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Transcrição
00:00:00De conversa boa, todo mundo quer participar, o antagonista também.
00:00:07Nossa equipe recebe convidados especiais para um bate-papo leve e divertido sobre as experiências de cada um.
00:00:15Podcast O.A. Conversa boa de ver e ouvir.
00:00:22Salve, salve! Eu sou Felipe Moura Brasil. Sejam todos bem-vindos a mais um episódio do Podcast O.A.
00:00:27O primeiro gravado em 2025. A gente já teve um exibido em 2025, mas que tinha sido gravado no final de 2024.
00:00:35Teve um intervalinho de três semanas, que foi essa virada do ano para a gente engatar muita gente de férias.
00:00:41Inclusive, até difícil de trazer convidado aqui presencialmente ao estúdio, mas agora a gente vai fazer...
00:00:47A gente vai voltar a fazer o Podcast O.A. toda segunda, sendo exibido no canal de YouTube de O Antagonista às 19h30.
00:00:53E hoje tem um episódio especialíssimo, é, com o convidado que você vai ver agora aqui na nossa Câmera Geral,
00:01:01o Bruno Brandão da Transparência Internacional Brasil, que tem apontado corrupção, tem apontado impunidade,
00:01:08tem sofrido as retaliações que nós, jornalistas independentes e vigilantes, sabemos muito bem como são.
00:01:15E eu tenho a honra de recebê-lo presencialmente. Salve, Bruno. Tudo bem?
00:01:18Tudo bem. Obrigado pelo convite, Felipe. É um prazer estar aqui.
00:01:21Prazer é nosso. Muito bem. A gente fez uma capa da Cruzoé, faz algum tempo, eu pedi para a produção colocar na tela,
00:01:28a história da fake news contra a transparência internacional.
00:01:31Como a narrativa foi plantada, vazada, refutada e requentada na PGR e no STF, para retaliar a ONG anticorrupção.
00:01:40Eu escrevi essa matéria de capa e a revista também trouxe uma entrevista que eu fiz com você,
00:01:47não presencialmente, naquela ocasião, e destacou ali na capa uma fala sua.
00:01:52Quanto mais tentam nos calar à força, mais certeza nos dão da importância do nosso trabalho.
00:02:00Muito bem. Oito meses depois dessa matéria de capa assinada por mim na Cruzoé,
00:02:06a PreGR, a Procuradoria-Geral da República, comandada pelo Paulo Gonê,
00:02:10emitiu um parecer favorável, promoveu na prática o arquivamento desse caso.
00:02:17A gente vai, aos poucos, lembrando aqui alguns detalhes desse caso.
00:02:22No entanto, eu continuei acompanhando e eu vi que depois de Estófoli,
00:02:26o STF, de uma maneira geral, acabou dando um jeito de continuar.
00:02:31Eu queria saber em que pé está hoje esse caso,
00:02:34em que há acusações fortes, graves, feitas contra vocês.
00:02:39Bom, em primeiro lugar, Felipe, eu queria fazer o reconhecimento e o agradecimento
00:02:45por esse trabalho da Cruzoé e seu pessoalmente,
00:02:48porque foi talvez a primeira matéria na imprensa brasileira e internacional
00:02:52que contou a história do início ao fim.
00:02:55E uma fake news, quando é profissional, ela não surge do vácuo,
00:03:02ela não inventa tudo 100%, ela distorce.
00:03:06E quando se trata de uma história de mais de cinco anos e complexa,
00:03:11é muito difícil resgatar a verdade se nós não tivermos um trabalho investigativo
00:03:16e com espaço para contar a verdadeira história.
00:03:19Então, pela primeira vez, nós tivemos esse espaço e esse trabalho jornalístico
00:03:23de fôlego para contar a verdadeira história.
00:03:26Dito isso, a atualização que nós temos é que, apesar da manifestação do chefe
00:03:34do Ministério Público Federal, o procurador-geral Paulo Gonê,
00:03:38nesse caso, promovendo o arquivamento dessa investigação,
00:03:42essa manifestação ainda não foi considerada.
00:03:45Ela foi... até hoje ela está sendo ignorada pelo ministro Dias Toffoli.
00:03:51E o que nos surpreendeu muito é que, apesar da importância dessa manifestação,
00:03:59que, de praxe, quando o Ministério Público decide promover o arquivamento
00:04:06de uma investigação, é porque não encontrou, e como disse o Paulo Gonê,
00:04:09qualquer indício de alguma irregularidade ou qualquer atividade ilícita.
00:04:15Portanto, o natural é que o judiciário siga a orientação do titular da ação,
00:04:21que é o Ministério Público.
00:04:22Nesse caso, não foi assim.
00:04:24E, infelizmente, esses casos vêm correndo de maneira bastante heterodoxa,
00:04:28para dizer o mínimo.
00:04:30Então, foi ignorada a posição do PGR.
00:04:33E o que nos surpreendeu ainda mais é que não foi ignorada a posição da empresa
00:04:37JIF, colaboradora da Justiça, corrupta,
00:04:41dos irmãos Batista, que é uma empresa que confessou corrupção,
00:04:46os irmãos confessaram corrupção.
00:04:49E a manifestação que foi solicitada pelo ministro Dias Toffoli,
00:04:53ela veio oito meses depois de findado o prazo para a manifestação.
00:04:59Ou seja, o ministro considerou a manifestação de uma empresa
00:05:02com confissões de corrupção,
00:05:07reforçando o assédio judicial contra a transparência internacional,
00:05:11que veio oito meses depois do prazo,
00:05:14mas desconsiderou a manifestação do procurador-geral da República.
00:05:18Então, isso nos surpreendeu novamente.
00:05:21E agora, o último movimento desse processo
00:05:23é que o procurador-geral se manifestou novamente
00:05:26e cobrando uma posição do ministro Dias Toffoli.
00:05:30Na importância de uma decisão final do ministro Dias Toffoli,
00:05:35se ele vai seguir com essa investigação
00:05:36a revelia da posição do Ministério Público,
00:05:38ou se vai seguir a orientação do PGR
00:05:41e arquivar, finalmente, essa representação, essa investigação.
00:05:45Eu tenho visto muitos casos ficarem em aberto
00:05:48no Supremo Tribunal Federal,
00:05:49o que me parece sempre uma decisão política
00:05:51de deixar a corda no pescoço
00:05:54para eventual caso de necessidade.
00:05:57E sou crítico desse tipo de manipulação,
00:06:00de uso político autoritário da caneta
00:06:03de ministro do Supremo.
00:06:04Eu só lembrar um pouco o contexto da situação
00:06:07para as pessoas entenderem.
00:06:08Como eu escrevi na matéria,
00:06:10o então procurador-geral da República,
00:06:11o Augusto Ares, ele enviou um ofício
00:06:13à coordenadora da 5ª Câmara de Coordenação
00:06:17e Revisão do Ministério Público Federal,
00:06:19Maria Iraneide Olinda Santoro Fachini.
00:06:23E ele escreveu o seguinte, abre aspas,
00:06:24Evidente que uma organização privada
00:06:26irá administrar a aplicação dos recursos
00:06:28de 2,3 bilhões de reais.
00:06:33Isso são as aspas dele.
00:06:34Eu estava explicando que esses bilhões
00:06:36são da empresa dos irmãos Batista.
00:06:39E ele estava se referindo,
00:06:40não exatamente à transparência internacional,
00:06:42mas à hipótese de criação de uma entidade
00:06:44cuja equipe poderia ser treinada
00:06:46com conteúdos produzidos pela transparência internacional.
00:06:50Muito bem.
00:06:51O Gilmar Mendes muitas vezes explorou
00:06:52esse caso de, ah, vai se criar uma fundação privada
00:06:55para gerir recursos,
00:06:57então, na verdade, o que eles querem
00:06:58é botar a mão nesse dinheiro.
00:07:00E aí fazem acusações contra vocês,
00:07:02fazem acusações contra procuradores do Ministério Público,
00:07:05contra o ex-juiz Sérgio Moro,
00:07:07que hoje é senador da República.
00:07:10E você falou um ponto importante,
00:07:11que ele está ignorando o parecer da PGR,
00:07:13mas também foi ignorado o parecer que veio
00:07:17da própria coordenadora do MPF
00:07:20e da técnica, da Samanda...
00:07:23Qual era o sobrenome dela?
00:07:24Dobrovolski.
00:07:25Dobrovolski, exatamente.
00:07:26O antagonista, desde o começo,
00:07:28acompanha esses pareceres que são ignorados.
00:07:31Quer dizer, quando vem um parecer técnico
00:07:33que contraria a vontade política,
00:07:35ele é descartado da decisão.
00:07:37Ficam só as iniciativas políticas
00:07:39que, a meu juízo, evidentemente,
00:07:42são de retaliação.
00:07:44O que você detalha a respeito
00:07:46do conteúdo em si desse caso?
00:07:48Bom, acho que o mais importante,
00:07:51não custa dizer o óbvio,
00:07:53e é muito importante dizer,
00:07:55a Transparência Internacional
00:07:56jamais recebeu um centavo
00:07:58de qualquer multa, acordo de leniência,
00:08:00qualquer tipo de ação desse tipo aqui
00:08:03no Brasil, na jurisdição brasileira,
00:08:07de qualquer autoridade,
00:08:08de qualquer empresa, indivíduo.
00:08:11Bom, e tampouco administrou
00:08:13ou viria a administrar qualquer recurso.
00:08:16Isso jamais foi feito e, ao contrário,
00:08:19tudo o que foi feito foi documentado
00:08:21e feito público desde o início.
00:08:23Se a Transparência Internacional
00:08:25quisesse receber dinheiro desses recursos,
00:08:28seria a coisa mais fácil do mundo,
00:08:30porque todo mundo, naquele momento,
00:08:32que a luta contra a corrupção era o auge,
00:08:34estava no auge no Brasil,
00:08:36o principal tema,
00:08:37a sociedade mobilizada,
00:08:38as instituições mobilizadas,
00:08:40quase todas essas empresas
00:08:42se aproximaram da Transparência Internacional,
00:08:44oferecendo financiamento, projetos.
00:08:46É claro que elas queriam associar a marca
00:08:48que elas precisavam de recuperar a sua imagem
00:08:52à organização que é símbolo no mundo
00:08:54do combate à corrupção.
00:08:56E nós recusamos todas as ofertas
00:08:59e nosso financiamento,
00:09:01ele é 100% transparente,
00:09:03ele é auditado por empresa independente,
00:09:05publicado o relatório de auditoria
00:09:07e não tem um centavo,
00:09:09nunca houve,
00:09:09de qualquer tipo de recurso dessa natureza.
00:09:12Deixa eu só fazer um parênteses,
00:09:13porque isso é análogo ao que acontece
00:09:15no mercado da comunicação.
00:09:16A empresa que é pega
00:09:17num esquema de suborno,
00:09:18ela vai lá e começa a oferecer patrocínio,
00:09:20começa a oferecer parceria e tal,
00:09:23e muita gente vai lá,
00:09:24pega e para de falar,
00:09:26não denuncia mais,
00:09:27não expõe maiores detalhes,
00:09:29se tem um jornalista na emissora
00:09:31que está expondo os detalhes,
00:09:33eles vão ao dono,
00:09:35ao comandante,
00:09:36e aí vem recado,
00:09:37para não falar, etc.,
00:09:39porque se tratam de patrocinadores,
00:09:41então, assim,
00:09:42pessoas com princípios
00:09:43para resistir a esse tipo de assédio,
00:09:45que às vezes vem velado,
00:09:46vem, não, vamos ser parceiros,
00:09:48vamos fazer um projeto juntos,
00:09:50etc.,
00:09:50é uma outra coisa.
00:09:51Muita gente cede,
00:09:53o que você está dizendo
00:09:54é que a transparência internacional
00:09:55não cedeu,
00:09:55continuou apontando corrupção,
00:09:58impunidade,
00:09:59como faz em outros países.
00:10:00Exatamente,
00:10:01e isso está 100% comprovado.
00:10:04Quando viram que nós não recebemos um centavo
00:10:08e que não teria como sustentar essa mentira,
00:10:11começaram a mudar a mentira,
00:10:12a mentira começou a se transformar.
00:10:15E depois que falaram,
00:10:16não recebemos,
00:10:18mas que nós queríamos receber.
00:10:20E aí, ou seja,
00:10:22é uma fake news de futuro.
00:10:24É um minority report,
00:10:26é um crime futuro,
00:10:27é a intenção,
00:10:28no fundo vocês tinham essa intenção
00:10:30e precisam ser punidos pela intenção
00:10:31que nós imaginamos que vocês tivessem.
