- 27/05/2025
No programa Direto ao Ponto desta segunda-feira (26), Evandro Cini entrevista Walter Feldman, ex-secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A conversa abordará os bastidores da CBF, a saída turbulenta de Ednaldo Rodrigues da presidência, a ética no futebol, relação entre política e esporte, além dos rumos do futebol brasileiro dentro e fora de campo
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NotíciasTranscrição
00:00:00seguinte.
00:00:06Direto ao ponto. Muito boa
00:00:11noite, bem-vindos ao Direto ao
00:00:12Ponto. É muito bom ter a
00:00:13companhia de vocês em mais esta
00:00:14segunda-feira. Vocês podem nos
00:00:16acompanhar pela TV, pela Rádio
00:00:18Jovem Pan e pelo aplicativo
00:00:19Panflix. Nós também estamos nas
00:00:22redes sociais. Siga a gente lá.
00:00:23Hoje o nosso programa recebe o
00:00:25ex-secretário-geral da CBF,
00:00:27Walter Feldman. Walter, seja
00:00:29bem-vindo ao nosso convite. A
00:00:30gente que agradece. Me deixa
00:00:32apresentar também a nossa
00:00:33bancada. Estarão comigo, Vitor
00:00:35Guedes, chefe da sucursal São
00:00:37Paulo do Lance e comentarista
00:00:39UOL. Flávio Prado, comentarista
00:00:41aqui na nossa Jovem Pan.
00:00:42Robson Morelli, editor do The
00:00:44Football e Fábio Piperno,
00:00:46também comentarista aqui da
00:00:47Jovem Pan. Antes da gente abrir
00:00:49o espaço pras perguntas, vamos
00:00:51acompanhar um pouquinho da vida
00:00:52da história de Walter Feldman.
00:00:57Médico formado pela Escola
00:00:59Paulista de Medicina da
00:01:01Universidade Federal de São
00:01:03Paulo. Walter Feldman iniciou
00:01:06carreira no poder público em
00:01:08mil novecentos e oitenta e três
00:01:10quando foi eleito vereador. Em
00:01:12mil novecentos e noventa e
00:01:14quatro elegeu-se como deputado
00:01:16estadual por São Paulo. Foi
00:01:18escolhido por Mário Covas para
00:01:20ser secretário-chefe da Casa
00:01:22Civil do Governo Estadual. Em
00:01:24dois mil e um Feldman se tornou
00:01:26presidente da Assembleia
00:01:28Legislativa de São Paulo. Foi
00:01:30eleito deputado federal em dois
00:01:32mil e dois. Licenciado do cargo
00:01:35na Câmara dos Deputados, Feldman
00:01:38foi nomeado secretário municipal
00:01:40de esportes, lazer e recriação
00:01:42da cidade de São Paulo em dois
00:01:44mil e sete. Em abril de dois mil
00:01:46e quinze assumiu o cargo de
00:01:48secretário-geral da Confederação
00:01:50Brasileira de Futebol.
00:01:52Atualmente, Walter Feldman é
00:01:54presidente da Longevidade Expo
00:01:57Mais Fórum. Feldman, aproveitando
00:02:02sua presença aqui nesta
00:02:03segunda-feira, te pergunto, que
00:02:05mensagem você acredita que o novo
00:02:06técnico da seleção brasileira
00:02:08passou ao anunciar os convocados
00:02:10hoje? Boa noite. Boa noite.
00:02:11Muito boa, né? Primeiro, porque
00:02:13tem um histórico incrível,
00:02:15Ancelotti, no seu desempenho lá
00:02:17no Real Madrid, na Europa, e é
00:02:19um fato novo que a seleção
00:02:21brasileira é um fato que deu
00:02:24uma nova esperança, que resgate
00:02:26um histórico incrível que todos
00:02:28nós brasileiros temos muito
00:02:30orgulho e que nos últimos tempos
00:02:32foi um descalabro total em termos
00:02:34de resultado, de vitórias, de
00:02:37competições, ganhas. Ancelotti é
00:02:39uma novidade. Eu, particularmente,
00:02:41gostaria que fosse um outro
00:02:43técnico brasileiro. Acho que a
00:02:45seleção futebol está muito ligado
00:02:48à cultura e questões relacionadas
00:02:50à nacionalidade. Felipe Luiz.
00:02:52Meu nome é Felipe Luiz. Eu convi
00:02:54com ele na seleção. Você estava
00:02:56olhando os rostos aqui, as
00:02:58expressões dos nossos amigos,
00:02:59para ver se eles aprovam. Não,
00:03:01provavelmente não, porque... Mas
00:03:03ele já foi tentado, inclusive, já
00:03:05foi convidado. Mas eu acompanhei
00:03:07a performance dele como membro
00:03:10da seleção brasileira, seu papel
00:03:13de liderança. Logo em seguida,
00:03:15ele vai à CBF dizendo que ele
00:03:17queria fazer o curso de técnico
00:03:19ou seja, alguém que tinha uma
00:03:21previsão e um planejamento em
00:03:23relação à sua própria carreira,
00:03:25resultados extraordinários no
00:03:27comando do Flamengo. Eu acho que
00:03:29ele teria uma identidade muito
00:03:31grande com os jogadores do Brasil,
00:03:34com compreensão em campo, com
00:03:36visão estratégica. Eu acho que
00:03:38seria um grande nome para o
00:03:40Brasil. Nessa edição, a gente vai
00:03:42ter participações também do nosso
00:03:43repórter no Rio de Janeiro, Rodrigo
00:03:44Viga. Ele tem uma pergunta. Vai
00:03:46lá, Viga. Doutor Feldman,
00:03:48conversando com torcedores, pessoas
00:03:50que não são efetivamente ligadas
00:03:52ao mundo do futebol, todos dizem
00:03:54o seguinte, que técnico de seleção
00:03:56brasileira não tem autonomia para
00:03:57fazer a lista de convocados para um
00:03:59jogo, para uma eliminatória ou para
00:04:00uma Copa do Mundo. É verdade que
00:04:02essa lista já vem semipronta para
00:04:05o treinador na hora dele fazer a
00:04:07convocação? Olha, eu quero falar
00:04:09com toda a segurança, isso não
00:04:11existe. É claro que tem toda uma
00:04:14desconfiança do papel dos
00:04:16empresários, de uma pressão do
00:04:19ponto de vista empresarial, comercial,
00:04:21econômico, para que alguns jogadores
00:04:24sejam convocados, mas existe um
00:04:26trabalho que eu acompanhei muito na
00:04:28época do Tite, de avaliação dinâmica
00:04:32e permanente da situação de cada
00:04:37jogador em cada momento. São dados
00:04:40técnicos, são indicadores que revelam
00:04:43a probabilidade daquele jogador, naquele
00:04:46momento, poder ser convocado para a
00:04:49seleção. Isso é feito pela comissão
00:04:50técnica, portanto, tem uma visão
00:04:54coletiva que impediria que, independente
00:04:57disso, por fora, alguém pudesse
00:05:00influenciar para vir um nome diferente
00:05:02do que aqueles que estão sendo avaliados.
00:05:04Então, não há perda de autonomia no
00:05:08período que eu vivi do técnico da
00:05:10seleção brasileira para fazer
00:05:12diretamente a sua convocação.
00:05:14Flávio Prado. Walter Feldman, é um
00:05:17prazer falar com você mais uma vez. A
00:05:19gente conversava muito naquela época
00:05:21do seu trabalho na CBF. O que
00:05:24aconteceu, na verdade, com a seleção
00:05:26brasileira? Você consegue identificar um
00:05:28momento em que a seleção perde aquela...
00:05:32Nós, como um pouquinho mais velhos, a gente
00:05:33lembra, a gente parava de fazer as
00:05:35coisas para ouvir a convocação. Hoje,
00:05:37até aconteceu um pouquinho isso. Mas
00:05:39onde o Brasil deixou escapar essa
00:05:41ligação com o povo, essa coisa de... A
00:05:44seleção para tudo. Hoje, tem jogo que as
00:05:46pessoas nem sabem que existe.
00:05:48Eu acho, Flávio, tem vários fatores aí.
00:05:51Primeiro, porque o futebol mundial mudou.
00:05:53E o Brasil, provavelmente, não acompanhou
00:05:56a velocidade incrível, particularmente,
00:05:59trazido pela Europa. E houve, pelos meios
00:06:02de comunicação, hoje, o acesso a qualquer
00:06:04jogo de futebol, em qualquer lugar do
00:06:06mundo, perfeitamente possível e
00:06:09facilitado. Então, a sociedade brasileira,
00:06:12como a sociedade mundial, começou a
00:06:14acompanhar o futebol do mundo. Não apenas
00:06:16aquela informação que a gente tinha no
00:06:19nosso período, só com jogos do Brasil e
00:06:22diretamente acompanhando aquilo que é, na
00:06:25minha avaliação, nosso maior patrimônio
00:06:27internacional, que é a seleção brasileira.
00:06:29Eu diria que o futebol foi o grande
00:06:33orgulho do Brasil. Hoje, já não é mais. Nós
00:06:35ficamos um pouco no passado, na história,
00:06:37na lembrança, no resgate das memórias dos
00:06:41grandes jogadores, que ainda nós temos
00:06:43muito. E a culpa é de quem? Eu acho que
00:06:46tem vários fatores. Primeiro, a exportação
00:06:48precoce. A exportação precoce dos
00:06:52grandes jogadores brasileiros fez com que
00:06:55eles fossem perdendo características
00:06:58nossas, tropicais. Eles incorporaram muito
00:07:01as características lá da Europa. Então, a
00:07:03identificação desses jogadores conosco é
00:07:06uma identificação pelo seu nascimento,
00:07:09eventualmente pela sua origem, pela sua
00:07:12família, e na época só daquele momento.
00:07:15Ou seja, eles vêm para os jogos quando
00:07:17são convocados e voltam imediatamente. E
00:07:20é evidente que essa relação, quando havia
00:07:23no passado, ela tinha uma dinâmica própria,
00:07:26uma história de vida que fazia com que
00:07:29aquilo se refletisse no seu próprio
00:07:32desempenho em campo. E também a questão
00:07:35da tecnologia. Eu acho que nós trouxemos
00:07:38tecnologia, hoje tem muito, do ponto de
00:07:40vista da força física, das transformações
00:07:44musculares, hoje algo que a neurofisiologia
00:07:48trouxe com muito avanço, as questões
00:07:51genéticas, que nós temos avanços também,
00:07:55mas eles não são comparáveis àquilo que
00:07:57existe lá fora. Há uma profissionalização
00:08:00no futebol mundial que, na minha opinião,
00:08:03o Brasil não acompanhou. As gestões,
00:08:06as administrações, particularmente dos
00:08:08clubes, não acompanharam a modernização
00:08:12que, particularmente, os times europeus
00:08:14também fizeram. E nós perdemos essa
00:08:17identidade social, popular, de
00:08:20acompanhamento da torcida, já não existe
00:08:23mais, como o Flávio falou, ou seja, não
00:08:26existe mais essa identificação. Existe
00:08:28uma identificação com clubes europeus,
00:08:30Real Madrid, Barcelona, os times ingleses,
00:08:34onde a própria criança já se
00:08:36identifica, às vezes, mais rapidamente do
00:08:39que o seu próprio time brasileiro.
