Os especialistas Edmar de Almeida, Valdir Bezerra, Cristiano Vilela e Dora Kramer analisam como o conflito no Oriente Médio está impactando os preços do petróleo. A instabilidade na região, vital para o fornecimento global, gera volatilidade nos valores e reações fiscais em todo o mundo.
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00:00E nós temos agora mais um convidado para falar sobre essa questão do petróleo
00:07que está em compasso de espera, um mercado que agora espera, a partir de agora, o cessar fogo.
00:11O nosso entrevistado é o professor do Instituto de Energia da PUC do Rio de Janeiro,
00:15Edmar de Almeida, chegando para nos explicar.
00:18Tudo bem, professor? Bem-vindo. Boa noite, muito obrigado.
00:22Boa noite, obrigado pelo convite.
00:24Bom, professor, é claro que nós precisamos aguardar e saber como todo esse processo de cessar fogo vai se desdobrar,
00:32mas hoje o preço chegou a disparar, depois caiu. O que o mercado entendeu?
00:38É um mercado, claro, primordial para o funcionamento do planeta, com a ameaça do fechamento do estreito,
00:45que isso poderia causar algo muito mais grave, mas de uma certa maneira, o que esse mercado está aguardando, professor?
00:50Bom, hoje o que prevaleceu no mercado foi o entendimento de que o Irã não iria partir por uma estratégia de radicalização do conflito
01:05que pudesse afetar o mercado internacional de maneira duradoura, o mercado internacional de petróleo.
01:12O que seria o fechamento do estreito de Hormuz, enfim, o bombardeamento de instalações petroleiras de países vizinhos, enfim, esse tipo de atitude.
01:26Então, o mercado passou a receber informações de especialistas do setor de segurança
01:34que iriam no sentido de que o Irã não ia apostar nessa estratégia de radicalização.
01:41Então, foi isso que aconteceu. Ao longo do dia, essas informações foram se confirmando
01:49e culminou aí com o anúncio do cessafogo em relação ao conflito.
01:56Mas, basicamente, o mercado de petróleo se encontra hoje numa situação mais confortável
02:03de que alguns anos atrás, com um estoque de petróleo no mundo em níveis elevados.
02:13E isso permitiu com que essa tensão toda não causasse nenhum tipo de ruptura no mercado.
02:22Causa volatilidade, evidentemente, porque isso não é uma questão simples.
02:26Mas, você não tem uma ruptura no mercado com preços disparando e se sustentando em patamares muito elevados.
02:36Professor, vamos chamar os nossos comentaristas.
02:38Começo agora com a pergunta de Cristiano Villela para o professor Edmar de Almeida,
02:44falando sobre esse mercado de petróleo.
02:46E estamos agora em compasso de espera.
02:48Não é isso, Villela?
02:49Exatamente, estamos todos aí acompanhando as notícias que chegam de último momento
02:56e que acabam mudando um pouco o panorama político, panorama da guerra na região.
03:01Eu gostaria de perguntar ao professor se, diante desse cenário que tivemos ao longo do dia de hoje,
03:07de uma certa queda nos preços do petróleo, contrariando, talvez, um pouco, algumas previsões,
03:12contrariando, talvez, a expectativa de que, diante de um conflito como esse,
03:17tivéssemos um aumento nos preços do petróleo de uma forma geral.
03:21Se essa medida tende, diante agora, de uma confirmação de um cessar-fogo,
03:28se tende que haja realmente uma diminuição no preço do petróleo,
03:33ou se, eventualmente, a expectativa seria de uma estabilização,
03:37que, diante da queda já sofrida ao longo do dia de hoje,
03:40se, de fato, já se chegou no meio termo e que a tendência, eventualmente,
03:45poderia ser de manutenção desse preço.
03:49Olha, a previsão de preço do petróleo é sempre muito difícil, né?
