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NotíciasTranscrição
00:00:00De conversa boa, todo mundo quer participar, o antagonista também.
00:00:07Nossa equipe recebe convidados especiais para um bate-papo leve e divertido sobre as experiências de cada um.
00:00:15Podcast O.A. Conversa boa de ver e ouvir.
00:00:21Salve, salve, sejam bem-vindos. Eu sou Felipe Moura Brasil.
00:00:24Esse é o Podcast O.A., mais um episódio especial para vocês.
00:00:27Lembrando que toda segunda-feira, às 19h30, vai ao ar no canal de YouTube de O Antagonista.
00:00:32Um novo episódio do Podcast O.A. que recebe convidados presenciais para falar sobre a trajetória, os posicionamentos, as tendências na sua área de especialidade.
00:00:41E hoje eu tenho o privilégio de receber ele, que é muito requisitado pelos nossos espectadores.
00:00:47A sua presença foi desejada.
00:00:50Denis Xavier, PhD em filosofia, autor de vários livros, alguns dos quais ele me trouxe aqui para dar de presente.
00:00:56Fundador da Sociedade da Lanterna, não é isso, Denis?
00:00:59Exatamente.
00:00:59E também um ex-campeão de natação.
00:01:02A gente vai falar sobre isso também.
00:01:03Seja bem-vindo, Denis.
00:01:04Um prazer.
00:01:05Aposentado.
00:01:06É, aposentado.
00:01:07Prazerzão.
00:01:08Cara, uma honra, viu?
00:01:09Finalmente a gente se encontrar.
00:01:10Exatamente.
00:01:10Eu sou lá nas minhas redes sempre dizendo, a gente tem que se encontrar, tem que se encontrar.
00:01:15Exatamente.
00:01:15Você chegou a fazer contato comigo uns anos atrás, chamou lá para Uberlândia.
00:01:19Foi, foi.
00:01:19Acabei não conseguindo ainda.
00:01:21É verdade.
00:01:21Eu que estou trazendo você aqui para ser entrevistado, então a gente compensa todos
00:01:26esses anos em que faltou uma nossa conversa.
00:01:28Deixa eu mostrar aqui dois livros do Denis.
00:01:31Vamos aqui nessa câmera fechada.
00:01:33A farmácia de Ayn Rand tem um subtítulo, pode falar aí.
00:01:37Doses de Anticoletivismo.
00:01:39Doses de Anticoletivismo e Ayn Rand.
00:01:41Qual é a pronúncia certa desse nome?
00:01:43Ayn Rand.
00:01:44Ayn Rand.
00:01:44É, a pronúncia aberta.
00:01:46Ayn Rand.
00:01:46Eu só leio e nunca sei como pronunciar.
00:01:48Que nem é o nome dela, na verdade.
00:01:49Isso aí é Ayn Rand e os Devaneios do Coletivismo.
00:01:52Esse livro virou best-seller, tá?
00:01:54Esse livro, assim, explodiu nas redes sociais.
00:01:57O seu livro sobre a obra dela.
00:01:59É, sobre a obra dela.
00:02:00Exato.
00:02:01E que nem é o nome dela, na verdade, registro.
00:02:03O nome dela é Alissa Rosenbaum.
00:02:06Ela foge da Rússia no momento, pouco depois da Revolução Bolchevique.
00:02:12E vai para os Estados Unidos, tentar uma carreira como redatora, roteirista de cinema.
00:02:19E começa a escrever alguns roteiros muito interessantes com implicações filosóficas.
00:02:24Até alguém chega nela e diz, olha, tem filosofia aí, tem filosofia original aí.
00:02:30Tem uma similaridade com Hannah Arendt, né?
00:02:32Que fugiu do nazismo para os Estados Unidos também e desenvolveu uma carreira intelectual.
00:02:36A Ayn Rand tem uma história muito interessante porque ela sai da Rússia czarista, passa pela ascensão da União Soviética e vai para os Estados Unidos.
00:02:47Então ela tem uma visão bastante ampla do que é verdadeiramente causa dos problemas, do que deve ser realmente combatido.
00:02:55Agora, para além da defesa de um certo capitalismo na obra dela, eu estava refletindo aqui que é uma das coisas que eu mais falo, talvez, no nosso jornalismo independente e vigilante de um antagonista,
00:03:08quando a gente está fazendo alguma análise minuciosa sobre algum caso que está gerando muita polêmica, muita divisão entre direita e esquerda, entre lulistas e bolsonaristas, que é...
00:03:18Os fatos importam.
00:03:20Existe um mundo real, existem elementos objetivos que a gente precisa levar em consideração.
00:03:27Então você tem uma tendência a um grupo a já tomar determinada posição favorável àquele grupo, contrário ao outro, a mesma coisa do outro lado.
00:03:36E o que menos importa às pessoas nesse ambiente é aquilo que mais deve importar ao jornalismo de verdade, que é o que aconteceu.
00:03:44Então a primeira coisa é extrair os elementos da realidade que tiveram ali, uma circunstância específica.
00:03:54Ela teve uma importância nesse sentido, assim como contrária a esse coletivismo, porque o que eu estou falando é justamente essa sensação de pertencer a uma tribo,
00:04:04e já ter um monte de ideias preconcebidas independentemente das circunstâncias.
00:04:09Então ela, nesses dois nichos...
00:04:10Cara, ela é uma grande voz contra qualquer forma do que ela vai chamar de misticismo.
00:04:16E o misticismo, tanto em ambiente político, quanto em ambiente religioso.
00:04:22Ou quanto em qualquer outro ambiente, que vá tirar o sujeito de um binômio fundamental.
00:04:29Razão e realidade.
00:04:31Ela vai dizer que o único filósofo que inspirou a sua obra foi Aristóteles.
00:04:34Especialmente no que diz respeito à lógica.
00:04:38Então para Ayn Rand, a ideia de que A é igual a A é fundamental.
00:04:44E frequentemente nós jogamos com isso.
00:04:47Os nossos caprichos, as nossas emoções, a irracionalidade do cotidiano fazendo com que A seja igual a B.
00:04:53Ou seja, eu não quero ver o mundo como ele é de fato, porque isso incomoda a minha subjetividade, machuca os meus sentimentos,
00:05:02quebra com uma certa expectativa, que não foi fruto de meditação, mas que está presente no meu cotidiano.
00:05:10O Thomas Sowell, um grande pensador americano, ele vai chamar isso dessas noções preconcebidas,
00:05:16que todos nós trazemos, convivência com os nossos avós, com os nossos amigos, a nossa família, a nossa escola.
00:05:24Então a gente já traz uma série de conteúdos que nós absorvemos sem entender as causas.
00:05:30Agora, a natureza nos apetrechou com um elemento que é a racionalidade,
00:05:35que é a possibilidade de filtrar essas coisas preconcebidas e dizer
00:05:39elas estão harmonizadas com o real, com o mundo como é.
00:05:44E frequentemente você vai perceber que a maior parte das pessoas não está interessada na realidade.
00:05:52Ah, eu percebo diariamente isso no debate público brasileiro, na vida social.
00:05:57Sim, mas isso para a vida social e também para a sua própria vida.
00:06:00Claro, claro.
00:06:00Então você está querendo que aquela pessoa que deu todas as provas fáticas de que não se interessa muito por você,
00:06:07você quer enxergar algo que faça com que se mantenha a esperança de que em algum momento ela está se interessada em você.
00:06:17Então veja como que é.
00:06:18Isso é aplicação na vida amorosa desse conhecimento.
00:06:20Na vida amorosa, na vida acadêmica.
00:06:23Então você está fazendo uma pesquisa que está indicando um caminho muito diverso daquele que você imaginava que a pesquisa te levaria.
00:06:29E aí você diz, poxa, mas a minha pesquisa vai fraudar o que eu já pensava.
00:06:34Que maravilhoso, esse é o objetivo da pesquisa.
00:06:36Mas as pessoas não sabem disso, elas acham que pesquisa é para confirmar o ponto de vista.
00:06:40Exatamente, é uma conclusão anterior.
00:06:42Primeiro vem a conclusão, depois vem a pesquisa para provar aquele ponto.
00:06:46Então isso é gravíssimo.
00:06:48Agora, quem foi que falou aquela frase que depois de Sócrates para Platão e Aristóteles, toda filosofia anota de rodapé?
00:06:52Foi o Whitehead, um historiador anglófono Whitehead.
00:06:58Então a In Hand é uma nota de rodapé de luxo?
00:07:02Na verdade o que acontece, se você for esmilçar a obra de Rand, boa parte do que você vai encontrar ali sistematizado já existe no mundo antigo, na filosofia antiga.
00:07:14O grande impacto da Rand é que ela trouxe essa reflexão para uma linguagem contemporânea, para uma linguagem muito nossa.
00:07:20Ela escreveu filosofia na forma de romance.
00:07:23Então o grande clássico dela, que é a revolução, a revolta de Atlas, veio para o Brasil como a revolta de Atlas.
00:07:31É o segundo livro mais impactante nos Estados Unidos depois da Bíblia, de maior impacto entre os leitores depois da Bíblia.
00:07:38É um romance, mas no qual se inserem elementos dessa filosofia objetivista, racional, lógica,
00:07:48que contempla os dados da realidade, que vai afastar esses elementos de subjetividade como se fossem importantes no cálculo da vida.
00:07:56Mas o legal é o seguinte, não é para dizer, bom, mas é fazer do cara uma máquina?
00:08:01Nós temos que ser só racionalidade?
00:08:03Não.
00:08:03Você analisa racionalmente a realidade e põe toda a emoção e os sentimentos a favor do cálculo racional.
00:08:14Então você cria um projeto, mas o projeto você cria racionalmente.
00:08:18Você não fica assim, há de dar certo, eu estou sentindo no meu coração.
00:08:22Isso é feito para dar errado.
00:08:24Não, eu vou fazer para dar certo isso, isso e isso.
00:08:26Agora vem a emoção, agora vem o sentimento, agora vem o tesão, agora vem a vontade de pôr fogo e fazer funcionar.
00:08:34O problema é que frequentemente isso é invertido.
00:08:37Por exemplo, eu fiz parte dos, vamos dizer, dos bastidores da vida política brasileira, lá em Brasília,
00:08:44e o que você vê é que as pessoas, políticos, em 100% das vezes, tomam decisões escoradas em emoções,
00:08:51procurando o próximo modo de vencer.
00:08:54Como diz o próprio Thomas Sowell, o político está preocupado em vencer, depois em se reeleger.
00:08:59Qualquer terceira preocupação está muito distante das duas primeiras.
00:09:03Isso é um fato.
00:09:04Então eles estão olhando para quê?
00:09:05Para as emoções.
00:09:06Como é que eu respondo às emoções de quem vota?
00:09:09Como é que eu toco os elementos emocionais?
00:09:11Como é que eu desperto essas emoções?
00:09:13Por isso que você faz coisas completamente criminosas, como colocar um adolescente de 16 a 17 anos para votar.
00:09:20Claro que o cérebro não está nem formado ainda,
00:09:22mas ele já pode decidir pelos rumos do país.
00:09:25Exatamente.
00:09:26E você é uma daquelas pessoas que entende que a razão educa os sentimentos?
00:09:32Muito.
00:09:32Essa discussão, inclusive, me parece que está presente também em A Mente Moralista, do Jonathan Haidt.
00:09:37Está.
00:09:37É, que ele fala da importância também dos sentimentos.
