A editora Impressões de Minas produz os próprios miolos dos livros e monta toda a parte gráfica internamente, na sede mantida no bairro Floresta.
Em entrevista ao Estado de Minas, Wallison Gontijo e Elza Silveira, fundadores da Impressões, contam sobre o mercado editorial de Belo Horizonte e respondem se consideram ou não a cidade como "capital dos livros".
Esta entrevista faz parte da série especial "BH: Capital dos Livros", publicada pelo EM. Confira a reportagem completa no site: em.com.br/especiais
00:00Nós começamos em 2010, na editora, na verdade ela vem da família, o pai da Elza tinha uma gráfica com o nome Impressões de Minas, então ele que deu esse nome e tal, Oswaldo Silveira.
00:11A minha relação com produção gráfica, ela existe desde que eu me entendo por gente, porque meu pai é impressor, ele é impressor de máquina offset e tudo,
00:22veio para Belo Horizonte muito novo e começou a trabalhar em gráficas aqui, trabalhava numa tipografia, na verdade, ele começou na tipografia e como impressor ele foi se adequando,
00:35as tecnologias que estavam mudando e tudo mais, então ele tinha uma gráfica pequena e eu cresci nesse ambiente, várias vezes quando eu era criança eu ia para a gráfica,
00:47eu ficava brincando com a para de papel, sempre tive muito papel em casa que ele levava para a gente, fazia os cadernos da gente, que a gente levava para a escola,
00:59e minha mãe é bibliotecária, então assim, essa coisa do livro também sempre muito presente.
01:05E em 2010 eu trabalhava na área de geografia, com a área de mapeamento e outra área, e a Elza é minha sócia, que eu venho da geografia e das artes visuais e a Elza da literatura,
01:18e eu também já estava querendo voltar para as artes, trabalhar, não trabalhar com essa área de cartografia, de mapeamento, principalmente eu trabalhava muito com mineração
01:28e aquilo não ia muito de encontro ao propósito que eu queria de vida mesmo, com as coisas que eu acredito e tal.
01:34Foi quando o Oswaldo nos chamou e falou, olha, o Oswaldo é pai da Elza, eu estou querendo passar essa gráficazinha para frente,
01:43porque eu não aguento mais trabalhar, e aí ele nos chamou para assumir.
01:48E uma das coisas que o livro sempre me chamou atenção foi nos aspectos gráficos dele também, uma coisa que não passava despercebida aos meus olhos,
01:58assim, as escolhas gráficas dos livros. Eu lembro de eu pegar livros da José Olimpo, editora, eu criança, e ficar tentando entender, né,
02:07por que que esse cara colocou essa frase solta aqui no meio, do nada.
02:11Então eu sempre tive muita curiosidade disso e fui fazer letras.
02:15Na faculdade de letras ainda não tinha um bacharelado em edição como a gente tem hoje,
02:20mas existiam programas ali dentro, né, já tinha o Labed, se não me engano, que é o laboratório de edição.
02:27E aí eu comecei a trabalhar como monitora da professora Maria Inês de Almeida,
02:32num projeto que era o curso de formação de professores indígenas.
02:36Então a gente tinha um trabalho que era desenvolver os livros didáticos que seriam usados nas escolas indígenas,
02:45que estavam passando por um processo de reformulação, né,
02:48fizemos vários livros dos Chacriabás, dos Pataxós, dos Machacalís, enfim.
02:53E depois disso eu comecei a dar aula, né, depois que eu formei, aí não mexi com isso mais, comecei a dar aula,
03:01mas ainda sempre com muita vontade de trabalhar, né, nessa área.
03:08E aí acabou que no mesmo ano as escolas todas que eu dava aula fecharam,
03:14e a gente estava num processo de transição, eu e o Alisson, né, de voltar para Belo Horizonte,
03:20que a gente morava em Ouro Preto e tal.
03:22Eu resolvi, falei assim, né, pensei assim, eu quero trabalhar com o livro, né,
03:26e meu pai tinha essa gráfica pequena lá no bairro Planalto,
03:30e falei assim, eu vou começar a mexer com isso.
03:33Porém a gráfica dele era uma gráfica que ele tinha do lado da casa dele,
03:35é uma gráfica para imprimir comandas, material de expediente, bloquinho e tal.
03:40Então não dá para fazer livro, né, não é um material que você tem maquinário para fazer livro.
03:45A gente também não sabia muito disso.
03:47A gente queria trabalhar com artes gráficas, livro, entrar nesse...
03:51Conhecíamos muito, tínhamos muitos amigos, né, na área de artes gráficas e de artes visuais,
03:56eu vim da Guinhar também, a Elza já tinha amigos que queria publicar.
04:01Então a gente já estava com essa estiga de fazer livro.
04:04Teve aí dois anos aí que a gente ficou meio batendo cabeça,
04:07tentando entender o que a gente faria, que tipo de edição,
04:10como é que, né, que tipo de livro que a gente ia produzir,
04:13e estudando e ao mesmo tempo fazendo pequenos projetos de alguns autores e tal.
04:17Você não tinha um curso de edição em Belo Horizonte, né,
04:20Se você quisesse fazer um curso para aprender a mexer com edição,
04:24com produção editorial,
04:26geralmente ia para São Paulo, para a Unesp, que tinha a Universidade do Livro.
04:31Eu lembro que eu cheguei a pesquisar vários lugares, né,
04:34para poder fazer uma formação mesmo, né, investir nessa formação, mas não tinha.
