Marco Túlio Delgobbo, professor doutor pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), analisa os riscos de uma intervenção militar dos Estados Unidos na guerra entre Israel e o Irã, e os últimos desdobramentos do conflito.
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00:00Eu quero receber agora aqui também o Marco Túlio Delgobo Freitas, que é professor doutor pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército.
00:06Professor, seja muito bem-vindo, prazer falar contigo.
00:09E eu gostaria de já trabalhar com o senhor e trazer aqui para a nossa audiência a sua expectativa sobre as questões militares que estão envolvidas
00:18nesse atual momento do conflito entre Irã e Israel, com a possibilidade dos Estados Unidos entrarem, de fato,
00:26e não apenas com apoio e estratégia, mas também com uma estrutura maior, com homens e etc.
00:32Quais são as suas perspectivas? Boa tarde.
00:35Boa tarde a todos, boa tarde à mesa, aos debatedores, ao apresentador e aos telespectadores.
00:43É interessante percebermos a evolução da própria guerra.
00:49A guerra entre Irã e Israel iniciou através de ataques de bombardeio provocados pela IAF, Força Aérea Israelense,
01:01e a retaliação se teve, basicamente, através do programa missilístico iraniano,
01:10que é bastante robusto, é bastante complexo e moderno, moderno inclusive na tecnologia.
01:17E isso, de certa forma, impediu alguns danos, tanto a Israel quanto os bombardeios da Força Aérea Israelense, ao Irã.
01:33Hoje temos, depois de passados alguns dias do conflito, uma supremacia aérea de Israel em relação aos céus do Irã,
01:46e há uma resistência iraniana provocada através do lançamento de seus mísseis,
01:53o que acaba gerando essas imagens e perturbações que vocês têm noticiado durante algum tempo.
02:04O que eu prevejo daqui a pouco é que o custo da guerra ou o custo da paz,
02:12ele vem aumentando a cada dia.
02:15Hoje já temos alguns sinais de personalidades, principalmente israelenses,
02:24respondendo a estratégia do Trump de aguardar duas semanas para a guerra.
02:34E temos um ministro israelense que hoje deu o seguinte recado para o Trump,
02:41não iremos aguardar tanto tempo.
02:44A questão de Fordow, que é a usina nuclear iraniana que está no subterrâneo,
02:53iremos resolver sozinho, se vocês não auxiliarem o nosso ataque.
03:00Os Estados Unidos, a entrada norte-americana pode proporcionar o seguinte,
03:06que a questão de Fordow, que até agora não foi bem resolvida pela IAF devido à falta de meios,
03:14meios que eu estou falando são falta de mísseis capazes de implodir no local,
03:21vamos colocar de forma mais simples assim.
03:26O míssel mais potente que Israel tem hoje, ele penetra 2 a 3 metros de concreto armado,
03:35e isso se você comparar com o míssel que é o MOP norte-americano,
03:41ele tem a capacidade de penetrar 60 metros de concreto armado.
03:46Então a gente pode chegar à conclusão que nem a bomba mais poderosa dos Estados Unidos
03:54para penetrar bunkers, ela é capaz de penetrar Fordow num primeiro ataque.
04:02Serão necessários ataques sucessivos à usina de Fordow para incapacitá-la.
04:10E isso pode gerar um grande problema para os americanos,
04:16porque eles nesse momento acreditam que a guerra vai ser rápida,
04:20a intervenção americana vai durar horas,
04:23e depois podem sair como vencedores da guerra do Irã,
04:28aqueles que finalmente deram cabo ao seu programa nuclear.
04:32Com esse tempo de duração de bombardeio...
04:37Professor, rapidamente, deixa eu só chamar aqui o intervalo para o pessoal da rádio,
04:41vocês vão para o intervalo, já já espero vocês,
04:43nas outras plataformas continuamos, o senhor pode continuar agora.
04:46Perdão, professor, eu precisava liberar o pessoal aí.
04:48Tá certo.
04:50Com esses ataques de bombardeio, podem durar dias até,
04:55isso pode gerar uma capacidade iraniana de resistência,
04:58e a gente vê as imagens que estamos vendo em Tel Aviv, Negev, Haifa,
05:05as imagens se reproduzirem em bases norte-americanas espalhadas no Oriente Médio.
05:11E isso daqui a pouco pode trazer o seguinte,
05:14aquilo que a gente chama nas relações internacionais como efeito CNN.
05:18Ou seja, mobilização da opinião pública,
05:22ao ver soldados mortos ou soldados sendo feridos
05:26durante o ataque de míssel,
05:28e eles falando o seguinte,
05:30está na hora das tropas americanas tomarem liderança dessa guerra
05:34e trocar o regime.
05:36E isso é atingir todos os meios necessários para esse fim,
05:42seja o ataque aéreo, seja por via de bloqueio naval,
05:46e seja através de operações terrestres,
05:50aéreo transportadas nesse caso.
05:53Interessante.
05:54Professor, o Fábio Piperno também quer conversar com o senhor.
05:56Vai lá, Piperno.
05:57Ô, professor, boa tarde.
05:58Essa guerra parece que tem muitas variáveis, né?
06:02O senhor até explicou a questão dos ataques aéreos,
06:05e essa é uma guerra entre dois países que estão distantes um do outro, né?
06:10Por exemplo, como Irã e Iraque, vizinhos, por exemplo, Israel e Líbano, né?
06:16Rússia e Ucrânia são dois países que não têm fronteiras comuns.
06:21Então, professor, isso me parece também inviabilizar a questão da invasão por terra,
06:28o que já seria um componente a menos, né?