00:10:33Só que essa também,
00:10:35fake news 2.0,
00:10:36evoluída,
00:10:37ela também não parava em pé,
00:10:39porque o trabalho que nós fizemos
00:10:41foi justamente para blindar esse dinheiro
00:10:44para qualquer tipo de destinação
00:10:45que fosse direcionada por preferências,
00:10:49que fossem feitas sem transparência,
00:10:51sem o devido processo de checagem,
00:10:55sem prestação de conta.
00:10:56Nós criamos quase um modelo utópico
00:10:58de defesa desse recurso.
00:11:00Por quê?
00:11:01No Brasil,
00:11:02isso não foi novidade com a Lava Jato.
00:11:06O Brasil, por décadas,
00:11:08destina recurso,
00:11:09principalmente de multas ambientais,
00:11:11a ONGs,
00:11:12a projetos,
00:11:14a iniciativas,
00:11:15até envolvendo o próprio Ministério Público.
00:11:18E isso sempre foi feito no Brasil
00:11:20com total descontrole.
00:11:21Nós percebemos isso desde o início,
00:11:23porque nós recebemos ofertas de empresas,
00:11:26mas também de autoridades públicas,
00:11:28que acharam que seria adequado o dinheiro da corrupção
00:11:30investir na luta contra a corrupção.
00:11:33Por princípio, isso faz sentido.
00:11:35Só que, da forma como seria feito,
00:11:38sem concorrência,
00:11:39sem transparência,
00:11:40sem mecanismos já pré-estabelecidos,
00:11:43jamais seria algo consistente
00:11:45com a nossa pauta anticorrupção,
00:11:47transparência.
00:11:47Então, também recusamos todas as ofertas
00:11:49que vieram também do poder público.
00:11:51Só um parênteses informativo
00:11:53para quem não estiver entendendo.
00:11:54Esse recurso do qual a gente está falando
00:11:56é o recurso que vem do pagamento de multa
00:11:59de empresas que confessaram corrupção,
00:12:02que confessaram o pagamento de suborno,
00:12:04portanto, se faz o acordo de leniência,
00:12:05ali é uma previsão de multa bilionária,
00:12:07essa que depois o Toffoli veio aliviar,
00:12:09a gente vai falar a respeito disso.
00:12:11Então, esse dinheiro
00:12:12é que estava em discussão naquele momento.
00:12:15O que fazer,
00:12:15como empregar da melhor maneira, etc.
00:12:17Isso.
00:12:18É, o recurso de multas,
00:12:20de acordos de leniência
00:12:22e também até recursos privados,
00:12:25próprios das empresas,
00:12:27que elas têm verbas de relações públicas
00:12:28e elas também queriam oferecer esse dinheiro
00:12:30para a TI porque queriam associar a imagem.
00:12:33Então, nós recusamos todos,
00:12:35os privados e os públicos.
00:12:37Não houve qualquer repasse nem haveria.
00:12:40O que nós fizemos, então,
00:12:41foi começar a apontar
00:12:43como isso é feito historicamente
00:12:45no Brasil sem controle.
00:12:46E apesar de um propósito legítimo
00:12:49de reforçar a sociedade civil,
00:12:51o papel das ONGs
00:12:53e o trabalho dos órgãos de controle,
00:12:56da maneira como é feito
00:12:57historicamente no Brasil,
00:12:58na verdade,
00:12:59criava oportunidade
00:13:00para mais corrupção.
00:13:02Nós chegamos a ouvir casos
00:13:03de procuradores
00:13:05que sugeriram ao juiz
00:13:08para que a multa
00:13:09a uma empresa de crime ambiental
00:13:11fosse aplicada numa ONG
00:13:13cuja diretora era esposa
00:13:14do procurador
00:13:15e o projeto que seria financiado
00:13:18era um curso em Paris.
00:13:19Ou, basicamente,
00:13:20seria uma viagem
00:13:21para o casal a Paris
00:13:22com base em multa ambiental.
00:13:24Isso foi um dos casos
00:13:25que nós ouvimos
00:13:26nesse histórico brasileiro
00:13:27de descontrole
00:13:28do que a gente chama
00:13:29de recursos compensatórios.
00:13:31Caso ambiental,
00:13:32mas também trabalhista,
00:13:34caso...
00:13:35Agora,
00:13:36com os casos de corrupção.
00:13:37Mas, históricamente,
00:13:38no Brasil não havia
00:13:39crime de corrupção
00:13:40sendo investigado
00:13:41e punido.
00:13:42Então, o histórico
00:13:43era com crime ambiental.
00:13:45E esse descontrole
00:13:46era também
00:13:47do Fundo de Direitos Difusos,
00:13:50que é um fundo
00:13:51no governo federal
00:13:53que recebe multas
00:13:54de crimes
00:13:57contra direitos difusos.
00:14:00Quais são os direitos difusos?
00:14:02São crimes contra
00:14:03o patrimônio histórico,
00:14:06crime contra o meio ambiente,
00:14:07crime contra a ordem econômica.
00:14:10Ou seja,
00:14:10são crimes contra a coletividade,
00:14:12são direitos difusos,
00:14:13não dá para individualizar
00:14:14a vítima.
00:14:16E esse fundo,
00:14:17ele sempre teve um orçamento
00:14:19por aí de 80 milhões,
00:14:2190 milhões por ano.
00:14:22Com a Lava Jato,
00:14:23o CAD,
00:14:24que controla a atividade
00:14:25anticomercial,
00:14:27passou a aplicar multas
00:14:28muito maiores
00:14:30do que era o histórico
00:14:32e essas multas
00:14:33passaram a ser enviadas
00:14:34para esse fundo,
00:14:35o FDD.
00:14:36E esse fundo,
00:14:37ele passou de um orçamento
00:14:38de 80 milhões de reais
00:14:39para quase um bilhão
00:14:40de reais anuais.
00:14:42E com a mesma governança,
00:14:44péssima governança,
00:14:46pouquíssima transparência.
00:14:48E esse fundo,
00:14:49ele também era um exemplo
00:14:50de como historicamente
00:14:51o Brasil cuidava mal
00:14:53desse recurso.
00:14:54Quer dizer,
00:14:54o que você está dizendo
00:14:55é que havia um problema
00:14:57na reutilização
00:14:58dos recursos
00:15:00de multas
00:15:02que eram pagas
00:15:04após o cometimento
00:15:05de ilegalidades.
00:15:06Vocês se debruçaram
00:15:07sobre o tema
00:15:08para tentar moralizar
00:15:09essa questão.
00:15:10Quer dizer,
00:15:11tentar dar um fim nobre,
00:15:13um fim legítimo
00:15:14de interesse público
00:15:15para esse montante
00:15:17e, no entanto,
00:15:17acabaram acusados
00:15:19de incorrer naquilo
00:15:21que vocês se propuseram
00:15:22a combater.
00:15:23Exatamente.
00:15:23É por isso que eu disse
00:15:24no início,
00:15:25uma fake news profissional,
00:15:27ela não cria
00:15:28um fato inexistente,
00:15:29ela distorce
00:15:30inteiramente,
00:15:32profundamente
00:15:32algo que de fato
00:15:34ocorria.
00:15:35O que ocorria?
00:15:36Nós recusamos
00:15:37todas as ofertas
00:15:38públicas e privadas
00:15:39de recursos
00:15:40e nos debruçamos
00:15:42ao problema
00:15:42sistêmico brasileiro
00:15:44de descontrole
00:15:45da destinação
00:15:46e administração
00:15:48desses recursos.
00:15:49Então, passamos
00:15:50mais de um ano,
00:15:51um ano e meio
00:15:51fazendo entrevistas
00:15:53com especialistas,
00:15:54estudando casos
00:15:55internacionais,
00:15:57porque hoje
00:15:57é uma prática
00:15:58muito comum.
00:15:58No Brasil,
00:15:59parece que virou
00:16:00um grande tabu
00:16:01o tema,
00:16:02mas no mundo
00:16:02isso é muito comum.
00:16:04O caso mais conhecido
00:16:05é da empresa
00:16:06alemã Ziemens,
00:16:07que foi condenada,
00:16:09fez um acordo
00:16:10com o Banco Mundial
00:16:11e teve que criar
00:16:12um fundo
00:16:13para destinar
00:16:14recursos contra
00:16:15a luta contra
00:16:16corrupção no mundo.
00:16:17Mas foi feito
00:16:18com regras,
00:16:19com transparência,
00:16:21com controle.
00:16:22E no Brasil
00:16:22isso não existia.
00:16:23Então, nós começamos
00:16:24a trabalhar
00:16:25para trazer
00:16:25essas boas
00:16:28práticas internacionais
00:16:29fizemos um acordo
00:16:30com o Ministério Público
00:16:31que foi divulgado
00:16:33na data da assinatura
00:16:35com foto,
00:16:36release para a imprensa,
00:16:37completamente transparente
00:16:39e que havia artigos
00:16:40que a transparência
00:16:41internacional
00:16:41não poderia receber
00:16:43um centavo.
00:16:44Fosse de honorários
00:16:45por esse trabalho,
00:16:46que era um trabalho
00:16:47gratuito,
00:16:47é a nossa missão
00:16:48que a gente estava
00:16:49cumprindo,
00:16:49fosse para projeto
00:16:50da própria TI.
00:16:51Então, estava escrito
00:16:52no documento público
00:16:53assinado pelo próprio
00:16:55Procurador-Geral da República,
00:16:56na época o Rodrigo Janot.
00:16:59Então, quando o Aras...
00:17:00Eu tive acesso a esse material,
00:17:02eu citei na matéria
00:17:03e assim,
00:17:04é um material
00:17:04absolutamente detalhado,
00:17:06são como livretos
00:17:07com diversos tópicos,
00:17:09números das páginas,
00:17:10os capítulos, etc.
00:17:12E tem um monte de frases
00:17:14mostrando a transparência
00:17:15internacional,
00:17:15não pode receber,
00:17:16não vai receber e tal.
00:17:18E está tudo lá
00:17:19na matéria da Cruzoé
00:17:20para quem quiser
00:17:20se aprofundar no tempo.
00:17:21Continua.
00:17:22Isso.
00:17:22E aí, para concluir,
00:17:24o que acontece
00:17:25é que nós, então,
00:17:27publicamos isso
00:17:28em paralelo,
00:17:29nós estávamos denunciando
00:17:30o primeiro ano
00:17:32do Procurador-Geral
00:17:33Augusto Aras,
00:17:35que estava desmontando
00:17:37a capacidade
00:17:38do Ministério Público
00:17:39de confrontar
00:17:40a grande corrupção.
00:17:41Acabou com todas
00:17:42as forças-tarefas,
00:17:45não só a Lava Jato,
00:17:46a Greenfield,
00:17:47que estava investigando
00:17:48o ex-presidente Temer,
00:17:49a JIF,
00:17:50a maior empresa do Brasil,
00:17:51a maior grupo
00:17:52empresarial do Brasil.
00:17:53Acabou com a Força-Tarefa
00:17:56da Amazônia,
00:17:57que estava enfrentando
00:17:57o crime organizado
00:17:58na Amazônia.
00:17:59Ou seja,
00:18:00estava desmontando
00:18:01a capacidade
00:18:02e retaliando,
00:18:03assim se poderia suspeitar,
00:18:06não posso afirmar
00:18:07essa motivação,
00:18:08mas tudo indicava
00:18:09que os procuradores
00:18:10que se envolveram
00:18:11nessas grandes operações,
00:18:14eles passaram a responder
00:18:15sistematicamente
00:18:16a PADs,
00:18:17a todo tipo de processo
00:18:18administrativo,
00:18:20disciplinar,
00:18:20então nós denunciamos
00:18:23isso internacionalmente
00:18:25num relatório publicado
00:18:26naquele ano
00:18:27de 2020,
00:18:29levamos ao CDE,
00:18:30apresentamos,
00:18:31e isso gerou consequências
00:18:32e pouco tempo depois
00:18:34então surge
00:18:34esse ofício
00:18:35do procurador Augusto Aras
00:18:37com uma informação
00:18:38absolutamente distorcida
00:18:39que contrariava
00:18:40o documento assinado
00:18:41pela própria PGR
00:18:43dessa cooperação
00:18:44que já havia se encerrado
00:18:46um ano antes,
00:18:47não havia mais
00:18:48qualquer cooperação,
00:18:50nós havíamos entregado
00:18:51o relatório final,
00:18:52não recebemos um centavo,
00:18:53a cooperação já havia
00:18:55até concluído.
00:18:55Que era uma cooperação
00:18:56no âmbito do acordo
00:18:58de leniência
00:18:58envolvendo a JIF,
00:18:59porque teve documento
00:19:00assinado pelas três partes,
00:19:02Transparência Internacional,
00:19:03Ministério Público Federal
00:19:04e a própria JIF.
