No Direto ao Ponto, Walter Feldman revela os bastidores de sua demissão da CBF pelo então presidente Ednaldo Rodrigues. O ex-secretário-geral detalha desentendimentos internos, disputas de influência dentro da entidade, a relação com os clubes e os conflitos que marcaram sua saída da cúpula do futebol brasileiro.
Assista na íntegra: https://youtube.com/live/UYOYKocjXr8
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00:00O Feldman, recentemente a última decisão relacionada a Edinaldo Rodrigues
00:03teve como personagem principal Coronel Nunes, a partir da falsificação da assinatura dele naquela transição.
00:10Coronel Nunes, que também foi um personagem relevante na tua história e na tua saída da CBF.
00:16À luz do tempo, como é que você analisa este personagem?
00:19Um personagem, uma figura muito interessante, muito dócil, muito tranquila,
00:26que cumpriu um papel fundamental na impossibilidade do Marco Polo poder continuar presidindo a CBF naquele período.
00:37Foi exatamente a assunção do Coronel que fez com que o Rogério Caboclo se transformasse no CEO,
00:45que efetivamente tocou o dia a dia da CBF.
00:49O Coronel Nunes, quando disse dócil, é porque ele permitiu, sem nenhum tipo de constrangimento ou obstrução,
00:59nós desenvolvemos toda a política de construção de uma governança para a CBF.
01:05Então, eu diria que foi um período muito profícuo, muito substancial nas transformações que nós sonhávamos para aquele período.
01:14Ele sempre ajudou muito, mas ele já demonstrava dificuldades pessoais,
01:20sempre cuidado pelo doutor Pagura, que se transformou no diretor médico,
01:25e aos poucos revelando dificuldades.
01:27Na própria Copa da Rússia, que nós ficamos lá quase 30 dias,
01:35ele demonstrava já algumas dificuldades pela idade, pelo passado de trabalho dele e tal.
01:41Então, realmente, a eventual fraude que não foi levada à investigação final pode ter acontecido.
01:52Realmente, ele apresentava, já no nosso período, ele foi operado, ele teve uma cirurgia cerebral muito relevante.
02:01Com essa cirurgia, ele foi para a Rússia.
02:03E depois, evidentemente, quando você mexe no cérebro, há um desgaste, a idade e tal.
02:08Então, isso foi o fator, eu diria, historicamente desencadiante do fato do Edinaldo ter que sair na última fase.
02:18É muito provável que tenha acontecido isso, porque ele já apresentava muitas dificuldades.
02:23Mas o coronel, em nenhum momento, foi um impeditivo para que nós fizéssemos as mudanças necessárias.
02:31Apesar que ele foi quem me exonerou.
02:32Exatamente, foi ele quem te demitiu.
02:34Na verdade, quem me exonerou primeiro foi o Rogério.
02:37Nós tivemos um atrito naquela partida com o Equador, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
02:46Quando eu senti que o Rogério interferiu muito na entrada da seleção em campo, eu fiquei muito chateado com aquilo.
02:56Nossa, eu ia ter um atrito e eu disse para ele, naquele momento, que nós íamos trabalhar a diretoria para retirá-lo, porque nós não estávamos contentes com o posicionamento dele.
03:07Estou transformando tudo claramente aqui.
03:09Você vê que é tudo transparente.
03:11Esse espaço é para isso.
03:11Nós fizemos um documento da diretoria, deu entrada, ele foi retirado e o Rogério me exonerou.
03:22Mas ele já estava fora.
03:24Aí o coronel refaz, eu sou reabsorvido, mas depois, no momento que o Edinaldo entra, a primeira pessoa que ele retira sou eu.
03:33Houve um desgaste na sua relação com o coronel em si?
03:37Não, o coronel só atendeu.
03:38E eu vou contar um dado interessante aqui, que eu nunca falei também.
03:43Por que o Edinaldo me retirou?
03:46Qual foi o motivo?
03:47Porque até então a gente tinha relações institucionais, de uma certa fraternidade e tal.
03:54Mas, na nossa gestão, pela primeira vez, nós abrimos a CBF para os clubes.