06:32Entre as várias possibilidades que se teria para invadir um outro país.
06:36Aí, professor, o senhor também trata, de uma forma muito transparente,
06:43da capacidade de reação do Irã por conta dos seus mísseis de longo alcance.
06:50A questão é, e aí, professor, eu gostaria de saber do senhor
06:53sobre um outro componente que tem sido pouco tratado nas análises.
06:59O Irã é um país que tem 87 milhões de pessoas, de habitantes.
07:04Israel tem menos de 10.
07:06pegando aqui a realidade nua e crua, é como se a gente dissesse o seguinte,
07:12bom, em tese, o Irã tem muito mais gente que pode ser sacrificado.
07:17Então, isso significa que ele poderia resistir muito mais tempo a um conflito.
07:24Como é que o senhor encara todas essas variáveis aí?
07:28Pipe Ana, obrigado pela pergunta.
07:32É uma grande questão que envolve aí os anos de abordagem entre Israel e Irã
07:39em uma possível guerra que hoje ela já é real.
07:44O que acontece?
07:45No início, no início de tudo com a Revolução,
07:48os iranianos, ao perceberem que Israel seria um grande adversário do Irã,
07:53eles investiram pesadamente em seu programa messilístico.
07:58E eu acho que os frutos estão sendo colhidos agora.
08:03Por que eles investiram tão pesadamente nesse programa messilístico?
08:10Exatamente pelos motivos os quais você acabou de apresentar.
08:15Uma guerra entre Irã e Israel através de operações terrestres
08:21é um pouco mais complicada,
08:24porque tanto Irã quanto Israel teriam que pedir
08:27alguns países da região para passar suas tropas neles,
08:35para ter um salvo conduto para passar as suas tropas,
08:40uma espécie de revival da Bélgica na Primeira Guerra Mundial,
08:46em que a Alemanha precisava de passar pela Bélgica,
08:48romper a neutralidade belga.
08:50E isso se põe nessa dinâmica entre Israel e Irã.
08:54E é por isso que Israel, durante muito tempo,
08:57desde a Guerra dos Seis Dias,
08:59vem paulatinamente, aliás, pesadamente,
09:03investindo recursos financeiros,
09:06dotando tecnologia e mão de obra especializada
09:09para a sua força aérea.
09:12Em relação a essa numeração,
09:14o qual você acabou de colocar,
09:16a questão dos habitantes,
09:17a questão da diferença populacional entre Israel e Irã,
09:22a abordagem israelense foi a seguinte,
09:26eles têm mais pessoas,
09:28mas temos a tecnologia ao nosso favor,
09:31que colabora, de alguma forma,
09:34dotar qualitativamente os nossos soldados.
09:38Isso Israel fez durante a Guerra do Yom Kippur,
09:41que praticamente foi o mesmo cenário,
09:44em que você tinha uma diferença brutal
09:47de meios de um lado,
09:50mostrado pela coalizão árabe,
09:53e do outro você tinha os israelenses.
09:55E você tem a questão das guerras recentes,
10:00não convencionais,
10:01que mostram muito bem isso.
10:04Israel investindo tecnologia,
10:07informação, coleta de dados,
10:09para lidar com esses desafios regionais.
10:13Então, eu acho que a grande saída
10:15entre esses dois adversários
10:18é exatamente o apoio,
10:21através da leitura desse contexto,
10:23desses dois principais programas.
10:26O programa mercilístico iraniano de um lado,
10:29e do outro,
10:30o investimento tecnológico
10:32das forças de defesa de Israel.
10:35Professor, eu tenho uma última pergunta aqui
10:37do Henrique Kriegner.
10:38Vai lá, Kriegner.
10:39Professor, é uma pergunta bem objetiva,
10:41em relação à resposta do Ayatollah Ali Khamenei,
10:44a uma possível intervenção americana.
10:47Ele ameaçou, dizendo que os Estados Unidos
10:49se arrependeriam muito,
10:50e que as consequências seriam devastadoras,
10:53dizendo ali,
10:55implicando talvez um ataque direto,
10:57uma retaliação direta aos Estados Unidos.
10:59Mas o Irã não tem mísseis intercontinentais,
11:01e os balísticos que ele tem
11:03não chegam até o território americano.
11:05Que outro tipo de iniciativa ou represária
11:09o Irã poderia aplicar contra o território,
11:11ou mesmo contra o governo americano?
11:13Será que ele está implicando ali
11:14utilização em mais uma vez,
11:17que já é comum na história do Irã,
11:19de forças terroristas ou até mercenários?
11:22É, essa é uma excelente questão.
11:25A ameaça iraniana ao território norte-americano,
11:29se ela for concretizada,
11:32seria um ponto de viragem da guerra,
11:36o qual não teríamos nenhum tipo de exercício hipotético
11:41para criar um contexto.
11:44Ou seja, seria um absurdo acontecer.
11:46Em relação a esse desafio em si,
11:51o de levar danos aos Estados Unidos em seu território,
11:58como você afirmou,
12:00isso atualmente só pode ser feito
12:02através de organizações proxy,
12:06organizações terroristas,
12:08sediadas que venham entrar no território americano.
12:13Porém, não podemos esquecer que
12:18no inventário iraniano,
12:21você tem um míssil que dá uma dor de cabeça
12:25às defesas norte-americanas,
12:28que é o Khanashar,
12:322 mil quilômetros de distância.
12:36Isso dá uma dor de cabeça muito grande
12:38ao sistema de defesa missilístico norte-americano.