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  • 29/05/2025
O Documento JP mostra os desafios da reconstrução no Rio Grande do Sul após a tragédia de 2024. Moradores relatam perdas, superações e como tentam retomar a vida após as enchentes que devastaram o estado.

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https://youtu.be/nCOgOIckBH0

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Transcrição
00:00Há um ano, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores tragédias climáticas da sua história.
00:06Chuvas intensas, rios transbordando, cidades submersas, vidas inteiras foram reviradas.
00:13O documento Jovem Pan traz mais uma reportagem especial sobre resiliência e os desafios da reconstrução.
00:21Acompanhe agora com Arthur Cipriani e Guilherme Cassiano.
00:24A gente estava esperando uma enchente como se fosse a de setembro de 2023,
00:31que a nossa casa foi afetada pela água, mas não pela grandiosidade que foi a de 2024.
00:36A gente levantou os móveis esperando uma certa metragem e atingindo aquela metragem ia ser seguro,
00:44ficar lá com a minha família, já visto que a casa tinha dois andares, então ia ser tranquilo.
00:48A gente esperava que a água não subisse tanto, na verdade.
00:52Não passava pela cabeça que essa água tomaria o volume que tomou.
00:58Então nós ignoramos.
00:59Não que nós não acompanhássemos, nós estávamos acompanhando.
01:03Mas ignoramos aquilo, tipo assim, não, não vai passar disso.
01:07Não, não vai passar disso.
01:08E nós observávamos que a água vinha dentro.
01:10E já observávamos as bocas de lobo que elas estavam enchendo.
01:13A gente se acostumou a aprender no novo, sabe?
01:18Eu não me abalo, eu não me abalo por pouco.
01:20Eu sou resiliente, tu tem que...
01:23Não adianta eu sentar aqui, chorar e esperar vir alguma coisa.
01:26Não, eu tenho que levantar a cabeça, limpar e trabalhar.
01:29Ir atrás.
01:31O cenário ainda é triste.
01:36O que que tinha aqui antes, Mário?
01:37Eu tinha minha casa, nós morávamos e eu tinha duas casas de aluguel
01:41para me garantir no futuro a minha aposentadoria, que não é muito alta, né?
01:47É uma aposentadoria, assim, para sobreviver, né?
01:50A única coisa que deu para me salvar aqui em casa foi a geladeira.
01:54A geladeira, a geladeira eu não levei mais, foi o que eu consegui salvar, né?
01:57A ansiedade e a depressão fizeram parte dos dias pós-enchente desse bairro, desta cidade, por que não dizer assim?
02:08Casas, escolas, hospitais e histórias de vida foram arrastadas pela força das enchentes,
02:15que marcaram um dos períodos mais difíceis da história recente do Rio Grande do Sul.
02:20Veio de cima lá, cortando aqui, daí subiu, foi aquela, 30 e quase 34 metros, né?
02:29Passou por cima do telhado da nossa casa, meu vizinho e técnico.
02:32Pendo que a gente botou 30 e poucos anos, né? Trabalhando aí, lutando, né?
02:36E vai perder de uma hora para a outra.
02:38A gente sempre dava emprego para algumas pessoas, hoje não tem mais, né?
02:42Então não é só a gente que perde, que é o que é o proprietário, os outros também perdem junto.
02:46A vontade é a de reabrir de novo e ter funcionário, botar funcionário de novo, dar serviço pessoal,
02:52mas com as minhas forças é impossível.
02:55O que estava na casa do meu pai, agora que sobrou, né, das coisinhas,
02:59daí a gente foi buscar do jeito que está a previsão aí.
03:02Aí agora estamos tirando o que sobrou para não perder tudo, né? Já perdemos muito.
03:09Para além das imagens que impactaram o país, ficaram os sobreviventes.
03:14Homens, mulheres, crianças e idosos que enfrentaram o medo, a perda e, principalmente, o desafio de recomeçar.
03:25Entre as pessoas, milhares de animais também resistiram às enchentes.
03:31Muitos resgatados por voluntários em atos de coragem e compaixão.
03:36Eles mais e mais, eu acho que todos se afogaram, porque não conseguiram sair fora.
