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  • há 6 dias
Um ano após a tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024, comerciantes ainda enfrentam dificuldades para recuperar seus negócios. No Documento JP, empresários relatam como perderam tudo e seguem na luta para recomeçar em meio aos desafios econômicos da região.

Assista à íntegra em:
https://youtu.be/nCOgOIckBH0

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Transcrição
00:00Os comerciantes também lutam pela recuperação.
00:05Leucássia de Freitas, que é dona de um supermercado na cidade de Esteio,
00:10mudou a estrutura do estabelecimento para que ele pudesse suportar cheias.
00:15Tudo para não perder o sustento da família.
00:19Se preparou, né?
00:22Tem que fazer alguma coisa, não dá para ficar de braços cruzados.
00:25Tem que correr atrás.
00:27A gente fez a reforma no mercado para conseguir salvar algumas coisas.
00:36Porque a gente não tem muito estudo, praticamente nada, a gente só sabe fazer isso.
00:44Então, é o nosso trabalho, é o nosso ganha-pão, né?
00:48A gente teve que fazer isso, se adaptar.
00:51Tivemos que subir o telhado, porque automaticamente subindo o piso,
00:55tu tinha que subir o telhado, foi uma reforma grande, que não era esperada.
01:02Mas não foi nem questão de querer, foi praticamente uma obrigação fazer isso.
01:08Porque ou a gente faz isso ou a gente vive sempre em pânico, né?
01:12Seco, que tem loja enlajada há 36 anos,
01:15perdeu tudo nas sucessivas enchentes na região do Vale do Taquari.
01:20E a gente só conseguiu voltar a funcionar de uma forma praticamente normal,
01:27praticamente, eu digo praticamente, porque a gente teve que buscar dinheiro no banco.
01:32Para repor estoque, nós tivemos que buscar o dinheiro no banco.
01:35Nós recebemos ajuda do governo para isso, né?
01:39Isso, buscar um financiamento do BNDES não é ajuda, isso é, todo mundo consegue, isso aí não é.
01:44E a gente só sobreviveu, então, em função disso.
01:48Ter essa reserva, os funcionários terem se disposto a permanecer
01:54e botar a mão na massa, a limpar barro durante dois meses, três, quatro.
01:59E a gente buscar esse dinheiro no banco, que é onde a gente conseguiu sobreviver.
02:04Se instalamos nesse local aqui, que é noutro ponto da cidade aqui,
02:09e a gente conseguiu instalar tudo, tanto a indústria quanto o comércio, nesse espaço.
02:14Estava estável, hoje eu sou um endividado.
02:18É o que aconteceu com a enchente.
02:20É claro que a gente sabe que tem muita gente que perdeu mais,
02:24perdeu, digamos assim, quem perdeu a casa, a família,
02:28teve gente que perdeu familiares.
02:30Então, a gente, graças a Deus, que conseguimos recuperar.
02:34Mas ajuda de governo, a gente não teve nada,
02:37e a gente tem saúde para tocar adiante, isso que é o mais importante.
02:40É só dizer às pessoas que participam de uma catástrofe,
02:44que é algo, onde atinjam elas de uma forma que,
02:50claro que é muito emocional de cada pessoa, né?
02:54Mas a única forma de superar esse tipo de situação é
02:59arregaçar as mangas, botar a cabeça para funcionar e não se entregar.
03:05É só, vamos botar a mão e tocar a coisa para frente.
03:08A prefeita de Lajado, Klaucia Schumacher,
03:11afirma que a cidade, como um todo, está tentando se preparar para eventos similares.
03:18Daí aconteceu uma coisa que a gente nunca viveu na cidade,
03:20que foi o rio levar as casas, levar, então, terra, estrada, enfim,
03:28tu já não reconhecia mais o local.
03:31Isso foi muito impactante aqui para a cidade.
03:34A gente acha que isso vai ser um novo normal.
