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  • 10/07/2025
O cientista político Houssein Kalout analisa a decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros. Em entrevista, ele classifica a medida como uma forma de “bullying diplomático” e comenta os possíveis desdobramentos nas relações entre os dois países.
Apresentador: David de Tarso
Entrevistado: Houssein Kalout

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Transcrição
00:00Ainda repercutindo também toda essa crise gerada com os anúncios do presidente americano, né?
00:04Porque tem crise em relação ao NSS, esses descontos indevidos,
00:08também essa que foi instalada desde ontem, bombando, né?
00:12Aí na internet, todas as repercussões, e claro que deve trazer também efeitos aqui ao Brasil.
00:18Inclusive, o dólar, a gente acordou hoje com o dólar batendo aí a R$ 5,62
00:23após o Trump anunciar, então, essas tarifas de 50% dos produtos brasileiros.
00:27Vamos conversar com o cientista político, pós-doutor em Direito Internacional,
00:31José Calhóite, desculpa se eu errei a expressão do seu nome,
00:36mas para repercutir essa questão e todos os avanços que a gente deve ter daqui para frente.
00:41Muito bom dia.
00:43Muito bom dia, é um prazer estar com vocês e agradeço o convite.
00:49Errei na expressão ou não, na pronúncia?
00:52É, Calhute.
00:54Calhute.
00:54Então, vamos lá, quais os próximos passos daqui para frente?
00:59Porque o presidente Lula disse que vai já usar a lei de retaliação.
01:03O que a gente deve esperar diante de toda essa crise desde ontem?
01:08Bom, vamos lá, vamos constatar o que está acontecendo.
01:11Eu acho que a tomada de...
01:15A carta do presidente Trump, ela é totalmente heterodoxa, inusual,
01:21é sem precedente no trato das tarefas de Estado com um país amigo.
01:29O Brasil não é um país hostil aos Estados Unidos,
01:34ainda que você tenha um governo dos contornos do governo atual, como o governo Lula.
01:40As relações comerciais são relações produtivas.
01:43Os Estados Unidos têm um superávit na balança comercial,
01:47um superávit sólido, consistente.
01:49Nos últimos 10 anos, é um superávit que está acima dos 300 bilhões de dólares.
01:55São superávit 410 bilhões de dólares.
01:58É um superávit considerável.
02:03Então, essa imposição tarifária, me parece que ela está totalmente descompassada
02:11com a natureza das relações.
02:13Segundo aspecto, eu diria que trata-se de um bullying diplomático fora de compasso.
02:23Isso é um bullying, é um processo de extorsão.
02:27É um processo, além de extorsão, de coerção e de intimidação comercial,
02:34da forma como foi expressado na carta.
02:37E há uma utilização de um processo político,
02:42ele instrumentaliza o processo político para efetuar uma imposição tarifária
02:49totalmente descompassada.
02:53Usando informações, inclusive, falsas.
02:57De que o Brasil teria prejudicado o comércio,
03:03ou os benefícios comerciais que os Estados Unidos teriam.
03:09Isso não reflete a realidade nos últimos 10 anos.
03:13Então, não é verdade.
03:16Durante o governo dele anterior,
03:19os Estados Unidos tinham superávit na balança comercial com o Brasil.
03:23Entende?
03:24Então, há um anarquismo tarifário.
03:28E aí, a carta é tão intimidatória
03:33que chega ao ponto em que, basicamente,
03:38o que ele afirma é que, se o Brasil pensar em retalhar,
03:41ele já pretende contra-retalhar.
03:46Quer dizer,
03:49isso é inaceitável.
03:50Os termos da carta são inaceitáveis para um país soberano,
03:53para um país independente,
03:57para um país que tem autodeterminação,
03:59que não tomou iniciativa de efetuar uma declaração de guerra,
04:04porque a carta é praticamente uma declaração de guerra camuflada.
04:07Só não está havendo uma intervenção armada,
04:10mas, basicamente,
04:12após essa carta, o limite é uma intervenção armada.
04:15Ela totalmente contraria os princípios
04:18do direito internacional em matéria comercial.
