- 16/06/2025
Em entrevista exclusiva ao Os Pingos nos Is, o professor de relações internacionais Augusto Teixeira debate as potenciais consequências do assassinato do Aiatolá Ali Khamenei (Líder Supremo-Irã). Teixeira alerta para um "nível alto de imprevisibilidade" geopolítica, com impactos imprevisíveis no Oriente Médio e na segurança global.
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NotíciasTranscrição
00:00Mas a gente tem, inclusive, mais um convidado, Augusto Teixeira.
00:04Ele é professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba
00:09e também líder do Grupo de Pesquisa em Assuntos Estratégicos e Segurança,
00:14a quem agradecemos demais pela participação.
00:16Professor, seja muito bem-vindo mais uma vez aqui à programação da Jovem Pan.
00:21Muito obrigado, Daniel. Um prazer falar com você.
00:24Pois é, quarto dia de conflitos.
00:26Lá, no Oriente Médio, já entramos no quinto dia.
00:30O horário exato, uma da manhã com quatro minutos em Tel Aviv.
00:35E a gente tem observado, inclusive, ataques sendo realizados pelas forças iranianas
00:40contra algumas cidades de Israel.
00:42Mas a imagem do dia foi aquela emissora de televisão estatal do Irã
00:47sendo bombardeada durante uma transmissão à viva.
00:50A jornalista, segundo as informações, tecia críticas à Israel no momento em que acontece o bombardeio.
01:00Enfim, as sinalizações indicam que Israel deve ampliar os ataques também para além das instalações militares.
01:09Mas é preciso também fazer as reflexões a partir dos ataques que vêm sendo realizados pelo Irã,
01:17as contra-ofensivas de Israel e também as várias manifestações das lideranças mundiais.
01:22Entramos em um novo patamar do conflito, professor?
01:25Quais são os caminhos que a gente deve considerar?
01:27Bem, a sua análise inicial é muito clara na perspectiva de que é possível observar
01:35uma escalada que se manifesta em distintos tipos de alvos que são almejados por ambos os beligerantes.
01:44Inicialmente, Israel teve como alvos prioritários no Irã
01:48infraestruturas relacionadas à cadeia de comando da Guarda Revolucionária Irã-Liana,
01:54somado, obviamente, ao programa nuclear do Irã e também aspectos relacionados à capacidade
02:01ou construção do poder nacional iraniano que poderiam ser utilizados para administrar Israel
02:06em momentos futuros.
02:08Vimos, ao longo da semana, os alvos serem aumentados na sua configuração,
02:14incluindo aí as baterias ou lançadores de mísseis balísticos contra Israel,
02:18um importante elemento de contra-força,
02:20somado, obviamente, à inclusão de outros tipos de alvos ligados a contra-valor,
02:25como infraestruturas estratégicas ligadas à energia de gás e petróleo.
02:30Some-se a isso um importante aspecto que configura que a destruição parcial,
02:35obviamente, da capacidade de defesa antiaérea por parte de Israel
02:40tem permitido, de uma forma sistemática,
02:42que Israel basicamente exerça aquilo que poderíamos chamar de uma superioridade aérea
02:47em partes do território iraniano,
02:51notadamente na região ocidental e centro-iraniana,
02:55o que torna, em grande medida,
02:57a tarefa de resiliência do regime cada vez mais difícil
03:01naquilo que, inclusive, o episódio que você narrou,
03:04ou seja, do bombardeio do prédio em que a TV iraniana
03:07realizava uma transmissão ao vivo,
03:10mostra muito claramente a capacidade de Israel
03:12de localizar e lançar mísseis e atingir alvos importantes
03:17de uma perspectiva, inclusive, simbólica,
03:20dentro ou em profundidade do território iraniano,
03:23o que demonstra uma diferença muito grande em relação
03:25a como o Irã ataca Israel,
03:28que entende que Israel possui um sistema de defesa antiaérea
03:31em camadas fortemente estruturado,
03:34inclusive contando com o apoio dos Estados Unidos
03:37e de outros aliados regionais,
03:38e que, para realizar qualquer capacidade de dano cinético
03:42no território israelense,
03:44o Irã lança a mão de salvos de mísseis,
03:46em grande medida,
03:48tendo aí não apenas mísseis intermediários e balísticos
03:51em sua configuração tradicional,
03:53mas estima-se aí que venham utilizando também
03:55alguns mísseis de caráter hipersônico
03:57de forma a poder furar o sistema de camadas
04:00de defesa antiaérea israelense.