03:37A gente está preparada para vivenciar.
03:39Não queremos, né? Óbvio que não queremos,
03:41mas a cidade está se preparando para viver outros momentos dessa forma.
03:46Nós contratamos um estudo, então, para entender o que aconteceu na cidade,
03:51o que esse estudo vai identificar.
03:53Onde o rio, por exemplo, foi a zona de arraste, onde ele levou tudo.
03:57Nesses espaços eu não posso mais ter residências,
03:59eu não posso mais ter comércio,
04:01então eu vou ter que fazer parques públicos,
04:03eu vou ter que ocupar esse espaço,
04:05porque se o poder público não ocupa,
04:06a população volta a ocupar.
04:09Então, delimitar esses espaços.
04:12Nos outros espaços, então, é essa resiliência que eu chamo,
04:15porque, na verdade, nós temos a igreja aqui,
04:17nós temos a prefeitura, nós temos vários comércios,
04:20então, aprender a conviver fazendo isso.
04:23Vou ter imóveis que eu consigo tirar,
04:26vou ter sirenes, começamos a colocar sirenes na cidade.
04:30Outra ação bem efetiva, montamos núcleos nos bairros,
04:33onde a defesa civil conversa com o bairro,
04:36e ela vai ter essas ações combinadas.
04:39Como agir quando acontece a tragédia?
04:41A gente já tinha um plano de contingência,
04:44como retirar as pessoas,
04:45a gente fazia, como eu falei antes,
04:46a gente vivenciava isso muito,
04:48mas agora é diferente, né?
04:49Como é que nós vamos agir numa grande cheia?
04:52Então, quem tem que sair primeiro?
04:54O que vai significar a sirene?
04:56Como é que ela vai tocar?
04:57Como é que vai ser os avisos?
04:59Como é que vai ser o trânsito da cidade?
05:01As três ruas principais da cidade
05:03ficam tomadas pela água.
05:04Como é que eu faço esse deslocamento?
05:06Então, eu estou tirando gente com caminhão,
05:08tem curiosos que vêm ver a enchente,
05:11eu tenho que salvar pessoas,
05:12Então, tudo isso está sendo planejado nesse momento,
05:16né?
05:17Estamos conversando não só com a interna,
05:20na prefeitura, mas com a população,
05:22para a população entender como é que nós vamos agir.
05:25O pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento
05:28e Alertas de Desastres Naturais,
05:31Giovanni Dolif,
05:32afirma que o Brasil progrediu em termos de preparo
05:35para eventos climáticos extremos.
05:36Eu trabalhando nesse meio percebo que ao longo
05:39desses últimos dez anos, principalmente,
05:43o país como um todo tem melhorado muito a sua preparação.
05:46Agora, isso não quer dizer que a gente está preparado.
05:48Temos ainda um caminho longo.
05:50A gente vem avançando,
05:52mas precisamos avançar até com o ritmo mais acelerado
05:55para que a gente esteja preparado para o clima,
05:58melhor preparado para o clima de hoje
05:59e mais ainda para o clima, possivelmente,
06:03de mais extremos no futuro.
06:05Para 2025, ele encerga baixa possibilidade
06:09de um fenômeno parecido no Rio Grande do Sul,
06:12mas não descarta totalmente a chance para os próximos anos.
06:17Nesse ano, especificamente, a probabilidade é baixa.
06:22E um dos motivos que faz a gente acreditar nisso
06:25é que no ano passado a gente tinha em andamento
06:29o fenômeno é o linho,
06:32que se caracteriza pelas águas do Oceano Pacífico Equatorial
06:36mais quentes do que a média.
06:39E ele tem uma correlação alta com mais chuva
06:42na região sul do Brasil.
06:45Esse ano, nós não temos o linho.
06:47Estávamos com a laninha nesse começo do ano
06:49e agora nem a laninha nós temos.
06:51Estamos com a situação neutra.
