No Direto ao Ponto, o ex-secretário geral da CBF, Walter Feldman, comenta a escolha de Carlo Ancelotti para comandar a Seleção Brasileira e analisa os nomes convocados. Ele também compartilha bastidores da gestão na CBF e faz comparações com técnicos brasileiros, como Filipe Luís e Tite.
Assista na íntegra: https://youtube.com/live/UYOYKocjXr8
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal: https://www.youtube.com/@jovempannews/
00:00Feldman, aproveitando sua presença aqui nesta segunda-feira, te pergunto que mensagem você acredita que o novo técnico da Seleção Brasileira passou ao anunciar os convocados hoje? Boa noite.
00:10Boa noite. Muito boa, né? Primeiro porque tem um histórico incrível, Ancelotti, no seu desempenho lá no Real Madrid, na Europa, e é um fato novo, que a Seleção Brasileira é um fato que deu uma nova esperança,
00:24que resgate um histórico incrível que todos nós brasileiros temos muito orgulho e que nos últimos tempos foi um descalabro total em termos de resultado, de vitórias, de competições, ganhas.
00:38O Celotti é uma novidade, eu particularmente gostaria que fosse um outro técnico brasileiro, acho que Seleção, futebol, está muito ligado à cultura e questões relacionadas à nacionalidade.
00:50Felipe Luiz, meu nome é o Felipe Luiz, eu convi com ele na Seleção, além de ser...
00:55Você estava olhando os rostos aqui, as expressões dos nossos amigos para ver se eles aprovam.
00:59Não, provavelmente não, porque... mas ele já foi tentado, inclusive, já foi convidado, mas eu acompanhei a performance dele como membro da Seleção Brasileira,
01:11seu papel de liderança, logo em seguida ele vai à CBF dizendo que ele queria fazer o curso de técnico,
01:19ou seja, alguém que tinha uma previsão e um planejamento em relação à sua própria carreira, resultados extraordinários no comando do Flamengo.
01:28Eu acho que ele teria uma identidade muito grande com os jogadores do Brasil, com compreensão em campo, com visão estratégica,
01:37eu acho que seria um grande nome para o Brasil.
01:40Nessa edição a gente vai ter participações também do nosso repórter no Rio de Janeiro, Rodrigo Viga.
01:44Ele tem uma pergunta, vai lá, Viga.
01:45Doutor Feldman, conversando com torcedores, pessoas que não são efetivamente ligadas ao mundo do futebol,
01:53todos dizem o seguinte, que técnico de seleção brasileira não tem autonomia para fazer a lista de convocados
01:57para um jogo, para uma eliminatória ou para uma Copa do Mundo.
02:00É verdade que essa lista já vem semipronta para o treinador na hora dele fazer a convocação?
02:06Olha, eu quero falar com toda a segurança, isso não existe.
02:11É claro que tem toda uma desconfiança do papel dos empresários, de uma pressão do ponto de vista empresarial,
02:20comercial, econômico, para que alguns jogadores sejam convocados.
02:24Mas existe um trabalho que eu acompanhei muito na época do Tite, de avaliação dinâmica e permanente
02:32da situação de cada jogador em cada momento.
02:38São dados técnicos, são indicadores que revelam a probabilidade daquele jogador,
02:45naquele momento, poder ser convocado para a seleção.
02:48Isso é feito pela comissão técnica, portanto, tem uma visão coletiva que impediria que, independente disso,
02:57por fora, alguém pudesse influenciar para vir um nome diferente do que aqueles que estão sendo avaliados.
03:04Então, não há perda de autonomia no período que eu vivi do técnico da seleção brasileira
03:10para fazer diretamente a sua convocação.
03:13Flávio Prado.
03:14Walter Feldman, é um prazer falar com você mais uma vez.
03:18A gente conversava muito naquela época do seu trabalho na CBF.
03:23O que aconteceu, na verdade, com a seleção brasileira?
03:26Você consegue identificar o momento em que a seleção perde aquela...
03:31Nós somos um pouquinho mais velhos.
03:32A gente lembra, a gente parava de fazer as coisas para ouvir a convocação.
03:36Hoje até aconteceu um pouquinho isso.
03:37Mas onde o Brasil deixou escapar essa ligação com o povo?
03:42Essa coisa de a seleção para tudo?
03:44Hoje tem jogo que as pessoas nem sabem que existe.
03:47Eu acho, Flávio, que tem vários fatores aí.
03:50Primeiro, porque o futebol mundial mudou.
03:53E o Brasil provavelmente não acompanhou a velocidade incrível, particularmente, trazido pela Europa.
03:59E houve, pelos meios de comunicação, hoje o acesso a qualquer jogo de futebol, em qualquer lugar do mundo, é perfeitamente possível e facilitado.
04:09Então, a sociedade brasileira, como a sociedade mundial, começou a acompanhar o futebol do mundo.
04:15Não apenas aquela informação que a gente tinha no nosso período, só com os jogos do Brasil.
04:21E diretamente acompanhando aquilo que é, na minha avaliação, o nosso maior patrimônio internacional, que é a seleção brasileira.
04:28Eu diria que o futebol foi o grande orgulho do Brasil.
04:33Hoje já não é mais.
04:34Nós ficamos um pouco no passado, na história, na lembrança, no resgate das memórias dos grandes jogadores, que ainda nós temos muito.
04:43E a culpa é de quem?
04:44Eu acho que tem vários fatores.
04:46Primeiro, a explotação precoce.
04:48A explotação precoce dos grandes jogadores brasileiros fez com que eles fossem perdendo características nossas, tropicais.
