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O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, comentou no Crusoé Entrevistas sobre o impacto do programa Bolsa Família no mercado de trabalho brasileiro.

Com base no estudo "O impacto das transferências na taxa de participação e no desemprego", Camargo afirma que o aumento do valor do Bolsa Família (antigo Auxílio Brasil) fez com que 2 milhões de brasileiros deixassem de procurar emprego.

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Transcrição
00:00Olá, seja muito bem-vindo. Eu sou Duda Teixeira e esse é mais um Cruzoé Entrevistas. Hoje vamos
00:14falar sobre o impacto do Bolsa Família no mercado de trabalho brasileiro. Para falar sobre isso,
00:21a gente convidou o José Márcio Camargo, ele que é economista-chefe da Genial Investimentos.
00:27O José Márcio já está nos aguardando. Vamos colocar ele aqui na tela. Ô, José Márcio, tudo bem? Bom dia.
00:33Tudo bem, bom dia. Muito obrigado pelo convite. O José Márcio comandou um estudo que saiu recentemente
00:40que faz exatamente essa avaliação. O estudo chama Impacto das Transferências na Taxa de Participação
00:48e no Desemprego. E estamos falando, então, de Bolsa Família. José Márcio, você podia resumir,
00:56então, o que vocês encontraram nesse estudo de vocês sobre qual é o impacto, então, do Bolsa Família
01:02no mercado de trabalho? Bom, quer dizer, na verdade, você tem vários impactos. O que nós, a nossa
01:10concentração, o que nós trabalhamos nesse estudo foi ver como que o aumento da transferência de renda,
01:19quer dizer, o aumento do valor do Bolsa Família pode ter afetado a oferta de trabalho na economia brasileira.
01:26O que significa isso? Que é basicamente o que acontece, quer dizer, existe um custo e um benefício
01:32de trabalhar. O custo, quer dizer, você tem que ir de casa para o trabalho, trabalho para casa,
01:40tá certo? Às vezes, no turno do trabalho, você faz coisas que você não gosta, etc. O benefício é você
01:47se relacionar com as pessoas, se você tem um trabalho agradável, é sempre bom trabalhar, tá certo?
01:53Então, esse é o custo e o benefício. As pessoas avaliam se o custo de alento de trabalhar é maior do que o
02:01benefício de trabalhar. Ou seja, um dos benefícios de trabalhar é o salário. Se você tem uma transferência
02:07de renda que você consegue, independentemente de estar trabalhando, tá certo? Você tem um benefício, quer dizer,
02:16você tem um benefício que não depende de estar trabalhando. Então, quer dizer, quando essa transferência
02:22de renda é muito alta em relação ao custo do trabalhador de trabalhar, o trabalhador escolhe
02:31não estar no mercado de trabalho. É esse que é o ponto aí. Quer dizer, quando o valor do Bolsa Família
02:39saiu de 18% do salário mínimo para mais de 50% do salário mínimo lá em 2022, tá certo?
02:48É um número maior de pessoas no mercado de trabalho brasileiro resolveram parar de procurar emprego.
02:55Então, isso significa que essas pessoas saíram do mercado de trabalho. Aproximadamente 2 milhões de pessoas
03:02saíram do mercado de trabalho, o que fez com que a taxa de desemprego caísse em 1,7 pontos de porcentagem
03:14porque as pessoas que não estão trabalhando e não estão procurando trabalho não entram na estatística
03:20da taxa de desemprego. Então, esse é o resultado importante aí no curto prazo, que isso favorece
03:26aos trabalhadores que, quer dizer, aumenta o bem-estar dos trabalhadores que foram favorecidos
03:33por esse aumento de renda. No longo prazo, quer dizer, diminui a oferta de trabalho, né,
03:38quer dizer, gera uns incentivos bem negativos para a população, para o crescimento da economia brasileira, né,
03:46quer dizer, você diminui a oferta de trabalho, isso significa que você gera mais pressão no mercado de trabalho,
03:52você tem menos trabalhadores para trabalhar, tá certo? Então, isso diminui o produto potencial da economia.
04:00Ao mesmo tempo, tá certo? Você que gera um incentivo de que a pessoa pode ganhar, ter uma remuneração
04:12sem estar trabalhando, que não é um incentivo muito adequado.
