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  • 10/05/2025
As trágicas enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul completam um ano, e a bancada do Linha de Frente comentou as ações implementadas pelos governos federal e estadual na reconstrução do estado, além das medidas adotadas para evitar novas tragédias.

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00:00É uma situação que vai ser resolvida a longo prazo, porque foram anos impactando o meio ambiente e não investindo em prevenção no Estado.
00:09Então, o desmatamento, o Rio Grande do Sul já está numa linha ali, a Maria Clara pode falar melhor sobre isso,
00:16que os eventos extremos são maiores, mas o que a gente percebe é que agora eles não são exceção, eles são a regra.
00:23Então, cada vez mais a gente vai ter eventos extremos acontecendo por causa do aquecimento do planeta.
00:29Só que assim, dicas falharam, tem como você melhorar, alargar rios para que isso ajude no escoamento, voltar com a vegetação nativa.
00:39O Rio Grande do Sul até diminuiu um pouco o desmatamento de 2023 para 2024, mas ainda é muito grande.
00:46E no lugar dele, eucaliptos foram plantados, a monocultura da soja, tudo isso impede a absorção de água.
00:53Então, a gente tem que recuperar a vegetação nativa, alargar rios, por exemplo, é uma alternativa, melhorar os dics de contenção e educar a população sobre essa questão do meio ambiente,
01:09de como prevenir.
01:11E essa ocupação desordenada que aconteceu, por exemplo, em Porto Alegre, as áreas que a gente chama de áreas alagadas,
01:16que são as áreas que são áreas de esponja, que absorvem mais água, elas foram aterradas para se construir bairros em cima.
01:23Então, a natureza usa aquele espaço para escoar, na verdade, devagar a água sobre a cidade.
01:29Quando você ocupa as áreas alagadas, você não tem um escoamento lento, você tem um escoamento muito mais imediato,
01:36é como se você tivesse um carro desgovernado e tirasse o freio dele.
01:39Então, ela vai com muita velocidade, entope tudo, enche tudo, os dics não são suficientes, as barragens não têm prevenção,
01:47então, acaba se espalhando muito rápido.
01:49Então, é preciso remover essas pessoas desses lugares que estão em cima hoje dos aterros, das áreas alagadas,
01:57construir ali parques, voltar com a vegetação, para que o problema seja menor ao longo dos anos.
02:03Mas o Estado ainda tem condições de sofrer com eventos extremos, tanto em relação ao clima,
02:08quanto ainda com o impacto ambiental que existe hoje.
02:11Maria Clara, passo para você, porque eu estava contando que a gente esteve lá,
02:14e as pessoas estão com muito receio dessa chegada de um ano e da época de chuvas.
02:19O que a gente pode falar, esperar para o Rio Grande do Sul, nesse ano de 2025?
02:25Eventos como esse costumam se repetir?
02:27Costumam, inclusive, neste momento, nós temos uma frente fria de forte intensidade atuando sobre o Rio Grande do Sul.
02:35As cidades do oeste já registraram mais de 50 milímetros, várias cidades com mais de 50 milímetros em menos de 12 horas,
02:42cidades com 100 milímetros registrados agora só nesse comecinho de dia.
02:48Então, em curto período de tempo, a gente tem um elevado volume acumulado já acontecendo novamente no Rio Grande do Sul.
02:54Mas, diferente de um ano atrás, essa é uma frente fria que não vai ficar presa ali sobre o Rio Grande do Sul
03:00e provocar volumes elevados por vários dias seguidos.
03:03Ela tende a avançar e perder força já nos próximos dias.
03:07Mas é um estado que está ali na linha dos eventos de forte intensidade, dos eventos extremos.
03:13Essas frentes frias, nesta época do ano, costumam provocar temporais de fortíssima intensidade,
03:20com graniz, com trovoadas, com volumes muito elevados.
03:24E a gente sabe que várias cidades ali do Rio Grande do Sul não se recuperaram ainda.
03:28Ainda temos vários municípios que não tiveram tempo hábil, condições suficientes
03:33para se recuperar do temporal que aconteceu há um ano atrás.
03:38Então, é uma situação bem complicada para o Rio Grande do Sul.
