No Documento JP, a pergunta que muitos gaúchos se fazem: o Rio Grande do Sul está preparado para enfrentar novas enchentes? Um ano após a tragédia climática de 2024, a reportagem mostra como o estado tenta se reestruturar diante do risco de novos desastres.
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NotíciasTranscrição
00:00Além da ação de voluntários e centenas de doações, a Secretaria da Casa Civil do Rio Grande do Sul coordenou a campanha PIX SOS.
00:12Mais de 142 milhões de reais foram arrecadados, 133 investidos no Estado, o restante ainda não foi distribuído.
00:23Nós revisitamos pontos que ficaram marcados na memória de todos os brasileiros naquele ano.
00:34Na capital gaúcha, a rodoviária, por exemplo, que ficou totalmente alagada e só retomou as operações após um mês.
00:43A estação Farrapos, pela qual a nossa reportagem passou de barco em 2024.
00:49O Estádio Beira-Rio e a Arena do Grêmio, que só reabriram 70 dias e 4 meses depois da enchente, respectivamente.
01:02E claro, o Aeroporto Internacional Salgado Filho, que teve 75% da pista submersa e só conseguiu voltar a funcionar depois de 5 meses fechado.
01:15Em alguns, é preciso prestar atenção para relembrar o cenário anterior.
01:21Em outros, a mudança é evidente.
01:24Como conta a repórter Beatriz Manfredini.
01:28Muitas alterações na paisagem das cidades podem ser percebidas em 2025.
01:34Aqui no Centro Histórico de Porto Alegre, por exemplo, o caminho humanitário, que foi construído como rota alternativa para a entrada na capital gaúcha, permanece funcionando.
01:50Várias cidades e bairros inauguraram monumentos de recordação das enchentes.
01:57Porto Alegre recebeu alguns.
01:59Este aqui, por exemplo, encena pessoas sendo resgatadas em um barco carregado por voluntários.
02:06Ele fica na usina do gasômetro, às margens do rio Guaíba, um dos principais pontos de resgate na época.
02:14Agora, olhando para frente, a preocupação da população está concentrada em obras de contenção para evitar extravasamento dos rios.
02:23Mas o Rio Grande do Sul está preparado para possíveis novas enchentes?
02:31Fernando Meireles, que atua no Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
02:38afirma que até agora o Rio Grande do Sul não possui um plano contra enchentes concreto.
02:44Indica que os problemas não foram solucionados, já que a maior parte ainda está na fase burocrática e não há previsão de implementação.
02:55A compreensão dos desastres naturais começou a ser trabalhada repetivamente no Rio Grande do Sul com a construção de uma política estadual.
03:07Essa política estadual foi construída entre 2015 e 2017.
03:11Ela não foi aprovada, não foi implantada, mas o documento já existe.
03:14Qualquer outra observação sobre um evento extremo, que não existia um plano de enchentes, não, não existe plano de enchentes para nenhuma região do Estado.
03:26Existe o projeto de proteção de cheias de Porto Alegre, que é lá na década de 60, implantado na década de 70.
03:32Existe o projeto de proteção de cheias na região de Gravataí e Cachoeirinha, que já é dos anos 2000, 2000 e alguma coisa.
03:41Existe o projeto de Eldorado do Sul, que é mais ou menos da mesma época.
03:45Então, a gente vê uma fragmentação desse projeto.
03:48Na bacia do Taquari, nós já tínhamos algumas iniciativas cheias em relação a lajeado e estrela.
03:56Tanto que uma das referências que nós sempre utilizamos foi a cheia na década de 70 na região de lajeado e estrela.
04:03Então, lá tem algumas obras que foram feitas e afetaram, inclusive, o porto lá de estrela e balizaram alguns trabalhos.
04:12Mas um plano de enchentes para o Rio Grande do Sul, não existe um plano completo ou para o bacia, existe por regiões.
04:21Então, o mais concreto é o da região metropolitana, que vai pegar, então, obras em Porto Alegre.
04:28Depois, nós temos um outro projeto, que é na bacia, na cidade de São Leopoldo, que também está sendo revisto.
04:33Então, em termos de obras de contenção de cheias, são essas duas cidades que tinham uma estrutura e alguma coisa lá na região de Estrela e Jato.
04:41Então, não se trabalha, não se trabalhou até o momento com um plano de ação emergencial e feio, a não ser na política, né?
