O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, prestará novo depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (14). Ele será ouvido no contexto de três ações penais que investigam a suposta tentativa de golpe de Estado. Cristiano Beraldo e José Maria Trindade comentaram. Reportagem: Aline Becketty Comentaristas: Cristiano Beraldo e José Maria Trindade
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00:00Sete horas e trinta e oito minutos, vamos a Brasília ao vivo, o Supremo Tribunal Federal retoma hoje o julgamento da suposta trama golpista.
00:08Aline Becht chega ao vivo com as informações pra gente. Oi Aline, bom dia pra você, boa semana.
00:16Olá, bom dia, Soraya, você? Bom dia, Nonato, também? Bom dia pra todos.
00:21Exatamente, hoje o ex-tenente, o tenente coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, deve prestar sim um novo depoimento ao Supremo Tribunal Federal, ele presta esse novo depoimento no contexto de sua delação premiada com a Polícia Federal, essa delação premiada fazendo uma ressalva aqui, todas as vezes que ele for solicitado novamente ao Supremo ou à Polícia Federal pra esclarecer algum ponto, ele precisa comparecer e precisa exagerar.
00:51Esse depoimento de hoje, ele acontece ali no âmbito de três ações que estão em andamento no Supremo Tribunal Federal, essas três ações envolvem vinte e três réus e elas foram divididas em núcleos, isso desde a denúncia que foi apresentada pela Procuradoria Geral da República, o núcleo dois de gerenciamento de ações, o núcleo três de ações coercitivas e também o núcleo quatro de operações estratégicas de desinformação na tentativa de massificar a população
01:20para poder aderir a essa suposta tentativa de golpe de Estado. Então Mauro Cid pode ser questionado sobre alguns pontos que eu trouxe aqui pra vocês, mas sobre vários outros que podem estar em divergência ali com outros depoentes, com outros envolvidos, tendo em vista que essa delação premiada de Mauro Cid, ela funciona como uma principal, uma das principais fontes de informação
01:50desde o início, desde o início da sua delação à Polícia Federal, ele já confirmou a tentativa de golpe de Estado, inclusive isso foi colaborada para a acusação da PGR, ele disse que presenciou grande parte dos fatos, embora ele não afirme ter participado ali diretamente,
02:06mas que participou ali nos bastidores observando o que acontecia. Então ele pode ser questionado sobre Bolsonaro e a minuta do golpe novamente, até porque ele diz que Bolsonaro leu e alterou a minuta do golpe, retirando os trechos ali sobre o assassinato, sobre a prisão de diversas autoridades.
02:25Moraes também, ele disse que Moraes continuava ali como um alvo da prisão, mesmo na versão final da minuta. Então ele pode ser questionado sobre isso, até porque o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu depoimento alega que não, que não chegou a apresentar essa minuta de alguma forma ou modificar essa minuta.
02:45Ele também pode esclarecer pontos sobre a pressão que foi feita em relação ao Ministério da Defesa na tentativa de que os militares aderissem a essa tentativa de golpe de Estado.
02:55Ele chegou a dizer que Bolsonaro pressionou o então ministro Paulo Sérgio Nogueira a apresentar um relatório ali para comprovar fraudes nas urnas eletrônicas, indo ali contra o Tribunal Superior Eleitoral.
03:08E ele pode também esclarecer pontos ainda sobre Braga Neto e os acampamentos, até porque Mauro Cid chegou a dizer em seus depoimentos que Braga Neto era a principal fonte entre os manifestantes, os apoiadores do ex-presidente e também ali o grupo que fazia aquela suposta tentativa de golpe de Estado.
03:28Ele chegou a confirmar também que recebeu uma sacola de vinho, que tinha dinheiro e que esse dinheiro serviu para custear toda essa tentativa de golpe e Braga Neto chegou a negar tudo isso.
03:41Inclusive, recentemente foi feita uma acariação no Supremo Tribunal Federal entre esses depoimentos, porque foram encontradas divergências ali e o ministro Alexandre de Moraes precisa então fazer os clarecimentos para a fase final do processo.
03:56Ele chega a citar também um depoimento, só para concluir, o plano punhal verde e amarelo, que já previa ali o assassinato do presidente Lula, também do vice-presidente Geraldo Alckmin e também do próprio ministro Alexandre de Moraes.
04:10Ele disse que soube desse plano apenas pela imprensa, que não participou desse plano e que só soube disso após a prisão dos envolvidos nesse plano punhal verde e amarelo.
04:23Mas Cid pode ser questionado ainda sobre vários outros pontos que foram ali relatados por ele e que foram negados por parte dos outros envolvidos nesse processo.
