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  • 22/05/2025
Beatriz Manfredini visita regiões do Rio Grande do Sul que foram devastadas pela tragédia climática e mostra como, mesmo após um ano, muitas comunidades ainda enfrentam destruição, abandono e dificuldades para reconstruir a vida. A reportagem especial do DOCUMENTO JP revela os impactos que permanecem.

Assista à íntegra em:
https://youtu.be/0ofMZh4edwg

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Transcrição
00:00O Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores tragédias climáticas de sua história.
00:05A água subiu sem pedir licença, arrastando casas, sonhos, histórias.
00:11Mais de dois milhões de pessoas foram afetadas.
00:14Famílias inteiras perderam tudo.
00:16Algumas, até mesmo o direito de se despedir.
00:21Um ano depois, o documento Jovem Pan volta no estado com a repórter Beatriz Manfredini,
00:26que está aqui no estúdio comigo.
00:28Seja muito bem-vinda. Beatriz encontrou um cenário ainda de dor e também de esperança.
00:35De esperança, Elisa. As pessoas não desistiram de reconstruir as vidas.
00:40Mas é bastante chocante voltar ao lugar um ano depois.
00:43Eu tive a sensação de que o tempo parou, como se o relógio estivesse congelado.
00:47Porque quando a gente desce nas cidades mais atingidas e nos bairros mais afetados,
00:52o rastro de destruição ainda está lá.
00:54As casas pela metade, construções abandonadas, estruturas que sobraram.
00:59Inclusive, eu ouvi de um morador que a vida dele não é só uma história, como muitos estão ouvindo.
01:05Esse é o dia a dia dele ainda hoje, um ano depois.
01:08Porque ele não conseguiu voltar para a casa que ele morava, nem para o trabalho que ele tinha.
01:12E ainda não conseguiu reconstruir a vida.
01:15Mas eles não desistiram, Elisa.
01:16Muitas histórias marcantes.
01:18É o que você vai conferir agora na reportagem especial da Beatriz Mofredini,
01:23Arthur Cipriani e do repórter cinematográfico Guilherme Cassiano.
01:27Reconstrução.
01:44Uma palavra que se tornou frequente no vocabulário dos gaúchos no último ano
01:50e que ainda deve ser repetida por muito tempo.
01:53Um ano após a tragédia que marcou a história do Rio Grande do Sul e do Brasil,
02:01muitos ainda não conseguiram retomar a rotina
02:04e estão longe de recuperar o que tinham antes da enchente.
02:09Só quem passa para saber.
02:12Pode dizer assim, ah, eu imagino que eles estão passando,
02:15ah, não é tanto assim, ah, porque vai chover não vai ser nada.
02:19Não. É, automaticamente começou a chover.
02:25Você pode conversar com qualquer pessoa aqui do bairro que vai te dizer a mesma coisa.
02:29Começou o pânico.
02:32Além de reparar os danos materiais e emocionais ainda muito presentes,
02:38há um desafio ainda maior em jogo.
02:41Garantir que a história não se repita.
02:43Em 27 de abril de 2024, uma mudança brusca na paisagem e na vida da população teve início.
02:53Naquela data, fortes chuvas começaram a atingir a região dos vales,
02:58com ampliação para diversas partes do estado por mais de 10 dias,
03:03sobrecarregando as bacias dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí,
03:10chegando também ao Guaíba e a Lagoa dos Patos.
03:13Em 2 de maio, o rio Taquari passou dos 30 metros de altura,
03:21no maior nível da história.
03:23No dia seguinte, o nível do Guaíba chegou a 4,77 metros,
03:28ultrapassando o recorde de 1941.
03:32E ainda subiria mais, atingindo, dias mais tarde,
03:35o maior nível já registrado, em 5,33 metros.
03:40Assim, a água alcançou lugares antes nunca atingidos.
03:45O caos começou em Porto Alegre, a capital gaúcha, no dia 3 de maio daquele ano.
03:52As águas do rio Guaíba atingiram os pontos principais da cidade,
03:57inclusive o mercado público, um dos cartões postais por aqui.