04:49Na política estadual de gestão de risco de desastres e no zoneamento econômico e ecológico, que também foi traçado isso, alguma coisa sobre isso.
04:57Mas, assim, um plano geral organizado ou uma estrutura que coordene, né?
05:01O Estado não tinha e até hoje não tem.
05:04O que nós temos que fazer agora, no momento, é analisar o quadro de mudanças climáticas.
05:08Obra ou não obra é consequência de uma decisão se nós vamos tentar conviver com o problema de uma enchente e aí faremos obras para reduzir a nossa vulnerabilidade
05:21ou se nós vamos mudar a nossa lógica de ocupação de algumas áreas, né?
05:25Ou seja, não ocupar áreas sujeitas à inundação frequente, né?
05:28Ou que vão piorar agora com as mudanças climáticas do cenário que se aproxima.
05:33Então, a obra é uma consequência do estudo da compreensão do evento.
05:38Então, isso é o que nós temos que fazer agora.
05:40Quais são as bacias que têm uma condição que pode ser afetada mais duramente, né?
05:46Em relação a enchentes, né?
05:49O Brasil tem uma lógica de que bacias que foram afetadas, a gente começa a monitorar.
05:55Então, a gente vê muitas estações do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais,
06:00que estão em bacias que sofreram, no passado, algum desastre.
06:04Então, começam a monitorar.
06:06O Serviço Geológico Brasileiro também começa a fazer um certo monitoramento em bacias que já ocorreram desastres, né?
06:13Com a bacia do próprio Itacoariante, a bacia do Caí aqui, nós temos um monitoramento mais apurado, né?
06:19Mais frequente dessas bacias.
06:23Agora, em termos de país, o que nós temos que pensar é realmente avaliar o quadro de mudanças climáticas
06:29e começar a tomar decisões de planejamento, né?
06:31Decisões de urbanismo, decisões de mostrar que algumas áreas que a gente ocupava, né?
06:36Não são inadequadas ou não devem mais sofrer investimentos, devem sofrer uma reabilitação,
06:41uma revegetação, uma renaturalização ou, no caso, se entender, construção de obras que sejam competentes,
06:49que tenham competência para enfrentar o quadro de mudanças e possíveis enchentes.
06:55Já Marcelo Reck, mestre e doutor em planejamento urbano e territorial pela Universidade do Rio Grande do Sul,
07:02aponta que cidades que já tinham um sistema de enchentes, como Porto Alegre, falharam em não realizar a manutenção necessária.
07:11Ele reforça a necessidade da revisão constante do plano diretor de cada município.
07:18Tem algumas pessoas que estão em zona de risco, mas a gente ainda não sabe como que a gente vai retirá-las dali,
07:24para onde que elas vão. A primeira coisa é informar.
07:27Olha, vocês estão numa situação aqui que é de risco, então fiquem muito alerta para as questões.
07:32Ou quem estiver em alguma área que pode chegar a água, diz, olha, essa aqui é recomendável que não fique aqui.
07:38Pode ser que chegue, mas não com tanta gravidade.
07:41E também, outra questão, que a gente chama isso de zoneamento de risco, né?
07:44De tu indicar para as pessoas que essa área é segura.
07:47Tu pode ficar aqui. Aqui não vai vir água. Aqui não vai ter o deslizamento.
07:52Porque o deslizamento a gente fala menos, a gente fala mais água, que ela é mais visível, né?
07:55Mas o deslizamento, né? Quando tem esse escorregamento de solo nas montanhas,
08:00ele é ainda mais perigoso, porque ele é muito rápido.
08:02Tu começa a ouvir um barulho e daqui a pouco vem e tu não sabe a dimensão.
08:06Tecnicamente, a gente consegue mensurar, né? Aonde que vai acontecer.
08:11Mas, né? Para o leigo, assim, ele olha e o morro está ali, está tudo bem.
08:15Apesar disso, ele vê poucas chances de grandes deslocamentos populacionais no Estado.
08:21O melhor instrumento para a gente evitar que isso aconteça novamente,
08:27ou para que, quando acontecer, aconteça no menor grau, é o planejamento.
08:31É o planejamento territorial.
08:33Então, a emergência nos aciona, né?
08:35Para uma necessidade de planejamento e o planejamento vai conseguir atender melhor
08:39futuras emergências que a gente espera que não ocorra tão breve,
08:43mas que a gente sabe que essas questões climáticas, elas são emergentes
08:47e tem uma questão de uma série histórica, né?
