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As cerâmicas de Icoaraci são conhecidas e reconhecidas por suas características e história. O polo cerâmico do distrito de Belém possui dezenas de olarias que produzem diariamente todos os tipos de peças. O setor com alta capacidade de se reinventar mostra que é possível manter a tradição e a história aliada às novas referências do mundo, da arte, do design e da arquitetura.

Reportagem: Vito Gemaque
Imagens: Thiago Gomes
Edição: Bia Rodrigues (supervisão: Tarso Sarraf)

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Transcrição
00:00A cerâmica começou na humanidade com o domínio do homem sob o fogo.
00:07Porque para se fazer cerâmica precisa dos quatro elementos da natureza.
00:10E a terra, que é uma matéria-prima, que misturada com água, ela se torna moldada.
00:14Aí você dá a forma que quer e depois essa água é retirada e ela passa por um processo de queima
00:18que transforma essa argila em cerâmica.
00:23E ela acontece em todo o planeta, desde as mais tradicionais com a cerâmica japonesa
00:29até as cerâmicas feitas pelas antigas comunidades que habitavam aqui a nossa região.
00:35Então a nossa cerâmica, diversificamente, é uma cerâmica que é própria daqui de Coraci.
00:42Começou utilitária e depois foi incorporado a ela os grafismos de culturas regionais
00:49que tornaram ela o que a gente conhece como cerâmica de Coraci.
00:53A cerâmica de Coraci é uma fusão entre a cerâmica europeia, feita pelos colonizadores,
01:04pelo menos há um século e meio, e na qual foi introduzida a questão da iconografia das culturas locais.
01:13E a partir desse encontro dessas duas cerâmicas, ela foi lentamente sendo modificada,
01:20incorporando outros elementos, mudando, criando outros tipos de peças.
01:26E esse mosaico de toda forma é o que hoje nós conhecemos como a cerâmica icoraciense,
01:31que até pouco tempo o pessoal falava cerâmica marajoara,
01:35mas que agora a gente tenta reparar essa questão que na verdade não é verdadeira.
01:42A cerâmica que é produzida aqui é uma cerâmica icoraciense, não marajoara.
01:46A nossa cerâmica eu definiria como uma cerâmica contemporânea,
01:50mas que guarda elementos da cultura como uma maneira de preservar e respeitar a tradição.
01:56Eu acho que o barro, a matéria-prima de maneira geral,
01:59ela é uma matéria-prima que é muito rica de você trabalhar.
02:01Infelizmente a gente fala muito pouco sobre as propriedades dela, né?
02:05Mas o barro, ele tem propriedade medicinal, ele é meio construído,
02:09você consegue fazer diversas coisas.
02:11Acho que o barro é uma das tecnologias mais investigadas pela humanidade.
02:15No processo da arte cerâmica, que é o que a gente faz aqui no bairro,
02:19ele também tem uma infinidade de possibilidades,
02:22que é tudo aquilo que você enquanto pessoa, enquanto artista, consegue criar, né?
02:27Assim, a gente faz esse trabalho,
02:30mas eu acho que cada vez mais artistas se reconhecendo enquanto artistas,
02:35e não só enquanto reprodutores de uma arte,
02:38para a gente é importante porque firma e engrossa esse caldo de artistas locais, né?
02:43Daqui do território.
02:44A gente, às vezes, vê um grafismo, acho bonito, reconhece,
02:48não sabe exatamente do que se trata,
02:50mas a gente, de alguma maneira, se conecta com ele,
02:53porque a ancestralidade é isso.
02:55Você não traduz, mas você sente.
02:56E aí, você ter um polo produtivo de arte cerâmica
03:00na região metropolitana, que é tão pertinho do centro da cidade,
03:04é um presente muito grande para quem é paraense,
03:07porque você consegue, de fato,
03:08conhecer um pouco mais das histórias dos povos originários
03:11que habitaram, por exemplo, aqui na nossa região,
03:14e conseguir fazer diversos links com a cosmovisão mesmo daquele povo
03:19e o quanto que eles viviam em comunhão com a Amazônia,
03:23que é uma floresta plantada, por exemplo.
03:25A Amazônia é grandiosa dessa maneira,
03:27graças ao manejo desse povo,
03:29dessa relação mesmo muito estreita de homem e natureza.
03:33Na verdade, não tem homem e natureza,
03:34só natureza e natureza.
03:36Ao longo dos anos,
03:37a gente vem sempre acompanhando a questão da cerâmica
03:40e trabalhando com ela,
03:41a gente percebe muito da parte do artesão
03:44uma fala sobre a questão de precisar,
03:50de ajuda, de políticas públicas,
03:55eu entendo que sim, a gente precisa de políticas públicas,
03:59mas é preciso também que nós façamos a nossa parte,
04:03que a gente possa se unir,
04:05a gente percebe um pouquinho de individualidade
04:07na categoria do artesanato.
04:11Então, eu acho que para ter mais ou menos
04:14um desenvolvimento pleno e duradouro da cerâmica,
04:18é preciso, primeiro, que se crie mão de obra qualificada,
04:22porque hoje em dia a gente tem muita dificuldade de conseguir
04:24e os mestres já estão parando,
04:28alguns já morreram, muitos já morreram,
04:29alguns já estão bem idosos assim,
04:32precisaria que a juventude assumisse isso daí.
04:34Então, eu acho que essas são as duas questões,
04:36é a unidade quanto categoria
04:38e formação, criar política pública
04:41por formação de mão de obra.
04:43A gente foi um dia desse lá,
04:44como eu falei, a gente estava aí em Rúnia,
04:46e lá a gente tem o Instituto da Cerâmica,
04:48então, alunos da rede pública
04:50são incentivados
04:51e fazem um curso de cerâmica,
04:55que dura um ano,
04:56e lá o que a gente percebeu,
04:57a maioria dos ceramistas são todos jovens,
05:01sabe?
05:01E aqui a gente vai ver a maioria de ceramistas
05:03subjetão,
05:05já estão conversando na faixa etária já.
05:08Então, eu acho que esses são dois pontos assim,
05:10além, é claro, de outros,
05:13que poderia, que a gente pode fazer
05:15para que agora se floresça novamente
05:17com um pólo de cerâmica.

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