04:16Então, vocês viram que a proporção do Bolsa Família para o salário mínimo, que era de 20%, né,
04:25você falou 18%, em algum momento ela vai para 50%, e aí as pessoas falam, puxa, eu não preciso,
04:33eu posso ficar em casa sem fazer nada, eu vou ganhar metade do salário mínimo e não tenho que gastar
04:38lá com o Marmitex ou com ônibus, né, e ter todo o desgaste que o trabalho geralmente tem, certo?
04:45Agora, em que momento que isso acontece, né, Marcio?
04:48Isso acontece, quer dizer, como é que, como foi? Primeiro você teve o programa lá, logo depois da pandemia,
04:53em 2020, certo? Você teve um programa de, emergencial, que se chamou na época,
05:00de transferência de renda, além do Bolsa Família.
05:02Isso aí foi quando foi a primeira, o primeiro aumento na transferência,
05:08o valor da transferência foi exatamente nesse momento, lá no auge da pandemia.
05:13Em 2021, o governo reduziu o valor, acabou com esse programa de emergencial,
05:18ficou só o Bolsa Família e voltou a ter aí 200 reais de transferência.
05:24Em 2022, em julho, se eu não me engano, de 2022, o presidente voltou a aumentar o Bolsa Família,
05:33quer dizer, aí nesse caso, criou um programa adicional com pagamento de 600 reais.
05:40E em 2023, tá certo? Além do pagamento de 600 reais,
05:47criou-se uma transferência adicional para famílias que têm filhos, tá certo?
05:53150 reais por cada criança.
05:56Então, esse foi o processo ao longo, quer dizer, desde a pandemia.
06:01Quer dizer, o início do processo, quer dizer, o que desencadeou o aumento da transferência
06:08foi a pandemia, mas depois você teve uma volta, tá certo?
06:12Você voltou a ter uma transferência menor e voltou a ter uma transferência maior em 2022,
06:19durante o processo eleitoral.
06:21Então, acho que esse foi o mecanismo, essa foi a linha de tempo das mudanças aí no valor do Bolsa Família.
06:30José Março, e do que eu me lembro, que tanto os políticos da direita quanto da esquerda
06:34defenderam o aumento no Bolsa Família, certo?
06:37Tanto o Bolsonaro quanto o Lula, ninguém falou em reduzir, porque isso ia ter consequência nas urnas, né?
06:46Você perde votos...
06:47Provavelmente, né?
06:49Provavelmente.
06:51Agora, isso também teve um impacto que reduziu a quantidade de gente trabalhando no Brasil, certo?
06:58A quantidade de gente procurando emprego, né?
07:00Procurando emprego, tá.
07:02Isso, tá certo.
07:03Então, quer dizer, na verdade, a gente não consegue separar muito bem o que foi uma saída do mercado de trabalho
07:11devido ao fato de que o cara estava trabalhando, aí desistiu de trabalhar porque passou a receber uma transferência muito grande,
07:18do outro daquele cara que estava procurando emprego e desistiu de procurar emprego depois que a transferência aumentou.
07:24Mas, digo, a maior parte do efeito certamente veio desse segundo tipo de decisão.
07:31Quer dizer, o cara estava desempregado, procurando emprego, e aí, quer dizer, a hora que o valor do Bolsa Família aumentou,
07:39ele parou de procurar emprego.
07:41Eu acho que esse...
07:43Quer dizer, os dados sinalizam claramente nessa direção.
07:47Esse foi o grupo que diminuiu mais no mercado de trabalho.
07:54José Márcio, agora, se essas pessoas procurassem emprego, elas iriam encontrar emprego?
07:59A economia está crescendo e abrindo vagas, ou eles não encontrariam emprego de qualquer jeito?
08:04A economia está crescendo, está abrindo vagas, a taxa de desemprego está caindo.
08:08Uma das razões é porque essas pessoas pararam de procurar emprego, mas uma outra razão é que a ocupação está aumentando.
08:15Está certo, você tem um aumento da ocupação desde 2020, na 2021, na verdade, você teve...
