00:00Recentemente, o nosso colunista aqui, o Josias Teófilo, que é cineasta, fez um artigo falando sobre o sucesso no streamer de casos de crimes.
00:17Tem aí o próprio caso da Daniela Pérez, do Guilherme de Pádua, tem uma série de outros casos históricos, recentes, que são revisitados, que acabam virando realmente sucesso de bilheteria, sucesso de audiência.
00:44O teu livro mesmo é um sucesso de vendas também. Eu sei que você percebeu isso e resolveu manipular os leitores, estou brincando, mas é uma característica também comunga do ser humano.
01:04Ele gosta dessas histórias, ele se atrai. Como é que é? Isso é normal, não é?
01:14O ser humano fica muito atraído pelas histórias de poder, e realmente existe um fascínio hoje em dia, até estou já escrevendo um novo livro também sobre isso, para falar um pouco, sobre a maldade humana, que não é tão falada assim.
01:35Mas as pessoas são fascinadas, porque muitas vezes esse comportamento psicopático, ele vem também com muito poder, e é um poder, as pessoas normalmente têm medo,
01:50sei lá, a maioria das pessoas têm medo, têm freio moral, e é fascinante ver alguém sem medo, sem freio moral, e eles se sentem muito poderosos, então isso é tudo muito envolvente.
02:11Então, fascina muito. Os vilões também fascinam muito.
02:17Os vilões, os vilões fascinam. Eu te pergunto, a gente não, a gente não, naturalmente eu não vou nominar casos aqui, para a gente, primeiro para evitar processo e evitar os haters.
02:32Mas eu gostaria da tua avaliação em tese, como gostam de dizer os ministros do Supremo, quando vão falar sobre alguma coisa, vamos falar em tese.
02:40Eu cubro política, cubro poder, bastidores do poder, aqui há 20 anos, e eu percebo muitas vezes que também é uma máxima, a confirmação da máxima que o poder corrompe.
02:56A gente está falando de poder, e me veio à mente isso. Muitas vezes, justamente, o sujeito chega numa posição de destaque, uma posição de autoridade,
03:12e, às vezes, ele exerce esse poder de uma forma tranquila, serena, às vezes, dependendo das circunstâncias, das condições de temperatura e pressão,
03:28ele passa a exercer esse poder com arbítrio, passa a abusar desse poder e passa a expressar
03:38características que são muito semelhantes às que você cita no teu livro.
03:49Como é que é possível, realmente, o sujeito desenvolver uma psicopatia, um comportamento, um transtorno desse, psiquiátrico até,
04:01em determinado momento da vida, ou ele sempre trouxe aquilo ali, era uma sementinha que depois foi regada, acabou sendo regada pelo poder,
04:13e ele passou a exercer essa característica, esse caráter dele?
04:21Usando, assim, uma metáfora, todo mundo tem luz e sombra, né?
04:27Então, determinadas situações na vida, elas vão, certamente, apertar o botão daquilo que é mais saudável, mais construtivo da pessoa.
04:43E tem situações que elas apertam os botões mais destrutivos e sombrios de uma pessoa.
04:50Inclusive, quando a pessoa entra pela onda do vício, e o poder também vicia, né?
04:59Acho que essa é a condenação de muitas pessoas que chegam no poder, porque muitas vezes elas querem mais poder,
05:07e poder, e poder, e nada satisfaz, e isso pode ser altamente uma coisa que realmente é viciante.
05:18E aí eu diria, assim, que não necessariamente a pessoa desenvolveu um transtorno de personalidade, né?
05:25Até porque a gente, tipo, de forma conceitual, isso começa a aparecer no início da vida adulta, no final da adolescência,
05:33mais a pessoa está, digamos assim, com seus botões mais, daquilo que é mais destrutivo.
05:45Destrutivo nesse sentido do sombrio, né?
05:47Sombrio porque vai fazer abusa, né?
05:50Faz mal, é nocivo para o outro, né?
05:53Isso pode envolver todo tipo de abuso, né?
05:58E outras coisas, como roubar, como...
06:01Você entende muito bem disso, que está aí há muito tempo acompanhando as piores coisas, né?
06:09Então, eu acho que realmente é um ambiente que...
06:14O ambiente do poder, ele é muito sedutor, e ele pode fazer com...
06:21Não tem aquele livro, tem um filme que é ótimo também para isso,
06:23O Lobo de Wall Street, né?
06:28Filme ótimo, né?
06:29Que retrata isso, mas esse, sei lá, foi o que me veio à cabeça, tem N outros filmes,
06:36mas eu acho que são os traços sombrios e altamente destrutivos
06:41que são...
06:43Ficam mais, assim, deflagrados, dependendo do ambiente
06:49e dependendo das seduções desse ambiente.
06:55Eu tenho uma frase aqui para o teu próximo livro, que é sobre o mal,
06:59e que faz referência a essa...
07:01É que é, assim, a mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia.
07:08Boa!
07:09A gente tem que rir um pouco disso, mas, assim,
07:11você já conheceu alguém que fosse assim?
07:15Uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia?
07:18Já, porque tudo também é mesclado, né?
07:23As coisas, elas ficam interligadas, mas, com certeza...
07:28E você?
07:29Mandou para o hospital?
07:31Deu uma receita desse tamanho de remédio?
07:36O que, peraí, se eu não vi?
07:38O que?
07:39Passou uma prescrição pesada de remédios para...
07:44Como é que faz?
07:48Por favor, por favor.
07:50Eu só ia falar o seguinte, que por ser uma questão de personalidade,
07:55e não dos sintomas, como no caso da esquizofrenia,
07:59do transtorno bipolar,
08:02então, em geral, o que acontece?
08:05Esse tipo de transtorno, ele não responde à medicação, tá?
08:11Porque não é como uma psicose,
08:13que a pessoa perde o contato com a realidade,
08:16tem delírio, alucinação,
08:18tem aqueles sintomas quando ela está psicótica,
08:21e aí a medicação faz efeito e reduz aquela sintomatologia.
08:25Nesse caso, não.
08:26É um problema da personalidade.
08:29Então, não vem na forma de sintomas,
08:32mas na forma de uma alteração mais profunda mesmo,
08:36na personalidade, no caráter.
08:40E como é que você trata isso?
08:43É possível o tratamento?
08:44Tem.
08:45O único tratamento é excluído do convívio social.
08:49Não, depende do tipo que a gente está falando.
08:52Se a pessoa tem consciência do que ela fez,
08:56alguma consciência do que ela tem,
08:58é muito mais fácil.
08:59Você trabalha de uma maneira mais comportamental
09:02e vai tentar modificar um pouco aquele comportamento.
09:07Mas se a pessoa não tem consciência nenhuma,
09:10o ideal é a gente se proteger, né?
09:13E muitas vezes tentar ficar longe.
09:16Porque são pessoas que são muito prejudiciais e nocivos.