Empreendedores 60+: maturidade e experiência a serviço do próprio negócio

O Liberal

Mãos que um dia carregaram caixas, bateram ponto ou cuidaram da casa agora se reinventam no gerenciamento do próprio negócio. No Brasil, empreender após os 60 anos tem deixado de ser uma exceção para se tornar movimento. Histórias como a da paraense Sandra Nascimento, de 61 anos, mostram que a maturidade pode ser uma aliada poderosa na hora de abrir um novo caminho profissional. Após enfrentar um câncer e se ver impossibilitada de voltar ao antigo trabalho, Sandra encontrou, dentro de casa, a chance de recomeçar. Com sobras de semijoias e algumas pedras que guardava, ela começou a montar pequenas peças e divulgar para pessoas próximas. O retorno positivo a encorajou a buscar uma identidade própria para o que produzia, e foi no crochê com fio de cobre que ela encontrou seu estilo. Hoje, Sandra transforma os fios e pedras, como ametista, turmalina e turquesa, em joias artesanais.  Reportagem: Paula Almeida / Especial para O Liberal Imagens: Cristino Martins

Transcript

00:00Anteriormente eu trabalhava no comércio de semijóia, eu comprava e vendia,

00:05mas em 2019 eu fui diagnosticada com câncer,

00:09aí eu parei, fechei tudo que eu tinha e fui fazer o tratamento do câncer,

00:13que estava em um estágio bem avançado.

00:17E após o término desse tratamento, eu toda empolgada para voltar a trabalhar,

00:22nós dois, porque ele também parou tudo para ficar junto comigo nesse tratamento,

00:26só que aí o médico me liberou 7 de março e 17 de março de 2020 a pandemia veio, né?

00:35Então mais uma vez eu fiquei recolhida aqui em casa sem poder fazer nenhuma atividade

00:42que me causasse, que me desse uma renda.

00:46Aí o que é que eu fazia?

00:48Eu vinha para cá, pegava aquela sobra de semijóia que eu tinha e comecei a reformular

00:53e aí foi me dando a ideia de pedra, eu tinha algumas pedras e eu comecei a colocar.

01:00E comecei através da internet a mostrar essas peças por círculo próximo de mim, né?

01:06E as pessoas começaram a gostar e o feedback, o retorno foi muito bom.

01:12Aí eu comecei a cada vez procurar fazer melhor,

01:16até que eu procurei realmente uma identidade para mim e aí eu me lembrei do crochê.

01:21E uma amiga minha mostrou uma pulseira, na realidade, feita num crochê.

01:26Ela é de descendência portuguesa e ela tinha uma pulseira muito antiga

01:30que ela ganhou da avó, só que era feita num fio de ouro.

01:34Toda feita num fio de ouro a pulseira.

01:36Eu achei assim maravilhosa.

01:37Aí eu fui buscando, encontrei o fio de cobre e comecei a fazer o crochê no fio de cobre

01:43e colocando as pedras e criei a identidade da Fiorella.

01:47Eu faço brincos, colares, broches, né?

01:51Faço broche, faço anel, faço bolsa, né?

01:54Faço bolsa, faço colar de mesa, tudo colocando as pedras e o crochê.

02:02As nossas peças, elas vão de R$ 49,00, que são colarzinho feito de pedras, né?

02:10Até o valor de R$ 690,00 tem colar nesse valor.

02:15E eu utilizo as pedras, eu utilizo a ametista, a turmalina, a turquesa.

02:22São peças nobres, né?

02:24E aí realmente eleva o custo dos colares.

02:27Olha, pra mim, pra nós, digamos assim, excepcionalmente,

02:33a gente ter um novo negócio, a gente ter se reventado,

02:39ele já com 60, eu entrando nos 60, né?

02:42Que foi nos 59 anos mesmo que a gente começou a fazer,

02:46não só trouxe pra gente um rendimento, né?

02:50Que isso é bom, porque até então, quando a gente parou com tudo,

02:53a gente ficou muito nos cuidados dos filhos.

02:55Nós temos cinco filhos, né?

02:58E eles realmente assumiram ali essa parte.

03:01Mas a gente se achava, assim, bem capaz de ser produtivo ainda, né?

03:06Então, isso trouxe pra gente, assim, essa, vamos dizer assim,

03:12essa vantagem da gente ter a nossa própria renda,

03:16da gente buscar, por mais simples que seja,

03:19a gente buscar a gente ter realmente a nossa renda.

03:22Da gente se sentir útil, né?

03:25Produtiva ali, produtiva não só no fato de exercer uma atividade,

03:29mas também de exercer uma atividade profissional, né?

03:32De remuneração.

03:33Isso foi muito bom pra gente.

03:35A nossa principal fonte de renda é o nosso negócio mesmo,

03:39das joias autorais, né?

03:41E isso traz, trouxe, assim, pra gente benefício, como eu te falei,

03:46não só da gente ter a nossa renda e ter essa autoestima, né?