08:22A economia brasileira gerou bastante emprego, está certo?
08:27Então, não é por falta de oferta de emprego.
08:30Na verdade, quer dizer, os trabalhadores, esses trabalhadores pararam de procurar emprego por outra razão.
08:40Nossa avaliação, quando você olha os dados, é que a razão foi o fato de que, com o aumento do valor da transferência de renda,
08:51está certo, está certo, a relação custo-benefício de procurar trabalho aumentou, está certo?
08:59Consequentemente, uma parte das pessoas que estavam ali na margem pararam de procurar emprego.
09:05José Márcio, eu estou vendo as possíveis consequências dessa questão, né?
09:12E uma das que você falou aqui, quer dizer, se a economia está crescendo, tem vaga e as pessoas não estão procurando,
09:18então, esse valor muito alto do Bolsa Família acaba atrapalhando o crescimento da economia, certo?
09:25É, quer dizer, você tem menos ofertas de trabalho, significa que você tem menos insumos produtivos para produzir para a economia.
09:33Então, isso, quer dizer, um efeito é diminuir o produto potencial da economia brasileira, está certo?
09:40Acho que esse é um ponto importante, está certo?
09:42Então, esse é um efeito de longo prazo importante, ainda que, vamos deixar bem claro, no curto prazo,
09:51aqueles trabalhadores que decidiram parar de procurar emprego tiveram um ganho de bem-estar, está certo?
09:57Então, isso é óbvio, está certo?
10:01A gente supõe também, né?
10:03Porque a gente não sabe o que eles estão fazendo, né?
10:05Não, mas o problema é o seguinte, que se eles decidiram parar de procurar emprego, é porque eles estão melhores, né?
10:13Senão, eles não teriam decidido.
10:15No fundo, quer dizer, esse tipo de análise parte do pressuposto que as pessoas são racionais,
10:22que elas tendem a tomar decisões que aumentam o seu próprio bem-estar, está certo?
10:27Essa é a ideia que está por trás desse processo.
10:31Não é que as pessoas são preguiçosas e não querem trabalhar.
10:35Não, as pessoas são racionais, elas fazem um cálculo implícito, né?
10:43Quer dizer, claro que não é na ponta do lápis, mas implicitamente elas olham e falam,
10:46pô, está desagradável trabalhar, eu acho que vale mais a pena não trabalhar,
10:50ou gosto de trabalhar, vale a pena, o benefício de trabalhar é maior do que o custo de trabalhar.
10:56É isso que está por trás desse tipo de raciocínio.
11:01José Márcio, e essas pessoas que desistiram de procurar emprego,
11:05de repente elas podem estar fazendo outras coisas, tipo fazendo bico, coisas temporárias, que não tem nenhum registro?
11:13Não, quer dizer, na verdade, os dados da PNAD, que é os dados que a gente trabalha, está certo?
11:21Eles incluem os informais.
11:23Os informais estão ocupados, eles não estão desocupados, está certo?
11:28Os informais, quem é que não está aí?
11:31Quem não está aí são aquelas pessoas que não estão trabalhando e não estão procurando emprego.
11:36Essas são as pessoas que estão saindo do mercado de trabalho.
11:40Não estão trabalhando de nenhuma forma, nem informal, nem formalmente.
11:44E do ponto de vista do equilíbrio fiscal, pensando no governo que precisa arrecadar mais do que gasta.
11:54Você tem menos pessoas procurando trabalho, a economia poderia estar crescendo mais,
12:01se a economia estivesse crescendo mais, você estaria gerando mais impostos para o governo.
12:05O governo estaria arrecadando mais, certo?
12:07É, e ao mesmo tempo teria gastando menos, né?
12:10Quer dizer, o Bolsa Família, quando se aumentou o valor da transferência,
12:16você teve um grande aumento nas despesas com o Bolsa Família.
12:21Você não teve, quer dizer, a Bolsa Família...
12:24Quer dizer, então, isso claramente tem um efeito negativo do ponto de vista fiscal.
12:30Além de ter esse efeito aí que você acabou de mencionar,
12:34quer dizer, as pessoas...
12:36Quer dizer, se a economia cresce menos, arrecada menos.
