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  • 28/05/2025
Com mediação de Marco Antonio Villa, Visão Crítica promove uma análise aprofundada dos principais acontecimentos do dia. A cada edição, convidados com diferentes perspectivas se reúnem para debater os fatos mais relevantes do cenário político, econômico e social do Brasil e do mundo.

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00:00Desde 1945, a população do mundo não vive um conflito generalizado, mas as várias guerras
00:11regionais do início dessa década de 20 apontam para a possibilidade de um conflito bélico entre
00:17as grandes potências do nosso tempo. Desde o começo de 2022, a guerra entre Rússia e Ucrânia
00:22causou mais uma vez um grande antagonismo entre o bloco ocidental liderado pela OTAN e a Federação
00:29da Grande Potência Militar até os dias atuais. O Oriente Médio, onde estou neste momento,
00:39nós vemos que a guerra civil no Iêmen, ainda não concluída desde 2014, já vitimou quase 400 mil
00:46pessoas com uma crise humanitária imensa. A guerra entre Hamas e Israel também tem causado muitas
00:53guerras civis apontando para a crise institucional dos órgãos multilaterais. No continente africano,
01:00a guerra civil dentro da Etiópia, na região de Amhara, aponta para mais o perigo de um conflito
01:07no continente africano, além da questão relacionada ao M23 dentro da República Democrática do Congo,
01:14apoiado pelas forças de Ruanda. Apenas dois conflitos, dois exemplos, dentre vários outros
01:20conflitos civis no continente africano. Aquele que tem mais chamado a atenção de muitos dos analistas
01:26é a possibilidade de mais um conflito direto entre Índia e Paquistão, duas potências nucleares e que
01:34trocam hostilidades desde a fundação do Estado indiano no final da década de 40, a separação do
01:41Paquistão e, obviamente, toda a questão envolvendo a Caximira, o controle territorial de uma região
01:47abundante em água e outros recursos hídricos. Tudo isso aponta que o nosso planeta vive um
01:54momento muito delicado e com a grande periculosidade disso se transformar em um
02:00conflito de maior escala nas próximas décadas.
02:02Visão Crítica
02:14Olá, hoje no Visão Crítica nós vamos trabalhar fundamentalmente, vimos que é um mundo em tensão, mas com duas
02:20regiões. Uma, Oriente Médio, mais particularmente discutirmos a questão de Israel, Palestina e,
02:27especialmente, a questão da faixa de Gaza e, no caso da Europa, o conflito entre Ucrânia e Rússia, que já tem
02:35três anos e convidamos três especialistas. Primeiro, a doutora Karina Alcalandrim, doutora em Relações Internacionais,
02:42pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e professora de
02:49Relações Internacionais do IBMEC. Segundo, o professor Danilo Porfirio de Castro Vieira, pós-doutor em Relações
02:57Internacionais, professor titular de Relações Internacionais e Direito no Centro Universitário de Brasília, Uniceum.
03:05E, por fim, o pesquisador Kessel Lemus, pesquisador de pós-doutorado na USP com tema de pesquisa, a guerra na
03:13Ucrânia e os impactos sobre as estratégias energéticas da Rússia e da União Europeia. Vamos começar, claro, que é um
03:19tema muito amplo, vamos começar primeiro com a discussão ali na Israel, a questão da faixa de Gaza e um conflito
03:27que é raro, tão extenso, entre um Estado constituído e um grupo terrorista, no caso, o grupo Hamas. Eu começo com a
03:35professora Karina, que, inclusive, tem experiência de estudo na região, na Universidade de Haifa. Eu pergunto para a
03:41senhora, a perspectiva hoje e esse conflito que começou em outubro, esse conflito mais recente, qual a possibilidade de
03:49encontrar uma solução? É possível uma solução a curto prazo?
03:53Eu não vejo essa possibilidade. Isso porque há um lado quer a destruição do outro. E o governo de Israel, a cada semana, tem
04:03demonstrado que tem intenções de expandir a sua dominação para a faixa de Gaza. Então, membros do governo, que hoje é uma
04:12aliança de partidos, lembrando, o governo de Israel é um governo parlamentarista de coalizão. Então, não é um partido que foi
04:19eleito, não é como no Brasil, que se elege um presidente por voto majoritário. Então, você tem um partido que forma uma
04:26coalizão para ter maioria no parlamento e, assim, formar o governo. Essa coalizão, hoje, de Israel é formada por partidos basicamente
04:34religiosos, judaicos, o partido do Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro, que é um partido de direita tradicional israelense,
04:43e partidos de extrema-direita. Partidos que são herdeiros do movimento kahanista, que é um movimento extremista dos anos 90, que nunca
04:51tinha conseguido alçar um espaço no governo e conseguiram, mais recentemente, neste governo atual. E eles têm demonstrado,
04:59abertamente, uma intenção de ocupar a faixa de Gaza, que foi desocupada por Israel em 2005. Então, já tem 20 anos essa situação e tem
05:09demonstrado, cada vez mais, essa intenção, essa vontade. Isso impede um acordo, impede uma negociação. Do outro lado, Hamas não aceita
05:19a existência de Israel, não reconhece os acordos de Oslo, que foram assinados nos anos 90 com a Organização para a Libertação da
05:26Palestina, que, hoje, forma a Autoridade Nacional Palestina, com o Fatah. Então, é um lado que não reconhece a existência do outro.
05:35Assim, não é possível vislumbrar o fim do conflito. Infelizmente, quem sofre são os civis que vivem uma catástrofe humanitária.
05:44Professor Danilo, frente a isso, colocada a professora Karina, antigamente nós tínhamos, eu digo antigamente, nós tínhamos que, na prática,
05:52a ONU, hoje, ela é, infelizmente, irrelevante nessas grandes questões internacionais. E tinha, em certa época, importância e até tentou,
06:02várias vezes, lembrando que o Estado de Israel nasce com uma deliberação da própria ONU, em uma assembleia, sob a direção de um brasileiro,
06:09do Oswaldo Aranha, não custa relembrar, né? Como é que fica isso? Porque antes nós tínhamos ONU, antes nós tínhamos União Soviética e Estados Unidos.
06:17Hoje, com o fim da Guerra Fria, a União Soviética virou Rússia e mais uma dúzia e meia, quase, de repúblicas. Como é que fica, sem a participação internacional?
06:26Porque é muito difícil, pelo que a própria doutora Karina colocou, uma conciliação, uma possibilidade de acordo entre dois antagonismos efetivos. E aí, como sair dessa?
06:37Professor Vila, nós temos que analisar a situação da ONU, como outras organizações internacionais, como um momento de redesenhar.
06:50E é um redesenhar, não apenas das instituições, mas desse novo palco político, dessa nova visão de cosmos político que nós estamos testemunhando ser construído.
07:06Então, nós vemos o quê? Que a ONU, outrora, como OTAM, na perspectiva securitária, foi desenhada dentro de uma visão de organização política,
07:20dentro de um palco político internacional específico, que, professor, não existe mais. É um redesenhar.
07:29E, enfatizando o que a professora Karina nos disse, especificamente sobre a questão do Hamas, professor.
