O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, aceitou firmar um acordo com a Justiça dos Estados Unidos que poderá liberá-lo da sentença de prisão quando vier a ser julgado em território americano.
A informação repercutiu em diversos veículos da imprensa americana na noite desta segunda-feira, 24 de junho, e se baseia em documentos judiciais. - Ser Antagonista é fiscalizar o poder. Apoie o jornalismo Vigilante:
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00:00Deixa eu falar sobre as notícias internacionais, porque ontem à noite nós tivemos
00:03talvez uma das informações mais importantes dos últimos anos,
00:08que é relacionada ao Julian Assange, que é o fundador do Wikileaks,
00:13que ele aceitou declarar-se culpado de conspiração por obter e divulgar informações confidenciais
00:21num acordo com a Justiça dos Estados Unidos.
00:24Ele já saiu da prisão.
00:25Ele estava detido desde 2019 no Reino Unido e já tinha passado vários anos na Embaixada do Equador
00:32para evitar a extradição para a Suécia.
00:34A Assange era acusada de conspiração por obter informação confidencial dos Estados Unidos,
00:42revelando bastidores sobre os ataques americanos contra civis no Iraque e Afeganistão.
00:49Deixa eu trazer o nosso Duda Teixeira, nosso homem que sabe tudo no cenário internacional.
00:57Duda, seja muito bem-vindo, meu querido.
01:00Oi, Wilson, tudo bem? Boa tarde.
01:03Duda, o Assange é um personagem que desperta paixões, adorado pela esquerda e odiado pelos liberais.
01:11Mas como você sempre nos traz aqui um pouco de serenidade, dá para falar que ele não é nem santo nem demônio.
01:20É apenas uma pessoa comum, não é isso, Duda? Ou eu estou enganado?
01:24Eu diria que ele não é santo. Pode ser?
01:28Seja bem-vindo, querido, por favor.
01:29Eu acho que a disputa aí não é esquerda e direita, eu acho que é Estados Unidos e Rússia.
01:38O Assange é um cara que está muito bem conectado com Vladimir Putin.
01:45Tanto que fez o que fez, divulgou essas informações secretas do governo americano,
01:53colocou pessoas que ajudavam os Estados Unidos, no Afeganistão, em risco.
02:01Depois atrapalhou a Hillary Clinton no partido democrata americano.
02:07O Putin sempre quis evitar um governo democrata, principalmente da Hillary Clinton.
02:13Conseguiu evitar isso.
02:16Então ele entra dentro do jogo geopolítico mundial.
02:21E é uma grande notícia agora, ele está livre.
02:26Isso realmente é uma questão importante.
02:31Acho que vale contar um pouco, Wilson, o que está acontecendo, porque as pessoas aí têm...
02:38Enfim, o Lula mesmo já publicou alguma bobagem na rede, no X.
02:44Eu queria ter que você explicasse mesmo para a gente, Duda, porque...
02:47De novo, aqui a gente coloca a bola no chão.
02:51E se você for observar o noticiário da concorrência...
02:56Hoje pela manhã, enquanto eu preparava aqui o Meio Dia Brasília...
02:59Gente, eu sou assim, tá?
03:01Acho que vocês já repararam.
03:02Eu sempre observo o que a concorrência está falando.
03:06Porque como bom jornalista, modéstia à parte, eu penso o seguinte...
03:10Nós, como jornalistas, nós somos cientistas sociais.
03:14E cientista social, meu amigo?
03:16Não tem lado.
03:18Você pega um lado, pega o outro lado, faz um suco e entrega um suco desses dois lados.
03:25Aqui a gente não está aqui para fazer militância.
03:28Então, Duda, eu escutei muito na concorrência o seguinte comentário.
03:33Olha, foi uma vitória da liberdade de expressão.
03:37E você traz para mim um fator que há uma diferença entre liberdade de expressão...
03:45E um personagem que foi utilizado pelo governo russo de forma política.
03:51Então, assim, é uma linha complicada.
03:55E eu queria, Duda, e como você falou agora há pouco...
03:57Vamos tentar estimilizar um pouco quem é esse personagem.
04:00Como ele entra nessa disputa já política.
04:03E agora esse desfecho da justiça norte-americana.
04:07Tá.
04:08Acho que um pouco dessa percepção equivocada...
04:11Vem dessa ideia de que o Assange é um jornalista.
04:15E comparar esse tipo de sujeito, que é um hacker, com a gente.
04:20E a gente que faz o trabalho de jornalismo tem que mostrar que o Assange não é jornalista.
04:26O que ele fez a vida inteira dele é roubar a informação.
04:31Então, nesse caso aí, ele ajudou o...
04:36Era o Bradley Manning, né?
04:38Depois ele muda de gênero, ele vira Chelsea Manning.
04:43A entrar lá nos arquivos do Departamento de Estado.
04:47Rouba esse monte de informação.
04:49Os telegramas diplomáticos dos americanos.
04:53E joga isso tudo na internet.
04:56O jornalista não faz isso, né?
04:58O jornalista pode até, de repente, chegar para ele alguma informação.
05:04Dizendo ali, olha, eu tenho aqui um telegrama.
05:07Vai tentar checar a veracidade disso.
05:10A gente não rouba informação de lugar nenhum.
05:14Depois tem um trabalho cuidadoso para decidir o que a gente vai publicar, o que não vai publicar, como fazer isso.
05:23Se é o caso de entrevistar mais pessoas.
05:27Isso é o jornalismo, né?
05:29Então, a se dizer que o Assange é um jornalista, liberdade de expressão, liberdade de imprensa.
05:34Não, o que aconteceu aí foi espionagem, roubo de informação e uma publicação indevida de documentos secretos que colocaram em risco a vida de um monte de gente.
