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No Documento JP, o correspondente Luca Bassani mostra a realidade da Síria, que tenta se reerguer após anos de guerra. A reportagem revela os gigantescos desafios da reconstrução do país e a luta do povo sírio para recomeçar em meio à destruição.

Assista à íntegra em:
https://youtu.be/PdiaQkz9sMA

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Transcrição
00:00Após mais uma década de destruição, a Síria emerge lentamente das cinzas da guerra.
00:06Milhões de vidas impactadas, cidades arrasadas e uma geração marcada pelo conflito.
00:12Hoje, no documento Jovem Pan, o correspondente internacional Luca Bassani
00:16mostra como o país tenta se reerguer.
00:22Localizada na região do Levante, na parte mediterrânea do Oriente Médio,
00:27a Síria foi palco de grandes eventos históricos.
00:32Esse território viu a presença de inúmeros impérios,
00:37desde os antigos assírios, passando pelos gregos e romanos,
00:42até os grandes califados árabes.
00:46A diversidade étnica e religiosa do país é observada até hoje,
00:51nos rostos das pessoas, nos bairros muçulmanos e cristãos
00:56e na cultura, com uma grande mistura de influências.
01:03Não estou jejuando hoje porque está muito calor e a temperatura está muito alta
01:08e a situação na Síria está muito difícil com a guerra e, por isso, nossa religião nos desculpa.
01:13Antes da guerra civil ter seu início, em 2011, a população do país ultrapassava os 23 milhões de habitantes
01:24e, apesar de uma ditadura dinástica da família Assad,
01:29a Síria era considerada uma nação estável em uma região conturbada.
01:35Um país religiosamente dividido entre muçulmanos e cristãos durante os últimos séculos.
01:46Cerca de 78% são sunitas, enquanto 14% são alauítas, dentro do grupo muçulmano xiita.
01:56A população cristã, que já superou os 10% no último século,
02:01hoje está em constante declínio, perto de 5%.
02:06A problemática na Síria também se deu no campo religioso,
02:11já que a família Assad, alauíta, governava uma nação onde o seu credo era minoritário.
02:18A Síria ficou marcada pela imensa influência de povos em seu território
02:24e observou grande crescimento econômico ao longo da história,
02:30como nos explica o professor de Relações Internacionais Manuel Furriella.
02:35Foi um país muito próspero, tem mais de 5 mil anos de história.
02:40Damasco, a sua capital, é uma das cidades mais antigas, com ocupação mais antiga da humanidade.
02:47E nessa construção histórica, próspera, com proximidade inclusive com a Europa,
02:54a evolução econômica da Síria foi notável e com respeito às diversas religiões presentes no país.
03:02Apesar das reportagens televisivas dos últimos 13 anos associarem a Síria
03:08com uma nação em constante estado de guerra,
03:11por grande parte da sua história recente, foi um país reconhecido pela estabilidade.
03:19Todavia, com a tomada do poder pela família Assad, muitas coisas começaram a mudar,
03:26como nos conta o professor de Relações Internacionais, Marcos Vinícius de Freitas.
03:32O país começou a viver uma situação muito complicada depois que a família Assad assumiu o governo.
03:38Não podemos esquecer que era um governo voltado para uma minoria,
03:42a minoria lauíta, que representava não mais do que 15% da população.
03:48E esta minoria, através do pai de Bachar Al-Assad,
03:53governou com mão extremamente pesada.
03:55E quando Bachar Al-Assad assumiu, ele, que era um médico treinado e que havia estudado fora daquele ambiente,
04:05se esperava que o país fosse passar por uma renovação e por uma melhora em todo o processo.
04:11Mas o que nós vimos é que nesse período de tempo de Bachar Al-Assad, a situação piorou.
04:17E o grupo e a família Assad, de alguma forma, conseguiu estender os seus tentáculos sobre o poder
04:25e com isso se manteve a base de terror, de extremos sacrifícios da população
04:33e de uma perda efetiva de liberdades individuais.
04:38Apesar dos abusos relatados por órgãos internacionais desde a década de 1970,
04:45a vida durante o governo de Hafez Al-Assad, pai de Bachar Al-Assad,
04:52foi marcada também por momentos de estabilidade e riqueza.
04:57O senhor Abdel Kadur, de 68 anos e natural do norte da Síria,
05:03relembra um pouco de sua infância nas proximidades de Alepo.
