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  • 27/05/2025
No Direto ao Ponto, o ex-secretário-geral da CBF, Walter Feldman, analisa os motivos que levaram o futebol brasileiro a deixar de ser motivo de orgulho nacional. Ele fala sobre a transformação do esporte em negócio, os impactos da má gestão, o distanciamento dos torcedores e os desafios para recuperar a credibilidade da Seleção Brasileira.

Assista na íntegra: https://youtube.com/live/UYOYKocjXr8

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Transcrição
00:01Walter Feldman, é um prazer falar com você mais uma vez.
00:04A gente conversava muito naquela época do seu trabalho na CBF.
00:08O que aconteceu, na verdade, com a seleção brasileira?
00:12Você consegue identificar o momento em que a seleção perde aquela...
00:17Nós somos um pouquinho mais velhos. A gente lembra?
00:19A gente parava de fazer as coisas para ouvir a convocação.
00:21Hoje até aconteceu um pouquinho isso.
00:23Mas onde o Brasil deixou escapar essa ligação com o povo?
00:27Essa coisa de... A seleção para tudo.
00:30Hoje tem jogo que as pessoas nem sabem que existe.
00:33Eu acho, Flávio, que tem vários fatores aí.
00:36Primeiro porque o futebol mundial mudou.
00:39E o Brasil provavelmente não acompanhou a velocidade incrível, particularmente trazido pela Europa.
00:46E houve, pelos meios de comunicação, hoje o acesso a qualquer jogo de futebol,
00:50em qualquer lugar do mundo, perfeitamente possível e facilitado.
00:54Então, a sociedade brasileira, como a sociedade mundial, começou a acompanhar o futebol do mundo.
01:00Não apenas aquela informação que a gente tinha no nosso período, só com os Jogos do Brasil.
01:07E diretamente acompanhando aquilo que é, na minha avaliação, nosso maior patrimônio internacional,
01:13que é a seleção brasileira.
01:14Eu diria que o futebol foi o grande orgulho do Brasil.
01:18E hoje já não é mais. Nós ficamos um pouco no passado, na história, na lembrança,
01:24no resgate das memórias dos grandes jogadores, que ainda nós temos muito.
01:29E a culpa é de quem?
01:30Eu acho que tem vários fatores.
01:32Primeiro, a explotação precoce.
01:34A explotação precoce dos grandes jogadores brasileiros fez com que eles fossem perdendo características nossas,
01:42nossas, tropicais.
01:44Eles incorporaram muito as características lá da Europa.
01:47Então, a identificação desses jogadores conosco é uma identificação pelo seu nascimento,
01:55eventualmente pela sua origem, pela sua família.
01:57E na época da seleção.
01:57E na época só daquele momento.
02:00Ou seja, eles vêm para os Jogos, quando são convocados, e voltam imediatamente.
02:04E é evidente que essa relação, quando havia no passado, ela tinha uma dinâmica própria.
02:11Uma história de vida que fazia com que aquilo se refletisse no seu próprio desempenho em campo.
02:19E também a questão da tecnologia.
02:21Eu acho que nós trouxemos tecnologia.
02:23Hoje tem muito, do ponto de vista da força física, das transformações musculares.
02:29Hoje, algo que a neurofisiologia trouxe com muito avanço, as questões genéticas,
02:37que nós temos avanços também, mas eles não são comparáveis àquilo que existe lá fora.
02:43Há uma profissionalização no futebol mundial que, na minha opinião, o Brasil não acompanhou.
02:50As gestões, as administrações, particularmente dos clubes, não acompanharam a modernização
02:56que, particularmente, os times europeus também fizeram.
03:00E nós perdemos essa identidade social, popular, de acompanhamento da torcida.
03:07Já não existe mais, como o Flávio falou.
03:09Ou seja, não existe mais essa identificação.
03:13Existe uma identificação com clubes europeus, Real Madrid, Barcelona, os times ingleses,
03:19onde a própria criança já se identifica, às vezes, mais rapidamente do que o seu próprio time brasileiro.
03:26Victor Ketz.
03:27Prazer em entrevistar você, Walter Feldman.
03:29Estar com colegas aqui, que eu já dividi tantas coberturas e bancadas.
03:33Histórias que eu não vou contar aqui, para não cair a transmissão no ar.
03:37Acho que o Feldman já está acostumado com histórias, bastidores complicados.
03:41Você fez um cenário aí de alguns problemas do futebol brasileiro.
03:44Uma parte do problema, acho que não é culpa nossa e não tem solução.
03:47Que é a globalização e a economia.
03:48O futebol está inserido no contexto, a economia brasileira, o cenário brasileiro,
03:52vale para outras áreas, vale para o futebol.
03:55Mas o que cabe a cartolagem, a época que o Flávio citou, da Seleção Áurea, que eu era moleque ainda,
04:01os clubes não competiam com a Seleção Brasileira.
04:04Eram sócios da Seleção Brasileira.
04:06Eram orgulho para o Santista ter o Pelé, para o Botafoguense ter o Newton Santos,
04:10para o Corintiano ter o Rivelino, para o Colorado ter o Falcão.
