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NotíciasTranscrição
00:00Olá, sejam muito bem-vindos ao Narrativas Antagonista. Eu sou Madeleine Lasca, eu sou sua companhia de segunda a sexta-feira aqui no YouTube do Antagonista, às 5 horas da tarde.
00:27Você também lê a minha coluna no site do Antagonista, sem paywall. Fato do dia, Marilena Chaui na lista de professores negros da USP. É isso mesmo, é isso mesmo. Eu vou mostrar aqui pra vocês que história é essa, que lista é essa. Isso bombou nas redes sociais no final de semana.
00:50Mas aqui a gente debate daquele jeito que você sabe, treinando o nosso cérebro pra melhorar o nível do debate político. Como é que a gente faz isso?
01:00Eu te digo primeiro quais são os fatos e depois a minha opinião. Mas antes de opinar, tem uma coisa que você só vê aqui e que eu acerto todo dia.
01:09Qual é a narrativa da esquerda e qual é a narrativa da direita? Vamos lá?
01:14Fato do dia, Marilena Chaui na lista de professores negros da USP. Como assim, Brasil? Exatamente assim.
01:28Eu vou contar a história pra vocês. Aqui um tweet do professor Wilson Gomes. É um professor da Universidade Federal da Bahia.
01:35Ele pergunta, com quantos anos vocês descobriram que Marilena Chaui era negra?
01:40Eu descobri aos 60. Está no site da USP. Olhando assim, não diria.
01:46Mas como sei que as bancas de heteroidentificação da USP não dão mole para pardos?
01:51Há de ser verdade. No site, ela vem logo depois de Milton Santos. Justo.
01:58É uma ironia. Deem um Google em Milton Santos. Um dos maiores intelectuais da nossa história. E negro.
02:06E as bancas de heteroidentificação da USP, elas realmente dão muito problema. A gente vai trazer essa história aqui pra vocês.
02:15Mas antes eu quero falar de um outro caso, de uma outra professora que também se identificava como negra.
02:21Mas este viu o maior remuner. Tem até documentário.
02:25Eu vou trazer aqui o Wilson Júnior, da editora Escambal.
02:29Ele fez na internet um resumo sobre um caso da Rachel Dolezal.
02:35Não sei se vocês conhecem essa história. Dá uma olhada aqui.
02:39Mas esse é um vídeo que conta a história de uma mulher que, durante muito tempo, foi uma ativista, militante negra.
02:45Ela era presidente de um espécie de grupo de direitos civis, de uma cidadezinha de Washington.
02:53Só que isso foi por volta de 2015, 2016. Ela foi descoberta como uma mulher branca.
02:58Ou seja, ela era uma mulher branca que fazia bronzeamento artificial, passava maquiagem e ajeitava o cabelo dela pra ficar com a aparência de uma mulher negra.
03:08Isso foi uma polêmica gigantesca nos Estados Unidos.
03:10Eu não fiquei sabendo. Não sei se alguns de vocês ficaram sabendo. Foi realmente algo que ganhou uma certa notoriedade midiática.
03:16Mas, obviamente, como são coisas mais de espaços menores nos Estados Unidos, acabou não chegando pra gente.
03:21Porém, ela inflamou muito o debate sobre a questão racial nos Estados Unidos.
03:25E sobre essa questão de lugar de fala, sobre privilégio branco e essa questão de identidade racial.
03:32Então, o documentário acaba acompanhando essa mulher por uns dois anos, mais ou menos.
03:36E é até curioso, porque a autora do documentário, ela esperava que em algum momento desses dois anos, ela fosse meio que sair deste papel de mulher negra, né?
03:46Ela fosse quebrar esse papel de mulher negra.
03:49Eu não vou entrar em spoilers, porque spoiler de documentário parece esquisito.
03:52Vale a pena assistir, independente de você saber o que vai rolar ou não.
03:55Mas ela acaba não saindo desse papel, né?
03:58Ela permanece consistente na história de que ela é, na verdade, uma mulher negra.
04:03E a narrativa do documentário, ela acaba indo com uns caminhos tão errados.
04:07Na realidade, a narrativa do documentário não, mas o discurso da Rachel, ela acaba indo com um caminho tão errado que ela vai cunhar o termo transracial.
04:15Então, ela vai se apropriar dos debates que estavam acontecendo, principalmente de maneira bem inflamada nos últimos três anos, né?
04:21De 2015 pra cá, sobre transexualidade.
04:23E dizer que, assim como uma pessoa transgênero, que está num corpo do gênero, né?
04:29Que não é o gênero da consciência, do cérebro dela, ela não estava num corpo que era adequado à raça dela.
04:36Então, ela era uma mulher negra presa no corpo de uma mulher branca.
04:40Então, vocês entenderem o quão errado vai o subterfúgio narrativo.
04:44E aí, até, assim, curioso, e eu acho que é um debate que é interessante se levantar,
04:50obviamente você percebe durante o documentário que ela é alguém com um transtorno mental.
04:55Ela não necessariamente parece uma pessoa ruim.
04:57Ou pelo menos não foi essa a impressão que ela me passou.
05:00Ela parece muito mais alguém com um transtorno dissociativo de personalidade,
05:04ou uma espécie de desmorfismo, né?
05:06Que é aquela coisa que você não sente confortável como sua aparência.
05:09Tipo, a anorexia é um problema desse tipo, né?
05:10Você acha que você está bem mais gordo do que você, de fato, está, né?