00:19:05Exatamente.
00:19:06Então o que você está dizendo
00:19:07é que vocês já criticavam
00:19:08Augusto Aras antes
00:19:10e que eventualmente
00:19:11ele pode ter sido movido
00:19:13por um ranço também
00:19:14contra a Transparência Internacional,
00:19:16que é algo que se repete,
00:19:18porque recentemente
00:19:20a Transparência Internacional
00:19:22divulgou um ranking
00:19:22em que o Brasil
00:19:23caiu dez posições
00:19:25na percepção de corrupção,
00:19:27enfim,
00:19:27um elemento negativo
00:19:28para a imagem do Brasil.
00:19:31E também foi pouco depois disso
00:19:33que houve decisão
00:19:34por parte do Dias Toff,
00:19:35decisão no Supremo Tribunal Federal
00:19:37contra a Transparência Internacional,
00:19:39que também soou para a gente
00:19:40como uma retaliação.
00:19:42Uma semana depois
00:19:44da divulgação do ranking,
00:19:47o Índice de Percepção da Corrupção,
00:19:49que é o maior medidor
00:19:51da corrupção no mundo,
00:19:52é feito pela Transparência Internacional
00:19:54há mais de 20 anos,
00:19:55180 países e territórios
00:19:57são avaliados
00:19:58e não é muito raro
00:20:01que depois da publicação
00:20:03a Transparência Internacional
00:20:04sofra todo tipo de ataques, etc.
00:20:09E não posso dizer
00:20:10que tenha sido coincidência ou não,
00:20:12uma semana depois
00:20:13vem a notícia,
00:20:16dada, assim,
00:20:18com muito destaque,
00:20:19inclusive na imprensa,
00:20:20inicialmente,
00:20:22de que o ministro Dias Toffoli
00:20:24havia feito a abertura
00:20:28de uma investigação criminal
00:20:29contra a Transparência Internacional,
00:20:31baseada nessa mesma história
00:20:34que já havia sido desmentida
00:20:36sistematicamente
00:20:37pelas autoridades brasileiras,
00:20:40pela Transparência Internacional
00:20:41no Brasil
00:20:41e pela Transparência Internacional
00:20:43no secretário global
00:20:45na Alemanha.
00:20:46Eu noto, evidentemente,
00:20:48que você, envolvido em tudo isso,
00:20:51tem todo um cuidado
00:20:52para falar tecnicamente.
00:20:54Eu sou jornalista,
00:20:54eu falo, às vezes,
00:20:56com uma visão crítica,
00:20:58mas sempre ancorada nos fatos.
00:21:01E a questão do conflito
00:21:03de interesses
00:21:03é muito abordada
00:21:04pela Transparência Internacional,
00:21:06não só no Brasil,
00:21:06mas no exterior,
00:21:07em diversos outros países
00:21:08onde a TI atua.
00:21:10E nós apontamos muitas vezes.
00:21:12E, nesse caso,
00:21:13tem um agravante,
00:21:15a gente não pode deixar de falar,
00:21:17é que o Dias Toffoli
00:21:18está tomando decisões
00:21:19de interesse da JIF,
00:21:22que é a empresa
00:21:23dos irmãos Batista,
00:21:24que tem no quadro de advogados
00:21:25a esposa do próprio Toffoli.
00:21:27Então, tudo soa,
00:21:30vamos dizer assim,
00:21:33tudo gera uma desconfiança
00:21:35muito grande,
00:21:35para dizer de uma maneira
00:21:36muito generosa,
00:21:37o mínimo.
00:21:39Como é que você vê
00:21:40essas relações?
00:21:43Não é algo constrangedor,
00:21:44também,
00:21:45para um país
00:21:46que as pessoas...
00:21:47Olha, ele tomou uma decisão
00:21:49depois do ranking.
00:21:50Quem está sendo,
00:21:51vamos dizer assim,
00:21:52responsável por queda
00:21:54de percepção de corrupção
00:21:56no Brasil,
00:21:57são aqueles que garantem
00:21:58a impunidade de pessoas
00:21:59muito poderosas.
00:22:00Então, é natural
00:22:01que essas pessoas
00:22:02se sintam atingidas.
00:22:03Ah, como assim?
00:22:04Então, quer tomar uma decisão,
00:22:06quer dar um determinado voto,
00:22:07mas não quer ver o efeito
00:22:08num quadro mundial.
00:22:09E o efeito aparece.
00:22:11Quer dizer,
00:22:12é a consequência
00:22:12é óbvia,
00:22:14mas quando a gente vê
00:22:15esses conflitos de interesse,
00:22:17é muito difícil hoje
00:22:18acreditar em decisão técnica,
00:22:20quando você tem
00:22:21todos esses elementos
00:22:22políticos,
00:22:24financeiros,
00:22:25econômicos.
00:22:26Olha,
00:22:26a Eliana Calmon,
00:22:28que foi ministra do STJ,
00:22:29ela deu uma entrevista
00:22:30histórica aqui para a gente
00:22:31no Papo Antagonista,
00:22:33a meu convite,
00:22:34que ela falou
00:22:34do acasalamento perfeito,
00:22:37que as esposas
00:22:38têm o poder econômico
00:22:40nos escritórios de advocacia
00:22:41ou atuando como advogados
00:22:44para empresários poderosos
00:22:45que têm problemas judiciais.
00:22:47E o marido
00:22:48tem o poder político
00:22:49dentro do poder judiciário.
00:22:52Então,
00:22:53a gente vê aquela descrição
00:22:54tão precisa,
00:22:56resumida,
00:22:57e vê os exemplos
00:22:58e fala,
00:23:00mas como isso pode perdurar
00:23:02sem uma vista grossa
00:23:05de muita gente?
00:23:07É,
00:23:07eu acho que
00:23:08o lobby judicial
00:23:10hoje no Brasil
00:23:11talvez seja
00:23:13tão ou mais
00:23:15prejudicial
00:23:16ao interesse público
00:23:17que o lobby parlamentar
00:23:19ou o lobby tradicional,
00:23:21né,
00:23:22no Congresso,
00:23:23também no Executivo,
00:23:24nas agências regulatórias,
00:23:25e por muito tempo
00:23:26a gente não discutiu,
00:23:28não enxergou
00:23:29a força
00:23:31do lobby judicial,
00:23:33né,
00:23:34e no Brasil,
00:23:35onde tudo é judicializado,
00:23:37onde o Congresso
00:23:39terceiriza a sua função
00:23:41de legislar
00:23:41ao Judiciário,
00:23:43ao Supremo Tribunal Federal,
00:23:44isso tem um impacto
00:23:45gigantesco,
00:23:47né,
00:23:47e o Brasil
00:23:48é dos poucos países
00:23:50que ainda não tem
00:23:51uma regulamentação
00:23:52do lobby
00:23:53de maneira geral.
00:23:54E o poder judiciário
00:23:56é ainda mais refratário
00:23:58a qualquer tipo
00:23:59de controle
00:23:59dessa natureza.
00:24:00Um exemplo
00:24:01muito concreto
00:24:02e recente
00:24:03foi no ano passado,
00:24:04o Congresso
00:24:05havia legislado
00:24:06com reforma
00:24:07do Código Processual
00:24:09de que
00:24:10os juízes
00:24:11não poderiam
00:24:12julgar causas
00:24:14em que houvesse
00:24:15a participação
00:24:17de escritórios
00:24:18onde seus familiares
00:24:20fossem
00:24:21parte do
00:24:22quadro societário.
00:24:24Mesmo que os familiares
00:24:25não estivessem envolvidos
00:24:25diretamente no processo.
00:24:27Porque você tem essa tática
00:24:28que vai assinar...
00:24:29Você contrata,
00:24:30mas não vai para o processo,
00:24:31só que está recebendo
00:24:32daquele empresário
00:24:33e aí ele é beneficiado
00:24:35num processo específico
00:24:36que não tem
00:24:37o envolvimento direto.
00:24:38Mas a gente sabe
00:24:38que a pessoa está lá.
00:24:39Está lá
00:24:39e o Supremo
00:24:42conhece muito bem
00:24:43essa prática
00:24:43porque a maioria
00:24:45dos ministros
00:24:46tem filhos,
00:24:48esposas,
00:24:48que tem
00:24:49associação
00:24:51com escritórios
00:24:52que litigam,
00:24:53que tem causas
00:24:55no Supremo Tribunal Federal.
00:24:57Então,
00:24:58isso era uma medida
00:24:58moralizante,
00:25:00fundamental,
00:25:00que o Congresso Nacional
00:25:02com a sua legitimidade
00:25:03aprovou
00:25:04e que o Supremo Tribunal Federal
00:25:06ele constatou
00:25:09uma inconstitucionalidade
00:25:11nessa parte
00:25:12que os tocava
00:25:13diretamente
00:25:14e derrubou
00:25:15por uma maioria apertada,
00:25:18se não me engano
00:25:18de seis a cinco,
00:25:20essa medida
00:25:23moralizante
00:25:23do Congresso Nacional.
00:25:24É a chamada
00:25:25inconstitucionalidade
00:25:26conveniente.
00:25:27É bastante conveniente.
00:25:28Os ministros do STF
00:25:30se autorizaram
00:25:32a julgar casos
00:25:33em que
00:25:34houvesse
00:25:36empresários
00:25:37que são clientes
00:25:39das suas próprias esposas,
00:25:40dos seus próprios
00:25:41familiares diretos,
00:25:42são filhos,
00:25:42são sobrinhos também,
00:25:44sobrinhos às vezes
00:25:45de esposa.
00:25:46A gente já falou muito
00:25:47disso em diversas matérias
00:25:49e análises.
00:25:49E isso é óbvio
00:25:52como é prejudicial
00:25:54para a credibilidade
00:25:55do judiciário
00:25:56que um juiz
00:25:57ele tem essa suspeição
00:25:59de estar julgando
00:26:00uma causa
00:26:01em que
00:26:02a família
00:26:03está recebendo
00:26:04indiretamente
00:26:05honorários
00:26:06os proventos
00:26:07do escritório,
00:26:09o conflito
00:26:09de interesse
00:26:10obsceno
00:26:11que é na maioria
00:26:11desses casos,
00:26:13isso tira a credibilidade
00:26:13da justiça
00:26:14no Brasil.
00:26:15Isso tem um impacto
00:26:15sistêmico
00:26:16à democracia brasileira.
00:26:18mas também tem um impacto
00:26:20à própria advocacia
00:26:21porque
00:26:21os bons advogados
00:26:23hoje
00:26:24eles sofrem
00:26:25a competição
00:26:26dos advogados
00:26:27de acesso.
00:26:28Então aqueles
00:26:29que se dedicam
00:26:30a estudar
00:26:31a lei,
00:26:33a prática jurídica,
00:26:34estudar os casos
00:26:36e trabalhar
00:26:37com teses
00:26:38do direito,
00:26:40eles perdem
00:26:41filhos,
00:26:42esposas
00:26:43que têm
00:26:44nada mais
00:26:44do que acesso.
00:26:45Então prejudica
00:26:47os embarros
00:26:48versinho
00:26:48no pé do outro.
00:26:49Exato.
00:26:50Então prejudica
00:26:52a advocacia
00:26:53brasileira,
00:26:54prejudica
00:26:55a justiça
00:26:55brasileira,
00:26:56prejudica
00:26:57o desenvolvimento
00:26:58do país
00:26:59porque são
00:26:59causas bilionárias
00:27:00que envolvem
00:27:01questões econômicas
00:27:02gigantescas
00:27:03e prejudica
00:27:04a democracia
00:27:05brasileira.
00:27:06E se você pensar,
00:27:08Felipe,
00:27:09e os seguidores,
00:27:10o momento atual
00:27:11que nós estamos,
00:27:13depois do desmonte
00:27:14da luta
00:27:15contra a corrupção,
00:27:16a meta
00:27:18número um
00:27:19já foi
00:27:19alcançada
00:27:20dos corruptos
00:27:21que era
00:27:21livrar
00:27:22todos
00:27:22da cadeia.
00:27:24Estão todos
00:27:24livres.
00:27:26Até o José
00:27:27Dirceu.
00:27:27Talvez
00:27:28Fernando Collor
00:27:29tenha sido,
00:27:30ele está
00:27:31livre,
00:27:31mas o caso
00:27:33dele foi mantido
00:27:33a condenação
00:27:34pelo Supremo.
00:27:35Todos eles
00:27:36estão livres.