05:07A Síria é um país realmente muito interessante e a Alepo sempre foi o ponto de encontro de todo o mundo.
05:17Das caravanas vindas do Oriente, desde Bagdá, Samarkand, da China, do Irã,
05:23todos do Oriente vindo através da Síria para o Ocidente.
05:26Nós tínhamos uma vida muito boa, uma economia muito boa, sempre crescendo até o início da guerra.
05:33Assim como ocorria em muitos países vizinhos, a liderança síria se perpetuou no poder
05:39e reprimiu duramente qualquer voz de oposição,
05:44como nos conta o professor de relações internacionais José Luiz Niemeyer.
05:49Tanto o pai quanto o filho, a família Assad no poder,
05:54eles criaram uma situação de um serviço de inteligência e forças especiais ligadas ao governo.
06:01Esses grupos eram muito radicais, muito radicais,
06:05e eliminavam os opositores com facilidade.
06:08Os constantes abusos, a crescente corrupção e o caos econômico em muitas nações do mundo árabe
06:16culminaram com um movimento popular transnacional, conhecido como a Primavera Árabe,
06:23que se estendeu desde a Tunísia até a Síria,
06:27causando grandes protestos por diversas cidades em todo o norte da África e Oriente Médio.
06:34As razões e os impactos para a Síria no contexto da Primavera Árabe
06:40são detalhadas pelos nossos especialistas.
06:43Eles tinham um problema enorme com relação à forma de tratar os seus cidadãos,
06:49que, apesar de toda a violência, apesar de toda a negação dos direitos civis mais básicos,
06:56começaram a notar que o Estado onde eles viviam não lhes entregava nenhum benefício efetivo.
07:02E aí se partiu para uma revolução.
07:05E o grande problema é que foi uma revolução que queria somente trocar os líderes existentes
07:14sem pensar efetivamente num dia seguinte.
07:18O grande problema da Primavera Árabe foi o fato de que os países não tinham,
07:23e as lideranças que surgiram não tinham projetos de país,
07:27não tinham perspectivas pós-Primavera Árabe.
07:31O objetivo era tirar um grupo do governo justamente pela imposição de medidas antidemocráticas
07:38e contrárias aos direitos civis.
07:41Porque essa ideia de democracia não se encaixa como deveria nos países do Oriente Médio.
07:49Eles não têm uma tradição democrática.
07:52Israel tem, faz parte do Oriente Médio como um país soberano e independente,
07:55mas outros países têm uma dificuldade muito grande, não só as suas sociedades,
08:00mas as estruturas de poder dos Estados e dos governos que representam esses Estados,
08:06eles têm dificuldade em trabalhar sob a égide da transparência, da alternância no poder,
08:13da liberdade de poder opinar.
08:18Então são governos, países que têm dificuldade de trabalhar sobre os valores da democracia.
08:26Então a Primavera Árabe acabou não tendo muito sucesso naquela região.
08:31Esse processo começou com uma insatisfação popular em relação a governos ditatoriais
08:38que não atendiam os interesses da maior parte da população.
08:42As redes sociais colaboraram para que a população se mobilizasse,
08:49pois havia a partir dali uma forma de comunicação entre os jovens.
08:53As revoltas se espalharam por toda a região.
08:57Alguns países como a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e outros que têm muitos recursos originários do petróleo,
09:06eles melhoraram a situação da população, distribuíram recursos econômicos para grande parte da população mais empobrecida
09:17e conseguiram abafar o movimento.
09:20Mas outros, como por exemplo o Egito, tiveram seus governos depostos por uma grande revolta popular
09:27que atravessou toda aquela região.
09:29Com os protestos tomando as ruas de Damasco, Alepo e Homs, o governo de Bashar al-Assad se viu pressionado interna e externamente.
09:41A dura repressão aos manifestantes, as prisões arbitrárias e a morte de civis que protestavam pacificamente
09:49se transformaram rapidamente em um conflito civil extremamente violento.
09:55Forças políticas, dissidentes, grupos rebeldes, facções étnicas e até mesmo organizações terroristas
10:03começaram em 2011 uma busca sangrenta pelo controle territorial do país e do governo sírio.
10:12Aqui somos todos agricultores.
10:15Nossas vidas mudaram.