00:08:41Vitor Guedes. Prazer em entrevistar você,
00:08:43Walter Feldman, estar com colegas, que eu já
00:08:45dividi tantas coberturas e bancadas,
00:08:47histórias que eu não vou contar aqui, para
00:08:49não cair a transmissão no ar. Acho que o
00:08:52Feldman já está acostumado com histórias
00:08:54bastidores complicados. Você fez um
00:08:56cenário de alguns problemas do futebol
00:08:58brasileiro? Uma parte do problema, acho
00:09:00que não é culpa nossa e não tem solução,
00:09:02que é a globalização e a economia. O futebol
00:09:04está inserido no contexto, a economia
00:09:06brasileira, o cenário brasileiro, vale para
00:09:08outras áreas, vale para o futebol. Mas o
00:09:10que cabe à cartolagem, na época que o Flávio
00:09:13citou, e da Seleção Áurea, que eu era
00:09:15moleque ainda, os clubes não competiam
00:09:18com a Seleção Brasileira, eram sócios da
00:09:20Seleção Brasileira, era orgulho para o
00:09:22Santista ter o Pelé, para o Botafogo ter o
00:09:24Newton Santos, para o Corintiano ter o
00:09:26Rivelino, para o Colorado ter o Falcão, até
00:09:28o começo dos anos 80. A partir do momento
00:09:31que a Seleção prejudica o time que o
00:09:33cara torce e é apaixonado, tira o cara,
00:09:35devolve machucado, ou compete no mesmo
00:09:38dia com o jogo, você não acha que essa
00:09:40parte dá para a gente fazer melhor, essa
00:09:42parte que cabe à nossa direção da CBF, dos
00:09:44clubes, não fazer a CBF ser concorrente
00:09:47dos clubes? Acho que esse é um problema
00:09:48que está no nosso alçado, no nosso
00:09:50guarda-chuva e não é feito nada. Eu
00:09:52acho que esse é um tema muito interessante
00:09:54que, por exemplo, quando nós assumimos
00:09:57lá na direção da CBF, nós fizemos um
00:10:01grande debate nacional sobre todos os
00:10:04nossos problemas. Eu me lembro, nós fizemos
00:10:06uma comissão de reforma do futebol
00:10:08brasileiro, onde havia essa discussão
00:10:11das competições, papel da seleção, da
00:10:14arbitragem, da formação da juventude
00:10:18para poder trabalhar no futebol e nós
00:10:21identificamos muito isso, realmente um
00:10:23conflito entre o interesse dos clubes e
00:10:27o interesse da seleção. Eu acho que nós
00:10:29não construímos isso ainda. O atual
00:10:31presidente da CBF, vão tomar posse, ele
00:10:34dá um primeiro sinal de redução dos
00:10:36estaduais. Eu me lembro, toda imprensa
00:10:39brasileira defende que os estaduais sejam
00:10:42mais enxutos para que possa haver uma
00:10:46competição nacional de maior vigor, de
00:10:48maior presença, de tal forma que a
00:10:51gente reconheça que a maioria dos
00:10:54campeonatos estaduais perderam força.
00:10:56Ou seja, não há, muitas vezes, campeonatos
00:10:59estaduais que haja o interesse de
00:11:01transmissão, não há interesse econômico.
00:11:04O futebol é uma atividade empresarial.
00:11:06Se nós não compreendemos isso, a gente vai
00:11:09ter dificuldades em dar a dimensão como
00:11:12a Europa, particularmente, conseguiu
00:11:14transformando como um fato de caráter
00:11:18econômico, de representação, inclusive
00:11:20no PIB dos países, muito relevante. Por
00:11:23exemplo, no Brasil, o PIB do futebol é 0,7,
00:11:26no máximo. Nós fizemos essa análise
00:11:29quando lá estivemos, num trabalho
00:11:31juntamente com a Ernst & Young. Na Europa,
00:11:35equivale a 2% do PIB desses países.
00:11:38Mais do que o dobro, né?
00:11:40Imagina o significado disso. A gente lutava
00:11:42para chegar a 1%, mas chegava a 0,7.
00:11:45Envolve 150 mil trabalhadores, envolve
00:11:49já bilhões, mas que a correspondência do
00:11:53PIB é bastante inferior. Então, eu acho
00:11:55que tem a questão de compreender a
00:11:57dimensão econômica e nós temos que
00:12:00reduzir, como você bem analisou, esse
00:12:03conflito entre seleção e clubes, que é
00:12:06fato. Antigamente, um jogador de um
00:12:10determinado clube ser convocado era um
00:12:12orgulho para o clube e dava uma dimensão
00:12:15na representação que tinha para o clube
00:12:18também. Hoje, pelo contrário.
00:12:20O senhor fica louco, pede para me chamar.
00:12:22Eu me lembro do Flamengo, do Palmeiras,
00:12:25quando lá estivemos, discordando da
00:12:28convocação. Trabalhavam contra a
00:12:31convocação. Então, é relevante essa sua
00:12:33observação. Você acha que esse é um movimento
00:12:35também que acaba atingindo outros esportes?
00:12:37Porque quando a gente acompanha, vamos
00:12:39supor, os torneios internacionais
00:12:41relacionados a esportes como o voleibol,
00:12:43por exemplo, a gente tem visto vários
00:12:45jogadores mencionando que não vão
00:12:48participar da seleção. Querem descansar
00:12:50a mente, querem descansar o corpo. A gente
00:12:52viu isso acontecer recentemente agora na
00:12:54convocação da seleção italiana. Aqui no
00:12:56Brasil, também, alguns jogadores e jogadoras
00:12:58disseram que não vão participar, mesmo
00:13:00com sinalização dos técnicos. Você acredita
00:13:02que os jogadores hoje queiram focar mais
00:13:04na atuação nos clubes? Porque seriam os
00:13:06clubes nos quais os salários são pagos, os
00:13:10meses são vividos e para os quais a
00:13:12dedicação deveria ocorrer 100%? Eu não tenho
00:13:15a menor dúvida. Como aquele economista
00:13:17fala, o que decide, muitas vezes, é a
00:13:20economia. Ele até é meio agressivo,
00:13:23dizendo que a economia é estúpido. Para que
00:13:26a gente compreenda que, na verdade, a
00:13:28essência do sistema é com o nome. Quando
00:13:31o jogador é convocado para a seleção
00:13:33brasileira, qual é o ganho do clube em
00:13:35relação a isso? Ele só tem perda. Como você
00:13:38mesmo disse, ele volta machucado, é um
00:13:40período onde o clube não tem os
00:13:42resultados financeiros desejados e a
00:13:46CBF não paga por isso. Paga para o
00:13:50jogador, mas o clube, evidentemente, que
00:13:52tem a sua perda. E o clube, hoje, a gente
00:13:54acompanhou muito o fair play financeiro,
00:13:57as dificuldades de sobrevivência, as
00:13:59dívidas dos clubes são cada vez piores,
00:14:02alguns deles insolúveis, a gente sabe
00:14:05disso a curto prazo. Então, é evidente
00:14:08que isso causa lesões econômicas em
00:14:11relação a qual o futebol não pode mais
00:14:14sobreviver. Lesão é um bom termo. Vai lá,
00:14:16Morelli. Boa noite, Walter. Eu não
00:14:19consigo olhar para o Walter sem chamá-lo
00:14:20de secretário. Os bastidores do Morelli,
00:14:24tá bom? Secretário, boa noite. Secretário,
00:14:27secretário, não é mais secretário. Boa
00:14:29noite, boa noite, Flávio, que eu ouço
00:14:31também desde molequinho, desde molequinho. O senhor
00:14:34falou de esperança com o novo
00:14:37treinador da CBF, da Seleção
00:14:40Brasileira. Essa esperança, ela acontece
00:14:42também em relação ao novo presidente
00:14:45da CBF, que é um presidente que foi
00:14:49eleito pelas federações, 26, e no
00:14:53primeiro ato falou que vai diminuir as
00:14:56datas dos estaduais. Eu até entendo
00:14:58fazer isso em Roraima, que são oito
00:15:01clubes, tem dez datas no Acre, em
00:15:05Alagoas, no Amapá, mas como é que vai
00:15:08fazer isso em São Paulo, no Rio de Janeiro?
00:15:10É possível?
00:15:13Bom... Esperança, esperança. Não, primeiro
00:15:18o seguinte, a mudança do presidente da
00:15:22CBF é uma esperança. Independente, nós
00:15:26conversávamos aqui antes de começar o
00:15:28programa, independente da consertação que
00:15:32houve, para usar uma palavra bastante
00:15:35elegante, mas realmente a gestão do
00:15:38ex-presidente Edinaldo deixava muito a
00:15:41desejar em todos os aspectos. Se não fosse
00:15:43usar uma palavra elegante, que palavra o
00:15:45senhor usaria? Eu prefiro ficar nela,
00:15:47melhor, mas... Até por ser um homem elegante.
00:15:50Não, mas um desastre, um desastre, e eu
00:15:53convivo com o Edinaldo seis anos, no
00:15:56momento que eu estive lá. Realmente uma
00:15:59pessoa que não tinha nenhuma dimensão
00:16:01para ser o presidente da CBF, no nível
00:16:04que nós esperamos hoje. Eu, por exemplo,
00:16:06acho que o futebol é uma atividade de
00:16:09dimensão econômica tão relevante e tão
00:16:12significativa para a nacionalidade, para o
00:16:16espírito cívico, para aquilo que o Brasil
00:16:19representa, que deveria ser uma gestão
00:16:22moderna, tá certo? Deveriam ser gestores
00:16:26absolutamente treinados para essa função.
00:16:29Não poderia ser fruto de uma
00:16:32concentração política. Eu acho isso para
00:16:35política também, né? Vivi na política
00:16:38muito tempo, a gente sabe, muitas vezes,
00:16:41o desastre de escolhas absolutamente
00:16:43democráticas, mas não reflete o
00:16:46funcionamento das sociedades democráticas
00:16:49modernas, porque precisam ter novos
00:16:52modelos. E talvez tenha aí o debate da
00:16:55nova democracia, que um dia a gente vai
00:16:57ter que repensar. Então, eu diria que a
00:17:02eleição do presidente da CBF, ao tirar o
00:17:06Edinaldo, gera uma esperança. Agora, ele é
00:17:09fruto de uma eleição feita por
00:17:11federações. Então, é como você imaginar
00:17:16que o presidente do Brasil possa ser
00:17:19eleito pelos governadores de Estado.
00:17:22Onde que tá a representação popular,
00:17:24social e no futebol tem um elemento
00:17:27adicional, além da torcida, que são os
00:17:30clubes. Qual foram os papéis
00:17:34dos clubes na eleição do atual
00:17:37presidente? E o futebol são clubes, em
00:17:40sua essência, seleção é de vez em
00:17:43tudo. Como é que foi a representação?
00:17:46Então, não dá para negar que essa
00:17:48consertação, ela tem vácuos vazios que
00:17:53são dramáticos para aquilo que se espera
00:17:56na nossa nova esperança. Então, é
00:17:59evidente que ele deve representar mais
00:18:01as federações do que os clubes, mas esse
00:18:04é o sistema. Esses dias eu estava lendo
00:18:06alguns filósofos e tal, há um debate
00:18:09sobre alguns filósofos importantes que
00:18:12formataram o pensamento ocidental, nós
00:18:14temos que trabalhar com a realidade.
00:18:16O Flávio dizia aqui no começo, mas foi
00:18:19genial a retirada do Edinaldo e foi
00:18:22genial a escolha desse presidente, mas
00:18:25não tem nada a ver com a sociedade, é uma
00:18:28coisa particular. Uma coisa deles lá.
00:18:31Deles, tá certo. Vai ser bom? Bom, nós não
00:18:36vamos influir se vai ser bom ou não,
00:18:38eles que vão decidir. Qual vai ser o
00:18:40papel da imprensa, da sociedade? Reclamar,
00:18:42criticar, opinar em algum momento, mas
00:18:46sem interferir em absolutamente nada do
00:18:49funcionamento daquele sistema. São sistemas
00:18:53próprios que, portanto, não refletem a
00:18:56opinião de uma sociedade. Só antes de
00:18:58passar para o Piperno, ele mencionou também,
00:19:00te questionou sobre o tamanho dos
00:19:02campeonatos, como é que o senhor avalia?
00:19:05Ele falou bem, ou seja, como é que você
00:19:08reduz data aqui no campeonato paulista,
00:19:11que é um campeonato de peso. São 16
00:19:14datas, ele quer um... Paga bem os clubes.
00:19:16Então, e que paga bem e que tem uma
00:19:19representação social relevante, ou seja,
00:19:22o torcedor quer muito ganhar um
00:19:24campeonato paulista, tá certo? O campeonato
00:19:27carioca, o campeonato mineiro, alguns
00:19:30outros campeonatos, o campeonato gaúcho,
00:19:33talvez os outros têm enorme dificuldade
00:19:37de sobreviver. E times que, de certa forma,
00:19:39representam torcedores nacionais, mesmo
00:19:41havendo os campeonatos estaduais, né?
00:19:43Exatamente. Embora a pessoa torça para o
00:19:45clube local, mesmo assim ele pode ser
00:19:47corintiano, palmeirense, são paulino,
00:19:49flamenguista. Então, eu acho, ele
00:19:52anunciou e ele anunciou porque ele quis
00:19:56fazer uma sinalização, particularmente
00:20:00para aqueles que ele representa, na
00:20:04maior parte dos estados brasileiros, né?
00:20:06O Nordeste, o Norte, que tem um espaço
00:20:11de atuação nos campeonatos estaduais que
00:20:13permite uma redução desse tipo, em
00:20:16campeonatos mais precisivos vai ser
00:20:18muito difícil, vai ser uma luta política
00:20:21importante, talvez com essa quebra do
00:20:25papel da Federação Paulista nessa eleição,
00:20:28talvez ganhe mais força por causa disso,
00:20:32porque houve um alijamento da Federação
00:20:34Paulista, ou um conflito, não é exatamente
00:20:37um alijamento, mas é o problema maior, é
00:20:40São Paulo que tem o seu campeonato mais
00:20:42expressivo, mas não dá para negar também
00:20:45que uma parte do atual comando da CBF tem
00:20:50origem na formatação das ligas, né?