00:27:37Então é o objetivo
00:27:38número um
00:27:39completo,
00:27:39cumprido,
00:27:40de livrar
00:27:41todos eles
00:27:41da prisão.
00:27:42e o objetivo
00:27:43número dois
00:27:44está em curso,
00:27:45que é receber
00:27:45o dinheiro
00:27:46da corrupção
00:27:46de volta.
00:27:48Anular multas,
00:27:49repatriações,
00:27:50suspender multas.
00:27:51Agora,
00:27:52pensa economicamente
00:27:56quem são os maiores
00:27:57beneficiários disso.
00:27:59A JIF,
00:28:01o grupo
00:28:02JIF,
00:28:04eu posso
00:28:04estar
00:28:05equivocado
00:28:06aqui
00:28:06marginalmente,
00:28:08mas
00:28:08não tem
00:28:10o valor
00:28:10exato,
00:28:11mas está
00:28:11na casa
00:28:11de um
00:28:12faturamento
00:28:13anual
00:28:14de
00:28:15270
00:28:16bilhões
00:28:17de reais.
00:28:20Faturamento
00:28:21do maior
00:28:21grupo empresarial
00:28:22brasileiro
00:28:23anual.
00:28:25Eu não tenho
00:28:26valor
00:28:27da margem
00:28:28de lucro,
00:28:28mas para ver
00:28:29a movimentação
00:28:30de dinheiro,
00:28:30270
00:28:31bilhões
00:28:31de reais
00:28:32por ano.
00:28:33Negócio de proteína
00:28:34animal e outras
00:28:34coisas.
00:28:35É a maior
00:28:35empresa de proteína
00:28:36animal do
00:28:37planeta.
00:28:37Agora,
00:28:38a multa dela
00:28:39foi de cerca
00:28:40de 10
00:28:41bilhões
00:28:41de reais
00:28:42para ser
00:28:43paga em
00:28:4325 anos.
00:28:4510
00:28:46bilhões
00:28:46em 25
00:28:46anos.
00:28:47O faturamento
00:28:48270
00:28:48bilhões
00:28:49em um
00:28:49ano.
00:28:50É um valor
00:28:50irrisório.
00:28:51Irrisório
00:28:51para uma
00:28:52empresa
00:28:52desse
00:28:52porte.
00:28:53Agora,
00:28:54imagina um
00:28:54advogado
00:28:55que consegue
00:28:57a suspensão,
00:28:58a anulação
00:28:59dessa multa,
00:29:00o desconto
00:29:01de 80%
00:29:02que conseguiram
00:29:03com uma
00:29:03canetada
00:29:04de um
00:29:05procurador
00:29:06dentro da
00:29:06PGR
00:29:06que agora
00:29:07está sendo
00:29:07investigado
00:29:08num procedimento
00:29:09interno.
00:29:10Sim,
00:29:10deu desconto,
00:29:12aí derrubaram
00:29:12o desconto,
00:29:13aí ficou uma treta.
00:29:1480%,
00:29:14ou seja,
00:29:15numa canetada
00:29:16que contrariou
00:29:17os votos
00:29:17de todos os
00:29:18outros procuradores
00:29:19dessa Câmara
00:29:21de Coordenação,
00:29:23ele deu um desconto
00:29:24de 80%,
00:29:25ou seja,
00:29:26mais de 8
00:29:26bilhões de reais
00:29:27de desconto
00:29:28numa canetada
00:29:29de um procurador.
00:29:30Agora,
00:29:30imagina o advogado
00:29:32que está representando
00:29:33essa causa,
00:29:34vamos dizer que ele tem
00:29:3510%
00:29:37de performance,
00:29:38desempenho.
00:29:39Se ele conseguir
00:29:39um desconto
00:29:40de 8 bilhões,
00:29:41imagina se ele tiver
00:29:4210% disso,
00:29:43800 milhões
00:29:44de reais,
00:29:46800 milhões
00:29:47de reais
00:29:47que uma causa
00:29:48como essa,
00:29:49em tese,
00:29:50poderia render.
00:29:51Imagina o somatório
00:29:52dessas multas
00:29:53que estão sendo
00:29:53suspensas,
00:29:54renegociadas.
00:29:55Então,
00:29:56é uma corrida
00:29:57do ouro
00:29:57da advocacia
00:29:58brasileira.
00:29:59É a grande
00:29:59corrida do ouro.
00:30:01E isso torna
00:30:01tudo mais grave
00:30:02considerando que
00:30:03tem vínculos
00:30:04com os juízes
00:30:04que estão
00:30:05analisando
00:30:06essas causas
00:30:08muitas vezes.
00:30:09Então,
00:30:10é assim,
00:30:11hoje,
00:30:12talvez o interesse
00:30:13menor seja
00:30:14das próprias empresas.
00:30:16Elas querem
00:30:16voltar a fazer
00:30:17negócio
00:30:17o mais rápido
00:30:18possível.
00:30:19Talvez
00:30:19algumas até
00:30:20voltar a corromper
00:30:21o mais rápido
00:30:22possível.
00:30:23Mas,
00:30:24para os advogados,
00:30:25essa suspensão
00:30:26das multas
00:30:27é muito mais
00:30:27valiosa
00:30:28e para o sistema
00:30:29de justiça
00:30:29que está
00:30:30vinculado
00:30:31promiscuamente
00:30:32entre a advocacia
00:30:34e o magistrado
00:30:35brasileiro.
00:30:35Perfeito.
00:30:36Vamos tratar
00:30:37um pouquinho
00:30:37da interseção
00:30:38entre todas
00:30:39essas questões
00:30:40e a política?
00:30:41Porque eu vi,
00:30:42inclusive,
00:30:42outro dia,
00:30:42uma postagem
00:30:43da Transparência
00:30:44Internacional
00:30:45em que vocês
00:30:46fizeram uma lista
00:30:47de dez itens
00:30:48por que o combate
00:30:50à corrupção
00:30:51no Brasil
00:30:51se esvaiu.
00:30:55E um dos itens
00:30:56tem a ver
00:30:56com a política,
00:30:57tem a ver
00:30:57com a polarização.
00:30:59Porque,
00:30:59num ambiente
00:31:00polarizado,
00:31:01em que pessoas
00:31:02mais à direita
00:31:02odeiam o partido
00:31:04de esquerda
00:31:05e os seus líderes
00:31:06e pessoas mais à esquerda
00:31:07odeiam o partido
00:31:07de direita
00:31:08e os seus líderes,
00:31:09etc.,
00:31:09parece que a questão
00:31:10da honestidade
00:31:12desapareceu.
00:31:13É nós contra eles,
00:31:15é o meu grupo
00:31:15contra o outro,
00:31:16as pessoas se sentem
00:31:17no grupo do bem
00:31:18contra o grupo do mal
00:31:19e os seus integrantes,
00:31:22imagina se eles
00:31:23são pessoas corruptas,
00:31:25imagina se eles
00:31:26roubavam estatais,
00:31:27imagina se eles
00:31:28roubavam em gabinetes
00:31:29e nós que lemos
00:31:30todos os processos,
00:31:31as denúncias,
00:31:32as investigações
00:31:33minuciosas,
00:31:34nós sabemos bem
00:31:35quem roubava em gabinete
00:31:36e quem roubava em estatal.
00:31:37Mas fica aquela disputa
00:31:38do meu bandido favorito,
00:31:40do meu ladrão favorito,
00:31:41etc.,
00:31:41e se vai varrendo
00:31:43toda a sujeira
00:31:44para debaixo do tapete.
00:31:45Então, assim,
00:31:46aqui eu costumo dizer,
00:31:47Bruno,
00:31:47que a gente não passa
00:31:48a mão na cabeça
00:31:49nem de determinados
00:31:50segmentos da sociedade.
00:31:52Tem uma questão ali
00:31:53que é alguma corrupção moral
00:31:55ou uma leniência,
00:31:56uma tolerância excessiva
00:31:58com a corrupção no Brasil
00:31:59e você vê que isso aconteceu
00:32:01a partir do momento
00:32:03que foi aparecendo
00:32:06a corrupção
00:32:08ou o peculato
00:32:10em vários grupos.
00:32:12Porque a Lava Jato,
00:32:14primeiro,
00:32:15ela foi pela ordem ali
00:32:16da própria investigação
00:32:18dos fatos
00:32:18que foram levando
00:32:19uns aos outros,
00:32:20aí atingiu o PP,
00:32:21um partido centrão,
00:32:22aí dá uma repercussão maior
00:32:24quando atinge o PT,
00:32:25porque foi pelas diretorias
00:32:26da Petrobras.
00:32:28Aí depois,
00:32:29se chega ao PSDB,
00:32:31bom, aí o Gilmar Mendes
00:32:32que era a favor
00:32:33da Lava Jato,
00:32:34contra a cleptocracia
00:32:36dos governos do PT,
00:32:37já começa a se voltar
00:32:37contra a operação.
00:32:39Depois você tem
00:32:39um desdobramento
00:32:40no Rio de Janeiro
00:32:41com a operação
00:32:41Furna da Onça,
00:32:42atinge o Flávio Bolsonaro.
00:32:44Aí o bolsonarismo
00:32:45começa a se voltar
00:32:46de uma maneira
00:32:47dissimulada
00:32:48contra a operação
00:32:50e seus desdobramentos.
00:32:51E as massas
00:32:53que seguem,
00:32:54que acabaram
00:32:55se apaixonando
00:32:56por aqueles políticos,
00:32:58elas vão achando
00:32:59que tem que acabar
00:33:00mesmo e tal,
00:33:02tem que ficar por isso.
00:33:02Como é que você vê
00:33:03esse cenário?
00:33:04É desafiador,
00:33:05muito desafiador,
00:33:07porque a polarização
00:33:09que nós vivemos hoje
00:33:11não é algo orgânico,
00:33:15não é algo natural.
00:33:17Ela,
00:33:18no país,
00:33:20historicamente,
00:33:20nós tivemos
00:33:21certo nível
00:33:23de polarização
00:33:25política,
00:33:26desde a República Velha,
00:33:28nós tivemos
00:33:29esses embates
00:33:30entre grandes partidos,
00:33:32como tivemos
00:33:33depois da redemocratização,
00:33:36um embate até saudável
00:33:37entre PSDB e PT,
00:33:39em alguma medida,
00:33:40isso até faz muito bem
00:33:42à democracia.
00:33:44Agora,
00:33:44o que nós vivemos hoje
00:33:45é algo construído
00:33:47artificialmente,
00:33:49não do zero,
00:33:51mas fomentado
00:33:51por interesses econômicos,
00:33:53redes sociais
00:33:54ganham muito dinheiro,
00:33:56porque é o que engaja,
00:33:57é a disputa,
00:33:59é os ataques,
00:34:00as polêmicas,
00:34:01é isso que engaja,
00:34:02então,
00:34:03isso é negócio,
00:34:04isso gera dinheiro,
00:34:05gera mais recursos
00:34:07de patrocínio,
00:34:08de propaganda,
00:34:09etc.,
00:34:10então,
00:34:10é um grande negócio,
00:34:11gigantesco,
00:34:12polarizar para ganhar dinheiro
00:34:14e polarizar para confundir,
00:34:17para fazer uma cortina
00:34:18de fumaça política.
00:34:19Exato.
00:34:20Esse é no campo...
00:34:21É,
00:34:22então,
00:34:22é exatamente isso que,
00:34:23você começou dizendo,
00:34:25você vê até o Cabral
00:34:28com o discurso
00:34:29dos ataques à democracia,
00:34:31das operações
00:34:33de corrupção,
00:34:34posando na piscina
00:34:36da cobertura dele,
00:34:39até ele adotando
00:34:40esse discurso
00:34:41que a luta contra a corrupção
00:34:43foi um ataque à democracia,
00:34:44etc.,
00:34:45então,
00:34:46é um discurso
00:34:48muito útil
00:34:49politicamente
00:34:49e juridicamente,
00:34:50né,
00:34:51nós temos visto
00:34:52como que
00:34:53as narrativas
00:34:54do combate à corrupção,
00:34:56que seria um ataque
00:34:57à democracia,
00:34:58que seria um ataque
00:35:00à economia brasileira,
00:35:01etc.,
00:35:02isso serviu
00:35:02a muitos interesses
00:35:03poderosos
00:35:04e interesses corruptos.
