Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • anteontem
Cineasta comenta as consequências das invasões das sedes dos Três Poderes para os movimentos de direita no Brasil.

Cadastre-se para receber nossa newsletter:
https://bit.ly/2Gl9AdL​

Confira mais notícias em nosso site:
https://www.oantagonista.com​

Acompanhe nossas redes sociais:
https://www.fb.com/oantagonista​
https://www.twitter.com/o_antagonista​
https://www.instagram.com/o_antagonista
https://www.tiktok.com/@oantagonista_oficial

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Josias, você que fez o documentário Nem Tudo Se Desfaz,
00:05um raio-x de todas as manifestações violentas e pacíficas ao longo da última década.
00:14Nós conversamos no podcast, no CD Talks, na entrevista que fizemos eu, você e o André Marinho,
00:20naquele bate-papo, e você mencionou justamente essa constante tentativa
00:25de se criar bodes expiatórios para essa violência que está latente.
00:31Inclusive, você, antes mesmo de termos o resultado eleitoral,
00:35você já alertava de que a violência não terminaria com o resultado da eleição.
00:40Então, eu vou aqui passar um trecho do seu documentário,
00:44e aí, na sequência, você, por favor, fique à vontade para analisar toda essa situação
00:49em função dos eventos de ontem.
00:51Produção?
00:55Produção?
01:25Produção?
01:26Produção?
01:27Produção?
01:28Atativa da extrema esquerda de se apropriar das manifestações, a massa se dispersa.
01:54Pouco a pouco, os protestos mingam para continuar.
02:24Legenda Adriana Zanotto
02:54Pois é, interessante a semelhança desse trecho com o que nós vimos hoje, ontem,
03:04porque, de fato, a violência acabou dando um fechamento às jornadas de junho de 2013
03:12e teve um fim melancólico.
03:17Então, se você for ver a crescente de tensão que veio desde a eleição,
03:22ela parece que agora chegou a um auge.
03:27E aí tem tudo a ver com essa classificação do Elias Canetti,
03:32no livro Massa e Poder, que é uma referência fundamental para o filme,
03:36e o filme é todo com frases do Elias Canetti.
03:40E as massas, elas tendem...
03:42Qual é a psicologia? O que é que faz as pessoas se juntarem a uma massa?
03:46É exatamente o fato de que o ser humano teme o outro,
03:53ele tem medo do desconhecido.
03:55Só que na massa, o medo do desconhecido é invertido.
03:59Então, o ser humano na massa, ele tem a capacidade de fazer coisas que ele sozinho não faria.
04:05Então, é aí esse aspecto destrutivo dessas massas,
04:09tanto de 2013 como agora, de 2023.
04:13E é muito curioso que está fazendo exatamente 10 anos agora,
04:17as jornadas de junho,
04:18e que culminaram naquilo.
04:22Então, e aí observe que o que diferenciou
04:27as manifestações de direita após as jornadas de junho de 2013,
04:32que se separaram das de esquerda, né?
04:36Exatamente, elas serem pacíficas.
04:39Então, junho de 2013 estava todo mundo junto,
04:43tanto os patriotas como os esquerdistas,
04:45e os embates se davam na rua.
04:48Só que aí, em 2014, já contra a Dilma, reeleita,
04:52nos primeiros meses dela reeleita,
04:54já começaram as manifestações,
04:57e elas vão crescendo em 2015,
05:00até o impeachment em 2016,
05:01e depois as manifestações pela prisão de Lula,
05:06até 2017 mesmo,
05:09e as manifestações pela eleição do Bolsonaro em 2018.
05:13Então, a característica é,
05:14as manifestações de direita eram pacíficas.
05:17Então, parece que fechou-se um arco
05:20em que, em 2023,
05:23as manifestações de direita se encontraram
05:26com as de junho de 2013, né?
05:28E, infelizmente, no seu pior aspecto,
05:30que é o da violência, né?
05:32Então, o que mostra um contexto social
05:35de um conflito profundo, né?
05:37Então, as pessoas realmente estão indignadas,
05:40e parte do que elas estão indignadas
05:42é justo, né?
05:44O que não é correto é a forma com que eles fizeram, né?
05:47É uma forma destrutiva
05:49e uma forma que produziu o efeito oposto
05:51do que eles pretendiam, né?
05:53Muitos deles estavam protestando contra o quê?
05:57Contra os excessos do judiciário,
06:01especialmente de Alexandre de Moraes.
06:03E o que é que esse evento de ontem