04:03Porque havia uma sensação, o próprio Marco Polo já achava isso,
04:08Rogério também, de que não tinha sentido a CBF ser só das federações.
04:14Já que os clubes ocupam um papel destacado, fundamental no funcionamento do nosso futebol.
04:23Então, eu, como secretário-geral, passei a receber os clubes.
04:27Os clubes tiveram porta aberta, porta livre.
04:30E, na época, vocês devem lembrar, tinha um dirigente do Bahia muito qualificado,
04:38um dos mais qualificados, que era o Berintani.
04:40Muito bom, né?
04:41Muito qualificado.
04:43Já tinha tido experiência política e tal.
04:46E o Berintani demandava muito.
04:48E ele tinha uma liderança sobre os clubes.
04:51Porque ele tinha uma capacidade de intervenção e uma compreensão do funcionamento do futebol muito grande.
04:57Então, eu tinha uma relação muito forte com ele.
05:00E o Edinaldo era do Vitória.
05:04Aí, o Edinaldo, logo que o Rogério saiu, ele falou,
05:09olha, eu quero que você pare de atender os clubes.
05:12Não tem sentido.
05:13Isso daqui é uma instituição das federações.
05:15Eu falei, mas mudou essa realidade.
05:18Ou seja, a relação com os clubes é maravilhosa.
05:21E, realmente, era maravilhosa.
05:23A gente, tudo o que eles precisavam, linha direta e tal, a gente avisava as federações.
05:29Mas não precisava disso como era no passado.
05:33Houve uma grande transformação.
05:35Aí, o Edinaldo falou, olha, mas eu não gosto do tratamento que você dá para o Bahia.
05:39Você atende muito os clubes e tal.
05:41Eu falei, mas como é que eu...
05:44Foi a orientação que eu recebi aqui.
05:46A primeira oportunidade, quando ele assume, de forma interina, ele me exonera.
05:53A primeira decisão dele foi a minha exoneração.
05:56Vai lá, Flávio Prado.
05:57Já que você...
05:59Estou contando muita história aqui.
06:00Ótimo.
06:02A gente não esperava menos do que isso.
06:04A gente começa a entender como é que a coisa funciona.
06:07Você tinha muito contato com os clubes, você citou algumas vezes.
06:10Muito.
06:10E até onde eu sei, os clubes, eles cedem esse colégio eleitoral para as federações
06:17porque eles queriam o aval da CBF para se transformarem em ligas.
06:21E tem uma independência dependendo do aval da CBF para que a FIFA aceitasse essas ligas.
06:27E esse aval veio em troca das federações terem essa maioria no colégio eleitoral.
06:32Mas a liga não veio.
06:34Por que não veio?
06:36Questão de ego, questão de inteligência.
06:38O que acontece para que os clubes não consigam ter uma liga que os tornaria independente da CBF?
06:45Flávio, essa é uma questão muito importante.
06:47Eu acho que se os clubes tivessem unidade, nós teríamos uma outra realidade no futebol brasileiro.
06:55Mas não é fácil.
06:56Se juntar Flamengo, Corinthians...
06:59Eu vou citar esses dois, mas nós poderíamos citar muitos outros.
07:03Mas essa é uma das grandes contradições.
07:07Flamengo e Corinthians, eles são tão fortes, tão expressivos,
07:11que no momento que eles estiverem juntos, ajuda na conformação, na consertação
07:17dessa nova realidade que é a unidade dos clubes brasileiros.
07:22Eu vou contar outra história aqui, muito interessante.
07:25Uma das causas dramáticas do meu rompimento lá, quando o Rogério sai, o presidente do Palmeiras me liga,
07:35o Maurício...
07:36Gagliotti.
07:37Maurício Gagliotti, grande dirigente, fala o seguinte,
07:40Walter, nós estamos todos aqui no Rio, nós queremos ser recebidos na CBF.
07:48Falei, claro, aqui é a entidade dos clubes, por favor, tal.
07:52O Edinaldo e o Coronel foram contra.
07:59Falei, mas não é possível, nós temos que receber.
08:01Nós construímos uma relação com os clubes aqui maravilhosa.
08:04Durante seis anos, precisamos recebê-los.
08:09Foi uma crise grande.
