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A Academia Mineira de Letras é uma das grandes guardiãs da memória da literatura na capital mineira, desde a produção quando a cidade mantinha poucos escritores, pois muitos saíam para publicar suas obras em outros estados, até o momento atual, de uma cena editorial efervescente - com autores que optam por permanecer aqui.

Jacyntho Lins Brandão, presidente da AML, defende que a academia, embora guardiã da memória literária da cidade, não pode – e não quer – se limitar a isso. Para isso, tem investido na promoção de conferências, debates, lançamentos, exposições, cursos e oficinas, além de apostar também em parcerias com movimentos sociais.

“A tradição é importante, claro, mas não pode estar dissociada do presente. Precisamos ser o espaço da cultura viva, que dialoga com a cidade, reflete sobre os dilemas contemporâneos e se abre para o novo”, afirma.


Em entrevista ao Estado de Minas, Jacyntho Lins Brandão conta sobre o mercado editorial de Belo Horizonte e responde se considera ou não a cidade como "capital dos livros".

Esta entrevista faz parte da série especial "BH: Capital dos Livros", publicada pelo EM. Confira a reportagem completa no site: em.com.br/especiais

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Transcrição
00:00Bom, para quem está em Belo Horizonte há muito tempo, como eu,
00:05quem está há 71 anos em Belo Horizonte, eu acho que atualmente
00:09o contexto cultural da cidade é muito diferente de outras épocas
00:15em termos de oferta, né, em geral.
00:20Vamos pensar, né, espetáculos, etc.
00:22E essa oferta de livros, esse movimento em torno de livros também,
00:27eu acho que está muito marcado.
00:28Tem uma coisa, né, que, para a gente pensar em termos de Belo Horizonte,
00:33lá pelos anos 70, eu imagino, Leila Diniz veio aqui uma vez
00:38e aí ela comentou que Belo Horizonte era muito provinciana.
00:43Isso deu uma fúria, assim, na imprensa, as pessoas dizendo,
00:49achando ruim que ela tivesse dito isso, mas Belo Horizonte era provinciana mesmo.
00:53E essa relação da cidade, né, que num primeiro momento era com o Rio,
01:00o Rio era a capital também, o Arthur Verciano Veloso,
01:03que foi fundador da Fafiche, da Faculdade de Filosofia,
01:08ele dizia que mineiro de vez em quando tinha que ir ao Rio para desjecar.
01:13Bom, então, era isso, né, a província, né, aliás, provinciana não precisa ser um dito ofensivo, né,
01:27provinciana é uma vida regida por tranquilidade, inclusive, etc.
01:32Eu não tenho dúvida que o suporte do livro vai mudar.
01:36Um dia ele vai chegar no livro eletrônico e só muito raramente você vai fazer livro em papel.
01:41Isso é a história do material, do formato e de como que isso foi acontecendo desde a antiguidade, né.
01:49E tecnologia tem uma coisa muito, muito prática.
01:53Se ela é mais fácil e mais barata, ninguém segura.
01:57Então, muitas vezes ela começa caro, mas quando ela vai barateando, aí essa coisa vai se difundindo.
02:04E isso está impactando as bibliotecas que agora assinam livro eletrônico,
02:10a UFMG, se você está inscrito lá, você tem acesso àqueles livros eletrônicos que estão lá.
02:14Claro que a gente fica assim, né, ó, é tão bom passar a página do livro.
02:18Um dia um aluno me disse isso lá, eu estava dando um curso.
02:21Era um aluno de filosofia, eu estava falando da mudança do formato do rolo
02:25para o formato do códice, né.
02:28O rolo era mais caro, porque você não escrevia no verso.
02:31Era mais incômodo, você tinha que ocupar uma mão aqui e outra aqui para abrir assim.
02:36E quando criou essa forma do códice, você escreve dos dois lados, você segura com a mão.
02:44A facilidade e o que isso barateou também.
02:47Ele falou assim, ah, professor, mas é tão bom passar assim a página.
02:52Eu falei, pois é, em Alexandria, no século I, alguém falou, como eu vou aguentar isso?
02:57É tão bom enrolar com essa mãozinha e desenrolar com essa.
03:02Os hábitos vão mudando, né.
03:05A própria concepção de biblioteca com isso vai mudar, né.
03:08Esses sites de acesso aberto, né, eles ainda são muito restritos, né,
03:14mas eu acho que eles vão crescer porque isso é uma biblioteca pública,
03:18na hora que ele vem assim com acesso aberto, igual às tradicionais.