04:39A minha vontade era bem maior, né, de entender como que fazia o livro, né, mesmo,
04:45porque lá na Federal a gente fazia os livros no Word, era uma coisa bem improvisada, assim, né,
04:51não era um... estava bem no início ainda, assim.
04:56E eu ficava tentando, queria saber quais são as ferramentas de design, de não sei o que e tal,
05:01e aí eu acabei fazendo o curso do Senai, de design gráfico, né.
05:05Foi em 2012 quando a gente conseguiu comprar a primeira máquina,
05:09porque também a gente sempre teve essa ideia de tentar fazer tudo aqui dentro,
05:13acompanhar um processo para que o livro saísse do jeito que a gente pensa.
05:16São bem caras as máquinas gráficas, né,
05:18e além de comprar, tem toda essa coisa do técnico, de quem vai mexer,
05:23de... para trazer a nota, as máquinas na maioria são alemãs.
05:26Mas aí compramos essa máquina e a gente conseguiu começar a fazer os miolos de livro.
05:30O primeiro livro que a gente fez, não me lembro de cabeça,
05:33eu acho que foi o História da Água,
05:35mas eu não me lembro se ele foi feito todo aqui dentro, acho que não,
05:38porque também a gente não tinha ainda uma guilhotina que pudesse atender,
05:41enfim, a parte gráfica a gente não tinha montado, né.
05:46Então a gente teve que ir fazendo isso também com o tempo.
05:48E aí, de 2000 em diante, a gente começou a fazer mais livros.
05:51Eu lembro que até 2015, 16, a gente tinha, sei lá, 20, 30 livros no catálogo.
05:56Hoje nós estamos com 200 títulos aproximadamente.
05:59Geralmente autores que estão começando a escrever agora, né, e tudo mais,
06:05às vezes esse texto chega precisando de uma preparação.
06:10Então eu faço essa preparação, né, que é uma leitura crítica do texto mesmo, né,
06:16e aí eu vou fazer sugestão de mudança, de alteração, de corte, um trabalho de edição mesmo.
06:23E aí assim que a gente fecha essa parte do texto, a gente parte para poder pensar na materialidade do livro.
06:31Nos livros em que eu faço esse processo todo, quando eu estou no texto eu já consigo ir pensando
06:37no que que esse livro, o que que esse texto está me dando de possibilidade visual para eu trabalhar depois.
06:43Sempre teve essa ideia de ter uma plasticidade, ser um livro diferente.
06:47Se é para ter uma gráfica, se é para ter um, é para fazer algo que tenha condições de apresentar o livro
06:54com uma materialidade diferenciada.
06:57Porque senão você, se for um livro padrão, você imprime outra gráfica, é muito mais barato, inclusive,
07:02do que ficar fazendo livro aqui dentro.
07:03O custo de produção gráfica é muito alto.
07:06Então o livro comum, ele, sem sombra de dúvida, é muito mais fácil de ser executado no sentido de produção gráfica, né, assim.
07:13Eu acho que tem vários livros, como a gente tem livros bem comuns também, não temos nenhum problema com isso.
07:21Mas a característica é a gente pensar essas artes visuais e a literatura junto, né.
07:26Então essa plasticidade do livro, ela é importante.
07:28Cada editora vai ter a sua linha editorial, né, e eu não vejo como uma coisa de concorrência, não.
07:36Eu acho que é mais uma cena, assim, e que as editoras somam, né, assim.
07:43Porque a gente está sempre batalhando mesmo, feira, né, fazendo feira e tudo.
07:51E sempre tem, com o apoio das outras editoras também, assim, eu nunca vi essa questão de concorrência, né.
07:58Inclusive, tem muitos trabalhos em co-edição também, né, a gente tem trabalho com a SQN, né, com outros artistas, né, de outros editoras, com outros editores.
08:09Eu acho que cada uma vem com a sua contribuição.
08:13Se a gente for pensar, a força desse cenário independente aqui em Belo Horizonte, hoje é uma referência, sem dúvida nenhuma.
08:18BH é um dos principais lugares no Brasil mesmo.
08:22Eu digo isso com muita tranquilidade, porque a gente viajando aí para as feiras, para fazer conversas, palestras e tal, o que a gente mais escuta é,
08:30cara, o que vocês estão fazendo lá em Belo Horizonte, né.
08:33Tem muita coisa acontecendo, você tem uma galera das artes gráficas aí fazendo Flavignoli, com a tipografia, com esse estudo de memória.
08:40O Cefete, o FMG com os laboratórios aí, os alunos vindo aqui, a gente indo lá, eles indo em feiras, construindo, ajudando na construção.
08:52de pensamento sobre o livro e tal.
08:54Então você tem uma série de movimentos aqui em Belo Horizonte hoje incríveis mesmo, assim.
09:01O mercado está muito, está aquecido, assim, né, no sentido do pensamento, de fazer, de pensar livro e tal.
09:09As feiras contribuem muito, a Canastra, a Faísca, a própria Urucum, que a gente faz também.
09:14O Festival NUC, o Festival de Artes Gráficas, incrível, né, assim, gigante ali na...
09:18Já acho que está indo para a terceira ou quarta edição, se eu não me engano, e vem gente do Brasil inteiro e tal.
09:23Já tem o Ricardo Aleixo, que tem um laboratório, que é o Lira, que é um laboratório incrível sobre intermídia, né, palavra, imagem, som, literatura, poesia.
09:32Então você tem uma série de eventos de muita robustez acontecendo aqui em BH, sabe?