03:41Ainda é uma situação muito vulnerável.
03:43Se complementando só a fala da Maria Clare, e nesse sentido, o desmatamento que acontece na Amazônia
03:48impacta diretamente esses eventos no Rio Grande do Sul, porque modifica a umidade da atmosfera e os rios voadores.
03:55Exatamente, exatamente, Patrícia.
03:56A gente tem um fluxo de umidade que chega da região norte do Brasil em direção ao Rio Grande do Sul.
04:02E esse fluxo de umidade, se sofre uma alteração na natureza desse fluxo,
04:10a gente tem alteração também nas condições de chuva do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, da região sul como um todo.
04:17Porque a gente passa a ter um posicionamento diferente desse corredor de umidade, uma intensidade diferente.
04:24Então, esse desmatamento que a Patrícia comentou é realmente impactante para a região sul e para a metade sul do Brasil.
04:30Não só falando da região sul, mas para a metade sul do Brasil como um todo.
04:33Inclusive, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, esteve aqui no Direto ao Ponto, na Jovem Pan.
04:39E ele disse, Levi, que mais ou menos, em média, para fazer todo esse novo sistema de proteção de enchentes,
04:46a gente deve ter um período de 10 anos, 15 anos.
04:49Aí eu queria entender se o Rio Grande do Sul está muito atrasado, porque, por exemplo,
04:53o Vale do Itacoari não tinha nem estudo para uma proteção, uma contenção, sendo que está ali na beira do rio.
05:01A gente pode falar que há um atraso no planejamento, e aí não só a nível Rio Grande do Sul, mas o país como um todo?
05:07Bom, acho que, em primeiro lugar, Beatriz, o dado que mais me chama a atenção aqui é a existência de 25 desaparecidos.
05:18Queria que o nosso ouvinte, o nosso telespectador imaginasse o que é para uma família, um ano depois de uma tragédia como essa,
05:26lidar com a incerteza sobre o paradeiro de um parente, de um ente querido, de um amigo, de um colega,
05:33que está entre esses 25 desaparecidos, o que mostra como foi um evento de extrema gravidade que se abateu sobre o Rio Grande do Sul.
05:43Mas você toca num ponto que é muito importante, que é o tema do planejamento.
05:46E esse é um planejamento não só no campo da defesa civil, e sim, os dados mostravam que o Rio Grande do Sul vinha falhando no processo contínuo de planejamento
05:59para enfrentar eventos cada vez mais extremos e que já sinalizavam para um cenário bastante preocupante,
06:09mas principalmente de planejamento urbano.
06:13Então, nós temos um fenômeno de crescimento desordenado das nossas cidades,
06:18de uma ocupação informal do território, então um território que vai sendo ocupado de maneira bastante desordenada,
06:26e isso cobra o seu preço.
06:28E, de novo, é uma questão que afeta, assim como as nossas cidades são construídas e mantidas de forma bastante desigual,
06:37os eventos climáticos extremos se abatem sobre as pessoas também de maneira desigual.
06:44Então, nós temos discussões hoje sobre racismo ambiental, como que os eventos climáticos afetam mais diretamente as pessoas em situação de vulnerabilidade
06:53e uma série de outras discussões, mas que mostram que o nosso planejamento,
06:58as cidades brasileiras nunca foram boas de planejamento.
07:01Elas nunca enfatizaram essa dimensão, porque um plano de 10 anos é um plano que fatalmente se estende para além de um governo.
07:09Então, como que você capitaliza politicamente em cima de ações que você vai começar,
07:18que serão ações, muitas vezes, de planejamento, de base, que não dá uma boa foto,
07:22que não dá uma imagem impactante e que será, se for continuada, porque também muitas ações são iniciadas e interrompidas,
07:32mas que será inaugurada, talvez, por alguém que é um adversário político ou que é uma outra liderança.
07:38Então, nós temos essa falha na cultura de planejamento que acompanha, historicamente, todo o nosso planejamento urbano.
07:45Alex, eu estava procurando aqui uma nota que eu recebi sobre os investimentos lá no Estado.
07:53O governo estadual diz que investiu mais de R$ 6,5 bilhões na reconstrução até o momento.
08:01E claro que a gente está falando de um investimento pós-tragédia, né?
