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Por que os brasileiros torceram para a Argentina na Copa
O Antagonista
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O economista Roberto Luis Troster comenta, no Latitude, as rivalidades na América do Sul.
Assista à íntegra da conversa: https://youtu.be/cx4rEmpwUAc
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00:00
Você acha que o Sérgio Massa, como ministro da economia, está fazendo um bom trabalho?
00:06
Ou você acha que teria uma outra pessoa boa para colocar no lugar dele?
00:09
Eu acho que ele está fazendo mais do mesmo, não está mudando.
00:16
Então, mais do mesmo, você vai ter mais do mesmo.
00:19
Uma coisinha aqui...
00:21
Ele está correndo atrás do prejuízo, como a gente diz aqui no Brasil.
00:24
Parece uma política econômica de remendos, como você mesmo disse,
00:29
de não ver muito adiante, tentar resolver só os problemas imediatos.
00:34
E você tem que olhar um pouco mais longe.
00:38
A Argentina não vai acabar com a eleição esse ano.
00:41
Nem o Brasil vai acabar.
00:43
A gente tem que começar a parar de olhar para 2000, inverter os últimos dois números.
00:48
Em vez de olhar para dezembro de 2023, olhar para dezembro de 1932.
00:53
Que Brasil que a gente quer?
00:55
Que Argentina que a gente quer?
00:57
O que a gente tem que fazer para chegar lá?
00:59
E depois você faz, como uma meta.
01:01
O que eu tenho que fazer para chegar lá?
01:03
E vai ajustando o caminho.
01:04
Ao invés de ver, vamos resolver e amanhã Deus dará.
01:08
E tem uma questão positiva da integração que você estava falando, que acontece.
01:15
A gente já tem muita coisa.
01:17
Mas na Copa do Mundo a gente super teve muitos brasileiros torcendo para a Argentina.
01:22
E acho que até o Lula fez uma pesquisa no Twitter.
01:26
Você vai torcer para quem?
01:27
Para a Argentina ou para a França?
01:29
E ganhou a Argentina.
01:30
Os brasileiros muito mais.
01:32
É bonito isso.
01:33
E você sabe que o Ariel Palacios, o jornalista, ele escreveu um livro muito bom, Os Argentinos.
01:40
E aí ele fala que os brasileiros amam odiar os argentinos.
01:45
E os argentinos odeiam amar os brasileiros.
01:48
Normalmente, quando a Argentina está fora da Copa, os argentinos torcem para o Brasil.
01:54
Eles não entendiam como os brasileiros podiam torcer para a Alemanha.
01:58
Minha mulher era brasileira.
01:59
Aí a gente estava na Copa lá.
02:01
E ela não sabe, porque ela conhece o marido que ela tem, né?
02:06
Aí estava na Copa lá e tinha um monte de gente torcendo para o Brasil.
02:11
Eu falei, ô, Marta, você vai ver.
02:14
E eram só argentinos torcendo para o Brasil.
02:15
Vestidos com camisa amarela, tudo.
02:19
Os argentinos gostam.
02:20
A fantasia de toda a Argentina é boa.
02:23
Os floripas.
02:24
Agora a gente lhe com a quara para o kitesurf.
02:29
Uma coisa que está nesse livro do Ariel Palacios,
02:31
os argentinos referem muito às coisas do Brasil como o mais grande do mundo.
02:36
A coisa grande do mundo.
02:38
Tipo o Maracanã, o mais grande do mundo.
02:40
E tem um certo carinho ali.
02:43
A briga mesmo é com a Inglaterra, né?
02:47
A briga mesmo no futebol e tudo é com o Uruguai.
02:52
Uruguai, quando tem jogo de futebol argentino, Uruguai.
02:55
Aí é o jogo duro, né?
02:59
Uruguai, por exemplo, Copa América,
03:02
que é o mais antigo país do mundo.
03:04
O Uruguai tem 16 e a Argentina tem 15, né?
03:09
Então é acirrado.
03:11
E o Uruguai tem um décimo da população argentina, né?
03:15
Então a briga no esporte é com o Uruguai, né?
03:19
Uma coisa que eu acho interessante,
03:20
no que você mencionou da torcida brasileira na Copa,
03:24
o Duda, é o que eu chamaria de fator Messi.
03:26
Eu acho que muita gente quer,
03:29
sente uma rivalidade acirrada com a Argentina aqui no Brasil
03:32
e que em outras circunstâncias talvez não torcesse pelos argentinos.
