Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, Antonio Ramirez Lorenzo, ex-auxiliar de Anderson Torres, afirmou que tentou proteger o ex-ministro da Justiça de qualquer envolvimento com a live feita em 2021 pelo então presidente Jair Bolsonaro, na qual foram feitas declarações sobre as urnas eletrônicas. Emerson Tauyl analisou o assunto no Linha de Frente.
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00:00Bom, meu querido Emerson Tawil, primeira questão, tem muito assunto para debater aqui.
00:07O primeiro ponto que eu queria chamar a atenção é a maneira como estão sendo feitas as inquirições das testemunhas.
00:15Eu fui promotor do júri, o ministro Alexandre de Moraes foi promotor do júri também,
00:19nós já estamos até no mesmo tribunal durante muito tempo.
00:22E lá é comum que, durante a inquirição, o promotor, a parte, quem acusa, faça essas perguntas, eventualmente ironias,
00:31mas então é rainha da Inglaterra, ou outros tipos de chacota, ou de brincadeira, ou de ironia, durante um depoimento.
00:41Agora, normalmente, pelo Código de Processo Penal, pela inércia jurisdicional, o juiz tem que ficar mais ali isento.
00:47As partes é que tem que fazer esse tipo de pergunta, de apertar testemunha, enfim, o juiz tem que ficar ali olhando.
00:54Não está tendo uma certa atuação, além daquilo que se espera de uma conduta mais neutra por parte do judiciário,
01:02na inquirição das testemunhas?
01:04Esse é o primeiro ponto que eu quero colocar, porque tem várias coisas aqui para a gente debater.
01:09Boa tarde, Capês, boa tarde aos amigos de bancada e à nossa audiência.
01:12Pois bem, o fato dado como golpe foi deflagrado dessa maneira, está sendo conduzido e provavelmente o seu desfecho será na mesma proporção.
01:21E como você bem diz, na verdade o espírito do promotor de justiça ainda esteja ali diante de Alexandre de Moraes,
01:28porque, como você mesmo falou, o presidente, o juiz, ele faz de uma forma, a condução dos trabalhos é uma forma um pouco mais amena,
01:35muito mais equilibrada e ali ele colocou de uma forma muito mais incisiva no Antônio Lourenço.
01:43E, na verdade, Antônio Lourenço, naquele momento, a gente assistiu e ele vinha explicando de que aquela live,
01:49ele era um tanto que reticente quanto àquela live, principalmente por ser dentro do ministério.
01:53Ele avisou o Torres que deveria ser uma coisa mais técnica, tentou se cercar de dados para que fosse alimentado o Torres,
02:01para que pudesse, se fosse aparecer ou se tivesse que ter alguma narrativa, que ele se atentasse pura e tão somente à parte técnica,
02:08porque era um assunto sensível que provavelmente iria dar burbúrios, iria dar problemas e tanto é que deu.
02:15E, nesse momento, o ministro Alexandre de Moraes faz a interjeição ali, dizendo que ele não deveria opinar se ele achava que era golpe ou se não era golpe.
02:23Mas ele vinha explicando a narrativa que, dentro daquele contexto da live, ele não vislumbrou, ele não enxergou, né?
02:29Os holofotes daquela narrativa não se tratavam de pura e tão somente um golpe, mas uma live que era um tema muito sensível.
02:37E aí, bem lembrado até pelo Rodolfo aqui, que esse fato foi deflagrado antes das eleições, né?
02:41Que foi julho de 2021.
02:42E aí, a denúncia vem numa construção de que esse possível golpe já vinha sendo elaborado antes mesmo no primeiro mandato de Jair Messias Bolsonaro.
02:52Mas são cenas dos próximos capítulos que nós temos que assistir e, mais uma vez, o juiz se coloca na condição de promotor, de defensor, de tudo mais.
03:02E isso acaba arranhando um pouco a imagem, principalmente da Suprema Corte, aquela que deve zelar pela Constituição Federal,
03:08deve ser uma coisa muito mais tranquila, amena, sem muitos holofotes, mas que toma destaque, um protagonismo.
03:13E isso se dá, muito provavelmente, pela complicação que nós temos hoje dentro das instituições,
03:19em que um acaba, de certa forma, invadindo a seara do outro, talvez por inércia do próprio sistema democrático.
03:28Não há um controle muito eficaz e, infelizmente, tudo tem desaguardo na Suprema Corte.
