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A professora de Relações Internacionais da ESPM Eveline Vieira Brígido acredita que o presidente da França, Emmanuel Macron, terá dificuldade de aprovar uma nova lei de migração no Congresso. Macron quer, ao mesmo tempo, facilitar a entrada de migrantes qualificados e expulsar os ilegais. No primeiro objetivo, enfrenta a resistência da direita radical. No segundo, da esquerda populista. Eveline conversou com os jornalistas Duda Teixeira e Rogério Ortega, do podcast Latitude.

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00:00Olá, seja muito bem-vindo. Eu sou o Duda Teixeira e esse é mais um podcast Latitude.
00:17Todo sábado, às seis da tarde, nós estamos aqui falando sobre política internacional
00:21e diplomacia brasileira. Do meu lado, como sempre, Rogério Ortega. Ortega, seja muito
00:27bem-vindo. Obrigado, Duda. Ortega, que escreve no Antagonista e também comete a coluna,
00:34não é isso? Sou o culpado. Culpado pela coluna do Rui Goiaba na Cruzoé. Bom, o assunto desse
00:41Latitude é França. Vamos falar sobre Emmanuel Macron, os protestos recentes, queda da Bastilha.
00:51Exato, já que hoje é 14 de julho, nós estamos gravando o programa em 14 de julho, que é a
00:56data nacional francesa. Napoleão Bonaparte. Bom, o que vier mais de assunto aí? O Napoleão ainda
01:01não estreou, né? Acho que é só em novembro. Baguete, vinho. E para falar sobre o assunto,
01:07a gente convidou a Eveline Vieira Brígido. Eveline, vamos ver aparecendo a tela aí.
01:13Pronto, bem-vindo, Eveline. Olá, tudo bem? Muito obrigada pelo convite.
01:19A Eveline é professora de Relações Internacionais na ESPM, formada em Direito, mestrado em Direito,
01:28doutorado em Política Internacional, não é isso?
01:32Isso mesmo.
01:33Tá. Fala também sobre propriedade intelectual, não é?
01:37Isso, migrações, Direito Internacional. Como dá um curso de Relações Internacionais,
01:42a gente passa por várias áreas, né? Desde a área jurídica, para a área de R.I., de
01:49migrações, nós temos um grupo de pesquisa da ESPM registrada na CAPS, inclusive nós
01:56temos um observatório de migrações internacionais aqui no Rio Grande do Sul, do qual eu faço
02:02parte, estamos finalizando uma pesquisa agora junto com a FAPERGS, aqui no Rio Grande
02:07do Sul, então estou bem envolvida aí nessas questões de Relações Internacionais.
02:12Você falou bastante de migração, né? Vamos começar por aí, então, porque o Macron tem
02:17uma lei, não é isso?
02:19O Macron tem uma proposta de um projeto de reforma da imigração, que ele está tentando
02:25encaminhar no parlamento francês, no qual ele não tem maioria, né? Como a gente sabe.
02:32Cujo objetivo, pelo que eu tenho lido, e a Eveline pode confirmar ou me desmentir, é
02:39por um lado tentar atrair uma mão de obra mais qualificada para setores que são carentes
02:45dela na França, como construção e saúde, por exemplo, e por outro facilitar a expulsão
02:51de imigrantes ilegais, ou seja, o Macron deve encontrar resistências de um lado e de outro,
02:56tanto a da esquerda, que geralmente é favorável à imigração, quanto entre a direita, que
03:02é contra.
03:04Eu queria que você dissesse como está essa situação da imigração na França, tanto
03:10o projeto do Macron quanto o problema da imigração em si, depois desses protestos que tomaram conta
03:18do país e pensando no quadro maior, porque, enfim, a França é parte da União Europeia e
03:24a coisas que ela não pode fazer ali, por estar submetidas as diretrizes do bloco.
03:29Como está isso agora, depois dos protestos, Eveline?
03:33Então, vamos lá.
03:35Concordo, é isso mesmo que está acontecendo, né?
03:39A gente tem um problema de aumento de imigrantes muito crescente na França, na Europa como um
03:46todo, né?
03:47E eu mesmo, por exemplo, eu notei, tipo, uma comparação de quando eu estive em Paris,
03:552010, 2012, já tinha imigrantes, mas era no início da crise da Primavera Árabe, 2010,
04:01nem tinha iniciado ainda, né?
04:022012 já tinha iniciado.
04:04E estava começando o crescimento, o aumento do fluxo migratório para a Europa, não que
04:10eles já não tivessem imigrantes antes, já tinha.
04:12E depois eu estive em 2019 e eu fiquei perplexa com a quantidade de imigrantes que você tem
04:19nas ruas da França, né?
04:21E eu tenho familiares que agora não moram mais lá, mas vão com frequência e me relataram,
04:28né?
04:29De que, olha, aumentou muito, principalmente o número de muçulmanos, né?
04:34Está crescendo bastante.
04:36Então, assim, a gente tem um crescimento muito grande, porque a Europa, no geral, ela
04:43é um continente, pela questão geográfica, ela se coloca nas principais rotas migratórias
04:48que a gente tem hoje, que vem da África e que vem da Ásia, e ali da região do Oriente
04:53Médio, que pertence à Ásia também.
04:55Exatamente.
04:55Então, você pega ali os fluxos, principalmente dos sírios, agora a maior crise é da Ucrânia,
05:02não é um problema em relação ao mundo muçulmano especificamente, mas é um problema
05:06migratório, né?
05:07Você pega os fluxos migratórios da África, tem muitos conflitos, vários países em guerra
05:15civil e que também geram fluxos migratórios em direção à Europa e à França.
05:22A Alemanha vem em primeiro lugar do país que mais recebe imigrantes, a França geralmente
05:28aparece ali em segundo, terceiro lugar.
05:30Então, realmente, é um número muito grande.
05:33E daí vem a questão dos imigrantes ilegais, né?
05:39Existe, dentro do bloco europeu, um sistema de refúgio.
05:44Ah, existe o escritório europeu de asilo, né?
05:48Que administra essas questões de refúgio como um todo.
05:52Claro que cada país tem suas particularidades, tem suas próprias legislações, mas eles
05:57legislam sempre dentro da regulamentação, dentro do sistema de asilo europeu, né?
06:03E o que o Macron quer fazer hoje, né?
06:06É uma proposta, é uma lei, no sentido de expulsar os imigrantes que estão ilegais, digamos
06:15assim, e favorecer, né?
06:18Incentivar a entrada de uma mão de obra qualificada, né?
06:22Vários países fazem isso, o Canadá, por exemplo, faz isso, outros países europeus
06:25fazem isso, mas não de expulsar especificamente os ilegais.