04:02Ou seja, a característica do tipo de ataque iraniano
04:05dentro de Israel,
04:05apesar de alvos importantes como aeroportos,
04:08especialmente Ben Gurion,
04:10mas também a portos em Raifa,
04:13e também, por sua perspectiva,
04:15a tentativa de ataque ao próprio Ministério da Defesa israelense
04:18como alvo militar nessa perspectiva legítima,
04:21tem em contrapartida
04:22com a imensa maioria de alvos
04:24designados dentro do território israelense,
04:27alvos de caráter civil,
04:28o que mostra uma concepção de contrafalor,
04:31seja um ataque a infraestruturas e a população civil
04:33como elemento de coerção contra o seu oponente,
04:36quando que inicialmente Israel
04:38tinha como alvo de contra-força
04:39dentro do território iraniano,
04:42demonstrando não apenas concepções distintas
04:44de emprego estratégico,
04:45mas essencialmente de produção de efeito
04:48em relação ao seu adversário.
04:50O que a nossa audiência deve prestar atenção?
04:52É que a mudança qualitativa
04:54do tipo de alvo de ambos os atores,
04:56especialmente de Israel,
04:58dentro do Irã,
04:58sinaliza para uma potencial ampliação
05:01dos objetivos políticos da guerra,
05:04notadamente a possibilidade
05:06ou desejo de mudança de regime.
05:08Agora, professor,
05:09há pouco trouxemos a informação
05:10que Benjamin Netanyahu
05:12concedeu entrevista
05:13aos jornalistas norte-americanos
05:15e disse que matar
05:16o líder supremo do Irã
05:17poderia acabar com a guerra
05:20e ele não descarta essa opção.
05:23E aí eu quero lhe perguntar,
05:24primeiro,
05:25quem é o líder supremo do Irã
05:27e o que representaria
05:28o assassinato dele
05:30em meio a essa guerra?
05:32O Irã é uma teocracia
05:34na qual a dimensão religiosa,
05:37especialmente na figura
05:38do líder supremo,
05:39compreende tanto uma figura
05:41importante para a política
05:42como líder
05:43e essencialmente
05:44um moderador essencial,
05:46o grande tomador de decisões
05:47do sistema político iraniano,
05:49inclusive na composição
05:50de conselhos clericais
05:52barra jurídicos,
05:53mas também na definição
05:54de potenciais candidatos
05:55que podem participar
05:56das eleições,
05:58dos processos competitivos
05:59para o provimento
06:01de cargos
06:01de representação política,
06:03mas ele também
06:04é uma representação viva
06:05do processo revolucionário
06:07que tem a vitória
06:08em 1979.
06:10Ou seja,
06:11ele não é apenas
06:12uma figura institucional
06:13de profunda relevância
06:14para a estrutura do Estado
06:16e para o regime iraniano,
06:17ele também tem
06:18um papel relevante
06:20naquilo que compreende
06:21a religião,
06:22especialmente na perspectiva
06:23xiita.
06:25Assim sendo,
06:26a compreensão de que
06:27tê-lo como alvo legítimo
06:29para tentar terminar a guerra
06:30é de um lado perigoso
06:32na perspectiva de que
06:34você permite
06:34o targeting
06:36de alvos políticos
06:38no tocante
06:39aquilo que seria
06:40a maior capacidade política
06:41do líder,
06:42de um chefe
06:43em grande medida
06:44da representação
06:45do Estado nacional,
06:46o que em grande medida
06:47poderia,
06:48de um lado,
06:48engolfar o país
06:49em um contexto
06:50de maior coesão social
06:52em resiliência
06:53à guerra em curso
06:55ou o próprio
06:56desmoronamento,
06:58ou seja,
06:58essas duas perspectivas
06:59antagônicas
07:00apresentam um elevado
07:02grau de imprevisibilidade
07:03sobre o que poderia
07:04vir a ocorrer.
07:05Agora, Daniel,
07:06um aspecto que é importante
07:07que tenhamos entendimento
07:08é que o Irã,
07:09apesar de ser uma teocracia,
07:11um regime ditatorial,
07:13ele tem diversos grupos
07:14que o compõem
07:15e que rivalizam
07:16por posições.