07:38Devemos lembrar que o Hamas surge em 87, então ele é um movimento muito pitoresco, ele é um braço radical palestino de um movimento que nasce lá em 1920 no Egito,
07:52ele é a irmandade muçulmana, ele adquire força e vigor no início dos anos 2000, em função do colapso, vamos dizer, das ações da autoridade palestina, ligada ao alfatá,
08:09e construindo uma retórica que hoje poderemos denominar como jihadista, que é a retórica da guerra cósmica com fulco religioso.
08:20E, por trás disso, há também um redesenhar político, professor Vila. Dentro do que? Do Oriente Médio.
08:28O Hamas, como o Hezbollah, como os Houthis no Iêmen, são utilizados como agentes próximos de uma potência regional que, ao meu ver,
08:44deu um tiro no pé, se apequenou, que foi o Irã. O Irã age contra Israel dentro de um novo paradigma de conflito, porque guerra é guerra entre estados.
08:57E essa era a retórica a ser vendida. Só que essa retórica não pegou, não deu certo, e vimos as consequências.
09:06Késsio, como pesquisador, já um pesquisador de pós-doutorado, eu queria pegar um gancho, se é possível, nós pensarmos a questão da Rússia,
09:14porque é só bom lembrar, quem nos acompanha, que a criação do Estado de Israel teve o apoio da Rússia, e boa parte daqueles da liderança vieram da Rússia,
09:24inclusive apoio de armas que vieram da antiga Tchecoslováquia, que foram fundamentais naquela primeira guerra, na formação do Estado de Israel com a Partília.
09:33Curioso a Rússia hoje, ela tem uma presença forte, tinha, acho que na Síria, com a derrocada do Assad, apesar que ainda tem tropas lá,
09:42como é que fica a Rússia que foi tão importante no final dos anos, naquela região, no final dos anos 40, década de 50, 60, 70, 80,
09:50e hoje parece, dá impressão ao menos a mim, que está mais preocupada com as suas questões, especialmente a Ucrânia, do que com o conflito do Oriente Médio,
10:00especialmente Israel, Palestina e o episódio da Faixa de Gaza.
10:05Muito boa noite, professor Vila, boa noite Danilo, Karina, a todos aqueles que nos assistem.
10:10De fato, a lógica por trás de Vladimir Putin é a lógica da RealPolitik.
10:15Então, ao meu ver, ele tem também interesses importantes, russos, envolvidos no conflito da Ucrânia,
10:22e o Danilo vai trazer esse abre alas para a gente entender, e traduzindo um pouco dentro dos conceitos das relações internacionais,
10:30isso que a gente está vendo no mundo hoje é o que alguns teóricos chamam de transição hegemônica, ou transição de poder,
10:38ou seja, um momento de redistribuição de poder internacional, onde a potência líder do sistema internacional percebe que a sua hegemonia,
10:46o seu poder relativo está diminuindo e está havendo uma ascensão de novos desafiantes.
10:51Então, quando isso acontece, à luz dessa teoria, nós temos a multiplicação de ondas e choques que multiplicam as ondas de instabilidade internacional,
11:02no Oriente Médio especificamente e na Rússia.
11:05No Oriente Médio, como o Danilo falou muito bem, nós temos uma preocupação iminente de um Irã
11:11que estava assistindo a uma possível normalização dos seus principais rivais históricos, que é Arábia Saudita e Irã,
11:22Arábia Saudita e Israel, mediado pelos Estados Unidos.
11:27E a ativação desse conflito através do 7 e do 10 vai tentar mexer nesse cálculo geopolítico para tentar colocar o mundo árabe,
11:38de fato, a partir da destruição da guerra, colocar o mundo árabe contra a Arábia Saudita.
11:43E onde é que é o papel da Rússia nisso tudo?
11:46O papel da Rússia é que a Rússia também viu, a Rússia tem se aproximado do Irã.
11:51O Irã hoje é um dos principais fornecedores de drones para a Rússia na guerra da Ucrânia.
11:57Nós temos uma aproximação também em termos de comércio energético.
12:01As indústrias energéticas tanto do Irã e da Rússia estão muito próximas, porque são dois países sancionados.
12:08Então, esses países procuram alternativas dentro das sanções e acabam fechando laços políticos e econômicos mais profundos.
12:17E a ativação desse conflito no Oriente Médio serviria especificamente para distrair,
12:24gerar uma distração enorme para o principal apoiador da Ucrânia, que é os Estados Unidos.
12:32Porque os Estados Unidos passam a ter um novo conflito, onde ele tem que delimitar os seus esforços políticos e econômicos
12:40e assim, de certa forma, comprometer todo o empenho dos Estados Unidos para com a guerra na Ucrânia.
12:47Então, até a lógica do ataque do 7 e do 10, quando os drones lançam granadas, os vídeos que depois foram divulgados,
12:56são lógicas de ataques que são utilizados na guerra da Ucrânia, começaram a ser utilizados na guerra da Ucrânia.
13:03Então, para mim está claro que talvez a Rússia possa ter tido um papel também,
13:11seja com inteligência, seja com o fornecimento de relatórios militares, que possam ter colaborado também,
13:21porque, de certa forma, a Rússia ganha a partir de um novo envolvimento dos Estados Unidos em um grande conflito internacional.
13:31Professora Karina, é interessante para o pesquisador, para o analista, o que está acontecendo ali em Israel, nas suas fronteiras.
13:40Se de um lado tem os episódios da faixa de Gaza, os trágicos episódios, na fronteira norte tem o grupo Hezbollah,
13:48que eu que acompanho isso à distância, só lendo as notícias, imaginei que ele faria uma ofensiva,
13:54no sentido de que Israel dividisse as forças, pensando em termos militares, e me parece que isso não tem ocorrido.
14:00Por outro lado, na Síria, é difícil falar em governo central, que domine todo o território,
14:06porque nós temos um novo governo, uma aliança que parece frágil, e é um país que tem uma disputa histórica com Israel das colinas de Golã.
14:15E aí a situação fica mais complicada. Se a faixa de Gaza é uma questão complexa, e a senhora destacou que é muito difícil chegar a um acordo entre os dois,
14:23com um processo de autoeliminação, lembrar que temos o Hezbollah no norte e a Síria hoje com o poder fragmentado.
14:30Exatamente. O Hezbollah, Israel enfrentou recentemente, no ano passado nós vimos inclusive uma incursão terrestre,
14:38começou com aquele ataque dos pagers, foi um ataque orquestrado a alvos do Hezbollah, visados por Israel,
14:47e posteriormente uma incursão terrestre no Líbano, lembrando que Israel já enfrentou o Hezbollah em um outro conflito em 2006,
14:54uma incursão muito maior, envolvendo atores diversos, e essa última incursão, esse último ataque de Israel ao Hezbollah,
15:03levou à eliminação do líder supremo do Hezbollah, o Nasrallah.
15:08Isso representou um golpe muito forte para o Hezbollah, e temos que considerar que o Hezbollah é diferente do Hamas.