08:11Nós os recebemos, mas sob protesto deles.
08:16Eu dizia que não era possível.
08:18Houve uma desinteligência naquele momento.
08:22Eles foram e eles, naquele momento, reivindicaram a Liga
08:26e reivindicaram a participação mais expressiva na eleição da CBF.
08:32Vocês devem lembrar disso.
08:38Aí o Edinaldo entra.
08:41Eles entregam esse documento, não há resposta.
08:47Era o grande momento da unidade, era o grande momento da transformação,
08:52porque com a saída do Rogério acontece uma crise, quase um vazio,
08:57porque não havia uma representação legítima.
08:59Era só institucional, algum vice assumiria, mas os clubes estavam muito fortalecidos.
09:04Eles entregam o documento, na hora que o Edinaldo assume, ele negocia não mudar o modelo de eleição da CBF
09:16e aceitação da Liga.
09:19Vocês lembram disso?
09:20Perfeito.
09:20Então, houve pela primeira vez uma liberação da Liga,
09:26perdendo a possibilidade de ter um papel ponderado mais adequado na eleição da CBF.
09:33Foi uma negociação.
09:34Eu já estava fora aí.
09:35É ótima.
09:36Era ótima.
09:37Era ótimo.
09:40E aí os clubes começaram a discutir a formatação da Liga.
09:44E aí não construíram a unidade.
09:46Então, isso foi um problema dos clubes.
09:49Eles perderam a força na CBF e não fizeram a Liga.
09:53Exatamente.
09:54Perderam a oportunidade de fazer a grande transformação,
09:57porque a CBF estava muito enfraquecida,
09:59tanto que a direção não queria recebê-los.
10:03Foi o meu conflito.
10:04Por temor de exposição mesmo.
10:05Por temor de exposição.
10:07Disseram, como é que a gente vai receber no momento de crise como nós estamos vivendo?
10:11E eu dizia o que?
10:12Esse é o melhor momento.
10:13E os clubes não conseguiram fazer essa leitura?
10:15Não conseguiram.
10:15Entregaram o documento, não fizeram a leitura, não negociaram adequadamente.
10:21Quando tiveram uma abertura para a Liga, não conseguiram formatar.
10:25E continua essa coisa do ego, quando os clubes fazem essa cascata de assinar um documento contrário,
10:33essa aposta da Liga e tal.
10:35Ontem, na reunião dos clubes, na hora de votar, três que assinaram aquele manifesto já estavam lá votando.
10:41O Santos, o Operário e mais um, Cruzeiro.
10:46Cruzeiro.
10:47Ou seja, eles assinaram alguns dias e já estavam lá, já romperam aquilo que eles assinaram.
10:54E a Leila, desde o começo, falou, eu não vou assinar e estava lá.
10:58Pelo menos ela foi coerente.
10:59Ou seja...
11:00Ela foi desde o início.
11:01Nem aquilo que eles assinam, eles compram.
11:03É impressionante.
11:05Existe algo que é um temor da CBF.
11:11Muito grande.
11:13Baseado um pouco no medo da arbitragem.
11:16Sim, vou falar isso.
11:17Isso é um dado muito importante.
11:18Há um sentimento nos clubes de que a CBF é capaz de manipular a arbitragem.
11:26O torcedor, com certeza, há também.
11:28Não, seguramente.
11:29E alguns clubes têm essa...
11:31Agora, eu vou dizer, eu nunca vivi essa realidade.
11:36Nunca viu em nenhum momento?
11:37Em nenhum momento.
11:38Ou seja, eu diria que é um temor interno, mas que não se constada na realidade.
11:45O Mário Gobbi, filho, presidente do Corinthians, e Mesquita, presidente de São Paulo,
11:51abertamente disseram que ganharam libertadoras porque tinham boa relação com o Comebol.
11:56É uma coisa...
11:56Não vamos perder por isso.
11:58Não foi...
11:59Isso é dito...
12:01É.
12:01Dito abertamente, né?
12:03É...
12:03Eu acho que é...
12:04É.
12:05O medo existe.
12:06Se tem causa real, mas que essa temor...
12:11E a CBF não faz questão de acabar com esse medo, né?