07:17Por exemplo,
07:18tivemos até um tempo
07:19um presidente mais moderado,
07:21temos, por sua vez,
07:22a Guarda Revolucionária
07:23e que ela tem
07:23uma perspectiva
07:25muito forte
07:26na costura do Estado
07:27e um poder militar
07:28superior às forças armadas
07:30convencionais
07:31e que tem um papel político
07:32muito importante
07:33dentro do país.
07:34Ou seja,
07:35caso o líder supremo
07:36seja neutralizado,
07:38seja assassinado
07:39dentro do contexto
07:40dessa guerra,
07:41o que pode vir a ocorrer
07:42é lideranças
07:43da própria Guarda Revolucionária
07:45buscarem tomar o poder.
07:46Esse é um cenário
07:47que pode ocorrer
07:47e se ocorrer,
07:49talvez os meios
07:50de interlocução
07:50em relação
07:51aos Estados Unidos
07:52e Israel
07:52possam ser mais difíceis
07:54em virtude
07:54ou elevado grau
07:55de radicalização
07:55política desse grupo.
07:57Pois é,
07:57os muitos aspectos
07:58que envolvem
07:59esse conflito
08:00no Oriente Médio
08:01estamos conversando
08:02com Augusto Teixeira,
08:03professor de Relações
08:04Internacionais.
08:05Professor,
08:06peço licença,
08:06os nossos comentaristas
08:07também vão participar
08:09dessa conversa,
08:09vou passar a palavra
08:10para o Roberto Mota.
08:13Professor,
08:14como o senhor
08:15avalia a legitimidade
08:17do regime iraniano
08:19aos olhos
08:20dos outros países árabes
08:22da região
08:23e como isso
08:24influencia a guerra?
08:27Mota,
08:28sua questão é fundamental,
08:30ela nos ajuda a entender
08:31que essa região,
08:32o Oriente Médio,
08:33ela é profundamente
08:34multifacetada
08:35e que o Islã,
08:37em particular
08:37o mundo islâmico,
08:38ele não é um monolítico.
08:40É importante entender
08:41que o Irã
08:41é visto como um problema
08:43especialmente em relação
08:44a diversos países
08:45de caráter sunita,
08:46especialmente a Arábia Saudita,
08:48que por décadas
08:49rivalizou com o Irã
08:50como líder
08:51do mundo islâmico
08:52na região,
08:53mas especialmente,
08:54inclusive,
08:55com perspectivas
08:55de conflito.
08:56É importante lembrar
08:57que o Iêmen,
08:59que vive uma guerra civil
09:00há anos,
09:01tem os Houthis
09:02patrocinados pelo Irã,
09:04quando que a própria
09:05Arábia Saudita,
09:06distinto da sua
09:07trajetória histórica,
09:08se envolveu diretamente
09:09contra os Houthis,
09:10ou seja,
09:11temos aí conflito armado
09:13de forma indireta
09:14entre a Arábia Saudita
09:15e o Irã
09:16em tempos recentes.
09:17É importante que se diga
09:18que ocorreu um relativo
09:20entendimento
09:21entre a Arábia Saudita
09:22e o Irã,
09:22não apenas relacionado
09:23à diplomacia chinesa,
09:25que contribuiu
09:25para um relativo
09:26estreitamento de relações,
09:28mas também
09:29o contexto do BRICS,
09:30que vem, de certa forma,
09:31contribuindo
09:31para algum canal
09:33de negociação,
09:34mas o tândem
09:35de rivalidade
09:36ainda subsiste.
09:38Por outro lado,
09:39o Irã foi um ator
09:40importantíssimo
09:40em relação à Síria
09:41e a queda do governo
09:43Bashar al-Assad
09:44altera radicalmente
09:45a presença do Irã
09:46na perspectiva da Síria,
09:49o que inviabiliza
09:50o chamado corredor
09:51estratégico do Irã
09:53em provimento e apoio
09:55a grupos como Hamas
09:56ou o próprio Hezbollah
09:57no Líbano.