04:21Quer dizer, se a OMC está imobilizada
04:26por causa do governo americano,
04:28se o Brasil for a OMC,
04:30o Brasil ganharia todos os painéis de arbitragens
04:32contra o governo americano.
04:35Entende?
04:36Então, porque há violações comerciais
04:38na forma como está se colocando.
04:39Então, só para a gente enquadrar,
04:42para eu enquadrar isso direito,
04:45sobre o que nós estamos discutindo,
04:47o Brasil tem mecanismos para retalhar.
04:50O Brasil importa, objetivamente, rolando.
04:52O que o Brasil pode fazer?
04:54Primeiro, o Brasil vai tomar uma decisão muito prudente,
04:57muito equilibrada e muito balanceada.
05:00O Brasil não vai reagir de forma irracional.
05:05Vai reagir de forma calculada.
05:07vai reagir mensurando os impactos
05:14sobre o setor empresarial
05:16de forma, digamos, multidimensional.
05:21E o Brasil está coordenando
05:23essa resposta com os setores empresariais.
05:27Todos eles.
05:28Então, para concluir,
05:32o Brasil importa basicamente
05:34minério e derivados de petróleo.
05:38O Brasil tem como substituir essa importação.
05:42O Brasil tem como substituir essa importação.
05:46E o Brasil, que exporta para os Estados Unidos,
05:49pode procurar outros mercados para escoar.
05:52Vai doer?
05:53Claro que vai doer.
05:54Vai ser complicado?
05:55Claro que vai ser complicado.
05:58E o Brasil pode tributar
05:59dividendos e lucros americanos no Brasil.
06:02Então, o Brasil tem mecanismos
06:04e o Brasil pode revogar patentes farmacêuticos
06:07de empresas americanas aqui.
06:10E isso vai doer muito.
06:12Entendeu?
06:14Nas empresas americanas,
06:16que vão para cima do Trump.
06:18Tem esse aspecto justamente, né?
06:20Porque se você aplica a lei da reciprocidade,
06:23então você encarece também
06:24os produtos americanos aqui no Brasil.
06:26Por exemplo, o celular,
06:27que hoje todo mundo quase utiliza
06:30um celular americano.
06:32Ou é da China,
06:33ou vem dos Estados Unidos.
06:35Tem produtos que podem ficar mais caros também.
06:37Porque no final das contas,
06:38quem vai pagar são os brasileiros.
06:40Então, tem algumas medidas
06:41que você precisa ver também economicamente
06:42se elas são viáveis
06:43você aplicar essa reciprocidade.
06:46Ou não, você trouxe aspectos importantes.
06:47Tem outros também relacionados ao agronegócio,
06:49que aí pode encarecer também alguns custos.
06:51Porque até a empresa brasileira,
06:53a indústria brasileira,
06:54desenvolver tecnologia
06:56que vem dos Estados Unidos,
06:57isso leva tempo.
06:58Não é uma questão assim, rápida.
06:59Ó, passe de mágica, né?
07:02Não.
07:03Eu concordo que em matéria tecnológica
07:05não somos dependentes,
07:06não há dúvida.
07:07Eu não estou dizendo que
07:09o processo de retaliação
07:12não vem com custo, né?
07:14Mas há como reciprocar
07:18em setores específicos, tá?
07:21Por exemplo, no campo farmacêutico, sim.
07:23Na tributação de dividendos, sim.
07:29Aí tem que ver se haverá contra-resposta.
07:32Por isso que você tem uma margem aí de 20 dias
07:34em que cada um vai testar a flexibilidade tática do outro
07:38e para ver qual é o meu termo que pode se encontrar.
07:42Entende?
07:43Então, por exemplo,
07:44vou dar um exemplo muito concreto.
07:46Os americanos importam 90% do neóbio
07:49produzido no Brasil.
07:5290%.
07:52Isso vai para onde?
07:54Você sabe?
07:55Para o setor aeroespacial
07:56e para a indústria bélica.
07:58Produção de armas.
08:01Isso é vital para os Estados Unidos.
08:04Tá?
08:05Então, se o Brasil decidir
08:06não exportar mais neóbio,
08:07que nem a China decidiu
08:08não exportar mais terras raras,
08:11os americanos tentaram
08:11para conversar com os chineses.