05:49Então, são coisas completamente diferentes.
05:51E o que o Assange fez?
05:54Também aí, outros comentários nas redes estão falando assim, nossa, ele foi inocentado.
05:59Justiça foi feita, né?
06:03A publicação do Lula no X é isso, o mundo agora é um lugar menos injusto, né?
06:10Só que não, a justiça foi feita nesse caso.
06:13O Assange admitiu a culpa.
06:17O que aconteceu?
06:18Como ele conseguiu ficar adiando por cinco anos a extradição dele para os Estados Unidos?
06:27Porque ele estava preso, ele estava no Reino Unido e precisava ser mandado para os Estados Unidos para, nos Estados Unidos, ter o julgamento dele.
06:36E aí, sim, ele poderia ser inocentado ou condenado.
06:40E ele conseguiu ficar enrolando isso.
06:42Só que nisso daí, o cara ficou cinco anos preso, né?
06:46E aí, o que aconteceu?
06:48Eu tenho um cálculo aí, que é...
06:50Esse é um acordo que se diz de plea bargain, né?
06:53Que também é conhecido como um acordo de justiça transacional, no sentido de que você faz uma negociação.
07:02Para o governo americano, vocês estão me ouvindo ainda?
07:06Aí, para o governo americano, é melhor você...
07:10Todas as coisas de julgamento, tribunal e tal, envolve um custo muito grande.
07:14Então, se o sujeito admite culpa, você poupa recursos e aí você dá ali, faz um acordo em que, às vezes, o sujeito pode ter algum tipo de benefício.
07:28Nesse caso, como ele já cumpriu cinco anos nas prisões britânicas e ele pegaria mais ou menos cinco anos de prisão,
07:36Então, você entendeu que ele já cumpriu a pena.
07:40E esse acordo, então, vai ser apresentado amanhã, de manhã, numa ilha lá perto das Ilhas Guam, no Pacífico,
07:49porque ele não quer ir para os Estados Unidos, ele quer ficar lá perto da Austrália, está indo para a Austrália agora.
07:53Então, é isso, ele admitiu a culpa, ele, de alguma maneira, já cumpriu a pena e aí, tudo bem, ele vai ficar em liberdade.
08:05Eu fiz aí, eu publiquei hoje, convido o pessoal a ler na Cruzoé, que é o que o caso do Julian Assange tem para ensinar para o Debrecht aqui no Brasil.
08:16A gente não tem, no Brasil, essa figura do plea bargain, mas a gente tem alguns recursos da justiça que permitem alguma negociação,
08:29em que a pessoa ou a empresa, elas admitem a culpa, elas admitem que fizeram coisa errada, e aí você tem algum tipo de negociação.
08:38É o caso aqui no Brasil, eu estava conversando hoje de manhã com o Acácio Miranda, é um advogado de direito constitucional,
08:47que entende muito desse assunto, e ele falou assim, Dudu, isso é muito parecido com os acordos de leniência aqui no Brasil,
08:54que as empresas assinam com a justiça brasileira, às vezes até com a justiça americana,
09:00que eles admitem a Debrecht e falam assim, putz, eu fiz coisa errada, eu não deveria ter entrado nessas licitações fajutas
09:09e depois ter desviado o dinheiro e pagado os políticos ou o PT, o que seja.
09:18E aí a empresa, ela é beneficiada, então você, a Debrecht acaba se meio que protegendo de novas ações,
09:26ela se compromete ali a botar um carinha dentro da empresa para evitar que essas coisas aconteçam de novo
09:33e recebe algumas multas não tão grandes, mas mais baixas para que a empresa continue funcionando.
09:39Então é mais ou menos isso que aconteceu lá agora com o Assange, estamos falando de uma pessoa,
09:45no caso do Assange, uma empresa no caso do Debrecht, mas você tem essa figura em que o réu acusado
09:51admite a culpa e é beneficiado.
09:55O que agora, agora de grande diferença, Brasil, justiça brasileira e justiça americana,
10:02é que a justiça americana, a hora que você pega e fala, olha, eu admito a culpa,
10:06você não pode depois, três anos depois, a hora que você já está ali, recebeu alguns benefícios dessa negociação,
10:14você fala assim, não, agora eu quero rever tudo que eu acordei lá, tudo que eu assinei lá atrás,
10:19que é o que a Odebrecht fez aqui no Brasil, né? A Odebrecht fez um acordo de leniência,
10:25admitiu a culpa e aí depois começa a acionar o STF, o Dias Toffoli, e fala assim, olha,
10:31aquilo que eu assinei lá não tem validade. E o Dias Toffoli, ele perdoa a Odebrecht,
10:37cancela a multa de 8 bilhões e meio que a Odebrecht ainda tinha para pagar,
10:42sem tirar os benefícios que a empresa teve, né? Então, isso mostra essa diferença brutal que a gente tem
10:49da justiça americana para a justiça brasileira, que aqui a gente não tem segurança jurídica nenhuma,
10:57né? Quer dizer, o próprio judiciário, a Corte Suprema do Brasil, vai lá e desfaz um acordo de leniência, né?
11:04Quando que a chance disso acontecer agora, por exemplo, mais para frente, nos Estados Unidos é nula,
11:09isso nunca vai acontecer. Enfim, também acho que é interessante fazer essa comparação.
11:16É, você falou muito bem, né, Duda? A diferença é que nos Estados Unidos não existem personagens como
11:25o Dias Toffoli, Gilmar Mendes, acho que essa é a diferença, né? Essa é a grande diferença.
11:34Duda, mas esse assunto é outro assunto que a gente, com certeza, vai tocar aqui em outras edições do