06:28Na Europa isso está acontecendo.
06:29Mas o Canadá, especificamente, é muito uma política de atrair imigrantes.
06:34E o problema não está na política de atrair imigrantes de mão de obra qualificada.
06:40Isso não é o problema.
06:41O porém, né?
06:43O problema na legislação, que é o que vai ferir normativas internacionais, é a
06:48questão da expulsão de estrangeiros.
06:50Isso fere tratados internacionais vinculados às Nações Unidas, tratados do sistema europeu
06:57de direitos humanos, vinculado ao Conselho da Europa, né?
07:00Que, inclusive, tem uma norma a partir de um julgamento que teve na Corte Europeia de Direitos
07:05Humanos, que condenou o governo italiano por expulsão em massa de estrangeiros.
07:11E tem também a legislação de direitos humanos da própria União Europeia, que vai proibir
07:18essa expulsão de estrangeiros, né?
07:21Enfim, mas, de qualquer forma, eu acho muito difícil de passar essa legislação, essa
07:30lei, né, ser aprovada no atual parlamento francês, porque o Macron, ele não vai ter
07:37apoio de nenhum dos lados, nem de uma esquerda que seria contrária a essa expulsão de imigrantes,
07:46né, que é uma esquerda que defende multiculturalismo e é mais favorável a essas questões de imigração
07:54e de refúgio.
07:56E, por outro lado, tem a extrema-direita, né, que cresceu bastante nas eleições do ano
08:04passado e que é uma esquerda, desculpa, é uma direita muito nacionalista, que é característico
08:11dos governos de direita, na real, né, e que preza muito nacionalismo e naturalmente,
08:18desculpa, são anti-imigração.
08:21Então, qualquer coisa para atrair estrangeiros também é visto com certas ressalvas.
08:27Então, o Macron, ele vai encontrar aí dificuldades para aprovar, eu acho difícil, no atual
08:34parlamento, que é o atual governo do Macron especificamente, essa legislação vir a ser
08:40aprovada.
08:41Agora, caso, né, numa hipótese de ela vir a ser aprovada, com certeza vão ter questionamentos
08:47aí, em âmbito internacional, provavelmente na própria Corte Europeia de Direitos Humanos,
08:53porque ela vai violar outros tratados.
08:57Deixa eu aproveitar, fazer uma pergunta, aproveitando isso que a Eveline falou.
09:02Você acha possível, Eveline, com o Macron sem maioria no parlamento, ele tentar fazer um
09:09drible constitucional, como ele fez com a reforma da Previdência?
09:12Porque na reforma da Previdência, ele também não tinha maioria para aprovar, e ele conseguiu
09:17fazer por um caminho ali, que é uma brecha que a Constituição Francesa permite para ele
09:23aprovar o texto sem passar pelo parlamento.
09:26Você acha possível que ele venha usar esse cartucho mais uma vez?
09:29Então, a possibilidade existe se for permitido constitucionalmente.
09:35Daí, isso seria uma legislação especificamente francesa, isso é previsto na Constituição
09:42Francesa, e foi isso que permitiu essa aprovação unilateral, digamos assim, por parte de uma...
09:50No caso da Previdência, eu não sei te dizer se...
09:53Porque daí, realmente, teria que estudar a Constituição Francesa para ver se é possível
09:57aplicar isso no caso de uma lei de migrações, tá?
10:01Mas, vamos supor, na hipótese de a lei francesa, de a Constituição Francesa, permitir
10:06essa manobra legislativa, digamos assim, né?
10:10Essa manobra de criar uma lei por parte exclusivamente do presidente, o Macron já fez isso uma vez,
10:17não me surpreenderia que se ele não fizesse isso outra vez, caso isso fosse permitido, né?
10:24Muito embora, fazendo outro parênteses, a gente tem que considerar que essa reforma na Previdência,
10:30ela deteriorou uma imagem que já vinha se deteriorando do Macron, né?
10:36Então, eu não sei também até que ponto ele iria se impor tanto neste momento em que ele está perdendo...
10:44Eu sei que ele não pode mais agora ser candidato de novo, mas que ele está perdendo, digamos assim...
10:51Capital político?
10:52Capital político, exatamente.
10:55Exatamente.
10:56Mas eu não descartaria essa possibilidade caso ela fosse viável, digamos assim.
11:03É, porque o que a gente vê no Macron é que ele está seguindo aquelas promessas de campanha, digamos assim, né?
11:10E essa questão de imigrantes estava na lista da campanha, nas promessas de campanha, assim como a questão da Previdência também.
11:18É, Evelina, interessante o quadro que você colocou, né?
11:21Quer dizer, tem esse projeto de lei, mas ele não consegue atrair a mão de obra qualificada porque a direita não deixa,
11:29e ele não consegue expulsar os ilegais porque a esquerda não deixa, né?
11:32Agora, esses protestos que rolaram nas últimas semanas, eles alteram um pouco esse equilíbrio?
11:41Porque existe uma identificação aí entre as pessoas que realizaram esses atos de vandalismo com imigrantes, não?
11:50Sim, sim. Na real, toda a periferia de Paris, que foi onde aconteceu o crime, tem muitos imigrantes e é uma periferia pobre.
12:02A pobreza é grande e ela é muito entre imigrantes, né?
12:08Então, naturalmente, ali, o índice de violência já é maior, como em qualquer outra cidade onde você tem um índice de desenvolvimento menor,
12:19naturalmente a violência cresce e tudo mais.
12:23E tem essa questão...
12:25Como é que eu vou te dizer?
12:29Com a morte do...
12:32Esqueci o nome do menino, um jovem de 17 anos, na real, perfeito.
12:35Descendente de imigrantes, enfim.
12:39Isso gerou, mais uma vez, porque não foi a primeira vez que isso aconteceu, né?
12:44Isso gerou, mais uma vez, uma forte indignação, uma forte manifestação contra esse tipo de atitude,
12:52porque a polícia francesa, ela está muito rigorosa em relação a esses protestos, né?
12:59Não só em relação aos protestos de imigrantes, mas em relação aos protestos que teve na questão do Previdência,
13:05depois, ali, 2018, 2019, teve o dos coletes amarelos também, que era por causa dos combustíveis, né?
13:12Então, a polícia, ela está muito em cima e ela é muito dura.
13:18E, especialmente, essa questão de rigor, ela é aplicada na periferia.
13:23Tanto que a própria ONU, o autocomissariado da ONU para os direitos humanos,
13:28já tinha chamado a atenção, entre aspas, né?
13:32Assim, do governo francês em relação a essas condutas da polícia francesa,
13:41não em relação aos imigrantes, mas essa conduta mais pesada nas periferias, digamos assim, né?