06:05produziu muito mais,
06:07vai produzir ainda mais repressão, né?
06:10Inclusive contra a gente
06:11que não tem diretamente a ver com isso, né?
06:14Gente de outras partes do Brasil.
06:15Eu queria ressaltar uma coisa também.
06:17Eu acho que muita gente
06:18que acabou participando dessas manifestações
06:22não tinha ideia de que elas terminariam dessa forma, né?
06:26E aí eu acho que o próprio governador
06:28do Distrito Federal também não tinha ideia.
06:31Por quê?
06:31Porque as manifestações de direita
06:33tendiam a ser pacíficas.
06:36Então, a gente não tinha essa ideia
06:37de que isso ia acontecer.
06:38Eu mesmo não imaginava.
06:40Então, mas evidentemente tinha gente ali
06:42que estava preparando uma coisa
06:44com o objetivo de produzir uma ruptura.
06:47E isso não aconteceu.
06:49O efeito foi oposto, né?
06:51E o efeito tem sido lamentável
06:53para os próprios,
06:55para a própria nova direita, né?
06:57Eu acho que aí tem um marco fundamental
06:59da nova direita.
07:00Chegou a hora de fazer um...
07:02de repensar muita coisa,
07:04de repensar a participação de certas pessoas,
07:07de repensar as ações
07:10e de pensar também nessa parte cultural, né?
07:13Porque a coisa é como se não houvesse consenso
07:21sobre as ações, né?
07:22É como se fosse uma massa despreparada,
07:26uma massa irracional,
07:28uma massa que não tem o mínimo de consenso
07:31e pensamento para agir
07:33e a coisa termina estourando dessa forma
07:35totalmente inadequada, né?
07:37Inclusive destruindo o patrimônio,
07:39o patrimônio da princesa Isabel,
07:42o patrimônio que estava ali naqueles palácios, né?
07:45Então, é um triste fim
07:48para aquelas manifestações
07:51que tinham por características
07:53serem pacíficas,
07:55mas eu acho que começou uma compreensão
07:56de que manifestação pacífica
07:58não serve para nada.
07:59Só que elas servem, né?
08:01O impeachment,
08:03ele aconteceu principalmente
08:05por causa das manifestações de rua, né?
08:09Então, agora observe,
08:10eu tenho notado uma coisa,
08:13a Praça dos Três Poderes,
08:14ela foi feita para se poder circular livremente,
08:18inclusive por baixo dos prédios.
08:20Esse é um preceito básico do modernismo, né?
08:22Então, inclusive por baixo do Palácio do Planalto,
08:25e se podia subir ali em cima, né?
08:28Logo na inauguração de Brasília,
08:29o povo subiu ali,
08:31mas aí ficou perigoso, proibiram.
08:32Mas o fato é que primeiro construíram
08:35o espelho d'água
08:36embaixo do Palácio do Planalto, né?
08:39Que isso aconteceu depois que uma pessoa de carro
08:43tentou invadir o palácio
08:44para causar um dano e tal,
08:49e aí construíram o espelho d'água.
08:51Depois se colocaram as barricadas,
08:54isso foi em junho de 2013,
08:55essa é data muito significativa,
08:57e não se tirou mais as barricadas.
08:59Agora o que vão fazer?
09:01Vão construir muros na Praça dos Três Poderes?
09:05Aí fica uma questão,
09:07porque aquela arquitetura
09:09que foi feita, inclusive,
09:12para as pessoas circularem,
09:14para as pessoas poderem se apropriar
09:17do próprio espaço público, né?
09:19Você veja a cidade de Brasília,
09:21ela resolve um problema básico
09:22da arquitetura e do urbanismo,
09:24que é quando você vive
09:27num ambiente muito grande,
09:29com o pé direito muito alto,
09:31o ser humano se perde ali dentro,
09:32ele não se sente confortável, né?
09:34Então, essa é a cena final do Cidadão Kane,
09:38ele ali, aquele homem riquíssimo,
09:40no meio de um palácio imenso,
09:42e ele está ali perdido,
09:44e solitário, e triste.
09:45Então, Brasília tem dois eixos,
09:47o eixo rodoviário,
09:49que é o eixo das pessoas,
09:50que só pode ter prédio até seis andares,
09:52que é o eixo da proporção humana,
09:54e tem o eixo monumental,
09:55que é o eixo das grandes coletividades,
09:58dos prédios públicos, né?
10:00Então, isso foi feito pensando na presença do povo,
10:05e, entretanto, a presença do povo
10:07tem sido um problema cada vez maior.
10:10Isso mostra o medo que os políticos têm do povo
10:14nas ruas, né?
10:15Começou, aí está 2013.
10:17E aí é muito interessante você notar
10:19que 2013 é, de fato, o ano que nunca acabou,