08:05Os estados, as cidades, eles precisam se organizar melhor para reservar um investimento?
08:11E não só reservar, mas para começar a executá-los com agilidade?
08:15Exatamente. Catriz, eu vejo que a possibilidade do Estado se erguer pela situação fiscal do Estado é muito delicada.
08:23O próprio governador atual, ele já tem feito várias declarações com esse desafio fiscal do próprio Estado do Rio Grande do Sul
08:31e o próprio governo federal, com a situação que está altamente comprometida com despesas obrigatórias,
08:36fica difícil, apesar dessa tragédia, lamentavelmente, atingir o Estado.
08:39Então, eu estava até pegando os números aqui de todos vocês, né, Maria Clara, o Wilson e a Patrícia.
08:46Isso acaba trazendo um número, quando a gente fala aqui de investimentos, de infraestrutura,
08:51até puxando a fala do Wilson que disse que aqueles investimentos que eu chamo de ocultos,
08:55aquilo que a população não vê, que é o saneamento, por exemplo, né?
08:57A questão do esgoto, da água e também de outras infraestruturas.
09:02Então, a gente está falando aqui, somando 20 bilhões de reais.
09:05Esses 20 bilhões, claro que envolve Estados, municípios, uma parte, a União,
09:10mas todo esse comprometimento, assim como o Wilson disse na parte do planejamento,
09:13a execução é depois do planejamento.
09:15Ou seja, isso ainda vai demorar muitos anos, até porque não é uma questão fácil de resolver
09:20no sentido de, ah, vamos construir uma ponte ali porque ela acabou sendo destruída.
09:25A gente sabe que muitas pontes sequer nem vão ser feitas por muitos anos
09:28e nem provisoriamente foram feitas.
09:30Então, a infraestrutura está muito além e não é só o problema do dinheiro.
09:34Falta dinheiro, falta recurso, o recurso é muito mal utilizado,
09:37corrupção sempre acontece, independente se é, enfim, de um lado ou do outro da política.
09:43A gente sabe que assola o Brasil.
09:46E aí eu vejo que a preocupação sobre a infraestrutura,
09:49para realmente o Estado voltar a produzir, de fato,
09:53a gente sabe que o Rio Grande do Sul, Beatriz,
09:55corresponde a aproximadamente 70% da produção de arroz,
09:58que ele é conhecido muito por essa questão.
09:59Tem indústrias também, mas na parte do agro, 70%.
10:0235% foi comprometido, ou seja, metade foi comprometida.
10:063.500 quilômetros de estrada foram comprometidos.
10:10E aí, quando a gente pega o órgão, ou seja, o ministro dos transportes,
10:13o ministro Renan Filho, pega também o governador,
10:15quanto disso vai ser resolvido no curto prazo?
10:17Para escoar essa produção, para trazer também a indústria de volta,
10:19para realmente o comércio funcionar, a indústria funcionar.
10:22Então, não é só, de fato, a gente entender ali que vamos resolver enchente,
10:28vamos resolver enchente, mas precisa de uma infraestrutura muito maior
10:31para que não aconteça, como a Patrícia falou, no aspecto ambiental,
10:34no aspecto econômico, da minha parte, que eu falo aqui.
10:37Então, esses números são realmente assustadores.
10:39Só para terminar, a Maria Clara tinha comentado aqui de umas cidades,
10:41eu não sou especialista, deixo para ela falar,
10:43mas algumas cidades que receberam ali 50 milímetros de chuva,
10:46100 milímetros de chuva, né?
10:47E aí eu peguei o número, né?
10:48Como eu não tenho familiaridade, eu também nem tive muita referência.
10:51Claro que a gente sabe que a enchente afetou ali de 497, né?
10:55De 478 cidades, ou seja, 97% do Rio Grande do Sul foi afetado.
10:58Isso é um número, claro.
10:59Quando a gente fala de malignitudes,
11:01o teto está valendo acima do furacão Katrina, né?
11:03Acima da tragédia do Vale do Itajaí, em 2008.
11:07E aí eu vejo 800 milímetros de chuva em poucos dias.
11:11E o que aconteceu no ano passado, exatamente.
11:13Em poucos dias, né?