04:33Então, como eu disse, são ações que envolvem 23 réus e que agora o ministro fará novamente questionamentos a Mauro Cid para que ele possa fazer esses esclarecimentos.
04:43E aí o ministro dá encaminhamento para a fase final desse processo penal que está em tramitação no Supremo Tribunal Federal.
04:50Então, a gente segue por aqui, Soraya, acompanhando toda essa repercussão, essa expectativa do depoimento de Mauro Cid nessas três ações no Supremo.
04:58E também, é claro, os depoimentos e também outras oitivas que podem surgir dos demais envolvidos.
05:06Eu volto com você.
05:07Sim, é a ação, então, da suposta trama golpista entrando na sua reta final.
05:12Obrigada, Aline, pelas suas informações.
05:14Vamos de análise aqui no Jornal da Manhã.
05:17Cristiano Beraldo conosco, também José Maria Trindade.
05:20Zé, começando por você agora.
05:22A perspectiva mesmo é que o julgamento final deve acontecer lá em meados de setembro.
05:28Mas com essas novas oitivas, a gente pode esperar elementos novos?
05:32E será que o episódio da tarifação, do tarifácio de Donald Trump, pode influenciar algo nesse momento?
05:40Eu não acredito que uma pressão externa possa interferir na decisão do Supremo Tribunal Federal.
05:46Aliás, eu acho uma estratégia muito arriscada e contraproducente.
05:50Ou seja, você fazer uma pressão externa a juízes que vão te julgar não é um bom conselho.
05:58Esse processo está indo rápido demais.
06:01Eu gosto de dizer que são prazos legais.
06:04São sim.
06:05A justiça define prazos para as partes e nunca para os juízes.
06:11E é por isso que os processos, às vezes, demoram anos e anos.
06:15Esse processo é inusual.
06:17Não é normal ser tão rápido assim.
06:19Mas são prazos legais.
06:21E a tendência é que, pelo menos, o primeiro grupo seja totalmente concluído o julgamento neste ano.
06:28Essa fase de audiência de testemunhas, ela tem demonstrado, principalmente a gente tem exemplo do primeiro grupo, né?
06:36De que as testemunhas de acusação, elas reverberam muito mais do que as testemunhas de defesa.
06:43É o sentido de que a tendência é mesmo a condenação.
06:47O tenente-coronel Cid é uma figura central, é o início desse processo, lá de trás de um cartão de vacinação.
06:56O processo do cartão foi até já arquivado, né?
06:59Mas através dele é que se originou todo esse processo.
07:03E é um depoimento que tem sim buracos, tem sim desencontros.
07:08Ele, num certo momento, não queria fazer a delação, mas queria, ao mesmo tempo, o instinto militar dizer que ele não deveria entregar ninguém.
07:17Mas a situação dele, levando em consideração o pai, a mulher e filha, o levaram a fazer esse depoimento.
07:25Não é mais o depoimento do Cid, né?
07:27Existem outras provas, outras comprovações de cruzamento de dados que fazem esse processo andar.
07:36E as condenações não são só por passar batom na estátua e quebrar a vidraça, não.
07:43São cinco condenações de crimes graves.
07:45Beraldo, queria te ouvir também.
07:48O Mauro Cid tem muito ainda a acrescentar diante daquilo que já falou tanto ao Supremo?
07:54Nonato, a situação de Mauro Cid, ela é extremamente delicada.
07:59Porque, ao que tudo indica, nesse Brasil do absurdo que estamos vivendo hoje,
08:05não há a menor hipótese de haver uma absolvição para nenhum dos acusados.
08:09E esse Brasil é tão absurdo que estamos vendo um depoimento sobre uma carta
08:15que citava ali pessoas que seriam presas ou eliminadas e tal.
08:21E o ministro que está julgando é citado na carta.
08:25Quer dizer, não há atentado maior ao senso de justiça do que aquele que é objeto da acusação,
08:33que é objeto, desculpa, objeto da ameaça que foi feita pelo réu, está julgando o caso.
08:40Pois bem, essa é a realidade que temos.
08:43E me parece que, diante da dinâmica que se estabeleceu,
08:47há uma plena disposição não apenas de prender todos os acusados,
08:53mas, inclusive, Mauro Cid.
08:55Eu vejo um esforço muito grande para que se constate todas as incoerências,
09:02os furos no depoimento, na delação premiada de Mauro Cid,
09:06para que, no momento certo, essa delação premiada seja cancelada
09:10e ele vá em cana, assim como os outros.
09:14Esse, me parece, será o desfecho de todo esse julgamento.