00:20:53Então, significa um fortalecimento dos
00:20:57campeonatos nacionais. Então, tem alguns
00:21:00elementos aí que a gente vai ter que
00:21:02esperar um pouco, está muito recente a
00:21:04eleição do atual presidente, mas está
00:21:06muito concreto que haverá um conflito
00:21:09que terá que ser administrado. Eu não
00:21:11tenho clareza se essa atual
00:21:14administração da CBF terá capacidade
00:21:16política de gerenciar os conflitos que
00:21:20já estão sendo anunciados.
00:21:22Vai lá, Piperno.
00:21:24Feldman, então você termina falando em
00:21:26capacidade política. Vamos lá.
00:21:28Você exerceu vários mandatos
00:21:30parlamentares, você também foi
00:21:32executivo de governos.
00:21:34Aí, você vem para o esporte, para uma CBF
00:21:37e uma CBF que, se a gente pensar nos
00:21:41últimos cinco presidentes,
00:21:43Ricardo Teixeira foi banido do futebol,
00:21:46Zé Maria Marim foi em cana, preso
00:21:48pelo FBI, depois o Marco Polo não pode
00:21:51usar passaporte e os últimos dois tiveram
00:21:54problemas policiais, né?
00:21:56Então, aí, respondendo até hoje,
00:21:58enfim, é processo especialmente agora
00:22:00o Edinaldo. Muito bem.
00:22:02O Edinaldo, o novo presidente, o Schaud,
00:22:05ele chega também muito bem conectado
00:22:10com caciques políticos importantes,
00:22:14a família Sarney,
00:22:16o dono do MDB lá de, enfim, de Roraima,
00:22:21o Jader, o...
00:22:23Mário Jucá.
00:22:24Exatamente, o Jucá, que já foi líder de governo,
00:22:27tem conexões com a justiça e cria, então,
00:22:34a sua base de sustentação em cima disso.
00:22:37Eu queria te perguntar o seguinte,
00:22:39é possível, por que que hoje,
00:22:42um dirigente da CBF precisa de tanto suporte
00:22:46na justiça e na política?
00:22:49Bela pergunta, hein?
00:22:52É...
00:22:54Você sabe que ir pra CBF não foi fácil.
00:22:58Eu tinha uma carreira política grande aí,
00:23:02mais de 30 anos,
00:23:04e quando eu fui pra CBF, eu apanhei de todo mundo.
00:23:07Falei, o que que você vai fazer naquele lugar,
00:23:10naquele antro?
00:23:13Eu vou contar uma história aqui que eu nunca contei.
00:23:16Eu tive um almoço com o Jucá Guifure,
00:23:19que até então era muito meu amigo,
00:23:22e aí...
00:23:24É a primeira vez que eu falo essa história, Flávio.
00:23:27Aí, nossa, no almoço, ele falou,
00:23:29Volta, o que que você vai fazer lá?
00:23:31Eu falei, olha, eu vou fazer algo que
00:23:33nós aprendemos na política,
00:23:35que é aproveitar uma oportunidade
00:23:37pra você, por dentro, poder fazer alguma mudança.
00:23:41Falei, inclusive essa sempre foi uma tática
00:23:44do Partido Comunista Brasileiro,
00:23:46no qual o Jucá tinha a sua simpatia.
00:23:49Falei, olha, os comunistas fizeram muito isso
00:23:52no Exército, nas instituições, nos sindicatos.
00:23:55Falei, eu vou fazer isso,
00:23:57eu vou comer o passado político.
00:24:00Felizmente, eu saí da política sem nenhuma...
00:24:03sem nenhum lava-jato.
00:24:05Falei, eu acho que eu posso dar a minha contribuição.
00:24:08Eu tinha sido secretário de esportes,
00:24:10tinha meditado muito aí na questão do futebol em São Paulo,
00:24:13junto à Federação Paulista.
00:24:15Sai do restaurante, o Jucá fala,
00:24:17olha, a partir de hoje eu vou te chamar de ladrão.
00:24:21Pra mim?
00:24:22Bom, bom, bom.
00:24:24Não estou entendendo, o almoço foi tão bom.
00:24:27Eu tentei te explicar o...
00:24:29Não, entrou na CBF é ladrão.
00:24:32É assim que eu vou tratar a tua participação lá.
00:24:36E, realmente, seis anos, apanhei demais.
00:24:40Chinelada.
00:24:41Chinelada.
00:24:42E, olha, eu vou dizer,
00:24:44eu acho que nós fizemos mudanças importantes.
00:24:46Nós contratamos a Ernest Young,
00:24:49que é uma consultora inquestionável
00:24:51do ponto de vista da sua qualificação.
00:24:54O nível de gestão da CBF naquele período
00:24:57era 2%, interpretado pela Ernest Young.
00:25:01Nós tínhamos um conselho de patrocinadores
00:25:04que nos cobrava e dizia,
00:25:06vocês não vão conseguir atingir 10%.
00:25:08Nós atingimos 96% de modelo de gestão,
00:25:12de governança, de compliance,
00:25:14de gestão de risco, de auditoria,
00:25:17de criação de comissão de ética.
00:25:20Isso não mudou a imagem da CBF.
00:25:24Mas por que eles precisam de tanto suporte,
00:25:27então, político e de juízes,
00:25:29importantes tribunais, importantes?
00:25:31Porque é o seguinte, o Edinaldo, ao entrar lá,
00:25:34a entrada do Edinaldo com a saída do Caboclo
00:25:37foi uma entrada, eu diria, oportunista.
00:25:41Não havia opção, né?
00:25:44Em relação àqueles que naquele momento
00:25:46tinham um papel e uma presença
00:25:49e um comando indireto da CBF
00:25:52e consideravam que o Edinaldo seria a figura mais dócil.
00:25:56Então, vamos botar ele aí.
00:25:58Manipulável.
00:25:59Para ir levando e tal.
00:26:01E o Edinaldo mostrou uma personalidade muito complexa.
00:26:05Uma visão muito centralizadora,
00:26:09uma visão de domínio absoluto do sistema,
00:26:14de relação única e exclusivamente com as federações
00:26:18e um sentimento que eu chamaria, assim, na minha formação,
00:26:23pouco paranoide, com muito medo de que houvesse
00:26:28uma invasão do seu domínio e tal.
00:26:30Então, foi uma gestão muito fechada
00:26:33e com perda enorme da representatividade internacional.
00:26:37Ou seja, o Fernando Sarney, com quem eu convivi muito,
00:26:41é alguém que tinha um prestígio na FIFA extraordinário.
00:26:46A movimentação dele era uma coisa que me impressionava
00:26:49nos congressos que eu participava.
00:26:51Na Cobembol, da mesma forma.
00:26:53O Edinaldo retira essa representação internacional
00:26:56e centraliza para ele, sem nenhuma capacidade
00:27:00de se relacionar internacionalmente.
00:27:03Então, hoje, nós não temos representação na FIFA.
00:27:06Nem na Cobembol. Foi para a Argentina.
00:27:09Jamais o Brasil perderia esse espaço e esse papel.
00:27:15Bom, então, o que aconteceu com o Edinaldo, na minha avaliação,
00:27:20que dá essa mudança dos tempos de hoje
00:27:24e que vai ter uma grande influência sobre o Samir,
00:27:29que é o que a gente chama de judicialização do futebol
00:27:34e de politização do futebol.
00:27:37Ou seja, para se manter no poder, o Edinaldo teve que se relacionar
00:27:43no plano da política e do poder judiciário,
00:27:47para poder se manter.
00:27:49Isso, evidentemente, contamina o sistema.
00:27:52Tira a independência e autonomia exigida pela FIFA.
00:27:57Vocês sabem que não pode haver interferência.
00:28:01E a FIFA intervém quando isso acontece.
00:28:03Só que não é tão explícito.
00:28:05Mas o Edinaldo, na minha avaliação, foi a grande causa
00:28:09disso que você falou e que permitiu que ele ficasse
00:28:13um período relativamente longo por esse histórico
00:28:17que você mesmo disse.
00:28:18Normalmente, quando você tem fraqueza,
00:28:20o sistema encontra caminhos para retirar.
00:28:24Demorou muito para retirar o Edinaldo,
00:28:27mas não dá para negar que houve uma contaminação
00:28:30da política e da justiça no comando do futebol brasileiro.
00:28:34Vai lá, Viga, faz mais uma.
00:28:38Doutor Feldman, tem uma avaliação.
00:28:40Acho que a CBF já deixou de ser uma confederação.
00:28:44Passou a ser uma empresa comercial.
00:28:46Você acha que é por isso que há tanto interesse,
00:28:48tanta disputa pelo comando da entidade maior do futebol brasileiro?
00:28:53Você pega de Ricardo Teixeira para cá, em média,
00:28:55os presidentes ficaram 14 meses.
00:28:5712 meses, um ano e dois meses nos cargos, doutor Feldman.
00:29:03Não, eu acho o seguinte, se fosse uma empresa,
00:29:06como eu acho que deveria ser,
00:29:08eu acho que o futebol deveria ter um modelo de gestão
00:29:11absolutamente profissional, eu não diria comercial,
00:29:14eu diria empresarial, mas que respeitasse a sociedade,
00:29:18algo que tivesse um caráter público,
00:29:22como se fosse uma paraestatal,
00:29:26que tivesse um acompanhamento da sociedade,
00:29:29eu não diria um controle, mas uma supervisão,
00:29:32um debate mais aberto dos problemas internos,
00:29:36eu acho que a gente avançaria.
00:29:39A ideia da SAF é exatamente essa,
00:29:42ou seja, você profissionalizar o comando do futebol
00:29:46e colocar na gestão aqueles que têm uma experiência acumulada.
00:29:51Isso daí a gente sabe,
00:29:54ou seja, não dá para você tocar uma grande empresa
00:29:57se ela não tiver gestão.
00:29:59Não dá para você tocar uma estatal se não tiver gestão.
00:30:03É o problema, muitas vezes, da política,
00:30:05que traz mais políticos que não têm nenhuma experiência
00:30:08e desviam, seja do ponto de vista moral,
00:30:12seja do ponto de vista da qualidade do seu comando.
00:30:15Então, na minha avaliação,
00:30:17o futebol tem que ter gestão profissional,
00:30:20pode até ter, eventualmente,
00:30:23um nível de participação de caráter democrático
00:30:27na sua escolha,
00:30:29mas a gestão em si tem que ser profissional.
00:30:32É o que os clubes estão caminhando,
00:30:35porque sem isso não há saída no equilíbrio financeiro,
00:30:41no equilíbrio em relação à busca de resultados.
00:30:44Então, eu diria que não é uma empresa comercial,
00:30:48mas é uma empresa fechada com muito dinheiro.
00:30:53Esse é um problema também, ou seja,
00:30:55qualquer entidade... Eu vivi isso na política.
00:30:58Por que os políticos, muitas vezes,
00:31:00querem secretarias ou ministérios que têm muito dinheiro?
00:31:06É apenas para fazer atendimento à sociedade?
00:31:10É para manipular recursos que, muitas vezes,
00:31:14não têm o controle que deveria ser mais adequado.
00:31:17Então, eu acho que a CBF ter o recurso que tem,
00:31:22capacidade que teria de dar um salto
00:31:26na qualificação do futebol brasileiro,
00:31:29só pode acontecer se os patrocinadores,
00:31:33que são as grandes fontes que viabilizam
00:31:38tanto o funcionamento da seleção
00:31:40como parte do funcionamento dos campeonatos brasileiros,
00:31:44exigissem um modelo de gestão diferente do que está aí.
00:31:48Não há outra forma.
00:31:50Pode o povo brasileiro chiar,
00:31:52pode a imprensa falar o que quiser,
00:31:55mas não vai mudar.
00:31:56Tem que mexer na origem financeira do sistema.
00:32:01É um sistema, não vai nunca deixar de ser um sistema,
00:32:05mas se não tiver uma orientação por parte dos patrocinadores,
00:32:10não tem como mudar.
00:32:12Vai lá, lá do prato.
00:32:14Carlos Irmão, você passou muitos anos na política
00:32:16e muitos anos no futebol.
00:32:18Uma vez eu perguntei para o Rubem Forlan
00:32:21onde ele viu mais corrupção, na política ou no futebol.
00:32:24E faço essa pergunta para você.
00:32:26Política ou futebol, onde é pior?
00:32:28Boa pergunta.
00:32:29Ou seja, você sabe que depois que eu participei das duas,
00:32:32eu fiquei muitas vezes pensando nas semelhanças e nas diferenças.
