00:00A imprensa virou realmente correr de transmissão das narrativas políticas, especialmente da narrativa do novo governo. No sábado eu escrevi um artigo, se puder botar na tela, por favor, Freitas, vou abrir um parênteses aqui em relação a esse tema da crise Yanomami, mas para falar da manifestação, do vandalismo no dia 8, de tudo que aconteceu no dia 8.
00:22Aí você vai falar assim, pô, Cláudio, mas não era golpe. Então, é disso que se trata. A gente precisa entender o que é dito, o que é escrito no Twitter e o que está nos autos.
00:33Olha só que interessante. Sexta-feira, o interventor jornalista Ricardo Capelli, ele divulgou o relatório dele sobre ali as responsabilidades dos órgãos de segurança em tudo aquilo que aconteceu no dia 8 de janeiro.
00:50Muito bem. Eu estava em trânsito, eu só consegui ler o relatório no sábado. E quando eu li, eu escrevi para vocês. Só consegui ler agora o relatório do interventor jornalista Ricardo Capelli sobre os atos golpistas.
01:04Ops, quero dizer, sobre as manifestações do 8 de janeiro. Não, não, não estou relativizando aqui a invasão bolsonarista à sede dos três poderes, mas apenas usando a mesma linguagem de Capelli,
01:15que, para minha absoluta surpresa, não citou a palavra golpe ou terrorismo em suas derivações uma única vez ao longo do documento de 62 páginas.
01:27Ou seja, há o capelli político do Twitter e das entrevistas e o capelli técnico dos autos.
01:34Enquanto o primeiro sustenta publicamente a narrativa da frente de esquerda, que pretende usar o vandalismo do 8 de janeiro para criminalizar qualquer oposição,
01:42Prestem atenção nisso. O segundo respeita o indúbio pro réu e age de forma cautelosa na missão de, abre aspas,
01:50analisar e esclarecer as ações de segurança pública antes, durante e após a eclosão dos atos de vandalismo e de ataques à democracia.
01:59A propósito, a expressão ataques à democracia é usada com bastante parcimônia e apenas cinco vezes uma lição à histeria da imprensa festiva.
02:08Capelli se refere às ações de perturbação da ordem pública do dia 8 como, abre aspas, ações de perturbação da ordem pública.
02:17Relata a depredação e diz que o acampamento na Praça dos Cristais, em frente ao QG do Exército, era um acampamento,
02:23e que os manifestantes lá acampados eram manifestantes, alguns deles vândalos.
02:29Havia estruturas montadas para apoio de refeições e carro de som para disseminação de informações e coordenação dos manifestantes,
02:39evidenciando que o acampamento, desde sua instalação, foi elemento crucial para o desenvolvimento das ações de perturbação da ordem pública
02:47que culminaram nos atos do dia 8 de janeiro de 2023, escreve Capelli, o Capelli técnico.
02:54O interventor jornalista chega a reproduzir trecho de um inconclusivo relatório de inteligência da Secretaria de Segurança Pública,
03:00entregue ao gabinete de Anderson Torres no dia 6, sobre mensagens publicadas por bolsonaristas nas redes sociais
03:06que falavam em tomada do poder com invasão do Congresso.
03:09Capelli, por sua vez, fala apenas em potencial lesivo da manifestação e descreve os materiais carregados pelos manifestantes.
03:18Foram identificadas pessoas portando rojões, gás de pimenta, pedras, estilingue e outros objetos.
03:26Fecha aspas.
03:27Por fim, relaciona várias ocorrências ligadas ao acampamento instalado na Praça dos Cristais,
03:33aquele em frente ao que gerou o Exército, como hostilização da imprensa,
03:37de policiais e de outros agentes públicos, piciações em prédios da esplanada,
03:42posse de rádios de transmissão, bolas de gude e armas brancas.
03:47Faca. E só.
03:49Com razão, conclui que, a despeito das informações existentes,
03:53o quantitativo de militares dispostos no terreno foi insuficiente para conter o acesso dos manifestantes,
03:59permitindo que rompessem o dispositivo de segurança e entrassem com materiais proibidos na esplanada
04:04e na linha de contenção da Avenida das Bandeiras, como todos vimos, diga-se.
04:09Abre aspas.
04:10Não foi identificado um documento que demonstra a determinação prévia do número exato de policiais empregados na área.
04:15Fecha aspas. Ou seja, conclusão do relatório.
04:18A falta de planejamento para lidar com centenas de manifestantes, vários predispostos à violência,
04:25contribuiu para que a manifestação desbordasse para atos de depredação e vandalismo como nunca se viu.
04:33Isso é o que está no relatório, não no Twitter ou na mídia.
04:37Muito bem. Voltamos, então.
04:40Fica aqui o recado para o MPF.
04:43Vamos devagar.
04:44Vamos ser cautelosos.
04:45Vamos ser técnicos.
04:47E não embarquemos nas narrativas políticas,
04:51porque a gente está vivendo uma continuidade de uma briga que se dá pela mídia, pelas redes sociais.
04:59É a política feita na base do gogó.
05:03Você precisa estar preparado para fazer a leitura do que está acontecendo,
05:06para não cair nessas narrativas.
05:08Porque quando vai para os altos,
05:11aí eles veem que, pô, aqui eu não posso sair acusando,
05:15senão depois eu posso quebrar a cara lá na frente.
05:17Então, assim, não dá para chamar de terrorista, porque não está na...
05:19Vocês entenderam como é que funciona?
05:22Só que na hora de dar entrevista, pá, pá, pá, pá.
05:25E isso é para criar mesmo um ambiente.
05:28Um ambiente que seja favorável à aprovação de projetos aí pela democracia.
05:36Projetos que, naturalmente, vão criar aí o Ministério da Verdade.
05:41Tudo o que eles querem.
05:42Querem controlar, querem fechar a boca de qualquer oposição.
05:47Coloque o selo de bolsonarista em qualquer um que questione.
05:54Aqui a gente questiona todo mundo, tá?
05:56Então é o seguinte, nós defendemos uma oposição democrática.
05:59Ela precisa existir.
06:01Ela precisa estar presente.
06:03Aliás, estamos esperando que ela realmente nasça com esse novo Congresso.
06:09Estamos de olho e estamos acompanhando todas as manifestações.