11:14Em poucos dias.
11:15Só para a gente ter uma ideia,
11:18a média climatológica é um pouco acima ali de 200 milímetros no geral.
11:23A média climatológica é o quanto chove ao longo do mês todo no Rio Grande do Sul.
11:28Ou seja, quatro vezes, né?
11:29Então, exatamente.
11:30É um volume extremamente...
11:32Não havia sido registrado um volume tão elevado quanto esse...
11:36Esse volume que foi registrado não havia acontecido antes na história.
11:41Não tem uma medição de um volume tão alto
11:44em um curto período de tempo ali para o Rio Grande do Sul.
11:47Isso é muito impactante.
11:48Nenhum sistema de drenagem consegue suportar tanta chuva em um curto período de tempo.
11:54É, mas eu acho que nesse período...
11:56Eu ouvi muitas declarações, principalmente dos políticos que estavam lá falando assim,
12:01olha, choveu o triplo, o dobro do que era esperado.
12:04Se fosse metade, os danos, lógico, seriam um pouco menores,
12:09mas afetaria todo o estado do mesmo jeito.
12:12Teriam acontecido.
12:13Então, essa coisa assim que, às vezes, eu vejo quando as enchentes, né?
12:17Pegam São Paulo ou qualquer outro.
12:19A gente dá uma projeção, por exemplo, lá a gente fala de 800 milímetros,
12:23são 800 litros de água por um metro, né?
12:26Por um metro, exatamente.
12:27Então, assim, é muita água, com certeza.
12:29Mas se for 400, também continua sendo muita água.
12:33200, continua sendo muita água.
12:35E um curto período de tempo, não é isso que chama muita atenção,
12:38um curto período de tempo que essa chuva ocorreu, né?
12:43Não dá para drenar, é muita coisa.
12:46Mas se você acompanhar os alertas dos meteorologistas, né?
12:49De quem faz a previsão do tempo nos jornais,
12:51eles estavam falando, vem muita chuva por aí, vem muita chuva.
12:54Então, o mínimo que deveria ter acontecido é um sistema de alerta
12:57para evacuar áreas que eram mais suscetíveis, né?
13:00Tudo bem, choveu muito além do esperado.
13:02É igual São Paulo, quando eles falam assim,
13:03ah, mas choveu dobro, tá bom, choveu 80, mas com 40,
13:06os danos seriam os mesmos.
13:07Não, mas não escutem essa fala como se fosse um erro da previsão do tempo.
13:11Porque é isso, se a gente não investe em prevenção,
13:14qualquer chuva vai atrapalhar de alguma maneira a comunidade,
13:19vai atrapalhar a justiça climática, a gente sabe,
13:21as pessoas que estão mais vulneráveis,
13:22vai atrapalhar o cidadão que percorre as ruas de São Paulo.
13:27Então, assim, o que falta é planejamento e prevenção.
13:30Os radares meteorológicos estão aí, eles podem ser auxiliares,
13:33mas, assim, falando, por exemplo, cidades inteligentes,
13:35falta olhar a cidade como um todo e gerenciar isso
13:38para que volumes de chuva vão ocorrer.
13:40Isso é natural, é da natureza.
13:42E cada vez pior.
13:43E cada vez pior por causa das mudanças climáticas.
13:45Então, foi se falado muito, por exemplo,
13:48ah, mas houve outro enchente em 1920,
13:50quando não havia aquecimento.
13:51Só que antes, um evento como esse, a Maria Clara sabe,
13:54acontecia num espaço de tempo, assim, um a cada cinquenta anos.
13:58Exato.
13:58Agora acontece um a cada cinco anos.
14:00As secas na Amazônia, antes passavam dez, vinte anos,
14:03agora é quase todos os anos a gente tem um período muito seco,
14:06que os rios...
14:06Recordes de queimadas.
14:08Recordes de queimadas e tudo mais.
14:10Então, assim, falta olhar, né, assim,
14:13lógico que depois que os bairros foram construídos,
14:17é difícil a gente refazer todo o planejamento da cidade,
14:21mas algumas áreas críticas precisam realmente ser realocadas,
14:24porque senão qualquer volume de chuva vai trazer prejuízo e morte.