13:49Então, surge daí um movimento que se coloca, eu diria, não contra o governo do Macron especificamente,
13:57mas contra o sistema francês, no geral, porque já aconteceu antes do governo do Macron.
14:02A gente tem outros casos, o problema de imigração, ele está maior hoje na França,
14:09e coincidentemente coincide com o governo do Macron, que está aí desde 2017,
14:15mas a gente já teve problemas anteriores e tem um rigor muito grande na condução,
14:25em conter esses movimentos, até porque tem uma outra questão, que é a questão de segurança.
14:30E, se a gente lembrar, cresceram muito os ataques terroristas, né?
14:39Então, a gente... E muitos deles foram na França, né?
14:42A gente teve o de início, a gente teve alguns atentados em Paris,
14:45teve o da boate em Paris, enfim.
14:47Antes do governo do Macron, um pouquinho antes.
14:50Mas, é, esse temor, ele permanece.
14:54Todo o sistema de segurança francês, aliás, na Europa como um todo,
14:58mas na França, sim, a gente viu uma mudança muito grande
15:03de fiscalização, né?
15:08E eles se voltam muito contra os imigrantes, porque tem uma certa...
15:13Querendo ou não, existe, sim, uma certa relação entre o aumento do fluxo de imigrantes
15:18e o vínculo com grupos terroristas.
15:24Porque, como o fluxo de imigração e de refúgio, ele é muito alto,
15:27sem querer banalizar e desmerecer o direito das pessoas de serem refugiadas, não é isso.
15:33Mas é que, no meio de tanto imigrante,
15:37aquilo... E, gente, o fluxo é algo absurdo, né?
15:41É muito grande mesmo o fluxo de pessoas pedindo refúgio.
15:46Só que, no meio de tanta gente, a gente tem bandido ali no meio,
15:50a gente tem terrorista.
15:52Então, isso acaba sendo um...
15:55Por mais que a gente tenha que defender o direito de se pedir refúgio,
16:00e são pessoas fugindo de guerra, elas têm direito,
16:02isso é um direito humano básico, de pedir refúgio.
16:05Está na declaração da ONU de 1948.
16:07Mas, por outro lado, a gente não pode negar que existe um risco de segurança aí
16:12de tu não saber quem é a pessoa que está entrando.
16:14Então, os estados, eles vão ter que lidar com isso, né?
16:17Claro que não é sair matando todo mundo em abordagens extremamente violentas,
16:23que o próprio Macron, inclusive, condenou.
16:26Agora, não se pode também deixar assim...
16:28E isso é o que a Le Pen, ela apontou muito, né?
16:32Que também você não pode também não cuidar das questões de segurança,
16:36porque isso acaba trazendo problemas seríssimos
16:42para dentro da segurança da Europa como um todo.
16:44Eu queria falar um pouquinho mais especificamente
16:50da morte, das circunstâncias da morte do Nael,
16:54para a gente tentar fazer um paralelo com o Brasil.
16:57Para o espectador que não sabe, o Nael era um adolescente de 17 anos,
17:02que não tinha antecedentes criminais,
17:05e ele foi morto pela polícia porque estava num carro
17:07e tentou fugir durante uma blitz,
17:10durante uma fiscalização policial,
17:12e foi alvejado por um dos policiais.
17:15A minha questão é a seguinte...
17:18Isso é o tipo de coisa que, infelizmente,
17:21acontece no Brasil com enorme frequência,
17:23enorme frequência, né?
17:25De casos de violência policial,
17:28casos de gente sem antecedentes criminais
17:30morta por engano,
17:31e aqui parece uma coisa tão banal
17:35que é muito raro,
17:36que provoque uma comoção.
17:37O último caso de que eu pessoalmente me lembro
17:40foi a história do Genivaldo dos Santos,
17:42que era aquele motociclista de Sergipe
17:43que estava andando sem capacete,
17:45foi parado numa blitz da Polícia Rodoíria Federal,
17:48e foi basicamente morto dentro de uma câmara de gás,
17:50em que foi transformada uma viatura da PRF.
17:53A pergunta é,
17:57esses casos de violência policial,
17:59apesar do endurecimento que você descreveu,
18:02são ainda relativamente mais raros na França?
18:07Ou a comoção...
18:10Já não são tão raros,
18:12mas a comoção e os protestos violentos que provocaram
18:15são uma coisa, digamos,
18:17da cultura do país,
18:18e um barril prestes a explodir
18:22diante de um caso como esse?
18:26Então, a gente tem alguns casos pontuais,
18:30que foi o tipo de morte,
18:31de violência extrema,
18:33como o que aconteceu agora,
18:3527 de junho.
18:38Mas a questão da violência,
18:45ou da forma de uma abordagem policial
18:47mais pesada,
18:49ela existe na França,
18:51a polícia, como eu falei,
18:53ela está numa fiscalização constante,
18:56principalmente nos arredores de Paris,
18:59então, são abordagens mais pesadas.
19:06Fazendo um parêntese aqui,
19:07como eu te falei,
19:08que tinha família que morava lá em 2019,
19:11eu estava com meus dois filhos,
19:13uma menina de 3 e uma menina de 5 anos,
19:15sentada num banco,
19:17comendo um crepe num domingo de manhã.
19:19E passou,
19:20o cara policial desceu da viatura,
19:22chegou, saiam daí,
19:23levantem,
19:24não fiquem parados,
19:25numa grosseria.
19:27E eu fiquei tão chocada,
19:29peguei meus filhos,
19:30levantei,
19:31e, bom,
19:33francesa sendo francesna.
19:38Eu tenho vários amigos,
19:41mas, enfim,
19:42uma estupidez, sabe?
19:45E não que eles fossem me atacar,
19:47não é isso,
19:48mas é o jeito de falar,
19:49já é uma abordagem natural,
19:52já é uma abordagem mais rude,
19:55digamos assim.
19:55E, claro,
19:57isso não acontece a de ficar atirando ali,
20:00no centro de Paris,
20:01mas isso não é comum.
20:03Agora,
20:03na periferia,
20:04na periferia,
20:05a abordagem é mais pesada,
20:06como eu já disse,
20:07são mais imigrantes,
20:09é uma população de baixa renda.
20:12Agora,
20:13de ter morte,
20:14especificamente,
20:14teve um caso,
20:15acho que tem,
20:16não faz tanto tempo,
20:18um ano ou dois,
20:19que parece que atiraram na perna do rapaz,
20:21né?
20:21Daí,
20:22ele acabou não morrendo.
20:24Mas,
20:25então,
20:25assim,
20:26tem uns ataques violentos,
20:28mas não são,
20:29assim,
20:29uma coisa também,
20:30assim,
20:30olha,
20:30estão matando muita gente,
20:32não é esse o caso.