08:13Claro que o nível,
08:14o leverage do Brasil é menor
08:15do que a da China.
08:16Mas, se o Brasil tomar essa decisão,
08:19isso tem profundo impacto
08:22sobre o setor aeroespacial americano
08:23e o complexo industrial bélico americano.
08:26eles vão ter que procurar
08:28outro mercado para importar neóbio.
08:30E não tem muitos países
08:32produtores de neóbio
08:33para exportar para os Estados Unidos.
08:36Entendeu?
08:36Então, essa é uma medida
08:37retaliatória estratégica
08:38que o Brasil pode utilizar.
08:41Em termos de exportação,
08:43por exemplo,
08:44de agro...
08:44de produtos agrícolas.
08:46Bom, o Brasil
08:47exporta muito pouco
08:49produtos agrícolas
08:50e eles têm um mercado
08:51muito protecionista.
08:52Então,
08:55o Brasil exporta
08:56sua produção agrícola
08:57para a Ásia,
08:58ou para o Oriente Médio,
08:59para outros lugares.
09:00Esse mercado é muito
09:01restrito para nós.
09:03Então,
09:04me parece,
09:06e dá outro termo na carta
09:08que é muito preocupante,
09:10é que o Trump
09:11oferece ao Brasil o quê?
09:13Em troca de ele não aplicar
09:14uma tarifa de 50%,
09:16ele considera
09:19não aplicar essa tarifa
09:20se o Brasil tomar a decisão
09:22de efetuar uma abertura
09:23de mercado,
09:25revogar todas as barreiras
09:26tarifárias
09:27e todas as regras
09:28regulatórias.
09:31Bom,
09:32aí,
09:33meu caro,
09:34as empresas brasileiras
09:35todas vão quebrar.
09:38Por quê?
09:39Isso significa
09:39que todas as empresas
09:40americanas
09:41vão entrar no mercado
09:42brasileiro
09:43e vão se instalar.
09:45Ou as empresas,
09:46todos os setores
09:47vão praticamente
09:49quebrar.
09:50Por quê?
09:50Porque elas não estão
09:51preparadas para competir.
09:53Então,
09:53a abertura de mercado,
09:54eu,
09:54quando fui secretário
09:55de Assuntos Estratégicos
09:56do governo
09:58do presidente Temer,
10:00tá?
10:00Eu fui secretário
10:02especial de Assuntos
10:02do governo Temer,
10:04nós discutimos
10:05a abertura de mercado.
10:06Eu trabalhei junto
10:07com o ministro da Fazenda,
10:10Henrique Meirelles,
10:11e depois,
10:11especialmente,
10:12com o Eduardo Guardia,
10:14meu amigo
10:14que faleceu,
10:16nós trabalhamos,
10:17discutimos
10:17e fizemos
10:18parte
10:19da abertura comercial.
10:21Só que a abertura comercial
10:23leva tempo.
10:24Você tem que fazer ela
10:25de forma gradual
10:26e setorial.
10:27Você não pode fazer ela
10:28de forma bruta.
10:30Entende?
10:30Porque os setores
10:31precisam se preparar
10:32para isso.
10:34Claro,
10:34eu reconheço
10:35que o nosso mercado
10:36é fechado.
10:37Entende?
10:38Agora,
10:38o que ele quer
10:39é que o Brasil
10:39faça isso,
10:40praticamente
10:45de forma imediata.
10:47E não há viabilidade
10:48a fazer.
10:49Não há como fazer isso.
10:51Entende?
10:51E essa análise
10:52é justamente
10:53o que o governo
10:53deve fazer.
10:54Isso gera o quarto emprego
10:54tremendo.
10:56Sem dúvida.
10:57Bom,
10:58a gente vai seguir,
10:58claro,
10:59repercutindo.
10:59Muito obrigado
11:00pela sua participação
11:01aqui,
11:01você,
11:02ele que teve
11:03os esclarecimentos
11:03relacionados a essa crise
11:05em relação ao Donald Trump.
11:06Agradeço demais
11:07a sua presença
11:07aqui no Morning Show.
11:08Muito obrigado,
11:10é um prazer estar com vocês.

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