00:32:37Eu diria o seguinte,
00:32:40o futebol é mais complicado do que a política.
00:32:43Por quê?
00:32:44Porque é um sistema fechado.
00:32:47É um sistema que não acumulou aperfeiçoamentos
00:32:54que a política conseguiu trazer.
00:32:56Então, se você for ver o sistema,
00:32:59toda a evolução da sociedade humana,
00:33:03desde o feudalismo, o capitalismo,
00:33:06os debates ideológicos,
00:33:08a contribuição dos filósofos,
00:33:10a participação da sociedade,
00:33:12o voto da mulher,
00:33:15a abolição da escravidão,
00:33:17tudo isso, de certa forma,
00:33:19interfere na construção de um sistema político.
00:33:23Com um grande debate da sociedade,
00:33:26hoje cada vez mais abrangente.
00:33:30Então, a política é permeável
00:33:34a uma sociedade que se movimenta.
00:33:37Futebol não.
00:33:40No futebol estamos no modelo feudal.
00:33:43Eu acho.
00:33:44O futebol é pior em termos de corrupção,
00:33:47de tudo, ele está mais suscetível.
00:33:49Porque você tem feudos.
00:33:51Em termos de corrupção, Flávio, eu diria o seguinte,
00:33:55é um sistema fechado,
00:33:57portanto as informações que você tem são menores.
00:34:00Por exemplo, o futebol não tem
00:34:02uma avaliação de Ministério Público,
00:34:05não tem um Tribunal de Contas,
00:34:07o Conselho Fiscal é escolhido pelos próprios dirigentes.
00:34:12Então, existe um temor, por exemplo...
00:34:17E mesmo assim o Piper não elencou aqui
00:34:19a cascata de escândalos e desgraças que aconteceram.
00:34:21Porque é fechado, ou seja, qualquer sistema fechado...
00:34:24Eu me lembro de um amigo,
00:34:26ele era presidente do sindicato, ele dizia o seguinte,
00:34:28olha, eu sou moralista,
00:34:30eu sou profundamente cristão,
00:34:33eu respeito as regras,
00:34:37agora, se desligar a luz,
00:34:39eu não sei do que eu sou capaz.
00:34:45É genial, porque...
00:34:49Sistemas fechados, eles não têm luz.
00:34:53Então, só participa quem está lá dentro.
00:34:57Então, isso que eu digo,
00:34:59quando o Juca nos chamava de ladrão e tal,
00:35:02nós fizemos por dentro uma transformação
00:35:04para abrir o sistema.
00:35:06Por que o Rogério Caboclo cai?
00:35:09Porque nós, da diretoria, pedimos a saída dele.
00:35:16Através da Comissão de Ética, que não existia.
00:35:19Havia um Código de Ética.
00:35:21Ou seja, com o Código de Ética e Comissão de Ética,
00:35:24o Reinaldo já teria que ter saído.
00:35:26Ou esse sistema de escolha já teria que ter mudado.
00:35:30Então, às vezes, não adianta você criar sistemas internos
00:35:33se não tem uma sociedade acompanhando.
00:35:36Então, eu diria, Flávio, que,
00:35:38do ponto de vista da organização,
00:35:41o futebol é muito mais fechado,
00:35:44portanto, ele é mais permeável a desvios.
00:35:48Eu não vou dizer corrupção,
00:35:50apesar de tudo que você falou.
00:35:53Eu entendo perfeitamente.
00:35:55Mas eu vivi seis anos e eu não vi isso.
00:35:58Eu estou sendo muito sincero.
00:36:00Eu poderia hoje dizer,
00:36:02olha, vou contar tudo o que eu sei.
00:36:04Eu não vi.
00:36:06Ou seja, a gestão do Caboclo,
00:36:08do ponto de vista administrativo, financeiro, controle fiscal,
00:36:11era um negócio rigorosíssimo.
00:36:14De prestação de contas, de transparência.
00:36:19Porque era a exigência que a Ernst & Young nos fez
00:36:22para nos dar o selo.
00:36:24E a FIFA já reconhecia a CBF como um modelo de gestão.
00:36:29Então, nós estávamos no caminho.
00:36:31Se não acontecessem aqueles episódios,
00:36:33possivelmente, hoje, a gente já teria um modelo diferente.
00:36:36Conseguiríamos levar para que os clubes tivessem mais atuação?
00:36:42Aí, talvez, a gente tivesse que
00:36:45ter uma sociedade um pouco mais atuante.
00:36:48Talvez.
00:36:49Vai lá, Guedes.
00:36:50Eu queria fazer um elogio.
00:36:51Você chamou o Caboclo, não,
00:36:53Edinaldo de incompetente, despreparado,
00:36:55com uma elegância que eu jamais teria.
00:36:57Então, eu queria me parabenizar por isso.
00:37:00Agora, assim, tendendo a trazer...
00:37:02Quem nos assiste lá para a sala aqui,
00:37:05a gente fala de CBF, Seleção,
00:37:07mas o cara que está vendo está pensando no Corinthians dele,
00:37:09no Parmeira, no São Paulo, no Santos.
00:37:11E essa coisa de autonomia que começou o programa,
00:37:14falando de Seleção,
00:37:15eu queria trazer para um tema que interessa a todo o torcedor.
00:37:17Ele tem certeza que o time dele é roubado
00:37:19e o rival é ajudado,
00:37:20que é a arbitragem.
00:37:22Estamos vendo o programa hoje,
00:37:23mas quem ver no YouTube daqui a um mês
00:37:25vai ser uma rodada que teve problema de arbitragem,
00:37:27que tem toda semana problema.
00:37:28E esse final de semana foi um escândalo.
00:37:30A CBF até hoje não conseguiu,
00:37:32não sei se teve a profissionalizar,
00:37:34mas separar.
00:37:35Porque, assim como você falou de política,
00:37:37como você trabalha nas dois meios,
00:37:39o ministro da Educação,
00:37:41ou do Trabalho,
00:37:42ou da Agricultura,
00:37:43é indicado pelo cara da Assembleia de outro estado,
00:37:46por causa do partido e tal.
00:37:48E a escala de arbitragem é um pouco assim.
00:37:50Quem vai ganhar o escudo FIFA é da federação tal,
00:37:52que tal presidente da federação quer o cara,
00:37:54e é muito incompetente.
00:37:56É muito difícil resolver esse problema,
00:37:58descentralizando o poder.
00:38:00Temos um dono à parte,
00:38:02o juiz não fica no guarda-chuva mais da CBF,
00:38:05nem da federação,
00:38:06ele tem autonomia para se errar,
00:38:07errar sem pai.
00:38:09Que eu acho que é um problema que a gente tem aqui,
00:38:11eu acho que é mais do que a profissionalização.
00:38:12Porque a profissionalização é um jeito de pagar mais para um amador.
00:38:16De tirar o poder de quem escala.
00:38:18Isso é possível?
00:38:19Você passou lá na CBF,
00:38:20não nessa função exatamente,
00:38:21mas como você viu essas coisas?
00:38:23Você acha que esse é um dos problemas que a gente vai,
00:38:25daqui a 30 anos vai estar o meu neto no programa reclamando,
00:38:27ou a gente vai resolver esse problema?
00:38:29A gente imaginava que o VAR iria resolver em grande parte.
00:38:34Mas isso não,
00:38:35aconteceu no nível que nós esperávamos.
00:38:38Eu diria que toda semana minha função na arbitragem
00:38:42era receber os clubes para reclamar.
00:38:44Ouvir.
00:38:45Ouvir.
00:38:46E nós vimos lá,
00:38:47vimos todas as jogadas,
00:38:50todos os problemas,
00:38:52os dirigentes em geral,
00:38:54o presidente,
00:38:55o diretor de futebol saíam decepcionados,
00:39:00tristes,
00:39:02sem mudar radicalmente aquela realidade.
00:39:05Eu acho que houve uma iniciativa importante
00:39:09que é melhorar a formação.
00:39:11Eu também acho que a profissionalização
00:39:13não traria algo muito adicional a essa questão.
00:39:19Mas tem que melhorar muito.
00:39:21Eu diria o seguinte,
00:39:23nunca constatei interesses exclusos de árbitros
00:39:30alterando resultados,
00:39:32até porque a visualização das jogadas
00:39:36levaria a um questionamento direto
00:39:39e ao comprometimento futuro desses árbitros
00:39:42que sobrevivem disso.
00:39:44Mas eu acho que nós temos que avançar radicalmente
00:39:48na qualificação dos profissionais.
00:39:51Houve uma iniciativa recente
00:39:53de criar uma escola muito mais qualificada
00:39:56e o Edinaldo rejeitou,
00:39:59dizendo dificuldades de recurso financeiro.
00:40:02E desvincular esses árbitros da CBF,
00:40:04no teu ponto de vista, não seria um caminho?
00:40:06Eu acho que pode ser um caminho.
00:40:08Não me parece ser esse o motivo estruturante,
00:40:14mas eu acho que essa é uma questão
00:40:17que a gente fez também no Comitê de Reformas.
00:40:19Eu acho que isso a gente precisava ouvir mais.
00:40:22A imprensa, ouvir as experiências internacionais,
00:40:27porque nessa área não pode haver dúvida.
00:40:31Além da manipulação de resultados,
00:40:33que é uma coisa dramática hoje em dia
00:40:36com a questão das bets e tal,
00:40:38eu acho que a gente precisa radicalizar
00:40:40a qualificação dos profissionais
00:40:42e aumentar o controle, a supervisão e a punição
00:40:46naquilo que for possível.
00:40:48Morelle, o Walter tem me deixado uma dúvida
00:40:51sobre o mau uso do dinheiro da CBF.
00:40:54Eu queria que você comentasse um pouco disso
00:40:56no tempo que você ficou lá dentro,
00:40:58no que você sabe agora, depois que você saiu.
00:41:00Você falou que é uma instituição rica,
00:41:03que tem muito dinheiro, e tem mesmo,
00:41:05a receita foi 2,5 bilhões,
00:41:10e o faturamento 1,2 bilhão.
00:41:13E os clubes são pobres,
00:41:15os clubes passam pires toda temporada
00:41:19com uma CBF riquíssima.
00:41:22Não tem alguma coisa errada em tudo isso?
00:41:25Eu acho que são questões meio diferentes.
00:41:30A CBF é alimentada pelos patrocinadores.
00:41:36Quase 90%,
00:41:40que tem contratos extraordinários,
00:41:42a começar da Nike,
00:41:44e grandes patrocinadores brasileiros.
00:41:48Então, de onde mais que vêm os recursos da CBF?
00:41:55Grande parte dos contratos dos campeonatos
00:41:58vai para os clubes, ou para a manutenção dos campeonatos,
00:42:02ou seja, pouco recurso vem para a CBF disso.
00:42:06Os jogos da seleção brasileira,
00:42:09pelo menos na minha época, davam recurso adicional,
00:42:12os contratos com os sistemas de comunicação
00:42:16davam contrato adicional,
00:42:18mas, de longe, o patrocinador era a grande questão.
00:42:21Então, tem um sistema próprio de financiamento,
00:42:25que não se relaciona com a sobrevivência dos clubes.
00:42:30Dá para dizer que aquilo que a CBF,
00:42:33estou dizendo no meu período,
00:42:35recolhia nas negociações com sistemas de comunicação,
00:42:40com aqueles patrocinadores eventuais,
00:42:44praticamente tudo ia para os clubes.
00:42:46Então, acho que aquilo que a CBF construiu
00:42:49de financiamento para a sua sobrevivência
00:42:55é diferente do que os clubes construíram.
00:42:58Então, o que acho que falta é a gente construir,
00:43:03e aí CBF, juntamente com os clubes,
00:43:05um modelo que possa financiar de maneira mais adequada.
00:43:10Mas não dá para dizer o seguinte,
00:43:12esse dinheiro da CBF deveria ir para os clubes?
00:43:15Porque são origens diferentes.
00:43:18Então, na minha avaliação, não tem essa contradição,
00:43:21a CBF não tira dinheiro dos clubes,
00:43:24ao contrário, estou dizendo na minha época,
00:43:27eu não tenho uma atualização,
00:43:30mas não deve ser muito diferente.
00:43:32Então, o que a CBF ganha do Campeonato Brasileiro?
00:43:37Ajuda bastante.
00:43:39Copa do Brasil, Série B,
00:43:43ou seja, grande parte dos campeonatos
00:43:46teriam dificuldades em ter uma certa estabilidade
00:43:50se não fosse uma contribuição adicional da CBF.
00:43:53Mas não deveria ajudar com estádio, gramados,
00:43:57essas coisas mais padronizadas que ela poderia fazer,
00:44:02pensando em futebol brasileiro?