03:54Mas eu acho que o mercado se surpreendeu com o que aconteceu com o preço do petróleo nesse conflito, né?
04:03Na medida em que a tensão geopolítica chegou ao seu clímax, né?
04:08Nesse final de semana, os preços não refletiram o tamanho do problema que a gente está enfrentando no contexto geopolítico.
04:17E por que isso, né?
04:19Porque o mercado de petróleo, o fundamento do mercado de petróleo, né?
04:25É um fundamento de conforto para o suprimento, né?
04:30A gente tem uma previsão aí de aumento de produção de petróleo esse ano,
04:35acima da produção, acima do crescimento da demanda.
04:40Ano passado isso já aconteceu, né?
04:41A demanda ficou abaixo do crescimento da produção, inclusive os estoques aumentaram, né?
04:47Então é um contexto de um mercado bem equilibrado, né?
04:52Sem grandes problemas para o abastecimento.
04:56Diante disso, né?
04:57Pode ser que a gente tenha quedas aí no preço do mercado de petróleo.
05:03Porque no último encontro da OPEP, né?
05:07Da OPEP Plus, né?
05:09Eles não cortaram, né?
05:12Inclusive aumentaram a produção.
05:13E eu acho que o mercado está vendo aí que eventualmente nós temos um excesso de petróleo no mercado, né?
05:23Por isso que não teve essas disparadas dos preços.
05:28E isso pode provocar uma revisão das projeções com relação ao preço
05:34e a revisão do posicionamento dos agentes no mercado com quedas do preço do petróleo, né?
05:40A gente já teve uma queda muito expressiva hoje, né?
05:42E pode continuar acontecendo isso, forçando aí a OPEP a reposicionar, né?
05:49Se reposicionar no mercado.
05:51Professor, a questão agora é de Dora Kramer.
05:53Professor Edmar de Almeida.
05:55A gente está falando sobre o mercado de petróleo no planeta.
05:59Dora Kramer.
06:01Boa noite, professor.
06:02Eu ouvi hoje qualquer coisa sobre o aumento de frete.
06:06Por causa desses dias de conflito, aumento de frete para nós,
06:10para a nossa exportação de petróleo.
06:14Aí eu queria saber do senhor se isso confere e se teve algum reflexo.
06:19Esses dias, o fato, claro, a gente não teve a decisão mais radical
06:23do fechamento do Estreito de Hormuz,
06:26mas de qualquer maneira tivemos um conflito nessa área.
06:30Teve algum reflexo para nós, para o nosso mercado?
06:36Veja, em momentos de grande instabilidade, né?
06:40Como é o que a gente está vivendo, é muito comum, né?
06:44Parte do petróleo, ele ser estocado nos próprios navios, né?
06:49Os navios...
06:50Isso aconteceu, por exemplo, durante a pandemia, né?
06:53Os fretes subiram, por quê?
06:54Porque os navios que eram utilizados, né?
06:59São utilizados para transportar o petróleo,
07:01começam a ficar com o petróleo parado nos navios
07:04e ocupando essa infraestrutura, né?
07:07Então, certamente, o que aconteceu aí no Oriente Médio,
07:12afeta o mercado de fretes, de navios.
07:16Parte da frota fica fora do mercado de transporte, né?
07:23Isso afeta o Brasil.
07:25O mercado de petróleo, o mercado internacional de petróleo,
07:29ele não está na sua normalidade já há muito tempo, né?
07:33Porque desde a guerra da Rússia,
07:36os transportadores que, por exemplo,
07:39transportavam o petróleo russo,
07:43passaram a sofrer sanções.
07:46Então, parte da frota que estava transportando o petróleo russo
07:50não pode mais transportar o petróleo russo.
07:52Então, isso cria uma série de desequilíbrios, né?
07:57De distúrbios, vamos dizer assim,
07:59no mercado de transporte de petróleo.
08:01Então, assim, essa, inclusive, é uma razão também
08:04pela qual o mercado se surpreendeu.