04:59Eles incorporaram muito as características lá da Europa.
05:02Então, a identificação desses jogadores conosco é uma identificação pelo seu nascimento, eventualmente pela sua origem, pela sua família.
05:12E na época só daquele momento.
05:14Ou seja, eles vêm para os jogos, quando são convocados, e voltam imediatamente.
05:19E é evidente que essa relação, quando havia no passado, ela tinha uma dinâmica própria, uma história de vida que fazia com que aquilo se refletisse no seu próprio desempenho em campo.
05:32E também a questão da tecnologia.
05:34Eu acho que nós trouxemos tecnologia, hoje tem muito, do ponto de vista da força física, das transformações musculares.
05:44Hoje, algo que a neurofisiologia trouxe com muito avanço, as questões genéticas, que nós temos avanços também, mas eles não são comparáveis àquilo que existe lá fora.
05:57Há uma profissionalização no futebol mundial que, na minha opinião, o Brasil não acompanhou.
06:04As gestões, as administrações, particularmente dos clubes, não acompanharam a modernização que, particularmente, os times europeus também fizeram.
06:15E nós perdemos essa identidade social, popular, de acompanhamento da torcida.
06:21Já não existe mais, como o Flávio falou, ou seja, não existe mais essa identificação.
06:27Existe uma identificação com clubes europeus, Real Madrid, Barcelona, os times ingleses,
06:33onde a própria criança já se identifica, às vezes, mais rapidamente do que o seu próprio time brasileiro.
06:41Victor Guedes, prazer em entrevistar você, Walter Feldman.
06:44Estar com colegas, que eu já dividi tantas coberturas e bancadas, histórias que eu não vou contar aqui, para não cair a transmissão no ar.
06:50Acho que o Feldman já está acostumado com histórias, bastidores complicados.
06:55Você fez um cenário aí de alguns problemas do futebol brasileiro.
06:58Uma parte do problema, acho que não é culpa nossa e não tem solução, que é a globalização e a economia.
07:02O futebol está inserido no contexto, economia brasileira, cenário brasileiro, vale para outras áreas, vale para o futebol.
07:09Mas o que cabe a cartolagem, a época que o Flávio citou, da Seleção Áurea, que eu era moleque ainda,
07:15os clubes não competiam com a Seleção Brasileira, eram sócios da Seleção Brasileira.
07:20Era orgulho para o Santista ter o Pelé, para o Botafoguense ter o Newton Santos, para o Corintiano ter o Rivelino,
07:26para o Colorado ter o Falcão, até os anos 80, começo dos anos 80.
07:29A partir do momento que a Seleção prejudica o time que o cara torce apaixonado,
07:33tira o cara, devolve machucado, ou compete no mesmo dia com o jogo,
07:38você não acha que essa parte dava para a gente fazer melhor?
07:40Agora, essa parte que cabe à nossa direção da CBF e dos clubes, não fazer a CBF ser concorrente dos clubes?
07:46Acho que esse é um problema que está no nosso alçado, no nosso guarda-chuva e não é feito nada.
07:51Eu acho que esse é um tema muito interessante que, por exemplo,
07:54quando nós assumimos lá na direção da CBF, nós fizemos um grande debate nacional sobre todos os nossos problemas.
08:04Eu me lembro, nós fizemos uma comissão de reforma do futebol brasileiro,
08:07onde havia essa discussão das competições, papel da Seleção, da arbitragem, da formação da juventude
08:17para poder trabalhar no futebol, e nós identificamos muito isso,
08:22realmente um conflito entre o interesse dos clubes e o interesse da Seleção.
08:27Eu acho que nós não construímos isso ainda.
08:30O atual presidente da CBF, ao tomar posse, ele dá um primeiro sinal de redução dos estaduais.
08:36Eu me lembro, toda a imprensa brasileira defende que os estaduais sejam mais enxutos
08:42para que possa haver uma competição nacional de maior vigor, de maior presença,
08:49de tal forma que a gente reconhece que a maioria dos campeonatos estaduais perderam força.
08:56Ou seja, não há muitas vezes campeonatos estaduais que haja um interesse de transmissão,
09:02não há interesse econômico.
09:03Porque o futebol é uma atividade empresarial.
09:06Se nós não compreendemos isso, a gente vai ter dificuldades em dar a dimensão
09:10como a Europa particularmente conseguiu, transformando como um fato de caráter econômico,
09:18de representação, inclusive no PIB dos países, muito relevante.
09:22Por exemplo, no Brasil, o PIB do futebol é 0,7 no máximo.
09:26Nós fizemos essa análise quando lá estivemos num trabalho juntamente com a Ernest Young.
09:33Na Europa, equivale a 2% do PIB desses países.
09:38Mais do que o dobro, né?
09:38Imagina o significado disso.
09:40A gente lutava para chegar a 1%, mas chegava a 0,7.
09:44Envolve 150 mil trabalhadores, envolve já bilhões,
09:50mas que a correspondência do PIB é bastante inferior.
09:53Então, eu acho que tem a questão de compreender a dimensão econômica
09:58e nós temos que reduzir, como você bem analisou,
10:02esse conflito entre seleção e clubes que é fato.
10:05Antigamente, um jogador de um determinado clube ser convocado
10:11era um orgulho para o clube e dava uma dimensão na representação que tinha para o clube também.
10:17Hoje, pelo contrário.
10:19Precisa ficar louco, pede para me chamar.
10:20Eu me lembro do Flamengo, do Palmeiras,
10:24quando lá estivemos discordando da convocação.