14:28Eu ia te perguntar exatamente isso, Patrícia.
14:30As pessoas ali, em muitas regiões, já conviviam com as enchentes regularmente,
14:35uma região próxima do rio.
14:37E aí os relatos são, ah, mas a água subia até o meu joelho,
14:41ela cobriu minha casa, alcançou dois metros e nove.
14:43Então, eu queria destacar dois pontos.
14:46O primeiro, muitas cidades estão revisando o plano diretor.
14:50E aí, tudo bem, o quão importante é elas falam em recuperação
14:53e tentar se acostumar, digamos,
14:56aprender a conviver com enchentes e a melhorar os sistemas de contenção,
15:00porque não dá para deslocar grandes centros,
15:02você tem que começar a reurbanizar uma área.
15:05Então, o quanto as pessoas precisam entender do meio ambiente,
15:09dá para fazer só isso mudando o plano diretor ou não para você?
15:12E o quanto precisa ter uma educação também,
15:15porque as pessoas não acreditavam que a água ia subir tanto assim,
15:17mesmo as que foram avisadas, falaram,
15:19gente, eu só acreditei quando, de repente, chegou na minha barriga.
15:23É, então, é porque é aquilo que ele falou de politicamente falando, né?
15:26A natureza foi dando avisos.
15:28Olha, chegou até a canela, chegou até o joelho, chegou até a cintura.
15:32Você vai esperar te cobrir por inteiro?
15:34A prefeitura, que quando tem esse problema, vai lá,
15:37tira todo mundo, leva para uma escola, um abrigo provisório.
15:40Então, ela gasta dinheiro com isso todos os anos,
15:43porque a água que vem até a cintura também causa prejuízo.
15:47As casas são destruídas, um bebê pode morrer por não saber nadar, uma criança.
15:51Então, assim, como essas áreas alagadas, elas têm que retirar, remover essas pessoas.
15:58Elas não podem sair do abrigo quando a água baixar e voltar para lá,
16:02porque elas vão estar suscetíveis a passar por esse problema todas as vezes que chover.
16:06E quando as mudanças climáticas, a gente fala que ela aumenta os eventos extremos,
16:10isso, né, Maria Clara?
16:11Pode acontecer, assim, num intervalo muito pequeno,
16:14que não dê tempo das pessoas se recuperarem dessas enchentes.
16:17E, mais uma vez, elas estão lá.
16:19Lógico, é difícil, né?
16:20A gente sabe que tem as encostas, como houve os deslizamentos, por exemplo,
16:23na região serrana do Rio.
16:24Ou aqui mesmo, no litoral de São Paulo.
16:26É, em São Sebastião.
16:28A gente sabe que é difícil retirar as pessoas, né, que existe.
16:32Mas, assim, precisa fazer um trabalho de educação ambiental,
16:34de conscientização, ao longo do ano, aos poucos,
16:38e envolvendo essas pessoas em outros ritos, né,
16:41para que elas possam, sim, se conscientizar em que a vida delas está em risco naquele momento
16:47e que a política pública dê condições, né, para que ela possa sair dali.
16:52Levi, muito se falou em criar cidades provisórias, novos bairros.
16:56Na prática, não está acontecendo tanto isso.
16:59Alguns bairros foram deslocados 3, 4 quilômetros para a criação de um parque
17:02na área que a enchente chegou de forma mais forte.
17:05E todo mundo que eu entrevistei lá, autoridade, secretário de reconstrução,
17:08falaram mesmo na contenção e deslocamentos o menor possível.
17:14Faz sentido na lógica de cidades inteligentes?
17:16Faz. Faz sentido.
17:17É mais do que em cidades inteligentes na dinâmica de planejamento urbano.
17:21Você falava do plano diretor.
17:22O plano diretor é um instrumento poderosíssimo
17:25de antecipar questões e de promover resiliência urbana.
17:30Mas veja o detalhe.
17:33A lei que define com clareza o que é o plano diretor é o Estatuto da Cidade.
17:38Ele é de 2001.
17:40É uma legislação que tem 24 anos de existência.
17:45Só que o Brasil é uma nação eminentemente urbana
17:48desde os anos 70 do século XX.