03:24Tudo isso, eu acho que a democratização do acesso, que começa assim meio trôpego,
03:31e começa inclusive, tá, porque...
03:34Vamos pensar na imprensa, né, do Gutenberg.
03:36Quando eles começaram a ser impressos, o editor pegava um manuscrito qualquer
03:40e fazia aquele manuscrito.
03:41Então não tem o trabalho que só foi feito depois de comparar os manuscritos,
03:47de fazer edição crítica, de ver qual que é melhor,
03:50que é uma coisa que começa do século XIX pra frente.
03:54Eu acho que a internet está recebendo, assim, coisas sem avaliação disso.
04:00Qual que é a versão de Guimarães Rosa que está sendo colocada lá?
04:04Inclusive ele mexia nos textos, enquanto ele estava vivo, ele foi mexendo.
04:08Essa coisa da crítica textual é colocada aí.
04:12A publicação eletrônica não elimina aquela etapa da preparação do texto.
04:18Aquilo que eu descrevi, em princípio, continua, né?
04:22O livreiro mudou de lugar, né?
04:24E pode ser a editora diretamente também.
04:27Ou então eles botam lá na Amazon, um monte de gente está fazendo e botam lá.
04:32Eu não sei qual que é o encaminhamento que isso vai ter.
04:34Porque sair de casa pra ir numa livraria física é um ato social.
04:39Eu encontro gente que está lá também, se é a livraria que a gente frequenta, né?
04:44Eu me lembro, por exemplo, que o Bartolomeu Campos Queiroz
04:47ficava sentado todo dia na mesa em frente da Quixote.
04:50Então você tem uma coisa de convívio social,
04:54que o perigo da facilidade de comunicação à distância
04:57é nós ficarmos presos em casa sem isso, né?
05:03Que forma a sociedade, né?
05:04A motivação pra você ficar em casa, ela é muito grande, né?
05:07A quantidade de filmes que a televisão agora oferece, esses streamings, né?
05:15E desanima de sair pra ir no cinema, né?
05:17Que também é uma coisa assim, né?
05:19Você chega, o contato social.
05:21De uma certa forma, né?
05:23Isso põe pras livrarias um desafio de se reinventarem,
05:29de não ser só o lugar que você vai pra comprar livros.
05:32De promover coisas.
05:34E isso tem dado muito certo naquela rua.
05:37Passar naquela rua no sábado, né?
05:40Tem, assim, vários lançamentos acontecendo.
05:43Que seja o lançamento, né?
05:45E esse movimento em Belo Horizonte, eu acho que é recente.
05:51Ele é surpreendente, se eu considerar um período muito perto aí,
05:55se eu considerar 10 anos atrás.
05:57Eu me lembro que eu fui uma vez em São Paulo, há 10, 15 anos atrás.
06:02Aí eu fui na Livraria Cultura, na Paulista, né?
06:07Era de tarde.
06:09No térreo tinha um lançamento com fila.
06:12No primeiro andar tinha outro lançamento com fila.
06:14Eu cheguei e pensei assim, poxa, Belo Horizonte é uma roça, né?
06:19Que dia que a gente vai ter isso?
06:24De ter lançamentos simultâneos com fila.
06:26Eu acho que aconteceu.
06:28Eu acho que a academia, na formação tradicional dos 40 acadêmicos, né?
06:32Ela tem uma coisa assim, no nível cultural, né?
06:35Mas ela tem uma capitalidade porque ela tem jornalistas, jurisconsultos, escritores, dramaturgos.
06:48Isso chega em faixas do mundo cultural diferenciadas, que aparecem muito nas posses.
06:56E a gente sabe, inclusive, as posses que vão encher ou que não vão encher tanto.
06:59Quando é jornalista, lota.
07:05Tem gente que está fora disso.
07:07A Conceição é vários, em qualquer lugar que ela vá, e atualmente ela lota qualquer coisa.
07:12Mas isso também é uma capilaridade que é importante para a academia.
07:15Uma coisa, por exemplo, que deu muito certo é o lançamento coletivo.
07:18O lançamento coletivo é, de novo, que é na hora que o autor lança sozinho.
07:22Todo editor diz para o autor uma coisa muito certa.
07:25Quem vai e lançamento de livro são os amigos do autor.
07:30Quando a gente faz o coletivo, os amigos de um autor encontram com os amigos do outro.
07:37Então, de novo, é essa coisa.
07:38Tirar a pessoa de casa para não perder essa...
07:43Que é claro, né?
07:44Que uma coisa de livro, eu posso pensar assim,
07:48ó, que ótima história, ó, que ótimo estilo.
07:50Mas o livro é uma forma de comunicação social.
07:54Ele funciona é assim, né?
07:55O livro é um comentário, ó, que ótimo estilo.
08:00E aí, ó, que ótimo estilo.
08:03E aí, ó, que ótimo estilo.

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