A escalada entre Israel e Irã expõe o aparente esgotamento da ONU em sua capacidade de mediar conflitos e promover a paz mundial. O cenário no Oriente Médio levanta sérias dúvidas sobre o papel da organização em prevenir conflitos.
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00:00A guerra entre Israel e Irã continua e conflitos bélicos expõem esgotamento da ONU na intermediação da paz mundial. Confira com Marcelo Matos.
00:10A sequência de conflitos pelo mundo abre o questionamento do papel da ONU frente ao esgotamento das relações internacionais, a reforma no Conselho de Segurança diante do impacto do poderio bélico nas ações unilaterais dos países.
00:30O professor de relações internacionais e pesquisador do Departamento de Prevenção de Atrocidades da ONU, Gustavo Macedo, ressalta que os países adotam justificativas para afrontar os preceitos básicos do direito internacional.
00:50O desrespeito ao direito internacional é uma forma de ataque ao sistema multilateral das organizações internacionais que trouxeram a gente com erros e acertos, mas conseguiram trazer a gente até 2025 sem ter uma terceira guerra mundial.
01:08O risco do que a gente está vivendo agora, como você bem colocou, é esses recorrentes desrespeitos, uma hora vai disparar o gatilho de um conflito de proporções internacionais.
01:22Gustavo Macedo lembra que a ONU foi criada após a Segunda Guerra Mundial com o objetivo maior de evitar um novo conflito global,
01:32mas ela organiza as ações apenas e cabe aos países a execução das políticas dentro da sua autonomia administrativa.
01:43O que a gente tem visto, infelizmente, é uma ONU que tem sido esvaziada porque vários países estratégicos estão ou negligenciando a própria organização
01:59e outras organizações de debate multilateral ou então infringindo algumas regras do direito internacional por iniciativa própria e sem sofrer algum tipo de sanção por isso.
02:13Se a ONU existe já há 80 anos, é porque ela tem cumprido minimamente o seu trabalho e ela tem passado por reformas ao longo desses 80 anos.
02:23A ONU certamente precisa ser reformada, o Conselho de Segurança precisa ser reformado, porque a gente percebe, inclusive, uma incapacidade do Conselho de Segurança
02:35de desarmar um conflito como esse agora, envolvendo Israel, Gaza e Irã, assim como Rússia e Ucrânia, sem citar outros vários conflitos ao redor do mundo.
02:49O Conselho da ONU seria o responsável pela manutenção da paz e segurança internacionais.
02:57O colegiado é formado por 15 países, 5 permanentes, China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, que possuem poder de veto.
03:09E 10 outras nações não permanentes eleitas pela Assembleia Geral para mandatos de dois anos.
03:17As decisões são tomadas por maioria de nove votos, mas se houver veto de um dos cinco países com esse direito, o resultado não é considerado válido.
03:31Vamos conversar com os nossos analistas sobre o papel da Organização das Nações Unidas nas soluções dos conflitos mundiais, professor Furriella.
03:42A recente participação da ONU, ou não participação no caso, sem nenhum tipo de efetividade na solução dos conflitos todos que a gente tem visto recentemente.
03:52Estou falando desde lá de Israel com Hamas, antes um pouco da Rússia com a Ucrânia, muitos outros mundo afora.
03:59Isso indica a necessidade de uma reformulação, principalmente do Conselho de Segurança?
04:06O poder de veto dos países ali, dos membros permanentes, já não inviabiliza a própria existência do Conselho de Segurança?
04:16Ótimo ponto.
04:18Bom, a ONU passou por vários tipos de esvaziamento nestas décadas todas da sua existência.
04:25E mesmo o seu Conselho de Segurança, que é o seu órgão mais efetivo, que toma as principais decisões internacionais, também sofreu vários tipos de esvaziamento.
04:36Então, o que você teve nesses anos todos?
04:38A ONU com um papel muito importante durante a Guerra Fria em tentar apaziguar o relacionamento conturbado entre Estados Unidos e União Soviética.
04:50Nesse sentido, apesar das muitas críticas que se possa fazer, ela obteve sucesso, porque se houvesse um confronto entre esses dois Estados, a Terceira Guerra Mundial já teria acontecido.
05:03E com consequências nefastas, haja visto o poderio nuclear dos dois Estados, que tem capacidade de explodir o mundo diversas vezes, destruir o mundo diversas vezes.
05:16Então, nesse sentido, sim, em vários outros que a gente possa pontuar.