00:09:41Quer dizer, não se pode abandonar isso.
00:09:42Não, não.
00:09:43Você não pode virar essa máquina fria, que não experimenta a possibilidade da empatia, nada disso.
00:09:49As emoções são importantíssimas.
00:09:51Mas isso não é recente.
00:09:53Se você pega, por exemplo, a descrição que Platão faz da alma, está posto lá.
00:09:58Platão pensa a alma como a imagem de uma carruagem conduzida por dois cavalos e uma auriga.
00:10:06Ele vai dizer, a alma é tripartite.
00:10:08Então, existe a parte concupiscível da alma, que é a parte dedicada às coisas materiais, às coisas cotidianas, compra, venda.
00:10:18Quero ter uma camisa, quero ter uma casa melhor.
00:10:21Então, essa parte da alma que se dedica a essas coisas do dia a dia.
00:10:25Existe uma parte irascível da alma, que é uma parte que te dá, vamos dizer, uma espécie de brilho para enfrentar as coisas.
00:10:34Imagine um soldado sem ira.
00:10:37Você precisa de ira em alguns momentos para avançar com suas propostas.
00:10:41Mas você não pode deixar...
00:10:43Esses são dois cavalos.
00:10:45Eles não podem conduzir a carruagem.
00:10:46Quem conduz é a auriga.
00:10:48E a auriga é o logos.
00:10:49É a razão.
00:10:50Então, ele tem que estar aqui.
00:10:52Então, assim, eu preciso que a parte irascível puxe um pouco mais.
00:10:57Então, eu conduzo isso.
00:10:58Porque se eu deixo a parte irascível ou concupiscente tomando conta da carruagem,
00:11:05ela nos joga para um buraco enorme.
00:11:07E frequentemente...
00:11:07Isso é Platão que você está citando.
00:11:08Isso é Platão.
00:11:09Exatamente.
00:11:10É porque eu me lembro muito bem de uma citação de Michel de Montaigne nos ensaios da obra de Platão.
00:11:16E que ficou muito presente em mim.
00:11:18Porque também, assim como você, sou esportista, etc.
00:11:21E tem essa vida jornalística, intelectual.
00:11:23Sim.
00:11:24E o Montaigne estava citando Platão justamente para defender que o corpo e a mente devem andar juntos.
00:11:30Sim.
00:11:30Emparelhados.
00:11:31Como dois cavalos presos ao mesmo timão.
00:11:33Exatamente.
00:11:34E isso está lá na obra dele.
00:11:35Porque o grande problema é que, como está tudo atrelado, se, por exemplo, a parte apaixonada da alma,
00:11:41pathos, se ela te joga para o buraco, ela leva tudo junto.
00:11:45Então, todo mundo que já esteve apaixonado um dia, seja em termos conjugais, seja em termos de política, por exemplo,
00:11:53apaixonado por um político, você joga todo esse organismo, que é você, para dentro de um buraco completamente absurdo.
00:12:02E você esquece de trazer o cérebro para a discussão.
00:12:04Então, não tem nada mais patético do que ver um adulto, principalmente, que é incapaz de separar os fatos e dizer assim,
00:12:11contrariando as minhas impressões, contrariando as minhas emoções, eu devo reconhecer que os fatos dizem que esse político é um retardado.
00:12:24Exatamente.
00:12:25É porque isso é muito humilhante.
00:12:28Isso é vexatório.
00:12:30E muita gente não quer passar pela humilhação e pelo vexame, que são fundamentais para o crescimento, para a evolução.
00:12:35E se isso começa a dar dinheiro, e se você começa a se identificar com grupos de poder, ou mesmo grupos de redes sociais,
00:12:44aqueles que vão lá te defender na sua idiotice, você se sente constrangido a não dar essa marcha ré.
00:12:50Aí você já está colocando nessa aplicação boa parte de militância que vira comentarista, de TV patrocinada por governo.
00:12:57Tudo.
00:12:57E isso que a gente viu acontecer nos últimos anos.
00:12:59Eu vim aqui feliz da vida, porque eu sei que é uma das pouquíssimas, se não a única voz realmente independente.
00:13:04Porque eu vejo muita gente associada à direita, à esquerda nem se fala, mas que se vendeu nesse processo a um espectro governamental, estatal.
00:13:16Começou a ver que chega mais seguidor.
00:13:18Exato.
00:13:19Começou a ver que vende mais curso.
00:13:20E aí o cara começa a vender os seus princípios.
00:13:23E as ideias são muito mais importantes do que as pessoas.
00:13:28As pessoas, está lá no vídeo de vingança, não é isso?
00:13:30Quer dizer, as pessoas se vendem, as pessoas se corrompem, as pessoas morrem, as pessoas adoecem, mas as ideias permanecem.
00:13:38É por isso que muitas vezes nas discussões públicas a gente busca extrair as ideias, os valores, os princípios.
00:13:44Porque se as pessoas ficam amarradas a pessoas, grupos, elas agem como um bando, como um rebanho, independentemente dos fatos.
00:13:51E é uma absoluta irracionalidade com comportamentos do tipo, não, não critica o fulano porque senão os outros vão voltar.
00:13:59Não é isso que está em jogo.
00:14:01O que está em jogo aqui é a sanidade de um sistema e que o fato de você criticar significa que você, independentemente de pessoas, quer um país melhor, uma conjuntura melhor.
00:14:11Um processo civilizatório que vai rebater, de fato, nos seus filhos, nos seus netos.
00:14:18Mas as pessoas acham que o mundo é assim, é feito de códigos binários, ou você é a favor ou você é contra, e não entendem essas cores que estão ali no meio do caminho.
00:14:28É, e aí cada tribo se sente legitimada para mentir, para cobertar a sujeira em nome da permanência dessa tribo no poder e nunca se chega a uma sociedade que tem os princípios, vamos dizer assim, num patamar superior na hierarquia de valores.
00:14:44Vira um Brasil, você sai de uma porcaria de uma cor para uma porcaria de outra cor.
00:14:48Você fica o tempo inteiro entre duas grandes porcarias que não vão ser resposta ao problema.
00:14:53Então quando você pega a longa tradição filosófica, que é essencialmente ocidental, o que você observa como uma espécie de monolito é, usem a racionalidade.
00:15:07E a Ayn Rand vai dizer, o grande problema é, a razão não é um automático.
00:15:13O fato de nós termos a faculdade de pensar racionalmente, não significa dizer que nós sejamos todos racionais aprioristicamente.
00:15:22A razão é um instrumento, é uma ferramenta que você pode ou não acionar.
00:15:29Você pode deixá-la guardada na sua casa sem nunca usar.
00:15:33E aí você começa com todas as respostas místicas e racionais que agradam a tantas pessoas.
00:15:39Agora, quando você diz, não, eu quero ser racional, eu vou abraçar os fatos como são.
00:15:45Se eu tiver uma excelente ideia e essa ideia contrariar a realidade, eu vou ficar com a realidade, porque no fim a realidade sempre vence, você começa a treinar ser assim.
00:15:55Exatamente.
00:15:56E quanto mais você treina ser assim, melhor você fica nisso.
00:15:58Agora, só aproveitando o último ponto, a sua analogia entre a paixão política e a paixão mesmo da vida amorosa entre seres humanos.
00:16:09Se fala muito ultimamente, por exemplo, de relações tóxicas.
00:16:12E as pessoas, evidentemente, elas em determinado momento precisam ter uma racionalidade para entender que a despeito daquela paixão que ela sente, do sentimento, de um afeto,
00:16:21de todos os sonhos que ela cultivou ao longo de uma relação amorosa, aquela relação está fazendo mal para ela.
00:16:27Sim.
00:16:28Está gerando consequências negativas para a vida dela.
00:16:31Esse não é aquele momento em que a razão precisa arrastar o sentimento, a razão precisa arrastar o coração para fora daquilo,
00:16:39ou pelo menos para uma solução, para um diálogo, para uma posição mais firme dentro daquela relação.
00:16:45E eu vejo uma analogia muito clara com a paixão política.
00:16:48É perfeita.
00:16:49Porque as pessoas não entendem que aquilo está dando errado, aquilo está sendo ruim para elas.
00:16:55Daqui a pouco elas vão parar em relatório da Polícia Federal, estão sendo indiciadas.
00:16:58Às vezes estão se explodindo na frente do STF.
00:17:02Exatamente.
00:17:03E a pessoa não percebeu a tempo.
00:17:05Quer dizer, a razão não arrastou o coração em momento algum.
00:17:08Razão é treino.
00:17:10Agir racionalmente é treino.
00:17:13Os filósofos estoicos, epicuristas, eles têm um termo para isso.
00:17:17Você precisa buscar uma certa apatia para a boa tomada de decisão.
00:17:23Tem uma palavra grega, né?
00:17:25É esse alfa no começo da palavra, né?
00:17:28Alfa e pathos.
00:17:30Pathos é a patologia, é a doença, é a desmedida, é a desmesura que frequentemente nos governa.
00:17:38Por que eles falam de apatia?
00:17:40É para que você não fique letárgico.
00:17:44Ah, apatia, então eu vou deitar aqui e vou esperar o mundo acontecer.
00:17:47Não.
00:17:47Mas para que você não haja sob efeito de uma adrenalina e de uma emoção que não estão mostrando o caminho como deve ser seguido.
00:17:56Então, em bom português, baixa a bola.
00:17:59Respira.
00:18:00Respira.
00:18:01Você não precisa tomar uma decisão agora e se precisar, tome com os elementos fáticos que estão diante de você.
00:18:10Essa será a sua melhor decisão.
00:18:12Mesmo que ela não traga exatamente os resultados esperados, mas porque você contempla os elementos de realidade.
00:18:19E é o que eles vão chamar de ataraxia.
00:18:23Imperturbabilidade da alma.
00:18:24Uma alma imperturbável é uma alma que considera os elementos a partir da razão.
00:18:29Por exemplo, tem uma passagem lindíssima do Epicuro que ele vai falar sobre o medo da morte.
00:18:35Que é um medo que nos afeta a muitos.
00:18:37Nossa, a morte.
00:18:38O que vai acontecer?
00:18:39Então ele diz, é ter medo de uma coisa que nunca estará com você.
00:18:43Porque quando ela está, você já não está.
00:18:47Quando a morte chega, você já não está mais ali.
00:18:50Logo, não tem o porquê temer uma coisa cuja presença você não vai nem experimentar.
00:18:55Então quando você começa a racionalizar esses elementos, você começa a deixar medos bobos de lado, sabe?
00:19:02E começa a fazer cálculos mais sagazes.
00:19:04Por isso que é não abandonar a razão e colocar a emoção a serviço dos elementos de racionalidade.
00:19:11Eu sou eu e as minhas circunstâncias.
00:19:12Meu Deus, eu quero mudar o mundo.
00:19:14Eu quero explodir o mundo.
00:19:15Eu quero isso.
00:19:15Quais são as suas circunstâncias?
00:19:18Pense racionalmente.
00:19:19O que dá para fazer hoje?
00:19:21O que dá para fazer agora?
00:19:22O que está ao seu alcance?
00:19:24Então ter essa inteligência racional de olhar e dizer, eu queria um Brasil diferente.
00:19:30O Brasil eu não consigo mudar.
00:19:31Mas eu consigo mudar a minha casa.
00:19:33Eu consigo mudar a educação dos meus filhos.
00:19:35Eu consigo me educar.