15:15Não só na questão ideológica, na questão religiosa, porque eles são chiítas, e o Hamas é sunita, então já tem uma diferença aí,
15:25por isso que o Hezbollah foi criado e é apoiado diretamente pelo Irã, por essa identificação numa perspectiva religiosa,
15:34e não só numa perspectiva pragmática, como é a identificação do Irã com o Hamas,
15:40mas o Hezbollah é um exército mais poderoso que o exército do Líbano.
15:46Ele tem uma força e está em um estado formal. O Líbano é um estado soberano, diferente da faixa de Gaza, que não é.
15:53Então, para o Hezbollah adquirir armamento, adquirir financiamento, é muito mais fácil do que o Hamas,
16:00que está contido em uma faixa de terra cercada por Israel, com embargo terrestre, aéreo, marítimo,
16:07então assim, é muito mais difícil. Para o Hezbollah é mais fácil eles se armarem, é muito mais fácil eles terem um treinamento.
16:11E mesmo assim, Israel conseguiu impor uma derrota importante ao Hezbollah.
16:18E é por isso que nós não vemos mais um conflito direto do Hezbollah com Israel, por conta desse conflito do ano passado,
16:24que levou à morte do líder supremo do Hezbollah, que era uma figura muito popular também.
16:29Então, o Hezbollah ainda é uma força existente, ele existe, ele é importante dentro do Líbano,
16:34até porque ele representa um grupo específico, que são os xitas libaneses.
16:38Ele faz também assistencialismo, ele tem programas sociais dentro do Líbano, ele não é só uma força paramilitar,
16:44tem assentos no parlamento libanês, então é uma força muito mais, vamos dizer assim,
16:49complexa até na sua análise política dentro do Líbano, do que o Hamas por si só,
16:54que atua não em um Estado soberano, em um território que busca sua soberania, busca sua independência.
17:01Então, por conta desse episódio do ano passado, nós não vemos esse conflito.
17:05Na Síria, a situação ainda é muito difícil de analisar como vai se dar,
17:10exatamente porque não existe uma centralização do poder, não existe um Estado soberano na Síria,
17:15do ponto de vista do controle governamental.
17:18Desde a queda do governo no final do ano passado, não se sabe ter uma definição do que será a Síria.
17:25Para enfrentar Israel ainda mais, é difícil prever se isso vai acontecer.
17:30Então, acredito que a Síria não é uma preocupação neste momento para Israel,
17:33mas é claro que aparece no radar por conta das colinas de Golan,
17:36que é um território anexado por Israel, foi indevidamente anexado,
17:39diferente de Faixa de Gaza, diferente da Cisjordânia,
17:42então é parte oficial do Estado de Israel, mas que não é reconhecido pela comunidade internacional.
17:48Professor Danilo, eu estava pensando aqui, em certo momento,
17:52quando o Késsio fez uma referência, uma questão que você tinha comentado de passagem,
17:59há uma expressão usada, a armadilha de Tucídides,
18:02lembrando lá da história da guerra do Polo Poneso e da ascensão de Atenas, o choque com o Esparta,
18:08e que muitos usam, fazendo alguns autores,
18:11comparações a vários momentos da história dos últimos dois séculos, mais ou menos em torno disso,
18:16e pegando a questão agora dos Estados Unidos e China.
18:19Então eu queria que você, por favor, pense aqui,
18:21eu não sei o que você acha dessa discussão, dessa questão, dessa análise,
18:25mas como é que fica isso, essa ascensão da China,
18:28e que é uma coisa evidente, palpável a todos nós, com uma grande potência econômica,
18:32mas ainda não parece ser uma grande potência militar, ao menos em termos mundiais,
18:36e o conflito do Oriente Médio?
18:38Porque a impressão que dá a mim, que acompanha essa distância,
18:41é que há um grande ausente ali, que é a China, pela importância que ela tem no mundo.
18:45Como é que você vê essa questão?
18:47Eu não vejo ausência, professor Vila, eu vejo descrição.
18:51Descrição.
18:53A China tem um papel importante até a ascensão de Trump 2.0,
19:02no que se refere ao Oriente Médio.
19:06Utilizando aqui alguns pontos que o professor Carson nos trouxe,
19:11devemos lembrar que a rota da seda desenhada pelos chineses,
19:20considera o Irã.
19:23A estratégia da China, junto com a Rússia,
19:28não foi à toa em trazer o Irã e a Arábia Saudita para dentro dos BRICS.
19:38Montar um bloco organizado.
19:41Eu só enfatizo uma questão, professor Vila,
19:46o projeto hegemônico chinês é um projeto econômico,
19:52não um projeto cultural, civilizacional,
19:56como testemunhamos na história dos hegemons ocidentais.
20:03Não existe esse universalismo.
20:07O que nos parece é que as forças motrizes da ação americana contra a China
20:17não são somente de contraposição econômica,
20:21mas de algo que não existe na pauta chinesa.
20:25É uma questão de uma afirmação civilizacional.
20:29Nós devemos lembrar que isso não é novidade, professores.
20:32Nós temos aquele clássico, a clássica obra,
20:36que me parece mais atual do que nunca,
20:38o Choque de Civilizações, do Samuel Huntington.
20:42Então, me parece que há esse ponto.
20:45E volto a insistir, professor Vila,
20:47é nesse sentido que os americanos titubeiam e tentam compor com os russos.
20:54Hoje nós vimos uma situação complicada,
20:57onde o Trump demonstra uma certa ingenuidade contando com o quê?
21:04Com uma dissuasão russa em relação à continuidade do conflito.
21:11O conflito se intensifica.
21:14E se intensifica por quê, professor?
21:16Ao meu ver, Putin sabe da importância estratégica
21:21desses novos agentes políticos nessa nova ordem mundial.
21:26Os americanos entendem que,
21:29enquanto a China não for a superpotência militar,
21:34o avalisador militar, por meio de aliança, será a Rússia.
21:40Então o caminho é trazer a Rússia o quê?
21:43O mais próximo possível dos americanos.
21:47É por isso da importância da parceria russa-americana
21:51na composição do conflito entre Paquistão e Índia,
21:57na busca do acordo nuclear com o Irã,
22:02em contrapartida, uma pacificação, abre aspas,
22:07a qualquer custo, na Ucrânia pró-Rússia.
22:13Então esses são os pontos.
22:15Professor Oquecio, vamos falar...
22:18Eu estava pensando aqui das questões levantadas pela Karina e pelo Danilo.
22:24A Rússia, de certa forma, a relação dela com o Ocidente,
22:29na minha leitura, tinha, no mínimo, dois grandes contatos.
22:32Uma, a religião ortodoxa, o cristianismo, e outra, o marxismo,
22:36que para alguns era um tipo de religião.
22:38Basta ler os textos do Stalin, os manuais de marxismo e leninismo
22:42da antiga editora Progresso, que acho que nem sei se existe mais hoje.
22:46Mas eu cheguei a lê-los, e era uma espécie de grande catecismo religioso.
22:51Mas havia esse diálogo, portanto, com o Ocidente,
22:53que é diferente do caso da China, que é muito difícil esse diálogo.