20:33E tem um outro ponto,
20:34que você muito bem colocou,
20:37que é a cultura francesa de protestar,
20:40né?
20:40E aqui no Brasil,
20:41a gente não tem tanto isso.
20:43Eles protestam de tudo,
20:45eles protestam quanto ao aumento de combustíveis,
20:47e fizeram,
20:48durante quase dois anos,
20:49aquelas manifestações conhecidas,
20:51né?
20:53Como os coletes,
20:54amarelos.
20:54Gil e Júnior.
20:55É,
20:56Gil e Júnior.
20:57E daí,
20:58depois,
20:58agora,
21:00a da Previdência,
21:01então,
21:02e não é a primeira vez que eles reclamam contra a reforma de Previdência,
21:05sempre que algum governo francês tentou fazer modificações à Previdência,
21:10eles reclamam.
21:11E também tem a questão agrícola,
21:13né?
21:13Que os agricultores franceses,
21:16qualquer corte em subsídio,
21:17eles estão fazendo greve,
21:20eles estão botando as vaquinhas na chandemars,
21:22eles estão fazendo várias manifestações.
21:26Então,
21:26existe uma certa cultura na França de protestar.
21:31A população costuma protestar muito pelas questões de direitos sociais,
21:35digamos assim.
21:36Eveline,
21:38já que você falou dos produtores rurais, né?
21:44Vou pegar por aí, enfim,
21:46já foi ratificado, né?
21:48O acordo União Europeia-Mercosul, 2019,
21:51faltava ainda a aprovação dos parlamentos.
21:54Agora,
21:55a gente tem o Lula inventando desculpa
21:58para não assinar isso daí,
21:59mas eu queria te perguntar
22:01de parte lá dos franceses.
22:05Você acha que existe a boa vontade
22:08do governo francês do Macron
22:10ou dos produtores rurais franceses
22:14de fazer um acordo com o Mercosul?
22:17Então,
22:18esse acordo só precisa,
22:21ele já está assinado, né?
22:22Ele só precisa de aprovação
22:23de todos os parlamentos.
22:24do parlamento europeu,
22:27que é uma instituição supranacional,
22:30e dos parlamentos nacionais
22:32dos países do Mercosul.
22:33Por que do parlamento europeu?
22:35Porque,
22:36como a França faz parte da União Europeia,
22:38as questões econômicas,
22:41as questões de comércio internacional,
22:43elas são tratadas em âmbitos
22:45de supranacionalidade.
22:47Quem decide é o parlamento europeu
22:48e não mais os parlamentos nacionais.
22:51Desculpa,
22:52não só o parlamento europeu,
22:53daí tem mais duas instituições,
22:54que é o Comissão Europeia
22:56e o Conselho da União Europeia.
22:58Enfim,
22:59agora,
23:01dois pontos.
23:02Teve até uma discussão,
23:04acho que agora em junho,
23:05no parlamento francês,
23:08contrária a este acordo
23:11do Mercosul e União Europeia,
23:15só que essa discussão contrária,
23:18essa votação contra,
23:20ela não tem impacto jurídico.
23:22Ela não pode dizer,
23:23olha,
23:23a França não vai fazer parte desse acordo.
23:25Não.
23:25Se a União Europeia decidir
23:27que a União Europeia vai fechar o acordo,
23:31a França pode ser contra
23:32e não tem o que fazer.
23:34Ela não vai poder fazer nada.
23:35Ela tem que aceitar,
23:36porque isso é uma questão que está acima.
23:38É uma questão que a gente chama supranacional.
23:41Agora,
23:41em relação aos agricultores,
23:44os agricultores não têm negociação,
23:46porque a gente tem um histórico
23:49de subsídio agrícola na União Europeia,
23:51na União Europeia como um todo,
23:52em especial na França,
23:55desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
23:57Então,
23:58a comunidade econômica europeia
23:59que precedeu a União Europeia,
24:01ela foi criada em 1957,
24:04assim,
24:04alguns anos,
24:0512 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial,
24:08e um dos pontos que eles tinham
24:10era fornecer muito subsídio agrícola
24:14para os agricultores.
24:14Por quê?
24:16Na reconstrução dos países europeus
24:19do pós-Segunda Guerra Mundial,
24:22um dos grandes pontos
24:24era a questão da fome,
24:25foi a questão de escassez de alimentos
24:27que aconteceu durante a guerra.
24:29Então,
24:29o agricultor,
24:30ele ganhou muito destaque,
24:32ele ganhou muita,
24:33olha,
24:34um papel-chave,
24:36porque a questão de fome,
24:38de falta de alimentos,
24:39depende do agricultor.
24:41Então,
24:41ele precisa plantar.
24:42Então,
24:43ele recebeu muito subsídio agrícola.
24:46Para você ter uma ideia,
24:47nas primeiras décadas
24:48da comunidade econômica europeia,
24:52cerca de 70% a 80%,
24:54dependendo do ano,
24:56do orçamento do bloco
24:58ia direto,
25:00exclusivamente,
25:00para o subsídio agrícola.
25:01Hoje,
25:02isso está em cerca de 35%.
25:04Por quê?
25:05Porque em 1995,
25:07foi criada a Organização Mundial do Comércio
25:10e, pela primeira vez na história,
25:12a gente teve uma regulamentação internacional
25:15do comércio agrícola.
25:18E houve um corte de subsídios.
25:20Há um corte ainda pequeno,
25:22que países como o Brasil
25:23reclamam bastante,
25:24dizendo que tem que cortar mais.
25:26Mas esse corte de subsídios
25:29que foi imposto
25:30pelo Acordo de Agricultura
25:31da Organização Mundial do Comércio,
25:33se impactou
25:33nos subsídios europeus.
25:35E, aos poucos,
25:37depois da criação da OMC,
25:39a União Europeia precisou
25:41ir cortando os subsídios,
25:43até que hoje está em cerca de 35%,
25:4540%.
25:46E o que acontece?
25:49Os protestos agrícolas,
25:51os protestos dos produtores,
25:52agrícolas,
25:53com destaque para os produtores franceses,
25:55isso cresceu demais.
25:57Isso aumentou tanto que,
25:59se eu não me engano,
25:59o ano de 2009
26:01foi um índice de...
26:03Foi um ano de alto índice
26:05de suicídio
26:08de produtor agrícola,
26:10de agricultor, na França.
26:12Então, se a gente for pesquisar,
26:14tem muito índice de suicídio
26:16entre os agricultores franceses.
26:18Então, eles protestam muito,
26:19eles foram...