04:01Ele ficou fechado mais de um mês e só conseguiu reabrir as portas efetivamente
04:07depois de ser inundado, no dia 18 de junho.
04:11Nesse ponto, bairros inteiros já tinham sumido.
04:21Crianças, idosos, homens, mulheres e animais
04:24eram resgatados do telhado das casas, completamente submersas.
04:29Voluntários arriscaram a vida para ajudar
04:32e alertas de evacuação eram emitidos.
04:35Além disso, diversas cidades já estavam completamente isoladas,
04:43com a destruição de pontes e estradas.
04:46E o aeroporto internacional Salgado Filho, de Porto Alegre,
04:49fechava as portas após ser completamente tomado.
04:53Prefeitos chegaram a declarar que algumas cidades,
04:55como Eldorado do Sul e Arroio do Meio, não existiam mais.
04:59478 cidades foram atingidas, o que representa 96% do estado.
05:08Quase 2 milhões e 400 mil pessoas foram afetadas.
05:12184 morreram.
05:13E até hoje, 25 estão desaparecidas.
05:17Ardolino Mário, morador do bairro Sarandi,
05:20na zona norte de Porto Alegre,
05:22um dos lugares mais atingidos na capital,
05:25relembra que demorou a acreditar que a enchente chegaria na casa dele.
05:29Mas a água não só chegou, como alcançou os 2 metros e 9 centímetros.
05:35Marca que a casa dele, para onde voltou, carrega até hoje.
05:40Mário voltou para resgatar os cachorrinhos, o pacote e a gorda.
05:44Mas perdeu tudo dentro de casa.
05:47Hoje, se sente uma pessoa diferente.
05:50Não passava pela cabeça que essa água tomaria o volume que tomou.
05:55Então nós ignoramos.
05:56Não que nós não acompanhássemos.
05:58Nós estávamos acompanhando.
06:00Mas ignoramos aquilo, tipo assim,
06:02não, não vai passar disso.
06:04Não, não vai passar disso.
06:05E nós observávamos que a água vinha vindo.
06:07E já observávamos as bocas de lobo, que elas estavam enchendo.
06:12Bom, chegou.
06:13Aí a movimentação começou a ser cada vez maior.
06:18Começou a chegar caminhão para resgatar pessoas.
06:22Nesse meio tempo já começou o voluntariado.
06:26Entrou o voluntariado, o voluntariado civil.
06:30Aí esse voluntariado já começou a chegar e auxiliar barquinhos, caminhão e já trazer pessoas.
06:40E as pessoas começaram a migrar para a direção da CIS Brasil.
06:43Bom, foi passando o dia.
06:48Nós não acreditávamos.
06:49Eu continuava não acreditando.
06:51A minha esposa, os vizinhos, tudo.
06:52E nós circulando por aqui.
06:54Até que, em determinado momento, a água chegou no meu portão.
06:59Aí o meu filho, o Wagner, já estava aqui.
07:02Pai, nós temos que ir embora.
07:04Se eu tenho que ir embora daqui, essa água vai subir.
07:06Eu já estive na região de Canoa, se eu não me engano.
07:09E a água subiu e também as pessoas não acreditavam.
07:12E começou a insistir comigo.
07:14O Wagner é incisivo nas coisas.
07:17Aí o Salomão, que é o outro filho, ele também entrou em pânico.
07:22Ele disse assim, isso aqui vai encher, vai encher.
07:25E eu não acreditava.
07:27Mas chegou num ponto, quando chegou no meu portão, me acendeu o alerta.
07:31Está na hora de sair.
07:32Já em Cruzeiro do Sul, na região do Vale do Taquari,
07:35a Bel e a família esperaram 48 horas por resgate.
07:40A gente estava esperando uma enchente como se fosse a de setembro de 2023.
07:46Que a nossa casa foi afetada pela água, mas não pela grandiosidade que foi a de 2024.
07:52A gente levantou os móveis, esperando uma certa metragem.
07:57E atingindo aquela metragem, ia ser seguro, ficar lá com a minha família.
08:01A gente avisa que a casa tinha dois andares, então ia ser tranquilo.