05:14Bem mais pesado do que você está.
05:16Parece uma espécie de variante disso.
05:18Eu não sou psicólogo nem psiquiatra, então nem quero entrar muito no mérito dessa questão.
05:21Mas isso é perceptível, né?
05:23Você sente que não necessariamente ela era uma pessoa ruim.
05:25Até porque você vai ver que, durante o período que ela estava na presidência desse órgão de direitos civis,
05:31ela foi alguém realmente muito ativa, né?
05:32Ela parecia participativa na comunidade, trabalhando, participando das manifestações.
05:36Até ela tem filhos negros, né?
05:38Um filho adotivo, e aí entra um pouco no histórico da família dela,
05:41que é interessante, é muito pertinente para você entender o porquê que essa mulher talvez tenha querido virar uma mulher negra.
05:48Pois é, gente.
05:50Esse caso era uma ativista super conhecida,
05:54dava entrevistas na televisão,
05:56estudou numa universidade negra nos Estados Unidos,
06:00que lá existe essa coisa, né?
06:02De universidades que são tradicionais, dos negros.
06:04E os pais dela, num determinado momento, apareceram dando uma entrevista,
06:09falando, olha, desculpa, nunca foi negra.
06:11Pais brancos, nunca foi negra.
06:13Isso deu um rebu,
06:15mas um rebu.
06:16Vejam o documentário,
06:18eu recomendo.
06:19É muito bom.
06:20Mas agora voltemos a Marilena Chauí.
06:23Quem estudou na USP,
06:25quem estudou com professor de esquerda,
06:27com toda certeza,
06:29conhece a Marilena Chauí.
06:30Eu lembro da minha juventude,
06:32como os professores falavam dela.
06:35Mas se esse não é o seu caso,
06:37você muito provavelmente conhece a Marilena Chauí
06:39de declarações que ficaram famosas na internet.
06:43A mais famosa é sobre a classe média.
06:48Marilena Chauí.
06:49Eu vou falar num tom que não é o meu,
07:07porque eu tô com uma gripe do cão,
07:11e se eu falar no meu tom,
07:13eu vou tossir feito uma louca.
07:14Então, vou falar numa voz que não é minha
07:17e que me desgosta muito.
07:19Mas é a voz que sobrou.
07:22E por que eu defendo esse ponto de vista?
07:25Não é só por razões teóricas e políticas.
07:29É porque eu odeio a classe média.
07:31A classe média é o atraso de vida.
07:40A classe média é estupidez.
07:42É o que tem de reacionário, conservador,
07:45ignorante, petulante, arrogante, terrorista.
07:52É uma coisa fora do comum a classe média.
07:55Então, eu me recuso a admitir
08:00que os trabalhadores brasileiros,
08:03porque eles galgaram direitos,
08:06conquistaram direitos,
08:07esses direitos foram conquistados
08:09por 20 anos de luta.
08:1220 anos de luta.
08:14Fora os 500 anteriores de luta e desespero.
08:18E dizer que essas lutas e essas conquistas
08:20fizeram a gente virar classe média,
08:22de jeito nenhum, de jeito nenhum.
08:25A classe média é uma abominação política,
08:29porque ela é fascista.
08:31Ela é uma abominação ética,
08:34porque ela é violenta.
08:35E ela é uma abominação cognitiva,
08:38porque ela é ignorante.
08:40Fim.
08:40Tem também uma outra declaração dela,
09:01que ficou famosa uns anos atrás,
09:04porque foi feita num colégio de elite
09:06aqui em São Paulo,
09:08para alunos menores de idade.
09:10E o tema que parecia ser o da palestra era outro.
09:14Muitos dos pais não sabiam
09:16que esta temática da família
09:18estava sendo abordada desta forma,
09:21dentro do colégio.
09:22Mas vamos ver o que esta intelectual brasileira
09:26pensa sobre a família.
09:28Isso que nós entendemos com a família
09:30é uma coisa que foi inventada
09:32no final do século XVIII e no século XIX.
09:35O primeiro, o pai de família,
09:36esse que muda de tudo,
09:39na economia,
09:40ele se chama desportês.
09:42Ele é o resto.
09:43Então, quando os filhos se criam com a política,
09:46a primeira coisa que eles fazem
09:47é que eles decidem
09:48o espaço privado da família de escórdia,
09:51e o espaço público da família.
09:52Isso é o problema da casa.
09:54É isso que eles falam.
09:55Então, o pai de família romana é a mesma coisa.
09:58Isso que nós entendemos
10:00que é o pai e a mãe dos filhos,
10:02de que tem,
10:03de que acrescenta avô e avó,
10:05de que tia,
10:06de que prima,
10:07isso é uma invenção a capitalismo
10:10no final do século XVIII
10:12e durante o século XIX.
10:14Então, tem data,
10:15isso que nós chamamos de família,
10:16a chamada família conjugal,
10:18ou a família estrita,
10:21tem quase,
10:24tem menos de dois anos,
10:25tem um céu muito pouco,
10:27é bem-sindíssimo.
10:28E é por isso que eu acho muito divertido,
10:30os caras que saem pela rua
10:31e fiquem na família
10:32com uma instituição natural,
10:34eterna,
10:35sagrada,
10:36com as mesmas.
10:38Ele dá para o mundo,
10:40tem um dia a tomar,
10:41e ela não tem outro atraso,
10:43mas isso é um atraso,
10:43porque ela está muito chegando na família,
10:45para garantir
10:47essa transmissão
10:49do mundo.