00:44:04A padronização, sim.
00:44:06Eu me lembro que a gente tinha uma comissão
00:44:09particularmente vinculada à diretoria de competições
00:44:12que fazia esse trabalho.
00:44:15Pelo que eu me lembro, começou na nossa época,
00:44:18o próprio Fair Play Financeiro, o acompanhamento.
00:44:22Quando a gente entrou, a maioria dos estádios
00:44:25tinham dimensões diferentes,
00:44:27tanto do campo como das traves,
00:44:31ou seja, era um negócio escandaloso.
00:44:34Houve uma padronização importante.
00:44:37Mas eu entendo a essência da sua pergunta,
00:44:40mas não está aí a questão,
00:44:42ou seja, falta um modelo de financiamento
00:44:45dos clubes a partir dos campeonatos
00:44:49e de sistemas que os próprios clubes precisam desenvolver.
00:44:54Não me parece ter uma contenção tão grande
00:44:57como é, eu diria, até fácil de criticar.
00:45:00Não é possível uma CBF tão rica e os clubes tão pobres.
00:45:05Não tem uma zona de comunicação tão clara
00:45:10para dizer que a causa da pobreza dos clubes
00:45:13seja a riqueza da CBF.
00:45:16Eu acho que a gente precisaria pensar
00:45:18num financiamento do futebol como um todo,
00:45:21independente da seleção.
00:45:24Então, Feldman, até com base nisso que você falou,
00:45:27sobre financiamento dos clubes.
00:45:30Então, reduzir os estaduais, por exemplo,
00:45:34de acordo com essa proposta, para 11 datas,
00:45:37é o ideal para Palmeiras, Corinthians, Flamengo,
00:45:40Internacional, etc.
00:45:42Mas, em compensação para o River Sport Clube,
00:45:45chamado de Uverdão, lá no futebol de Roraima,
00:45:48que é o clube presidido por dona Adelaide Peixoto de Oliveira,
00:45:53uma senhora indígena de 85 anos,
00:45:56nascida lá na tribo Makuxi, enfim, lá da etnia Makuxi,
00:46:01nascida na Reserva Raposa, Serra do Sol,
00:46:05e essa senhora é exatamente a vice-eleita
00:46:08do Samir Chaudi para o próximo mandato da Federação de Roraima.
00:46:12Então, reduzir o estadual de Roraima para 11 datas,
00:46:15provavelmente vai decretar a falência do clube dela.
00:46:19Da mesma forma, isso se aplica a cerca de 400 clubes
00:46:24do futebol brasileiro, que de abril para a frente
00:46:26ficam sem ter o que fazer, gerando desemprego
00:46:29e um problema social sério na indústria do futebol,
00:46:34porque só 124 jogam as séries A, B e C e D do brasileiro.
00:46:39Então, assim, o que a CBF e as federações
00:46:45poderiam criar para, pelo menos, manter,
00:46:49para minimamente manter atividade essa indústria toda?
00:46:54Essa é a pergunta que vale ouro, não é?
00:46:57É muito difícil, muito difícil.
00:47:03Primeiro o seguinte, não haveria provavelmente,
00:47:07esse é um dado importante, não haveria provavelmente
00:47:10campeonatos estaduais, na maioria desses estados,
00:47:14se não fosse algum recurso que a CBF dá.
00:47:18Aquele recurso passado para a federação,
00:47:21em grande parte, vai ser para manter esses campeonatos.
00:47:27Mas é pouco, para o funcionamento,
00:47:31para o ano inteiro, é muito pouco.
00:47:34Então, eu diria que o Brasil padece
00:47:37o fato de ser um grande país, ter 27 estados,
00:47:42nós queremos fazer campeonato de representação nacional
00:47:47que dê uma certa unidade nesse sistema,
00:47:51mas manter essa população sem uma economia local
00:47:56desenvolvida para isso é absolutamente impossível.
00:47:59Não há origem financeira para realizar
00:48:03essa sustentação dos clubes e dos jogadores.
00:48:07Mas não pode haver, se criado,
00:48:10ou um calendário paralelo para esse monte de clubes,
00:48:14ou até mesmo campeonatos aí de Série Z,
00:48:19a Lenglaterra.
00:48:20Exatamente, esse modelo regionalizado
00:48:24para empregar essa mão de obra,
00:48:26porque o que a gente está vendo hoje
00:48:29é decretar o desemprego de profissionais da bola
00:48:34de abril para frente no Brasil todo.
00:48:36Há algumas iniciativas, a Copa do Nordeste
00:48:38cumpriu esse papel relativamente,
00:48:41a Copa Verde, que nós demos muito destaque na nossa época,
00:48:47porque tinha essa questão ambiental envolvendo estados
00:48:51que têm uma relação com a Amazônia ou com o Pantanal,
00:48:56exatamente para dar esse adicional,
00:48:59o que você sugere é que haja mais, está certo?
00:49:05A CBF teria dinheiro para isso?
00:49:06Teria, teria.
00:49:08Eu não sei se daria para completar
00:49:10o período inteiro do ano,
00:49:13mas eu diria que iniciativas como a Copa do Nordeste,
00:49:16a Copa Verde, uma Copa do Centro-Oeste,
00:49:19algo que desse um espaço maior
00:49:23e um aporte financeiro um pouco mais adequado
00:49:28para contribuir para essa sobrevivência sem resolvê-la,
00:49:33porque enquanto não houver economia local é muito difícil,
00:49:37eu acho que seria um adicional aceitável
00:49:39e a CBF teria recursos para isso.
00:49:42Não seria tão desgastante para os cofres da CBF.
00:49:45Você tem alguma questão relacionada a isso, Guedes?
00:49:47Pode fazer.
00:49:48O Feldman, recentemente a última decisão relacionada a Ednaldo Rodrigues
00:49:51teve como personagem principal Coronel Nunes,
00:49:54a partir da falsificação da assinatura dele naquela transição.
00:49:58Coronel Nunes, que também foi um personagem relevante
00:50:00na tua história e na tua saída da CBF.
00:50:03À luz do tempo, como é que você analisa este personagem?
00:50:06Um personagem, uma figura muito interessante,
00:50:11muito dócil, muito tranquila,
00:50:14que cumpriu um papel fundamental na impossibilidade do Marco Polo
00:50:21poder continuar presidindo a CBF naquele período.
00:50:26Foi exatamente a assunção do Coronel
00:50:29que fez com que o Rogério Caboclos transformasse-se no CEO,
00:50:34que efetivamente tocou o dia-a-dia da CBF.
00:50:37O Coronel Nunes, como eu disse, dócil,
00:50:40é porque ele permitiu, sem nenhum tipo de constrangimento ou obstrução,
00:50:47nós desenvolvermos toda a política de construção de uma governança para a CBF.
00:50:53Então, eu diria que foi um período muito profícuo,
00:50:56muito substancial nas transformações que nós sonhávamos para aquele período.
00:51:02Ele sempre ajudou muito,
00:51:04mas ele já demonstrava dificuldades pessoais,
00:51:08sempre cuidado pelo doutor Pagura, que se transformou no diretor médico,
00:51:13e aos poucos revelando dificuldades.
00:51:15Na própria Copa da Rússia, que nós ficamos lá quase 30 dias,
00:51:23ele demonstrava já algumas dificuldades pela idade,
00:51:27pelo passado de trabalho dele e tal.
00:51:30Então, realmente, a eventual fraude,
00:51:35que não foi levada à investigação final, pode ter acontecido.
00:51:40Realmente, ele apresentava já no nosso período.
00:51:43Ele foi operado, ele teve uma cirurgia cerebral muito relevante.
00:51:49Com essa cirurgia, ele foi para a Rússia.
00:51:52E depois, evidentemente, quando você mexe no cérebro,
00:51:55há um desgaste, a idade e tal.
00:51:57Então, isso foi o fator, eu diria, historicamente desencadeante
00:52:03do fato do Edinaldo ter que sair na última fase.
00:52:07É muito provável que tenha acontecido isso,
00:52:09porque ele já apresentava muitas dificuldades.
00:52:11Mas o coronel, em nenhum momento, foi um impeditivo
00:52:17para que nós fizéssemos as mudanças necessárias.
00:52:19Apesar que ele foi quem me exonerou.
00:52:21Exatamente, foi ele quem te demitiu.
00:52:23Na verdade, quem me exonerou primeiro foi o Rogério.
00:52:25Nós tivemos um atrito naquela partida com o Equador
00:52:32em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
00:52:35Quando eu senti que o Rogério interferiu muito
00:52:39na entrada da seleção em campo, eu fiquei muito chateado com aquilo.
00:52:45Nós tínhamos um atrito.
00:52:46E eu disse para ele, naquele momento,
00:52:48que nós íamos trabalhar a diretoria para retirá-lo,
00:52:51porque nós não estávamos contentes com o posicionamento dele.
00:52:55Estou transformando tudo claramente aqui.
00:52:58É tudo transparente.
00:52:59Esse espaço é para isso.
00:53:01Nós fizemos um documento da diretoria,
00:53:06deu entrada, ele foi retirado, e o Rogério me exonerou.
00:53:10Mas ele já estava fora.
00:53:12Aí o coronel refaz, eu sou reabsorvido,
00:53:17mas depois, no momento que o Edinaldo entra,
00:53:19a primeira pessoa que ele retira sou eu.
00:53:22Houve um desgaste na sua relação com o coronel em si?
00:53:25Não, o coronel só atendeu.
00:53:27E eu vou contar um dado interessante aqui,
00:53:29que eu nunca falei também.
00:53:32Por que o Edinaldo me retirou?
00:53:34Qual foi o motivo?
00:53:35Porque até então a gente tinha relações institucionais,
00:53:40de uma certa fraternidade e tal.
00:53:43Mas, na nossa gestão, pela primeira vez,
00:53:47nós abrimos a CBF para os clubes.
00:53:50Porque havia uma sensação,
00:53:53o próprio Marco Polo já achava isso,
00:53:55o Rogério também,
00:53:56de que não tinha sentido a CBF ser só das federações,
00:54:02já que os clubes ocupam um papel destacado,
00:54:06fundamental no funcionamento do nosso futebol.
00:54:10Então eu, como secretário-geral,
00:54:12passei a receber os clubes.
00:54:14Os clubes tiveram porta aberta, porta livre.
00:54:17E na época, vocês devem lembrar,
00:54:19tinha um dirigente do Bahia muito qualificado,
00:54:23um dos mais qualificados, que era o Berentane.
00:54:26Muito bom.
00:54:27Entendeu? Muito qualificado.
00:54:29Já tinha tido experiência política e tal.
00:54:31E o Berentane demandava muito.
00:54:34E ele tinha uma liderança sobre os clubes,
00:54:36porque ele tinha uma capacidade de intervenção
00:54:39e uma compreensão do funcionamento do futebol muito grande.
00:54:43Então eu tinha uma relação muito forte com o Berentane.
00:54:46Então eu tinha uma relação muito forte com ele.
00:54:48E o Edinaldo era do Vitória.
00:54:52Aí o Edinaldo, logo que o Rogério saiu,
00:54:56ele falou, olha, eu quero que você pare de atender os clubes.
00:55:00Não tem sentido.
00:55:01Isso daqui é uma instituição das federações.
00:55:05Mas mudou essa realidade, ou seja,
00:55:07a relação com os clubes é maravilhosa.
00:55:10E realmente era maravilhosa.
00:55:13Tudo o que eles precisavam, linha direta e tal,
00:55:16a gente avisava as federações,
00:55:18mas não precisava disso como era no passado.
00:55:21Houve uma grande transformação.
00:55:24Aí o Edinaldo falou, olha,
00:55:25mas eu não gosto do tratamento que você dá para o Bahia,
00:55:28você atende muito os clubes e tal.
00:55:30Eu falei, mas como é que eu...
00:55:33Foi a orientação que eu recebi aqui.
00:55:36A primeira oportunidade, quando ele assume,
00:55:39de forma interina e de minha zona era.
00:55:41A primeira decisão dele foi a minha exoneração.
00:55:44Vai lá, Flávio Prado.
00:55:45Já que você...
00:55:47Estou contando muita história aqui.
00:55:48Ótimo.
00:55:50A gente não esperava menos do que isso.
00:55:52A gente começa a entender como é que a coisa funciona.
00:55:55Você tinha muito contato com os clubes,
00:55:57você assistiu algumas vezes.
00:55:58Muito.
00:55:59E até onde eu sei, os clubes, eles cedem essa...
00:56:02esse colégio eleitoral para as federações
00:56:05porque eles queriam o aval da CBF para se transformarem em ligas.
00:56:09E ter uma independência dependendo do aval da CBF
00:56:12para que a FIFA aceitasse essas ligas.