00:19:37Eu consigo mudar a minha relação com os membros do meu bairro.
00:19:41Você já está fazendo um trabalho extraordinário.
00:19:43Extraordinário.
00:19:43Os leitores, os espectadores, os ouvintes, para a gente que está com o microfone na mão.
00:19:49Só para a gente não sair do tema Rand sem falar sobre esse assunto.
00:19:54Em que contexto que ela fez uma, se é que se pode chamar assim, defesa do capitalismo?
00:20:00Ela vai dizer que o capitalismo é o modelo político-econômico que mais celebra exatamente os elementos de liberdade do indivíduo.
00:20:11Qual que é o grande problema que ela viu?
00:20:13Desde o regime czarista, passando pelo regime comunista, passando pelo capitalismo ameaçado dos Estados Unidos.
00:20:20Quando ela escreve a Revolta de Atlas, ela já escreve como uma advertência.
00:20:25Ela já via uma Europa sendo tomada por pautas coletivistas e estava dizendo para os Estados Unidos.
00:20:31Cuidado, porque isso vai chegar aqui.
00:20:34Vocês não são esse povo, mas isso vai tomar conta.
00:20:36Parecia uma predição.
00:20:38Já está...
00:20:38É, chegou.
00:20:39A resistência, mas chegou.
00:20:40Está lá, está instalado.
00:20:43Então ela vai dizer, o coletivismo é aquilo que tira todo o elemento de liberdade fundamental do indivíduo.
00:20:50O que é o coletivismo?
00:20:51É você ter uma pauta, uma ideia, que por meio de algum grau de coação social, vê o outro como um meio de realização de um plano,
00:21:02de um projeto, seja estatal, seja de grupo minoritário da sociedade, seja de grupo majoritário, seja do que for.
00:21:10Então, típico, né?
00:21:12Você é preto, então você não pode pensar dessa outra forma aqui.
00:21:16Se você é preto, você tem que estar incluído num grupo e esse grupo pensa assim.
00:21:21E se você pensa fora do grupo, você é preto de alma branca, você vai ser cancelado e assim por diante.
00:21:27Então essa ideia do coletivismo é sempre de submissão do indivíduo a algo quantitativamente maior do que ele.
00:21:34Não protege o indivíduo.
00:21:37E o coletivismo elimina todos os elementos de liberdade de sujeito.
00:21:40Então, eu não sou um fim em mim mesmo.
00:21:43Eu sou um troço.
00:21:45Na filosofia a gente chama de reificar, né?
00:21:47De coisificar.
00:21:48Eu sou um troço que você usa em função das suas pautas, da pauta do sindicato, da pauta do grupinho.
00:21:56Sem liberdade de consciência, sem liberdade de pensamento.
00:21:58Não tem isso.
00:21:59E sempre sob uma permanente ameaça, caso você ouse manifestar uma posição diferente da cartilha da patota.
00:22:06Exatamente.
00:22:06E ela vai colocar o capitalismo como o modelo ideal para afastar esse espectro coletivista
00:22:11e dizer duas pessoas celebrando, de acordo com seus interesses, a resolução dos seus problemas.
00:22:18Inclusive, nesse livro aí, o Ayn Rand e as doses de...
00:22:22Eu não lembro dos títulos dos meus livros.
00:22:23A dose de anticoletivismo.
00:22:25Ela diz o seguinte.
00:22:27O capitalismo, por exemplo, é o melhor modo de combater o racismo.
00:22:32Por quê?
00:22:33Porque eu não estou preocupado num sistema capitalista de livre mercado.
00:22:36Eu não estou preocupado se você é preto, branco, azul, se você é trans.
00:22:41Eu quero que você resolva um problema.
00:22:43E eu tenho dinheiro para te pagar se você resolve esse problema.
00:22:46E se você resolve, eu vou dizer...
00:22:47Seja com serviço, seja com produto.
00:22:49Não importa com o quê.
00:22:50É a liberdade colocada.
00:22:52Então, essa ideia de eu vou contratar porque você é preto, porque você é mulher,
00:22:57rende, dá saltos de ódio de pensar que a gente chegou a esse ponto
00:23:01de buscar representatividade forçada no livre mercado
00:23:06quando a verdadeira representatividade no livre mercado
00:23:09é a representatividade da solução dos problemas.
00:23:13Então, eu não quero saber se o piloto é homem, se é mulher.
00:23:16Eu quero saber se o piloto é bem.
00:23:17Pode ser todas mulheres, não tem problema.
00:23:20Parece tão óbvio.
00:23:21Parece tão óbvio que deixou de ser.
00:23:24Exatamente.
00:23:24Porque o coletivismo depende dessa visão que classifica os indivíduos
00:23:30por características exteriores.
00:23:33Os pretos, as mulheres, os quilombolas, os mineiros, os jogadores de futebol, não sei o quê.
00:23:39Aqui no Brasil, os caras... Não só no Brasil.
00:23:41O coletivismo está para todo lado.
00:23:42Mas os caras fazem campanha assim.
00:23:44Vote em mim porque eu sou mulher.
00:23:46Vote em mim porque eu sou quilombola.
00:23:49Vote em mim porque eu sou índio.
00:23:51Tá. E que projeto de país? Vai atuar em que sentido?
00:23:55É como se por uma característica, por um elemento, a pessoa se tornasse representante
00:24:00de toda uma categoria sem necessariamente uma habilidade específica, um resultado.
00:24:07É pior do que isso.
00:24:09É ainda uma avaliação de característica externa pela qual a pessoa não fez nada
00:24:15para ser daquela forma.
00:24:17Exatamente.
00:24:17Então, quer dizer, ela vai dizer algo do tipo, frases como orgulho de ser preto, orgulho
00:24:25de ser branco, orgulho de ser mineiro, orgulho de não sei o quê, orgulho de ser alto ou baixo.
00:24:32Você fez o quê?
00:24:34É.
00:24:34Entende?
00:24:35Quer dizer, o orgulho, ela vai dizer, é resultado de produtividade.
00:24:39Então, você saiu lá, construiu o seu podcast.
00:24:42Isso aqui é um rolê enorme para colocar para funcionar.
00:24:45Eu tenho orgulho desse podcast estar no ar, porque eu trabalhei para isso.
00:24:50Agora, orgulho por coisas que são características exteriores, que não dizem nada sobre ninguém,
00:24:55porque existe calhorda, branco, preto, mineiro, baiano, carioca.
00:25:00Então, não vou avaliar por características externas.
00:25:03Exatamente.
00:25:05Agora, passando um pouco para Aristóteles, você citou a importância da lógica de Aristóteles
00:25:10para a obra de Rand, o que Aristóteles fez de importante nesse sentido, o que existia
00:25:15antes e por que essa lógica não avança, porque a gente está discutindo aqui desde
00:25:19o começo da conversa, essa paixão, essa comoção que se tem e que, obviamente, é um pressuposto
00:25:29da manipulação de massa também.
00:25:30É, porque nós desprezamos o processo educacional, né?
00:25:34Nós desprezamos.
00:25:35Você sabe que a marca comum dos filósofos, especialmente a partir dos filósofos, já
00:25:40nos filósofos pré-socráticos, mas especialmente a partir da filosofia clássica, Sócrates, Platão
00:25:45e Aristóteles, essencialmente, eles chamam isso de paideia.
00:25:51Paideia é um termo grego de difícil tradução para o português.
00:25:54De modo geral, a gente traduz por formação, mas é muito mais do que formação, envolve
00:25:59todos os elementos compositivos do percurso formativo do sujeito, desde aspectos domésticos,
00:26:08culturais, formais da educação e assim por diante.
00:26:12Eles tinham uma grande preocupação, por um motivo muito simples.
00:26:17Tudo aquilo que vive vem codificado biologicamente.
00:26:21Então, por exemplo, uma planta, ela tem uma função de sobrevivência e de reprodução
00:26:27e essa função já está encalacrada nela.
00:26:30Ela não consegue se livrar dessa determinação biológica, certo?
00:26:34Então, é uma planta que foi semeada à sombra e ela precisa de sol,
00:26:39ela vai fazer o que for possível para tocar o sol.
00:26:43Então, ela vai começar a pender uma folha, um caule, alguma coisa para chegar no sol
00:26:49que ela precisa para viver.
00:26:52Se ela precisa de água, ela vai aprofundar as suas raízes e ela não faz isso fruto de deliberação.
00:26:57É de um condicionamento biológico.
00:27:00Assim são os cães, os gatos, os animais e tudo.
00:27:03Nós temos um elemento biológico, mas nós temos essa ferramenta que é a razão.
00:27:08Então, por meio dela, nós temos que pensar processos formativos
00:27:12que vão determinar os nossos caminhos melhores de sobrevivência.
00:27:16A ponto da Ayn Rand dizer o seguinte,
00:27:19o homem que se abstém de pensar, se abstém de viver.
00:27:24O homem que se abstém de pensar, se abstém de viver.
00:27:26É como se ele fosse um urso que abriu mão de usar as garras e as presas.
00:27:32Ele abriu mão daquilo.
00:27:34A nossa grande ferramenta de sobrevivência é a razão.
00:27:37Então, nós temos que pensar um processo paideutico formativo
00:27:40que extraia o melhor da nossa existência.
00:27:43Cara, nós somos um bando de gente irracional
00:27:46tomando decisões irracionais, pagando preço por isso,
00:27:51sofrendo por decisões idiotas que nós tomamos.
00:27:55E a minha frase clássica, todo sofrimento para idiota é pouco.
00:27:58Eu não tenho dó do povo brasileiro.
00:28:00Eu não tenho pena.
00:28:02Porque nós escolhemos, nós tomamos essas decisões.
00:28:07Nós não gostamos de cultura séria.
00:28:10Nós não apreciamos educação séria.
00:28:13A nossa educação é um lixo do mundo.
00:28:16E muita coisa não foi por falta de avisos.
00:28:18Os avisos estão registrados em obras seculares.
00:28:21Pelo amor de Deus.
00:28:24Os índices estão dados.
00:28:26Os números estão dados.
00:28:28A gente entrou agora numa pesquisa,
00:28:29pela primeira vez, acho que ela acontece há pouco mais de 20 anos,
00:28:34avaliando a qualidade dos nossos alunos de quarta a oitava série.
00:28:37Daqui a pouco anda de quatro.
00:28:40Não consegue fazer...
00:28:41Se eles tivessem...
00:28:42A pesquisa diz o seguinte.
00:28:43Se eles tivessem chutado todas as respostas de matemática,
00:28:47eles teriam um índice 16% superior ao que eles tiveram.
00:28:50Exato.
00:28:51Está aí na lanterna dos exames do PISA.
00:28:53Desde que eu participei de um congresso de educação,
00:28:55e eu estava estudando sobre o tema,
00:28:57que eu cito uma rixa que teve ali entre Joaquim Nabuco,
00:29:02considerado por muito mais influente dos abolicionistas,
00:29:05e o Rui Barbosa, jurista, que assim como Nabuco, também foi político.
00:29:10E isso foi ali, década de 1880, por ali, anos antes da abolição.
00:29:16Houve um relatório feito pela Comissão de Instrução Pública do Senado.
00:29:20O presidente dessa comissão, o relator, era o Rui Barbosa.
00:29:25E naquele relatório, você tinha frases de que o Brasil é uma população de analfabetos.
00:29:31Pois é.