10:51E agora eu volto,
10:53disso tudo,
10:54para a transracialidade.
10:57Este conceito,
10:58não estou falando de Marilena Schaui aqui,
11:00não, não, não, não, não.
11:01Estou falando de Rachel Dolezal.
11:04Por quê?
11:05Uma aluna da UFBA,
11:06que é a mesma universidade
11:08onde leciona o professor Wilson Gomes,
11:10está no Abre do Narrativas,
11:11ela fez um projeto,
11:13uma aluna da graduação,
11:14uma mocinha,
11:15fez um projeto
11:16analisando o caso
11:17da Rachel Dolezal.
11:19Porque muita gente fala
11:20que raça é uma construção social,
11:22é isso, é aquilo.
11:24Então a tal da Rachel Dolezal,
11:25ela estava certa
11:26em ser transnegra?
11:28Olha que análise interessante
11:30dessa moça,
11:31ela se chama
11:31Maíra Santana.
11:33Compreendemos que o sentido
11:34de raça e gímero
11:35se manifestam nos corpos,
11:37mas não se constrói
11:38somente nele.
11:40Pois,
11:40são longos processos históricos,
11:42sociais e políticos
11:43que formam
11:44o que compreendemos
11:45como raça e gênero.
11:47Para Stuart Hall,
11:48a raça é uma categoria discursiva
11:50que organiza formas de falar,
11:52sistemas de representação
11:53e práticas sociais
11:55que se utilizam
11:56de um conjunto frouxo
11:57e frequentemente pouco específico
11:59de diferenças
12:00em termos de características físicas
12:02a fim de diferenciar socialmente
12:04um grupo de outro.
12:06Ou seja,
12:07a raça não é somente
12:08uma questão de cor de pele
12:09e características físicas,
12:10mas uma construção histórica,
12:12social e também linguística.
12:15Apesar dessas identidades
12:16se apresentarem
12:16enquanto categorias imutáveis,
12:18elas não são.
12:20Sendo a raça
12:20um resultado
12:21dessa interação social
12:22e linguística,
12:23é coerente
12:24que existam pessoas
12:25que sejam questionadas
12:26sobre sua identidade racial
12:27e até mesmo
12:28promovam deslocamentos,
12:30desafiando a identidade
12:31que lhe é
12:32socialmente atribuída.
12:34Esse desafio
12:35foi realizado por
12:36Rachel Donovan,
12:37uma mulher
12:38nascida naturalmente
12:39de pais brancos,
12:40que viveu parte da vida
12:41como uma mulher branca
12:42e se identifica
12:43como uma mulher negra.
12:44Com as análises
12:45entende-se que para Dolezal
12:46a raça não é nem biológica
12:48e nem histórica social.
12:49É uma determinação
12:50de caráter individual,
12:52subjetiva
12:52e solipsista.
12:54Por outro lado,
12:55quem a acusa de mentir
12:56produz sentidos
12:57de que raça
12:58é uma questão
12:59pública, social
13:00e coletiva.
13:01Ou seja,
13:02não é possível
13:02autodefinição racial
13:04sem implicações coletivas.
13:05Assim, concluímos
13:07que transracialidade
13:08nesse contexto
13:08é significado
13:10enquanto a possibilidade
13:11individual
13:12de definir
13:13a própria raça.
13:15Os sentidos de raça,
13:16no caso Rachel Donovan,
13:17são de ordem pessoal
13:18e mental
13:19do sujeito da vontade.
13:20Ou seja,
13:21os sentidos presentes,
13:23no caso Rachel Donovan,
13:24são marcadamente
13:25neoliberais.
13:26Pois é,
13:27então ficamos
13:28como a partir
13:29dessa análise.
13:30Qual é a análise
13:31que ela faz?
13:32A pessoa
13:33se auto-identificar
13:35como uma raça
13:37tem impactos coletivos.
13:39Então,
13:39ela está priorizando
13:40o individual
13:41sobre o coletivo,
13:43por isso,
13:43ela é neoliberal.
13:45O que não é o caso
13:46da Marilena Schaul.
13:47Não, não, não, não, não.
13:48Ela não é neoliberal.
13:50Ela, inclusive,
13:51fala muito duramente
13:52contra o capitalismo
13:54diversas vezes.
13:56E, Brasil,
13:57recordar é viver.
14:00Recordar é viver.
14:01Vocês gostam disso, né?
14:03Eu descobri
14:04que a Marilena Schaul
14:05teve um episódio
14:07muito semelhante
14:08a um episódio
14:09do ex-presidente
14:10Fernando Henrique
14:11que eu não sei
14:13se vocês lembram.
14:14Isso bombou
14:15na era
14:16Fernando Henrique,
14:17mas bombou
14:17por todos os motivos
14:19errados.
14:20Porque foram falar
14:20de racismo
14:21e ele fez assim
14:22na pele dele.
14:23Não, mas eu também
14:23tenho um pezinho
14:24na cozinha.
14:25Foi isso que ele disse.
14:27Ele disse
14:28esta frase.
14:29E, ok,
14:30muitos anos atrás,
14:31mas já não pegava
14:33bem isso daí, não.
14:34Já não pegava bem.
14:36E, ok,
14:36isso foi há muitos anos.
14:38Isso foi em outro século,
14:40mas já não pegava bem
14:42de jeito nenhum.