06:53Então, esse indicador climático
06:55faz a gente acreditar que a chance é bem menor
06:59de acontecer esse ano.
07:01Agora, um evento que já aconteceu
07:03pode vir a acontecer no futuro novamente.
07:06Mas o sistema climático é bastante complexo,
07:09da atmosfera e dos oceanos,
07:11que transportam muita energia.
07:14Então, esses grandes extremos,
07:16eles são uma combinação de diferentes processos,
07:19diferentes escalas de tempo, espaço,
07:22no oceano, na atmosfera.
07:24Então, até essa combinação acontecer de novo,
07:27pode ser que demore muito tempo.
07:29Então, qualquer nuvem de água, de chuva,
07:32a gente já pensa que vai dar enchente.
07:34Então, a gente não ia conseguir mais viver assim aqui, né?
07:37Um lugar muito bom, mas infelizmente
07:39não é mais para nós.
07:41Eu, particularmente, não vou embora daqui.
07:44Vou esperar vencer o meu contrato ali
07:46do meu apartamento, eu estou morando,
07:48vai vencer em setembro e vou para o Paraná.
07:50A gente ia comprar do tudo, né?
07:52De novo e tudo embaixo d'água, no barro,
07:56lembranças, fotos, roupas das minhas filhas
07:59que eu guardava, tudo, tudo, né?
08:02É, que tu vão falar coisas materiais,
08:04mas é coisa que eu nunca mais vou conseguir.
08:07Mas o medo marca as pessoas.
08:11Mãe e filha, Vanessa e Silei,
08:14moravam uma em frente à outra em Eldorado, no Sul.
08:18As duas casas foram tomadas pela água.
08:21A gente notou que a água estava subindo
08:24com muita velocidade.
08:27Daí eu saí de dia e fui lá para a minha sogra.
08:30E eu falei para a mãe sair também.
08:32Só que daí a mãe achou que a água não ia subir tanto,
08:35só que durante a noite, né, mãe?
08:36Não, não.
08:37Ela se obrigou a sair porque a água já estava tomando conta
08:40da casa dela.
08:41É, né?
08:41E ele ia ver bem alta.
08:42Isso aí meio as pressas, né?
08:43Porque só deu tempo de pegar, tipo,
08:46uma muda de roupa e os documentos e sair.
08:48A gente pegou uma enchente em novembro,
08:51que entrou aqui dentro.
08:53E a gente perdeu os móveis.
08:54A gente recém tinha comprado de novo, né?
08:57E acabou reformando.
08:59Tinha coisas para fazer aqui dentro,
09:01pintura e algumas coisas que tinha que fazer.
09:04Lajota que a gente teve que botar de novo.
09:07Mas daí a de novembro, de maio,
09:09ela passou do telhado.
09:10Eles interditaram a minha casa ali,
09:13a lita interditada.
09:14Aí eu vim para o aluguel social.
09:16Aí eu vim, tinha 1º de novembro.
09:17Aí me chamaram na prefeitura,
09:20lá na habitação, foi mês passado.
09:23E aí disseram que eu tinha que sair da casa
09:25porque eles não iam mais pagar meu aluguel
09:27porque a minha casa estava habitável.
09:29Se é que eles nem laudaram.
09:31Eles só estiveram na frente da minha casa,
09:33só olharam a frente,
09:34porque a frente está bonita, né?
09:36E disseram que minha casa estava habitável.
09:37Eles nem chegaram para ver a situação na minha casa.
09:40Minha casa estava com rachadura,
09:41estava com buracos na parede.
09:43E eu não tendo condições,
09:45tive que gastar para poder dar uma ajeitada
09:48para poder voltar, né?
09:49A dela está inabitável.
09:50A minha está inabitável.
09:51Mesmo inabitável, eles pediram para ela retornar
09:53porque não tinha condições de seguir
09:55com o pagamento do aluguel social.
