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  • 07/06/2025
Transcrição
00:00E chegou a hora da participação dele, Marcelo Zurita, aqui no Olhar Digital News,
00:06que eu também já vi que está ali interagindo nos comentários do YouTube com a comunidade do Olhar Digital.
00:13E está chegando a coluna de hoje Olhar Espacial.
00:17E o Marcelo Zurita vai fazer uma viagem no tempo pelo estudo dos meteoritos.
00:23Vamos ver.
00:30Olá pessoal, saudações astronômicas.
00:37Imagine viver em um tempo em que acreditar que as pedras caíam do céu poderia lhe render uma camisa.
00:43Só que de força, literalmente.
00:46Para os cientistas de alguns séculos atrás, a ideia de que as rochas pudessem vir do espaço era tão absurda quanto uma chuva de gato.
00:53Mas estamos em junho, o mês do Asteroide Day.
00:56A data em que lembramos que sim, nosso planeta é atingido por rochas espaciais o tempo todo.
01:03E foi graças a duas mentes corajosas, Ernest Cicladni e Jean-Baptiste Biot,
01:09que essa verdade, que hoje nos parece óbvia, foi aceita há mais de dois séculos.
01:13Até o final do século XVIII, o pensamento dominante era que todas as rochas da Terra vinham da própria Terra.
01:20Claro, não existia ainda a geologia moderna, e muito menos a ciência planetária.
01:26As pedras que ocasionalmente caíam dos céus eram encaradas como lenas populares, exageros de camponeses,
01:33efeitos de relâmpagos petrificados, as chamadas pedras de raio, ou, no máximo, rochas expelidas de algum vulcão.
01:41A ideia de que esses corpos poderiam ter origem extraterrestre soava como alquimia ou misticismo.
01:46O iluminismo, embora tenha promovido avanços imensos, também trouxe consigo uma rigidez que afastava qualquer hipótese
01:54que parecesse supersticiosa.
01:56E poucas ideias pareciam mais folclóricas do que de pedras cósmicas despencando do firmamento.
02:02Mas essa percepção equivocada começa a mudar, graças a um personagem inusitado, um herói improvável dessa história.
02:10Se você fizer vibrar uma chapa metálica presa em seu ponto central,
02:14e essa chapa estiver coberta por uma fina camada de areia,
02:18os grãos irão saltar e se acumular em certos pontos,
02:21formando padrões que dependem da frequência da vibração e do ponto central onde ela foi aplicada.
02:28Esses padrões ficaram conhecidos como figuras de Kladni,
02:31em alusão ao músico alemão Ernst Kladni, que descobriu o fenômeno.
02:36Só que além de músico, Ernst Kladni também era físico,
02:44e ficou intrigado quando seu amigo George Lichtenberg lhe contou sobre um bólido
02:48que ele havia visto em 1791.
02:52Kladni resolveu investigar o caso e coletou inúmeros relatos do mesmo fenômeno,
02:57além de casos semelhantes de outros bólidos e quedas de rochas na Europa e na América do Norte naquele século.
03:04Em 1794, ele publicou um pequeno livro intitulado
03:08Sobre a origem das massas de ferro encontradas por Palas e outros semelhantes a ela
03:13e sobre alguns fenômenos naturais associados.
03:17Amém.
03:18Um título comprido e uma ideia ousada.
03:21Os meteoritos vinham do espaço.
03:24Numa época em que sequer sabíamos da existência de asteroides,
03:27Kladni propôs que os meteoritos eram fragmentos de corpos celestes
03:30que ou sobraram do processo de formação dos planetas
03:33ou eram detritos gerados por grandes impactos.
03:37Nada de relâmpagos petrificados ou lendas rurais.
03:41Kladni falava de pedras reais moldadas pelo cosmos e arremessadas contra a Terra.
03:46Fantástico.
03:47Mas, claro, ele foi ridicularizado.
03:50A maioria dos cientistas da época torceu o nariz para a ideia que parecia romper com tudo o que se sabia.
03:55Ou se achava que sabia.
03:57Mas Kladni não se intimidou.