14:44Essa frase
14:44do pezinho na cozinha.
14:45Vamos agora
14:46a 2013.
14:47Marilena Schaul
14:48falando sobre
14:50racismo no Brasil.
14:51Bom, eu considero
14:52que a sociedade brasileira
14:53é uma sociedade
14:54oligárquica,
14:56hierárquica,
14:57vertical,
14:58autoritária
14:58e excludente,
15:00racista.
15:01E que o racismo
15:03se esconde
15:04sob várias formas,
15:06desde o paternalismo
15:08até,
15:09pura e simplesmente,
15:11fazer de conta
15:12que as diferenças
15:13étnicas
15:14não existem.
15:15Então,
15:16a isso,
15:18nós temos que acrescentar
15:19a divisão
15:20das classes sociais.
15:22E o fato de que,
15:24no caso dos afrodescendentes,
15:27a maioria esmagadora
15:29pertence à classe
15:31trabalhadora
15:32e, no interior
15:32da classe trabalhadora,
15:34aos extratos
15:35mais pobres
15:36da classe trabalhadora.
15:37Então,
15:38é um sistema
15:39violento
15:40de discriminação
15:42econômica,
15:43discriminação social,
15:45discriminação cultural
15:46e que aparece
15:47nestas ocasiões.
15:49Nas ocasiões
15:50em que,
15:50eu tenho um amigo
15:51norte-americano
15:52que veio
15:54do período
15:55das lutas
15:56pelos direitos civis
15:57nos Estados Unidos.
15:58E um dia,
15:59ele foi
16:00a uma palestra
16:02que eu estava dando
16:03na USP
16:04e, na saída,
16:06ele fez uma observação
16:07muito interessante
16:08porque,
16:09e que me pegou,
16:10assim,
16:10pelo estômago
16:12pelo fato
16:13de eu nunca
16:13ter me dado
16:13conta disso.
16:15Ele me disse,
16:16sala branquinha,
16:17não?
16:19Então,
16:19eu não tinha
16:20me dado conta
16:21de como
16:22no meu cotidiano
16:23e eu,
16:26com esta pele,
16:28não tinha me dado
16:29conta
16:29de como
16:31isso opera.
16:32Porque isso
16:33está tão
16:33profundo
16:35nas nossas mentes
16:36e nos nossos corações
16:38que a gente
16:38não percebe mais.
16:40E trata isso
16:41como se fosse...
16:41Você tem
16:42o mar,
16:44o céu,
16:45o sol,
16:47a floresta,
16:48a lua
16:49e os negros
16:50fora.
16:51Faz parte da natureza,
16:53é do mundo da natureza
16:54a discriminação.
16:56Então,
16:56as lutas
16:58contra a desigualdade racial,
17:02que eu acho
17:02que tem se desenvolvido
17:04muito
17:04nos últimos
17:05governos,
17:07eu participei
17:08aqui em Salvador
17:08justamente
17:10de um
17:11seminário
17:13sobre a questão
17:14das lutas
17:15contra a desigualdade racial
17:16por parte
17:17do governo federal
17:18e acho
17:19que
17:20é possível
17:21avançar,
17:22mas
17:23andamos
17:24ainda
17:25muito,
17:26muito pouco
17:27num país
17:28tão profundamente
17:29racista
17:30como é o nosso.
17:31Pois é,
17:32gente,
17:33comentário
17:34só no final
17:35que eu vou fazer
17:35depois das narrativas.
17:37quantas curtidas
17:38esta guerreira
17:39merece,
17:40não é verdade?
17:41E aí nós vamos entender
17:42esse raciocínio.
17:44Me marcaram
17:45no tweet
17:45desse rapaz
17:46aqui,
17:46me marquem
17:47em postagens
17:48que vocês querem ver
17:49aqui no Narrativas,
17:50olha que coisa.
17:51Poucas coisas
17:52são tão cansativas
17:53e burras
17:54quanto essa discussão
17:55de certos nichos
17:56liberais e reaças
17:58aqui no Twitter
17:58quanto à negritude,
18:00se alguém parto
18:00é negro ou não.
18:02Ser negro
18:02não é um atributo
18:04biológico.
18:04Ninguém nasce negro.
18:06Ser negro ou branco
18:07é um processo
18:08de socialização.
18:10Pois é,
18:11pois é,
18:11pois é.
18:12E agora vamos aqui
18:13ao que aconteceu
18:14na USP.
18:15Não foi na USP toda,
18:17foi na FFELESH,
18:18que é a Faculdade
18:19de Filosofia,
18:20Letras e Ciências Humanas,
18:22onde a Marilena
18:23Chauê leciona.
18:24Eles resolveram fazer
18:25um especial
18:26chamado
18:27Memória Negra,
18:28que é tipo
18:28um hot site,
18:29uma aba
18:29do site deles.
18:30Podemos localizar
18:32até o momento
18:3329 docentes
18:35que se auto-identificam
18:36como negros as,
18:38pretos as,
18:39pardos as.
18:40Só apontando aqui.
18:41E os não binários?
18:42E os não binários?
18:45Por que este preconceite
18:47contra as não binárias?
18:49Voltamos aqui.
18:50Gente, desculpa,
18:51não me entendi.
18:52Ofensivo, né?
18:53Ofensivo.
18:53Ameaçando a existência
18:54de não binários.
18:55Mas vamos seguir em frente.
18:5629 docentes
18:57que se auto-identificam
18:58como negros ases.