22:57A língua é diferente, a religião, etc.
23:00E não há essa perspectiva bem destacada pelo Danilo da conquista cultural,
23:05algo que era diferente no caso russo.
23:07E como é que fica isso?
23:09Porque dá a impressão que a Rússia também não tem muita presença,
23:13mas ela mostra fraqueza e força,
23:16porque ela precisa ao mesmo tempo de chamar soldados da Coreia do Norte,
23:21mais de 10 mil, não sei, alguma coisa assim,
23:24dando um ar de fragilidade e sendo uma superpotência atômica.
23:29Nós vamos entrar daqui a pouco nesse segundo ponto na nossa conversa,
23:34mas será que não é também um problema da liderança e da composição
23:38que tem hoje política na Rússia?
23:40E a presença, afinal, ela tem bases na Síria.
23:43Salvo engano, as bases ainda continuam lá.
23:45E como é que fica?
23:46Porque, ao mesmo tempo, tem uma guerra terrível ali,
23:49a sua capital, quem diria que Moscou recebeu uma bombardeada por drone?
23:52Para mim, inimaginável.
23:54Se há quatro anos atrás alguém falasse isso, eu acharia impossível.
23:57E ela tem, enquanto isso, bases ali na Síria
23:59e tem interesses estratégicos ali no Oriente.
24:01Como é que fica isso?
24:03É fácil perguntar, eu sei.
24:05É fácil perguntar.
24:07A Rússia, eu acho que a pergunta que deve nortear
24:10é quais são os interesses da Rússia hoje, os interesses imediatos.
24:14Eu acredito que, a respeito da guerra na Ucrânia,
24:18os interesses não mudaram.
24:21O interesse da Rússia não é apenas anexar parte do território
24:25ou até mesmo tomar o controle do território da Ucrânia,
24:30mas, pelo menos, se ela não conseguir tomar o território ucraniano,
24:34ela quer, pelo menos, uma mudança de regime
24:39e colocar a Ucrânia ali como a Bielorússia,
24:41como o Belarus hoje é para a Rússia, como um aliado estratégico.
24:46A respeito do Oriente Médio, os interesses russos,
24:50a base militar foi preservada
24:53e eu acho que um dos elementos que levaram isso a acontecer
24:58foi a forma com que o Putin não intensificou a resistência do Assad,
25:06mas foi relativamente pacífica essa transição, essa queda do Assad,
25:11vai para Moscou e não há uma resistência militar tão violenta
25:16com apoio russo contra o HTS, contra o al-Shahala na Síria.
25:22Então, acredito que isso possa ter tido algum tipo de negociação
25:25para que, em troca dessa transição relativamente não tão violenta,
25:32essa base pudesse ser preservada, que é estratégico.
25:36Tanto a base na Síria como a questão da Crimeia dão acesso ao mar quente,
25:44os mares quentes ali da Rússia.
25:48A Rússia precisa para a navegação estratégica desses portos e áreas estratégicas
25:54na região.
25:56Então, é um ponto, o Oriente Médio se retira do Oriente Médio,
26:00se mantém a base, mas o foco dele é a questão da Ucrânia.
26:03O estrago já foi feito.
26:06Qual foi o estrago?
26:07Foi criar uma zona que sugasse grande parte de recursos políticos e econômicos
26:13dos Estados Unidos e até o retorno do Donald Trump,
26:18nós temos aí uma perspectiva de que talvez os russos pudessem negociar com o Trump
26:24a partir da guerra da Ucrânia, porque o Trump, ao meu ver,
26:28ele tem um erro de cálculo que é pensar que os russos,
26:33que há uma desconfiança histórica entre os russos e os chineses,
26:37pudessem, se fossem considerados como grandes potências novamente,
26:42o Trump traz essa linguagem, ele até ameaça tirar a Ucrânia e a Europa
26:49das negociações.
26:51Então, ele chancela, olha, Putin, a nova ordem que a gente está fazendo agora
26:55é uma ordem de novas potências novamente, vamos tirar os intermediários,
26:59vamos resolver aqui as grandes potências.
27:01E ele acaba apostando nesse trunfo com o Putin,
27:07mas o Putin não quer apenas os ganhos territoriais,
27:12ele quer também a humilhação daqueles que se levantam,
27:16porque se há um conceito que está no vocabulário apenas das grandes potências
27:23é o conceito de esfera de influência, é o conceito de grandes potências.
27:28E o Putin, ele tem isso muito claro, o resgate da esfera de influência russa
27:34vai dar a Rússia de volta, a volta ao clube das grandes potências internacionais
27:39que foi perdida lá com a queda da União Soviética.
27:42Então, é aí que entra aquela negociação, quando ele traz o Zelensky,
27:47ele humilha o Zelensky, dizendo que o Zelensky iniciou a guerra,
27:50que era um ditador, e alguns dizem, professor Willer,
27:53que aquilo foi uma das exigências do Putin para negociar uma paz da Ucrânia.
27:59Saída de Zelensky.
28:01E humilhar, não só a saída, mas a humilhação de Zelensky.
28:06E o que não acontece, agora o Trump está começando a ver que, de fato,
28:11o Putin não é aquela maionete política que ele almejava,
28:16tão focado assim na questão, tão interessado assim na questão
28:22de uma resolução rápida no conflito.
28:25O que a Rússia quer é muito mais do que isso.
28:27Ela quer se impor novamente, resgatar o que foi perdido com a Guerra Fria
28:33e com o fim da União Soviética.
28:36Professor Carino, eu estava pensando aqui, com base nas suas exposições,
28:41que a primeira, quando Israel reagiu ao 7 de outubro,
28:44houve uma reação nacional, suprapartidária, de todos,
28:48contra um dos dias, se não for o dia mais trágico da história de Israel.
28:53A partir dos últimos meses, agora em 2025, a pergunta é
28:58a guerra continua sendo de Israel contra o grupo Hamas
29:02ou uma guerra de Netanyahu contra o grupo Hamas?
29:07Essa é uma ótima pergunta, porque é uma narrativa.
29:11Que narrativa se conta sobre isso?
29:14Há uma divisão interna, com certeza, na sociedade israelense.
29:18Vivemos já, desde o ano passado, semanalmente nas ruas,
29:23a sociedade israelense se manifestando contra o governo,
29:26pedindo o retorno dos reféns, porque devemos lembrar,
29:29quando Benjamin Netanyahu declara a guerra,
29:32ele anuncia que Israel está em guerra, depois do 7 de outubro,
29:36ele declara os objetivos da guerra.
29:38Quais seriam esses objetivos?
29:40E esses objetivos mudaram um pouco desde então,
29:42mas seria o retorno dos reféns, então resgatar os reféns
29:46que foram levados para a faixa de Gaza e a destruição do Hamas.
29:51Depois mudou um pouco, não seria a destruição,
29:53mas que o Hamas não fosse mais o poder político e o poder militar,
29:58não que tivesse mais um braço militar e político na faixa de Gaza.
30:01Então ele fosse retirado da faixa de Gaza.
30:04Esses seriam os objetivos da guerra.