00:35:06Só que isso acontece
00:35:07dos dois lados,
00:35:08né,
00:35:08Bolsonaro também
00:35:10sequestrou
00:35:11o discurso
00:35:11anticorrupção,
00:35:12né,
00:35:13ele foi eleito
00:35:14sequestrando
00:35:14o discurso
00:35:15anticorrupção,
00:35:16porque se vendia
00:35:17como um outsider,
00:35:18né,
00:35:19alguém diferente
00:35:19da política,
00:35:20ele estava há 30 anos
00:35:21no Congresso Nacional,
00:35:22nunca apresentou
00:35:23uma lei,
00:35:24uma proposta de lei
00:35:25de combate à corrupção,
00:35:26nunca participou
00:35:27de uma CPI,
00:35:28ao contrário,
00:35:29participou dos partidos
00:35:30mais corruptos,
00:35:31do sistema político
00:35:32brasileiro,
00:35:33a sua família
00:35:35estava envolvida
00:35:35em todo tipo,
00:35:37as evidências
00:35:37de processos
00:35:38que também
00:35:39estão sendo anulados,
00:35:40também mostrava
00:35:41um sistema
00:35:41de décadas
00:35:42de desvio,
00:35:44suposto desvio
00:35:45de dinheiro
00:35:45dos gabinetes,
00:35:46as rachadinhas,
00:35:48funcionários fantasmas,
00:35:50etc.,
00:35:50ou seja,
00:35:51uma família
00:35:52que nunca tinha
00:35:52nada de substancial
00:35:54para dizer
00:35:55no histórico
00:35:55de combate à corrupção,
00:35:57ao contrário,
00:35:58sempre envolvida
00:35:58nessas histórias
00:36:00e que consegue
00:36:02convencer a população
00:36:03sequestrando o discurso
00:36:05anticorrupção
00:36:06para uma proposta
00:36:06populista autoritária
00:36:08e consegue ganhar o poder.
00:36:10Só que um mês
00:36:10antes de tomar o poder,
00:36:12de assumir a presidência,
00:36:14aparece uma tonelada
00:36:16de provas
00:36:16dos esquemas
00:36:17da rachadinha
00:36:18da família Bolsonaro.
00:36:20Então,
00:36:20desde o dia 1,
00:36:21a missão principal
00:36:23do Bolsonaro
00:36:23foi garantir impunidade
00:36:25a ele e a sua família.
00:36:26Então,
00:36:27ele foi o grande vetor
00:36:28de desmonte
00:36:29das estruturas
00:36:30de combate à corrupção
00:36:31que interessava também
00:36:33à esquerda,
00:36:34que interessava também
00:36:35às empreiteiras,
00:36:36ao Congresso Nacional.
00:36:38Então,
00:36:38ali se tornou
00:36:38um grande consenso
00:36:40do poder
00:36:41contra o combate
00:36:43à corrupção
00:36:43enquanto a sociedade
00:36:44se dividia cada vez mais
00:36:46e cada vez mais difícil
00:36:47criar um consenso
00:36:48social
00:36:49em favor
00:36:50do combate à corrupção,
00:36:51porque a sociedade
00:36:52artificialmente
00:36:53vai sendo dividida,
00:36:55aceita a corrupção
00:36:56de uma família
00:36:58que comprou
00:36:58mais de 70 imóveis,
00:37:00metade deles
00:37:01com dinheiro vivo,
00:37:02ou o argumento
00:37:03isso a família Bolsonaro,
00:37:05mas ao mesmo tempo
00:37:06a esquerda,
00:37:06parte da esquerda
00:37:07também achou natural
00:37:08que Lula argumentasse
00:37:10que a esposa dele,
00:37:12falecida,
00:37:12pagava aluguel
00:37:13em dinheiro vivo
00:37:14durante anos.
00:37:15Imagina.
00:37:16Então,
00:37:16assim,
00:37:17esses mesmos indícios
00:37:18fortes,
00:37:19indícios de corrupção,
00:37:20não estou aqui
00:37:21equivalendo,
00:37:22não é uma coisa
00:37:23para pesar um lado
00:37:24ou outro,
00:37:25mas os argumentos...
00:37:25Cada um faz o seu juízo,
00:37:26essa questão de melhor,
00:37:28pior,
00:37:28maior,
00:37:28menor...
00:37:29Isso é irrelevante.
00:37:30A gente tem que apontar,
00:37:31o leitor,
00:37:32o espectador,
00:37:33o eleitor,
00:37:33ele vai decidir
00:37:34o que ele vai fazer.
00:37:35Então,
00:37:36assim,
00:37:36em resumo,
00:37:37um dos maiores desafios
00:37:39que nós temos hoje
00:37:39para fortalecer novamente
00:37:42o combate à corrupção
00:37:43é essa divisão artificial
00:37:45manipulada
00:37:45da opinião pública,
00:37:47que fecha os olhos
00:37:47para a corrupção,
00:37:48não importa,
00:37:49tolera,
00:37:50é negligente
00:37:50com a corrupção
00:37:51do lado que lhe convém,
00:37:53do seu campo político.
00:37:54Exatamente.
00:37:56E a transparência internacional
00:37:57no resto do mundo,
00:37:59como é que ela funciona?
00:38:01O que você tem,
00:38:02assim,
00:38:02de história para contar
00:38:03da gente
00:38:03em relação a outros países
00:38:05que têm algum ponto
00:38:06de analogia com o Brasil?
00:38:08Olha,
00:38:09são fenômenos comuns.
00:38:10comuns.
00:38:11Nós temos presença
00:38:13em mais de 100 países
00:38:14hoje,
00:38:14110 países.
00:38:16Hoje,
00:38:16eu faço parte
00:38:17do board global
00:38:19da transparência internacional,
00:38:21então,
00:38:21eu tenho a oportunidade
00:38:23de acompanhar
00:38:23muito o trabalho
00:38:24internacional.
00:38:25Já trabalhei também,
00:38:26comecei minha carreira
00:38:27há 15 anos
00:38:28na transparência internacional,
00:38:29no secretariado
00:38:30em Berlim.
00:38:31Então,
00:38:31isso nos permite
00:38:33enxergar o fenômeno
00:38:35numa perspectiva comparada
00:38:37internacional
00:38:38que nos traz
00:38:39muitas lições.
00:38:40A corrupção,
00:38:41ela é definida
00:38:43pela transparência
00:38:44internacional
00:38:44como o abuso
00:38:45do poder confiado
00:38:47em benefício próprio.
00:38:49Então,
00:38:50é uma questão
00:38:50essencialmente
00:38:51de poder,
00:38:52de desigualdade
00:38:53de poder,
00:38:54etc.
00:38:55E nós vemos
00:38:56que são questões
00:38:59que estão muito ligadas
00:39:01ao processo histórico
00:39:02dos países,
00:39:03à configuração institucional
00:39:04e muito menos
00:39:06do que com a moralidade.
00:39:08muita gente fala
00:39:10da cultura da corrupção,
00:39:12cultura da integridade.
00:39:13É claro que,
00:39:13em algum nível,
00:39:14a cultura vai influenciar.
00:39:16Mas,
00:39:17não existe uma cultura,
00:39:18um DNA da integridade
00:39:20nos países europeus,
00:39:22por exemplo,
00:39:22e um DNA da corrupção
00:39:24nos países latino-americanos
00:39:26ou do mundo em desenvolvimento.
00:39:29Porque,
00:39:29o que mais nós vemos
00:39:31é que as empresas
00:39:32europeias,
00:39:33norte-americanas,
00:39:35japonesas,
00:39:36quando vêm fazer negócios
00:39:37nesses países
00:39:38como o nosso,
00:39:39onde a corrupção
00:39:40é um problema
00:39:40disseminado,
00:39:41sistêmico,
00:39:42elas muitas vezes
00:39:43dançam conforme a música.
00:39:46Acabam pagando propina.
00:39:47Pagam propina
00:39:48e se beneficiam
00:39:49muito disso.
00:39:49Então,
00:39:50elas também são responsáveis
00:39:51pela corrupção
00:39:52nos nossos países.
00:39:53como houve no Petrolão,
00:39:54no caso de corrupção
00:39:54da Petrobras,
00:39:55tinha empresas estrangeiras
00:39:56que estavam pagando.
00:39:56Tinha Coreana,
00:39:57Samsung,
00:39:58tinha Inglesa,
00:40:00Rolls Royce,
00:40:01empresas centenárias
00:40:03de países
00:40:04desenvolvidos,
00:40:05ricos,
00:40:06e que certamente
00:40:07não se comportam
00:40:09dessa maneira
00:40:09nos seus países
00:40:10de origem.
00:40:11Mas,
00:40:12mundo afora,
00:40:13é assim que
00:40:14ainda muitas delas
00:40:15operam.
00:40:16Então,
00:40:16a gente não deve ter
00:40:17esse complexo
00:40:18de vira-lata,
00:40:19achar que o brasileiro
00:40:20é mais corrupto
00:40:21que outros povos.
00:40:23Sim,
00:40:23nós temos um problema
00:40:24mais arraigado
00:40:25de corrupção,
00:40:26mas existem razões
00:40:27institucionais,
00:40:29históricas,
00:40:29por isso.
00:40:30E não quer dizer
00:40:30que eles sejam santos
00:40:32e que tenham
00:40:33integridade no DNA.
00:40:34E qual é esse elemento
00:40:36que faz alguns países
00:40:37funcionarem melhor
00:40:38nesse sentido
00:40:39do que outros?
00:40:41É algum tipo
00:40:43de freio
00:40:44para a instrumentalização
00:40:45das instituições?
00:40:46É uma que é capaz
00:40:47de vigiar a outra?
00:40:48São órgãos
00:40:49de fiscalização
00:40:49e controle
00:40:50que são mais blindados
00:40:52a essa interferência
00:40:53política?
00:40:53Qual é o elemento
00:40:54que você destaca?
00:40:55Eu poderia dar
00:40:56200 elementos
00:40:58e a gente estourar
00:40:59o programa.
00:41:01Mas eu vou dizer um,
00:41:02democratização.
00:41:04Mas democratização
00:41:05num aspecto
00:41:06que não é só eleitoral.
00:41:08É a ocupação
00:41:09dos espaços
00:41:10de poder
00:41:11pela sociedade.
00:41:13Então,
00:41:14se nós pegarmos
00:41:15o ranking
00:41:16do índice
00:41:18de percepção
00:41:18da corrupção,
00:41:19sistematicamente,
00:41:22consistentemente,
00:41:23os 10 países
00:41:23menos corruptos,
00:41:25com menor percepção
00:41:26de corrupção,
00:41:27são todos eles,
00:41:28com uma exceção,
00:41:29Singapura,
00:41:30todos eles,
00:41:31democracias avançadas,
00:41:34estáveis,
00:41:35onde o Estado,
00:41:36ele serve
00:41:37para o interesse público.
00:41:39Não é o Estado
00:41:40patrimonialista
00:41:41que serve
00:41:41para extrair,
00:41:42concentrar riquezas
00:41:44e direitos.
00:41:44o nosso Estado
00:41:46brasileiro,
00:41:47na maioria dos países
00:41:48latino-americanos,
00:41:49ele é até hoje
00:41:50um modelo
00:41:51quase colonial.
00:41:52O Estado serve
00:41:54para extrair
00:41:55essas riquezas,
00:41:57a gente vê diariamente
00:41:58notícia do judiciário,
00:42:00dos super salários,
00:42:01400 mil reais por mês,
00:42:03bônus de final de ano
00:42:04de um milhão e meio
00:42:05de reais por mês.
00:42:06Isso é um Estado
00:42:07que não serve
00:42:08para redistribuir
00:42:09a riqueza
00:42:10e os direitos,
00:42:11serve para extrair,
00:42:12concentrar.
00:42:12Então, nesses Estados
00:42:14como o nosso,
00:42:15a corrupção,
00:42:16ela não é uma
00:42:16desfuncionalidade
00:42:18desse Estado.
00:42:18Ela é perfeitamente
00:42:19funcional
00:42:20para o propósito
00:42:21desse Estado.
00:42:22Agora,
00:42:23nos Estados
00:42:24que historicamente
00:42:25conseguiram se democratizar
00:42:26de fato,
00:42:27onde quem está
00:42:28no parlamento,
00:42:30no governo,
00:42:31no judiciário,
00:42:32são muito mais
00:42:33os cidadãos
00:42:33que estudaram,
00:42:35que lutaram,
00:42:35que se elegeram
00:42:36do que
00:42:37uma questão hereditária.
00:42:40As dinastias,
00:42:41as oligarquias,
00:42:44tudo isso.
00:42:44Então,
00:42:45nesse Estado,
00:42:46a corrupção
00:42:46é uma
00:42:47desfuncionalidade,
00:42:48porque o propósito
00:42:48do Estado
00:42:49é redistributivo,
00:42:50é redistribuir
00:42:52direitos e riquezas.
00:42:54O nosso é o contrário,
00:42:55é extrair e concentrar.
