- anteontem
O economista Marcos Mendes analisa o ciclo vicioso dos governos em Brasília.
Assista à entrevista completa: https://youtu.be/ajArMWYKUgo
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NotíciasTranscrição
00:00Deixa eu introduzir aqui o Marcos, ele é autor do livro
00:03Por que é difícil fazer reformas econômicas no Brasil?
00:06Acho que é uma pergunta que continua sendo relevante e presente no nosso dia a dia.
00:13E também organizou uma coletânea de textos no livro
00:20Para Não Esquecer, Políticas Públicas que Empobrecem o Brasil.
00:24Também um outro tema que permanece atual.
00:30Marcos, você é um economista obcecado por fazer o Brasil funcionar.
00:36Você se definiria assim?
00:37Olha, eu sou um economista criado na tradição de trabalhar no setor público
00:46e criar as condições para que o setor público ajude efetivamente a economia brasileira a crescer.
00:53Infelizmente, é muito forte aqui no Brasil a ideia de que é o governo que vai fazer a economia crescer.
01:01Porque o governo tem os instrumentos, as ferramentas para fazer a economia crescer.
01:08Mas, na verdade, o que faz uma economia crescer é o setor privado.
01:16Basicamente, a teoria de crescimento econômico hoje mostra que o que garante crescimento a longo prazo
01:21é inovação, novos produtos, novas ideias,
01:28novas formas de fazer as coisas de maneira mais barata, gerando mais produto.
01:35Ou seja, o que garante o crescimento de uma economia é o aumento da produtividade.
01:41E o aumento de produtividade é um fenômeno de baixo para cima.
01:45Não é um fenômeno de ciência e tecnologia,
01:48de estar no laboratório inventando produtos novos.
01:51É um fenômeno de mercado.
01:54Pessoas trabalhando no mercado, encontrando novos produtos,
01:57novas necessidades, novas formas de fazer as coisas
02:01de maneira melhor, mais barata e mais eficiente.
02:06Então, essa tradição que a gente tem no Brasil de querer botar o governo no meio de tudo
02:10e achar que o governo vai puxar tudo e o governo vai definir tudo,
02:14Isso, nos últimos 40, 50 anos, tem gerado uma estagnação muito grande no nosso crescimento.
02:2340, 50 anos?
02:25Eu achei que você fosse pessimista, mas estou vendo que é uma visão otimista.
02:32Aí eu te pergunto, a gente já teve uma economia com essa configuração
02:38que você gostaria que tivesse?
02:41Em que momento da nossa história?
02:42Não, na verdade, toda a nossa história recente,
02:46se voltarmos um pouco mais, lá para os anos 40,
02:50ali nos anos 40, começa essa mentalidade de que o crescimento vai ser puxado pelo governo.
02:57Então, ali é Getúlio Vargas criando empresas estatais,
03:00porque o investimento vai ser feito pelas estatais,
03:03subsidiando empresas multinacionais para virem ao Brasil,
03:07para se instalarem no Brasil.
03:10E depois vem toda a ideologia da Cepal,
03:17de que a gente precisa proteger a indústria nacional,
03:20fechar a nossa economia para o comércio internacional,
03:24para tentar fortalecer a industrialização.
03:28Isso, na verdade, gerou dois grandes problemas,
03:30porque quando a gente resolveu subsidiar empresas para crescer,
03:34a gente deixou de investir nas pessoas,
03:37deixou de investir na educação,
03:38deixou de investir na qualidade da saúde das pessoas.
03:43Nós somos muito atrasados em educação.
03:45Se nós tivéssemos, por exemplo, investido em educação,
03:49como fez a Coreia,
03:50o dinheiro que a gente gastou para construir Brasília,
03:53certamente a gente estaria muito melhor hoje.
03:56E, ao mesmo tempo,
03:57essa ideologia de fechar o país ao comércio internacional,
04:00a gente tem grandes perdas,
04:02porque a teoria mostra que o comércio internacional
04:05cria muito valor.
04:07Ele traz tecnologia nova,
04:09ele abre mercados,
04:12ele gera novas possibilidades de investimento,
04:19ou seja, uma relação de troca,
04:21uma relação de ganho das duas partes.
04:24Você limita as possibilidades de troca desse país,
04:27criando tarifas elevadas,
04:29dificultando a importação,
04:32você acaba tornando essa economia mais fraca,
04:35menos capaz de se reinventar a cada dia.
04:39Está criando, por exemplo, oligopólios
04:41em determinados setores,
04:42protegidos pelo governo,
04:44e isso trabalha quanto ao crescimento econômico
04:47e trabalha também pela concentração de renda.
04:49Não é à toa que a gente é um país muito desigual
04:52e um país que cresce pouco.