30:06Só que, depois de todo esse tempo, chegamos a 600 dias de guerra agora,
30:11amanhã se completa 600 dias de guerra,
30:14os reféns não foram resgatados na totalidade,
30:19muitos voltaram, infelizmente, sem vida.
30:23Isso é um choque muito grande para a sociedade israelense,
30:26que entendia que a defesa, a segurança,
30:29era um pilar da fundação do Estado de Israel,
30:32que Israel foi fundado com base na defesa.
30:35Por isso que o exército de Israel, as Forças Armadas de Israel,
30:38são chamadas Forças de Defesa de Israel, a IDF.
30:41Não é chamado de Forças Armadas, como a maior parte dos países.
30:45Por quê? Porque é uma noção de defesa, uma noção de proteção.
30:48E a função, então, é a proteção dos israelenses.
30:52E há questionamentos até do próprio 7 de outubro.
30:55Como que aquilo aconteceu? Como que foi permitido que aquilo acontecesse?
30:59Que foi o dia, como o professor Vila disse,
31:02o dia mais trágico da história de Israel,
31:04com o maior número de israelenses mortos,
31:06mais do que em guerras como a Guerra dos Seis Dias,
31:09porque a guerra do Yom Kippur.
31:11E civis assassinados a sangue frio.
31:15Como que permitiu aquilo acontecer?
31:17Um Estado muito forte militarmente.
31:20Inegavelmente, falando no Oriente Médio, uma potência militar.
31:24Porque a imagem que sempre Israel se colocou
31:27do pequeno Davi contra Golias, não é mais isso.
31:33Não mudou há muito tempo. Israel é uma potência militar.
31:36Com uma força enorme, uma tecnologia de ponta.
31:40Então, como que permitiu?
31:42A população começou a se questionar.
31:44Que houve uma falha.
31:46Há relatórios de que o Egito teria avisado Israel que havia um plano.
31:50Que o 7 de outubro foi orquestrado com muito tempo de antecedência,
31:54pela forma como aconteceu.
31:56Que o Irã estava por trás, obviamente.
31:58E que haviam indicativos.
32:00Nos dias seguintes, havia uma reunião entre Israel e a Arábia Saudita,
32:04como apontado.
32:06Então, tudo isso já haviam indicativos de que poderia acontecer.
32:10E algo passou batido.
32:12Ou propositalmente, ou não.
32:14Por incompetência. Não se sabe.
32:16Teria que abrir uma comissão de inquérito
32:18para se descobrir o que aconteceu.
32:20E que a população israelense cobra que essa comissão seja aberta.
32:23Isso não vai acontecer durante a guerra.
32:25A guerra tem que acabar para que isso aconteça.
32:27Então, a população vai às ruas para dizer
32:30Nós queremos os reféns de volta.
32:32Nós queremos que essa guerra tenha um resultado real.
32:35Que sejam os israelenses de volta.
32:37Isso não acontece.
32:39Para que o maior número de israelenses retorne, é feito acordo.
32:42Foi agora, em janeiro, que nós vimos um acordo de cessar fogo temporário.
32:46E lá em novembro de 2023.
32:49Então, a população israelense se questiona.
32:51Qual é o sentido dessa guerra?
32:53Porque jovens israelenses estão morrendo,
32:56soldados israelenses estão morrendo,
32:58a população palestina está morrendo, a troco de quê?
33:01Então, essa é uma questão.
33:03O governo obviamente diz que é uma guerra de Israel contra o Hamas.
33:05Mas a população hoje israelense,
33:07isso pesquisas de opinião pública já demonstram,
33:10não é só uma interpretação.
33:12Já tem dados concretos sobre isso.
33:14E a popularidade do governo só enqueda.
33:16De que é um projeto político.
33:18Que é um projeto de poder em curso.
33:20Além de uma guerra de defesa.
33:22Começa com uma guerra de defesa,
33:24mas hoje vai além disso.
33:27Eu queria passar para o professor Danilo
33:29e mudarmos o nosso foco fundamentalmente
33:32para a questão da guerra Ucrânia-Rússia.
33:36Eu imaginei, eu acho que a torcida do Flamengo,
33:39que a guerra seria de algumas semanas.
33:41Toma três anos nisso.
33:44E nada indica, ao menos a princípio de algumas tentativas,
33:47que isso deva terminar logo.
33:50Eu espero que sim, mas a situação é bem complicada.
33:53Mas vamos olhar a questão da Rússia.
33:55Eu nunca imaginaria também que terminaria a non-soviética.
33:58Sinceramente.
33:59Havia até estudos de sovietologia lá nos Estados Unidos.
34:02Ninguém conseguiu prever o fim da non-soviética.
34:05Foi uma grande surpresa tudo o que ocorreu.
34:08Bem, a questão, professor, é a seguinte.
34:11A Rússia já é uma potência com interesse na Europa
34:13desde lá por volta do Congresso de Viena,
34:151814, 1815 e tal.
34:17E desde então sempre é vista como símbolo da reação,
34:20do reacionarismo atacando a Europa.
34:23Veio a non-soviética e foi o símbolo da revolução atacando a Europa.
34:27A non-soviética não existe mais.
34:29Existe agora a figura do Putin.
34:31Como é que fica essa questão da Rússia,
34:33a relação dela como potência militar em relação à Europa?
34:40Será que é estranho não ter mais o pacto de Varsóvia e ter ainda a OTAN?
34:46Será que não dá uma justificativa ao discurso do Putin
34:49até dessa relação mais agressiva com a Europa?
34:52Eu vou até utilizar aqui uma linha de raciocínio que não é do Putin,
34:56que é do próprio Trump.
34:58A OTAN perdeu o seu objeto original.
35:02A Organização do Tratado Atlântico-Norte,
35:04desenvolvida no final da década de 1940,
35:08foi para responder a uma nova visão de tensionamento político
35:15que nós chamamos de Guerra Fria.
35:17Soviéticos e americanos e a organização dos seus devidos blocos.
35:23No intuito de conter a dita expansão da internacional socialista,
35:30da expansão da visão até então estalinista de modelo político socialista.
35:38Que por sinal, professor, o senhor fez um comentário que eu gostaria de fazer.
35:43Entre americanos e russos existe uma grande semelhança.
35:46Ambos têm destino manifesto.
35:49Um do oeste para o leste e do outro do leste para o oeste.
35:55Tanto que um é cristão protestante e o outro é cristão ortodoxo.
36:00Um prega o universalismo liberal e o outro pregou o universalismo marxista.
36:10Mas nesse sentido, o que eu gostaria de bater?
36:15A OTAN perde o seu prumo.
36:20Com o fim da Guerra Fria, a OTAN, em tese,
36:25deveria ser um instrumento de alinhamento das ações securitárias ditadas pelos americanos.
36:33E isso necessariamente, quando acontece?
36:37Acontece de forma desastrosa, ao exemplo da Guerra da Iugoslávia,
36:42das ações no Afeganistão.
36:45Ou quando o quê? Não tem essa finalidade.
36:49Ele tem o único sentido de ser um guarda-chuva securitário europeu.