26:21Eles têm uma cultura,
26:24desde o pós-segunda guerra,
26:25de que eles recebem
26:27muito subsídio agrícola,
26:29de que, naturalmente,
26:30o governo paga.
26:31Não cabe aqui eu entrar em detalhes,
26:33que a gente hoje não tem tempo para isso,
26:34mas eles recebem...
26:37A União Europeia,
26:39e aí a França está dentro disso,
26:40ela tem um sistema
26:41extremamente protecionista.
26:44Todo produto agrícola estrangeiro
26:48que entra na União Europeia,
26:51ele tem um imposto de importação
26:53muito caro,
26:54uma alíquota muito elevada.
26:56Isso faz com que o produto saia do Brasil
26:59com, por exemplo, 100 dólares
27:01e chegue lá por 300 dólares, sabe?
27:04Então, é muito elevado.
27:05É para colocar o preço lá em cima mesmo.
27:08E a receita desse imposto de importação
27:10é destinada para...
27:13para subsídio agrícola dos agricultores.
27:17E daí, em razão de regulamentações
27:22na Organização Mundial do Comércio
27:23e de processos judiciais
27:25que a União Europeia
27:27vem perdendo
27:29no órgão de solução de controvérsias da OMC,
27:33que é o Tribunal da Organização Mundial do Comércio,
27:35ela é obrigada a fazer cortes internos
27:38e a fazer reduções.
27:40Então, isso gera muito protesto agrícola.
27:43É por isso que a gente vê tanto protesto.
27:45E os franceses, o agricultor francês
27:47é um dos que mais recebe.
27:49Então, ele...
27:50Então, ele sente muito
27:53e os franceses naturalmente
27:55gostam de protestar.
27:57Então, por isso que tem essa demanda.
27:59Então, negociar com o agricultor,
28:01fazer esse acordo com o Brasil...
28:04Desculpa, Mercosul, União Europeia,
28:06esse é um acordo desde o final da década de 90.
28:09É um acordo que levou mais de 20 anos,
28:11uns 20 anos mais ou menos,
28:12para ser assinado
28:14e agora está na fase de ser aprovado internamente.
28:18E ele é muito difícil de ser aprovado.
28:20Eu lembro que eu sempre falei para os meus alunos...
28:22Gente, esse acordo é da época
28:25que eu estava na faculdade ainda
28:26e depois eu fiz mestrado, doutorado
28:29e em sala de aula.
28:30Eu falei, gente, acho muito difícil
28:31esse acordo de ser aprovado.
28:33Eu lembro que em 2019 ele foi
28:35e eu falei, gente, olha só,
28:37quase 20 anos de negociações.
28:39Vamos ver como é que se vai implementar.
28:41Porque é muito complicado
28:44diminuir as alíquotas de imposto de importação
28:48para produto agrícola.
28:49Para outros produtos já não é tão simples,
28:51mas para produto agrícola na Europa
28:52é muito complicado.
28:54Se esse acordo realmente
28:55entrar em vigor,
28:58a gente vai ter um prazo ainda
29:00que vai ser de 10 a 15 anos
29:02para que os produtos realmente...
29:04Para que se faça uma eliminação progressiva
29:07do imposto de importação.
29:11Eu acho bem difícil de...
29:13Nas questões agrícolas...
29:16De isso...
29:18Não estou dizendo que não vai ser aprovado, né?
29:20Mas eu acho bem difícil
29:20disso ser implementado na prática.
29:23E vai agravar ainda mais
29:24a questão dos agricultores.
29:26E não vai ter governo,
29:27não é porque é uma croma,
29:28não vai ter governo na França
29:30que vai conseguir negociar
29:31com o produtor agrícola.
29:33Eles vão ter que ver outra forma
29:34de subsidiar,
29:35eles vão ter que criar
29:36um outro programa, não sei,
29:38para conter essa questão agrícola
29:40se isso realmente for implementado,
29:43digamos assim.
29:46Evelina, eu queria voltar um pouquinho
29:48só para a história do Nael,
29:51porque aí a gente pode falar um pouco
29:52da expansão política na França de hoje.
29:57Uma das coisas que chamaram a atenção
29:58na cobertura do caso aqui no Brasil
30:00foi que houve uma vaquinha promovida
30:03pelo ex-porta-voz do Henrique Zemmour
30:05e, para os espectadores que não sabem,
30:08o Zemmour é considerado um político
30:09mais à direita,
30:10que é a Marine Le Pen,
30:11que é a representante mais visível
30:14e mais popular da direita francesa.
30:17Essa vaquinha arrecadou cerca de um milhão
30:19de euros para o Florian M,
30:21que é o policial que atirou no Nael
30:24durante a Blitz
30:25e está respondendo ao processo
30:27por homicídio doloso.
30:29Então, a gente estava conversando um pouco
30:30aqui antes de entrar no ar
30:32e eu estava perguntando
30:34se você achava que isso era uma amostra
30:36de uma maior popularidade
30:39da direita mais radical
30:41que o Zemmour representa.
30:42Você respondeu que não.
30:44O que tem se mostrado mais popular,
30:48que tem angariado mais apoio,
30:49é a direita da Le Pen.
30:51Então, como você,
30:53considerando esses protestos,
30:56essa questão da imigração
31:00e da violência policial também,
31:02como você acha que está agora,
31:03depois das manifestações todas,
31:06a popularidade do Macron
31:08e da Le Pen?
31:12Então, o Macron,
31:13as pesquisas já indicam
31:15cerca de quatro pontos percentuais
31:18já em queda
31:19e a Le Pen crescendo.
31:21Mais ou menos, acho que,
31:22se eu não me engano,
31:23a última pesquisa que eu vi
31:24foram cerca de cinco pontos percentuais
31:27de crescimento.
31:29Então, não que a população seja...
31:32Claro, parte da população
31:34é mais extremista, naturalmente.
31:37Me surpreendeu essa questão da vaquinha também,
31:40para o policial especificamente.
31:42Mas a gente tem, naturalmente,
31:45um crescimento da direita na França
31:49e isso a gente pode ver
31:50até pelas últimas eleições,
31:52a posição da Marine Le Pen.
31:58Em 2012, ela era...
32:01Eu não me lembro agora
32:02as porcentagens exatas,
32:03mas ela era uma,
32:04ela cresceu depois, em 2017,
32:07e ela cresceu mais ainda em 2022.
32:11E, embora ela não tenha vencido
32:12as eleições em 2022,
32:14o partido dela cresceu muito
32:16dentro do parlamento francês.
32:18Então, ele...
32:19Tanto que essa dificuldade
32:21que o Macron tem
32:22de aprovar legislação no parlamento,
32:27justamente porque ele não tem mais maioria
32:28lá dentro do parlamento.