00:42:56Então,
00:42:57a corrupção,
00:42:57naquele contexto,
00:42:59ela se torna
00:43:00desfuncional
00:43:01e é mais fácil
00:43:02você lidar com ela.
00:43:03Quando ela é parte
00:43:04do sistema,
00:43:05ela é funcional
00:43:06para o sistema,
00:43:07a questão é muito
00:43:08mais profunda.
00:43:08e nós precisamos
00:43:10caminhar
00:43:10para a luta
00:43:11contra a corrupção
00:43:12estrutural
00:43:13pela democratização
00:43:14do nosso Estado.
00:43:15Agora,
00:43:15o tamanho do Estado
00:43:16não influencia,
00:43:17quer dizer,
00:43:17não é mais brecha,
00:43:19a quantidade,
00:43:19são centenas
00:43:20de estatais
00:43:21no Brasil,
00:43:21isso não existe
00:43:22nos Estados Unidos,
00:43:23por exemplo,
00:43:23isso não existe
00:43:24em vários outros países.
00:43:27É muita gente
00:43:29mamando
00:43:29nas tetas públicas
00:43:31com,
00:43:32vamos dizer assim,
00:43:33todo um cipoal
00:43:34burocrático
00:43:35em cima do qual
00:43:36ele se aproveita.
00:43:37até no próprio
00:43:38Congresso Nacional,
00:43:39quando a gente vê
00:43:40o esquema do orçamento
00:43:40secreto,
00:43:41o esquema de desvio
00:43:42de verba de emenda
00:43:43parlamentar,
00:43:44eles têm lá
00:43:46um orçamento,
00:43:47eles têm um quadro
00:43:47que é todo técnico
00:43:48e eles entendem
00:43:49daquelas rubricas
00:43:51RP7
00:43:52e é por baixo
00:43:54daquilo
00:43:55que vem um dinheiro
00:43:56a mais que vai
00:43:56para um lado,
00:43:57um dinheiro a mais
00:43:57que vai para o outro,
00:43:58para a prefeitura
00:43:59do parente
00:44:01que faz um negócio
00:44:02com a empresa
00:44:02do amigo e tal
00:44:03e supostamente
00:44:05são emendas
00:44:05destinadas para o interesse
00:44:06público,
00:44:07só que está
00:44:07fortalecendo o clã,
00:44:09fortalecendo a dinastia,
00:44:12quer dizer,
00:44:12tudo isso não colabora?
00:44:14Olha,
00:44:14a primeira parte
00:44:15da pergunta,
00:44:15que eu acho muito interessante
00:44:16esse debate
00:44:17sobre o tamanho
00:44:18do Estado
00:44:18e o grau de corrupção,
00:44:21talvez seja
00:44:22contraintuitivo
00:44:23para muita gente,
00:44:24mas os países
00:44:25que têm menor índice
00:44:26de corrupção
00:44:27são os escandinavos,
00:44:29onde tem forte
00:44:30presença do Estado
00:44:31na economia,
00:44:32na vida
00:44:33do país.
00:44:34isso
00:44:36traz a reflexão
00:44:38de que não é
00:44:38propriamente
00:44:39o tamanho do Estado
00:44:41que vai fazer
00:44:41que tenha mais ou menos
00:44:43corrupção,
00:44:44mas é o tipo
00:44:44de Estado.
00:44:45Outra vez,
00:44:46o que eu dizia,
00:44:47se o Estado
00:44:48tem como propósito
00:44:49o interesse público
00:44:51que é priorizado,
00:44:53o desafio
00:44:55redistributivo,
00:44:56se é um Estado
00:44:57democratizado,
00:44:58ele pode ser grande
00:44:59e trazer prosperidade,
00:45:01justiça social,
00:45:02igualdade
00:45:02como traz
00:45:03nos países
00:45:03escandinavos.
00:45:05E você pode ter
00:45:06nos Estados Unidos,
00:45:07por exemplo,
00:45:08não é um Estado
00:45:10pequeno,
00:45:11o maior consumidor
00:45:12do planeta
00:45:13é a burocracia
00:45:15americana
00:45:15e você vê
00:45:16a influência
00:45:16das empresas
00:45:17ali também,
00:45:18como
00:45:19a estrutura
00:45:22industrial
00:45:22militar,
00:45:23como ela também
00:45:24é favorecida
00:45:26pelo lobby,
00:45:27etc.
00:45:28É imensa.
00:45:29É imensa.
00:45:29Agora,
00:45:30no segundo,
00:45:31então,
00:45:31essa questão
00:45:32do Estado
00:45:32é muito mais
00:45:33o tipo
00:45:34de Estado,
00:45:35a democratização
00:45:36do Estado
00:45:37do que o tamanho
00:45:37do Estado,
00:45:38a questão
00:45:39da corrupção.
00:45:41Agora,
00:45:42quando você tem
00:45:42um Estado
00:45:43que é essencialmente
00:45:46corrupto,
00:45:48estruturalmente corrupto,
00:45:49você aumenta
00:45:49esse Estado,
00:45:50aí, claro,
00:45:51você aumenta
00:45:51a corrupção,
00:45:52a capacidade de corrupção.
00:45:54E é o que o orçamento
00:45:55secreto está fazendo.
00:45:57É por isso que a gente
00:45:58chama do maior
00:45:59esquema de corrupção
00:46:01institucionalizada
00:46:03que se tem registro
00:46:04na história brasileira.
00:46:06Por quê?
00:46:07É um esquema
00:46:08essencialmente corrupto,
00:46:11porque é um desvio
00:46:12de recursos públicos
00:46:13em larga escala,
00:46:14mas que tem
00:46:15um verniz
00:46:16de legalidade,
00:46:17um teatro
00:46:18de institucionalidade.
00:46:19E eu acho
00:46:20a cronologia
00:46:21muito emblemática,
00:46:22porque você tem
00:46:23operações como
00:46:24a Lava Jato,
00:46:25a Greenfield,
00:46:25você citou,
00:46:26elas descobrem
00:46:27a corrupção.
00:46:28Aí depois vem
00:46:29a varredura
00:46:31para debaixo do tapete
00:46:32da sujeira,
00:46:33retaliação contra juiz,
00:46:34contra investigador,
00:46:35contra transparência
00:46:35internacional,
00:46:37etc.
00:46:38Bom,
00:46:39tudo isso levou tempo,
00:46:40foi um processo,
00:46:41teve desgaste,
00:46:42teve tensão.
00:46:44A partir dali,
00:46:45como é que a gente
00:46:46vai fazer agora
00:46:47sem gerar
00:46:48todo esse processo,
00:46:50toda essa tensão,
00:46:50todo esse desgaste?
00:46:52Bom,
00:46:52vamos pegar direto
00:46:53do orçamento,
00:46:54é cronológico,
00:46:57foi assim que aconteceu.
00:46:59Então,
00:47:00eu vejo,
00:47:01como você vê,
00:47:02é uma institucionalização
00:47:03de um esquema,
00:47:04eles já pegam lá
00:47:05direto na fonte,
00:47:06não precisa mais
00:47:07do pagamento
00:47:09de propina,
00:47:10não precisa mais roubar,
00:47:12muita gente está analisando...
00:47:13Tem muito menos risco.
00:47:13Não precisa mais roubar
00:47:15no sentido
00:47:15antigo,
00:47:17porque,
00:47:18na verdade,
00:47:19você está legalizando
00:47:20uma espécie de...
00:47:21as margens,
00:47:22pelo menos,
00:47:22para o desvio.
00:47:23Essa é uma reflexão
00:47:25também muito interessante
00:47:27como que o dinheiro
00:47:28sujo na política
00:47:29ele vai evoluindo,
00:47:31mas ele nunca deixa
00:47:32de rodar
00:47:34em larga escala.
00:47:36Quando era
00:47:38possível,
00:47:40legal,
00:47:40no Brasil,
00:47:41as empresas fazerem
00:47:42doações antes
00:47:43da decisão do Supremo,
00:47:44que, na minha opinião,
00:47:45corretamente aboliu
00:47:47o financiamento
00:47:48empresarial
00:47:49a campanhas,
00:47:50as empresas
00:47:52faziam doações
00:47:53gigantescas
00:47:54para os partidos
00:47:56e muitas vezes
00:47:56para vários,
00:47:57inclusive para concorrentes.
00:48:00Então,
00:48:00não havia ali
00:48:01a expressão
00:48:01de uma visão política,
00:48:03era comprar
00:48:04à boa vontade,
00:48:05certamente,
00:48:06para não dizer
00:48:06subornar
00:48:07diretamente.
00:48:09Então,
00:48:09isso era feito
00:48:11às claras,
00:48:12em grande medida.
00:48:14Também era feito
00:48:15embaixo do pano,
00:48:16mas podia se fazer
00:48:17também,
00:48:18em grande escala,
00:48:19às claras.
00:48:20só que esse dinheiro
00:48:21nunca foi privado.
00:48:23Esse é um grande engano,
00:48:25achar que era dinheiro
00:48:26dos empresários.
00:48:27Nunca foi,
00:48:27porque esses empresários
00:48:29recebiam dinheiro
00:48:30do BNDES,
00:48:31recebiam dinheiro
00:48:32dos fundos de pensão
00:48:33que quebraram
00:48:33e os aposentados
00:48:34estão pagando a conta.
00:48:36Então,
00:48:36são esses aposentados
00:48:37que é o dinheiro
00:48:38dessa gente,
00:48:39do povo,
00:48:40que ia para os empresários
00:48:41para eles fazerem
00:48:42as doações
00:48:43e comprarem influência
00:48:44no Congresso Nacional,
00:48:46no poder.
00:48:47Foram os contratos
00:48:48públicos
00:48:48que eles ganhavam
00:48:49uma vez eleitos
00:48:50os candidatos
00:48:51que eles apoiaram.
00:48:52Exato.
00:48:53Então,
00:48:53tinham diversas maneiras,
00:48:55créditos tributários,
00:48:57regimes especiais
00:48:58tributários,
00:48:59anistias fiscais,
00:49:01crédito do BNDES,
00:49:02empréstimos
00:49:02do fundo de pensão,
00:49:03etc.
00:49:04Então,
00:49:04o empresariado
00:49:05abocanhava
00:49:06o dinheiro público
00:49:07e fazia as doações
00:49:09não com dinheiro próprio,
00:49:10era dinheiro público,
00:49:12no final,
00:49:12sempre foi.
00:49:13Então,
00:49:14aí depois o Supremo
00:49:15passa a interpretação
00:49:16do meu ponto de vista,
00:49:18correto,
00:49:18por várias razões,
00:49:19outra discussão,
00:49:21passa que não pode mais doar.
00:49:24Aí se turbina o fundo público.
00:49:25Aí o fundo...
00:49:26Não,
00:49:27mas antes disso,
00:49:28aí tem o esquema
00:49:29do desvio
00:49:31de recursos
00:49:32dos Correios,
00:49:33do Banco do Brasil,
00:49:34como foi o mensalão.
00:49:35Que esse dinheiro,
00:49:37ele era desviado
00:49:38através de contratos
00:49:39fictícios,
00:49:41esse dinheiro
00:49:42das grandes licitações,
00:49:44ele era desviado,
00:49:46as empresas
00:49:47se beneficiavam
00:49:48desse dinheiro
00:49:49e ele voltava
00:49:50para,
00:49:52através do suborno mesmo,
00:49:53através
00:49:54para os diretores
00:49:55dessas estatais
00:49:56e para...
00:49:57Parlamentares.
00:49:58Parlamentares
00:49:59e fundos partidários
00:50:00Caixa 2,
00:50:01os tesoureiros.
00:50:03Então,
00:50:03muda o esquema,
00:50:05mas ainda é o dinheiro público,
00:50:06só que agora
00:50:07debaixo do pano,
00:50:08através de esquemas
00:50:08maiores de corrupção.
00:50:10Envolvendo a agência
00:50:10de publicidade.
00:50:11A agência de publicidade,
00:50:12o Marcos Valério,
00:50:13um dos poucos
00:50:14que ainda estão
00:50:14cumprindo pena.
00:50:16Isso lá atrás
00:50:16no Mensalão.
00:50:17Lá em 2004.
00:50:18Isso.
00:50:19Aí depois
00:50:19vem o crescimento
00:50:22do Estado.
00:50:24O BNDES
00:50:25se agigantou,
00:50:26época do pré-sal,
00:50:27etc.
00:50:27Então,
00:50:27o que eu falei,
00:50:28não é o tamanho do Estado,
00:50:29mas o Estado
00:50:30essencialmente corrupto
00:50:31que se agiganta,
00:50:32claro que a corrupção
00:50:33ganha outra escala.