12:39Mas isso é um efeito de mais longo prazo.
12:41No curto prazo, o que a gente viu foi lá com a PEC da transição,
12:47lá no final de 2022, está certo?
12:49Nós tivemos um aumento dos gastos do governo,
12:52aumento do teto do gasto em 180 bilhões de reais.
12:56Uma parte muito importante desse aumento de gasto
13:00foi exatamente o aumento do Bolsa Família.
13:03Alguma coisa próxima a 80 bilhões de reais
13:05foi um aumento de gasto devido ao Bolsa Família.
13:09Tá, Isa, mas tem aqui também um trechinho do estudo
13:12que vocês comentam, a política monetária contra acionista.
13:15Eu entendo que isso é o juros alto, né?
13:18E se os juros altos estão altos,
13:21é mais difícil para a economia privada, né?
13:23Os empresários aqui crescerem, né?
13:25Pegaram empréstimo e tudo mais, certo?
13:28No momento em que você tem um quadro
13:30que o governo tem dificuldade de ajustar as contas,
13:33acaba gastando mais do que deveria,
13:36você prolonga essa política contra acionista, né?
13:42Esses juros altos fica mais difícil
13:43cortar juros depois, não?
13:45É, quer dizer, na verdade, o ponto é o seguinte,
13:48quer dizer, como você tem menos oferta de trabalho,
13:52dado a demanda que as empresas têm por trabalhadores,
13:57quer dizer, quando a oferta cai,
14:00o mercado de trabalho fica mais pressionado.
14:02Você tem um aumento, quer dizer,
14:04você tende a ter um aumento no salário,
14:07esse aumento de salário pode se reverter em aumento de preços,
14:11o que pode fazer com que o Banco Central
14:13tenha que manter taxas de juros mais elevadas
14:17para evitar uma aceleração da taxa de inflação.
14:21Esse é um ponto importante,
14:23porque você tem uma redução da taxa de desemprego,
14:27devido ao valor da transferência,
14:31isso pode gerar pressão sobre a taxa de inflação,
14:35o que acaba gerando uma necessidade
14:38de uma política monetária mais contra acionista
14:41para evitar uma aceleração da inflação.
14:44Então, esse é um ponto que pode acontecer,
14:48e é um ponto importante.
14:51José Marcio, na nossa conversa,
14:52eu fiz um resuminho aqui das consequências,
14:54então, você citou agora,
14:56pode gerar inflação,
14:57o fato do Bolsa Família estar muito alto
14:59e fazer as pessoas desistirem de procurar emprego.
15:03Você pode ter inflação,
15:06fica mais difícil para a economia crescer
15:09e os juros acabam ficando mais altos do que deveriam, certo?
15:13Sim, pode ser.
15:15Esses são efeitos importantes, está certo?
15:19Eu só não gosto da frase
15:22o valor do Bolsa Família está muito alto, está certo?
15:26Quer dizer, o valor é aquele que está lá, está certo?
15:30Quer dizer, existiria uma...
15:34Quer dizer, tem efeitos,
15:36quer dizer, o ponto importante é que tem efeitos
15:39que são negativos e tem efeitos positivos.
15:41O importante é considerar esses dois efeitos
15:44e ver o que é melhor para a economia.
15:47E aí depende de cada pessoa, está certo?
15:49Então, acho que esse é um ponto importante.
15:52O objetivo de estudo não é avaliar
15:54se o Bolsa Família é muito alto ou muito baixo.
15:56O objetivo de estudo é,
15:58se isso acontece,
16:00quais são os efeitos sobre a economia.
16:02Esse é o ponto importante.
16:03Mas vocês chegaram a avaliar qual seria
16:06um Bolsa Família ideal?
16:09Não.
16:09Não?
16:10Não.
16:12Inclusive, se você pensar bem,
16:14quer dizer, depende da hipótese
16:16que você está fazendo
16:17para considerar o que é ideal.
16:20Quer dizer, o ideal é um Bolsa Família
16:22que não gera nenhuma pressão
16:26sobre a oferta de trabalho.
16:27O ideal é um Bolsa Família
16:29que, de alguma forma,
16:30transfere uma renda suficiente
16:33para tirar todo mundo da pobreza.