03:51De ter um valor pra gente, como também do que deu pra gente, assim,

03:59mexeu com o nosso intelecto, né?

04:01Porque tu passa, principalmente pra mim, né?

04:04Que fiquei mexendo ali com as mãos numa concentração de fazer o crochê, né?

04:10De criar as peças.

04:12Tu acaba estimulando também, né?

04:16A tua mente.

04:17Isso aí foi fantástico.

04:19E também na questão do social.

04:21Porque quando a gente se viu com o feedback das pessoas gostando das peças,

04:26a gente não saía, assim, pra vender.

04:31A gente começou a trabalhar as redes sociais, né?

04:34E aí a gente começou a ver aquele feedback,

04:37e ali um amigo disse, faz feira,

04:39tem umas feiras acontecendo na cidade, leva tuas peças.

04:43E a gente foi fazendo, e aí foi fantástico.

04:46E foi justamente numa feira dessa que a gente encontrou uma assessora do Sebrae,

04:51e ela disse que poderia ajudar a gente, né?

04:54E aí a gente procurou o Sebrae, e o salto, assim, pra um crescimento,

04:58pra uma realização melhor e pra uma nova expectativa,

05:02foi realmente fantástico, com a ajuda do Sebrae.

05:05Até os nossos sonhos duplicaram.

05:08A gente se imaginou sonhando com coisas

05:11que a gente nunca na vida imaginou que poderíamos realizar já,

05:17entrando aí na terceira idade.

05:19O mercado exterior, e a gente teve, assim, um apoio muito grande,

05:22de incentivo do Sebrae, com relação, eles analisando as peças, né?

05:28A aceitação.

05:29Então, eles dizem que tem.

05:31O negócio é fazer um trabalho, ter atitude, correr atrás,

05:35e procurar realmente novos mercados.

05:38E a gente tá aqui, né?

05:39Eu com 61, vou fazer 62, mais no final do ano.

05:43E com 65, a gente tá aqui sonhando, como se a gente tivesse 20 anos.

05:51Nós conseguimos fazer uma venda internacional,

05:54devido à nossa publicação na internet.

05:57Mas uma coisa, assim, muito simples, né?

06:00Uma pessoa que tá na Suíça, viu, e gostou,

06:04e mandou buscar umas peças.

06:05Mas foi uma coisa, assim, bem discreta, né?

06:07Mas, ano passado, devido ao Sebrae,

06:11o Sebrae me enviou pra Fenasce, em Fortaleza.

06:16E lá, assim, muito a contra gosto.

06:18A contra gosto que eu digo, porque eu não me imaginava capaz

06:21de participar de uma roda de negócio.

06:25Entendeu?

06:25Eu achava, assim, as minhas coisas, assim,

06:27eu tô muito mais no simples de pegar um dinheiro aqui,

06:30eu tô ali, sem vislumbrar realmente um negócio,

06:34de empreender realmente, né?

06:36E qual foi minha surpresa quando eu participei

06:40dessa rodada de negócio, né?

06:41Foi uma coisa, assim, que abriu a minha mente,

06:45que eu vi realmente a possibilidade,

06:49as condições que a gente tinha de desenvolver um negócio

06:53como se a gente estivesse mesmo ali no início da nossa vida.

06:56Foi uma coisa, assim, transformadora mesmo.

06:59Não, a expectativa, assim, tá a mil, né?

07:02A expectativa tá muito grande,

07:04inclusive a gente tá fazendo, assim, umas reformulações, né?

07:08Justamente pra darmos uma outra roupagem

07:10nas nossas peças, esperando essas pessoas

07:13que vão estar aqui dentro de Belém do Pará, né?

07:16A gente tá mudando as nossas etiquetas,

07:20colocando elas em português, inglês, espanhol,

07:22e também os valores, né?

07:24Tanto no real, como no dólar, como no euro.

07:29A gente tá fazendo essas adaptações

07:31pra tentar melhor acolher e chegar realmente

07:35a essas pessoas que vão estar aqui em Belém do Pará na cópia, né?

07:39Na cópia.

07:40A gente tá, assim, bem entusiasmada com uma expectativa bem grande.

07:44A gente sabe que as pessoas aí fora dão muito valor,

07:47ou pelo menos as pedras naturais,

07:50tudo aquilo que vem mesmo da natureza, né?

07:53Da Amazônia em si.

07:54É por isso que eu me rotulei uma artesã da Amazônia, né?

07:59Situada em Belém do Pará,

08:00porque eu sei que o mundo conhece a Amazônia.

08:03Belém, alguns conhecem, né?

08:06Mas o mundo realmente conhece a Amazônia.

08:09Então, a gente tá aqui na Amazônia,

08:10essas belezas todas se materializaram

08:14através das minhas inspirações na Amazônia, né?

08:17Precisamente em Belém do Pará.

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