08:49De tempos de retorno.
08:50Então, sim, o que o CAL tem incentivado é, após essas ações de emergência,
08:58que seja feito um planejamento voltado para isso.
09:01E é o que a lei federal determina.
09:02A gente tem os planos diretores, que é quem organiza como vai ser a cidade, né?
09:06Até onde a cidade pode crescer, o que a gente precisa respeitar dos recursos naturais,
09:11onde a gente pode instalar indústrias para não ter conflito com residências, com outras questões.
09:16O governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou,
09:20em entrevista ao programa Direto ao Ponto da Jovem Pan,
09:24que não é possível construir os sistemas de proteção em um curto espaço de tempo.
09:31Esse projeto de Eldorado do Sul, para dar um exemplo, ele precisa ser revisado,
09:35ele já estava numa fase adiantada, já tínhamos feito estudos de impacto ambiental,
09:38e ele vai precisar ser revisado.
09:39Então, o Estado contrata agora, já lançou o edital, está contratando a revisão do projeto,
09:44à luz das enchentes que aconteceram.
09:46Porque, possivelmente, o que estava no projeto não resistisse a essa enchente no volume que veio,
09:52porque ela era feita com o patamar de outras enchentes que o Estado já tinha tido.
09:55Então, isso vai ser revisado.
09:56Em seis meses deve estar feita a revisão, e aí nós levamos a licitação para fazer a execução da obra.
10:03Vai ser uma obra de entre meio bilhão e um bilhão só nessa cidade de Eldorado.
10:07Depois você tem o arroio e feijó, entre Porto Alegre e Alvorada.
10:10É uma obra de dois bilhões de reais o sistema de proteção.
10:14Está mais ou menos na mesma situação do de Eldorado.
10:16Já tinha uma fase mais adiantada, estudo de impacto ambiental, já aprovado no órgão ambiental.
10:19e a gente deve fazer a revisão.
10:22Seis meses, contrata até o final do ano, projeto executivo e execução de obra numa mesma contratação.
10:28Mas você tem, por exemplo, Taquari, Antas, tem estudos que precisam ser feitos.
10:32O CAI, que é uma outra região, é um outro rio de uma outra região,
10:36precisa ser feito os estudos.
10:37E aí tem um processo, porque é importante lembrar que não é simplesmente botar um maquinário
10:41e erguer diques de proteção.
10:43Tudo tem impacto ambiental.
10:45O dique tem impacto ambiental onde ele é instalado.
10:48A água que deixa de entrar naquela localidade vai para algum lugar.
10:52Tem que fazer o estudo de como é que vai se comportar toda essa questão hidrológica.
10:58Tem a própria água das chuvas dentro da cidade que precisa ser bombeada para fora.
11:02Se você vai fazer um sistema de proteção, está bem.
11:05A água dos rios não entra, mas é a água da chuva.
11:08Sai como? Da cidade.
11:09Então, você tem que estabelecer todo um planejamento de drenagem urbana que é complexo.
11:14E é por isso que eu observei Nova Orleans, Holanda, onde eu visitei, o Japão.
11:20A maior parte dos lugares que tiveram desastres levaram entre 10 e 15 anos
11:24para poder dizer que eles estiveram efetivamente preparados para um novo evento climático.
11:28É claro que a gente vai lutar muito para fazer o mais rápido possível.
11:31Mas é o projeto que o Estado levará para recompor os sistemas existentes é mais rápido.
11:36Então, o Porto Alegre tem um sistema que falhou, mas tem que ser recuperado e vai dar já proteção.
11:43E isso deverá estar executado entre 1 a 2 anos.
11:46Mas novos sistemas de proteção, esses vão levar de 3 a 5 anos, pelo menos aqui, para serem executados na plenitude.
11:55Aqueles que já têm algum nível de estudo mais adiantado.
11:58Os que estão ainda no estudo, vai ter que passar ainda pelo órgão ambiental, fazer as análises todas,
12:02encaminhar a execução das obras.
12:04Então, isso pode levar um pouco mais em algumas cidades.
12:06Mas não quer dizer que o Estado não está fazendo nada.
12:08Tudo está sendo feito.
12:09Desassoreamento de rios, dragagem, compra de equipamentos, radares meteorológicos,
12:13estações hidrometeorológicas, sistemas de proteção e prevenção para as nossas comunidades.
12:17Eu posso discorrer isso.