32:30Quem cresceu muito foi
32:31a extrema-direita,
32:33mas ainda a extrema-direita
32:34da Marine Le Pen, digamos assim,
32:36não do Zemmour.
32:37Então, tem uma tendência
32:40a crescer justamente...
32:43Gente, essa questão de imigrante,
32:48ela...
32:50Isso aconteceu na Alemanha também, né?
32:51O parlamento alemão também cresceu
32:53à extrema-direita.
32:54Ela, naturalmente,
32:57ela vai...
32:59Gera um certo sentimento
33:00de xenofobia, sabe?
33:03Uma coisa, tu receber em imigrantes,
33:05a quantidade de imigrantes,
33:07ela faz diferença.
33:08Então, quando tu começa a receber
33:10muito imigrante,
33:11quando começa a aumentar, a aumentar,
33:13e naturalmente começa a aumentar
33:15o índice de violência,
33:17não que se concorde
33:18com as atitudes do Estado,
33:19não é isso,
33:20mas é que eles precisaram
33:25investir muito em segurança,
33:26a França em especial,
33:28mas os outros países também,
33:29com a entrada desses imigrantes.
33:32Tanto, para vocês terem uma ideia,
33:33acho que em 2015,
33:36a gente teve por oito meses
33:38fechamento de fronteiras internas
33:40dentro do espaço Schengen,
33:42não todos os países,
33:43mas vários países
33:44fecharam suas fronteiras internas
33:48por causa do excesso de imigrantes,
33:50porque eles não tinham mais controle
33:53sobre esses imigrantes, né?
33:54E se a gente for comparar 2015,
33:57foi um ano também
33:58com vários atentados,
34:01não só na França,
34:02especificamente em outros países,
34:03ou tentativas de atentado terrorista.
34:06Existe sim uma certa conexão, né?
34:11Então, naturalmente,
34:13daí chega um partido
34:14que se coloca,
34:16olha, nós vamos conter os imigrantes,
34:18nós vamos colocar
34:19uma insegurança na fronteira,
34:21nós vamos segurar a entrada
34:23desses imigrantes,
34:24dentre outras questões, né?
34:25Dentre outras,
34:26não estou me referindo
34:27especificamente a isso,
34:28mas é um ponto forte
34:29essa questão de imigração.
34:31Então, naturalmente,
34:32esse partido,
34:34ele começa a ganhar destaque,
34:36embora o Macron,
34:37se a gente lembrar
34:38na campanha do ano passado,
34:41das últimas eleições,
34:43ele se comprometeu,
34:45só que ele fala muito
34:45na expulsão de quem já está lá dentro, né?
34:48Isso pega mal, digamos assim,
34:50isso é mal visto,
34:51essa expulsar quem já entrou,
34:53ainda que esteja ilegal, né?
34:57A expulsão é um caso,
35:00é um caso muito grave,
35:02não, não,
35:03tu pode,
35:04mesmo,
35:06tu pode controlar,
35:07tu pode verificar,
35:09tu pode regularizar
35:11suas pessoas que estão lá
35:12e que realmente
35:13não for possível regularizar,
35:14então, ok,
35:15retira do país,
35:16mas não assim
35:17uma expulsão no sentido
35:18vamos incentivar bons
35:21imigrantes
35:23com boa formação
35:25e retirar o restante, né?
35:27Então, isso,
35:29enfim,
35:29essa questão de imigração,
35:31ela naturalmente,
35:32ela favorece bastante
35:34a Marine Le Pen,
35:36que se coloca
35:37com um movimento
35:38muito nacionalista, né?
35:40E uma outra coisa
35:41da Marine Le Pen,
35:42não só com relação
35:44à imigração,
35:44mas em relação
35:45ao bloco europeu,
35:46naturalmente,
35:47por ela ser mais nacionalista,
35:49ela vai ser contrária
35:50a outras questões
35:52do bloco europeu,
35:53como a própria questão
35:53do acordo do Mercosul,
35:54que a gente havia falado antes.
35:56Então, naturalmente,
35:57a gente tem um crescimento
35:58dessa extrema-direita
35:59e tem risco, sim,
36:02nas próximas eleições,
36:04digamos assim,
36:05que vai ser
36:06em 2027, né?
36:072027, isso.
36:09Eveline,
36:10e acho que,
36:11além da questão
36:12que você colocou,
36:13de realmente
36:13a França
36:15está recebendo
36:16muitos imigrantes,
36:18ainda tem um pouco
36:18daquela paranoia
36:20que vem com
36:21aqueles teóricos
36:22que falam
36:23da substituição
36:24de população, né?
36:25que a França
36:27em algum momento
36:28vai deixar de ter
36:29uma população
36:29majoritariamente
36:31cristã e branca, né?
36:33Branca e cristã,
36:36católica, né?
36:36E vai ter uma população
36:37totalmente negra
36:39e muçulmana, né?
36:40Isso acho que acaba
36:41temperando aí o caldo, né?
36:46Tempera bastante,
36:47olha,
36:48bastante.
36:49E pior é que
36:51está crescendo mesmo.
36:53E pior é que
36:53está crescendo mesmo.
36:54está aumentando
36:55e isso gera,
36:57gera um temor,
37:00porque, assim,
37:00o índice de natalidade,
37:02né?
37:03Ele não é alto, né?
37:05Tanto que por isso
37:06que se bate muito
37:08nessa questão
37:09da reforma
37:10da Previdência,
37:11porque o sistema
37:12não tem como
37:13se sustentar.
37:14Então, isso já era
37:15uma promessa
37:15do Macron lá
37:16e,
37:18na real,
37:19tirando o governo
37:20de esquerda
37:20que diz que quer
37:21baixar a aposentadoria
37:23para 60 anos,
37:24o...
37:25Melanchon.
37:27O Jean-Luc Melanchon?
37:28Isso, Jean-Luc.
37:30E que ele diz
37:31que é baixar
37:32para 60 anos,
37:33era uma das propostas dele.
37:35Na real,
37:36isso é insustentável.
37:37no momento que você tem
37:39um aumento
37:40da população mais velha
37:42e uma diminuição
37:44do número
37:44de trabalhadores,
37:45o sistema
37:46não vai se manter.
37:47Você está assistindo
37:48a mais uma edição
37:49do Latitude,
37:50que hoje é sobre a França.
37:52Nossa convidada
37:53é Eveline Brígido,
37:54que é professora
37:54do curso
37:55de Relações Internacionais
37:56da ESPN.
37:58Na última resposta,
38:00a Eveline falou
38:00do Jean-Luc Melanchon,
38:01que é o principal nome
38:03da extrema esquerda
38:05francesa.