09:58Ou seja,
09:58a relação do Irã
09:59no mundo
10:00do Oriente Médio
10:01é uma relação
10:02muito complexa,
10:03em que boa parte
10:04dos atores que o apoiam
10:06são atores
10:06de caráter irregular,
10:08notadamente milícias
10:09xiítas
10:10ou milícias
10:11de caráter sunita
10:12que pragmaticamente
10:13têm uma relação
10:14com o Irã,
10:15como, por exemplo,
10:16o Hamas,
10:17e porque, por sua vez,
10:19tem-se um contexto
10:20de rivalidade estratégica
10:21em relação à liderança
10:22órbita de poder
10:23dentro da conjuntura.
10:25Então,
10:25essa situação atual
10:27do Irã
10:27sendo atacada
10:28diretamente por Israel
10:29em uma guerra bilateral
10:30no momento,
10:31enfraquece,
10:32e muito,
10:33o Irã
10:33dentro da região
10:34quando o seu
10:35próximo no Líbano
10:37com o Hezbollah
10:37foi fortemente batido,
10:39tal como a mudança
10:40do regime na Síria
10:42com a queda
10:42de Bashar al-Assad
10:43retira do Irã
10:45um espaço geopolítico
10:46importante
10:46para a manifestação
10:47do seu poder,
10:48tendo basicamente
10:49do Irã
10:49em algumas milícias
10:50no Iraque
10:51um resquício
10:52da sua rede de próxis
10:53naquilo que chamava
10:54até um certo tempo
10:55de eixo da resistência.
10:57Ou seja,
10:58o Irã é um ator
10:58fundamental
10:59e essa guerra
11:00pode estar no contexto
11:02de um redesenho
11:02geopolítico
11:03do Oriente Médio.
11:05O que sairá disso,
11:06ninguém sabe,
11:07inclusive em virtude
11:08do elevado grau
11:09de criticidade
11:09que existe
11:10dentro do Irã
11:11relacionado
11:12às suas capacidades
11:14militares
11:15missílicas
11:15e desestabilização
11:16da região
11:17ainda existentes.
11:19O que é importante
11:19você saber
11:20sobre esse conflito
11:21entre Israel e Irã,
11:23estamos debatendo
11:24justamente os caminhos
11:25possíveis
11:26nessa entrevista
11:27com Augusto Teixeira,
11:28professor de
11:29Relações Internacionais.
11:31Professor,
11:31o próximo,
11:32a formular uma questão
11:34é o Luiz Felipe Dávila.
11:35Com você, Dávila.
11:37Professor Augusto,
11:38muito boa noite.
11:40O senhor acabou
11:40de tocar
11:41num ponto fundamental.
11:42Qual é o redesenho
11:43do Oriente Médio
11:44após esse conflito?
11:46A série de conflitos
11:47no Oriente Médio
11:49vem criando,
11:50na verdade,
11:50uma série
11:50de estados fracassados.
11:53A própria Síria
11:53hoje está
11:54numa situação
11:54muito complicada.
11:56O Iraque
11:56ficou numa situação
11:57muito complicada
11:58e ainda está
11:59muito debilitado.
12:00nós temos
12:02o problema
12:02do Irã
12:03agora,
12:03que pode ser
12:04outro estado
12:05que ficará
12:05muito debilitado
12:07após esse conflito
12:08com Israel.
12:09E depois nós
12:10temos os principados,
12:11que esse é onde
12:12há mais estabilidade,
12:14e também
12:15destino incerto
12:16de países,
12:17inclusive como Egito,
12:18que hoje também
12:19está sob um governo
12:19autoritário.
12:20Então,
12:21como é que
12:21será o redesenho
12:23do Oriente Médio
12:24com o Irã
12:25correndo o risco
12:26de entrar
12:27para esse rol
12:27de mais um estado
12:28debilitado
12:30com a possível
12:32queda da teocracia?
12:34E como redesenhar
12:35o Oriente Médio
12:35com essas grandes potências,
12:37principalmente Síria,
12:38Irã e Iraque?
12:41Pois bem,
12:41Dávila,
12:42a sua questão
12:42é fundamental,
12:43porque ela nos ajuda
12:44a tangenciar
12:45o problema
12:46da imprevisibilidade
12:47em relação
12:48ao futuro
12:49do Oriente Médio,
12:50que,
12:50não obstante,
12:50esteja distante
12:51do Brasil,
12:52é crucial
12:53como destino
12:53de exportações
12:54nossas do agronegócio,
12:56mas também
12:56como área fundamental
12:57para commodities
12:58e a segurança global.