16:35Depende do objetivo do programa.
16:39Então, quer dizer,
16:39eu acho que não tem o ideal
16:41no sentido de que,
16:43qualquer que seja as hipóteses,
16:45aquele é o melhor desenho do Bolsa Família.
16:51Márcio, estou tirando aqui um conceito
16:52agora do baú da minha cabeça aqui.
16:55Coisa que eu aprendi na faculdade,
16:57está muito tempo atrás,
16:57mas que, isso eu aprendi lá atrás,
17:00que o primeiro que começou a falar
17:02nessa coisa de um auxílio
17:05para as pessoas mais pobres
17:06seria o Friedrich Hayek,
17:08que é um economista neoliberal,
17:11o liberal, né?
17:12E a ideia era você manter
17:14uma reserva de mão de obra barata.
17:18Então, as pessoas ficariam
17:21sobrevivendo com muito pouco
17:22e isso evitaria, por exemplo,
17:24um aumento de salário,
17:25porque o empresário
17:28sempre poderia pegar alguém
17:29e pagar menos.
17:31Isso ainda faz sentido, não?
17:34Não, quer dizer,
17:36na verdade é o seguinte,
17:37a transferência de renda
17:39por si só diminui a oferta de trabalho.
17:42Tende, né?
17:42que tem esse efeito
17:44de diminuir a oferta de trabalho,
17:47está certo?
17:48Isso não é uma coisa nova,
17:50isso está na literatura,
17:51a literatura econômica
17:53mostra isso,
17:54a gente está mostrando isso aqui
17:56no Brasil nesse momento,
17:58mas não é uma coisa nova
17:59na literatura, está certo?
18:01Então, é claro que depende
18:02do valor da transferência.
18:04Então, quer dizer,
18:05desse ponto de vista,
18:06quer dizer,
18:06os programas de transferência
18:08tendem a reduzir a oferta de trabalho
18:10e, consequentemente,
18:12tendem a diminuir
18:13o produto potencial
18:16e aumentar a pressão salarial.
18:18Então, acho que esse é um ponto,
18:20eu não sei exatamente
18:21qual passagem do RAIA
18:27que você está se referindo,
18:28eu não me lembro de nada
18:29parecido com a ideia
18:32de que programas de transferência
18:34criam uma massa de trabalhadores
18:38que recebem pouco salário
18:39e que favorecem o crescimento,
18:42eu não me lembro disso.
18:45Tá.
18:46Zé Março,
18:47e aí, enfim,
18:48uma vez que vocês pegaram esses dados,
18:50vocês fazem algumas recomendações?
18:52Você teria recomendações
18:53para o governo?
18:56Não,
18:56não temos recomendação.
18:58A gente está,
18:59a gente fez o trabalho,
19:00o objetivo era tentar avaliar
19:02por que que existe,
19:05por que que
19:06um dos objetivos do trabalho
19:09é tentar entender
19:10por que que as projeções
19:11de taxa de desemprego
19:13que os analistas têm feito no Brasil
19:16estão maiores do que o que está acontecendo.
19:20Quer dizer,
19:21você tem uma queda na taxa de desemprego
19:23um pouco maior,
19:24cerca de um ponto e meio de porcentagem
19:26abaixo do que as projeções
19:29mostravam,
19:30que têm mostrado.
19:31Então, quer dizer,
19:32isso tem a ver exatamente
19:33com o fato de que você está saindo
19:35pessoas do mercado de trabalho,
19:37a taxa de desemprego cai,
19:38o que faz com que você
19:40acabe projetando
19:43uma taxa de desemprego maior
19:44do que a que está acontecendo.
19:46E se você compara
19:48a taxa de participação,
19:49ou seja,
19:50o número de pessoas
19:51que estão ocupadas
19:52ou estão desocupadas,
19:56mas procurando emprego,
19:57é sobre a população
19:59economicamente ativa,
20:00essa taxa de participação caiu
20:031,5 ponto de porcentagem
20:04desde que o valor do Bolsa Família aumentou.
20:08Ou seja,
20:08tem menos gente procurando trabalho
20:11na economia brasileira.