09:58E aqui, no caso, está puro mato na volta, né?
10:02Tem bastante bicho.
10:04Começou a aparecer aquelas cobras venenosas, né?
10:07E está perigoso da gente morar aqui, né?
10:10Compre, rápido.
10:11De tudo aqui um pouco, né?
10:12Mas a gente não tem condições,
10:14não tem o que fazer, né?
10:15Daí a gente se obriga a morar aqui, né?
10:17Eu mesma tive que voltar para cá
10:18e eu voltei assim com o coração na mão, né?
10:20Porque eu digo...
10:22Eu entrego nas mãos de Deus, né?
10:24Porque só Deus sabe,
10:26porque a gente é um pavor.
10:28Ainda mais quando começa a chover,
10:29tu já fica...
10:30Tu já pensa em mim e uma coisa, né?
10:37Toda a população foi afetada de alguma forma.
11:07Em 2010 já teve uma enchente,
11:09mas não tão grande que nem essa aqui.
11:12Aí eu reconstruí.
11:13E agora, em 2024, então foi maior
11:17e aí destruiu tudo.
11:19Ah, eu tenho muito medo de temporal.
11:22Quando diz, anuncia que vai dar temporal,
11:25eu fico com muito medo.
11:27Muita insegurança.
11:29E essas mudanças climáticas
11:30que podem vir a acontecer
11:32cada vez mais próximo da gente
11:34nos assusta muito, né?
11:36Mas a gente trabalha hoje em dia
11:39na redução de danos.
11:41Até mesmo os voluntários,
11:43tão carinhosamente lembrados por todos,
11:46a todo momento,
11:48ainda sentem as marcas daquele período.
11:51Eu vim aqui para ajudar o pessoal,
11:53para tirar o pessoal da enchente, né?
11:54Que está brávola para baixo, né?
11:56Está bem...
11:56Está muito perigoso,
11:57muita corriguída para baixo.
11:58E eu trouxe um barco de 6 metros,
12:00um motor de 15, né?
12:01Aí temos tirando o pessoal aí.
12:02Eu me sinto lesada por todos os que moram aqui.
12:06É muito triste,
12:07é lamentável tudo isso que está acontecendo.
12:09É de...
12:10Doer o coração.
12:12É meio traumatizante, assim, tudo isso, sabe?
12:14A gente consegue resumir assim,
12:15ainda dói.
12:16Dói.
12:17A Andréia e o Wagner
12:19já trabalhavam com projetos sociais
12:21antes da enchente.
12:23Quando a tragédia aconteceu,
12:25eles acabaram se envolvendo
12:26com todo o movimento por acaso.
12:30Foram tentar resgatar uma pessoa da família.
12:33Uma sobrinha minha
12:34estava ilhada na cidade do lado,
12:39em São Leopoldo,
12:40num conjunto de apartamentos
12:41onde ela estava no quarto andar.
12:43E não tinha pra onde ir.
12:45Então a gente reuniu ali
12:47uma força tarefa,
12:49uma galera pra ir buscar ela.
12:51Só que ao chegar lá,
12:52não precisou.
12:53Ela já tinha...
12:53Conseguiu pegar ela.
12:54Ela já tinha sido resgatada.
12:56E aí eu digo,
12:57já que estamos aqui,
12:59estamos com os barcos.
13:00Todo mundo pedindo ajuda.
13:01E estamos entre a galera
13:02e todo mundo pedindo ajuda.
13:03Bora pra dentro da água.
13:05E isso era 3 horas da manhã.
13:06E começamos,
13:08e daquelas 3 horas da manhã...
13:10Virou 72 horas.
13:11Virou 72 horas.
13:14Fomos salvando,
13:14Deus abençoou,
13:15a gente resgatou mais.
13:17Porque a gente anotava,
13:18a gente chegava a quanto?
13:192, 3, 4, 5.