17:52Então nós já lidamos com o fenômeno da urbanização
17:54há muitas décadas e só muito recentemente
17:58decidimos criar um marco nacional, que é o Estatuto da Cidade,
18:02para definir como é que nós lidamos com os instrumentos da política urbana.
18:08Esse é um ponto.
18:09Quanto à sua questão, Beatriz,
18:13essa ideia de pensar cidades do zero
18:16é uma ideia um pouco fora de moda.
18:20A gente está falando de uma visão modernista de urbanismo
18:24que marcou, por exemplo, a experiência de Brasília.
18:27Brasília foi uma cidade, de fato, planejada do zero.
18:30Não foi um planejamento que deu conta de todas as variáveis,
18:33porque Brasília tem os seus problemas,
18:35que são, inclusive, parecidos com outras cidades do Brasil.
18:40Mas o fato é que as cidades já se consolidaram.
18:43Elas já existem.
18:44Então nós podemos pensar, e aí, na ótica das cidades inteligentes,
18:48nós podemos pensar em uma série de outras ações.
18:51Vou dar um exemplo aqui.
18:52O nosso telespectador vai conseguir imaginar.
18:57Hoje se fala muito nas compensações ambientais.
18:59Então eu vou implantar um grande empreendimento
19:02que vai demandar, por exemplo, a extração de árvores,
19:06o corte de árvores.
19:08Durante muito tempo, e ainda hoje,
19:10a gente pensa a compensação ambiental da seguinte forma.
19:13Bom, eu vou tirar 10 árvores daqui,
19:15eu vou doar 400 mudas para o viveiro do município.
19:19Uma conta de padaria, parece que você está ampliando
19:22a cobertura arbórea da cidade.
19:25Mas, na verdade, aquela árvore que estava ali,
19:27aquelas 10 árvores que estavam naquele terreno,
19:30elas exercem um serviço ecossistêmico naquela localidade.
19:36Então, quando você impermeabiliza o solo,
19:38quando você diminui a área permeável dentro de um empreendimento,
19:42você estabelece um impacto sistêmico que se estende para muitas quadras.
19:49Então, hoje, o estado da arte em cidades inteligentes
19:52pensa muito na perspectiva das soluções baseadas na natureza
19:57e nos serviços ecossistêmicos.
19:59Então, dá para transformar a cidade a partir dessa perspectiva?
20:04Dá.
20:05Mas não dá para a gente pensar naquela conta de 10 árvores cortadas num terreno
20:11e 400 árvores que vão ser plantadas,
20:14não necessariamente num lugar onde aquelas árvores
20:16exerciam um papel muito importante.
20:19Inclusive em microclimas, né?
20:20Que são criados a partir da retirada da vegetação nativa.
20:23Então, você muda a configuração do clima na Zona Leste de São Paulo, por exemplo.
20:27É por isso, assim.
20:29Tem um calor acima da média do resto da...
20:31Sapopemba é um distrito com maior incidência de ilhas de calor na cidade de São Paulo.
20:38E aí, se compara com a Zona Sul, que tem mais vegetação
20:42e pouca área urbanizada, pouca área com concreto,
20:48a temperatura chega a ser cerca de 3 até 5 graus de diferença.
20:53A gente está falando só de São Paulo.
20:54Só de São Paulo, no país inteiro.
20:55Na mesma cidade.
20:56Então, é muito importante essa análise, né?
21:00De você saber que você tirar uma vegetação daquela região
21:05não é a mesma coisa que plantar em outra área.
21:08Mesmo que seja perto, né?
21:09Claro que os impactos, eles não são só chuva, enchente,
21:13mas coisas que parecem menores, como calor excessivo,
21:18um exemplo aqui em São Paulo, na Sena Madureira,
21:20tem uma obra grande ali para tirar um monte de árvore.
21:22Isso impacta qualquer ambiente com maior ou menor grau de desastres, digamos.
21:27Não precisa ser um desastre para ter uma mudança climática no local, né?
21:31Exatamente.
21:32Não precisa morrer ninguém, não precisa ser uma tragédia
21:36para você identificar que houve uma mudança no clima,
21:41houve uma mudança ali no microclima daquela região,
21:45justamente pela ação do homem.