36:57Vamos dizer, dirigido dentro dos ditânios europeus.
37:02Os americanos, dentro da sua lógica isolacionista,
37:06começam o quê? A questionar o papel da OTAN.
37:10E nesse sentido, professor Vila, a guerra da Ucrânia,
37:17que na verdade tem sua semente desde o momento da, vamos dizer,
37:24da desconexão, do desalinhamento da Ucrânia à Rússia,
37:29à questão da Revolução Laranja, nós começamos a observar ali
37:35que esse conflito não é um conflito entre nações.
37:40É um conflito continental-regional.
37:47E aí, para não delongar demais,
37:52o que eu observo é que, diante de toda a guerra de informação,
37:57a Rússia se reafirmou como grande potência militar,
38:03que ela nunca deixou de ser.
38:05Aliás, até o conflito com a Ucrânia, em 1922,
38:12a Rússia nunca teve tanta área de influência,
38:16nem da época dos soviéticos.
38:18Presença indireta na África,
38:22forte influência na Síria, no Irã, no Líbano,
38:28presença na América Latina, professor Vila,
38:31Venezuela, Nicarágua, Cuba.
38:34E agora o quê?
38:35Ele reafirma, dentro da lógica da grande mãe Rússia,
38:40o recontrole de regiões.
38:43E quem se apequena?
38:45A Europa.
38:47A Europa se vê gradualmente o quê?
38:51Apequenada, inclusive,
38:53sob validação de uma nova ordem política,
38:56ditada pelos americanos.
38:58É interessante, aí dá para desdobrar umas questões,
39:03para a gente ficar pensando.
39:05Kersten, eu estava aqui, com base no que a Karine e o Danilo colocaram,
39:10pensando justamente nessa questão agora da Rússia,
39:13nesse novo momento histórico que nós estamos vivendo.
39:16Chega um momento, na Guerra Fria,
39:19só lembrar quem nos acompanha, a Guerra Fria, mais ou menos,
39:22se fosse pegar um momento, em 1947,
39:25se quisesse em 1946,
39:28a guerra termina na Europa em maio,
39:32mas a Guerra Fria, formalmente,
39:35começa pouco depois, que ainda é relativo consenso,
39:39em alguns pontos entre Estados Unidos e a União Soviética.
39:43Depois vem a Guerra Fria e termina com a queda,
39:45grosso modo, com a queda do Muro de Berlim,
39:47em nove de novembro de 1989,
39:49e a União Soviética termina no Natal de 1991.
39:53Nós temos antes o Gorbachev, a última liderança,
39:57e vemos o Yeltsin, e até chega o Putin.
40:01Mas eu queria que você pudesse nos comentar o seguinte,
40:04entre a ascensão do Gorbachev e a ascensão do Putin,
40:08nós temos um bom período histórico,
40:11a Antiga União Soviética e Rússia,
40:14e o breve momento de comunidade dos Estados Independentes,
40:17que durou pouquíssimo,
40:19ela entrou nessa crise militar,
40:21mesmo sendo uma superpotência,
40:23e o Putin, aí voltamos à questão Putin,
40:25que é interessante, colocada pelo Danilo,
40:27colocou a Rússia, nessa percepção mundial,
40:29como grande potência militar.
40:31Esse interregno, como explicar?
40:33É interessante isso,
40:35e eu vou pegar um gancho agora,
40:37com boa parte do que o Danilo trouxe aqui,
40:39que é essa percepção de que,
40:41após o declínio da União Soviética,
40:44qual é a missão da OTAN.
40:48E acreditava-se, dentro da Rússia,
40:50que talvez a Rússia, agora,
40:52por não ser mais um inimigo,
40:54ou seja, ela abriu os seus sistemas políticos e econômicos,
40:57se ocidentalizou no sentido,
41:00nesses termos políticos e econômicos,
41:02agora ela seria considerada uma amiga do Ocidente.
41:07Então, houve uma esperança,
41:09durante muito tempo,
41:11de que a Rússia pudesse fazer parte, inclusive, da OTAN.
41:14Houve negociações,
41:17e até o início do governo Putin,
41:21já nos anos 2000, tiveram exercícios,
41:24tiveram a implementação de cooperação,
41:28inclusive na guerra contra o Afeganistão,
41:33na guerra ao terror, contra o terrorismo,
41:36e houve uma aproximação política entre a OTAN e a Rússia.
41:41Mas uma coisa que os russos não entenderam
41:45foi porque isso nunca foi se concretizar.
41:48Então, os americanos prometeram,
41:51implicitamente ou explicitamente,
41:53um novo mundo onde a Rússia não seria mais considerada um inimigo,
41:57mas o que os russos começaram a observar
42:00é que, além de não ser convidado para a OTAN,
42:03nós temos a expansão da OTAN
42:06para o que, em 1994,
42:10a Rússia já tinha delimitado em documentos oficiais,
42:14o que ela chama de Near Abroad,
42:16que é a esfera de influência,
42:18o antigo espaço onde os países da União Soviética estão localizados,
42:24a ex-União Soviética, o antigo espaço soviético,
42:28é uma área de influência russa,
42:31e aquilo foi delimitado em documentos.
42:34Então, mesmo delimitando aquela área como a sua esfera de influência,
42:41a Rússia é o que viu países dentro dessa esfera de influência
42:44sendo convidados a fazer parte da OTAN.
42:48A Rússia não tinha como reagir a esse processo
42:51porque a Rússia estava numa terrível crise econômica,
42:54terrível crise de instabilidade doméstica,
42:57e não tinha como reagir a isso.
42:58Então, a Rússia observou isso,
43:00os países bálticos, vários países entrando para a OTAN.
43:04E o que o Putin faz é tentar reconstruir a capacidade da Rússia
43:09de responder ao que os russos consideram uma provocação.
43:16Tem um conceito de dilema de segurança.
43:21Se você vai se aproximando das fronteiras de um país,
43:23espalhando ali sistemas de mísseis, bases militares,
43:27aquilo ali vai gerar uma percepção
43:30de que aqueles estados estão cercando geopoliticamente.
43:36E o último degrau que os russos não poderiam aceitar,
43:40o último degrau dessa degradação da esfera de influência russa
43:45era a Ucrânia.
43:47E a Rússia já está bem mais reconstruída
43:49já quando ocorre a questão ucraniana.
43:51E alguns especialistas sempre dizem
43:53a questão ucraniana é tão sensível para a Rússia
43:56que a Ucrânia deveria ser utilizada
44:01como uma espécie de algodão entre cristais.
44:05Ou seja, um amortecimento entre dois grandes esferas de influência
44:10que é a Rússia e a União Europeia, o conjunto transatlântico.
44:14E a retirada desse algodão a partir do momento
44:18em que a Ucrânia vai adentrar a União Europeia
44:22e começa a aspirar também a entrar na OTAN,
44:27isso é visto pelos russos como essa retirada desse algodão.
44:31Então os cristais começam a se chocar
44:33e a gente observa essa nova fase agora muito mais violenta
44:38de um conflito entre Rússia e Ucrânia.