08:08A gente achou que ia ter uma grande reação do mercado
08:11em relação ao conflito do Irã e isso não aconteceu,
08:16porque o mercado já foi muito chacoalhado, né?
08:18Com o conflito da Rússia e da Ucrânia,
08:21que são países que estão no mercado de petróleo.
08:24A Rússia é um grande exportador, né?
08:25Que passou a sofrer sanções,
08:27não tem que buscar novas rotas,
08:29novos transportadores para o seu óleo, né?
08:33Então, é um mercado que está bastante chacoalhado, né?
08:35E certamente esse evento aqui teve efeitos no mercado de frete,
08:41mas eu não acredito que isso vai causar problemas para o Brasil, né?
08:44O Brasil, ele está, vamos dizer assim,
08:46o petróleo brasileiro, ele é exportado para a China,
08:49para a América do Sul e para a Europa, né?
08:53E o Brasil é visto como um supridor alternativo ao Oriente Médio, né?
08:58Então, eu acho que isso não nos atrapalha,
09:01vamos dizer assim, no mercado do petróleo.
09:03Nosso comentarista de hoje, nosso comentarista convidado,
09:08faz a próxima pergunta para o professor Edmar.
09:10Professor Valdir.
09:13Minha pergunta ao professor Edmar é
09:15qual pode ser o comportamento da China
09:17nesses próximos dias e semanas
09:20em se confirmar o cessar-fogo,
09:23dado que essa região do Oriente Médio é estratégica para a China,
09:25porque ela importa de 30% a 40% do seu petróleo,
09:33justamente através do Estreito de Hormuz,
09:35que era um dos pontos focais desse conflito?
09:39Eu acredito que certamente a China tem jogado um papel
09:43no sentido de tentar acalmar a situação geopolítica,
09:49porque não interessa a China, né?
09:50É uma disparada nos preços do petróleo nesse momento, né?
09:54A China, ela está num momento delicado para a economia, né?
09:59Ela está enfrentando aí os desafios das tarifas, né?
10:03A economia vem se desacelerando.
10:06Então, não é no interesse da China
10:07um grande desequilíbrio no mercado internacional do petróleo,
10:12que trouxesse os preços para além de 100 dólares.
10:14isso poderia causar muitos danos econômicos para a China.
10:19Então, eu acredito que a China tenha atuado
10:23no sentido de tentar acalmar a situação.
10:26Isso também não era o...
10:27Essa disparada dos preços não era o interesse dos Estados Unidos, né?
10:31E da Europa, porque eles estão buscando
10:34uma redução da inflação.
10:37No caso americano, isso é fundamental para a queda das taxas de juros,
10:39que é o que o governo está buscando aí, né?
10:42Então, eu acho que, muito possivelmente,
10:46a gente vai ver o cessa-fogo,
10:47porque isso interessa a todos, né?
10:51Inclusive, a própria Israel e Irã,
10:56no caso de Israel,
10:58o que agora pode cantar vitória,
10:59que atingiu os seus objetivos estratégicos
11:01de neutralizar o programa nuclear.
11:04Isso dá bastante esporte político
11:07para o primeiro-ministro Netanyahu, né?
11:11E no caso do Irã, que está se vendo ameaçado, né?
11:14O regime está nas cordas.
11:18Então, acabar com o conflito militar nesse momento,
11:22ganhar pelo menos algum tempo,
11:24interessa ao regime, né?
11:26Então, eu acho que todo mundo está atuando
11:28aí no sentido de acalmar a situação,
11:31porque não é no interesse dos atores,
11:34dos principais atores,
11:35que esse conflito causasse
11:39uma ruptura do mercado internacional
11:42de petróleo,
11:43um terceiro choque do petróleo.
11:45Professor Edmar de Almeida,
11:46do Instituto de Energia da PUC do Rio de Janeiro.