12:59Se nós considerarmos
13:01que até o ataque
13:02de 7 de outubro
13:04de 2023,
13:05havia uma perspectiva
13:07de outro Oriente Médio
13:08que consistia
13:09essencialmente
13:10nos acordos
13:11de Abraão
13:11e da normalização
13:12das relações
13:13de Israel
13:13com os países
13:14do Golfo
13:14e com outros países
13:16na região,
13:17o que poderia,
13:17em grande medida,
13:18criar um distensionamento
13:20entre Israel
13:21e importantes países
13:22do mundo islâmico,
13:23notadamente
13:23a Arábia Saudita.
13:25Essa perspectiva
13:26de redesenho
13:27geopolítico
13:27foi virtualmente
13:28paralisada
13:29com a guerra
13:31em Gaza,
13:31que,
13:32em grande medida,
13:33colocou vários
13:34países da região
13:35numa situação
13:36de impossibilidade
13:37de negociar
13:38com Israel
13:38em virtude
13:39da Rua Árabe,
13:41que,
13:41de certa forma,
13:42pressiona fortemente
13:43seus governos,
13:44não obstante,
13:44sejam,
13:45em sua maioria,
13:46regimes autoritários.
13:47Some-se a isso
13:48o fato de que
13:49o logro estratégico
13:50de Israel,
13:51ao dinamitar
13:52aquilo que chamava
13:54de anel de fogo
13:55na perspectiva
13:55do Irã
13:56de eixo da resistência,
13:58alterou radicalmente
14:00o esquema
14:00geostratégico
14:01da região,
14:02porque os atores
14:03próxicos
14:04que poderiam,
14:05em grande medida,
14:06afetar a segurança
14:07de Israel
14:07de forma mais direta,
14:09notadamente,
14:10o Hezbollah
14:10e as milícias
14:12apoiadas pelo Irã
14:13na Síria,
14:14foram,
14:15em grande medida,
14:15fortemente fragilizados,
14:17permitindo com que Israel,
14:18inclusive,
14:19na atual guerra,
14:20não apenas atacasse
14:21diretamente o Irã
14:22com a sua aviação,
14:24a tripulada,
14:26mas realizasse
14:26reabastecimento
14:27em voo,
14:28permitindo uma
14:29ampla capacidade
14:31de projeção
14:31de força
14:32e destruição
14:32de alvos
14:33em profundidade
14:34do território
14:35iraniano,
14:36além,
14:36obviamente,
14:37da utilização
14:38de mísseis
14:38de longo alcance.
14:40Então,
14:40se você considera
14:41toda essa situação,
14:42temos ainda
14:43outra complexidade,
14:44Dávila,
14:45que é outro ator
14:46central,
14:47chamado Turquia,
14:48que disputa
14:49esse redesenho
14:50do Oriente Médio,
14:51seja com Israel,
14:52mas também
14:53no chamado
14:53Oriente Médio
14:54ampliado,
14:56notadamente,
14:56por exemplo,
14:57a própria Líbia.
14:58Então,
14:58temos aí,
14:59em grande medida,
15:00atores regionais
15:01muito expressivos
15:02que disputam
15:03por um futuro
15:04do Oriente Médio
15:05em que o Irã
15:06hoje não apresenta
15:07opções.
15:08Por exemplo,
15:09a própria Turquia,
15:10que tem-se aí
15:11a questão do redesenho
15:12do Oriente Médio,
15:13Israel,
15:14que tem uma visão
15:15de outro Oriente Médio,
15:16especialmente sobre o atual
15:17gabinete Netanyahu,
15:19e, obviamente,
15:20a Arábia Saudita,
15:21que tem outro vislumbre
15:22sobre o Oriente Médio
15:23possível.
15:24A grande questão
15:25é que um potencial
15:26derrocado
15:27da teocracia iraniana
15:29poderá não trazer
15:30um contexto
15:31de paz.
15:32Isso é muito claro
15:33entender
15:33quando nós fazemos
15:34analogia histórica,
15:35ou seja,
15:36se lembrarmos
15:37do processo
15:37de mudança de regime
15:38do Iraque,
15:39que contou
15:40não apenas
15:41com a superioridade militar
15:42maciça dos Estados Unidos,
15:44mas um processo
15:44de ocupação
15:46e de desmembramento
15:48das forças armadas
15:49e colocar na ilegalidade
15:51o partido Baaf,
15:52mesmo assim,
15:53e com a criação
15:53de um governo
15:54patrocinado
15:55pelos Estados Unidos,
15:57não ocorreu o logro
15:58de sustentar
15:59um Iraque
15:59livre e democrático
16:01que pudesse,
16:02em grande medida,
16:02chamar de vitória.
