para a exposição de visitantes em Brasília.
08:48Olha só, todos os presentes recebidos pelos presidentes em décadas de história do Brasil.
08:55Então, o Juscelino recebeu isso, o Fernando Henrique recebeu aquilo,
08:59o Médici recebeu aquilo outro, o Lula, o Collor, o Sarney, o Temer.
09:05Todo mundo.
09:07Então, é uma coisa óbvia.
09:10Agora, as pessoas que estão acostumadas com o patrimonialismo,
09:15com você tentar levar vantagem na ocupação de um cargo público,
09:22elas incorrem nessas medidas pela lógica de
09:26isso aqui é normal, todo mundo faz.
09:29E aí tem um monte de propagandista para dizer isso por aí,
09:32que era o que diziam da mal chamada rachadinha, que é peculato.
09:36É desvio de dinheiro público, é apropriação criminosa,
09:39de salário de assessor que deveria estar trabalhando, não está.
09:42Então, você está roubando o dinheiro do povo
09:44para turbinar o próprio salário com o salário de pessoas que não estão trabalhando.
09:49Quando você tem gente movida por essa lógica dentro de um governo,
09:56você tem esse tipo de trambique.
09:58Então, assim, quando a gente lê essas informações,
10:02a gente vê que o Brasil geralmente é ocupado por uma turma
10:08que tem aquilo que o Joaquim Nabuco chamava de espírito de fraude, né?
10:13E talvez pudesse ser adaptado hoje como espírito de trambique.
10:16É o pessoal que quer levar vantagem.
10:19O sujeito escreve lá, que ele recebeu o presente na viagem oficial,
10:23ele escreve, pretendo ganhar 70 mil dólares, né?
10:29Não são nem reais, né?
10:30Acho que são dólares, né?
10:31Que dá mais de 300 mil reais.
10:36Assim, é óbvio que você tem uma imoralidade para dizer o mínimo
10:41e que deveria ser enquadrada como uma ilegalidade.
10:45E aí, se tem um monte de alegação de defesa,
10:48não, veja bem, etc.
10:50Aí começam os propagandistas,
10:51ah, mas o outro lado, isso e aquilo.
10:53Ah, mas o Lula também fez, mas a Dilma também fez.
10:56Quer dizer, não era para quem chegou ao poder,
11:00dizendo que iria combater aquilo tudo,
11:03incorrer nesse mesmo tipo de patrimonialismo.
11:06Mas são todos patrimonialistas.
11:08Esses são os pontos em comum, inclusive,
11:11de lulismo e bolsonarismo,
11:13de diversos dos seus líderes,
11:15incluindo os líderes máximos.
11:18E é isso que os militantes de cada campo não aceitam.
11:22E quando a gente aponta pontos em comum,
11:24eles acham que a gente está dizendo que
11:25Lula e Bolsonaro são absolutamente iguais em tudo,
11:28que a militância é absolutamente igual em tudo.
11:31Não, mas tem vários pontos em comum.
11:33O populismo, que é o discurso que separa povo e elite,
11:39é comum aos dois lados.
11:41Cada um tem um conceito diferente do povo,
11:43cada um tem um conceito diferente de elite,
11:46ou establishment, ou sistema.
11:48E o patrimonialismo,
11:49que é o tratamento daquilo que é público,
11:51como se fosse privado,
11:52essa indistinção também é comum aos dois lados.
11:57E jornalismo de verdade aponta isso,
11:59evidentemente, dos dois lados.
12:01Agora, quer ficar na bolha,
12:04com torcida a favor, com duelo tribal,
12:06aí fica seguindo esses mercenários,
12:09passadores de pano,
12:10que são amiguinhos do grupo político,
12:12que recebem ali uma série de favores,
12:17até informações em primeira mão,
12:22do grupinho, etc., para ser porta-voz.
12:25E a pessoa fica fora da realidade
12:27e vai se corrompendo moralmente.
12:29Porque a pessoa que começa a passar pano
12:32para a imoralidade,
12:33ela já está moralmente corrompida.
12:36E aí
12:41E aí
12:42E aí
12:42E aí
12:42E aí
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