03:36
Queria muito que o Messi coroasse a carreira dele
03:38
com uma Copa do Mundo,
03:39
que é o maior jogador do mundo já há muitos anos,
03:41
mundialmente reconhecido assim,
03:44
e que já estava na hora de ele ser recompensado
03:47
em nível internacional,
03:49
comandando a Argentina numa Copa.
03:51
No fim, foi o que aconteceu, de fato.
03:53
Eu acho que teve um pouco isso.
03:54
Teve muito isso.
03:55
O Messi foi especial.
03:57
Mas o Messi foi especial também
03:59
porque o time inteiro estava integrado.
04:00
Um time novo, focado no esporte,
04:04
você não viu nenhum escândalo
04:06
de nenhum jogador argentino para nada,
04:09
jogando limpo, focado, sabe?
04:12
Eu acho que as pessoas respeitam isso.
04:15
Você respeita um rival que segue as regras,
04:19
que faz tudo certinho.
04:20
O grupo parecia muito fechado com o jovem treinador,
04:22
que é o Daniel Scaloni,
04:24
e o Scaloni teve a coragem, digamos assim,
04:27
de mudar o time conforme o adversário
04:30
que ele ia enfrentando ao longo da Copa.
04:32
Contra a Croácia, ele reforçou o meio campo.
04:34
Contra a França, na final,
04:36
ele botou o Di Maria pela esquerda,
04:37
que não era a posição habitual dele.
04:39
Enfim, ele era um...
04:40
Não tinha...
04:42
E era arriscado, né?
04:43
Porque ele podia não dar certo.
04:44
Mas ele mudou e deu certo
04:46
à medida que a Argentina foi avançando no torneio.
04:48
Foi, mas o Scaloni entrou lá como suplente, né?
04:53
Todo mundo fala, não tinha nenhuma experiência,
04:55
nunca tinha dirigido um time, nada.
04:58
E ele foi perseverante.
04:59
E fez o que o Scaloni fez,
05:03
o que todo mundo tem que fazer em todos os aspectos da vida.
05:06
Foca no que tem que ser feito, faz bem feito.
05:10
E não dizia.
05:11
E eu acho que isso...
05:13
Tem até...
05:14
Eu falei outro dia, né?
05:16
Que era para pôr o Scaloni com o ministro da Fazenda.
05:19
Aí me falaram que já tinha alguém que propôs ele
05:21
para ser candidato a presidente, né?
05:23
Não duvido.
05:24
Ele é...
05:26
É.
05:27
Trouxe agora uma das coisas que chamou a atenção também
05:30
na Copa do Mundo,
05:30
é que tinha muito argentino lá torcendo.
05:33
E a gente fala aqui muito dos problemas da Argentina.
05:35
Então, uma inflação de 95% no ano passado, né?
05:39
Não consegue controlar os gastos,
05:40
mas tinha um monte de argentino lá no Catar, né?
05:43
Como é que você que é economista argentino e nordestino explica?
05:47
Eu com inveja.
05:49
Eu queria estar lá também.
05:50
Eu queria estar lá também.
05:53
Eu até me oferecer uma passagem de presente
05:56
se eu conseguisse ingressos, né?
05:58
E não consegui.
05:59
Mas, bom, inveja.
06:01
Primeira, segunda, a terceira sensação, inveja.
06:06
Não, os argentinos são mais intensos,
06:08
de maneira geral,
06:10
que os brasileiros em algumas coisas.
06:13
Eu sou muito mais intensos.
06:15
Eu tinha um treinador de rugby que falava
06:17
se tua mãe está no campo e não está com a camisa do time,
06:20
é grama.
06:21
Você pisa em cima, né?
06:23
Não, porque ele não conseguiu.
06:27
Mas é isso que os argentinos estão, né?
06:30
E a chance de ser campeão do mundo, né?
06:32
Quer dizer, escapou.
06:34
Quando vieram aqui no...
06:35
Quando a Copa foi aqui, no Brasil, também.
06:38
Cheio de argentinos, né?
06:39
Mas o que impressionou é que eles tinham
06:42
a capacidade financeira de pagar essa viagem, né?
06:46
E eles tinham até, acho que, o dólar...
06:49
Dólar catálico.
06:50
É, né?
06:51
Porque isso é um dólar...
06:52
Você pode explicar o que é?
06:53
É um dólar oficial?
06:54
É uma coisa interessante para você
06:55
para explicar para os espectadores
06:57
essa miríde de dólares que tem na Argentina.