04:54É muito curioso,
04:55porque a gente viu isso acontecer,
04:59a criação desses oligopólios,
05:01justamente,
05:01nesse rastro das políticas dos gigantes nacionais.
05:09A própria Lava Jato trouxe à tona
05:12todo o conluio entre público e privado,
05:15que privilegiou determinados grupos,
05:17determinados empresários.
05:20E, claro,
05:21quando você privilegia um pequeno grupo,
05:25você desfavorece toda uma sociedade.
05:27você impede,
05:29se você dá privilégios para uns,
05:31benefícios fiscais para uns,
05:33você torna desigual
05:34o ambiente concorrencial
05:37e torna tudo mais difícil
05:40para o resto da sociedade.
05:41Só que isso tem um impacto,
05:42porque você acaba modelando
05:44a própria economia.
05:46Quando você opta por fazer isso,
05:48você modela o desenvolvimento do país,
05:51modela a sociedade como um todo,
05:52porque as pessoas,
05:53talvez, no dia a dia,
05:55não percebam o quanto isso pode interferir
06:00na vida delas.
06:01Desde o sujeito que pega o ônibus ali
06:03e que não sabe que existe uma máfia
06:05de transporte público,
06:07porque você tem também lobbies muito poderosos,
06:10grupos que controlam essas concessões.
06:15Quer dizer,
06:16é tudo muito amarrado.
06:18A gente tem saída...
06:24Eu sei que você é um defensor de reformas,
06:26a gente está sempre rediscutindo reformas.
06:29Todo governo novo promete reformas,
06:32faz mini-reformas,
06:34fatiadas, etc.
06:35Mas, se a gente for olhar aí,
06:38acho que a gente está falando em reformas
06:39há mais de séculos
06:41e nada,
06:43nenhuma das reformas que são feitas,
06:45elas realmente atingem o seu objetivo,
06:49porque elas são,
06:50em algum momento,
06:51interceptadas por esses lobbies,
06:54por esses interesses
06:55que já estão há muito tempo consolidados.
06:58Claudio,
06:59deixa eu tentar descrever aqui
07:00um modelo estilizado,
07:02do que me parece,
07:03que foi o nosso modelo de crescimento
07:05nas últimas décadas.
07:08Como eu falei,
07:08a gente tem uma tendência
07:09de achar que o Estado resolve tudo.
07:12Então, você entra com o Estado
07:13fazendo política industrial,
07:15subsidiando investimentos,
07:18regulando excessivamente a economia,
07:22se endividando para cobrir esse subsídio,
07:28e aí você gera uma economia que não cresce.
07:30Na hora que você gera uma economia que não cresce,
07:33e também uma economia
07:35que está gastando muito recurso público,
07:37porque o Estado entra em tudo,
07:38bota dinheiro em tudo,
07:39então ele tem que se financiar.
07:41Ele gera déficit público,
07:42ele aumenta a carga tributária.
07:44Na hora que você tem uma economia
07:45que não cresce,
07:47começa a pressionar o problema da pobreza.
07:51É uma economia que não cresce,
07:52não emprega as pessoas,
07:54as pessoas não saem da pobreza,
07:56e aí o Estado é chamado de novo
07:58para resolver agora o problema social.
08:00Aí é transferência de renda,
08:02é política social,
08:03é Bolsa Família,
08:06é a pão salarial,
08:07é isso, é aquilo.
08:09Seguro defesa e tantas outras políticas sociais.
08:12Acontece que boa parte dessas políticas sociais
08:15também não chegam nos mais pobres.
08:17Elas ficam no meio do caminho,
08:18capturadas por grupos de renda média.
08:21Então, vou dar um exemplo,
08:22aposentadorias especiais do INSS,
08:25algumas categorias profissionais.
08:27Isso não chega nos mais pobres,
08:28isso beneficia a classe média.
08:30Abono salarial é pago
08:33para quem está empregado
08:34no setor formal.
08:36Então, todos os pobres
08:37que estão no setor informal
08:39ou desempregados
08:40não veem a cor do dinheiro
08:41do abono salarial.
08:42Então, é um padrão nosso também
08:44ter política social
08:45que não chega nos mais pobres.
08:46O Bolsa Família é uma exceção,
08:48embora esteja sendo também
08:50bastante distorcido
08:51desde a criação do Auxílio Brasil
08:52e piorando a sua focalização.
08:55Então, aí você aumenta ainda mais
08:57o gasto público.
08:58Na hora que você aumenta
08:58o gasto público,
09:00ou você aumenta a carga tributária,
09:02ou você aumenta a dívida pública.
09:04Essas duas coisas
09:05são veneno para o crescimento econômico.
09:07Tem mais carga tributária,
09:08diminui a rentabilidade
09:09do setor privado,
09:10as pessoas investem menos.
09:12E dívida pública alta
09:15significa juros altos,
09:16custo de capital alto,
09:17também baixo investimento.