16:04E isto,
16:04no contexto do Irã,
16:06é ainda mais complicado,
16:07em virtude de estruturas
16:08estatais mais robustas,
16:10uma estrutura paramilitar
16:12na Guarda Revolucionária
16:13fortemente treinada,
16:15armada,
16:15ideologicamente motivada
16:17e, obviamente,
16:18uma sociedade civil
16:19que, em grande medida,
16:21é fortemente controlada
16:22por estruturas de repressão
16:23há várias décadas.
16:25Então,
16:26é difícil imaginar
16:27que,
16:28mesmo com
16:28uma utilização
16:29de poder anfíbio americano
16:31pisando em solo iraniano
16:32no pior dos cenários,
16:34um processo
16:34de mudança de regime
16:35poderia ser fácil
16:36ou não provocar
16:38ondas de desestabilização
16:39na região,
16:41notadamente no Iraque.
16:42Então,
16:42é uma situação
16:43muito complexa
16:44que pedir pela derrocada
16:45da autocracia
16:48teocrática do Irã
16:49pode não necessariamente
16:50ser a melhor solução
16:51à mesa
16:52no momento,
16:53especialmente no contexto
16:54de uma administração
16:55Trump
16:56que prometeu fortemente
16:57não entrar em novas guerras
16:59e esta guerra
17:00potencialmente
17:01poderia ser
17:02muito mais custosa
17:03do que foi
17:04a própria guerra do Iraque
17:05se o esforço
17:06de mudança de regime
17:07de fato
17:08for para a frente.
17:09É por isso que
17:10a magnitude
17:11dos objetivos políticos
17:12na qual guerra
17:13é importante.
17:15Inicialmente,
17:15o Israel tinha como objetivo
17:17a neutralização
17:18da capacidade nuclear
17:19iraniana latente,
17:20especialmente visto
17:21a potencialidade
17:22de ter a capacidade
17:23de produção
17:24de material físico
17:25para a produção
17:26da bomba,
17:27mas isso pode escalar
17:28para a mudança de regime.
17:29Pois é,
17:30considerações muito importantes
17:31e interessantes também,
17:33vários aspectos
17:34que envolvem
17:34o conflito
17:35entre Israel
17:35e o Irã.
17:37professor,
17:38o Cristiano Beraldo
17:39é o próximo
17:39a fazer a pergunta.
17:43Professor,
17:43boa noite.
17:45Uma das
17:45grandes armas
17:47geopolíticas,
17:48digamos assim,
17:49que o Irã teria
17:50para usar
17:52e pressionar
17:52o resto do mundo
17:53seria
17:54o fechamento
17:55do Estrito
17:56de Hormuz,
17:57que conecta
17:58o Golfo Pérsico
17:59ao Golfo de Oman
18:01e o Oceano Índico,
18:02ou seja,
18:03é fundamental
18:03para a navegação,
18:04sobretudo de petróleo
18:05que sai da região
18:07do Golfo Pérsico.
18:08Mas essa medida
18:09é uma medida
18:10que prejudicaria
18:11sobretudo
18:12os países árabes
18:13que veriam
18:14o fluxo
18:15dos seus produtos
18:17ser interrompido,
18:18ser muito prejudicado
18:19e poderia ter
18:22uma consequência
18:23ruim,
18:25imagino,
18:26para o próprio Irã
18:27dentro
18:28da própria comunidade
18:30dos países árabes.
18:31como é que o senhor
18:32vê efetivamente
18:34a viabilidade
18:35de uma medida
18:36dessa?
18:37Até que ponto
18:38de fato
18:38isso seria algo
18:39positivo
18:41do ponto de vista
18:42da estratégia
18:42do Irã
18:43ou um grande
18:45problema,
18:46aumentaria ainda mais
18:47o problema
18:48que o Irã
18:48tem que lidar?