03:59Com poucos dados, baseando-se em relatos e em fragmentos reais de meteoritos preservados em coleções,
04:06ele traçou um raciocínio lógico, visionário e, com o tempo, impossível de se ignorar.
04:12Mesmo sem grandes instrumentos, ele plantou a semente da meteorítica,
04:16a ciência dos meteoritos.
04:19Mas faltava algo que Kladni não poderia oferecer.
04:21Uma prova irrefutável, testemunhada por muitos e estudada por um cientista respeitado.
04:27E essa prova viria em 1803 na pequena cidade de Léglie, na França.
04:32Na tarde de 26 de abril, o céu estremeceu e uma chuva de pedras caiu sobre a região,
04:38espalhando mais de 3 mil fragmentos em quilômetros de solo.
04:42Era impossível ignorar.
04:44Tantas pessoas viram o fenômeno, ouviram os estrondos e recolheram os pedaços.
04:47O impacto, literalmente e figurativamente, foi tão grande que o próprio governo francês resolveu intervir.
04:55Chamaram, então, Jean-Baptiste Biot.
04:58Físico, químico, membro da prestigiosa Academia de Ciências de Paris e pupilo direto de Laplace.
05:04Biot era respeitado, metódico e, acima de tudo, um cético.
05:09Enviado oficialmente à cidade, ele não apenas recolheu fragmentos, como também entrevistou dezenas de testemunhas,
05:16mapeou os locais de queda e analisou as rochas em laboratório.
05:20O resultado foi um relatório detalhado, cuidadoso, que confirmou aquilo que Cláudio lhe havia proposto quase uma década antes.
05:28Aquelas pedras não eram terrenas, tinham origem no espaço, e se caíram ali, poderiam cair em qualquer lugar.
05:36Aquilo foi o início da mudança.
05:39O relatório de Biot não apenas deu credibilidade à ideia de Cláudio, ele praticamente fundou a ciência moderna dos meteoritos.
05:47Pela primeira vez, a comunidade científica não poderia mais negar.
05:51A Terra, afinal, não era um mundo isolado e imperturbável.
05:55Estávamos, e estamos, em meio a um sistema cósmico extremamente dinâmico, onde os encontros são inevitáveis.
06:03A partir daí, o estudo dos meteoritos ganhou um novo status.
06:07Eles deixaram de ser rochas curiosas, fontes de lendas e desconfianças, para se tornarem verdadeiros presentes dos céus.
06:15Pistas importantes na compreensão do passado do nosso planeta e de todo o sistema solar.
06:21Alguns meteoritos são mais antigos que a própria Terra,
06:23formados antes do nosso planeta existir.
06:27Eles revelam segredos sobre a formação dos planetas,
06:30a química primordial do cosmos e até mesmo a origem da água,
06:33e dos blocos fundamentais para a construção da vida.
06:36Hoje, graças às bases lançadas por Cláudio e Biô,
06:40temos missões como a Hayabusa, do Japão, ou a Osiris-Rex, da NASA,
06:44que não apenas estudam, mas trazem amostras de asteroides para serem analisadas aqui na Terra.
06:49Sabemos identificar a composição química de meteoritos com precisão,
06:54rastrear suas origens e até simular os impactos que eles causariam se atingissem o nosso planeta.
07:00O que começou com uma hipótese ridicularizada,
07:03se tornou uma das áreas mais fascinantes e reveladoras da ciência planetária.
07:08E é por isso que, neste mês do Asteroid Day,
07:12vale a pena voltarmos a olhar para esses dois nomes que não estão nas capas dos livros escolares,
07:18mas que abriram caminho para uma nova forma de aprender com essas rochas espaciais,
07:23e por vezes também temê-las.
07:25Ernest Kladny e Jean-Baptiste Biô ousaram acreditar no improvável,
07:31questionaram o senso comum da época,
07:32e nos mostraram que, de vez em quando, recebemos a visita de extraterrestres.
07:38Não aqueles de olhos grandes em naves espaciais abduzindo nossas vacas,
07:43mas extraterrestres de rocha e metal,
07:46que nos contam as histórias fascinantes de nossas origens cósmicas.
07:51Bons céus a todos e até a próxima!

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