00:29:31E isso ali, 20 anos antes da virada do século XIX para o século XX,
00:29:36já se considerava a população brasileira como uma população de analfabetos.
00:29:41E o Joaquim Nabuco só contestava aquele relatório
00:29:44porque ele achava que trocava a causa pelo efeito,
00:29:47porque ele via tudo no regime escravocrata como causa.
00:29:52E que o efeito era a ignorância generalizada,
00:29:56porque não interessava ao regime de poder,
00:29:58que as pessoas fossem mais inteligentes,
00:29:59e elas tivessem mais conhecimento lógico, factual, etc.
00:30:03Elas podiam se voltar contra o regime.
00:30:05De maneira que há uma legitimidade nesse argumento
00:30:08que os políticos nunca se interessaram muito em educar a população.
00:30:10Pelo contrário.
00:30:11Pelo contrário.
00:30:12Na verdade, quando você pega os discursos de fundação do MEC,
00:30:15quando você pega as atas dos discursos de fundação do MEC,
00:30:18que são muito interessantes,
00:30:19um dos oradores diz assim,
00:30:22o MEC foi pensado para ser,
00:30:25eu não vou saber reproduzir a exata frase,
00:30:27mas para controlar mentalidades.
00:30:30Para controlar mentalidades.
00:30:32Então, quando você vê instituições de ensino
00:30:33buscando o respaldo do MEC,
00:30:35tudo que eu escuto é buscando o respaldo
00:30:38daquilo que é uma das grandes causas da falência da educação brasileira.
00:30:42Então, quer dizer, a primeira coisa para se fazer pela educação brasileira
00:30:45seria implodir o MEC.
00:30:47Fazer aquilo virar uma grande secretaria,
00:30:50redistribuir poder para as pontas,
00:30:53para as pontas ganharem mais autonomia,
00:30:55porque tudo que confere,
00:30:57tudo que tem chancela do MEC,
00:30:58significa chancela de alguém que não entende nada de educação.
00:31:02Basta ver os nossos resultados.
00:31:04Cara, nós temos, em média,
00:31:0535% de alunos universitários analfabetos funcionais.
00:31:08Eu sou professor universitário,
00:31:11não consigo colocar um aluno meu,
00:31:13no Instituto de Filosofia,
00:31:15para ler um texto complexo,
00:31:17sem pegar o moleque pela mão e falar assim,
00:31:18isso aqui é o sujeito da frase,
00:31:20isso aqui é verbo,
00:31:21isso aqui é um objeto direto,
00:31:23aqui tem uma preposição,
00:31:24e tem objeto indireto,
00:31:26aqui não consigo.
00:31:28Então, quer dizer,
00:31:28ele já entra na universidade,
00:31:30e qual que é a grande solução que o Estado tem
00:31:32para esse problema?
00:31:33Enfiar mais gente,
00:31:36sem a menor competência técnica,
00:31:38acadêmica,
00:31:39para entrar na universidade,
00:31:40fazer da universidade espaço de justiça social.
00:31:43E aí vira propaganda política.
00:31:45Claro.
00:31:45Porque, ah, eu criei muitas universidades.
00:31:47Exatamente.
00:31:48E quais são os resultados?
00:31:49O que está sendo formado lá dentro?
00:31:52Ativistas.
00:31:52Os resultados falam por si.
00:31:53A gente produz,
00:31:54a gente teve um salto quantitativo de ciência,
00:31:57mais artigos científicos, etc.
00:31:58Mas o impacto científico,
00:32:00que é o que conta,
00:32:01baixíssimo,
00:32:02continua baixíssimo.
00:32:03Índices subsaarianos.
00:32:05Se a gente não resolve aí,
00:32:07e isso independe de ideologia,
00:32:09tem que fazer mais ou menos como a Estônia fez.
00:32:12Ter vergonha na cara,
00:32:13e falar assim,
00:32:13o que funciona?
00:32:15Cara, eles se inspiraram em livros do Rothbard.
00:32:18Pegaram um livro de anarco-capitalista,
00:32:20de capitalista,
00:32:21de defensor das liberdades individuais,
00:32:24e falaram assim,
00:32:24nós vamos começar a aplicar coisas inspiradas nisso daqui.
00:32:27Os caras em 30 anos saíram de uma ilha de nada
00:32:32para um país de prosperidade.
00:32:35Índices educacionais extraordinários.
00:32:37Índices de liberdade econômica extraordinários.
00:32:40Por que nós não fazemos?
00:32:41Porque nós temos uma democracia que é um chorume absoluto,
00:32:46que coloca um punhado de gente irracional
00:32:49para fazer demandas irracionais,
00:32:52cujas existências são fundamentais para políticos populistas,
00:32:58que não estão preocupados com resultados,
00:33:00mas só isso à direita e à esquerda.
00:33:02Isso à direita e à esquerda.
00:33:04Nosso problema é coletivismo.
00:33:06Nosso problema é coletivismo.
00:33:07E qual é o legado de Platão,
00:33:09do qual você tanto fala,
00:33:10que tem a ver com isso aí,
00:33:12que pode nos ajudar a melhorar
00:33:14nesse horizonte mental?
00:33:16A cidade não existe independentemente
00:33:21da qualidade do indivíduo.
00:33:24Não adianta você pensar num país melhor,
00:33:26não adianta você pensar numa polis melhor,
00:33:29numa cidade melhor,
00:33:30se você não é, enquanto indivíduo, excelente.
00:33:34A busca pela excelência tem que ser uma obsessão.
00:33:37A excelência no que você está fazendo,
00:33:39então quando você é um grande jornalista,
00:33:41você, direta ou indiretamente,
00:33:43está melhorando a minha vida.
00:33:44Porque eu vou lá e falo assim,
00:33:45deixa eu ver o que o Felipe está falando sobre isso,
00:33:47porque é uma fonte que eu posso confiar
00:33:50e me informar melhor sobre os dados da realidade.
00:33:53Quando você é um jornalista corrupto, corrompido,
00:33:57você começa a destruir toda essa estrutura
00:33:59da vida em sociedade.
00:34:00Então não adianta, quero paz no mundo.
00:34:02Aí na primeira buzinada no trânsito,
00:34:04você já desce e está espancando o cara.
00:34:06Quer transformar o mundo, mas não lava uma louça.
00:34:08Não lava uma louça.
00:34:10É a passagem do Jordan Peterson,
00:34:12você não arruma o seu quarto.
00:34:13Então eu acho que o grande legado é esse,
00:34:16de um olhar mais cuidadoso para si mesmo
00:34:19e só depois entender que a cidade pode melhorar.
00:34:23Então, nós tivemos...
00:34:24É evoluir a consciência individual.
00:34:25Primeira coisa, que é a sua área de domínio.
00:34:29Você tem um país que no ano passado,
00:34:31os adultos, eu não lembro exatamente a faixa de idade,
00:34:3484, 85% dos adultos não compraram um livro.
00:34:3884, 85% dos adultos não compraram um único livro.
00:34:42Quer dizer, como é que você quer construir um país assim?
00:34:44Você precisa de um milagre, na verdade.
00:34:46E como os milagres não vão acontecer,
00:34:48você precisa fazer isso num momento de construção,
00:34:52cuidar de si mesmo, em primeiro lugar.
00:34:54Se levar a sério.
00:34:55E Platão, a obra dele só é chegada para a gente pelos alunos,
00:35:01pelos registros?
00:35:02Não, na verdade o que acontece é assim,
00:35:04Sócrates não escreveu nada.
00:35:06Então as informações que nós temos de Sócrates
00:35:08são informações que nós chamamos de doxografia
00:35:11de outros autores, especialmente de Platão,
00:35:14mas não só.
00:35:15Platão escreveu muito.
00:35:17Platão escreveu República, a Política.
00:35:21Foi Sócrates, então, que a obra é só pelos alunos.
00:35:23O Sócrates, na verdade,
00:35:25se tornou uma espécie de personagem,
00:35:28porta-voz dentro dos diálogos de Platão.
00:35:30Certo.
00:35:32Aristóteles...
00:35:32Então, aí tem um parêntese.
00:35:34Platão escreveu muito, mas não escreveu tudo.
00:35:37Até é uma área de especialidade.
00:35:39Existe uma parte da filosofia dele,
00:35:40que é uma parte mais alta,
00:35:42que foi reservada só para a oralidade.
00:35:44Então, tudo que está escrito,
00:35:45não é tudo que ele pensou.
00:35:47E aí eu vou aos alunos,
00:35:48para saber o que ele disse, mas não escreveu.
00:35:50Aristóteles tem uma questão adicional.
00:35:54Tudo que nos chegou de Aristóteles,
00:35:55e é muita coisa,
00:35:57são anotações de professor.
00:35:59Ou seja, os textos que Aristóteles escreveu
00:36:02para serem publicados,
00:36:03não nos chegaram.
00:36:05Eles se perderam no curso da história,
00:36:07para a nossa tristeza.
00:36:08Então, nós só temos o Aristóteles,
00:36:10que é uma espécie de comentador de aula,
00:36:14fazendo as suas reflexões.
00:36:16Por isso que a ordem do pensamento aristotélico
00:36:19nos textos, às vezes,
00:36:21dá uma série de problemas para o leitor contemporâneo.
00:36:24Por essa característica.
00:36:25Certo.
00:36:26Vamos saltar um pouquinho para a nossa realidade política.
00:36:29Você chegou a ter uma participação
00:36:31como colaborador do Partido Novo.
00:36:32Qual foi exatamente a função?
00:36:34Eu fiz que nem Platão.
00:36:37Você sabe que o Platão...
00:36:37É sempre bom estabelecer esses vínculos.
00:36:39É uma coisa humilde.
00:36:41Eu fiz que nem Platão.
00:36:42Na verdade, o Platão nasceu para ser político.
00:36:45Ele era filho de uma família aristocrática.
00:36:48E ele viu a política acontecendo.
00:36:51Veja como as coisas mudam um pouco no curso da história.
00:36:53Ele viu a política acontecendo nos bastidores
00:36:55e falou...
00:36:57Está tudo errado.
00:36:58Está tudo errado.
00:36:59Por quê?
00:36:59Porque não adianta eu estar atrás de...
00:37:00Já estava naquela época.
00:37:01Não adianta eu estar atrás de paz, justiça, prosperidade
00:37:06se eu não sei definir essas coisas.
00:37:09Eu não sei o que essas coisas são.
00:37:11Então, assim, eu quero um país mais tolerante.
00:37:13O que é um país mais tolerante?
00:37:15Tolerar tudo?
00:37:16Não, não é tolerar tudo.
00:37:16É tolerar o quê?
00:37:18Essas são questões filosóficas.
00:37:19E isso levou para a filosofia.
00:37:21Mas, tirando essa brincadeira da comparação com Platão,
00:37:25em determinado momento, um deputado federal do Novo
00:37:28me liga por causa da minha atuação
00:37:32como defensor das liberdades individuais.
00:37:34Não conheço outras liberdades, inclusive.
00:37:35Para mim, liberdade é só liberdade individual.
00:37:37Não existe liberdade de grupo.
00:37:39Ele me liga numa madrugada, cara.
00:37:41Não me meia da manhã, sei lá.
00:37:43Ele diz, não, vamos à Brasília.
00:37:45Nós precisamos de um...
00:37:48Era um cargo de direção na liderança do partido
00:37:50que nos ajude a nos colocar na linha do liberalismo,
00:37:57de pensamentos de liberdade,
00:37:58desse abolicionismo do qual você tanto fala e tal.