20:13Então, quando a gente vê
20:14que a taxa de desemprego caiu,
20:16a gente tem que sempre ter essa ressalva,
20:18que isso acontece muito
20:19porque as pessoas estão deixando
20:20de procurar emprego.
20:21certo?
20:22Mas também porque tem mais geração de emprego,
20:24eu já falei isso,
20:25já teve um aumento da geração,
20:28que é a geração de emprego,
20:29um aumento da ocupação
20:30e uma redução
20:32no que a gente chama
20:34de taxa de participação,
20:35ou seja,
20:35uma redução
20:36na porcentagem de pessoas
20:38da população economicamente ativa
20:41que estão procurando emprego
20:42ou que já estão ocupadas.
20:45Certo.
20:46Tá.
20:46Mas tem um número,
20:47última coisa aqui
20:48do estudo de vocês
20:49que fala de 21 milhões de famílias
20:51recebendo o Bolsa Família, né?
20:54Isso.
20:55Numa população de 210 milhões,
20:58ter 21 milhões de pessoas
20:59recebendo,
21:01é gente demais, não?
21:04Bom, é bastante, né?
21:06Isso significa alguma coisa
21:07em torno de 35,
21:08entre 35 e 38 milhões de pessoas
21:10que de alguma forma
21:12recebem a transferência.
21:14Isso é bastante coisa,
21:16quer dizer,
21:17então,
21:18é alguma coisa
21:19em torno de 15% da população,
21:21certo?
21:22Alguma coisa desse tipo.
21:23Então,
21:23é bastante coisa,
21:24é um programa super importante,
21:26quer dizer,
21:26é um programa de transferência
21:27de renda super importante,
21:29então,
21:30é caro,
21:32custoso,
21:33certo?
21:34E atende
21:35a um conjunto grande de pessoas.
21:37Então,
21:37acho que esse é um ponto
21:38que é bastante relevante.
21:42relevante,
21:42certo?
21:44E não é à toa
21:45que é um programa
21:46que está aí
21:49desde o início
21:50dos anos 90,
21:50então,
21:51acho que esse é um ponto importante.
21:53E eu lembro até
21:54que tem muitos liberais
21:55de direitos
21:55que defendem o Bolsa Família,
21:57né?
21:57Porque você dá o dinheiro
21:59e a pessoa vê
21:59como vai gastar, né?
22:01E não você cresce demais
22:03o Estado
22:03para atender
22:04e, de repente,
22:04a pessoa...
22:06Você tem um custo
22:07muito grande, né?
22:08e, às vezes,
22:09você nem consegue
22:09atender a pessoa direito, né?
22:12É, quer dizer,
22:13o ponto é o seguinte,
22:14quer dizer,
22:14transferir dinheiro
22:16em vez de transferir bens
22:17tem várias vantagens.
22:19Primeiro,
22:19porque o cara
22:20que recebe o dinheiro
22:21ele escolhe
22:22o que ele vai comprar.
22:23Ou seja,
22:24ele decide
22:25segundo as suas preferências
22:26e, quer dizer,
22:29sem que eu tenha
22:31um governo
22:31que vai determinar
22:32o que...
22:33se o governo, por exemplo,
22:35transfere alimentos,
22:36tá certo?
22:37A pessoa só pode
22:38consumir alimentos,
22:39tá certo?
22:40Então, quer dizer,
22:41claramente,
22:42você tem uma redução
22:43de bem-estar
22:44porque você diminui
22:45a quantidade
22:45das opções
22:47que a pessoa tem.
22:49Na verdade,
22:50quer dizer,
22:51a história desse programa
22:53é uma história interessante
22:54porque começou
22:55com o Bolsa Escola
22:56lá na década de 90,
22:58no início dos anos 90,
22:59tá certo?
23:00Quando nós propusemos
23:01o Bolsa Escola
23:02o ministro na época
23:03era o Paulo Renato
23:05no governo Fernando Henrique
23:06ele resolveu fazer
23:07isso nacionalmente,
23:09tá certo?
23:09Depois veio o Bolsa Família
23:11que foi uma tentativa
23:11de universalizar
23:13o Bolsa Escola
23:14era um problema
23:15que condicionava
23:16a transferência de renda
23:17a manter as crianças
23:18na escola.