19:00Estou corrigindo.
19:01Pretos ases
19:02e pardos ases.
19:04A partir da década
19:05de 50
19:05até os dias atuais.
19:07E ainda há mais 5
19:08que estão em fase
19:08de contratação.
19:10Aprovados as,
19:11de novo,
19:12e está presumindo
19:13e gênero
19:14de pessoa e aprovade
19:15nos últimos concursos.
19:17Para esta data
19:18do dia 20 de novembro,
19:19em comemoração
19:20às umbidos palmares
19:21símbolo da existência negra,
19:23lançamos a aba
19:24Memória Negra
19:25no site
19:26memoria.fefeleche.uspe.br,
19:29onde podemos ter acesso
19:31a esta lista
19:32com uma breve biografia
19:33de cada docente.
19:34Este trabalho
19:35tem sido realizado
19:36pela equipe
19:37do Projeto Memória
19:38Fefeleche 90 anos,
19:40coordenado
19:41pelo pesquisador
19:42Abílio Tavares.
19:43Ok,
19:44não vou pôr o nome
19:44até de estagiário,
19:45mas aqui no Memória Negra
19:47está a Marilena Schaul.
19:49E,
19:50com 29 docentes negros,
19:52eu vou mostrar a vocês
19:53esta outra docente negra.
19:55Rose,
19:55Satico,
19:56Gitirana
19:57e Kiji.
20:06Pois é.
20:07Agora,
20:08e na banca
20:09de heteroidentificação?
20:11Quando alguém
20:11presta o vestibular
20:13e quer entrar
20:14na cota
20:15como negro
20:16ou pardo?
20:18A gente tem tido
20:19muitos problemas
20:20e eu vou trazer aqui
20:21o chavoso da USP
20:23para explicar
20:24para vocês.
20:25E ao contrário
20:25do que repetem
20:26muitos ativistas
20:27e militantes
20:28do movimento negro,
20:29o IBGE nunca definiu
20:31que negros
20:31são a soma
20:32dos pretos e pardos.
20:33Quem sugeriu isso,
20:34mano,
20:35foi o Estatuto
20:35da Igualdade Racial
20:37de 2010
20:37e eu acho isso
20:38bastante equivocado,
20:40porque nem todos
20:41os pardos são negros
20:42ou têm ascendência negra.
20:43Na realidade,
20:44o IBGE define pardos
20:46como,
20:47abre aspas,
20:48pessoas que se identificam
20:49com mistura
20:50de duas ou mais
20:51opções de cor ou raça,
20:53incluindo branca,
20:54preta,
20:54parda e indígena,
20:56fecha aspas.
20:57Isso no senso de agora,
20:58de 2022.
21:00De fato,
21:01pardo é um termo
21:02de difícil tradução,
21:03mano.
21:04E se hoje a gente
21:05está vendo
21:05esses problemas
21:06com as bancas
21:07de hétero classificação,
21:08é porque pardo
21:09não é uma classificação
21:10objetiva.
21:11Na verdade,
21:12nenhuma é.
21:13As raças
21:14são invenções sociais,
21:15culturais e políticas.
21:16Elas não foram
21:17definidas pela natureza
21:18ou pela biologia,
21:19como se acreditava
21:20antigamente.
21:21É por isso
21:21que no caso
21:22do IBGE,
21:23a raça
21:23é apenas
21:24autodeclarada.
21:25Você pode falar
21:26que você é
21:26o que você quiser.
21:28Porém,
21:28para acessar
21:29políticas públicas,
21:30como as cotas
21:31étnico-raciais,
21:32a autodeclaração
21:33não é suficiente.
21:35E não é,
21:35porque,
21:36infelizmente,
21:37existem muitas pessoas
21:38brancas,
21:39desonestas,
21:40que começaram
21:40a se autodeclarar
21:41pardas só
21:42para usar as cotas,
21:43exatamente com a justificativa
21:45de que tem um avô negro,
21:46de que tem um cabelo
21:47cacheado.
21:47Por isso,
21:48as bancas
21:49de heteroidentificação
21:50definem critérios
21:52para avaliar
21:52se uma pessoa
21:53pode ser considerada
21:54preta ou parda.
21:56No caso dos autodeclarados
21:57pretos,
21:58não costuma ter muito problema,
21:59porque a cor da pele escura
22:01geralmente é suficiente,
22:02mas para nós,
22:03pardos,
22:03outros fatores
22:04são analisados.
22:05Em 2017,
22:06o Supremo Tribunal Federal,
22:08STF,
22:08numa ação declaratória
22:09de constitucionalidade,
22:11recomendou que as características
22:12consideradas pelas bancas
22:14avaliadoras
22:15em concursos
22:16e processos seletivos,
22:17como vestibulares,
22:18sejam textura do cabelo,
22:20crespo ou cacheado,
22:21nariz largo,
22:23cor da pele,
22:23preta ou parda,
22:25e lábios grossos
22:26e amarronzados.
22:27Esses são os critérios
22:28usados,
22:29por exemplo,
22:29pela USP.
22:30Porém,
22:31esses traços fenotípicos
22:33são mais associados
22:34aos pardos descendentes
22:35de negros,
22:36podendo excluir
22:37pardos descendentes
22:38de indígenas,
22:39que tenham cabelo liso
22:40e o nariz
22:41não tão largo assim,
22:43por exemplo.