00:38:02Eu olhei para a minha mulher e falei,
00:38:04e aí, entrar nessa?
00:38:07Nos bastidores da vida política?
00:38:10Vamos tentar fazer alguma coisa.
00:38:12E eu fui para Brasília.
00:38:14Trabalhando, como é que era o cargo?
00:38:15Diretor de não sei lá o quê.
00:38:18E meu papel era esse.
00:38:19Era pegar todos os projetos de lei,
00:38:22decretos que entravam,
00:38:23fazer uma depuração numa análise de liberdade
00:38:26e dizer isso aqui não,
00:38:27isso aqui sim,
00:38:28isso aqui funciona,
00:38:28isso aqui não funciona.
00:38:30Ou projetos de lei dos próprios deputados.
00:38:32Na época, o Novo tinha oito deputados federais.
00:38:34Então, tinha uma liderança e tal.
00:38:37E eu colaborei nesse sentido.
00:38:39Que ano?
00:38:39Foi no ano anterior às eleições nacionais.
00:38:462000 e...
00:38:48Qual foram as últimas eleições nacionais?
00:38:4917 a 2021.
00:38:5021.
00:38:5121.
00:38:51Exatamente.
00:38:52Pandemia, exatamente.
00:38:54Aí, fiquei lá um ano e alguma coisa,
00:38:58tendo essa experiência macabra.
00:39:01É macabro, velho.
00:39:03É macabro.
00:39:04Porque o que você imagina?
00:39:05Esses caras tomam decisões.
00:39:08Eu não estou falando do Novo especificamente,
00:39:10estou falando muito pelo contrário.
00:39:12Porque, na verdade,
00:39:13até por força da minha presença lá também,
00:39:16a gente perdia tudo.
00:39:18Marcando as posições que levam países
00:39:21a serem países prósperos e tudo.
00:39:23A gente não inventava nada.
00:39:25A gente perdia tudo frequentemente.
00:39:28Mas os caras também...
00:39:29Como você diz, as votações eram perdidas.
00:39:33Todas.
00:39:34Aquilo que vocês defendiam
00:39:35não era aprovado pelo Congresso.
00:39:36Mas quase nunca.
00:39:37Virava motivo de piada.
00:39:39O Lira ria.
00:39:39Tem o pessoal do Novo
00:39:41votando esse negócio que a gente já sabia.
00:39:44E aí tem todo mundo.
00:39:45Todo mundo votando.
00:39:46Teses coletivistas,
00:39:48populistas, demagógicas.
00:39:50Para fins de interesse para o que há.
00:39:53Cara, eu vi coisa lá.
00:39:54Meu primeiro dia de Brasília,
00:39:56na primeira semana,
00:39:57era um deputado federal bolsonarista.
00:40:00Para não dizer que era da esquerda.
00:40:01Porque eu falo que a porcaria
00:40:03ela não é hemiplégica.
00:40:06Ela está em todos os...
00:40:07Sem dúvida.
00:40:08E esse cara,
00:40:10ele propôs uma lei
00:40:12que eu achei que era uma piada até.
00:40:14Ele propôs uma lei que era
00:40:16obrigar os diretores de escola
00:40:17a comprar leite na forma líquida.
00:40:21Era uma lei, um projeto de lei.
00:40:22Para obrigar o sujeito,
00:40:24o diretor de escola,
00:40:25ela comprar leite na forma líquida.
00:40:29Falei, mas...
00:40:31Espera, qual é o sentido disso?
00:40:33O diretor de escola,
00:40:34ele não tem que ter uma autonomia.
00:40:36Comprar leite do jeito que dá,
00:40:37às vezes,
00:40:37ele não vai precisar de leite
00:40:38na forma líquida,
00:40:40ele vai precisar congelado,
00:40:41ele vai precisar...
00:40:42Nem vai comprar leite,
00:40:43vai comprar fruta,
00:40:44outra coisa,
00:40:45mais próxima da região.
00:40:46Leite em pó, poderia dizer.
00:40:48Leite em pó.
00:40:48O que ele tem contra o leite em pó?
00:40:50Aí era para a saúde das criancinhas.
00:40:53Claro, não tem nada a ver
00:40:54com o mercado de produção de leite, não.
00:40:56Era para a saúde das criancinhas.
00:40:59E passou a lei.
00:41:00Eu recebi ligação na liderança
00:41:02de diretor de escola falando assim,
00:41:04moço, aqui não tem geladeira.
00:41:06Se eu tiver que comprar leite líquido,
00:41:09eu não tenho nem onde guardar.
00:41:11Eu compro em pó.
00:41:12E, às vezes, eu pego esse dinheiro
00:41:14e compro fruta para bater suco de fruta
00:41:16para os meninos.
00:41:17Aqui não tem banheiro e tal.
00:41:18Esses caras estão se lixando.
00:41:21Estão se lixando.
00:41:23Os caras fizeram uma lei
00:41:24na privatização da Eletrobras,
00:41:28um negócio completamente fake,
00:41:30que passava,
00:41:32que construía termoelétricas.
00:41:35Tinha CEP na lei.
00:41:37Tinha CEP.
00:41:38A gente constrói leis no Brasil com CEP.
00:41:40Onde tem que ter tal negócio,
00:41:42por onde tem que passar
00:41:43os grupos de interesse.
00:41:44E aí você vê, velho,
00:41:46que esquece.
00:41:49É, me fez lembrar, inclusive,
00:41:50a história do Arthur Lira,
00:41:51já que você citou o presidente da Câmara,
00:41:52que estava ali investindo,
00:41:54supostamente, em kits robótica.
00:41:56Aí veio toda uma investigação
00:41:58sobre esses kits robótica,
00:42:00que eram destinados a escolas
00:42:01que não tinham outras coisas básicas,
00:42:03como essas que você está apontando.
00:42:05Isso aí é...
00:42:05E aí se descobriu ali o nome do Arthur Lira,
00:42:08mas depois Gilmar Mendes blindou o Arthur Lira,
00:42:11mandou destruir, inclusive,
00:42:12a áudio e investigação.
00:42:13E o Arthur Lira,
00:42:14muito próximo do Gilmar,
00:42:15participou do Gilmar Palusa lá em Lisboa.
00:42:17Sete dias depois,
00:42:18o Gilmar foi lá e o blindou.
00:42:19Arthur Lira,
00:42:20ele funcionou da seguinte maneira.
00:42:22E eu não estou inventando.
00:42:22Isso está lá em atas,
00:42:23está em registros,
00:42:24tem os vídeos e tudo.
00:42:26Geralmente, as lideranças,
00:42:28elas deveriam, em tese,
00:42:30receber a pauta da semana
00:42:31com um, dois dias de antecedência.
00:42:33Então, isso vai ser votado,
00:42:35vocês já se preparam tecnicamente
00:42:37para instrumentalizar os deputados e tudo.
00:42:40Frequentemente,
00:42:41era terça-feira,
00:42:43três horas da tarde,
00:42:44pintava a pauta lá assim,
00:42:47e frequentemente no meio
00:42:48entrava alguma coisa
00:42:49que não era de baixo impacto,
00:42:51era de altíssimo impacto.
00:42:53E daí, você tinha a deputada Adriana,
00:42:55aqui de São Paulo,
00:42:56ela era muito aguerrida
00:42:57nesse sentido de falar assim,
00:42:57Adriana Ventura do Novo.
00:42:59Presidente,
00:43:00assim, não dá,
00:43:01nós precisamos de certa previsibilidade,
00:43:03não sei o que, não sei o que.
00:43:04Ela continua falando isso,
00:43:05nós entrevistamos no Papo Antagonista.
00:43:08Ignorada solenemente.
00:43:10As famosas tratoradas do Arthur Lira.
00:43:12Ele tem um tema de interesse,
00:43:13ele tenta aprovar com urgência
00:43:14antes de qualquer análise.
00:43:15Tratorada.
00:43:16A mesa indeferiu.
00:43:17A mesa indeferiu.
00:43:18E é só assim,
00:43:19a mesa indeferiu.
00:43:20Ou seja,
00:43:21quando está tudo certo
00:43:22para votar como o cara quer,
00:43:23passa.
00:43:24Aí é amizade pura.
00:43:26Não está nem aí.
00:43:27Cara,
00:43:28eles fazem o que eles bem entendem,
00:43:31da forma como eles entendem.
00:43:33Viva me perguntando,
00:43:33você acha que vai ter uma revolução no Brasil?
00:43:36Revolução do quê?
00:43:37O que esses caras querem fazer
00:43:39que eles não fazem?
00:43:40Olha o que virou a justiça brasileira.
00:43:42Bom,
00:43:42vamos chegar lá.
00:43:43Agora,
00:43:43você saiu com críticas
00:43:45a determinados integrantes
00:43:46ou ao Novo
00:43:47de uma maneira geral.
00:43:48A gente vê que
00:43:49diversos integrantes
00:43:50se alinharam mais
00:43:51ao bolsonarismo.
00:43:53Havia ali também
00:43:54um projeto
00:43:55do Romeu Zema
00:43:57ou em torno dele
00:43:58com vistas a 2026
00:44:00ou para quando desce.
00:44:02O que você viu ali,
00:44:03vamos dizer assim,
00:44:04de desvio de uma rota
00:44:05a partir daqueles preceitos fundamentais
00:44:08do Estatuto do Novo
00:44:09quando ele foi criado?
00:44:10A prostituição dos princípios.
00:44:13O Novo passou a ter
00:44:14um projeto de poder.
00:44:17Eu digo que
00:44:18um partido
00:44:19que se coloque
00:44:20como defensor das liberdades,
00:44:23defensor do livre mercado,
00:44:24defensor da prosperidade
00:44:26da nação,
00:44:27de uma educação descentralizada,
00:44:30no meu modesto ponto de vista,
00:44:31ele nem deveria começar
00:44:32concorrendo a cargos
00:44:34no Executivo.
00:44:36Eu acho que ele deveria
00:44:37se manter em cargo
00:44:38do Legislativo.
00:44:40Porque quando você começa
00:44:42a flertar com elementos
00:44:43do Executivo,
00:44:44você começa a fazer
00:44:45concessões principiológicas
00:44:47que vão corrompendo
00:44:50a natureza da coisa
00:44:51e fazendo com que você
00:44:52seja mais do mesmo.
00:44:54Quando eu olhei
00:44:54o que estava acontecendo
00:44:56em Minas Gerais,
00:44:57sob Zema,
00:44:58na sua segunda eleição
00:44:59como governador,
00:45:02ele indicando
00:45:03um sujeito
00:45:04que era Marcelo Aro,
00:45:06salvo engano o nome dele,
00:45:07para Senado,
00:45:07que no ranking dos políticos
00:45:10era um cara que estava
00:45:10nos últimos lugares.
00:45:13Ele era afiliado político
00:45:15do ex-presidente
00:45:19da Câmara Federal.
00:45:20Eduardo Cunha?
00:45:21Acho que sim.
00:45:22Exatamente dele.
00:45:24Então, você vê
00:45:24uma linhagem política
00:45:26completamente horrorosa,
00:45:27diferente de tudo
00:45:28que o novo pregava.
00:45:32E aí eu pensei logo,
00:45:33agora os caras
00:45:34têm projeto de poder.
00:45:35e quando você tem
00:45:36projeto de poder,
00:45:38passa um boi,
00:45:38passa uma boiada.