03:41Alguns, nós tiramos fora. E o que que dava para tirar?
03:45Porque a quantia era muito enorme, aí não dava para tirar tudo.
03:49Sim, a gente foi resgatar, porque eles estavam lá já há seis dias, já sem comer.
03:53Daí a gente foi lá, eles estavam morrendo de fome, a gente deu ração, da gente trouxe de qualquer jeito para cá.
03:57Quem não se lembra dessa imagem?
04:04O cavalo caramelo se equilibrando em cima de um telhado à esfera do resgate em Canoas, na região metropolitana da capital gaúcha.
04:13O cavalo caramelo é um dos símbolos da resistência durante as enchentes e um exemplo da resiliência de todo o povo do Rio Grande do Sul diante da tragédia.
04:23Caramelo também é o representante dos animais quando o assunto chama a atenção para uma outra questão.
04:33A dos bichos que ainda não foram adotados e estão em abrigos.
04:42O cavalo, depois de passar cinco longos dias em cima do telhado e ter o resgate acompanhado por todo o país, foi adotado.
04:53Hoje ele vive sob os cuidados da Universidade Luterana do Brasil.
04:59Caramelo ganhou peso, recebe visitas e hoje tem até um perfil em uma rede social com mais de 100 mil seguidores.
05:08Assim como ele, no total, segundo o governo do Rio Grande do Sul, cerca de 20 mil foram salvos das águas.
05:16Mas caramelo é uma exceção e não a regra.
05:19Nem todos conseguiram um lar para chamar de seu.
05:24Mais de 800 cães e gatos resgatados em meio às enchentes seguem à espera por adoção.
05:33Os dados são da plataforma digital CISPET do governo do estado,
05:38mas levam em conta apenas 11 abrigos em Porto Alegre e na cidade de Canoas, na região metropolitana.
05:45O que quer dizer, na prática, que o número pode ser muito maior.
05:53As casas que acolheram animais resgatados às enchentes continuam funcionando.
05:58Mas alguns se perderam de seus donos para sempre.
06:02Em compensação, alguns animais de rua, que também foram resgatados, acabaram adotados.
06:08Mas muitos aguardam até hoje.
06:14O Santuário Voz Animal, com atuação já há oito anos do estado, participou desse momento crítico.
06:21Quando chegaram os enchentes, a gente não teve como não se envolver.
06:25Era algo maior que nós, não dependia do querer.
06:28Era quase que uma obrigação diante do que estava acontecendo.
06:35Então, a partir da nossa expertise e da nossa experiência durante esse período do projeto,
06:41a gente tomou a frente, então, de um abrigo das enchentes e também de um hospital de campanha
06:47que eles estiveram em dois shoppings.
06:51No estacionamento do Shopping Pontal, no estacionamento do Shopping Iguatemi,
06:54nós estruturamos essas duas frentes.
06:58Então, os animais que eram resgatados lá no gasômetro,
07:03que era onde os animais chegavam das águas,
07:07eles eram encaminhados ou para o abrigo do Iguatemi,
07:12ou, se estavam em estado pior, eles iam para o hospital de campanha.
07:15E estados mais graves ainda, a gente enviava para clínicas parceiras.
07:19Em poucos dias, o santuário abriu espaço para novos moradores.
07:26Durante o período, em paralelo à existência do abrigo emergencial,
07:32nós vimos a necessidade de construir novos espaços para os animais,
07:37para abrigar os animais que, porventura, não fossem adotados até o final do abrigo.
07:42Então, nós estruturamos aqui, fizemos 10 canis com o apoio das pessoas.
07:46As pessoas se mobilizaram bastante para nos ajudar.
07:50E só por isso que a gente conseguiu, então, estruturar,
07:53de modo que nenhum animal que esteve sob nossa guarda fosse para abrigo público,
07:58que era uma missão nossa ficar com eles até o final.
08:01E nós conseguimos isso.
08:03E aí, destes animais, que foram cerca de 750 animais que passaram por nós no total,
08:10destes sobram apenas, restam apenas 15, que ou estão aqui, ocupando esses canis,
08:17ou estão ainda em centros de reabilitação, por causa do temperamento,
08:21dificuldade de relacionamento com outros cães ou com pessoas.