18:51Beraldo,
18:52o fechamento
18:52dos trechos
18:53de Hormuz
18:54e a interabilização
18:55das rotas comerciais,
18:56especialmente marítimas
18:58naquela região,
18:59seria uma solução
19:00nuclear para o Irã.
19:01Isto, pois,
19:02não apenas,
19:03como você bem coloca,
19:04poderia prejudicar
19:05todos os países
19:06da região,
19:07inclusive países
19:08que não têm interesse
19:09na escalada
19:09do conflito,
19:10mas teria como
19:11efeito importante
19:13de,
19:14em grande medida,
19:14criar uma situação
19:15internacional
19:16pressionando
19:17para o fim
19:17das hostilidades.
19:18Porém,
19:19Beraldo,
19:19é importante considerar
19:20que o risco
19:22desse fechamento
19:23para o Irã
19:23é muito pior,
19:25porque se o fizer,
19:26potencialmente
19:27forçará
19:28os Estados Unidos
19:29a uma ação militar
19:30direta contra o Irã
19:32para abrir mar,
19:34para gerar
19:34a capacidade
19:35de navegação
19:36e descoamento
19:37de comodidades energéticas
19:38pela região,
19:39o que para o Irã
19:40seria profundamente
19:41indesejável.
19:43Ou seja,
19:43se de um lado
19:44o Irã
19:44tem a capacidade
19:45de provocar
19:46a disrupção
19:47dos fluxos energéticos
19:48naquela região,
19:49afetando toda a região
19:50e afetando,
19:51inclusive,
19:52globalmente,
19:53por outro,
19:54tem-se o risco
19:55enorme para o Irã
19:56de que ao fazê-lo
19:57daria uma justificativa
19:59política crível
20:00para os Estados Unidos
20:01entrarem diretamente
20:02no conflito,
20:03ameaçando,
20:04aí sim,
20:05a existência
20:05do próprio regime.
20:06Ou seja,
20:07apesar de ser
20:08uma possibilidade,
20:09apesar de ser algo
20:10que possa,
20:10de fato,
20:11vir a ocorrer,
20:12seria uma cartada
20:13muito perigosa
20:14com o risco
20:14de ampliação
20:15do contexto
20:16de beligerantes,
20:17no caso,
20:18os Estados Unidos,
20:19que colocaram em risco
20:20qualquer chance
20:21de vitória
20:21que o Irã pudesse ter.
20:23Por outro lado,
20:23não podemos deixar
20:24de descartar
20:25que guerra
20:26é essencialmente
20:27política
20:28e a política
20:28não necessariamente
20:29é feita através
20:30de concepções
20:31racionais.
20:32Numa perspectiva
20:33do fim do regime
20:34e o entendimento
20:35do colapso
20:36de uma concepção
20:37de Estado e sociedade,
20:39ações desesperadas
20:40podem ser feitas,
20:41inclusive,
20:42como reação,
20:43por exemplo,
20:44à morte
20:45da liderança suprema
20:46do país,
20:47que poderia ensejar
20:48ações de força
20:49com repercussões
20:50regionais
20:51inimagináveis,
20:52por exemplo.
20:53Então,
20:54se considerarmos
20:54esses aspectos,
20:55é possível
20:56que ocorra
20:57esse fechamento
20:58com repercussão
20:58de caráter global,
21:00inclusive,
21:01mas não seria
21:02producente
21:03para o próprio Irã,
21:04por exemplo.
21:06Professor,
21:07para fechar,
21:07queria escutar
21:09a sua reflexão
21:11sobre os caminhos
21:12factíveis
21:13para o término
21:14dessa guerra,
21:15porque há uma versão
21:16que a gente tem acompanhado
21:17e visto,
21:18inclusive,
21:19analistas internacionais
21:20apontarem que
21:22o Irã
21:23tem limitações
21:24sob o ponto de vista
21:25bérico
21:26e de orçamento
21:27e com o avanço
21:29desse cenário,
21:30esse enfraquecimento
21:31do Irã,
21:32a saída
21:33seria buscar
21:35uma alternativa
21:36diplomática.
21:38E aí,
21:38eu queria justamente
21:39a sua análise
21:40e o seu apontamento
21:42sobre esses caminhos
21:43possíveis
21:43na perspectiva
21:45de uma saída
21:46diplomática
21:47para o Irã
21:48para colocar um ponto
21:49final nesse conflito.
21:50Professor,
21:51só para a gente fechar.