07:00
Se você vai trocar numa casa de campo,
07:03
você tem o dólar...
07:04
Vou dar números redondos, né?
07:06
Números redondos, o dólar oficial está 160.
07:10
Aí, se você vai comer num restaurante, alguma coisa,
07:13
às vezes, eles põem até o preço em dólar, né?
07:16
Está 360.
07:17
Números redondos, né?
07:18
Aí, um 360 e outro 160.
07:22
Então, se você vai na casa de câmbio...
07:24
Aqui, eles também fazem isso em Guarulhos.
07:26
Se você chega, eles te dão uma lascadinha na taxa.
07:31
Aí, o que acontece?
07:33
O governo tinha que vender dólares para as pessoas irem.
07:37
Mas você quer pagar o dólar?
07:38
Aí, eles fizeram o dólar catar.
07:39
É o dólar oficial, mais uma série de taxas impostas
07:43
para chegar no dólar negro, no dólar...
07:45
Nos 360.
07:47
Então, 160 mais 30 centavos por isso, mais 50 centavos.
07:53
É toda uma burocracia.
07:54
Mas aí, se chamava dólar catar.
07:57
Você tem o dólar soja também.
08:00
O que acontece?
08:00
O exportador de soja não quer receber o dólar oficial.
08:03
Aí, eles fazem o dólar soja, que é um pouquinho mais.
08:07
Ele vai até calibrando o dólar soja para entrarem mais ou menos dólares na Argentina.
08:12
Então, ele vai administrando as taxas.
08:14
Aí, tem o dólar cosplay, que é para shows, para pagar.
08:18
Então, você funciona como se você tivesse três moedas, ou quatro moedas na Argentina.
08:26
O peso, que você usa para pagar, para contratos.
08:29
O dólar oficial, o dólar negro e outros dólares.
08:33
Eles chamam de dólar blue, o do mercado negro, e que, na verdade, é o que vale.
08:39
É, é o que vale.
08:40
Na Argentina, você pensa em dólar, você faz conto em dólar, você vai tomar um café.
08:46
Você vê, o café custa, só para ajustar, custa R$ 5, você, como argentino, você não
08:52
vê R$ 5, você vê R$ 1.
08:54
Você vai almoçar, está escrito R$ 60, você não vê R$ 60, você vê R$ 12.
09:01
Você está sempre fazendo a conta, todo mundo faz a conta, mais da metade da população
09:08
faz poupança em dólar, quem consegue poupar, né?
09:11
Tem muito brasileiro que se empolga quando tem uma desvalorização do peso, achando que
09:17
vai poder viajar na Argentina e gasta pouco, né?
09:22
Isso não acontece por causa disso, né?
09:24
É, gasta menos do que aqui, né?
09:27
Mas, de maneira geral, os preços são em dólar.
09:29
E o Rogério bem lembrou que na Argentina subiu mais o preço do vinho, por quê?
09:34
Porque o vinho é dolarizado, né?
09:37
Então, sobe o dólar, sobe o dólar negro, sobe o preço de tudo.
09:41
Você paga em dólar, você faz conto em dólar.
09:44
E tem preços que são estáveis em dólar.
09:47
Eu estava mencionando para vocês, eu compro sempre um mocassim.
09:50
Faz 40, 50 anos que eu uso um mocassim guido, né?
09:53
Que é gostoso, cai direitinho.
09:57
E tem 100 dólares.
09:59
Nunca valia.
10:00
Em preços está o preço lá, mas se você vai lá, é 100 dólares.
10:03
100 dólares sempre.
10:04
Sempre.
10:05
Não varia, né?
10:06
Agora, se o vinho e o álcool estão subindo de valor lá e eles são produtores de vinho,
10:11
então, acho que uma solução que os peronistas podem fazer, e já devem estar pensando nisso,
10:16
é proibir a exportação de vinho, que nem eles fizeram com a Cabe, porque aí você segura o vinho no país
10:22
e aí aumenta a quantidade, diminui o preço e a população tem acesso.
10:28
É uma boa ideia a gente ir para lá.
10:30
Eu vou apoiar, você pode trazer 12 litros de vinho, né?
10:36
Olha, é demais.
10:38
E 12 litros são 15 garrafas, 16 garrafas, né?
10:42
É uma boa ideia.
10:43
É uma boa ideia.
10:44
Então, se eles fazerem isso, a gente corre para lá.
10:46
Exatamente.
10:47
Ou bebe lá, né?
10:49
Ou bebe tudo lá.
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