08:24Mas nem destes a gente abriu mão.
08:28Animais resgatados e cuidados, veio a fase de buscar os tutores,
08:33fazer o reencontro de quem se perdeu em meio à tragédia,
08:37ou mesmo conseguir novos lares para esses bichinhos.
08:43Os tutores localizaram os seus cães no nosso abrigo.
08:47Nós tivemos uma página especialmente para isso,
08:50feita especialmente para isso.
08:52Mas isso foi uma minoria.
08:53Em torno de 100 animais voltaram para os seus tutores.
08:58O restante foram para lares temporários,
09:01que depois se tornaram adoção.
09:05E nós conseguimos transformar a história de muitos deles.
09:09Muitos deles conseguiram lares e famílias maravilhosas, perfeitas.
09:15Provavelmente uma vida que eles nunca tiveram antes, muitos deles.
09:20Inclusive, destes animais resgatados e acolhidos das enchentes,
09:24nem todos tinham lares, né?
09:27Então, muitos deles, inclusive, eram animais de rua.
09:31Provavelmente.
09:32Imaginamos, né?
09:33Então, agora eles têm um lar, uma família.
09:39Hoje, 15 cãezinhos das enchentes ainda moram por aqui.
09:43Além de Vitório, o porquinho, que ganhou esse nome de forma simbólica.
09:47É o caso da Preta e do Pablo e da Maria, que são inseparáveis
09:53e só poderão ser adotados como foram encontrados, juntinhos.
09:59O Santuário Voz Animal é um dos exemplos de realidade dos bichinhos
10:04que perderam protagonismo com o passar do tempo.
10:08Só em Porto Alegre, atualmente, ainda existem quatro abrigos da Prefeitura
10:13com cerca de 500 animais aguardando adoção.
10:17Há um ano, eram 40 espaços conveniados.
10:22Mônica, voluntária da ONG Moradores de Rua e Seus Cães Porto Alegre,
10:28foi uma das pessoas que, trabalhando no abrigo, acabou se apaixonando pelo Volavo.
10:34Um cãozinho idoso resgatado de Eldorado do Sul,
10:37cidade mais atingida do estado, que teve mais de 80% da população afetada.
10:43A gente foi nos pontos de resgate.
10:47Um deles foi aqui no gasômetro,
10:51onde o grade resgatou um cachorrinho que veio de Eldorado do Sul.
10:56Ele é um cão idoso.
10:58Ficou com a gente no abrigo durante quatro dias.
11:01No quinto dia, conversei com o meu esposo, que também é voluntário,
11:06que é veterinário,
11:08e resolvemos adotar esse cachorrinho, que se chama Vô Olavo.
11:15Então, é uma experiência.
11:19Ter pego ele, pra mim, foi um momento de muito amor.
11:24É gratificante.
11:26E...
11:27Um cão idoso, pra gente fazer uma adoção, é uma caixinha de surpresa.
11:37E o Vô Olavo, ele transformou, o olhar dele se transformou,
11:45a vida dele se transformou.
11:48Transformou também a nossa maneira de ver, né?
11:53Porque é um cão idoso e ninguém quer adotar um cão idoso.
11:58Ele tá...
12:00Eu me emociono, né?
12:04Eu vou falar dele.
12:05A emoção não deixa a Mônica terminar a entrevista.
12:11Mas ela é só um exemplo entre centenas de pessoas
12:15que abriram suas casas e o coração.
12:18A Audrey é veterinária e trabalha até hoje como voluntária.
12:23Durante a enchente e depois, ela presenciou várias cenas comoventes.
12:28Uma delas, de amor incondicional.
12:32E ela faz questão de contar.
12:33Quando eu tava no abrigo 420, chegou uma Kombi da prefeitura com 25 animais e com a tutora deles,
12:42a dona Ana Carolina.
12:44Ela deu o nome de cada animalzinho, dos 25.
12:48Disse que todos eram castrados, vacinados, mas que infelizmente ela tinha perdido tudo.
12:54A casa e até o esposo que tinha morrido afogado, tentando salvar os animais.
12:58Essa história me emociona, porque é muito triste.