22:43No caso das polêmicas
22:45recentes aí,
22:46envolvendo aqueles
22:47dois alunos
22:48que processaram a USP,
22:49o parecer da comissão
22:50que barrou um deles
22:51disse que ele,
22:52abre aspas,
22:53tem pele clara,
22:54boca e lábios
22:55afilados
22:56e cabelos lisos,
22:57não apresentando
22:58o conjunto
22:59de características
23:00fenotípicas
23:01de pessoa negra,
23:03fecha aspas.
23:03Aqui, olha,
23:05um aluno que teve
23:06problema com essas
23:06bancas de hétero
23:07e identificação,
23:08olha a foto dele.
23:09Alisson dos Santos Rodrigues,
23:11esse é o que o chavoso
23:12da USP acabou de falar,
23:14ele ganhou na justiça
23:16o processo que ele
23:17movia contra a USP.
23:18Ele moveu o processo
23:19contra a USP
23:20e ganhou o direito
23:22de cursar a medicina
23:23porque ele provou
23:24por A mais B,
23:25pela questão biológica mesmo,
23:27provou que ele é pardo
23:28e que tinha direito
23:29àquela cota.
23:30E aí,
23:31por que a gente tem
23:32tanta gente
23:33querendo se declarar
23:34negra sem ser
23:35na universidade?
23:36Que fetiche é esse?
23:39Quando é pra entrar
23:40na universidade,
23:42a gente sabe
23:42que muitas pessoas
23:43podem querer
23:44burlar a cota
23:45pra entrar.
23:46Mas alguém
23:47que já está consolidado,
23:49por que que passaria
23:50a se identificar
23:51como uma minoria?
23:53Eu trago aqui
23:53uma análise
23:53muito interessante
23:54que é sobre outro caso,
23:56é sobre o caso
23:56do educando
23:57que é outra coisa,
23:59mas que também
24:00é a questão
24:00de se mostrar
24:01como sendo minoria.
24:03É uma análise
24:03do professor
24:04de ciência política
24:05da Universidade de Brasília,
24:07coordenador
24:07do grupo de pesquisa
24:08sobre democracia
24:09e desigualdades
24:10de modê,
24:11o Luiz Felipe Miguel.
24:13Os produtos
24:13da indústria cultural
24:14de massa
24:15devem ser vistos
24:16como emanações
24:17autênticas e puras
24:18de uma alma
24:19popular genuína,
24:20sobretudo
24:21quando vinculado
24:22a posições identitárias,
24:25ignorando os circuitos
24:26de produção,
24:27consumo
24:27e valorização
24:29dos produtos culturais
24:30e como eles
24:31se vinculam
24:32ao mercado capitalista.
24:34A objetificação
24:35dos corpos
24:36é necessariamente
24:36empoderamento.
24:38Os critérios
24:39de coerência interna,
24:40adesão à realidade externa,
24:42apresentação de evidências
24:43e embasamento
24:44da argumentação
24:45viraram elitismo.
24:46Os esforços
24:48para dotar
24:49os estudantes
24:50oriundos
24:50das posições subalternas,
24:52das mesmas ferramentas
24:54que a universidade
24:55sempre forneceu
24:57às elites,
24:58esses esforços
24:59são sabotados
25:00em nome de uma
25:01inclusão
25:02que na verdade
25:03é paternalista,
25:05condescendente
25:06e preconceituosa.
25:07Há gente
25:08que embarca nessa
25:09por uma leitura
25:10superficial
25:11de uma situação
25:12complexa
25:13que confunde
25:14anti-elitismo
25:15com anti-intelectualismo.
25:17Para muitos,
25:19porém,
25:19trata-se apenas
25:20de oportunismo,
25:22de garantir
25:23um lugar ao sol
25:24sem fazer esforço
25:25e de conseguir
25:26autopromoção
25:27mesmo que na base
25:29de desgastar
25:30a universidade,
25:31fragilizar
25:32a sua legitimidade
25:33e fortalecer
25:35o negacionismo.
25:37Daí vem as carteiradas.
25:39É doutor
25:39no All in Fans
25:40é per...
25:41Daí vem as carteiradas.
25:43É doutor
25:44no All in Fans
25:44é performer
25:46periférico
25:47no campus
25:47e está de corpo
25:48fechado
25:49contra críticas
25:50em todos os espaços.
25:51É necessário
25:53combater
25:54estes abusos
25:55em nome
25:55exatamente
25:56da verdadeira
25:57inclusão
25:58que a democratização
25:59do conhecimento
26:00promete.
26:01Porque o negacionismo
26:02científico
26:03não é menos danoso
26:05quando se esconde
26:05por trás
26:06de uma camada
26:07de pretenso progressismo.
26:09E aí?
26:09O que vocês acham
26:11disso tudo?
26:12Calma, calma
26:13que antes de vocês acharem
26:15a gente vai
26:16para as narrativas.
26:17A extrema-direita
26:22fascista
26:23não consegue
26:24esconder
26:25o seu racismo.
26:27Não consegue
26:27esconder
26:28como é
26:29colonialiste,
26:30como odeia
26:32pretos,
26:33pobres
26:33e pessoas
26:34minorizadas
26:35e vulneráveis.
26:36E deixa escapar
26:38nas entrelinhas.
26:39Eles não conseguem
26:41entender
26:41que gênero
26:42e raça
26:43são construções
26:44sociais.
26:45não são biologia.
26:47Isso está
26:48cientificamente
26:50provado.