00:50:34Com a política
00:50:34dos campeões nacionais,
00:50:35campeões nacionais,
00:50:36privilegiando as empresas
00:50:37amigas.
00:50:38O Banco Mundial
00:50:39chegou nesse momento
00:50:40a ter um portfólio
00:50:41maior que o...
00:50:41O Banco do BNDES
00:50:43chegou a ter um portfólio
00:50:44de empréstimo maior
00:50:45do que o Banco Mundial
00:50:46em determinado momento.
00:50:48Então,
00:50:48uma coisa gigantesca.
00:50:50E aí a gente
00:50:51enxerga isso
00:50:54através da Lava Jato,
00:50:55o esquema
00:50:55do Petrolão,
00:50:57principalmente a Petrobras,
00:50:59mas outras grandes
00:51:00estatais também
00:51:01envolvidas.
00:51:02E que tinha um vínculo
00:51:03também, obviamente,
00:51:04com a reprodução do poder,
00:51:05o caixa 2 das campanhas
00:51:06e o bolso
00:51:07dessas pessoas.
00:51:08Porque muitas vezes
00:51:09falam que era caixa 2,
00:51:10que não era dinheiro
00:51:12de corrupção,
00:51:12como se não fosse corrupção.
00:51:14E como se não fosse
00:51:14para o bolso
00:51:15dessa gente também.
00:51:16Claro que ia.
00:51:18E aí, então,
00:51:19a gente tem a Lava Jato.
00:51:20Só que a Lava Jato
00:51:21coloca um susto
00:51:22nessas pessoas
00:51:23enquanto ela durou.
00:51:24Aquilo se tornava
00:51:25mais arriscado, etc.
00:51:28E aí,
00:51:29depois que a Lava Jato
00:51:31cresce o risco,
00:51:33começa um processo.
00:51:34Porque o orçamento secreto
00:51:35ele nasce com o Bolsonaro.
00:51:38Mas é um processo histórico,
00:51:40cronológico,
00:51:40que você falou da cronologia.
00:51:42Tem uma outra cronologia
00:51:44interessante.
00:51:45Os escândalos de corrupção
00:51:47foram enfraquecendo
00:51:48os governos.
00:51:49Então,
00:51:50se nós pegarmos
00:51:51há 10 anos
00:51:52o início da Lava Jato,
00:51:54ele enfraquece muito
00:51:55o governo da Dilma.
00:51:57Então,
00:51:58para a Dilma
00:51:58lutar contra o impeachment,
00:52:00ela entrega muito poder
00:52:02para o Congresso.
00:52:03E o Eduardo Cunha
00:52:04consegue aprovar
00:52:05a PEC
00:52:06que torna
00:52:08as emendas
00:52:08do parlamento
00:52:09obrigatórias
00:52:10de executar
00:52:11no orçamento.
00:52:12Antes,
00:52:13eles podiam fazer
00:52:13a emenda
00:52:14e o governo
00:52:14decidia se executava
00:52:15ou não.
00:52:16E aí,
00:52:16naquele momento
00:52:17de um governo fraco
00:52:18por causa do
00:52:19grande escândalo
00:52:20de corrupção,
00:52:21passa essa PEC
00:52:22Eduardo Cunha
00:52:23para fortalecer
00:52:24o Congresso
00:52:27ter controle
00:52:27muito maior
00:52:28sobre o orçamento.
00:52:29Depois vem,
00:52:31depois da Dilma
00:52:32cair,
00:52:33vem o Temer,
00:52:34vem o Joesley Day,
00:52:35presidente gravado
00:52:37falando
00:52:37vamos manter
00:52:38isso aí.
00:52:39Tem que manter
00:52:40isso aí.
00:52:40E também manter
00:52:42supostamente
00:52:43o suborno
00:52:44para Eduardo Cunha
00:52:45na prisão,
00:52:46mas também
00:52:47como ele fez
00:52:47para manter
00:52:48qualquer país
00:52:49que nós pensássemos
00:52:50como instituições
00:52:52verdadeiramente funcionais,
00:52:55um governo desse
00:52:55não se sustentaria
00:52:56uma semana.
00:52:57Mas ele conseguiu
00:52:58se manter
00:52:59porque
00:52:59deu mais poder
00:53:01ainda
00:53:02para o Congresso Nacional.
00:53:03Dilma
00:53:04enfraquecida
00:53:05por corrupção,
00:53:06Temer
00:53:06enfraquecido
00:53:07por corrupção
00:53:08e o Congresso
00:53:08ganhando poder.
00:53:10Depois vem
00:53:10Bolsonaro
00:53:11um mês antes
00:53:12de tomar posse,
00:53:13rachadinha.
00:53:15Ainda mais
00:53:15poder ainda
00:53:16para o Congresso.
00:53:16Mas aí vem
00:53:17o auge disso
00:53:18que é o orçamento
00:53:18secreto.
00:53:19E vem depois
00:53:21Lula
00:53:21com uma margem
00:53:22minúscula
00:53:24para a eleição,
00:53:26para ganhar a eleição.
00:53:28Aí vem
00:53:28com o orçamento
00:53:29secreto 2.0,
00:53:30total flex.
00:53:31Isso é o orçamento
00:53:32secreto maquiado.
00:53:33É, porque
00:53:34vem ainda dinheiro
00:53:35também dos próprios
00:53:36ministérios.
00:53:36Dos próprios ministérios,
00:53:37exatamente.
00:53:38O que você está
00:53:39resumindo aí,
00:53:40eu sintetizei na semana
00:53:42passada para o caso
00:53:42do Lula.
00:53:43Porque apareceu
00:53:45a pesquisa que mostra
00:53:46ele perdendo
00:53:47cinco pontos de aprovação
00:53:49e tal.
00:53:49E aí eu fiz o meu resuminho
00:53:50que eu sempre faço
00:53:51nessas situações,
00:53:52que é,
00:53:53cai a popularidade
00:53:54do governo,
00:53:55sobe o preço
00:53:55do centrão.
00:53:57E por que é isso?
00:53:58O governo fica
00:53:59desgastado
00:53:59e aí ele dá poder
00:54:00ao Congresso Nacional.
00:54:02O Congresso Nacional
00:54:02cresce
00:54:03e o Congresso Nacional
00:54:04não está ali
00:54:05repleto de santinhos.
00:54:07As pessoas
00:54:08com muito poder,
00:54:09elas percebem
00:54:10certa margem também
00:54:11para fazer aquilo
00:54:12que nós julgamos
00:54:13imoral.
00:54:14Fareja sangue,
00:54:15fareja...
00:54:15Fareja sangue,
00:54:16é vampirismo.
00:54:17Fraqueza.
00:54:18Exatamente.
00:54:18E foi isso que aconteceu.
00:54:19Uma década de governos
00:54:20enfraquecidos pela corrupção,
00:54:22seus escândalos,
00:54:24e o Congresso
00:54:24farejando sangue,
00:54:26se fortalecendo.
00:54:27E nós entramos então
00:54:28num círculo vicioso
00:54:29absolutamente complexo
00:54:32hoje para nós sairmos
00:54:34que o centrão,
00:54:36a camada mais corrupta
00:54:38da política brasileira,
00:54:40controla o orçamento secreto,
00:54:43dezenas de bilhões de reais,
00:54:46e com isso ele favorece,
00:54:48se favorece eleitoralmente,
00:54:51os seus aliados,
00:54:52nas prefeituras,
00:54:53nos estados,
00:54:54eles próprios na reeleição.
00:54:55Então a cada ciclo eleitoral
00:54:58eles voltam ainda mais fortes,
00:55:00porque hoje é impossível
00:55:01competir com quem controla
00:55:02bilhões,
00:55:03dezenas de bilhões de reais.
00:55:04Então eles voltam mais fortes
00:55:05e voltam com mais poder
00:55:07para achacar qualquer governo
00:55:09que esteja,
00:55:10para ter controle
00:55:11de ainda mais recursos
00:55:12e para se beneficiar ainda mais
00:55:14no próximo ciclo eleitoral.
00:55:16Então é um ciclo vicioso
00:55:19de feudalização da política brasileira
00:55:22através do orçamento secreto.
00:55:24Agora Bruno,
00:55:25a gente precisa encerrar,
00:55:26só que assim,
00:55:26tem um tema espinhoso
00:55:27e eu queria abordar
00:55:28pelo menos minimamente com você,
00:55:30que é o seguinte,
00:55:32é claro que aqueles
00:55:33que são acusados de corrupção,
00:55:34de lavagem de dinheiro,
00:55:35de peculação,
00:55:36eles têm um interesse
00:55:36em demonizar os juízes
00:55:38e investigadores.
00:55:39Isso quer dizer que juízes,
00:55:40investigadores,
00:55:41agentes da Polícia Federal,
00:55:42que muitas vezes
00:55:42são esquecidos nesse embate,
00:55:44eles não errem?
00:55:45É claro que não.
00:55:47Então assim,
00:55:48eu costumo dizer que em geral,
00:55:50nenhuma reação institucional
00:55:52ou militar a um acontecimento
00:55:54muito grandioso,
00:55:56no sentido de magnitude mesmo,
00:55:58é perfeita.
00:55:59Ela apresenta defeitos.
00:56:00Operação policial no Rio de Janeiro,
00:56:02na favela,
00:56:03ela tem defeitos.
00:56:04No entanto,
00:56:05os criminosos,
00:56:06eles continuam sendo criminosos.
00:56:09Quer dizer,
00:56:09aqueles que roubaram,
00:56:10aqueles que mataram,
00:56:11aqueles que se sequestraram,
00:56:12independentemente,
00:56:13variando aqui o grau de crime,
00:56:16eles continuam sendo criminosos.
00:56:17e me incomoda muito
00:56:18que essas pessoas
00:56:19fiquem impunes
00:56:20em razão de determinados erros,
00:56:23em razão de determinadas condutas,
00:56:25etc.,
00:56:25quando você tem um volume
00:56:26de provas muito grande.
00:56:28Então eu tenho um certo princípio
00:56:30que,
00:56:31mesmo diante de eventuais erros,
00:56:34etc.,
00:56:34se tem que considerar
00:56:35o volume de provas,
00:56:37enfim,
00:56:38seja no caso da Lava Jato,
00:56:40seja agora,
00:56:41por exemplo,
00:56:41na Operação Lesa Pátria,
00:56:43seja nesses inquéritos
00:56:44comandados pelo Alexandre de Moraes,
00:56:46em que a gente vê o Alexandre de Moraes
00:56:47atuando como juiz,
00:56:48como investigador,
00:56:49como vítima,
00:56:50ele como ministro do TSE,
00:56:53troca de função
00:56:55para ministro do STF,
00:56:56manda para lá
00:56:57sem registrar por escrito,
00:56:59diz que se ele registrar
00:56:59seria esquizofrânico,
00:57:00porque é ele próprio,
00:57:01como se o Estado fosse dele.
00:57:03Aí você vai dizer,
00:57:04ah,
00:57:04você é a favor de anular tudo
00:57:06porque o Moraes fez isso?
00:57:07Não,
00:57:08eu não sou a favor de anistia.
00:57:10Eu acho que quem invadiu,
00:57:10quem depredou os prédios
00:57:11dos três poderes
00:57:12tem que pagar,
00:57:12de acordo com o delito
00:57:14que cometeu.
00:57:15Também fica um contraste
00:57:16muito grande,
00:57:16eles condenam a 17 anos
00:57:18e o Dirceu está solto.
00:57:19Então isso dá margem também
00:57:20para a atual oposição
00:57:22falar a respeito.
00:57:24Então a minha questão é,
00:57:25é difícil
00:57:26se posicionar no debate público
00:57:28apontando as nuances.
00:57:30Eu vejo que você busca fazer isso.
00:57:32Você aponta,
00:57:33não,
00:57:33teve erros aqui na Lava Ia,
00:57:34no entanto,
00:57:35a reação a esses erros,
00:57:37em vez de ajuste e tal,
00:57:38foi de aproveitá-los
00:57:40para passar a boiada
00:57:41da impunidade.
00:57:43E eventualmente,
00:57:44se quer fazer isso agora também,
00:57:46no caso do 8 de janeiro,
00:57:48etc.
00:57:49Quer dizer,
00:57:49como é que você se posiciona,
00:57:51como é que você regula isso?
00:57:53Como é que se coloca nuance
00:57:55nesse debate?
00:57:57Bom,
00:57:57talvez é a questão hoje
00:57:59mais importante,
00:58:02eu acho,
00:58:02de um país,
00:58:03de ter uma reflexão
00:58:04séria,
00:58:06honesta,
00:58:06sobre essas contradições.
00:58:08Porque o cinismo
00:58:09é muito predominante
00:58:10nesse debate.