13:02Ela perdeu tudo e disse que não tinha condições de cuidar dos seus animais.
13:07Então, ela colocaria todos pra adoção.
13:09Ela deixou o seu contato e pediu que todos os animais que fossem adotados,
13:14que ela tivesse o contato de quem adotou e fotos de quem adotou.
13:18Essa senhora ainda me disse antes de ir embora, que se o abrigo fechasse e os animais dela não tivessem pra onde ir,
13:26que eu ligasse que ela iria buscar os que sobraram e que ela iria pra baixo de algum viaduto,
13:32mas que ela não abandonaria os seus cães.
13:34A gente conseguiu fazer a adoção de 19 dos animais de 25,
13:39inclusive os animais mais velhos, pretos e de porte grande, né?
13:44Sobraram apenas 6 animais, 2 deles foram pra Lar Temporário Solidário
13:50e os outros 4 estão numa hospedagem no Lamy.
13:53A maior dificuldade continua sendo para a adoção de animais adultos, idosos,
14:00portadores de alguma deficiência e de grande e médio porte.
14:05O encaminhamento deles para novos lares segue sendo um desafio para o futuro,
14:10que parece incerto ainda hoje para tantos.
14:16Dos animais resgatados, nós vamos para uma outra parte muito afetada na enchente,
14:22um meio rural.
14:23Isso vai ser muito difícil, né?
14:25A gente aí já conta aí com...
14:27Estamos fazendo as contas, temos que vender alguns animais,
14:29se desfazer de alguma parte do plantel.
14:33Ou se a passagem de inverno também não andar bem,
14:35do jeito que a coisa está indo esse ano,
14:38não se descarta nem a possibilidade de quem sabe parar com a atividade.
14:41Dados do governo do estado apontam que, no meio rural,
14:45mais de 206 mil propriedades foram afetadas,
14:49com perdas na produção e na infraestrutura.
14:53O Sérgio é produtor em Mussum.
14:56Ele calcula prejuízos em torno de 6 milhões de reais.
15:00Ele tenta se reerguer do jeito que dá,
15:03já que não consegue arcar com a proposta feita pelas autoridades.
15:07Eu atendia no ano passado aqui, eu recebi semisaco de milho.
15:12Aqui vinha 4, 5 caretas por dia descarregar.
15:15Era a empresa que mais movimentava no município de Mussum.
15:19Veja só aqui no interior, né?
15:20Aqui no interior era a empresa que mais movimentava aqui no município.
15:23Aqui todos os dias tinha careta e caminhão descarregando.
15:26E hoje, eu tenho uma dívida pequena para pagar,
15:30que foi parar na justiça agora 100 mil reais,
15:32cento e poucos mil reais que eu perdi disso aí,
15:33e o resto estava pago.
15:35A balança foi por lixo, a balança de pesar careta.
15:38Tudo foi por lixo.
15:39Secador de 250, para secar 1.500 sacos por dia.
15:42Também foi por lixo.
15:43O nosso prejuízo aqui, hoje aqui na região,
15:46só a minha empresa tem um prejuízo de 6 milhões.
15:49Hoje nós perdemos em torno de 2 milhões na loja,
15:54de mercadoria e coisarada,
15:55e 4 milhões eu precisaria para fazer os meus 3 filos
15:59e toda a estrutura que eu tenho aqui.
16:01Aí como é que hoje eu vou pegar 6 milhões de empréstimos do governo
16:06a 10% ao ano?
16:09Eu vou pagar 600 mil por ano de juros
16:11e mais 600, 700 de prestação.
16:14Um milhão e tanto por ano.
16:16E uma pequena empresa, ela não existe.
16:18O que é movimento no Brasil?
16:20É o quê?
16:21É uma expo direto,
16:23é uma expo inter,
16:24é uma expo agro,
16:26é lá para a Bahia, lá para cima,
16:27as feiras que tem lá.
16:28Tu não vê feira de políticos e outras coisas ali
16:31vender coisas.
16:33É o agronegócio que o movimento trouxe.
16:36A hora que parar o agronegócio no Brasil,
16:39nós estamos todos mortos juntos,
16:40vamos morrer abraçados.

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