10:22como se falava de maio de 64, né?
10:27É o ano que não acabou.
10:30E quem não gosta de 64,
10:31diz, é o ano que não parou de encher o saco.
10:34Ele nunca mais acabou,
10:35ele continua para sempre.
10:37Em 2013 está aparecendo isso,
10:39a gente está vendo aí, ainda, 2013,
10:42e o trecho do filme que vocês viram
10:44é muito parecido,
10:46e tem um caráter também desse fim melancólico, né?
10:49Tanto do bolsonarismo,
10:51como o Cláudio falou,
10:53é a data do fim do bolsonarismo,
10:55pode ser, né?
10:56E, de fato, aí a nova direita
11:01vai ter que descobrir outros caminhos
11:03que não sejam pela ação direta, né?
11:05Agora, observe uma coisa,
11:06a esquerda também passou por esse caminho, né?
11:11Você vê, a esquerda teve um governo
11:13que foi o de João Goulart,
11:15e logo depois veio a ditadura, o golpe,
11:20e a esquerda tentou agir diretamente com a guerrilha, né?
11:27E não conseguiu.
11:28E aí eles optaram, por quê?
11:30Por trabalhar através da cultura.
11:32E nisso eles foram muito bem-sucedidos,
11:34porque eles conseguiram uma hegemonia cultural
11:37ao longo das décadas,
11:39que já começou ainda na época da ditadura.
11:41Porque, se você for ver,
11:42os principais cineastas brasileiros
11:45na época da ditadura já eram de esquerda,
11:48já perseguiam gente por não ser de esquerda,
11:51isso acontecia na música também.
11:54Então, a direita poderia pensar nisso também, né?
11:58Ou seja, agir diretamente...
12:01É o problema de se desconhecer a própria história, né?
12:06Eu estava conversando mais cedo aqui
12:08com alguns interlocutores justamente sobre isso.
12:11E Augusto fica também à vontade de comentar, né?
12:13Nós...
12:14Não adianta avisarmos.
12:16Nós estamos falando aí de um ciclo que já...
12:18Esse ciclo atual nosso já tem 10 anos.
12:20E todo o período do regime militar,
12:24ele...
12:25A escalada da violência,
12:28do fechamento, do endurecimento do regime,
12:30ela acontece junto com a escalada
12:32da resistência, vamos dizer assim,
12:35ou da violência política
12:36também por parte da esquerda,
12:38como você mencionou.
12:40Então, vamos para a guerrilha.
12:41Aí o pau come.
12:42Guerrilha urbana, guerrilha rural.
12:43E aí você tem uma sociedade inteira
12:46prejudicada por causa desses grupelhos.
12:50Quer dizer, o problema justamente
12:52é o dano colateral que se tem.
12:55Por quê?
12:56Porque se escala na violência,
12:58sendo que a violência vai resolver
12:59a violência de um lado vai resolver
13:01a violência do outro,
13:03e se escala nessa violência,
13:04só que você tem um poder institucional.
13:07Quem tem na mão o poder
13:08vai exercer esse poder
13:09para além do limite,
13:12quando há um abuso do outro lado,
13:15quando há também a extrapolação do outro lado.
13:17E o que se tem é um fechamento.
13:19Na decisão ontem do Alexandre Moraes,
13:24ele proíbe a entrada de ônibus.
13:27Eu até revi,
13:28quando eu fiz a primeira leitura ontem à noite,
13:32depois fiquei preocupado,
13:33revi, reli para entender.
13:35Aí ele falou,
13:36não, ele delimitou,
13:38ele proibiu que ônibus
13:40com manifestantes,
13:41com pessoas entrem em Brasília.
13:44Proibiu isso até o fim do mês,
13:47até dia 31 de janeiro.
13:48Não sei se vai renovar,
13:50mas eu fiquei pensando,
13:51num primeiro momento,
13:52falei,
13:53ué, ele proibiu,
13:53não vai ter mais então
13:54como qualquer pessoa se manifestar,
13:57como qualquer grupo se manifestar
13:58daqui para frente em Brasília,
14:01porque eles serão bloqueados
14:01pela polícia rodoviária
14:02na entrada da cidade.
14:05Aí quando eu vi,
14:05não, não,
14:06isso está restrito a 30 dias.
14:08Mas quem garante que isso ficará?
14:10Se nós continuarmos avançando
14:12nessa espiral de violência,
14:15daqui a pouco ninguém mais vai poder se manifestar.
14:17Daqui a pouco as pessoas não vão poder se reunir,
14:20né, Augusto?
14:21As pessoas na esquina,
14:22não pode ter mais de três, quatro pessoas.
14:24Quer dizer, a gente está regredindo.
14:28Esse caminho não é bom.
14:31Esse caminho já se mostrou
14:33um caminho equivocado.
14:38E aí
14:40E aí
14:56E aí

Recomendado