00:56:15E esse aval veio em troca das federações
00:56:18que tevem essa maioria no colégio eleitoral.
00:56:20Mas a liga não veio.
00:56:22Por que não veio?
00:56:24Questão de ego, questão de inteligência.
00:56:26O que acontece para que os clubes não consigam ter uma liga
00:56:30que os tornaria independente da CBF?
00:56:34Flávio, essa é uma questão muito importante.
00:56:36Eu acho que se os clubes tivessem unidade,
00:56:39nós teríamos uma outra realidade no futebol brasileiro.
00:56:43Mas não é fácil.
00:56:45Você juntar Flamengo, Corinthians...
00:56:47Eu vou citar esses dois,
00:56:50mas nós poderíamos citar muitos outros.
00:56:54Mas essa é uma das grandes contradições.
00:56:56Flamengo e Corinthians, eles são tão fortes,
00:56:58tão expressivos,
00:57:00que no momento em que eles estiverem juntos,
00:57:01ajuda na conformação, na consertação
00:57:06dessa nova realidade que é a unidade dos clubes brasileiros.
00:57:10Eu vou contar outra história aqui, interessante.
00:57:14Uma das causas dramáticas do meu rompimento lá,
00:57:18quando o Rogério sai,
00:57:21o presidente do Palmeiras me liga, o Maurício...
00:57:24Galiotti.
00:57:25Maurício Galiotti, grande dirigente,
00:57:28fala assim, Volta, nós estamos todos aqui,
00:57:32no Rio, nós queremos ser recebidos na CBF.
00:57:36Falei, claro, aqui é a entidade dos clubes,
00:57:40por favor, tal.
00:57:43O Edinaldo e o Coronel foram contra.
00:57:47Falei, mas não é possível, nós temos que recebê-los.
00:57:49Nós construímos uma relação com os clubes aqui maravilhosa
00:57:52durante seis anos, precisamos recebê-los.
00:57:56Foi uma crise grande, nós os recebemos,
00:58:01mas sob protesto deles.
00:58:04Eu dizia que não era possível,
00:58:07houve uma desinteligência naquele momento.
00:58:11Eles foram e eles naquele momento reivindicaram a Liga
00:58:15e reivindicaram a participação mais expressiva na eleição da CBF.
00:58:21Vocês devem lembrar disso.
00:58:26Aí, o Edinaldo entra,
00:58:31eles entregam esse documento, não há resposta.
00:58:35Era o grande momento da unidade,
00:58:38era o grande momento da transformação,
00:58:41porque com a saída do Rogério acontece uma crise,
00:58:44quase um vazio, porque não havia uma representação legítima,
00:58:48era só institucional, algum vice assumiria,
00:58:51mas os clubes estavam muito fortalecidos.
00:58:53Eles entregam o documento, na hora que o Edinaldo assume,
00:58:58ele negocia não mudar o modelo de eleição da CBF
00:59:05e aceitação da Liga.
00:59:07Vocês lembram disso?
00:59:09Perfeito.
00:59:11Então, houve pela primeira vez uma liberação da Liga,
00:59:15perdendo a possibilidade de ter um papel ponderado
00:59:20mais adequado na eleição da CBF.
00:59:21Foi uma negociação.
00:59:23Eu já estava fora.
00:59:25Era ótima.
00:59:28E aí, os clubes começaram a discutir a formatação da Liga.
00:59:33E aí, não construíram unidade.
00:59:36Isso foi um problema dos clubes.
00:59:38Eles perderam a força na CBF e não fizeram a Liga.
00:59:41Exatamente.
00:59:43Perderam a oportunidade de fazer a grande transformação,
00:59:46porque a CBF estava muito enfraquecida,
00:59:48tanto que a direção não queria recebê-los,
00:59:51foi o meu conflito.
00:59:53Por temor de exposição mesmo.
00:59:55Por temor de exposição.
00:59:57Disseram assim, como é que a gente vai receber
00:59:59num momento de crise como nós estamos vivendo?
01:00:01E eu dizia, eu esquerei, esse é o melhor momento.
01:00:03E os clubes não conseguiram fazer essa leitura?
01:00:05Não conseguiram.
01:00:07Entregaram o documento, não fizeram a leitura,
01:00:09não negociaram adequadamente.
01:00:11Quando tiveram uma abertura para a Liga,
01:00:13não conseguiram formatar.
01:00:15E continua essa coisa do ego,
01:00:17quando os clubes fazem essa cascata
01:00:18de assinar um documento contrário,
01:00:21essa posse da Liga e tal.
01:00:23Ontem, na reunião dos clubes, na hora de votar,
01:00:26três que assinaram aquele manifesto
01:00:28já estavam lá votando.
01:00:30O Santos, o Operário e mais um, Cruzeiro.
01:00:34Cruzeiro.
01:00:36Eles assinaram alguns dias e já estavam lá,
01:00:39já romperam aquilo que eles assinaram.
01:00:42E a Leila, desde o começo, falou,
01:00:44eu não vou assinar e estava lá.
01:00:46Pelo menos ela foi coerente.
01:00:48Ela foi desde o início.
01:00:50Nem aquilo que eles assinam, eles cumprem. Impressionante.
01:00:53Existe algo que é um temor da CBF.
01:00:59Muito grande.
01:01:01Baseado um pouco no medo da arbitragem,
01:01:05isso é um dado muito importante,
01:01:08há um sentimento nos clubes
01:01:10de que a CBF é capaz de manipular a arbitragem.
01:01:14O torcedor com certeza era também.
01:01:16Não, seguramente.
01:01:18E alguns clubes têm esse erro.
01:01:20Agora eu vou dizer, eu nunca vivi essa realidade.
01:01:24Nunca viu em nenhum momento?
01:01:26Em nenhum momento. Ou seja, eu diria que
01:01:29é um temor interno,
01:01:31mas que não se constata na realidade.
01:01:34Nesse ponto, Mário Gobi Filho, presidente do Corinthians,
01:01:37e Mesquita, presidente de São Paulo,
01:01:40abertamente disseram que ganharam a Libertadores
01:01:42porque tinham boa relação com o Mebol.
01:01:43É uma coisa, não vamos perder por isso.
01:01:47Isso é dito abertamente.
01:01:51Eu acho que é o mesmo.
01:01:53O medo existe.
01:01:55Se tem causa real, mas que esse temor...
01:01:59E a CBF não faz questão de acabar com esse medo, né?
01:02:02Em escalas, em jeito que as coisas...
01:02:04Mas sempre eu digo uma coisa.
01:02:06Bons árbitros talvez possam manipular resultados.
01:02:09Esses que nós temos aí não têm capacidade nem para manipular.
01:02:12Eu diria que esse medo é intronizado.
01:02:15Os clubes absorveram isso.
01:02:18Talvez aquele episódio do Avelange,
01:02:20na Copa na Argentina, aquela manipulação,
01:02:23talvez tenha ficado um espírito
01:02:26que fica por cima das possibilidades.
01:02:30É impressionante.
01:02:32Os clubes falavam.
01:02:34Quando eles iam me visitar,
01:02:36e eu ia junto com eles na comissão de arbitragem,
01:02:39eles sempre levantavam isso.
01:02:41Não, mas tem...
01:02:43E não é o temor só dos clubes com a CBF.
01:02:46Eu percebo o temor do dirigente
01:02:48de não fazer o que o seu público quer ouvir.
01:02:51Então a torcida do Corinthians
01:02:53quer que o presidente do Corinthians vá lá e fale.
01:02:55Esse cara não vai apitar meu jogo, não.
01:02:57Então é a resposta também em quem mantém o poder.
01:02:59Faz parte o mise-en-scène.
01:03:01Isso é uma palavra da minha mãe, mise-en-scène.
01:03:03O mise-en-scène ali.
01:03:05Mesmo quem não acredite nisso,
01:03:07publicamente para dar sua resposta para o seu público.
01:03:09Eu estou lembrando, você tem toda a razão.
01:03:11Vários dirigentes eram...
01:03:13Volta, atende a gente aí.
01:03:15Como eu era a relação com os clubes,
01:03:17atende a gente aí.
01:03:19Aí eu falei, não, vou marcar com a comissão de arbitragem.
01:03:22Na época era o...
01:03:24Como é que era o presidente da comissão de arbitragem?
01:03:27Chegou só o...
01:03:29Sérgio, não. Sérgio vai te passar.
01:03:31Não, depois do Sérgio.
01:03:33Meu Deus.
01:03:35Aí eu dizia, mas escuta, vocês estão todo em forma...
01:03:37Volta, a gente precisa mostrar para a torcida
01:03:39que ainda tem isso.
01:03:41Da Chiba.
01:03:43Semana passada foi o Grêmio lá.
01:03:45Mas não porque o que aconteceu na rodada...
01:03:47Da rodada anterior.
01:03:49Já tinha marcado para reclamar da arbitragem.
01:03:51Aliás, Morelli, pode fazer a sua pergunta.
01:03:53O que é que manda hoje na CBF?
01:03:55O Saúde?
01:03:57O Saúde, né?
01:03:59O Sarnês?
01:04:01Ou os Svaters?
01:04:03Acrescenta a família Jucá também.
01:04:05Pode botar o Gilmar Mendes.
01:04:09É um sistema.
01:04:11A pergunta é difícil.
01:04:13Não, a pergunta é difícil porque é um sistema.
01:04:15Você conhece a história do cargo na árvore, né?
01:04:19Ou seja, se ele está na árvore, alguém pôs ele lá.
01:04:22O Jabuti.
01:04:24O Jabuti não sorve em árvore.
01:04:26Ou é enchente ou é mão de gente.
01:04:28É, ou é mão de gente.
01:04:30Como o Flávio disse, é uma concentração.
01:04:33Não chegou lá por acaso.
01:04:34Então, eu diria que tem uma multiplicidade de fatores.
01:04:41Eu gosto muito do Sarnês.
01:04:43Eu convivo com o Sarnês.
01:04:45Figura realmente incrível.
01:04:49Mas ele não manda lá.
01:04:51Não tem um papel.
01:04:53Ou seja, o papel dele é um papel de representação internacional.
01:04:59E ele está há tantos anos lá que ele aprendeu a fazer isso
01:05:03com muita qualidade.
01:05:06Eu gostava muito quando via o papel diplomático que ele exercia.
01:05:14Mas eu acho que o que aconteceu é o seguinte.
01:05:16Como eu disse em relação ao Edinaldo,
01:05:18o Edinaldo politizou, judicializou.
01:05:21Então, o papel dessas duas estruturas é muito mais forte
01:05:26do que eu sempre conheci.
01:05:28Então...
01:05:32Agora, quem manda na escolha são os presidentes de federações.
01:05:36No coletivo.
01:05:38Individualmente, não significa muita coisa.
01:05:41Mas no coletivo, é uma unidade impressionante.
01:05:45É o centrão.
01:05:47É o centrão total.
01:05:49Até adiante disso...
01:05:51Porque é todo mundo, né?
01:05:53Até adiante disso, como é que o senhor analisou o episódio
01:05:54do Ronaldo Fenômeno tomando porta na cara desse pessoal?
01:05:58Não poderia haver outro caminho.
01:06:00Nenhuma surpresa.
01:06:02Porque o Ronaldo,
01:06:04o que ele tem dentro do sistema não significa nada.
01:06:09Isso que eu digo.
01:06:11A sociedade dentro do sistema não significa nada.
01:06:14Ou seja, a imprensa inteira pode falar,
01:06:18não vai mudar aquela realidade.
01:06:21Nem os clubes.
01:06:22Nem os clubes.
01:06:24Porque o centrão que falou ainda precisa do voto do eleitor.
01:06:26Eles não precisam do voto do torcedor.
01:06:28É pior.
01:06:30Só muda o patrocinador.
01:06:35Isso é uma coisa espetacular que você falou.
01:06:38Eu não conseguia imaginar nada que pudesse mudar.
01:06:41Isso realmente mudaria.
01:06:43Mas também está com o patrocinador, né?
01:06:46Está bom para todo mundo.
01:06:48Será que um grande patrocinador,
01:06:50tem o orgulho hoje de patrocinar?
01:06:53Aconteceu isso com o caso Robinho, no Santos.
01:06:55O Santos queria anunciar o Robinho.
01:06:57Conta parte da torcida do Santos, especialmente feminina.
01:07:00Chegou a anunciar.
01:07:02Três patrocinadores disseram, não, Robinho não.
01:07:04Voltaram atrás.
01:07:06Pela questão da condenação do caso.
01:07:08Exatamente.
01:07:10Bom, se eu tivesse dinheiro, eu não era jornalista.
01:07:12Se eu entendesse de dinheiro.