23:19Então, a família
23:20tinha que colocar
23:21a criança na escola
23:22para receber
23:23a transferência de renda.
23:24Depois veio o Bolsa Família
23:25que foi uma tentativa
23:26de universalizar
23:27esse benefício,
23:30tá certo?
23:30E aí,
23:31o Bolsa Família
23:31cresceu
23:32e se tornou
23:33o programa oficial
23:34dos governos,
23:35tá certo?
23:35Então, acho que
23:36esse é um ponto importante.
23:37Mas essa é uma história
23:38interessante,
23:40quer dizer,
23:40eu acho que vale a pena
23:41olhar um pouco
23:42a história
23:42desse programa
23:44de transferência de renda.
23:46Interessante.
23:46Você está acompanhando
23:47isso desde os anos 90,
23:48então?
23:49Na verdade,
23:50a ideia inicial
23:51lá do programa,
23:52quer dizer,
23:53do Bolsa Escola
23:53foi minha,
23:56quer dizer,
23:56estudando o mercado
23:58de trabalho,
23:58eu percebi que
24:00as crianças
24:02de famílias pobres
24:03poderiam contribuir
24:04com a parte significativa
24:06da renda
24:06para a capital familiar.
24:08A partir daí,
24:08eu falei,
24:08opa,
24:09mas então é importante
24:10fazer algum tipo
24:11de transferência de renda
24:13para as crianças
24:13ficarem na escola.
24:15Foi a partir daí
24:16que surgiu a ideia
24:17de você transferir renda
24:18se a família
24:21colocasse a criança
24:24na escola
24:25para disputar
24:27o espaço
24:28no mercado de trabalho.
24:29Esse foi o início
24:30do programa
24:31lá no final,
24:32a ideia foi
24:33no final da década
24:34de 80
24:35do século passado,
24:36e a gente trabalhou
24:37esse negócio
24:38ao longo do tempo
24:39e foi evoluindo.
24:41Então,
24:43desde então,
24:44obviamente,
24:45eu acompanho isso
24:46com cuidado.
24:46E a meta
24:48de colocar,
24:49deixar as pessoas,
24:50as crianças na escola,
24:52isso tem sido,
24:54é um sucesso
24:54do programa?
24:56É, certamente,
24:57eu particularmente
24:59acho que
25:00é um sucesso,
25:02sim,
25:02quer dizer,
25:03eu acho que
25:03eu não conheço
25:05nenhum estudo
25:05que analisa
25:06com cuidado isso,
25:08isso vale a pena
25:08até pensar
25:09em como fazer,
25:10mas, quer dizer,
25:12a avaliação
25:13é que efetivamente
25:14cria um incentivo
25:16para que as famílias
25:18coloquem as crianças
25:18na escola.
25:19É verdade que
25:20isso foi mais
25:22forte lá
25:23quando era
25:24o Bolsa Escola,
25:26quer dizer,
25:26quando estava
25:27diretamente ligado
25:28à escola.
25:30Agora,
25:30no Bolsa Família,
25:31você tem
25:32condicionalidades gerais,
25:34está certo?
25:35Isso torna
25:36a condicionalidade
25:37de manter a criança
25:38na escola
25:38menos rigorosa,
25:40mas continua persistindo
25:42ainda,
25:42o processo
25:43ainda é bem sucedido.
25:45ótimo,
25:46José Márcio,
25:47super obrigado aí,
25:49foi bacana
25:49que você tem
25:50não só aí
25:51os dados,
25:52né,
25:52das pesquisas,
25:53como você tem
25:53essa parte histórica aí
25:55que eu não conhecia,
25:56fiquei sabendo,
25:56achei super legal.
25:58Ah,
25:58é legal,
25:59muito bom.
26:00Jóia.
26:01Então,
26:01muito obrigado,
26:02eu conversei
26:03com o José Márcio Camargo,
26:05economista-chefe
26:05da Genial Investimentos,
26:08e eu sou o Duda Teixeira,
26:11esse foi
26:11mais um Cruzoé Entrevistas
26:13e muito obrigado aí
26:15pela audiência.
26:16Até a próxima,
26:17tchau.

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