09:19E junta-se a isso
09:20a baixa produtividade da economia
09:22por conta de interferências
09:23inadequadas do setor público
09:27que, por exemplo,
09:28adorca o mau capital.
09:30Quando você pega dinheiro do BNDES
09:32e empresta para uma empresa
09:34que é amiga do governo,
09:36não necessariamente você está emprestando
09:37para a empresa mais produtiva,
09:39que vai gerar mais produtos,
09:40mais riqueza para o país.
09:41Você está emprestando para um grupo
09:43que vai enriquecer com aquilo.
09:44Certamente o mercado
09:46vai alocar melhor esse dinheiro
09:48do que um banco público
09:50sujeito a pressões políticas.
09:53Então, você acaba gerando,
09:56num primeiro momento,
09:56quando você dá subsídios,
09:58quando você bota a renda
10:00na mão das pessoas
10:01através de transferências públicas,
10:02você dá um estímulo inicial.
10:04As pessoas vão para o mercado,
10:05consomem,
10:06essa empresa subsidiada em velho,
10:08mas em algum momento
10:09isso vai dar problema.
10:10Isso vai gerar inflação,
10:11isso vai gerar juros altos,
10:13isso vai gerar dívida pública crescendo
10:15e aí vai vir uma crise econômica.
10:18Então, a gente acaba vivendo
10:19um ciclo que é o seguinte,
10:21você faz políticas econômicas ruins
10:23que num primeiro momento
10:24geram algum crescimento
10:27de curto prazo,
10:28mas aí vem uma crise.
10:30Quando vem uma crise,
10:32os políticos se preocupam,
10:34se assustam
10:35e aprovam algumas reformas.
10:38Mas tão logo você sai
10:39da beira do precipício,
10:41você deu um passinho para trás,
10:42saiu da beira do precipício,
10:44o ímpeto reformista
10:45se desmonta.
10:47Aí começam de novo
10:49pressões
10:49para políticas públicas
10:51a favor desse grupo
10:52ou daquele grupo,
10:53começa um novo ciclo
10:54de políticas públicas ruins
10:56que vão novamente
10:57gerar algum efeito
10:59de curto prazo,
11:00mas vão gerar crise
11:01mais lá na frente.
11:02Então, a gente fica nesse ciclo
11:03desde os anos 70,
11:06em que a gente gera
11:07estímulo governamental errado,
11:10pouco crescimento,
11:11crise,
11:13reformas parciais,
11:15aí desmonta as reformas,
11:16crise de novo.
11:17Então, vou te dar só um exemplo
11:18curtinho aqui
11:21do período recente.
11:22Então, de 99 até 2005,
11:25você teve uma série de reformas.
11:27Você teve
11:27câmbio flutuante,
11:29metas de inflação,
11:30melhoria fiscal,
11:32depois veio o governo Lula,
11:33fez reformas microeconômicas,
11:35tudo isso criou condições
11:36para um crescimento maior
11:38nos anos seguintes.
11:40Mas foi só
11:41começar a crescer mais um pouco,
11:43inclusive com um pouco
11:44de ajuda externa,
11:46que aí começaram as políticas
11:47erradas de novo.
11:47Toda essa política que você citou,
11:49subsídios
11:50para grupos amigos,
11:52déficit fiscal,
11:56prejuízo
11:57nas estatais,
12:00mudança desastrada
12:01no modelo elétrico,
12:03mudança desastrada
12:04no modelo
12:04do petróleo.
12:07E aí,
12:08isso nos levou
12:08para a recessão
12:09de 2014
12:09até 2016,
12:11que perdemos
12:12quase 7% do PIB.
12:13Aí, os políticos
12:14ficaram,
12:15temos que resolver
12:16esse problema.
12:17Aí, entrou
12:17um período
12:18reformista,
12:20que eu tive até
12:20a satisfação
12:21de estar no governo
12:22nessa época,
12:23ajudar a fazer
12:23algumas reformas.
12:25Veio o teto de gastos,
12:27veio depois a reforma,
12:27da Previdência,
12:28veio e eram
12:30várias reformas
12:30em instrumentos financeiros,
12:32reforma trabalhista,
12:34mas tão logo
12:34a gente botou o nariz
12:35para fora da água,
12:37começou a respirar,
12:38já começaram a desfazer
12:39as reformas de novo.
12:40E a gente está de novo
12:41num ciclo de desmonte
12:43e de desenho
12:45de políticas equivocadas.
12:57e aí,
12:58a gente está de novo.
12:59E aí,
13:00a gente está de novo.
13:01e aí,
13:02a gente está de novo.
13:03E aí,
13:04a gente está de novo.
13:04E aí,
13:05a gente está de novo.
13:06E aí,
13:07a gente está de novo.
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