01:07:14Mas eu não consigo entender como essas multinacionais
01:07:17grandíssimas, empresas...
01:07:18Como é lá no banner da série?
01:07:20Eu nunca tivesse dinheiro, uma empresa.
01:07:22Eu ia patrocinar, primeiro, uniforme de arbitragem.
01:07:25Isso é uma coisa que eu não consegui.
01:07:27Eu não queria associar minha marca de jeito nenhum.
01:07:29E outra com banner, com essas notícias.
01:07:32Então acho que caberia, assim, a eles fazerem esse papel
01:07:34de falar assim, olha, vamos patrocinar, o dinheiro está aqui.
01:07:36Mas a gente não quer ter o nosso nome
01:07:38associado a essa gestão, a essa política, alguma coisa.
01:07:42O Corinthians fez isso agora, né?
01:07:44No entrevista do presidente.
01:07:46O Augusto Mello. Tirou.
01:07:48Os patrocinadores pediram para tirar os banners.
01:07:50Os banners.
01:07:52De trás dele, ninguém apareceu.
01:07:54E é um dado interessante.
01:07:56Quando nós entramos, nós tivemos uma pressão.
01:07:59Você vê que coisa engraçada.
01:08:01Seguramente nós somos a gestão mais aberta.
01:08:04Seguramente.
01:08:06E nós criamos um comitê dos patrocinadores.
01:08:09Nós tivemos uma reunião semestral com eles,
01:08:11de prestação de contas.
01:08:13E nós apanhávamos muito.
01:08:15Eles não acreditavam nas mudanças que nós íamos fazer.
01:08:18E eles ameaçavam.
01:08:20Ou seja, eu fui em várias reuniões
01:08:22daqueles esportistas pelo Brasil.
01:08:25Como é que chamava?
01:08:27Que o Raí participava, aula e tal.
01:08:29O que eu apanhava nessas reuniões,
01:08:31porque eu sempre fazia a representação institucional.
01:08:35Vocês não vão fazer nada.
01:08:38A CBF é isso, isso que você falou.
01:08:40Atletas pelo Brasil.
01:08:42Atletas pelo Brasil.
01:08:43Meu Deus, o Raíl teve o atrito no aeroporto, na rua.
01:08:47Ele falou assim, vocês não estão fazendo nada.
01:08:49Nós estamos fazendo, queremos te mostrar.
01:08:51Não acreditava.
01:08:53Eles cobravam muito.
01:08:55E eles tinham uma relação,
01:08:57porque esse Atletas pelo Brasil
01:08:59tinha uma participação forte dos patrocinadores.
01:09:01Da Gol, do Itaú, da Mastercard.
01:09:07Cadê?
01:09:09Banco do Brasil.
01:09:10Banco do Brasil que financiava o setor olímpico.
01:09:14Cadê?
01:09:16Ou seja, tudo isso está acontecendo, não falo mais.
01:09:18Só na nossa época que a gente tinha abertura,
01:09:20que eles falavam, não falo mais.
01:09:22São os mesmos?
01:09:24São os mesmos.
01:09:26Itaú é Gol, é Mastercard e é vivo.
01:09:29Os grandes e a Nike.
01:09:32Significativo é isso.
01:09:34O resto não tem nenhuma importância.
01:09:36Falando em presidentes de federações regionais,
01:09:37estaduais,
01:09:39o pai do novo presidente da CBF,
01:09:42ele é o Mandachuva da Federação de Roraima
01:09:45desde 1976.
01:09:47Não começou exatamente ontem.
01:09:50E você o conhece bem,
01:09:52por conta do convívio dele lá com a CBF.
01:09:55Eu queria saber se você conhece o filho dele
01:09:58e se o pai gosta tanto do poder
01:10:01e o filho, é um jovem que está chegando agora,
01:10:04você acha que isso vai mudar?
01:10:05Ele está chegando agora.
01:10:07Você acha que ele tem pelo menos
01:10:09mais uns 30 anos pela frente como cartola?
01:10:12Não tem.
01:10:14Esse é o dado importante.
01:10:16Ou seja, por incrível que pareça,
01:10:18vai haver mudanças na CBF nessa gestão.
01:10:22Uma delas, que eu acredito,
01:10:24será o fim da reeleição.
01:10:27Opa, isso é auspicioso.
01:10:30Eu estou falando em primeira mão aqui.
01:10:32Possivelmente não vai se manter.
01:10:35Por quê?
01:10:37Primeiro, por causa do fim da reeleição.
01:10:39Mas segundo, que ele é
01:10:42uma eleição de transição
01:10:45para o novo modelo que vai surgir.
01:10:50Não será a mesma coisa daqui a quatro anos.
01:10:53O que te leva a imaginar que vai acabar a reeleição?
01:10:57Informações?
01:10:59Eu diria que eu sou bem informado.
01:11:01Qual será o modelo, Volta?
01:11:03O modelo será não reeleição,
01:11:05haverá, na minha opinião, um...
01:11:09O Ricardo Teixeira lá atrás...
01:11:13Estou incomodado porque estou falando muita coisa aqui.
01:11:16Agora ele está começando a pensar...
01:11:19Não, não.
01:11:21Ao contrário, ao contrário.
01:11:23Estou me sentindo bem em falar tudo o que eu sei.
01:11:25O Ricardo Teixeira, no momento irritado com os clubes,
01:11:29disse que CBF tem que ser seleção.
01:11:32Campeonatos têm que ser um problema dos clubes.
01:11:36A gente não ganha nada com isso, não será apanhar.
01:11:40Vamos deixar.
01:11:42Mas foi num momento de raiva.
01:11:46E de rara lucidez.
01:11:48É.
01:11:50E em algum momento,
01:11:52eu me lembro, Marco Polo comentando isso, falou...
01:11:56Quando tem essas crises no clube,
01:11:58dá vontade de a gente repensar aquilo que o Ricardo Teixeira falou.
01:12:03E tem um dado importante,
01:12:05que o Flávio Sveiter, que é vice-presidente,
01:12:08é formador de uma das ligas.
01:12:11Ele participou desse processo.
01:12:13Sim.
01:12:15Então, eu acho que tem elementos aí
01:12:18que sugerem que, apesar da falta de unidade dos clubes,
01:12:22haverá um estímulo
01:12:25para, eventualmente, caminhar na linha de separação.
01:12:30Estímulo barra Namarra.
01:12:33É, porque sem isso não acontecerá, por incrível que pareça.
01:12:37Porque deveria ser do interesse dos clubes.
01:12:40Mas eu acho que Namarra...
01:12:43Mas haverá mudança,
01:12:45acho que, de certa forma...
01:12:47Eu acho que a gestão do Chaldes será uma gestão de transição
01:12:51para um novo modelo, provavelmente, por incrível que pareça,
01:12:55mais favorável, mais moderno,
01:12:57mais independente dos clubes do que foi até hoje.
01:13:01E, Feldman, falando em mudança,
01:13:03a gente tem a Michelle Ramalho agora,
01:13:05primeira mulher vice-presidente na história da CBF.
01:13:08Como é que você avalia, também,
01:13:10a chegada dessa figura que ganhou todas as manchetes
01:13:13de ontem para hoje?
01:13:15Conheça o perfil, conheça a história.
01:13:18Quem é Michelle Ramalho?
01:13:20Por quê? E qual a relevância
01:13:22da entrada de uma mulher na história da CBF?
01:13:24Bom, a Michelle é advogada do mundo do futebol lá da Paraíba.
01:13:30Ela se qualificou por um jeito.
01:13:34Ela é muito vibrante, muito imperativa.
01:13:39Ela tem uma capacidade argumentativa forte
01:13:43por ser advogada e por ter um estilo de mulher forte
01:13:47de ocupar seu espaço depois que teve uma presença
01:13:51no sistema de justiça dispositiva do Rio.
01:13:55Ela ganhou maior capacidade, maior expressão,
01:14:00e por uma luta política, por desvios que houve
01:14:04em gestões anteriores, ela se qualificou e se transformou
01:14:08na presidente da Federação Paraibana.
01:14:11E uma presidente relativamente popular.
01:14:14Ela rapidamente conseguiu se desmistificar
01:14:18dessa ideia de ser mulher,
01:14:19no comando do futebol.
01:14:22Ela ia aos estádios,
01:14:24ela se relacionava com a torcida em campo,
01:14:27ela entrava em campo,
01:14:29ela passou a ser uma pessoa muito conhecida
01:14:32da mídia, da torcida e dos clubes paraibanos.
01:14:36E começou a ter uma forte presença nas reuniões da CBF.
01:14:41Ela vinha muito.
01:14:43E ela teve o apoio da direção.
01:14:45Eu me lembro que o Marco Polo a estimulava muito.
01:14:47Então ela teve um papel na justiça dispositiva,
01:14:51presidente da federação.
01:14:53E agora, com o advento da Copa do Mundo feminina,
01:14:58ela ganhou a possibilidade de se transformar
01:15:02em uma vice-presidente.
01:15:04Então ela vai ter um papel interessante.
01:15:06Ela é uma mulher falante.
01:15:08Falante, expressiva, e tem formação jurídica
01:15:11e experiência no futebol,
01:15:13que permite que ela tenha um protagonismo
01:15:15que, na minha avaliação, hoje é importante.
01:15:18Bom, chegamos aí aos últimos 14 minutos.
01:15:20Dá tempo de mais uma rodada?
01:15:22Vai lá, Flávio Prado.
01:15:24O que seria uma liga de clubes, digamos, em dois anos?
01:15:31Nós teremos alguma coisa?
01:15:33Há uma capacidade dos clubes em um ano?
01:15:35Você falou um saldo, vamos falar em quatro.
01:15:37Há uma capacidade dos clubes?
01:15:39Você sente que os clubes têm capacidade
01:15:41de fazer uma liga funcional?
01:15:42Teremos um campeonato decente sem a CBF?
01:15:46Na minha avaliação, sim.
01:15:48Eu acho que é necessário.
01:15:50Eu acho que há uma mudança estrutural
01:15:52no funcionamento do futebol brasileiro,
01:15:54de empoderamento dos clubes,
01:15:56mas eles têm que ter um modelo diferente da CBF.
01:15:59Ou seja, o modelo que eles devem ter é uma gestão.
01:16:03Gestão moderna, profissionalizada, com gente competente.
01:16:08Se for, é essa a escolha de um dos presidentes
01:16:12dos clubes, formadores da liga, dificilmente...
01:16:17Tem que ser alguém de fora.
01:16:19Tem que ser alguém de fora, com qualificação
01:16:21para ocupar esse papel e dar à liga
01:16:24a característica que têm as ligas europeias.
01:16:26Ritor Guedes.
01:16:28Eduardo Milano, na nossa apresentação inicial,
01:16:30você começou vereador em 83, né?
01:16:32Em 82, eu tinha cinco anos,
01:16:34a primeira lembrança de vida é Brasil perder para a Itália.
01:16:37Eu lembro da família inteira chorando,
01:16:39eu lembro do lugar que eu estava sentado,
01:16:40a Santa Catarina vem do jogo.
01:16:42E eu não conhecia uma pessoa nessa época
01:16:45que não torcia para a Seleção Brasileira.
01:16:47Conheci até alguns que não gostavam de futebol,
01:16:49mas era uma unanimidade.
01:16:51E nesse tempo aí, em 40 e poucos anos,
01:16:53o principal refrigerante continua até hoje,
01:16:55a principal marca de cerveja continua até hoje,
01:16:58essa emissora que era gigante continua até hoje,
01:17:00até maior, agora é uma televisão.
01:17:02E a Seleção Brasileira me lingou,
01:17:05uma marca que...
01:17:07Hoje a gente está falando de Seleção Brasileira
01:17:08como uma organização,
01:17:10mas eu vou na padaria, vou na feira,
01:17:12as pessoas que me reconhecem perguntam,
01:17:14e o Corinthians, e o Palmeiras,
01:17:16e poucas vezes perguntam, até do Real Madrid,
01:17:18e o Vinícius Júnior.
01:17:20Então assim, eu nunca vi uma marca perder tanta importância.
01:17:22Isso é uma constatação.
01:17:24É possível, nesse cenário,
01:17:26reconstruir uma marca
01:17:28e voltar até a importância que ela já teve?
01:17:30Assim, eu não lembro em 40 anos
01:17:33uma marca que tenha caído tanto assim
01:17:36de importância na sociedade,
01:17:38de valor afetivo, sentimental,
01:17:40que também acaba repercutindo em dinheiro.
01:17:42Você acha que isso é...
01:17:44Eu não sei se você concorda com essa minha análise, né?
01:17:46E se você concorda, se você acha que é reversível.
01:17:48Minha impressão que dá é que a derrota para a Argentina
01:17:50fez realmente o corpo bater no fundo do poço, né?