38:06Eu queria saber de você,
38:07Eveline,
38:07já que tocamos
38:08no nome dele,
38:09em que medida
38:10os extremos políticos
38:13têm se fortalecido
38:14entre o eleitorado francês.
38:17Porque o Melanchon,
38:18embora tenha divergências
38:20muito grandes
38:20em relação à Le Pen
38:22e à direita radical,
38:23ele tem alguns pontos
38:24de concordância.
38:25Ambos têm um lado
38:26nacionalista,
38:27ambos têm muita restrição
38:29à União Europeia
38:30como organização,
38:32e ambos jogaram
38:33praticamente juntos
38:34contra a reforma
38:34da Previdência,
38:35contra o projeto
38:37de reforma
38:37da Previdência,
38:38que o Macron
38:39conseguiu aprovar.
38:40Então, eu queria saber
38:41de você em que medida
38:42a situação política
38:44francesa
38:46favorece um discurso
38:47mais de extremos,
38:49não apenas da direita,
38:49mas também pela esquerda.
38:53Perfeito.
38:55Justamente isso.
38:56O Macron,
38:56ele é o favorável
38:57à União Europeia,
38:58ele é o centro,
39:00digamos assim,
39:01e tanto essa questão
39:04de imigração,
39:05ela tem influência
39:07para ambos os lados,
39:09a questão da União Europeia
39:11também,
39:12porque isso vai,
39:14por exemplo,
39:16a Marine Le Pen,
39:18por ser mais nacionalista,
39:20vai contra a União Europeia
39:21e, de uma certa forma,
39:23o Jean-Luc também,
39:24por ter,
39:27tradicionalmente,
39:28ideais um pouco mais
39:29de esquerda
39:31e a União Europeia,
39:33ela muito inserida
39:34nas questões liberais
39:36e do sistema internacional,
39:38então, naturalmente,
39:39eles,
39:40alguns pontos
39:42acabam sendo
39:43semelhantes,
39:45né?
39:46Mas,
39:47na questão da Previdência,
39:48especificamente,
39:49embora o Jean-Luc,
39:50ele foi contra
39:55porque ele é contra
39:56aumentar,
39:58eu vi muito
39:59a Marine Le Pen
40:00batendo
40:01mais na questão
40:03da forma
40:03como a reforma
40:04da Previdência
40:05foi aprovada,
40:07com essa imposição
40:08do Macron,
40:09isso deteriora muito
40:10o capital político dele,
40:12do que na questão
40:14de fato,
40:15ela não entrou muito
40:17no CERN,
40:18especificamente,
40:19especificamente,
40:19porque é aquilo
40:20que eu tinha comentado,
40:22a gente está
40:23com um problema
40:24na França
40:26de se sustentar
40:29a Previdência,
40:31na verdade,
40:32né?
40:33Então,
40:34qualquer um
40:35que vá analisar,
40:36isso está gerando
40:37um déficit público,
40:38isso vai,
40:39se não se fizer
40:41uma reforma
40:42de fato,
40:44a tendência
40:45desse déficit,
40:46no caso,
40:47é aumentar,
40:49né?
40:49Então,
40:50então,
40:51eu vejo assim,
40:51eles têm
40:52alguns pontos
40:53de convergência,
40:54mas por motivos
40:55diferentes,
40:56digamos assim,
40:56não que eles
40:57concordem
40:58sobre aquela
41:00determinada política,
41:02sabe?
41:02A gente converge
41:04aqui,
41:05mas na verdade
41:06os motivos
41:07de convergência
41:08são outros,
41:10é,
41:11porque são extremos,
41:12né?
41:12A tendência é crescer,
41:13eu acho que a tendência
41:14é aumentar, sim.
41:14Mas você acha
41:15que, de certa forma,
41:16o espaço do centro
41:17no eleitorado francês
41:18está diminuindo
41:19com o crescimento
41:20de uma esquerda radical
41:22e de uma direita
41:23mais radical?
41:25Parece que sim,
41:26infelizmente,
41:27parece que sim.
41:27Eu sempre falo,
41:29eu,
41:30a política é uma coisa
41:31complicada, né?
41:31Não é tão simples
41:32assim de,
41:33de falar,
41:36porque tudo tem
41:37prós e contras,
41:38todos os lados
41:39têm prós e contras,
41:40mas a tendência
41:43está se mostrando
41:44nesse sentido,
41:45não só na França,
41:46inclusive, né?
41:47A gente vê isso
41:48dentro do próprio
41:48governo,
41:49do próprio Brasil,
41:50nas últimas eleições
41:51que a gente teve
41:51no Brasil,
41:52mas a gente viu
41:52os extremos, né?
41:54A gente não teve
41:54espaço para o meio.
41:56E está,
41:57como o Macron,
42:00ele está perdendo
42:01muito capital político,
42:03desde o governo anterior,
42:06quando teve lá
42:07a questão dos combustíveis
42:08e agora a reforma
42:09da Previdência,
42:11enfim,
42:11ele tem mais coisas
42:12aí para enfrentar ainda.
42:14A questão dos imigrantes,
42:15por exemplo,
42:16aí vai ser uma luta.
42:18E tem a questão
42:19energética também.
42:21Então, assim,
42:22ele,
42:22para ele implementar
42:23as propostas dele,
42:25e principalmente
42:25para ele implementar
42:27as propostas
42:28da União Europeia,
42:29porque assim,
42:29a União Europeia,
42:30ela firmou,
42:30por exemplo,
42:31a convenção,
42:32eles fizeram,
42:33a convenção até foi
42:34os países que firmaram,
42:36mas ela tem uma meta,
42:37existe o que eles chamam
42:38na União Europeia
42:39de União de Energia e Clima,
42:40que são normas
42:42da União Europeia
42:43de que até 2050
42:45eles têm que praticamente
42:46zerar a emissão
42:47de gases poluentes,
42:48e a França vai ter
42:49que internalizar isso,
42:51assim como outros países.
42:53E daí?
42:53E isso vai internalizar
42:55a custo
42:56de protestos internos
43:00na França,
43:00e isso vai diminuindo
43:01cada vez mais
43:02o capital político
43:03do Macron.
43:03então a tendência
43:06é que os extremos
43:07comecem a ganhar
43:08mais espaço mesmo.
43:13Sei que a gente está longe
43:14de 2027,
43:16quatro anos ainda,
43:18eu acho cedo
43:18para a gente fazer
43:19qualquer previsão
43:20para 2027,
43:21em quatro anos
43:22muita coisa
43:23pode acontecer,
43:25mas se fosse hoje
43:27as eleições,
43:28a gente,
43:30olha,
43:31é duvidoso,
43:32a gente está
43:32num cenário duvidoso,
43:33e a tendência
43:34a se observar também
43:35a esquerda também
43:36cresceu de 2012
43:38para 2017,
43:39de 2017 para 2022,
43:40então eles também
43:41foram,
43:42foi crescendo,
43:43e está se mostrando
43:45nesse sentido,
43:46os extremos.