00:58:11o cinismo,
00:58:12o oportunismo
00:58:13e os interesses corruptos.
00:58:16Olha,
00:58:17no caso da Lava Jato,
00:58:18eu venho
00:58:19debatendo isso
00:58:20há anos
00:58:22e com gente
00:58:23dos dois lados,
00:58:25da polarização,
00:58:26fora do Brasil,
00:58:27muito também.
00:58:28E eu escuto muito
00:58:30que a Lava Jato,
00:58:31ela cavou a própria cova
00:58:33no sentido
00:58:34dos erros
00:58:34que cometeram,
00:58:36que ela acabou
00:58:37por causa
00:58:37dos próprios erros.
00:58:38e eu acho isso
00:58:40uma das afirmações
00:58:41mais perigosas
00:58:43que tem
00:58:44porque deixa
00:58:45de considerar
00:58:47a natureza
00:58:48estrutural
00:58:49da impunidade
00:58:51da elite brasileira.
00:58:52Perfeito.
00:58:53Então,
00:58:53porque
00:58:53a Lava Jato
00:58:56errou
00:58:57e alguns erros
00:58:58muito graves,
00:58:59talvez o mais grave
00:59:01deles,
00:59:01o envolvimento
00:59:02com a política
00:59:02partidária,
00:59:04associação com
00:59:05Bolsonaro,
00:59:05que acabou
00:59:06por destruir
00:59:06a Lava Jato
00:59:08e toda a estrutura
00:59:09brasileira
00:59:09de combate
00:59:10à corrupção
00:59:10nas interferências
00:59:13que ele fez
00:59:13nas instituições,
00:59:15etc.
00:59:15A Lava Jato
00:59:16sem dúvida
00:59:17cometeu
00:59:18os erros,
00:59:19não todos
00:59:22como apontam,
00:59:23seus detratores
00:59:24evidentemente,
00:59:25mas ela cometeu
00:59:26erros
00:59:26e alguns graves.
00:59:27Só que
00:59:28ela
00:59:29caiu,
00:59:31ela foi aniquilada
00:59:32não pelos erros,
00:59:33pelos acertos.
00:59:35Exatamente.
00:59:35E se fosse
00:59:37pelos erros
00:59:38que nós
00:59:39nunca vimos
00:59:40o poder,
00:59:41a elite brasileira
00:59:42ser responsabilizada
00:59:44pela sua corrupção,
00:59:45então nós temos
00:59:46os procuradores,
00:59:48os policiais,
00:59:49os agentes
00:59:50da lei
00:59:51mais incompetentes
00:59:52do planeta,
00:59:53porque por
00:59:53100,
00:59:54150 anos
00:59:55nós nunca vimos
00:59:56uma operação
00:59:57parar em pé
00:59:57quando mexe
00:59:58com o andar de cima.
01:00:00Exatamente.
01:00:00Óbvio que não é isso.
01:00:02Óbvio que esses erros
01:00:03eles são extrapolados,
01:00:05eles são explorados
01:00:06de maneira a destruir tudo
01:00:07e não corrigir.
01:00:08Exatamente.
01:00:09Então nós não vimos
01:00:10a correção dos erros
01:00:11da Lava Jato,
01:00:11nós vimos a aniquilação
01:00:13da operação
01:00:14e das condições
01:00:15para que algo semelhante
01:00:17voltasse a acontecer.
01:00:19Então não é para passar a mão
01:00:20na Lava Jato,
01:00:20embora ela tenha que ser
01:00:22também dado crédito
01:00:23aos êxitos que tiveram,
01:00:26à coragem que tiveram,
01:00:27mas também
01:00:28os erros
01:00:29têm que ser reconhecidos.
01:00:30No caso atual,
01:00:31eu acho ainda mais grave
01:00:34que esses processos,
01:00:35porque os crimes ali
01:00:37envolvidos
01:00:39são ainda mais graves,
01:00:40são crimes
01:00:41de ataques diretos
01:00:43às instituições democráticas,
01:00:45à conspiração
01:00:47de ex-presidente
01:00:49da República,
01:00:49como os indícios
01:00:50apontam,
01:00:52militares de alta patente,
01:00:55empresários,
01:00:56então atentando
01:00:57contra o Estado democrático
01:00:58de uma maneira direta,
01:00:59porque a corrupção
01:01:00também atenta,
01:01:01mas aqueles que iriam
01:01:02de fato
01:01:02atentar de maneira
01:01:04violenta e direta.
01:01:05Então, assim,
01:01:06é algo ainda mais grave
01:01:07que deve ser priorizado,
01:01:09deve ser combatido,
01:01:10responsabilizado todos,
01:01:11principalmente os mandantes.
01:01:13Agora,
01:01:14como isso vem sendo feito,
01:01:16é um tiro no pé
01:01:18da própria democracia,
01:01:20do STF,
01:01:20porque nós estamos vendo
01:01:22coisas que jamais
01:01:23aconteceram na Lava Jato,
01:01:24nem de perto.
01:01:25Nós estamos vendo
01:01:26um juízo universal,
01:01:28de pessoas que não têm
01:01:29foram privilegiados,
01:01:30sendo julgadas e condenadas
01:01:32apenas draconianas,
01:01:3417 anos de prisão,
01:01:35sem instância revisora,
01:01:37porque já é a instância máxima
01:01:38do país.
01:01:39Isso é o padrão mínimo
01:01:40dos direitos humanos
01:01:41no mundo,
01:01:42é uma instância revisora.
01:01:43Isso está sendo suprimido
01:01:45pelo próprio
01:01:46Supremo Tribunal Federal,
01:01:47um juiz que foi vítima,
01:01:49alvo de um esquema,
01:01:51de uma conspiração,
01:01:52para assassiná-lo,
01:01:53julgando os seus conspiradores.
01:01:55Isso não faz bem ao processo,
01:01:57não faz bem à justiça.
01:01:59E questões procedimentais
01:02:02bizarras,
01:02:03que nós nunca vimos isso antes,
01:02:04advogado tendo que fazer
01:02:06sustentação oral
01:02:07de maneira gravada,
01:02:09enviada para os juízes.
01:02:11Isso nunca aconteceu.
01:02:12Quem aqui tem consistência
01:02:13na defesa?
01:02:13Porque eles não gostam
01:02:14quando o advogado critica eles
01:02:16e fornece ali aquele vídeo.
01:02:18Ganha espaço.
01:02:19Ganha espaço.
01:02:19Bom, mas assim,
01:02:21é um conjunto
01:02:22de violações,
01:02:24de regras,
01:02:25de direitos básicos
01:02:26de defesa,
01:02:27que só compromete
01:02:28a luta importante
01:02:29de responsabilização
01:02:30dessas pessoas
01:02:31e fragiliza ainda mais
01:02:33as instituições.
01:02:34O próprio Supremo
01:02:34vai ser questionado ainda mais
01:02:36e nós estamos diante
01:02:38da ameaça
01:02:38de retorno
01:02:39de líderes autoritários,
01:02:42populistas,
01:02:43e que vão ter
01:02:43um Supremo
01:02:44desacreditado ainda mais
01:02:45por ter escolhido
01:02:46esses atalhos
01:02:47muito perigosos.
01:02:48E tudo isso que você está falando,
01:02:49na minha análise,
01:02:50que eu já escrevi bastante,
01:02:51só confirma
01:02:52que lá atrás
01:02:53o problema
01:02:54não eram os métodos,
01:02:56eram os alvos.
01:02:57Porque o duplo padrão
01:02:59para lidar,
01:03:00de um lado,
01:03:00você maximiza
01:03:01os erros
01:03:02para varrer toda a sujeira
01:03:03para debaixo do tapete
01:03:04e deixar a impunidade geral.
01:03:05Do outro,
01:03:06você finge que não há erro nenhum
01:03:08e continua
01:03:09violação após violação.
01:03:12São basicamente
01:03:13as mesmas pessoas
01:03:14que ou estão fazendo
01:03:16ou estão defendendo
01:03:17quem faz
01:03:17esse tipo de ato
01:03:20no Supremo Tribunal Federal.
01:03:21Diga,
01:03:21para finalizar.
01:03:22Para finalizar,
01:03:23ainda nesse tema,
01:03:25o conceito
01:03:26de devido processo
01:03:28legal.
01:03:30O devido processo legal
01:03:31é,
01:03:32ao mesmo tempo,
01:03:32uma garantia
01:03:33mais elementar,
01:03:35civilizatório,
01:03:36da justiça
01:03:36em qualquer país.
01:03:38A justiça tem regras,
01:03:39ela tem ritos,
01:03:40ela tem um caminho
01:03:41a ser seguido
01:03:42que vai garantir
01:03:43a defesa,
01:03:45e também a defesa,
01:03:47a acusação,
01:03:47ela tem que seguir
01:03:48o devido processo legal.
01:03:50Só que é um conceito
01:03:51absolutamente elástico.
01:03:53Ele é essencial,
01:03:54ele é elementar,
01:03:56mas ao mesmo tempo,
01:03:57ele é o maior mecanismo
01:03:58para a impunidade
01:03:59quando você
01:04:00estica
01:04:01esse conceito
01:04:02do devido processo legal.
01:04:03A ordem
01:04:04das acusações finais,
01:04:06das alegações finais,
01:04:07é capaz de anular
01:04:08uma bomba atômica
01:04:10de impunidade,
01:04:11como foi a anulação
01:04:12das provas da Odebrecht,
01:04:13que o Brasil exportou
01:04:15corrupção
01:04:16para muitos países
01:04:17e agora,
01:04:17infelizmente,
01:04:18nós estamos exportando
01:04:19impunidade.
01:04:20Assim como a manobra
01:04:21de jogar os casos
01:04:21de corrupção
01:04:22que tem a ver
01:04:23com caixa 2
01:04:23para a justiça eleitoral,
01:04:24que não tem estrutura,
01:04:25que é mais passível
01:04:26de instrumentalização,
01:04:27depois todo mundo
01:04:28fica impune,
01:04:29você tira também
01:04:30aquele caso
01:04:31do momento
01:04:31em que há uma grande
01:04:32comoção,
01:04:33deixa para depois,
01:04:34o Brasil é uma fábrica
01:04:34de escândalo,
01:04:35lá na frente
01:04:35todo mundo esquece,
01:04:37barra e pá debaixo do tapete,
01:04:38nem é mais noticiado.
01:04:40Fizeram isso
01:04:41com muita
01:04:41articulação
01:04:43e muito cinismo.
01:04:45Bom,
01:04:46conversei aqui
01:04:46com o Bruno Brandão,
01:04:47foi um resumão
01:04:48sobre combate
01:04:49à corrupção,
01:04:50impunidade,
01:04:51sabotagem
01:04:51do combate
01:04:52à corrupção,
01:04:53perseguição,
01:04:54política,
01:04:55um prazer enorme
01:04:56falar com você.
01:04:56Prazer é todo meu.
01:04:58Bruno Brandão,
01:04:59diretor executivo
01:05:00da Transparência
01:05:00Internacional Brasil,
01:05:01foi o meu convidado
01:05:02no podcast
01:05:03O.A. de hoje.
01:05:04Lembrando que
01:05:04toda segunda-feira,
01:05:06às 19h30,
01:05:06no canal de YouTube
01:05:07de O Antagonista,
01:05:08tem um novo episódio
01:05:09do podcast O.A.
01:05:10Quem não assistiu
01:05:11aos anteriores,
01:05:11tem de tudo,
01:05:12psicanalista,
01:05:13sambista,
01:05:14comediantes,
01:05:15autoridades em diversos
01:05:16assuntos,
01:05:18professores de filosofia,
01:05:20lideranças políticas,
01:05:21a gente vai receber
01:05:22de tudo aqui
01:05:23numa conversa franca,
01:05:24sincera,
01:05:25transparente,
01:05:26pra vocês verem
01:05:27e terem as informações,
01:05:28as análises,
01:05:29pra formar o seu juízo,
01:05:30que aqui a gente respeita
01:05:31a inteligência do público.
01:05:33Então,
01:05:34até segunda-feira que vem
01:05:35com o novo podcast O.A.
01:05:36às 19h30.
01:05:37E lembrando que tem
01:05:37Papo Antagonista
01:05:38todo dia,
01:05:38de segunda a sexta,
01:05:39das 18h às 19h30,
01:05:41na TV BMC
01:05:42e no canal
01:05:42de O Antagonista
01:05:43no YouTube.
01:05:44Um grande abraço
01:05:45e até a próxima.
01:05:52Podcast O.A.
01:05:54Conversa boa de ver
01:05:55e ouvir.
01:05:56e ouvir.

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