01:17:52Muito.
01:17:54O que às vezes é bom, né?
01:17:56É bom ter uma crise violentíssima
01:17:58para mudar a realidade.
01:18:00E diante disso, é possível fazer essa reconstrução?
01:18:02Eu acho que é o seguinte,
01:18:04nós temos uma carência enorme de símbolos, né?
01:18:06De sentimento nacional.
01:18:08O sentimento nacional hoje em relação ao que?
01:18:10A Amazônia?
01:18:13É o Real?
01:18:15É difícil, né?
01:18:17A gente vai ter que ficar pesquisando aqui
01:18:19o que simboliza o Brasil.
01:18:21Acho que não é a mesma fixação que se tinha
01:18:23pela seleção brasileira.
01:18:25Não, exatamente.
01:18:27Mas nós somos carentes de símbolos.
01:18:29Porque mesmo esses símbolos que você citou
01:18:31têm aderência, mas parcial.
01:18:33Parcial.
01:18:35O que é diferente do que ele mencionou sobre a seleção.
01:18:36E é por isso que eu acho que o futebol
01:18:38é insubstituível
01:18:40nesse sentimento nacional.
01:18:42Acho que nós temos todas as condições de retomar.
01:18:45Contanto que a gente volte
01:18:48minimamente a ser o que éramos.
01:18:50Vai depender o quê? De vitórias?
01:18:52Vai depender de vitórias.
01:18:54Vai depender muito de comando.
01:18:56Eu acho que a primeira coisa é isso.
01:18:58Ancelotti significa uma mudança.
01:19:02Sempre na esperança de uma transformação
01:19:03desse sistema de funcionamento
01:19:05do futebol brasileiro,
01:19:07que sem isso é muito difícil
01:19:09essa profunda realidade acontecer.
01:19:11Mas eu acho que o brasileiro
01:19:13ainda tem esperança
01:19:15lá no fundo, no recôndito,
01:19:17de que a seleção brasileira
01:19:19volte a ser o que já foi um dia.
01:19:21E eu acho que se ela voltar
01:19:23a ter a qualidade
01:19:25que nós assistimos
01:19:27na nossa geração.
01:19:29Voltar a ter títulos, vitórias
01:19:30e uma postura
01:19:32mais elegante.
01:19:34Quando você vê os jogadores
01:19:36aí sem nenhum compromisso com o Brasil,
01:19:38isso também passa.
01:19:40Passa um distanciamento
01:19:42muito negativo.
01:19:44Mas eu acredito sim,
01:19:46eu sou muito otimista
01:19:48de que a seleção volte a ser um dia,
01:19:50pelo menos parcialmente,
01:19:52aquilo que já foi
01:19:54e volte a impressionar,
01:19:56a impactar o sentimento nacional.
01:19:58A sua última, Morelli.
01:20:00Você falou,
01:20:02por esse sentimento,
01:20:04essas informações que você tem,
01:20:06de uma mudança.
01:20:08A CBF mais atrapalha
01:20:10ou mais ajuda o futebol brasileiro?
01:20:12Atrapalha, sem dúvida.
01:20:14Não, sem dúvida.
01:20:16Você não ouviu?
01:20:18Atrapalha muito.
01:20:20Está longe, está na ponta.
01:20:22Você sabe o que é?
01:20:24Eu vivi muito a questão política também.
01:20:26Ou seja, é incrível
01:20:28quando tem um sentimento popular
01:20:30de apreço,
01:20:32de respeito,
01:20:34de consideração pelo seu governo.
01:20:36É um sentimento que o governo está se esforçando.
01:20:39Eu vivi o Mário Covas,
01:20:41eu vivi o Montoro,
01:20:43eu vivi figuras incríveis
01:20:45que mudaram a realidade.
01:20:47Mesmo o Fernando Henrique
01:20:49na implantação do Plano Real,
01:20:51mudanças que mudaram o Brasil.
01:20:54Mas hoje a CBF não significa isso.
01:20:57A CBF não significa
01:20:58a seleção brasileira,
01:21:00não significa a organização do futebol.
01:21:03Tem muito mais essa imagem
01:21:05profundamente negativa
01:21:07que não foi reconstruída
01:21:09com essa nova eleição.
01:21:11Ela não impacta na esperança.
01:21:14É claro que mesmo o Schaldes
01:21:16sem nenhuma história
01:21:18sendo de um Estado que praticamente
01:21:20não tem um futebol relevante
01:21:22possa vir a ser alguém
01:21:24que faça mudanças.
01:21:26Mesmo sendo construído
01:21:28por um sistema que não é exatamente
01:21:30o que a gente sonha.
01:21:32Mas eu sou um otimista incansável.
01:21:36E Perno?
01:21:38Infelizmente eu não posso,
01:21:40eu não concordo muito com o teu otimismo
01:21:43porque embora a gente tenha
01:21:45na seleção brasileira
01:21:47um símbolo nacional
01:21:49que pode ou não ser recuperado
01:21:51eu acho que a gente tem
01:21:53pela frente uma outra ameaça
01:21:55que ainda é pior do que a CBF
01:21:56e a decadência da seleção.
01:21:58Que é o fato de que
01:22:00esses meninos de 18 anos
01:22:02estão indo muito cedo pra Europa
01:22:04e daqui a pouco
01:22:06os europeus vão pressionar a FIFA
01:22:08pra mudar a regra dos 5 anos
01:22:10pra poder jogar por outro país.
01:22:12No dia que isso baixar pra 2
01:22:14o garoto que foi pra Espanha, Inglaterra
01:22:16pra Paris, Alemanha
01:22:18ele vai receber proposta pra jogar
01:22:20pela seleção local.
01:22:22E aí o nosso problema vai ser ainda pior
01:22:24porque, enfim, o garoto
01:22:26vai chegar no Brasil e vai falar
01:22:28muito mais bacana meu filho
01:22:30continuar jogando aqui
01:22:32do que voltar pro Brasil pra jogar
01:22:34eliminatório.
01:22:36Como é que nós vamos fazer
01:22:38pra não perder
01:22:40corações e mentes
01:22:42dessa molecada, dos seus pais
01:22:44enfim, das pessoas que estão próximas a eles?
01:22:46Não, primeiro o seguinte
01:22:48nós temos que lutar pra que essa mudança
01:22:50não aconteça.
01:22:52Nós temos que voltar a ter
01:22:54protagonismo internacional.
01:22:56Eu vi muito com o Infantino
01:22:58o respeito pelo Brasil
01:23:01é um negócio surpreendente
01:23:03surpreendente
01:23:05pela nossa história
01:23:07nós perdemos isso
01:23:09nos últimos 6 anos
01:23:11muito
01:23:13eu vi o Infantino
01:23:15tratar o Brasil como
01:23:17um país mágico
01:23:20que merecia respeito
01:23:22do mundo inteiro
01:23:24acima de qualquer outro
01:23:26país
01:23:28de cair até a gente não ter
01:23:30representação hoje
01:23:32então a primeira coisa é não deixar
01:23:34mexer nessa estrutura
01:23:36segundo, é uma questão econômica
01:23:38nós só vamos manter
01:23:40os nós jogadores aqui
01:23:42na medida que nós tivermos
01:23:44perspectivas
01:23:46econômicas
01:23:48que desenvolva um novo modelo
01:23:50de funcionamento no futebol
01:23:52é possível
01:23:54tem que haver gestão
01:23:56tem que haver investimento
01:23:58informação
01:24:00pra manter o máximo possível
01:24:02os jogadores aqui
01:24:04eu sei que é difícil
01:24:06porque euro é uma coisa
01:24:08dólar é outra coisa
01:24:10e real é outra coisa
01:24:12é a famosa economia estúpida de novo
01:24:14então
01:24:16eu tenho que manter o meu otimismo
01:24:18embora sabendo que a realidade
01:24:20é contrária
01:24:22a essa possibilidade
01:24:24Feldman, chegamos aos últimos 5 minutos
01:24:26eu quero saber hoje
01:24:28tem espaço ainda pra futebol
01:24:30na vida de Walter Feldman
01:24:32ou a história é outra
01:24:34os negócios são outros
01:24:36qual é o seu trabalho hoje?
01:24:38Bom, hoje eu sou presidente do
01:24:40Fórum São Paulo
01:24:42o Fórum Nacional, o Expo
01:24:44Fórum da Longevidade
01:24:46que é um tema relevante
01:24:48eu diria que dois temas
01:24:50se abatem sobre a humanidade
01:24:52essa nova realidade
01:24:54de uma
01:24:56sociedade longeva
01:24:58ativa e saudável
01:25:00que quer continuar trabalhando
01:25:02estudando
01:25:04tendo relações sexuais
01:25:06namorando
01:25:08viajando, fazendo cultura
01:25:10é impressionante
01:25:12eu tenho 71 anos
01:25:14eu e o Flávio Prado
01:25:16nós queremos continuar
01:25:18muito
01:25:20até 70, 90
01:25:22então isso é muito importante
01:25:24tem isso e tem as mudanças climáticas
01:25:26tem que continuar com muita atenção
01:25:28que isso vai nos impactar a todos
01:25:30e eu trabalho hoje
01:25:32numa empresa de saúde digital
01:25:34Telemedicina
01:25:36que é uma transformação também radical
01:25:38do sistema de saúde no mundo
01:25:40não dá pra pensar hoje em medicina
01:25:42sem a utilização do celular
01:25:44grande parte das consultas
01:25:46pode ser por aí
01:25:48então isso me anima muito
01:25:50minha vida inteira foi cheia de propósito
01:25:52nunca tive nenhuma relação comercial
01:25:54empresarial
01:25:56um momento que nos encante
01:25:58isso me encanta muito hoje
01:26:00mas se me convocar
01:26:02pra ser
01:26:04presidente da CBF eu volto
01:26:06o senhor volta?
01:26:08sem dúvida, futebol é uma coisa mágica
01:26:10e da liga volta?
01:26:12presidente da liga?
01:26:14não, não, o futebol é mágico
01:26:16eu ia te perguntar em algum momento do programa
01:26:18se em alguma ocasião
01:26:20você tinha se arrependido
01:26:22de tomar a decisão de ir pra CBF
01:26:24de participar da CBF
01:26:26o que passou pela cabeça?
01:26:28o meu eleitorado inteiro foi contra
01:26:30diante de tudo isso
01:26:32o Juca Kfouri me chamou de ladrão
01:26:34eu apanhei demais
01:26:36mas eu aprendi muito
01:26:38ou seja
01:26:40você gostaria que a gente promovesse
01:26:42um encontro seu com o Juca Kfouri
01:26:44pra ver o momento de perdão?
01:26:46não, não
01:26:48o Juca é muito complicado
01:26:50o Juca odeia a CBF
01:26:52quem entra lá não presta
01:26:54mas tudo bem
01:26:57mas eu diria o seguinte
01:27:03deixa eu só encerrar
01:27:05eu fui médico
01:27:07pra entender a vida e a morte
01:27:10eu fui político pra entender
01:27:13a sociedade e o poder
01:27:15mas eu fui dirigente de futebol
01:27:17pra entender as paixões
01:27:19e realmente a paixão pelo futebol
01:27:22é algo surpreendente
01:27:23então eu entendo os comentaristas
01:27:27jornalistas, o povo em geral
01:27:29que isso é mágico
01:27:31o futebol é mágico
01:27:33então não dá pra negar
01:27:35que toda essa experiência de vida
01:27:37o futebol tem um papel central
01:27:39não tenho nenhum arrependimento
01:27:41eu não roubei como o Juca falou
01:27:43eu não decepcionei o meu eleitorado
01:27:48porque continuei numa trilha
01:27:50numa canaleta que eu considero possível
01:27:53em qualquer lugar que você esteja
01:27:56mas se não for possível
01:27:58eu continuo feliz nas atividades
01:28:00que eu estou realizando
01:28:02Walter Feldman, essas aspas finais
01:28:04foram interessantes
01:28:06muito obrigado pela tua participação
01:28:08por topar o nosso convite
01:28:10e por contar muitas informações
01:28:12relevantes pra gente aqui também
01:28:14até a próxima
01:28:16muito obrigado, obrigado a todos
01:28:18Guedes, obrigado
01:28:20prazer estar aqui
01:28:21muito obrigado, um grande abraço
01:28:23obrigado, um abraço a todos
01:28:25gente, obrigado pela tua companhia e audiência
01:28:27nesta segunda-feira
01:28:29a gente se vê aqui ao longo da programação da Jovem Pan
01:28:31fiquem com Deus
01:28:35a opinião dos nossos comentaristas
01:28:37não reflete necessariamente
01:28:39a opinião do Grupo Jovem Pan de Comunicação