08:04A gente esperava que a água não subisse tanto, na verdade.
08:08Tinha um vento gelado, bastante serração, que é a tipo para a região, região de Várzea.
08:20No período de chuva, registrar a serração diferente de áreas serranas.
08:23E naquele momento o vice-governador entra pela rádio e anuncia que estourou a represa lá em cima,
08:30estourou a barragem e que a água iria se elevar a seis metros.
08:34Naquele momento eu e meu padrasto, a gente fica em silêncio, um olha para o outro,
08:38depois de um minuto, um minuto e meio a gente fala assim,
08:41tu olha para cima e tu não tem mais seis metros para subir.
08:44Tu pensa, eu vou subir no forro, eu tenho três metros de margem, mas eu não tenho seis.
08:48A gente ficou em silêncio, cogitou hipóteses, ah, eu vou me agarrar no botijão de gás,
08:53minha mãe vai pegar a bombona de água, eu vou me abraçar num freezer que sobrou.
08:57A gente começou a cogitar essas hipóteses.
08:59Naquele momento a gente pega uma faca, corta um quadrado no forro para ver se consegue colocar a vó
09:04para cima do forro, que a vó tem 80 anos, é mais habilitada,
09:07para depois a gente subir e tentar, porque a gente ia fazer, puxa o que custar para se salvar.
09:19A gente estava no segundo andar, aguardando o resgate, aquela vez que passava uma aeronave,
09:24a gente ia para fora da janela, da sacada, abanava panos para sinalizar e chamar a atenção
09:30de que ali haviam pessoas que precisavam ser resgatadas.
09:34Porque o nosso medo era que a casa fosse embora, que ela não resistisse a pressão da correnteza,
09:39porque batia galho contra a casa, árvore, tudo que a correnteza trazia,
09:44parte disso batia contra a casa.
09:46Então o medo era que a casa não resistisse, que tudo viesse abaixo,
09:49que a gente fosse junto e fosse arrastado pela correnteza.
09:51E aí na manhã da sexta-feira, os resgates noturnos eram suspensos,
09:56porque não tinha condição, não tinha visibilidade, chamavam de teto, de visibilidade,
10:00que os pilotos denominam dessa maneira.
10:04E aí, às oito da manhã, quando o repórter entra ao vivo do Parque do Imigrante,
10:08que era o lugar onde era o QG, que era o ponto forte que eles traziam os resgatados,
10:14o repórter lá anuncia, as aeronaves agora estão abastecidas,
10:19estão levantando o voo para fazer o resgate.
10:21Naquele momento, eu olho para a minha família e digo assim, vai chegar a nossa vez hoje.
10:27A região do Vale do Taquari virou quase um sinônimo de alerta climático no Rio Grande do Sul.
10:33Em menos de um ano, entre 2023 e 2024, o lugar viu três grandes enchentes devastarem casas, ruas e avenidas.
10:41Cidades como Mussum, Rocassales, Arroio do Meio e Encantado foram especialmente atingidas.
10:51Hoje, um ano depois das maiores cheias, em maio de 2024,
10:57muitos desses municípios ainda exibem as feridas a céu aberto.
11:02Aqui, por exemplo, existia um cemitério.
11:05Em Arroio do Meio, no interior do estado, o bairro Navegantios, muito próximo ao rio Taquari,
11:21ficou completamente devastado.
11:23Agora, o que restam são estruturas, esqueletos do que foi a vida aqui um dia.
11:31Tudo isso dá uma ideia da dimensão da força da água.
11:35A cena é comum e se repete cidade a cidade.
11:47Eduardo, nascido e criado em Mussum, conta que tentou reconstruir a casa em que morava com a mulher e o filho repetidas vezes.
11:56Nos fundos, funcionava a empresa de estética automotiva. Perdeu tudo.
12:01E sempre quando sobrava um dinheiro, eu investia na estética.
12:05Daí, vamos botar tudo aluzingo.
12:07Botamos aluzingo.
12:08Daí, quando terminei de pagar a última parcela do aluzingo, veio a enchente setembro.
12:13Só que aqui nós éramos acostumados sempre a ter enchente, entre aspas.