44:40Medelev inclusive falou ontem ou hoje
44:45sobre essa questão, professor Kertsch,
44:48que a Ucrânia, para uma estabilização regional,
44:52a Ucrânia tem que assumir o papel de região tampão, algodão.
44:59Então é uma zona de o quê?
45:01De mínima influência de ambas as potências regionais,
45:06União Europeia e Rússia.
45:08E, professor Kertsch, uma coisa que eu sempre digo,
45:12a frustração dos russos na não entrada,
45:17professor Willard, na OTAN,
45:20talvez seja semelhante à frustração turca
45:24no final da década de 90,
45:26quando também lhe foi negado a entrada da União Europeia.
45:31Volto a insistir, no modelo ocidental,
45:35repercute também questões culturais, civilizacionais.
45:41Professora Karina Justo, pegando esses ganchos,
45:44tanto do Danilo como do Kertsch,
45:46e usando uma expressão do Danilo, creio,
45:49desse apequenamento da Europa,
45:52é bom lembrar quem nos acompanha,
45:55a hegemonia europeia durou vários séculos.
45:58Vamos pegar a partir do século XVI,
46:01com a expansão à Espanha, principalmente à Espanha,
46:04depois do século XVII e XVIII,
46:05com a Revolução Industrial no final do século XVIII, mais ainda.
46:09Hoje, a Europa, em termos econômicos, é muito importante,
46:13ninguém nega, mas, porém, em termos militares,
46:16e no conjunto do mundo, em termos geopolíticos,
46:19se apequenou.
46:20Como a senhora entende isso?
46:22Quer dizer, qual é o destino da Europa?
46:24Criar um exército europeu?
46:26Construir a sua própria aliança militar,
46:28ou seja, o fim da OTAN?
46:30Como vai se recolocar nesse mundo
46:33que tem Estados Unidos aqui, tem Rússia aqui,
46:37tem China aqui, e nós não falamos na Índia,
46:40que está atropelando por fora,
46:43quinto PIB, quarto, daqui a pouco o terceiro, né?
46:46Então, como é que fica a Europa nisso?
46:48Bem, a discussão sobre uma política comum
46:51de segurança europeia é antiga,
46:53e eles não conseguem chegar a um consenso sobre isso,
46:55esse é o grande ponto.
46:57Eles não conseguem chegar a um consenso.
46:58A OTAN ocupa esse espaço, querendo ou não.
47:00Então, é uma zona de conforto ter a OTAN para eles,
47:03porque eles não têm que pensar em uma política de segurança comum,
47:06uma vez que eles já têm uma aliança militar antiga,
47:10da Guerra Fria.
47:12E como a OTAN não terminou com o final da Guerra Fria,
47:16e ela tenta, como a gente conversou aqui,
47:18foi bem pontuada pelos professores,
47:20a OTAN tenta mudar a sua perspectiva.
47:23Ela sai de um princípio de uma aliança militar
47:26focada em defesa dos seus membros,
47:30para um sistema de segurança coletiva.
47:32Então, vão ter missões lideradas pela OTAN,
47:35nos anos 90 e nos anos 2000,
47:37no auge daquelas missões de peacekeeping,
47:40peace enforcement, peace building.
47:42Que depois, hoje, a gente mal fala disso
47:46nas relações internacionais,
47:48porque as missões, se não todas,
47:50a grande maioria foi mal sucedida,
47:53para dizer o mínimo, usando um eufemismo.
47:56Então, os resultados não atingiram os seus objetivos.
48:01Então, dessa maneira, a Europa se colocou
48:04em uma zona de conforto.
48:05Ela era protegida pelos Estados Unidos,
48:07que vai liderar, no fim da Guerra Fria,
48:09um processo de globalização,
48:11vai liderar um processo, realmente,
48:15de ser o estandarte desses valores.
48:19Vamos lembrar do livro do Francisco Fukuyama,
48:22O Fim da História.
48:24É uma loucura dizer O Fim da História,
48:27mas foi um livro, um sucesso à época.
48:29A ideia de que não havia mais disputa,
48:31o capitalismo sem rivais.
48:33Então, não há mais disputa,
48:34não há nenhum modelo que se oponha ao modelo americano.
48:37E os Estados Unidos vão liderar essa hegemonia.
48:39E a Europa vai acompanhar como os amigos da grande potência.
48:44E agora, a Europa é colocada nesse cheque.
48:46Não podemos esquecer que, apesar desse apequinamento europeu,
48:50temos duas potências nucleares importantes,
48:52que é o Reino Unido e a França.
48:54A gente falou um pouco mal da ONU,
48:57mas temos que lembrar que são membros permanentes
48:59no Conselho de Segurança.
49:00Exatamente porque são os vencedores da Segunda Guerra Mundial.
49:03Então, há um apequinamento.
49:05Eu concordo com essa análise,
49:06mas não podemos também ignorar completamente
49:09o Reino Unido e a França,
49:10que são potências nucleares,
49:12potências nucleares reconhecidas.
49:13Diferente da Índia,
49:14que é uma potência nuclear de maneira excusa,
49:17não poderia ser uma potência nuclear,
49:20mas a França e o Reino Unido podem.
49:24Ocupam esse papel pensado na formação do Conselho de Segurança.
49:29E agora tem que...
49:30A gente vê na Europa, na Alemanha,
49:33que tem uma posição importante,
49:35que, por exemplo, junto com outros países,
49:37o próprio Brasil,
49:38disputam uma reforma no Conselho de Segurança,
49:41uma reforma da ONU,
49:42querem ocupar esse lugar no Conselho de Segurança,
49:44ter um assento permanente,
49:45mas não tem poder nuclear.
49:47Então, há uma disputa na Europa
49:49de uma nova configuração em termos de segurança.
49:52Mas ainda estão aquém,
49:54muito por esse lugar da OTAN.
49:55Então, quando Donald Trump, por exemplo,
49:57ameaça sair da OTAN,
49:59como fez em campanha,
50:00dizer que os Estados Unidos não precisam dos demais países,
50:04eles podem se manter sozinhos,
50:06é um recado para a Europa
50:07pensar na sua própria política de segurança
50:09e não depender mais dos Estados Unidos.
50:11Eu acho que passou da hora.
50:16Danilo, porque nós já estamos...
50:18Daqui a pouco está tão boa a conversa.
50:20Certamente, quem está nos acompanhando tem certeza disso.
50:24Estamos meio que caminhando para o final,
50:26mas ainda estamos em 35 de segundo tempo.
50:28É toda metáfora do Brasil futebolístico.
50:31As duas guerras mundiais foram guerras europeias.
50:341914 começa na Europa, a Primeira Guerra Mundial,
50:38e 1939, a Segunda Guerra Mundial, começa na Europa.
50:41A terceira não vai ter porque isso não acaba a humanidade.
50:43Então, provavelmente, não ocorrerá.
50:47Então, para mostrar que, ao mesmo tempo,
50:49você usou muito a questão civilizatória,
50:52e isso tem muito a ver com o Ocidente,
50:54que a Europa, em certo momento da história,
50:56em relação à expansão na Ásia e na África no século XIX,
50:59depois da Conferência de Berlim, especialmente.