21:46Muitas vezes, quando estamos sob uma influência de onda, de calor,
21:51que a temperatura começa a superar o que é normal, acontece muito na primavera,
21:56aí as pessoas tentam levantar o que poderia ser feito
21:59para amenizar esses efeitos de onda de calor.
22:02E é realmente aumentar a área verde.
22:04Mas quanto tempo leva para aumentar uma área verde?
22:07Quanto tempo leva para uma árvore crescer e criar ali um microclima na região?
22:12Leva muito tempo, né?
22:13A cada três mudas plantadas, apenas uma sobrevive.
22:16Por isso que cada árvore importa,
22:18porque a chance de você retirar uma árvore centenária, com menos anos,
22:23e você retirar ela daquele habitat e vai colocar uma outra muda,
22:27a chance de a gente perder aquela sombra e não conquistar outra é muito grande.
22:31Porque uma árvore, até ela crescer, não sei o quê,
22:33mas ela, às vezes, não cresce.
22:35A muda nem sempre consegue atingir essa maturidade que aquela árvore tinha.
22:39Então, assim, se ela é maior, ela tem raízes mais profundas.
22:42Se ela tem raízes mais profundas, ela consegue absorver mais água,
22:45ela compacta melhor o solo, ele não fica soltando com mais facilidade a terra.
22:50Então, essa retirada de árvores, como ele disse,
22:53é extremamente importante até para a absorção de carbono de um espaço,
22:57porque as pessoas também morrem de poluição do ar.
23:00São sete milhões de pessoas que morrem no mundo todo
23:03por causa da qualidade do ar ruim.
23:05Então, essa compensação ambiental, que é uma maquiagem, greenwashing.
23:12Você vai falar de um empreendimento que está fazendo compensação ambiental,
23:16lógico que para o ser humano existir, ele impacta.
23:18A gente respira, a gente gera lixo, a gente consome.
23:22Mas, assim, a gente tem que olhar para os empreendimentos econômicos
23:25e gerar emprego de outra forma dentro dessa economia verde,
23:28justamente para não afetar a economia e, mesmo assim,
23:32proteger a nossa saúde e a nossa própria sobrevivência.
23:34Alex, a gente fala muito que a gente resolve as coisas quando dói no bolso.
23:39Mas, no caso, não sei se a gente está vendo isso no cenário do Rio Grande do Sul,
23:43do Brasil, porque a gente está trabalhando mais, me parece, em reconstrução,
23:47em medidas depois que acontecem que são mais caras,
23:50tem um problema de habitação agora no Rio Grande do Sul,
23:52enfim, diversos problemas, vou citar vários aqui.
23:55Mas, então, a gente está gastando mal também, né?
24:00Sim, foram 600 bilfamílias, o dado que eu peguei,
24:03desalojadas dessa tragédia.
24:05E como que você vai reconstruir, né?
24:08Na mesma, numa velocidade que...
24:09Uma família não é mais importante com a outra, né?
24:11Ou seja, todos são...
24:12Ou seja, teria que ser feito de uma forma igualitária,
24:14essa velocidade de moradias, né?
24:17E reformas que precisam ser feitas.
24:18A gente sabe que essa reconstrução,
24:21como eu tinha dito anteriormente,
24:23o recurso já é escasso,
24:25a inteligência desse recurso é muito mal feita.
24:27E, ao mesmo tempo,
24:29quando a gente utiliza todo o aspecto,
24:31quando a gente fala no aspecto de moradias,
24:33a gente pega...
24:33Eu vou trazer um aspecto um pouco diferente aqui na conversa, tá, Beatriz?
24:36A gente pega aqui as empresas incorporadoras, né?
24:39Da região.
24:40Algumas delas são listadas em Bolsa
24:42e a gente consegue ver os números, enfim, os impactos.
24:45A gente consegue ver claramente que afeta,
24:47quando você fala do Bolsa do Trabalhador,
24:48ter o próprio crédito.
24:49Então, o trabalhador que continua trabalhando,
24:52desempenhando sua atividade,
24:53ele teve sua casa afetada
24:54e ele precisa fazer uma reforma,
24:56até precisa comprar uma outra casa,
24:57caso tenha esse privilégio, né,
24:58de conseguir ter essa renda
25:00para comprar uma nova moradia,
25:02até não consegue o crédito.