12:18Daí, o que era a gente se prevenir?
12:21Levantar, pegar os cavaletes do salão, botar a cama, botar as roupas em cima e assim indo.
12:27Subia um metro, um metro e pouco, porque aqui sempre vinham centímetros, a sujeira, né?
12:34Daí, tá, beleza.
12:35A gente botou ali, só que daí começou a vir água, vinha água, vinha água.
12:40E a gente já pensou, pronto, vai dar B.O.
12:44E foi o que aconteceu.
12:46Como em setembro nós tínhamos perdido tudo,
12:49daí eu falei pra minha esposa, nós tínhamos dinheiro guardado.
12:52Daí eu disse, vamos pegar mais um dinheiro no banco e vamos realizar o nosso sonho.
12:55Que eu vou mostrar pra vocês que é a piscina.
12:57Mas eu vou mostrar a casa aqui também.
13:00A casa aqui, ela era toda projetada.
13:04Isso foi depois de setembro que a gente fez de tijolo, já pensando se viesse outra.
13:10Então você preparou a sua casa depois de perder tudo em setembro,
13:13pra ser a sua casa dos sonhos, mas também já com algumas obras, assim, de contenção, digamos.
13:18Na verdade não, porque nunca aconteceu uma enchente dessa proporção, né?
13:24Então, como eu acho bonito assim, de tijolo assim, a gente já começou a fazer coisas diferentes, né?
13:30E daí aqui na sala nós tínhamos lareira, nós tínhamos aquário.
13:34Aqui no quarto do, onde era o quarto do meu filho, era pequeno, mas tinha beliche, um escorregador.
13:44Tudo que eu não tive, eu quis dar pro meu filho, né?
13:48Na intenção de eu ficar feliz e ele ficar feliz também, né?
13:53Hoje, ele desistiu do que chama carinhosamente de casa dos sonhos.
13:58Restam as memórias e a certeza de que ele não vai abandonar a cidade,
14:03que teve 80% do território tomado pelas águas.
14:07A gente se acostumou a aprender no novo, sabe?
14:11Eu não me abalo, eu não me abalo por pouco.
14:13Eu sou resiliente, tu tem que...
14:16Não adianta eu sentar aqui, chorar e esperar vir alguma coisa.
14:19Não, eu tenho que levantar a cabeça, limpar e trabalhar.
14:22Ir atrás.
14:25Daí em novembro, quando deu aquela...
14:29Que só deu sujeira, daí eu falei pra minha esposa,
14:32não, não vamos mais ficar aqui.
14:33Porque quando tu tá ali dentro, de noite,
14:37tu fica pensando, cara, a água veio aqui, a água passou.
14:39E se nós estivéssemos em casa, nós teríamos morrido.
14:42Porque a gente passou por um monte de situações.
14:44Na última, eu quase morri tentando salvar o pinhão e a zélia,
14:47que são pessoas queridas da gente.
14:50Ela tava com os papagaio lá e eu disse,
14:52é, vem, vem, vem.
14:54E ela, Du, eu não consigo sair muito nervosa, né?
14:57Fui lá com a água no tornozelo, correndo.
15:01Quando eu cheguei perto dela, veio uma onda.
15:03Uma onda.
15:04Uma onda, daí começou a subir, subir, subir.
15:07Eu já não dava mais pé, eu mandei ela subir pro segundo andar.
15:10Daí tinha eu e a guria que tava...
15:13Nossa, tu tá andando, tu tá achando gente.
15:15Daí tava eu e a Vivi.
15:17Eu empurava ela, eu me impulsionava dentro da água pra subir.
15:23E daí quando tu subia assim, eu consegui me agarrar numa cerca.
15:27Quando tu vinha assim, era rato vindo, era animais, sabe?
15:31Em cima das tábuas, sapo.
15:33Coisas que tu morre de medo.
15:35Naquela hora lá, tu tava criando coragem e indo.
15:37Tu aprende a valorizar.
15:39A valorizar.
15:40Porque hoje a gente tá aqui, amanhã a gente não sabe.
15:42Tchau, tchau.

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