04:13Até os anos 80, começo dos anos 80.
04:14A partir do momento que a Seleção prejudica o time que o cara torce apaixonado,
04:19tira o cara, devolve machucado, ou compete no mesmo dia com o jogo,
04:24você não acha que essa parte dava para a gente fazer melhor?
04:26Essa parte que cabe à nossa direção da CBF, dos clubes,
04:29não fazer a CBF ser concorrente dos clubes?
04:32Acho que esse é um problema que está no nosso alçado, no nosso guarda-chuva,
04:35e não é feito nada.
04:36Eu acho que esse é um tema muito interessante que, por exemplo,
04:40quando nós assumimos lá na direção da CBF, nós fizemos um grande debate nacional
04:47sobre todos os nossos problemas.
04:49Eu me lembro, nós fizemos uma comissão de reforma do futebol brasileiro,
04:54onde havia essa discussão das competições, papel da seleção, da arbitragem,
05:00da formação da juventude para poder trabalhar no futebol,
05:05e nós identificamos muito isso, realmente um conflito entre o interesse dos clubes
05:11e o interesse da seleção.
05:13Eu acho que nós não construímos isso ainda.
05:16O atual presidente da CBF, ao tomar posse, ele dá um primeiro sinal de redução dos estaduais.
05:21Eu me lembro, toda a imprensa brasileira defende que os estaduais sejam mais enxutos
05:28para que possa haver uma competição nacional de maior vigor, de maior presença,
05:35de tal forma que a gente reconhece que a maioria dos campeonatos estaduais perderam força.
05:41Ou seja, não há, muitas vezes, campeonatos estaduais que haja um interesse de transmissão,
05:47não há interesse econômico.
05:49O futebol é uma atividade empresarial.
05:51Se nós não compreendemos isso, a gente vai ter dificuldades em dar a dimensão
05:56como a Europa, particularmente, conseguiu,
05:59transformando como um fato de caráter econômico, de representação,
06:04inclusive no PIB dos países, muito relevante.
06:07Por exemplo, no Brasil, o PIB do futebol é 0,7 no máximo.
06:12Nós fizemos essa análise quando lá estivemos num trabalho juntamente com a Ernest Young.
06:18Na Europa, equivale a 2% do PIB desses países.
06:23Mais do que o dobro, né?
06:24Imagina o significado disso.
06:26A gente lutava para chegar a 1%, mas chegava a 0,7.
06:30Envolve 150 mil trabalhadores, envolve já bilhões,
06:36mas que a correspondência do PIB é bastante inferior.
06:39Então, eu acho que tem a questão de compreender a dimensão econômica
06:43e nós temos que reduzir, como você bem analisou,
06:48esse conflito entre seleção e clubes, que é fato.
06:52Antigamente, um jogador de um determinado clube ser convocado
06:56era um orgulho para o clube e dava uma dimensão na representação
07:01que tinha para o clube também.
07:03Hoje, pelo contrário.
07:04Você fica louco, pede para me chamar.
07:06Eu me lembro do Flamengo, do Palmeiras, quando lá estivemos
07:11discordando da convocação.
07:14Trabalhavam contra a convocação.
07:16Então, é relevante essa sua observação.
07:19Você acha que esse é um movimento também que acaba atingindo outros esportes?
07:21Porque quando a gente acompanha, vamos supor, os torneios internacionais
07:25relacionados a esportes como o voleibol, por exemplo,
07:28a gente tem visto vários jogadores mencionando que não vão participar da seleção.
07:33querem descansar a mente, querem descansar o corpo.
07:36A gente viu isso acontecer recentemente agora na convocação da seleção italiana.
07:40Aqui no Brasil também, alguns jogadores e jogadores já disseram
07:43que não vão participar, mesmo com sinalização dos técnicos.
07:46Você acredita que os jogadores hoje queiram focar mais na atuação nos clubes?
07:50Porque seriam os clubes nos quais os salários são pagos,
07:55os meses são vividos e para os quais a dedicação deveria ocorrer 100%?
07:59Eu não tenho a menor dúvida.
08:00Como aquele economista fala, o que decide muitas vezes é a economia.
08:06Ele é até meio agressivo, dizendo que é a economia estúpida.
08:10Para que a gente compreenda que, na verdade, a essência do sistema é econômico.
08:15Quando o jogador é convocado para a seleção brasileira,
08:18qual é o ganho do clube em relação a isso?
08:21Ele só tem perda, como você mesmo disse.
08:23Ele volta machucado, é um período onde o clube
08:26não tem os resultados financeiros desejados.
08:31E a CBF não paga por isso.
08:33Paga para o jogador.
08:35Mas o clube, evidentemente, que tem a sua perda.
08:38E o clube hoje, a gente acompanhou muito o fair play financeiro,
08:42as dificuldades de sobrevivência, as dívidas dos clubes
08:45são cada vez piores.
08:48Alguns deles insolúveis.
08:49A gente sabe disso a curto prazo.
08:51Então, é evidente que isso causa lesões econômicas
08:55em relação a qual o futebol não pode mais sobreviver.

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