10:17Normalmente temos que ir trabalhar no campo muito cedo porque faz muito calor durante o dia.
10:22Mas por causa do conflito, temos que esperar em casa.
10:26Não podemos mais ir ao campo de manhã.
10:28A segunda coisa que mudou é que estamos constantemente com medo.
10:32Temos medo de bombas.
10:34A fronteira fica a cerca de 200 metros daqui.
10:37E tenho medo de ir para o campo.
10:40Não nos sentimos seguros.
10:42Não saímos de casa e quando vamos trabalhar no campo,
10:45fazemos isso rapidamente para chegar em casa o mais rápido possível.
10:48O professor José Luiz Niemeyer nos conta como a presença da mesma família no poder
10:54ocasionou um grande estado de insatisfação política.
10:59No caso dos países do Oriente Médio, países ários, países do norte da África,
11:04que também são ligados à civilização islâmica,
11:07eu tenho a impressão que isso ocorre muito.
11:10E esses clãs são ligados a clãs, tribos, etnias que acabam pressionando.
11:16E na Síria foi assim, a partir da pressão da família Assad,
11:21eles foram administrando de uma maneira totalitária os clãs, as famílias, as etnias da Síria
11:27e assim se perpetuaram no poder.
11:29E para se perpetuar no poder, você geralmente tem que usar da força,
11:34da força discricionária do Estado.
11:37E aí eles se utilizaram de serviços secretos e forças especiais
11:40ligados à última figura de bacharel Assad,
11:44que é o último membro da família que estava no poder.
11:47E assim se perpetuaram no poder.
11:49E aí não há transparência, não há alternância.
11:51Não existe democracia sem alternância no poder.
11:55A situação econômica decadente e a crescente miséria
12:00também impulsionaram a população síria
12:03a adentrar militarmente neste conflito.
12:07Quando a guerra começou e as sanções europeias e americanas foram gradualmente impostas,
12:12a situação piorou em termos de transações bancárias.
12:15Ficamos completamente isolados do mundo financeiramente,
12:19o que marcou o início do colapso econômico.
12:21E nós sabemos claramente que quando a população mais jovem se encontra sem expectativas de vida,
12:30é obviamente expectativas de vida, expectativas de futuro,
12:33é obviamente a primeira a colocar-se na linha de batalha em favor da mudança dos regimes políticos.
12:41E obviamente que esses regimes políticos tentam manter-se no poder e sobreviver de qualquer maneira.
12:49Então a Primavera Árabe deu este estupim para a Síria
12:55que levou ali a um incremento maior de uma guerra civil que já acontecia veladamente,
13:02mas que a partir da Primavera Árabe ganhou ali uma força mais brutal
13:08e que também encontrou no governo de Bashar al-Assad uma resistência ainda mais forte.
13:15Então o que nós observamos foi que a deterioração econômica,
13:18o divórcio entre governante e governado foram os elementos principais
13:24que fizeram com que a Síria enfrentasse esta situação toda pela qual passou nas últimas décadas.
13:31Enquanto diversos grupos rebeldes combatiam as forças do governo Assad,
13:36o grupo terrorista Estado Islâmico cresceu em número de membros
13:41e começou também sua conquista territorial pelo deserto do Iraque e da Síria.
13:48A milenar cidade de Palmyra, que abrigou impérios dos mais variados,
13:53não foi poupada pela monstruosidade do grupo,
13:57que deixou seu rastro de sangue e destruição até mesmo nos artefatos históricos da cidade.
14:04E nós estamos aqui agora no meio do deserto sírio, em uma cidade milenar, a cidade de Palmyra,
14:11esta localidade que foi afetada, grande parte destruída, por uma guerra moderna.
14:17Nós conseguimos ver aqui essas várias colunas erguidas há centenas de anos pelos romanos,
14:22pelos gregos, depois por vários outros impérios que passaram por essa região,
14:27mas preservaram o acervo histórico.
14:30Entre 2015 e 2017, durante a Guerra Civil na Síria,
14:34o Estado Islâmico do Iraque e da Síria tomou conta dessa região
14:38e, antes da sua saída, destruiu, infelizmente, grande parte deste acervo histórico
14:44que pertence à Unesco, a um patrimônio mundial da Unesco.
