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Olhar Espacial os mistérios do maior impacto de asteroide da história recente
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00:00
O evento de Tunguska aconteceu em 30 de junho de 1908,
00:06
quando uma rocha espacial caiu na região da Sibéria, no então Império Russo.
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O impacto causou uma grande explosão e devastou milhares de quilômetros quadrados na região.
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Esse é o assunto de hoje da coluna Olhar Espacial, com ele, Marcelo Zurita.
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Boa noite, Marcelo. É com você.
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Olá, pessoal! Saudações astronômicas.
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Tente imaginar um camponês sentado ao lado de casa,
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surpreendido com uma bola de fogo mais brilhante que o sol cruzando o céu.
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De repente, um clarão ainda mais intenso.
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Uma rajada de calor faz com que ele sinta a pele queimando por baixo das roupas.
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Sem entender o que estava acontecendo, ele vê o céu se tornar avermelhado no horizonte,
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e toda a floresta abaixo parecia arder em chamas.
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Um grande cogumelo de fumaça se forma, e alguns minutos depois vem o pior.
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Um enorme estrondo.
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Uma onda de choque avassaladora varre tudo ao seu redor e o atinge jogando para longe.
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Isso poderia ser uma cena de um filme de ficção,
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mas foi um depoimento de um camponês que presenciou o que ocorreu na manhã de 30 de junho de 1908,
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nos confins da Sibéria, em um dos episódios mais intrigantes da história moderna.
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Às vésperas do Asteroid Day, data em que refletimos sobre os riscos que o impacto de uma rocha espacial
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pode representar pelo nosso planeta,
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é impossível não lembrar dessa história,
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e do cientista russo, que cruzou uma das regiões mais remotas da Terra
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para nos contar o que havia acontecido naquela manhã.
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Seu nome era Leonid Kulik,
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protagonista de uma das expedições científicas mais fascinantes do século XX.
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A expedição que buscava compreender o misterioso evento de Tunguska.
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Leonid Alexeyvich Kulik foi um mineralogista russo nascido na Estônia em 1883.
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Em 1904, ele ingressou no Instituto Imperial de Silvicultura, em São Petersburgo,
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mas foi expulso por participar de protestos estudantis.
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Naquela época, o Império Russo passava por uma crise política,
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que viria a desencadear a Revolução Comunista anos depois.
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Convocado, Kulik serviu o exército na Guerra Russo-Japonesa entre 1904 e 1905,
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e na Primeira Guerra Mundial.
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E entre uma guerra e outra, dividiu seu tempo entre os estudos e a cadeia,
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onde ficou preso por atividades políticas revolucionárias.
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Em meio a guerras e revoluções, Kulik desenvolveu o interesse especial pelos meteoritos.
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Em 1921, ele criou o Departamento de Meteorítica no Museu de Mineralogia de São Petersburgo,
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e organizou a primeira expedição para pesquisar candidatos a meteoritos na Sibéria e Saratov.
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Durante aquela viagem, ele se interessou particularmente pelos relatos vindos da região de Tunguska
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sobre um fenômeno celeste que Kulik concluiu se tratar de um grande impacto de uma rocha espacial.
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Mas somente em 1927, já formada em mineralogia e com a então União Soviética politicamente mais estável,
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é que foi possível a realização de uma expedição científica dedicada a estudar o evento ocorrido em Tunguska
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quase duas décadas antes.
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Kulik esperava encontrar uma cratera e um gigantesco meteorito,
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mas se deparou com um cenário assustador, marcado pela devastação e pelos mistérios.
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Aquela tarefa estava longe de ser simples, a região era e ainda é de difícil acesso,
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coberta por pântanos, densas florestas e um frio cortante.
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Por lá não passavam estradas nem linhas de trem, e os rios estavam constantemente congelados.
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Além disso, os poucos habitantes locais ainda falavam com receio sobre o fogo no céu,
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achavam que haviam sido castigados pelos deuses.
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Mas Kulik persistiu, enfrentou nevascas, doenças e condições extremas,
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conseguiu testemunhos suficientes para estimar a trajetória da rocha espacial
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e alcançar o epicentro da explosão.
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E o que ele encontrou ali o deixou perplexo.
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As árvores estavam todas deitadas como se tivessem sido varridas por uma onda de choque.
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A explosão parecia ter se propagado a partir de um ponto central,
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onde ele se deparou com algo ainda mais intrigante.
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Os troncos verticais dos pinheiros estavam todos de pé,
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mas seus galhos haviam sido arrancados por uma força vinda de cima.
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E, para o seu espanto, não havia cratera alguma.
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Não havia buraco, nem meteoritos e nem mesmo vestígios de um corpo celeste.
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Só lama, árvores queimadas e um silêncio inquietante.
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Aquilo não fazia sentido.
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Se impactos muito menores haviam deixado farta quantidade de meteoritos,
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por que não haviam toneladas deles ali?
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Kulik passou anos procurando por eles.
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Fez novas expedições na década de 1930.
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Vasculhou o solo, drenou pântanos inteiros,
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cavou buracos e, quanto mais cavava, mais profundo se tornava aquele mistério.
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Mesmo assim, Kulik jamais abandonou a hipótese do impacto.
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Estava convencido que o evento de Tunguska era o resultado de uma colisão cósmica,
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ainda que os detalhes lhe escapassem.
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Infelizmente, seu trabalho foi novamente interrompido por um novo conflito,
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a Segunda Guerra Mundial.
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Kulik defendeu seu país da invasão alemã, mas foi ferido e capturado.
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Acabou morrendo em 1942 em um campo de concentração nazista,
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sem conseguir resolver o grande enigma ao qual dedicou a sua vida estudar.
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Mas graças aos esforços iniciados por ele e aos estudos realizados nas décadas seguintes,
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hoje sabemos que impactos desta magnitude produzem energia suficiente
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para vaporizar completamente grande parte da rocha espacial.
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Os dados levantados em campo por Kulik sugerem que um asteroide rochoso,
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com cerca de 70 metros de diâmetro,
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atingiu a Terra a mais de 20 quilômetros por segundo naquele 30 de junho de 1908.
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Ele teria explodido entre 5 e 10 quilômetros de altitude,
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liberando energia equivalente a mil bombas nucleares.
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O calor da explosão incendiou as árvores e a onda de choque devastou a floresta,
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gerou tremores de terra detectados em sismógrafos de toda a Europa
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e lançou no ar as pessoas que estavam a até 65 quilômetros de distância,
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como o camponês citado lá no início.
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Apesar de não ter resolvido totalmente o enigma,
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Kulik estava certo,
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e seu trabalho foi fundamental para a nossa compreensão dos grandes impactos cósmicos.
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Hoje, o asteroide Day é celebrado todos os anos em 30 de junho,
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justamente em alusão a Tunguska,
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o maior evento de impacto da história recente da humanidade.
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Uma forma de lembrar que essas colisões cósmicas
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não são apenas coisas de dinossauro desavisado ou de Hollywood.
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Graças a Leonid Kulik,
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conhecemos a extensão dos danos causados por um asteroide relativamente pequeno,
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e podemos imaginar o que aconteceria se algo assim ocorresse sobre uma grande metrópole.
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Isso, sem dúvida,
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nos mostra a importância de seguirmos vigilantes com os olhos no céu e os pés na Terra,
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protegendo o nosso planeta dos perigos vindos do espaço.
07:03
Bons céus a todos e até a próxima!
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