21:53Daniel,
21:54esse ponto é essencial.
21:55De um lado,
21:56se pensarmos
21:56nos objetivos
21:57políticos do Irã
21:58no contexto atual
21:59da guerra,
22:00consiste em,
22:01primeiro,
22:02manter o regime,
22:03ou seja,
22:03manter a sua liderança
22:04política intacta
22:06e a sustentação
22:07do regime,
22:08levando isso
22:09ao seu público
22:10como uma vitória
22:11em si.
22:12Segundo,
22:13manter uma condição
22:14para potencial
22:15negociação
22:16relacionada
22:17ao seu programa nuclear
22:18que o mantenha,
22:19mesmo com restrições.
22:21E terceiro,
22:22a garantia
22:22de que as hostilidades
22:24serão interrompidas,
22:25permitindo com que o país
22:26se reconstrua
22:27e, obviamente,
22:28as suas próprias fontes
22:29de poder.
22:29O grande problema
22:30é que,
22:32na atual conjuntura,
22:33talvez o governo
22:34israelense
22:35não tenha interesse
22:36nessas questões.
22:38Por quê?
22:39Porque se o objetivo
22:40que leva à guerra
22:41a ocorrer inicialmente
22:42está relacionado
22:43a uma ação ofensiva
22:44de não proliferação,
22:46ou seja,
22:46a destruição física,
22:48seja de pessoal
22:49ou de instalações
22:50relacionadas ao programa
22:51nuclear iraniano,
22:52Israel ainda não chegou
22:54a esse objetivo,
22:55dado que diversas
22:56instalações iranianas
22:57são subterrâneas,
22:59demandam bunker busters,
23:01bombas específicas
23:02para sua degradação
23:03e destruição,
23:04e apesar de Israel
23:05ter conseguido realizar
23:06danos em diversas
23:07dessas instalações,
23:08não é plausível
23:09afirmar hoje
23:10que o Irã
23:11não tem mais
23:11a capacidade
23:12de seu programa nuclear
23:13ativo ainda,
23:15o que torna o país
23:15essencialmente
23:16como um ator latente
23:17na potencial proliferação
23:19nuclear aos olhos
23:20de Tel Aviv.
23:21Se você soma isso
23:22e coloca a possibilidade
23:23de um objetivo
23:23maximalista,
23:24que seria a mudança
23:26de regime,
23:27esse não seria o momento
23:28de negociar para Israel,
23:30dado que,
23:31apesar de sofrer
23:31com os bombardeios
23:32iranianos,
23:33Israel tem conseguido
23:34promover uma escala
23:35de destruição,
23:36inclusive material,
23:38do que tange ao poder
23:39nacional iraniano
23:39e poder militar,
23:41muito maior
23:41do que o Irã
23:42tem promovido
23:43em relação a Israel.
23:44Some-se o fato
23:45de que Israel
23:45possui nos Estados Unidos
23:47como apoio fundamental
23:48para a sustentação
23:49da sua sobrevivência
23:50e da condução
23:51das operações.
23:52O Irã não possui
23:53um congênere
23:54nem na Rússia
23:55e muito menos
23:56na China.
23:57Então,
23:57nesse sentido,
23:58o Irã potencialmente
23:59tem interesse
24:00em negociar.
24:02A questão é,
24:02se para Israel
24:03é o interesse
24:04de negociar agora,
24:06dado que objetivos
24:07militares relevantes
24:08podem ainda ser conquistados
24:09com a continuidade
24:10da ofensiva
24:11no território iraniano.
24:13Isso é importante
24:14entendermos.
24:15É isso,
24:16as muitas facetas
24:17que envolvem
24:17esse conflito,
24:18eu quero agradecer demais
24:19o professor Augusto Teixeira,
24:22Departamento de Relações Internacionais
24:24da Universidade Federal
24:25da Paraíba
24:26e também líder
24:27do grupo de pesquisa
24:28em estudos estratégicos
24:30e segurança.
24:31Professor,
24:31muito obrigado
24:31pela gentileza,
24:33primeira vez que eu interajo
24:34contigo aqui na Jovem Pan,
24:35volte sempre aqui
24:36à programação,
24:37grande abraço
24:37e até a próxima.
24:39Muito obrigado,
24:40um forte abraço
24:40para toda audiência.
24:41Obrigado.
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