14:48Isso mostra que o fundamentalismo religioso que reinou por aqui em alguns anos
14:53não só destruiu a vida de muitas famílias, muitas casas e tirou a vida de tantos inocentes,
14:58mas também destruiu um legado histórico imensurável que, até hoje,
15:03está para ser recuperado pelos arqueólogos.
15:06A crueldade dos terroristas do Estado Islâmico ganhou notoriedade no mundo
15:10quando o grupo realizava execuções televisionadas para todo o planeta.
15:16Nascido e criado em Palmyra, o vendedor Mohamed compartilha o trauma
15:21de ter perdido seu irmão, Ahmed, de apenas 18 anos,
15:25executado no mesmo anfiteatro romano onde hoje ele trabalha.
15:32Sim, meu irmão foi morto, executado com outras 28 pessoas dentro desta arena.
15:38Isso aconteceu no ano de 2015.
15:40As profundas dores da guerra marcaram toda uma geração de sírios
15:45que cresceu sem saber o que é a paz.
15:49A jovem Lana, de apenas 16 anos e natural de Damasco,
15:54conta como foi ser uma criança durante a Guerra Civil da Síria.
15:59Tivemos muitos bombardeios e eu tenho medo de trovões
16:03porque o som que fazem me lembram das bombas.
16:06Eu me lembro, quando tinha 6 anos, na televisão,
16:10víamos pessoas sendo utilizadas como escudos humanos.
16:14Esse foi um tempo muito traumático.
16:17Alepo foi uma das localidades da Síria mais bombardeadas
16:22pelo governo Assad e seus aliados russos,
16:25assim como os rebeldes de múltiplas frentes.
16:30Ainda é uma cidade com grandes rastros de destruição.
16:33Do alto da citadela de Alepo, para todos os lados,
16:38edifícios, completa ou parcialmente destruídos,
16:42são facilmente encontrados.
16:45E aqui na cidade de Alepo, diretamente da citadela histórica,
16:49que data do século XIII, nós temos uma noção
16:52de como essa guerra foi extremamente cruel
16:55para a população desta cidade milenar.
16:58O exército de Bachar Al-Assad,
17:00ocupando esta parte mais alta da cidade,
17:03tinha uma visão privilegiada,
17:05uma visão panorâmica de todos os diversos cantos de Alepo
17:09para poder acabar com qualquer possibilidade
17:11dos rebeldes de tomarem novos quarteirões,
17:15novos bairros e, evidentemente,
17:17tomar o poder completo da cidade.
17:19Quando a gente observa o entorno desta posição alta,
17:22a gente entende que esta posição foi utilizada também
17:24para eles eliminarem alguns elementos,
17:29algumas pessoas que eram consideradas inimigas do governo,
17:32causando grandes bombardeios e fazendo com que muitas pessoas
17:35que vivessem aqui, que viviam aqui por tanto tempo,
17:38que tinham seus comércios,
17:39tivessem que ir embora ou fossem mortas neste fogo cruzado.
17:43Realmente uma localidade impressionante e que mostra que,
17:46apesar da guerra já ter terminado,
17:48ainda há muito o que se fazer na reconstrução do país.
17:51Viver em uma das cidades mais perigosas do mundo
17:55durante a guerra civil da Síria
17:57foi uma experiência extremamente desafiadora
18:01e pessoalmente devastadora para milhões de sírios.
18:06Apesar de tudo isso, muitos decidiram permanecer por aqui,
18:10como nos conta o senhor Abdel.
18:12Viver em Alepo durante a guerra foi muito duro,
18:16um tempo muito difícil, sem água ou eletricidade,
18:19e nós tivemos realmente um período extremamente difícil.
18:23Mas quem ama o seu país, como eu amo,
18:25não conseguiu deixar a Síria.
18:27Eu não consegui deixar a minha terra
18:29e deixar essas riquezas para outras pessoas.
18:32Meu país é minha terra.
18:33Eu também tenho oliveiras
18:35e algumas terras em vilarejos fora de Alepo.
18:38Eu não consegui deixar tudo isso.
18:40Eu também perdi a minha casa no vilarejo pela guerra.
18:45Minha família também perdeu as suas casas
18:47e foram de um vilarejo para o outro e depois para o outro.
18:51E finalmente, graças a Deus, em 2025,
18:54nós retornamos e começamos a reconstruir nossas casas e nosso país.
18:58E aí

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