13:21A gente foi indo,
13:22mais de 700 pessoas
13:23e 400 animais.
13:24Criaram uma corrente humana
13:26de solidariedade.
13:28Perdemos tudo.
13:29Perdemos o carro,
13:30entendeu?
13:31Mas temos indo.
13:32Força de vontade.
13:33Eu sei que todo mundo
13:34vai se ajudar,
13:35todo mundo aí.
13:35As pessoas chegavam,
13:36desesperaram e falavam
13:37minha filha, minha mãe,
13:38meu tio,
13:39meu irmão que lá pra dentro.
13:41Então a gente só pegava
13:41o endereço e ia.
13:43Muitas vezes não tinha nem
13:44como se localizar,
13:45não tinha placa,
13:46não tinha nada mais.
13:46Ah, me dá um prédio,
13:48alguma coisa que seja de perto.
13:50E a gente pegava
13:51de lanterninha.
13:52A gente adentrava
13:53adentro da cidade,
13:55assim,
13:55de lanterninha.
13:56a gente estava com o apoio
13:59também do bombeiro civil,
14:01que é meu cunhado,
14:02que é bombeiro civil de São Paulo
14:04e está aqui no Rio Grande do Sul.
14:06Mora aqui atualmente.
14:07Então ele ajudou muito nós
14:08porque ele conhecia correntezas.
14:09Ele sabia quando a gente
14:10ia atravessar o rio,
14:11quando a gente não ia
14:12atravessar o rio.
14:14Então, graças a Deus,
14:15Deus abençoa a gente
14:17muito nesse sentido
14:18da questão de
14:20poder salvar as pessoas,
14:23poder salvar os animais.
14:24não me di esforços
14:26para poder fazer tudo isso.
14:28Teve histórias únicas
14:29para nós.
14:31O sentimento de chegar
14:33em uma casa,
14:36está um rapaz na janela acenando.
14:38Você me olha aqui,
14:38você não sabe
14:39se eu sou gordo ou magro.
14:41E o rapaz,
14:42ele pegou e disse assim para mim,
14:44eu não consigo sair daqui.
14:47A gente entrar dentro da casa,
14:48quebrar a janela,
14:49olhar para ele,
14:50meu Deus,
14:50como é que a gente vai tirar
14:51aquele rapaz lá de dentro?
14:52A gente conseguiu tirar o rapaz
14:53sem nenhum machucado,
14:55colocar no barco
14:57e ele olhar para nós
14:58e dizer assim,
14:59a minha mãezinha é cadeirante,
15:00ela está no andar de cima.
15:02E a gente ir lá,
15:03pegar a cadeira de roda,
15:05tirar a senhora lá de dentro,
15:07botar,
15:07chegar na beira,
15:09ela chegar e a gente
15:09dar alimentação lá na beira,
15:11dar uma roupa quente
15:12e eu só dizer para o amor,
15:14eu vou tomar uma água aqui,
15:15já vou de novo.
15:16E ela alimentar
15:17e essa mulher falar assim para nós,
15:19obrigado por salvar eu e o meu filho.
15:21Porque passou vários
15:22e falaram que não dava para levar
15:24porque o barco não aguentava.
15:26A gente passou coisas dentro da água,
15:28assim,
15:28que foi...
15:31Bah,
15:32é complicado falar,
15:33sabe?
15:34Teve gente,
15:35teve gente morta,
15:37teve gente com hipotermia,
15:39sabe?
15:40São Leopoldo ali,
15:42enquanto ele estava na água,
15:43nós estávamos lá de fora,
15:44a gente montou umas tendas,
15:47a gente montou tendas na rua,
15:49na saída de cada enchente,
15:51assim,
15:52para poder dar assistência dele.
15:53A gente trazia até ali
15:54e a gente juntava uma equipe
15:55que dava assistência.