26:51Simonet de Beauvoir
26:52dizia
26:53não se nasce
26:55mulher,
26:55torna-se
26:56mulher.
26:57A raça também
26:58é uma construção
27:00social.
27:01Existem pessoas
27:02no Brasil
27:03que são pardas
27:04e não se reconhecem
27:06como negras.
27:07Vocês imaginam
27:08quantos anos
27:09de escravização,
27:12quantos anos
27:12de opressão
27:13para que os negros
27:15não se reconheçam
27:16como negros.
27:17Uma pessoa
27:18que se diz parda,
27:20que se diz mestiça,
27:22ela ainda
27:22não se reconhece
27:24como o que ela é.
27:25E foi isso
27:26precisamente
27:27o que aconteceu
27:28com a Marilena
27:29Chaui.
27:33Gente,
27:34eu sou transrica.
27:35Transrica,
27:36porque não basta
27:36transexual.
27:38Nasce homem
27:38e vira mulher,
27:39nasce mulher
27:39e vira homem.
27:40Agora tem
27:41transnegre
27:42também.
27:43A Marilena
27:44Chaui,
27:44ela é negra
27:45desde quando?
27:46Tem uma professora
27:47oriental,
27:49descendente japonês,
27:50falando que é negra
27:51e a USP
27:52chancelando isso.
27:54Se eu chegar
27:55na USP
27:55e falar
27:56que eu sou
27:56um pokémon,
27:57eles vão me registrar
27:59como pokémon?
28:00Vão!
28:01Porque agora
28:01é essa palhaçada.
28:02Eu acho que devia
28:03até fechar
28:04a faculdade
28:05de biologia
28:05da USP.
28:06Porque essa biologia
28:07não importa
28:07para mais nada.
28:08Se a pessoa levanta,
28:10um dia ela é branca,
28:11outro dia ela é amarela,
28:12outro dia ela é negra,
28:13outro dia ela é um pokémon,
28:15outro dia ela é um Power Ranger.
28:17Eu não sei
28:18para que tem
28:18a faculdade de biologia,
28:20então.
28:20É uma palhaçada
28:22que não tem fim
28:23e querendo enfiar isso,
28:25goela abaixo
28:26do cidadão de bem
28:27que está pagando
28:28os impostos.
28:29Vocês sabem
28:29de quem é a culpa, né?
28:30Vocês sabem,
28:31vocês sabem.
28:32É do isentão
28:33que fez o L
28:33por baixo da mesa.
28:34Faz o L
28:35agora, isentão.
28:36E qual é
28:41a minha opinião?
28:42A minha opinião
28:43é que
28:44a Marilena Chaui,
28:46que é uma mulher
28:47poderosíssima,
28:48influente,
28:49se classificar
28:50como negra,
28:52mostra exatamente
28:53o poder
28:55que se dizer
28:56oprimide,
28:57minorizade,
28:59membre
28:59de qualquer minoria,
29:01tem hoje em dia
29:02na universidade.
29:04E assim,
29:05as minorias
29:06precisam ser acolhidas
29:08na universidade
29:09com as cotas
29:10porque isso é
29:10uma evolução social.
29:12Mas na entrada,
29:13na molecada,
29:14o que nós estamos vendo
29:15são pessoas
29:16que já têm
29:17uma carreira estabelecida
29:19e que estão tentando
29:20entrar para uma minoria.
29:22Isso significa o quê?
29:23Significa que não é boato.
29:25Tudo o que a pessoa
29:27disser
29:28numa universidade
29:29tem de ser
29:30acatado 100%,
29:32mesmo que seja
29:34o maior absurdo
29:35se ela for
29:36uma minoria.
29:37Quem consegue
29:38entrar
29:39para qualquer cota
29:40pode fazer
29:42o que quiser
29:43e sambar
29:44na cabeça
29:44dos outros.
29:45E ai,
29:46ai,
29:46de quem queira
29:47levantar a mão
29:49para falar,
29:49peraí,
29:50e a produção
29:50do conhecimento?
29:52E a objetividade?
29:53E a noção
29:54de excelência
29:55que a universidade
29:56tem de ter?
29:57Imagina
29:58se alguém se mexe
29:59e fala,
29:59olha,
29:59a melhor forma
30:00de inclusão
30:01que nós temos
30:02é dar aos alunos
30:03o melhor ensino possível.
30:06E para dar
30:06o melhor ensino possível,
30:08você não pode aceitar
30:09que qualquer coisa
30:10que venha da cabeça
30:10de alguém,
30:11qualquer maluquice
30:12que venha da cabeça
30:13de alguém,
30:13possa ser automaticamente
30:15considerada conhecimento
30:16só porque essa pessoa
30:17é ou diz ser
30:19de uma minoria.
30:20Esse é um raciocínio
30:21com o qual você deve
30:21concordar.
30:22Mas o que está
30:23muito claro
30:24é que não é feito
30:25mais em boa parte
30:27das universidades.
30:28E é por isso
30:28que a gente vê
30:29essas coisas.
30:31A Marilena Chaui
30:32entrando ali
30:33para um panteão
30:34de intelectuais negros
30:36e tem uma outra
30:36professora de ascendência
30:37japonesa
30:38com o nome japonês.
30:39Essa questão
30:41de negar
30:42o que é mestiço
30:44é algo
30:45que nos meios
30:47intelectuais
30:48e na imprensa
30:49tem virado moda.
30:51Eu particularmente
30:52considero perigoso.