00:45:40Eu coloquei
00:45:40nas minhas redes sociais.
00:45:41Primeiro eu fiz um vídeo
00:45:42escancarando,
00:45:43fiz um vídeo de quatro minutos
00:45:44falando,
00:45:44não me vendo,
00:45:45não me corrompo,
00:45:46vocês estão seguindo por aí.
00:45:47Hayek nos anos 60
00:45:49escreveu sobre isso.
00:45:50Exatamente.
00:45:51Nós perdemos
00:45:51o termo liberal.
00:45:51Escrevi artigos,
00:45:52inclusive,
00:45:53citando Hayek
00:45:54a respeito desse ponto.
00:45:55Ele falou lá,
00:45:56nós perdemos
00:45:58o termo liberal
00:45:59nos Estados Unidos,
00:46:00a ponto de ser
00:46:00liberal nos Estados Unidos
00:46:02é ser progressista.
00:46:03De esquerda,
00:46:04pois é.
00:46:04Nós perdemos o termo.
00:46:05Por quê?
00:46:06Porque a gente começou
00:46:06a fazer concessões
00:46:07para essa gente.
00:46:09E o poder corrompe.
00:46:11O poder corrompe.
00:46:12Eu falei,
00:46:12daqui a pouco o novo
00:46:13está usando verba
00:46:15para a campanha,
00:46:18daqui a pouco
00:46:18vai entrar
00:46:19gente com
00:46:20posturas
00:46:21completamente diversas
00:46:22daquelas pregadas
00:46:24pelo novo
00:46:26no começo.
00:46:27Então entrou gente
00:46:28estatista,
00:46:30demagógica,
00:46:31populista,
00:46:32está tudo lá
00:46:33nas fileiras do novo.
00:46:34Agora nessas últimas eleições
00:46:35um punhado de gente entrou.
00:46:37Então você vai
00:46:38corrompendo a natureza.
00:46:40Claro,
00:46:41no meio de tanto lixo
00:46:42ainda é,
00:46:43na minha modesta opinião,
00:46:43o melhor partido.
00:46:44Tem figuras muito respeitáveis
00:46:46lá dentro.
00:46:47Pouquíssimas.
00:46:48Pouquíssimas.
00:46:49Eu já tive reunião
00:46:49de bastidor,
00:46:50você não acredita.
00:46:51está lá,
00:46:52eu tenho gravações,
00:46:53você não acredita
00:46:54no que eu ouvi
00:46:55de coisas do tipo.
00:46:57Para vocês se manterem
00:46:58limpinhos,
00:46:59nós temos que fazer
00:47:00tal coisa.
00:47:00Cara,
00:47:01é esse o partido?
00:47:02Então eu,
00:47:03imediatamente,
00:47:04depois das eleições,
00:47:05me desliguei
00:47:06e não mexo mais
00:47:07com política partidária.
00:47:09Eu como jornalista
00:47:09já fiz várias dessas críticas,
00:47:11já escrevi que o novo
00:47:12estava parasitando
00:47:13o bolsonarismo,
00:47:14estava abandonando
00:47:15determinadas bandeiras,
00:47:17inclusive liberais
00:47:18em determinados pontos,
00:47:19porque o Bolsonaro,
00:47:20o Jair,
00:47:21ele sempre teve
00:47:23uma mentalidade estatista,
00:47:25ele simplesmente
00:47:25passou um verniz ali,
00:47:26chamou o Paulo Guedes,
00:47:27os filhos perceberam
00:47:28que tinha um crescimento
00:47:30ali virtual
00:47:30de um movimento
00:47:32mais liberal,
00:47:33mas ele,
00:47:35até nas votações
00:47:36durante o governo dele,
00:47:37ele era um foco
00:47:37de resistência
00:47:38para determinados
00:47:40avanços liberais.
00:47:41Exatamente.
00:47:42No tanto,
00:47:42a gente ouve,
00:47:43a gente conversa
00:47:44com a Adriana,
00:47:45a gente vê o que o
00:47:46Marcelo Van Raten
00:47:47está fazendo ali
00:47:48como relator
00:47:48de um PEC
00:47:49que reduz
00:47:49o poder de ministros.
00:47:51O próprio Gilson,
00:47:53Adriana,
00:47:54então assim,
00:47:54eu não questiono
00:47:55o caráter
00:47:55dessas pessoas,
00:47:56sou muito amigo
00:47:57do Alexis,
00:47:58que foi um deputado
00:47:59extraordinário,
00:48:01então assim,
00:48:01vou à casa dele,
00:48:02então não é uma questão
00:48:03pessoal,
00:48:04tem uma questão
00:48:05orgânica ali,
00:48:06tem uma questão
00:48:07institucional,
00:48:08que eu acho que,
00:48:09eu acho,
00:48:10os fatos falam por si,
00:48:12que em médio e longo
00:48:13prazo,
00:48:13vão fazer do novo
00:48:14cada vez mais
00:48:16um partido
00:48:16do establishment.
00:48:18Um partido velho.
00:48:19É um partido
00:48:19que vai ter que,
00:48:22já que abriu
00:48:23essa possibilidade,
00:48:24e aí você começa
00:48:25a relativizar moralmente,
00:48:27que é,
00:48:27olha só que é muito
00:48:28interessante isso,
00:48:29a psicologia
00:48:30do poder.
00:48:32Nós não vamos usar
00:48:33verba pública
00:48:33para fazer campanha.
00:48:35Não, não, não.
00:48:35Agora nós vamos usar
00:48:36os ganhos de investimento
00:48:38do dinheiro que está parado.
00:48:40Então a gente está usando
00:48:40só o lucro
00:48:41dos investimentos
00:48:43com esse dinheiro.
00:48:44Ah, não,
00:48:44vamos usar logo
00:48:45de uma vez.
00:48:46Então a gente vai fazendo.
00:48:47É a psicologia, né,
00:48:48é humano.
00:48:49Você vai fazendo
00:48:49pequenas concessões.
00:48:51Depois que beijou na boca,
00:48:52meu amigo,
00:48:53o próximo é tirar a roupa,
00:48:54não tem muito o que fazer,
00:48:55entende?
00:48:56Você não vai ficar só ali.
00:48:57Aí você largou a política
00:48:58e a sociedade da lanterna
00:48:59já existia?
00:49:01Já existia
00:49:02e aí tomou
00:49:03uma outra dimensão, né?
00:49:04A sociedade da lanterna
00:49:05hoje ganhou uma vida,
00:49:07nós temos
00:49:07centenas e centenas
00:49:09de membros
00:49:10que são pessoas
00:49:11preocupadas exatamente
00:49:12com aquilo que
00:49:13Platão disse lá atrás
00:49:14que é formação filosófica
00:49:16para nos salvar
00:49:17individualmente,
00:49:18mas para nos salvar
00:49:19enquanto cidade.
00:49:20E o que é lá?
00:49:20É um curso?
00:49:21É uma sociedade
00:49:22que frequenta
00:49:23a história da filosofia
00:49:25e que frequenta
00:49:26as principais obras
00:49:27de literatura
00:49:28da história,
00:49:30as mais impactantes,
00:49:31as distopias
00:49:32mais impactantes.
00:49:33Então a gente pega lá
00:49:34desde Crime e Castigo,
00:49:361984,
00:49:38Arquipélago Gulag,
00:49:39e a gente faz leituras
00:49:40comentadas desses livros,
00:49:41ficam todas gravadas lá,
00:49:43e nós temos
00:49:44essa outra parte
00:49:45que é de
00:49:45saímos lá do mito,
00:49:47lá de Homero,
00:49:48Exíldo,
00:49:49vimos o nascimento
00:49:50da filosofia,
00:49:51as condições históricas,
00:49:52condições que nós
00:49:53estamos perdendo,
00:49:54tá?
00:49:54Que os gregos,
00:49:55os gregos
00:49:56do quinto século,
00:49:57sexto século,
00:49:59quarto século
00:50:00antes de Cristo,
00:50:00eles contavam
00:50:01com muito mais
00:50:02liberdades individuais
00:50:04do que nós hoje,
00:50:05o que inclusive
00:50:06propiciou o nascimento
00:50:07da filosofia?
00:50:08Filosofia é filha
00:50:09da liberdade
00:50:10e da razão.
00:50:11Então o fato
00:50:12de você poder
00:50:13questionar um político,
00:50:15você pega as comédias
00:50:16gregas,
00:50:17um Aristófanes,
00:50:18um Aristófanes
00:50:18hoje no Brasil
00:50:20estaria preso.
00:50:22Como esteve
00:50:22recentemente aí,
00:50:23não podia sair de São Paulo,
00:50:24o Léo Lins,
00:50:25esses caras,
00:50:26entende?
00:50:27Era isso.
00:50:28Isso na Grécia,
00:50:30você olhar
00:50:30para um ministro
00:50:31do STF
00:50:32e dizer,
00:50:33e aí,
00:50:33Gordola,
00:50:34não sei o que,
00:50:35os caras iam dar risada.
00:50:36Mas quando o sujeito
00:50:37começa a se levar
00:50:38a sério demais,
00:50:39você não está me atacando,
00:50:41você está atacando
00:50:41a instituição.
00:50:43Esses são os verdadeiros.
00:50:45Eles estão se achando
00:50:45a democracia.
00:50:46Eu apontei isso na raiz
00:50:47lá em 2019,
00:50:48quando o Dias Toffoli
00:50:49começou a fazer isso,
00:50:50escrevi recentemente
00:50:50essa cronologia.
00:50:52É a tirania togada.
00:50:53É a tirania togada.
00:50:54Quando eles se julgam
00:50:55a democracia
00:50:56e você não pode falar deles,
00:50:58nós,
00:50:59aqui,
00:50:59como veículo,
00:51:00a Cruzoé,
00:51:01foi a primeira vítima
00:51:02da série de censuras
00:51:03em 2019,
00:51:04com a reportagem
00:51:05Um Amigo do Amigo do Meu Pai,
00:51:06que simplesmente falava a verdade,
00:51:07que o codinome do Toffoli
00:51:08nos e-mails do Marcelo Debrecht
00:51:10era esse.
00:51:11E eles mandaram tirar do ar,
00:51:12porque foi muito inconveniente.
00:51:13Ele não queria ser associado.
00:51:15E hoje está aí,
00:51:16a esposa dele
00:51:17tem os irmãos Batista
00:51:19como cliente
00:51:20e ele dá decisões favoráveis
00:51:21aos irmãos Batista.
00:51:22Quer dizer,
00:51:23eles perderam completamente
00:51:24o pudor.
00:51:26Felipe,
00:51:26os gregos falavam que
00:51:27depois que todos os sistemas
00:51:30éticos foram testados,
00:51:32sobra um dique de proteção.
00:51:34A vergonha.
00:51:34A vergonha é o último
00:51:36dique de proteção
00:51:37da vida ética.
00:51:39Então,
00:51:40quando um ministro
00:51:41do STF
00:51:43perde a vergonha,
00:51:44porque aí é falta
00:51:45de vergonha na cara,
00:51:46perde a vergonha na cara
00:51:48e diz assim,
00:51:49nós somos um filtro
00:51:50da sociedade.
00:51:52Você entende?
00:51:53Quer dizer,
00:51:54antes eu falava isso
00:51:55em podcasts e tudo
00:51:56como uma crítica.
00:51:57Não,
00:51:57eles absorveram a crítica
00:51:59e anunciam isso
00:52:00aos quatro ventos.