05:20Mas desde o começo dos anos 90 para cá, houve um decréscimo do poder da ONU, principalmente quando os Estados Unidos, sentindo-se a única potência, um mundo unilateral ao seu redor,
05:36começaram a tomar decisões de seu interesse sem seguir o determinado pela ONU.
05:42Então, em diversas oportunidades, isso aconteceu, esvaziando bastante o poder da ONU.
05:48E aí tem um outro aspecto também que é importante, que a ONU, em questões do Oriente Médio, ela nunca teve muita habilidade.
05:56Então, ao ter determinado a criação do Estado de Israel, que foi um grande acerto, em 1948,
06:03e ter dividido a região com os palestinos, ela apresentou uma proposta, porque ela nunca implementou aquela proposta que ela apresentou.
06:11Ela nunca tratou a questão dos palestinos como deveria.
06:15Ela nunca buscou uma solução em relação aos palestinos que tiveram que se refugiar ao serem deslocados da região.
06:24Então, aquela questão toda, que tem a ver, inclusive, com esse conflito,
06:28porque é uma questão constante, mal resolvida para Israel,
06:33e que acaba justificando que outros estados, como o caso do Irã,
06:37ataquem Israel, usando o argumento dos palestinos também,
06:42essa é uma demonstração de como ela não foi hábil durante o tempo que tinha até um pouco mais de protagonismo que agora.
06:51Em relação ao Conselho de Segurança, que foi falado aí do formato, também.
06:54Então, como é que você imagina hoje que países-chave, estados-chave, não façam parte do Conselho de Segurança a título permanente?
07:05Então, não fazerem parte Japão e Alemanha, por exemplo, quando surgiu a ONU?
07:11A gente acredita que fazia todo sentido, até porque tinha acabado a Segunda Guerra Mundial,
07:16causada por esses dois que eu mencionei.
07:18Então, não havia possibilidade política, nem sentido que eles fizessem parte.
07:23Mas, hoje em dia, o cenário é absolutamente outro.
07:27Então, hoje você tem nações em ascensão, regiões do mundo que não são representadas nesse Conselho.
07:35É o caso aqui da América Latina.
07:38Então, o Brasil poderia sim, já que é o estado mais extenso, mais importante da América Latina, fazer parte.
07:45Então, enquanto a ONU não fizer uma reformulação, também, do seu Conselho de Segurança,
07:51fica mal representada, não resolve problemas.
07:54E o próprio descrédito em relação a outras medidas que acontecem na ONU também, né, Diego?
07:58A gente viu recentemente o Irã, que é conhecido por, justamente, ser um estado onde há violações de direitos das mulheres,
08:04participando, justamente, da Comissão sobre a Situação da Mulher.
08:07Além de outras nomeações muito polêmicas, alguns anos atrás, países como Venezuela, Cuba, Arábia Saudita,
08:15fazendo parte do Conselho de Direitos Humanos, por exemplo, da Organização das Nações Unidas.
08:23Isso vai, de alguma maneira, descredibilizando, também, a atuação da entidade, né?
08:27Exatamente, Kobayashi. A ONU, como muitas dessas entidades multilaterais,
08:33ela se mostra descolada da realidade do mundo.
08:36E esse descolamento se acentua por aquilo que o professor Manuel Furrela estampou muito bem aí,
08:41com os interesses pessoais, os interesses individuais de cada uma das potências que compõem o Conselho de Segurança.
08:48Claro, tudo isso somado a essa falta de representatividade que foi apresentada,
08:52a dependência financeira que a ONU tem de países do Conselho de Segurança, como o caso dos Estados Unidos,
08:59acaba fazendo com que a entidade seja pouco respeitada em suas decisões.
09:04Sempre bom lembrar que a ONU não tem poder de polícia,
09:06ela não pode fazer valer coercitivamente as suas decisões, depende da boa vontade dos países-membro.
09:12E eu acho que o ponto-chave é esse poder de veto individual de cada uma das nações que compõem o Conselho de Segurança.
09:19Ora, se 150 países tomam uma decisão no âmbito da ONU,
09:23apenas com o veto dos Estados Unidos ou de qualquer outro país que compõe o Conselho de Segurança,
09:28essa decisão pode ser barrada, não precisa ser implementada.
09:31Então, de fato, é um modelo que atendia bem ao modelo do pós-guerra,
09:35ao modelo lá do início da década de 50,
09:37mas para a atual conjuntura do mundo e das novas relações geopolíticas,
09:42realmente a ONU precisa de uma reformulação com certa urgência,
09:46se quiser ter algum protagonismo dirimindo os próximos conflitos que vão eclodir pelo mundo.