51:03Mas, por outro lado, essa civilização
51:05produziu as duas maiores tragédias na história da humanidade,
51:08a Primeira Guerra Mundial e, especialmente, a Segunda.
51:12Alguns falam assim, a Europa virá um grande museu.
51:15Isso eu leio assim,
51:18depreciando essa questão bem destacada pela Carina.
51:20Olha, tem duas potências nucleares.
51:22Esqueceram o Reino Unido e a França.
51:24Mas fica sempre o medo da Alemanha.
51:27Da Alemanha tende a ter um exército forte,
51:29junto com as duas potências nucleares.
51:31Será que a Alemanha será uma potência nuclear?
51:33É a questão que eu coloco para você.
51:35E esse exército alemão reconstruído?
51:38E aí todo mundo lembra de 1939.
51:41O trágico início da Segunda Guerra Mundial.
51:44Professor, enfatizando a questão que a professora Carina disse.
51:48Acho importante considerarmos, sim, Inglaterra e França.
51:53Não há dúvida.
51:55Tanto que eu volto a insistir.
51:57O destino da Ucrânia, ou o que nós vemos,
52:00o que está acontecendo com a Ucrânia,
52:03tem o aval ou o impulso dos ingleses e dos franceses.
52:12Zelensky não tomaria as posturas que tomou ao longo deste conflito
52:18sem o aval desses dois países.
52:20Mais um ponto importante só para a gente fechar essa consideração.
52:25Não nos esqueçamos que o governo sírio de Ahmed al-Sharaa,
52:32que agora tem o aval dos americanos,
52:35dos países árabes, sunitas ou arrabitas ou não arrabitas,
52:41tem por trás os ingleses também.
52:44Quem preparou, quem moldou este homem do al-Qaeda e do al-Nusra
52:51como um homem pró-ocidental foram os britânicos.
52:56Tem dedo da embaixada britânica.
52:59Isso é importante nós citarmos.
53:01Ou seja, são duas potências que não estão mortas.
53:05Mas isso não quer dizer que são agentes,
53:08vamos dizer, protagonistas nessa nova ordem.
53:12Então esse é o ponto.
53:14E sobre essa questão da Alemanha, professor,
53:18o professor já viu por mais de uma vez
53:21Macron, presidente da França, dizer
53:25nós franceses disponibilizamos o nosso arsenal nuclear
53:32para afiançar a força regional.
53:34Isso não é um recado apenas para os russos.
53:37É um recado para os alemães.
53:39Fica na sua.
53:41No que se refere a ter protagonismo nuclear, não Alemanha.
53:47Isso faz parte do quê?
53:49De um projeto coletivo, sim.
53:52De rearmar a Alemanha, mas afiançado com o quê?
53:59Com uma promessa de guarda-chuva nuclear vindo da França.
54:05Eu não vejo a Alemanha se tornando o quê?
54:08Uma potência militar nuclear.
54:12E por fim, a Alemanha hoje tem os seus próprios infernos.
54:18Não é apenas a Índia que se torna uma potência
54:22que ameaça a posição da Alemanha como terceira economia.
54:27Mas também vemos o quê?
54:29O enfraquecimento do modelo tradicional alemão
54:32na perspectiva econômica.
54:35Temos o envelhecimento da população.
54:38Temos o quê?
54:39Vamos dizer, o declínio de uma potência econômica exportadora
54:46em detrimento de países como a China e a Índia.
54:50E para finalizar, professor,
54:53os próximos conflitos ou tensionamentos
54:58não serão mais na Europa, com exceção da Ucrânia.
55:02Mas o palco é o Pacífico.
55:05Não se esqueça, professor, que no discurso de Trump,
55:09um presidente que até então estava esquecido na história,
55:12McKinley, foi mais de uma vez lembrado.
55:17McKinley é o presidente da guerra hispano-americana.
55:22Ele é o presidente que efetivamente levou a América para o Pacífico.
55:28É um recado para a China e seus aliados.
55:32Temos um minuto.
55:34Quando o professor Danilo fala,
55:36a Ásia está se referindo à guerra de 1898,
55:40Filipinas e Ilhas de Igua, né?
55:42Depois teve Cuba e Porto Rico aqui.
55:44Um minuto, olha que precisa ser conciso, hein?
55:46E se a alternativa para a Alemanha tomar o poder na Alemanha,
55:49o que vai ser para a Rússia, hein?
55:51Um minuto é difícil, mas é um minuto.
55:53É um cenário complicadíssimo, professor.
55:56Pode ocorrer, né?
55:57Pode ocorrer.
55:58Mas eu acredito que parte dessa diminuição da importância europeia,
56:03o apequenamento, como foi colocado por vocês,
56:05de forma muito resumida,
56:07dasse o papel da União Europeia, da Europa para os Estados Unidos.
56:14O papel da Europa, dos Estados Unidos,
56:16era conter a Rússia até o fim da Guerra Fria,
56:21e hoje o papel da Europa é apenas um papel de
56:25vocês agora são responsáveis por sua segurança,
56:28porque os Estados Unidos da América agora vão focar na Ásia Pacífica.
56:31Se virem, vocês não têm mais a promessa de proteção dos Estados Unidos,
56:36porque o conflito dos Estados Unidos agora é outro.
56:39Poxa, muito obrigado.
56:40Eu tenho certeza, vocês que nos acompanharam,
56:43que foi excelente o programa.
56:47E não é um autoelogio, muito pelo contrário,
56:50muito pelo contrário, não é um autoelogio,
56:52é um elogio aos nossos convidados.
56:54Olha, foi uma discussão de altíssimo nível
56:56e o objetivo do Visão Crítica é justamente isso,
56:58é qualificar a reflexão sobre o Brasil e o mundo.
57:02Sair do panfletarismo barato, de falar para as bolhas
57:05e falar na base do eu acho.
57:07Não, é através de pesquisa, de trabalho acadêmico,
57:10e isso demora muito tempo, muito estudo e muita dedicação.
57:13Então, eu queria agradecer muito, muito, muito
57:16à doutora Karina Calandrin, doutora em Relações Internacionais,
57:20pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo
57:24e professora de Relações Internacionais do IBMEC,
57:27o professor Danilo Porfirio de Castro Vieira,
57:30pós-doutor em Relações Internacionais e professor titular
57:34de Relações Internacionais e Direito
57:37do Centro Universitário de Brasília e Uniceub
57:40e o professor e pesquisador Kécio Lemus,
57:43pesquisador de pós-doutorado na USP
57:45e que está trabalhando atualmente com a guerra na Ucrânia
57:48e os impactos entre as estratégias energéticas da Rússia e da Europeia.
57:53Muito obrigado, muito obrigado mesmo
57:55e nos encontre amanhã no mesmo horário, às 22 horas.
57:59Vocês vão gostar. Até!
58:02A opinião dos nossos comentaristas
58:04não reflete necessariamente a opinião do Grupo Jovem Pan de Comunicação.
58:13Realização Jovem Pan News.

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