30:54Por que eu considero
30:54perigoso?
30:55Porque eu entendo
30:56que não tem como
30:56você fazer a mesma
30:57coisa duas vezes
30:58e tem um resultado
30:59diferente.
31:00Essa ideia
31:01de que pardo
31:02é necessariamente
31:03preto
31:04e precisa se reconhecer
31:05assim
31:05ela surge
31:06nos movimentos
31:07de white power
31:08tipo Kuklus Klan
31:10nos Estados Unidos.
31:11É nesses movimentos
31:13que surge
31:14uma ideia
31:14de one single drop.
31:17Uma única gota.
31:19Se você tem
31:19uma única gota
31:20de sangue negro
31:21você é negro.
31:23Vem daí.
31:24Vem dos racistas.
31:26Não vem
31:27do movimento
31:27negro.
31:28Aqui no Brasil
31:29foi feita uma pesquisa
31:30muitas pessoas
31:31são pardas
31:32se dizem negras
31:33porque às vezes
31:34se identificam
31:34com aquela parte
31:35da família
31:35mais
31:36ou culturalmente
31:38enfim
31:38mais 60%
31:40dos pardos
31:41do Brasil
31:42se identificam
31:43como mestiços
31:44e são.
31:45E quem é
31:46dessas elites
31:47que aliás
31:47é uma elite
31:48muito parecida
31:49com a elite
31:50do white power
31:51com a elite
31:51da segregação
31:52dos Estados Unidos
31:53é socialmente
31:54uma elite
31:54igualzinha.
31:55Eles acreditam
31:56piamente
31:57que as pessoas
31:57são obrigadas
31:59a se reconhecer
32:00como negras
32:01se tiverem
32:02uma única gota
32:03de sangue negro.
32:04E a gente vê
32:04a Marilena Schaui
32:05entrando nisso
32:06nem sei se tem a gota
32:07se não tem
32:07mas ok.
32:08Agora
32:08por que quando é
32:10para o estudante
32:11não vale a mesma coisa?
32:13Que aí é a minha pergunta.
32:14Por que que vale
32:15a auto-identificação
32:16até para a professora
32:18de ascendência japonesa
32:19se dizer negra
32:20mas quando o estudante
32:22entra lá
32:23aí não vale
32:24passa em banca
32:25de hetero-identificação
32:26que é
32:27o tribunal racial
32:28da USP
32:29é duríssimo
32:30duríssimo
32:31e já tem um monte
32:32de aluno
32:33que foi na justiça
32:34e provou
32:34que eles estavam errados
32:36teve julgamento
32:37no Supremo
32:38para dizer quais
32:39características
32:40eles tinham
32:41de verificar
32:41uma pessoa
32:42para dizer
32:43se essa pessoa
32:44pode entrar na cota
32:45para negros
32:45e pardos
32:46ou não
32:46eles são duríssimos
32:48não fica esquisito
32:49rejeitar um aluno
32:51pardo
32:51que a justiça
32:52vai lá
32:53e vê
32:53ó
32:53o pai é negro
32:54ou o avô é negro
32:55ele é pardo mesmo
32:56tem que entrar
32:57é biológico isso aqui
32:58a justiça diz isso
32:59e a USP
33:00estava dizendo
33:00que o cara
33:01não era pardo
33:02e aí agora
33:02a USP
33:03vai lá e fala
33:04que uma professora
33:05é negra
33:06a Marilena Chaui
33:07que outra professora
33:08de nome japonês
33:10traços japoneses
33:11é negra também
33:12e aí
33:12os alunos
33:13têm de aceitar
33:14e todo mundo
33:14tem de aceitar
33:15sendo que a universidade
33:16é onde produz conhecimento
33:18nós não estamos falando aqui
33:19do coletivo
33:20do não sei o que
33:21da esquina
33:21que juntou
33:22meia dúzia de filhinho
33:23de papai amalucado
33:24para querer fingir
33:25que é minoria
33:25para querer brincar
33:26de ser minoria
33:27isso existe
33:28mas nós estamos falando
33:28da universidade
33:29mais importante
33:30do país
33:30essa situação
33:32ela traz
33:33uma aura
33:35de bagunça
33:36para a universidade
33:37que precisa
33:38que tenha
33:39obrigação
33:40de levar
33:41as questões
33:42raciais a sério
33:43até porque
33:44produz conhecimento
33:45sobre esse assunto
33:47enfim
33:47falo isso
33:48sobre o risco
33:49de ser chamada
33:50de raciste
33:51porque
33:51quando você
33:52contraria
33:53esses movimentos
33:55que querem enfiar
33:57a goela abaixo
33:58dos outros
33:58que eles são
33:59oprimidos
34:00mesmo sem ser
34:01eles tendem a dizer
34:02que você é o opressor
34:03mesmo que você não seja
34:05eu não estou nem aí
34:06para as falsas acusações
34:07que vem desse pessoal
34:08a única coisa que eu queria
34:09era mais seriedade
34:11ao lidar com a educação
34:12com professores
34:13com alunos
34:14e com a sociedade brasileira
34:15bom pessoal
34:23narrativas
34:24antagonista
34:24vai ficando por aqui
34:25essa é quente
34:26essa é quente
34:27quero ver o seu comentário
34:28já deixa aqui embaixo
34:29amanhã eu volto
34:30às 5 da tarde
34:31grande beijo
34:32até lá
34:32e aí
34:46Legenda Adriana Zanotto
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