12:19Não quero monopolizar aqui a fala, mas nós temos muitas ações no nosso Plano Rio Grande,
12:23que é o plano de reconstrução do Estado.
12:25Aliás, quem quiser conhecer mais, www.planoriogrande.rs.gov.br.
12:31Está tudo discriminado, com muita transparência.
12:33Cada uma das ações do governo do Estado.
12:35Apesar de muitas marcas visíveis, as invisíveis também fazem parte do dia a dia das pessoas.
12:41Depressão, pânico, coração acelerado, quando a previsão fala em chuva.
12:47Muitos moradores relatam abalos psicológicos depois do trauma.
12:52A Nilza, moradora de São Leopoldo, na região metropolitana,
12:56ainda não superou os traumas causados pela enchente.
12:59Existem perdas que não têm estrutura física e nem dinheiro no mundo capaz de recuperar.
13:06O Deus pertence, memória, livros que eu tinha horríveis.
13:11Acho que o meu cachorro morreu.
13:13Ele estava cego e surdo.
13:15Então, ele morreu, a água veio, acho que ele fogou, tadinho.
13:18Estava boiando aqui.
13:20E eu desesperada.
13:21Aí minha vizinha de Sobrada disse, eu estou vendo, mas eu acho que ele está trancado na corrente.
13:25Eu disse, não, ele não estava na corrente.
13:27Aí, no outro, passaram uns dois dias, eles conseguiram pular e levaram ele.
13:32Não sei pra onde.
13:34Só tinha água, né?
13:35Só tinha água.
13:37Tadinho.
13:38E não tinha como levá-lo, porque abrigo, então nada, não tinha nada.
13:41E não é perda de roupa, isso aí a gente ganhou, é perda da identidade da gente.
13:47Eu acho que a identidade da gente vai junto ali.
13:50E não é só eu, tem gente muito pior, né?
13:53Inclusive, a gente ajudou aqui.
13:55Houve muito mutirão aqui na rua, porque não veio as coisas como disseram, não.
14:01Aquela coisa assim, vai num lugar, a Fenáxia, coisa...
14:05Ah, já esgotou, isso já esgotou.
14:07A minha filha conseguiu muita ajuda lá de Porto Alegre pra casa, com os colegas dela.
14:13Inclusive pra nós, né?
14:14Falam, né?
14:15Ah, eles arrumaram, digam assim, mas a velocidade, a ferocidade daquela água, não sei se tiver.
14:25Veio rápido e foi emocionador, né?
14:28Uma coisa assim que...
14:29Nós saímos naquela madrugada, não tinha água aqui, né?
14:33Aí no outro dia, não sei, parte da tarde, meu irmão veio pra ver o meu cachorrinho,
14:38já não podia mais entrar.
14:39Aqui já tava tudo tomado e nem deixavam, né?
14:42Aí ele morreu afogado.
14:45Assim, foi o pessoal que perdeu o carro, perdeu tudo, que não acreditaram na altura da água.
14:50Não tiraram pensando, né?
14:52Ali no Poço Shell, o pessoal saindo aqui, Poço Shell é onde tem a...
14:56Depois da igreja, a dita lá em cima, né?
14:58Lá entrou, a pessoa deixaram carros ali e foram, assim, estragaram carros, né?
15:07Marcas que a Nilza vai guardar para sempre de diferentes formas.
15:12Esse cheiro, nossa, se portar, podre.
15:16Fizeram uma acumulação pra levar pra gravata aí dos entulhos, né?
15:20Aqui à direita, ali depois do colégio, tinha um depósito desse, horrível.
15:26Parece carne humana, coisa assim, sabe?
15:29Horrível.
15:30Aqui sim, como eu te falei, essa rua, ela tava quase intersitável de tanto entulho.
15:35Isso foi repetido às vezes, traduzcava, porque tava tudo de novo.
15:40Não é bom lembrar isso.
15:41A psicóloga clínica Carolina Villanova Queiroga, que atua na capital gaúcha, esteve presente como voluntária no momento das enchentes,
15:52explica que boa parte da população ainda está emocionalmente acionada quando há episódios de chuva.
15:59Ela destaca a necessidade de acompanhamento para parte dessas pessoas.
16:03Já de início, a gente sabe que as pessoas que têm mais risco emocional pós uma situação de crise,
16:09uma catástrofe climática como a nossa, são as pessoas que têm algum fator de risco prévio.