00:52:01Então,
00:52:02quer dizer,
00:52:03bastava ler
00:52:04um pequeno ensaio
00:52:05do John Stuart Mill
00:52:07sobre a liberdade
00:52:08para dizer assim,
00:52:10seres humanos
00:52:11são falíveis
00:52:12e a melhor forma
00:52:13de você
00:52:14evitar
00:52:15os malefícios
00:52:16da falibilidade humana
00:52:18é deixar as pessoas
00:52:19falarem.
00:52:21Deixe as pessoas falarem.
00:52:23Vamos conhecer
00:52:23o pensamento
00:52:24das pessoas.
00:52:25aqui mesmo
00:52:26durante o Império
00:52:27Dom Pedro
00:52:28permitia
00:52:30um grau
00:52:32de liberdade
00:52:32de dizer
00:52:33que ingleses,
00:52:36terra da liberdade,
00:52:37eles ficavam assustados.
00:52:38Terra do John Stuart Mill,
00:52:39eles ficavam assustados.
00:52:40Mas como é que você
00:52:41deixa os caras
00:52:42tirarem esse sarro?
00:52:43Porque eu sei
00:52:44o que eles estão
00:52:44pensando de mim.
00:52:46Porque eu sei
00:52:47que eu posso ouvi-los
00:52:48e de repente
00:52:48calibrar alguma posição
00:52:50e não me fechar
00:52:51e dizer,
00:52:52então agora você vai preso,
00:52:53agora você vai ser multado.
00:52:54o que aconteceu
00:52:55com o Van Raten lá,
00:52:57o que aconteceu
00:52:57com o deputado
00:52:58preso por crime
00:53:00de opinião.
00:53:01Não é nem
00:53:02prerrogativa de foro,
00:53:03prerrogativa de função,
00:53:04nada disso.
00:53:05Isso deveria ser
00:53:06para todos nós.
00:53:08Tirar sarro,
00:53:08contar piada,
00:53:09falar mal,
00:53:10isso faz parte
00:53:11da vida em sociedade.
00:53:12O quão arrogante
00:53:13tem que ser um sujeito
00:53:14que acha que vai passar
00:53:15uma vida inteira
00:53:16sem ouvir
00:53:17uma opinião contrária
00:53:18a ele,
00:53:18uma crítica,
00:53:19seja pelo que for.
00:53:21Talvez seja,
00:53:22talvez fosse esse
00:53:23um dos motivos
00:53:23pelos quais
00:53:24Joaquim Nabuco
00:53:25e Lima Barreto,
00:53:25por exemplo,
00:53:26eram saudosos
00:53:26do império.
00:53:27Lima Barreto
00:53:28apontava ali
00:53:28a república
00:53:29como regime
00:53:29da corrupção
00:53:30desde a raiz
00:53:31e não deu outra.
00:53:33A revolução republicana
00:53:34foi uma das maiores
00:53:35desgraças
00:53:36da história do Brasil
00:53:37e os resultados
00:53:37falam por si.
00:53:39E nós criamos
00:53:39um regime democrático
00:53:41que é a celebração
00:53:42da ignorância
00:53:43como padrão
00:53:44de comportamento,
00:53:45como padrão
00:53:45ser burro
00:53:48passou a ser virtuoso,
00:53:50ser tirânico
00:53:51passou a ser virtuoso
00:53:52e como eles perderam
00:53:53a vergonha,
00:53:54quer dizer,
00:53:54já não existe
00:53:55nenhum tipo
00:53:55de prurido,
00:53:57de constrangimento
00:53:58em ser assim
00:53:58e as pessoas aceitam,
00:54:01as pessoas aplaudem,
00:54:03falam,
00:54:03bom,
00:54:03então é esse o país
00:54:04que vocês querem construir,
00:54:06tenham muito boa sorte,
00:54:07a gente já sabe
00:54:08onde vai dar.
00:54:08Aliás,
00:54:09você citou
00:54:09o crime e castigo
00:54:10do Dostoiévski,
00:54:11uma vez escrevi um artigo
00:54:12citando um trecho
00:54:13de uma carta dele
00:54:14a uma mademoiselle
00:54:14cujo nome
00:54:15não me lembro agora
00:54:16e acho que ela
00:54:18estava interessada
00:54:18em cursar medicina
00:54:19e aí ele estava falando
00:54:21olha,
00:54:21o problema aqui
00:54:22das nossas faculdades
00:54:23é que elas não dão
00:54:24uma educação
00:54:25básica,
00:54:26cultural,
00:54:27quer dizer,
00:54:27você não se transforma
00:54:28em uma pessoa culta,
00:54:29você se transforma
00:54:29em um especialista
00:54:30e em outros lugares
00:54:32há pessoas cultas
00:54:34nessas áreas,
00:54:34mas eu recomendo
00:54:35a você primeiro estudar,
00:54:37sabe,
00:54:37ele estava recomendando
00:54:38a pessoa para primeiro
00:54:39ser culta
00:54:39para depois aprender
00:54:40a técnica,
00:54:41e é o Dostoiévski
00:54:43que a gente lê
00:54:44até hoje
00:54:44que tem obras literárias
00:54:45extraordinárias,
00:54:47mas você vê
00:54:48um pensamento raro
00:54:49e uma consciência
00:54:51da necessidade
00:54:52de conhecimento
00:54:53que hoje a gente vê
00:54:54tão pouco.
00:54:55Ah, não,
00:54:55é completamente desprezado.
00:54:57A grande tristeza
00:54:58que eu tenho
00:54:59como estudioso
00:54:59do mundo antigo
00:55:00é ver o quanto
00:55:02as soluções
00:55:03estão dadas.
00:55:04As soluções
00:55:05estão dadas,
00:55:06não é que assim,
00:55:06ah, você precisa ser
00:55:07um gênio da pedagogia,
00:55:09você precisa ser
00:55:09um gênio da política,
00:55:11nós já temos
00:55:12um conhecimento
00:55:13suficientemente estabelecido
00:55:14para encontrarmos
00:55:15esses caminhos melhores
00:55:17dentro das nossas
00:55:18realidades.
00:55:19Agora,
00:55:20é o que Tomassoio diz,
00:55:22você pega a Universidade
00:55:23Brasileira,
00:55:24o que virou
00:55:25a Universidade Brasileira,
00:55:26ontem eu estava
00:55:26conversando com uma amiga
00:55:27que estava lá na UFRJ,
00:55:28ela falou,
00:55:28Denis,
00:55:29é triste entrar,
00:55:32é triste.
00:55:32Eu converso com um monte
00:55:33de gente que dá
00:55:34os mesmos relatos,
00:55:35gente até que saiu,
00:55:36gente que é professor
00:55:37durante anos,
00:55:38professora durante anos,
00:55:39e aí sofre toda aquela
00:55:40patrulha ideológica,
00:55:42acadêmica,
00:55:43diante de uma força
00:55:44de consciência individual.
00:55:45se você chega
00:55:46com a camiseta,
00:55:47se você chega
00:55:48com uma frase,
00:55:49se você,
00:55:50mas eu falo também
00:55:51da depredação
00:55:52do espaço público,
00:55:53de uma coisa
00:55:54que era para ser bonita,
00:55:55eu fiz meu doutorado
00:55:56na Itália,
00:55:57sempre conto essa história,
00:55:58quer dizer,
00:55:59o ambiente,
00:56:00ele já impõe qualidade,
00:56:02você está aqui,
00:56:03olha isso aqui,
00:56:04eu não aceito menos
00:56:06do que a excelência,
00:56:07você entra em certas áreas
00:56:08das universidades brasileiras,
00:56:10mas não perde em nada
00:56:12para um presídio pichado,
00:56:14uma coisa,
00:56:14a vestimenta dos alunos,
00:56:16o desprezo,
00:56:17o cara vai para uma banca
00:56:19de mestrado e doutorado
00:56:20de sandália havaianas
00:56:22e camiseta cavada,
00:56:24quer dizer,
00:56:25tem lugar para usar isso,
00:56:26não é numa defesa de banca,
00:56:28você está lá diante
00:56:29de cinco doutores
00:56:30que pararam as suas vidas
00:56:31para ler aquela tese,
00:56:32então é um mínimo
00:56:32de respeitabilidade
00:56:34por si e pelos outros,
00:56:36acabou,
00:56:37não tem,
00:56:38então eu sempre
00:56:40quando me pergunto
00:56:41e aí Denis,
00:56:41tudo bem?
00:56:41Eu falo não,
00:56:42por causa dos gregos,
00:56:43porque os caras estabeleceram
00:56:45um padrão de excelência
00:56:46na realização das coisas
00:56:47que a gente precisaria
00:56:48simplesmente repetir
00:56:50tanto quanto possível,
00:56:51eu frequentemente
00:56:52dentro da universidade
00:56:53escuto que a palavra
00:56:54excelência deve ser tirada
00:56:55de lá,
00:56:57escuto isso,
00:56:57gente me falando,
00:56:58olha nós temos que ter
00:56:59excelência na entrega,
00:57:00não,
00:57:00excelência é uma palavra
00:57:01que oprime muito,
00:57:03essa palavra não deve fazer
00:57:04parte do nosso vocabulário,
00:57:06e como eu estava dizendo,
00:57:07o só eu disse,
00:57:08o único lugar do mundo
00:57:09onde você pode defender
00:57:10ideias que não funcionam,
00:57:11não tem qualquer impacto
00:57:13positivo,
00:57:13e que continuam sendo
00:57:14patrocinadas e pagas
00:57:16com toda a volúpia,
00:57:19é numa universidade.
00:57:21Eu acho interessante
00:57:22esse exemplo da carta
00:57:23do Dostoiévski,
00:57:24porque é uma pessoa
00:57:24querendo fazer medicina,
00:57:26e a gente estava falando
00:57:27aqui de analfabetismo
00:57:28funcional,
00:57:29só que o que eu percebo
00:57:31no Brasil,
00:57:32é que às vezes
00:57:33quando a gente fala
00:57:34desse tópico,
00:57:35as pessoas de elite,
00:57:37as pessoas que têm
00:57:38uma formação acadêmica,
00:57:39que são médicos,
00:57:39que são engenheiros,
00:57:40eles acham que você está
00:57:41falando exclusivamente
00:57:42das pessoas de baixa renda,
00:57:43que tiveram parte
00:57:45no ensino público,
00:57:46e não é só delas,
00:57:48o Brasil tem uma elite
00:57:49inculta,
00:57:50uma elite que precisa
00:57:51de mais racionalidade,
00:57:53de menos paixão política,
00:57:55sem sobra de dúvidas,
00:57:57não,
00:57:57isso daí pega todos
00:57:58os espectros sociais,
00:58:00mesmo porque essa elite
00:58:02pega os números do PISA,
00:58:04quando você pega
00:58:05as nossas escolas particulares,
00:58:07em relação às escolas públicas,
00:58:08de modo geral,
00:58:09elas têm pontuação superior,
00:58:11só que quando você pega
00:58:12as escolas particulares brasileiras,
00:58:14e olha com as escolas particulares
00:58:16de outros países,
00:58:16e públicas de outros países,
00:58:18nós estamos aqui embaixo,
00:58:20nós mal competimos
00:58:21com esse pessoal,
00:58:22então não é que,
00:58:23ah, eu tive uma formação
00:58:24no Extraordinária Escola Brasileira,
00:58:26e isso faz de mim
00:58:27um sujeito diferenciado,
00:58:28o ser diferenciado no Brasil,
00:58:29quando muito você falar
00:58:30um inglesinho mais ou menos,
00:58:32e ter lido alguma coisinha
00:58:33de Machado de Assis,
00:58:34mal é mal,
00:58:35um resumo na escola,
00:58:36já te coloca
00:58:36no espectro diferenciado,
00:58:39a elite, vamos dizer,
00:58:41econômica brasileira,
00:58:42é profundamente ignorante,
00:58:44profundamente ignorante,
00:58:46despreza livros,
00:58:48despreza alta cultura,
00:58:51eu tenho sido chamado
00:58:51para falar para...