25:03Por quê?
25:04Por dois motivos.
25:05Primeiro, a gente tem aí um juros altíssimo,
25:08a gente está aí no maior patamar nos últimos 20 anos,
25:11que não tem a ver com a tragédia,
25:12tem a ver com a situação econômica do Brasil
25:14e, ao mesmo tempo,
25:15a gente tem uma situação fragilizada
25:18em relação ao Estado.
25:19Ou seja, os bancos que atendem a região,
25:22eles têm o que a gente chama de PDD,
25:23ou seja, uma provisão de devedores duvidosos,
25:26ou seja, para quem contratou um empréstimo,
25:28para quem contratou um cartão de crédito,
25:29os empreendedores que tiveram o seu comércio alagado,
25:33que perderam mercadorias,
25:34acabar, como que ele vai pagar o banco?
25:35Como que ele vai pagar o cartão de crédito?
25:37Como que o consumidor que foi afetado na sua casa,
25:39que perdeu tudo na sua casa,
25:41ele vai ter que comprar tudo de novo,
25:42parcelar no cartão, fazer um empréstimo,
25:44como que ele vai pagar aquilo que ele,
25:45às vezes, nem terminou de pagar?
25:47Então, a situação do crédito é uma situação muito difícil
25:49e aí cria esse PDD, ou seja,
25:50essa provisão que o banco vai ter que dizer assim,
25:53não vou conseguir receber desse cliente.
25:54E como que ele vai conceder crédito
25:55para quem realmente quer consumir na região,
25:58quem quer empreender de novo,
26:00ou seja, comprar mercadoria novamente?
26:02E eu estou falando para quem tem capacidade de crédito,
26:04ou seja, para quem tem,
26:05é um selo de bom pagador.
26:06Imagina para quem já estava passando por dificuldades
26:08de juros altos, não conseguindo vender,
26:11o Estado já tem uma dificuldade,
26:12o próprio PIB do Estado,
26:13a gente vê aí essa questão.
26:15Então, é um desafio econômico muito grande,
26:18que vai além da tragédia.
26:19Claro que a tragédia ampliou claramente
26:21essa catástrofe econômica, inclusive.
26:24Quando a gente fala de números de 20 bilhões,
26:266 bilhões, é muito mais do que isso.
26:28Eu tenho certeza absoluta que esses números são imensos,
26:31porque a gente pega aí o efeito da economia como um todo,
26:36ou seja, como que a gente vai mensurar
26:37a mercadoria que foi perdida?
26:39O faturamento que ele perdeu do ano?
26:42O restaurante, por exemplo,
26:43como que ele vai vender o almoço,
26:45o jantar de cinco meses atrás?
26:47Não tem como a pessoa consumir duas, três vezes
26:49o que foi perdido.
26:51Então, é uma receita que não volta mais.
26:52Isso que eu quero dizer em serviços.
26:54E serviços é a maior parte do PIB
26:56do crescimento brasileiro.
26:57Claro que alguns estados são mais industrializados
26:59do que outros,
27:00mas o serviço é muito importante.
27:02E esse empreendedor do serviço,
27:04a gente sabe quando a gente fala aqui
27:05da parte de empreendedorismo,
27:06grande parte dos empreendedores, Beatriz,
27:08são micro e pequenos empreendedores.
27:09São empreendedores que, às vezes,
27:11ele atua sozinho, o MEI,
27:13ou ele tem um funcionário,
27:15ou dois ou três funcionários.
27:17Então, a gente está falando aqui
27:17de uma dificuldade muito grande
27:19do empreendedorismo.
27:20Por isso que eu digo que a dificuldade do crédito
27:22é a alavanca do crescimento.
27:24Tanto que eu falo tanto do crédito do Estado,
27:26do governo financiando obras para a população,
27:30aí eu estou falando claramente de dinheiro público,
27:32e também crédito,
27:33tanto de bancos públicos
27:35quanto de entidades privadas
27:36que atuam na região.
27:37Então, eu digo que, claramente,
27:39é uma catástrofe estrutural
27:41na parte econômica do Estado.
27:42E aí

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