43:50Evelina,
43:50eu tenho mais
43:51uma perguntinha aqui,
43:52que é,
43:53mas aí vou pedir
43:53para você ser sincera
43:55na resposta,
43:57que é o seguinte,
43:58nós vamos ter
43:58na semana que vem
43:59essa macúpula aí
44:00da CELAC
44:01com a União Europeia.
44:04O Itamaraty
44:05mandou ali
44:06um comunicado,
44:08só a lista ali,
44:10tem um parágrafo inteiro
44:11só de todos os temas
44:12que vão ser debatidos,
44:13tem de tudo ali,
44:14né,
44:15crescimento global,
44:16enfim,
44:18um monte de coisa.
44:20Agora,
44:20o Lula ensinou
44:21para mim,
44:21em janeiro,
44:23num encontro
44:24da CELAC,
44:24que reúne ali
44:25a América do Sul
44:27e Caribe,
44:27que a CELAC
44:29foi criada
44:30para apoiar Cuba
44:32e para ser
44:32uma aliança
44:35ali sem os Estados Unidos,
44:36né?
44:37Então,
44:38é aquilo
44:38que o Lizakajepo
44:40do Uruguai
44:41chamou de
44:41clube de amigos
44:42ideológicos.
44:44Aí vai essa CELAC
44:46e faz um encontro
44:47com a União Europeia.
44:48Dá para tirar
44:49alguma coisa
44:49de útil daí
44:50ou é só conversinha?
44:54Olá!
44:54Olha,
44:58num primeiro momento
45:00eu acho que é só conversa,
45:01tá?
45:01Mas é que a gente,
45:04o atual governo,
45:05né,
45:05aqui no Brasil
45:06realmente está,
45:07está no,
45:08nada fora do esperado,
45:10digamos assim.
45:11Mas eu não vejo ainda
45:14a União Europeia
45:15nesse aspecto
45:17firmando qualquer acordo
45:19mais concreto.
45:21qualquer coisa
45:24que vai envolver
45:25aí em relação
45:26Cuba
45:27ou outros países
45:29de cunho mais socialistas,
45:31digamos assim.
45:32Até porque
45:33o que a gente está vendo
45:34internamente
45:35dentro da União Europeia
45:36é um crescimento
45:37da direita, né?
45:38Se não
45:39como os chefes
45:40de governo,
45:41mas dentro
45:42dos parlamentos.
45:44E assim,
45:44por mais que
45:45a União Europeia
45:46ela seja um bloco
45:47com várias questões
45:48supranacionais,
45:49eu falei que tem
45:50três instituições
45:53que trabalham
45:54em conjunto
45:55na União Europeia
45:56para tomar
45:58as decisões
45:58supranacionais.
46:00Então,
46:00uma decisão
46:02supranacional
46:03ela é tomada
46:04em conjunto
46:05por três instituições.
46:07Que é a Comissão Europeia,
46:09que é formada
46:09por comissários europeus
46:11independentes
46:12dos seus governos.
46:14O Parlamento Europeu,
46:16que é formado
46:17por deputados
46:18eleitos diretamente
46:19pela população europeia
46:21e o Conselho
46:23da União Europeia
46:24que é formado
46:25por ministros
46:28de Estado
46:29e por delegações
46:31diplomáticas
46:32de cada Estado
46:33membro da União Europeia.
46:34Ou seja,
46:34os Estados
46:35eles têm
46:37uma influência
46:38dentro desse processo
46:39de votação
46:40para gerar
46:41uma decisão
46:42supranacional.
46:43Então,
46:43não é tão simples
46:45a gente aprovar
46:46algo dentro
46:47da União Europeia
46:48que obrigue
46:51todos os Estados
46:52membros
46:52nesse caráter
46:53de supranacionalidade.
46:54Por que eu falo isso?
46:56Porque uma coisa
46:57é a União Europeia
46:57participar
46:58de encontros
46:59com outras organizações
47:03ou com países
47:04tanto com cunhos
47:08mais da extrema-direita
47:09ou mais da extrema-esquerda.
47:11Outra coisa
47:12é ela firmar
47:13acordos
47:14de fato
47:14e eu digo
47:15firmar acordo
47:16firmar um tratado
47:17e colocar
47:19isso em prática.
47:21Daí vem a questão
47:22da conversinha.
47:23Então,
47:23nesse primeiro momento
47:25me parece
47:26um pouco mais
47:27de conversa
47:29de negociação
47:30e daqui a pouco
47:31talvez até
47:32para uma tendência
47:33mais de comércio
47:34do que de outras
47:36negociações políticas
47:37de fato.
47:41Joia.
47:43Eveline,
47:44eu pego mais uma pergunta
47:45para encerrar?
47:45Não, podemos encerrar.
47:47Eveline, é isso.
47:47Super obrigado
47:48pela sua participação.
47:50Esclareceu vários pontos
47:51para a gente
47:52sobre França.
47:53Muito legal conversar
47:54com você.
47:55Muito bom.
47:56Esse foi mais um podcast
47:58Latitude
47:59todo sábado
48:00às seis da noite.
48:01Antes eu falei
48:01às seis da tarde,
48:02então agora às seis da noite.
48:04Nós estamos aqui
48:04conversando sobre
48:05assuntos do mundo
48:07e também
48:08sobre a diplomacia
48:09brasileira.
48:10Ortega, tem algum recado
48:11também?
48:12Lembrando sempre
48:13que Latitude
48:13é um podcast
48:14para situar você
48:15no mundo.
48:16Não falei o Bordô
48:16no começo,
48:17falo agora.
48:18E peço a vocês
48:18como sempre
48:19que curtam,
48:21compartilhem,
48:22espalhem a palavra
48:23do Latitude
48:23para que a internet
48:24saiba que nós
48:25convidamos pessoas
48:26interessantes
48:27como Eveline
48:27discutirmos temas
48:28relevantes
48:29da política internacional
48:31e da diplomacia
48:32brasileira.
48:33Boa noite
48:33e até a próxima.
48:35Tchau, tchau.
48:35Tchau, Eveline.
48:36Tchau, tchau.
48:37Boa noite.
48:40Tchau, tchau.
48:41Tchau, tchau.
48:42Tchau, tchau.
48:42Tchau, tchau.
48:43Tchau, tchau.
48:43Tchau, tchau.
48:44Tchau, tchau.
48:44Tchau, tchau.
48:44Legenda Adriana Zanotto

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