00:58:52Valorizo o Conchá,
00:58:52o Escambo,
00:58:53como a gente vê aí
00:58:54nos esquemas.
00:58:55E outra coisa,
00:58:56sabe o que eles estão consumindo?
00:58:58Eles chamam professores,
00:58:59como eu.
00:59:00Claro que a gente
00:59:00não vai generalizar,
00:59:02há várias exceções,
00:59:03nós conhecemos, etc,
00:59:05mas é que o quadro geral
00:59:06não é bom.
00:59:07Não é bom.
00:59:09Contratam professores
00:59:10para fazer grandes resumos
00:59:13para que esse cara
00:59:14não pague de ignorante
00:59:16na mesa do jantar,
00:59:17que ele vai com os colegas,
00:59:18então ele vai citar
00:59:19uma frase de um estoico e tal,
00:59:21e vai pagando.
00:59:22É o Media Training.
00:59:23É isso,
00:59:24mas não é aquele cara
00:59:24que se eu disser assim,
00:59:25vamos para a sua empresa,
00:59:26ok,
00:59:27mas a gente vai ler
00:59:28as meditações de Marco Aurélio,
00:59:29vamos lá inteira,
00:59:30vou ficar lá uma semana
00:59:31lendo com vocês e tal,
00:59:33não, não, não, não,
00:59:33eu preciso de duas horinhas
00:59:35de um negócio
00:59:36que me ensine aqui
00:59:37sobre liderança e tal,
00:59:38então é muito mais
00:59:40um clichê,
00:59:41ou não,
00:59:42um clichê não,
00:59:42um fetiche
00:59:43com relação
00:59:44à frequentação
00:59:45dessas coisas,
00:59:46do que uma preocupação
00:59:47legítima
00:59:48com o conhecimento
00:59:48mais profundo daquilo,
00:59:49que dá trabalho,
00:59:50né,
00:59:51dá trabalho.
00:59:51Dá trabalho,
00:59:52isso aí muita gente
00:59:53não quer.
00:59:54Denis,
00:59:55para a gente caminhar
00:59:55para o final,
00:59:56o seu histórico
00:59:56na natação,
00:59:57você veio ali
00:59:58da geração anterior
00:59:59ao Gustavo Borges,
01:00:00ao Xuxa,
01:00:01foi campeão brasileiro,
01:00:02sul-americano,
01:00:03da seleção brasileira,
01:00:04ficou um tempão
01:00:06na água,
01:00:06só depois que veio
01:00:08se aprofundar
01:00:09na filosofia.
01:00:10Pois é,
01:00:11mas assim,
01:00:12eu sempre joguei bola,
01:00:13sempre fui esportista
01:00:15e eu entendo
01:00:16muita coisa,
01:00:19muita coisa tem analogia
01:00:20com esporte,
01:00:21esporte ajuda
01:00:22as pessoas a lidarem
01:00:24com a frustração,
01:00:25com o fracasso,
01:00:26com a derrota,
01:00:27ganhar e saber
01:00:28que você ainda tem
01:00:28que continuar evoluindo,
01:00:30quer dizer,
01:00:31qual é o legado
01:00:32filosófico
01:00:33do seu período
01:00:33como nadador?
01:00:34Cara,
01:00:35especialmente por ser
01:00:36natação,
01:00:37um esporte
01:00:37profundamente individual,
01:00:38com a natação
01:00:41eu aprendi
01:00:42algumas coisas
01:00:42que estão hoje
01:00:43na minha obra
01:00:44intelectual,
01:00:46a vida
01:00:47frequentemente
01:00:48é injusta,
01:00:51você para construir
01:00:53frequentemente
01:00:55tem que abrir mão
01:00:55de tantas coisas,
01:00:57tantos prazeres,
01:00:58tantas emoções,
01:01:00tantos sentimentos,
01:01:01tantas renúncias
01:01:02para construir
01:01:02uma coisa séria,
01:01:04perder faz parte
01:01:05do jogo,
01:01:06as primeiras vezes
01:01:07que eu perdi
01:01:08um campeonato
01:01:09brasileiro,
01:01:10um campeonato
01:01:10sul-americano,
01:01:11você fala,
01:01:11meu Deus do céu,
01:01:11o que está acontecendo?
01:01:13Minha carreira está
01:01:14acabando?
01:01:15E aí você entende
01:01:15que não,
01:01:16isso daí deve ser
01:01:16uma mola
01:01:17que impulsiona,
01:01:19eu resumo isso
01:01:21com uma lição
01:01:22da Ayn Rand,
01:01:23da qual eu gosto
01:01:23muito,
01:01:24a Ayn Rand fala
01:01:26que homens livres
01:01:28e racionais
01:01:29nunca se sacrificam,
01:01:32nunca se sacrificam,
01:01:34o sacrifício,
01:01:35ela vai dizer,
01:01:35é você se submeter
01:01:39a entregar algo
01:01:42que para você,
01:01:43a trocar algo
01:01:44que para você
01:01:44tem mais valor
01:01:46por algo que para você
01:01:48tem menos valor,
01:01:49isso é sacrifício,
01:01:51é como se eu tivesse
01:01:51uma nota de 10,
01:01:53te entregue
01:01:54e você me devolve
01:01:54uma de 12,
01:01:55isso é sacrifício,
01:01:56agora,
01:01:57é se render
01:01:58a prazeres imediatos,
01:01:59por exemplo,
01:01:59se render a prazeres
01:02:00imediatos
01:02:01é uma das características
01:02:03mais fundamentais,
01:02:04mas especialmente
01:02:05fazer aquilo
01:02:06que para você
01:02:07não é resultado
01:02:09de um propósito
01:02:09bem estabelecido,
01:02:10de um propósito
01:02:11racional,
01:02:12de um propósito
01:02:13que não seja capricho,
01:02:14então, por exemplo,
01:02:15escrever um livro desse
01:02:16dá um puta trabalho,
01:02:17de vez em quando
01:02:18eu tenho que ficar
01:02:18de madrugada escrevendo,
01:02:19meu Deus,
01:02:19que sacrifício,
01:02:20ficar até 3 horas
01:02:21da manhã escrevendo,
01:02:22não,
01:02:22o nome disso é integridade,
01:02:24eu projetei,
01:02:27diz que queria aquilo,
01:02:29quero aquilo,
01:02:30não vou fazer mal
01:02:30a ninguém,
01:02:31vou construir
01:02:32esse projeto
01:02:33e vou nele
01:02:33até o fim
01:02:34e isso implica
01:02:35passar por dificuldades,
01:02:36por obstáculos,
01:02:38o esporte é isso,
01:02:39passar por dificuldades
01:02:40e obstáculos,
01:02:40meu Deus,
01:02:41quanto sacrifício
01:02:42na vida de um atleta,
01:02:43sacrifício não,
01:02:44integridade,
01:02:45isso é integridade,
01:02:46o sacrifício seria,
01:02:47pô,
01:02:47eu prefiro estar
01:02:49noutra coisa,
01:02:50estou aqui
01:02:50porque socialmente
01:02:51fui cobrado,
01:02:53porque a vida
01:02:53me levou a aceitar isso,
01:02:55isso é sacrifício.
01:02:56Essas pessoas
01:02:56acabam sacrificando
01:02:57a vida,
01:02:58a vida,
01:02:59se mediocrizando,
01:03:00se deixando levar
01:03:01pelo rebanho,
01:03:02deixando-se
01:03:03suprimir
01:03:05a personalidade,
01:03:07perdem
01:03:07a sua autonomia,
01:03:09a sua singularidade,
01:03:10e perdem a sua singularidade,
01:03:12então são pessoas
01:03:12que são levadas
01:03:13pela massa
01:03:14muito facilmente,
01:03:15isso que conta
01:03:16a história
01:03:16de um Brasil inteiro.
01:03:18Vocês vejam que
01:03:18em todos os momentos
01:03:20dessa conversa
01:03:21os assuntos
01:03:21se cruzaram,
01:03:22desde o começo,
01:03:24a Enrand,
01:03:25a filosofia,
01:03:26a política brasileira,
01:03:28sempre em torno,
01:03:29até no esporte
01:03:30se traz as lições
01:03:31filosóficas,
01:03:32políticas,
01:03:33etc.
01:03:33É uma delícia
01:03:34conversar com
01:03:35Denis Xavier.
01:03:36Obrigado, cara.
01:03:36Muito obrigado.
01:03:37Prazerzaço,
01:03:38foi uma honra mesmo.
01:03:38Em uma hora aqui,
01:03:39praticamente um curso
01:03:40de dois anos,
01:03:40vale mais do que
01:03:41muito coach
01:03:42de internet, hein?
01:03:44Acompanhe o podcast
01:03:45O.A.,
01:03:45toda segunda-feira,
01:03:46às 19h30,
01:03:47Denis Xavier,
01:03:48tivemos essa honra
01:03:49de recebê-lo aqui,
01:03:50PHD em filosofia,
01:03:51Sociedade da Lanterna,
01:03:52quer fazer o seu
01:03:53merchan aí,
01:03:54para as suas tarefas,
01:03:55suas redes sociais,
01:03:56fica à vontade.
01:03:56Estou lá nas redes sociais,
01:03:57meu nome é essa
01:03:58declaração de pobreza
01:03:59que vocês estão vendo
01:04:00aí na tela,
01:04:00com dois N's e Y's,
01:04:02né?
01:04:02Então,
01:04:02Denis Xavier,
01:04:03é prof.Denis,
01:04:04é dois N's e Y,
01:04:06é muito exótico.
01:04:08É prof.Denis Xavier,
01:04:09eu estou muito no Instagram
01:04:10e estou muito...
01:04:11Entrei agora no YouTube,
01:04:13com uma série de lives
01:04:13e vídeos,
01:04:14lá vocês encontram
01:04:15todos os acessos,
01:04:16todas as informações.
01:04:18Maravilha,
01:04:18qualquer hora vai fazer
01:04:19mais colaboração
01:04:20aqui com a gente.
01:04:20Na hora.
01:04:20Toda segunda-feira,
01:04:21podcast O.A.,
01:04:22às 19h30,
01:04:23lembrando que o Papo Antagonista
01:04:24é de segunda a sexta,
01:04:25das 18h às 19h30,
01:04:27e aí a gente faz as análises
01:04:28dos acontecimentos do dia
01:04:29com a base que a gente
01:04:31conversou aqui,
01:04:32dos fatos.
01:04:33Tem gritaria de um lado,
01:04:34tem gritaria do outro,
01:04:35mas a gente mostra
01:04:36o que de fato
01:04:37está acontecendo.
01:04:39Um grande abraço
01:04:39e até a próxima.
01:04:40podcast O.A.,
01:04:49conversa boa de ver
01:04:50e ouvir.