15:58Para médicos,
15:59porque se a gente teve muito pouco,
16:00a gente teve mais de amigos nossos
16:01que vieram mesmo,
16:02porque se eu dizer para ti que,
16:03ah,
16:04porque mandaram médico para nós,
16:06mandaram,
16:06isso é mentira,
16:08tá?
16:09A maior briga nossa
16:10era para chamar uma ambulância,
16:11alguma coisa para poder vir,
16:12até porque foi um caos,
16:13não tinha também,
16:14como socorrer todo mundo,
16:15a gente entende também, né?
16:18Os municípios,
16:19ninguém estava preparado
16:19para tudo isso,
16:21mas a pior coisa
16:23era tirar aqueles senhores
16:24que teimaram,
16:25ficar até o último dia
16:26dentro de casa,
16:27talvez com medo
16:27de perder as coisas, né?
16:30E ali,
16:30com medo de perder as coisas,
16:31muita gente perdeu a vida.
16:33Andréia e Wagner
16:34começaram na época crítica
16:36e até hoje
16:37eles trabalham
16:38como voluntários,
16:40ajudando as pessoas
16:41que foram vítimas
16:42das enchentes.
16:43eles mudaram
16:44para sempre.
16:45o que mudou
16:47foi nosso,
16:48eu posso dizer assim
16:49de coração,
16:49pelo menos porque
16:50a gente conversou sobre isso,
16:52foi nossos corações.
16:53A gente aprendeu
16:54a quem ajudar agora.
16:56Como assim
16:57aprendeu a quem ajudar?
16:59Porque não existe,
17:00no alagamento,
17:01não existiu rico ou pobre.
17:04Não existiu.
17:04porque eu sou de vulnerabilidade social,
17:07preciso de uma ajuda.
17:08Toma um ranchinho aqui,
17:09minha senhora,
17:09vamos lá.
17:10O rico chegava,
17:11eu estou com fome,
17:12tenho uma marmita.
17:13Uma pessoa que a gente tirou
17:14de uma casa,
17:15de uma mansão
17:16de três pisos.
17:17Uma senhorinha que nós tiramos
17:19de uma casinha de madeira.
17:21Estava dentro do barco,
17:22do mesmo jeito,
17:23tudo molhado.
17:25Chegou na hora,
17:27chegou na hora,
17:27ali onde nós estávamos,
17:28no centro de concentração.
17:29usou camiseta de doação,
17:32usou tênis de doação,
17:33usou casaco de doação,
17:35o pobre, o rico.
17:36Então,
17:37a gente aprendeu muito
17:38nesse sentido.
17:39Das pessoas dizerem assim,
17:40ah, pega meu gato.
17:42Como é que eu vou pegar o gato?
17:43Senhora,
17:43se tem cinco aqui dentro do barco,
17:46a gente vai voltar
17:46para pegar o barco.
17:47Não,
17:48a gente tem que pegar o barco.
17:49É meu gato de raça.
17:51Eu digo,
17:51então o seu gato de raça
17:52vai ficar ali.
17:53A gente vai lá
17:53e a gente volta
17:54e busca o animalzinho.
17:55Aí a gente voltava
17:56para pegar o animalzinho.
17:58Sabe?
17:58Nós falávamos para o rádio,
18:00ó,
18:00sobrou um gato e um cachorro.
18:01Então,
18:02a gente aprendeu
18:02a quem ajudar.
18:04Qual a primeira necessidade?
18:06Se a necessidade
18:07fosse resgatar o gatinho
18:08antes das pessoas,
18:09porque o gatinho
18:10estava em alguma coisa,
18:11situação de vida,
18:12nós resgatávamos o gatinho,
18:13deixávamos as pessoas,
18:14pegávamos as pessoas depois
18:15ou vice-versa.
18:16Não tinha,
18:17perdão,
18:19branco,
18:19amarelo,
18:20barco,
18:20preto,
18:21gordo,
18:22magro,
18:22não tinha.
18:23Ali existiam vidas.

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