16:15Seja sintomatologia de saúde mental prévia ou até mesmo risco psicossocial.
16:20Então, o que a gente observa hoje é que justamente as pessoas com menor poder aquisitivo e que foram mais afetadas, né,
16:26diretamente, seja por bens materiais ou perda de pessoas próximas, são as pessoas que estão ainda enfrentando sintomas
16:35ou daqui a pouco até quadros patológicos mais intensos decorrentes dessa situação que já vai fazer um ano, né.
16:41Todos nós temos uma capacidade inata que se chama resiliência, né, que é podermos, a partir de uma situação que nos tira da nossa zona de conforto,
16:49uma situação de abalo emocional, nós podemos voltar para o nosso estágio anterior, né,
16:54nos reorganizarmos e a partir, então, dessa situação de crise podermos seguir em frente, né,
17:00colocando essa situação dentro de nós de uma maneira que ela ocupe a nossa história.
17:04Mas, às vezes, quando nós somos muito intensamente afetados e justamente já possuímos esses fatores de risco prévio,
17:11a gente tem mais dificuldade de acionar, então, esses recursos de enfrentamento que todos nós temos.
17:16Então, algumas pessoas que foram muito abaladas, algumas, inclusive, nem recuperaram essas coisas ainda, né,
17:22tiveram que se realocar, perderam toda aquela, a gente chama de luto pelo mundo presumido.
17:28Então, aquilo que elas tinham de organização, né, da vida delas, a certeza que elas tinham de ter a casa,
17:33de ter as suas coisas, de ter a sua família, isso não existe mais, né.
17:38Então, essas pessoas que enfrentam de uma maneira mais direta essas questões,
17:43são as pessoas que ainda estão em sofrimento e ainda estão enfrentando, então, as questões decorrentes das enchentes.
17:51Em junho do ano passado, uma pesquisa da URGS apontou que a ansiedade afetava 9 em cada 10 moradores do Rio Grande do Sul.
18:00O trabalho emocional pela frente também é longo.
18:04Hoje em dia, passado um ano, é importante que as pessoas que ainda enfrentem, né, situações de risco emocional
18:12decorrentes daquela situação, estejam em tratamento de saúde mental.
18:15Então, a gente entende que já teve uma evolução patológica daqueles sintomas que a gente identificou
18:21pós situação imediata de crise, né.
18:24Como um todo, acho que a nossa população ainda está acionada.
18:28Eu digo acionada porque a gente imagina que em algum momento pode ter uma outra enchente, né,
18:34talvez não nas mesmas proporções, mas a gente sabe que quando chove muito forte, né,
18:38aqui em Porto Alegre ou no interior do estado, as pessoas ficam emocionalmente abaladas,
18:42mas isso não é um quadro patológico.
18:45Agora, quem tem sintomatologia ainda, seja de transtornos relacionados ao estresse
18:50ou qualquer outro, né, decorrente, então, desse evento, precisa estar em tratamento psicológico.
18:57No Vale do Itacoari, uma das regiões mais atingidas, bairros como o Passo de Estrela
19:02foram brutalmente atingidos e, em parte, devastados.
19:06O temporal passou por aqui devastando tudo.
19:10Não sobraram casas, nem ruas e, muito menos, qualquer tipo de pavimentação.
19:17É como se o lugar nunca tivesse existido.
19:21Passo de Estrela será reconstruído do zero para abrigar cerca de 2 mil habitantes que residiam aqui.
19:29Ainda leva tempo e falta muito, mas a notícia não deixa de dar uma ponta de esperança em quem passa por aqui.
19:37Esperança, inclusive, que continua sendo a palavra que move a Carla, a Andressa, a Maria, o Mário, o Sérgio, a Vanessa, a Cirlei, o Leonardo
19:49e tantos outros nomes e lugares afetados por um estado tomado pela água
19:56e que lutam um ano depois para retomar a vida.
20:00Não tem sido fácil, mas eles têm uma certeza.
20:05Não vão desistir de tentar.
20:09Eu acho que resiliência, sem dúvida nenhuma, é o termo que mais se amplificou do povo gaúcho, principalmente.
20:17Então eu prefiro ficar aqui, me fortalecer aqui.
20:20Que nem eu te disse, Mussum é uma cidade pequena, ela não vai acabar, ela vai voltar mais forte.
20:26E eu quero estar junto, eu quero estar daqueles lá que caiu com ela e se levantou com ela.
20:47E eu quero estar junto.