- 22/06/2025
O Conselho de Segurança da ONU realiza uma reunião de emergência neste domingo (22) após os ataques dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã. Roberto Uebel, professor de relações internacionais, concedeu entrevista ao Fast News e falou sobre o que espera da reunião do Conselho da ONU.
Apresentador: David de Tarso
Entrevistado: Roberto Uebel
Assista ao Fast News completo: https://youtube.com/live/LspdC5omQ2E
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/c/jovempannews
Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/
Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews
Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews
Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/
TikTok:
https://www.tiktok.com/@jovempannews
Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews
#JovemPan
#FastNews
Apresentador: David de Tarso
Entrevistado: Roberto Uebel
Assista ao Fast News completo: https://youtube.com/live/LspdC5omQ2E
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/
Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/c/jovempannews
Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/
Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews
Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews
Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/
TikTok:
https://www.tiktok.com/@jovempannews
Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews
#JovemPan
#FastNews
Categoria
🗞
NotíciasTranscrição
00:00Nós vamos receber agora aqui no Fast News o professor de relações internacionais,
00:05justamente Roberto Webel, para discutir o conflito no Oriente Médio,
00:09a reunião na ONU que está sendo realizada também e todas essas falas que estão sendo ditas.
00:15Já gostaria de começar perguntando sobre qual a expectativa você pode analisar
00:21sobre aquilo que vai ser falado na ONU e se há alguma projeção de que algo realmente avance
00:27quanto a uma pacificação, pelo menos nas tensões, em relação a Estados Unidos, Irã e Israel que estão participando.
00:37Boa tarde.
00:39Boa tarde, David. Todos estão acompanhando aqui a Jovem Pan News.
00:43Olha, eu sou muito cético com relação a decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
00:49Haja visto os exemplos recentes que a gente teve na guerra na Ucrânia, por exemplo, que começa em 2022.
00:54Eu fiz uma análise que eu publiquei isso no ano passado.
00:58Menos de 10% das reuniões do Conselho de Segurança da ONU versaram exclusivamente sobre a guerra na Ucrânia.
01:06Menos de 1% deliberou, ou seja, decidiu sobre algo.
01:10Então, sim, a gente tem o debate nesse momento, como a gente está vendo aqui nas imagens, né?
01:14Mas muito dificilmente o Conselho de Segurança irá decidir algo, principalmente algum tipo de sanção contra Israel, contra o Irã, ou até mesmo contra os Estados Unidos,
01:27porque nós temos aí países que têm o poder de veto, países membros permanentes, Estados Unidos, Rússia e China,
01:34que estão direta ou indiretamente envolvidos nesta guerra.
01:39A gente vai ter, sim, de fato, um debate, provavelmente muito acalorado, como está acontecendo agora, né?
01:46Mas pouca deliberação, pouca decisão por meio do Conselho de Segurança.
01:50Minha aposta, David, é que isso seja delegado para a Assembleia Geral da ONU,
01:56ou seja, para todos os países tomarem algum tipo de decisão.
02:01Mas, novamente, muito difícil que a gente veja alguma decisão colegiada da Assembleia da ONU,
02:08alguma decisão específica do Conselho de Segurança ou da própria Organização das Nações Unidas,
02:14porque são vários interesses divergentes nesta guerra.
02:18Claro, tem os interesses políticos e geopolíticos, tanto de Israel como dos Estados Unidos,
02:25mas também a interesses econômicos e comerciais que envolvem a questão do petróleo, do acesso ao gás,
02:31também do próprio urânio, que pode levar o seu enriquecimento à produção de armas nucleares,
02:38a bomba atômica, por exemplo.
02:40Então, ficará muito na guerra de narrativas o papel da ONU e de outros organismos multilaterais neste momento.
02:49A minha aposta é que se nós tivermos, a gente não sabe quando isso vai acontecer,
02:54negociações para um cessar fogo, para o fim dessa guerra,
02:59elas serão mediadas por um outro país ou por um conjunto de países.
03:03Muito dificilmente isso será resolvido no âmbito das Nações Unidas,
03:07infelizmente, pensando aí no mundo, no sistema multilateral.
03:12Agora, você acredita que realmente pode haver uma escalada com a inserção de outros países?
03:17Rússia, uma grande potência nuclear também, é importante a gente frisar isso,
03:22porque no mundo não existe outra potência nuclear fora da Rússia, né?
03:26Claro que o poder bélico dos Estados Unidos ainda é o maior internacionalmente,
03:31juntando, somando essas forças, tanto nuclear como também das potências de tecnologia e tudo mais,
03:37só que a Rússia também tem um poderio e articula junto com o Irã,
03:42mesmo que seja de forma, vamos dizer assim, mais velada do que propriamente os Estados Unidos e Israel.
03:48A China também tem grande interesse no Irã, porque o Irã fornece petróleo à China,
03:54até a expectativa aí de uma possibilidade de fechamento do Estreito de Hormuz,
03:59por onde passa cerca de 30% do petróleo, então todas essas questões a gente precisa analisar também, né?
04:05Exato. É possível, sim, que nós tenhamos envolvimento de Rússia e China nesta guerra,
04:13mas neste momento não é provável.
04:17Rússia seria mais provável que a China, mais execuível, digamos assim.
04:23Não é por menos que amanhã, segunda-feira, o chanceler iraniano irá se encontrar com o Sergei Lavrov,
04:28chanceler russo em Moscou, muito provavelmente irá se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin
04:35para negociar o ingresso da Rússia ou até tentar negociar a mediação da Rússia neste conflito.
04:43Uma terceira possibilidade também seria negociar uma espécie de um asilo,
04:47de um salvo conduto para o Ayatollah Ali Khamenei e também os outros membros do alto escalão do governo iraniano
04:56numa eventual queda, capitulação do regime iraniano.
05:01A China, David, neste momento eu acho mais improvável, embora seja possível,
05:06pelas questões como você bem colocou, as questões relacionadas ao petróleo,
05:09fornecimento de gás, o próprio processo, os planos de expansão geopolítica e comercial da China
05:16passam pelo Irã, chamada Belt and Road, a nova rota da seda,
05:21ou numa tradução direta, a iniciativa Cinturão e Rota, passam pelo território iraniano.
05:26Então, neste momento, a China adota um tom pragmático, ao mesmo tempo condenatório das ações
05:31de Estados Unidos e Israel com relação ao que a China considera uma violação do território,
05:38mas ela não ingressaria diretamente no conflito porque significaria trazer outras questões geopolíticas
05:43também para esta guerra.
05:46A Rússia seria talvez mais provável.
05:48Mas o que eu acho que é importante a gente entender é que o envolvimento das três grandes potências
05:54significaria uma escalada do conflito, não apenas mais para as fronteiras, digamos assim,
06:01regionais do Oriente Médio.
06:03Aí nós teríamos uma escala global, teríamos um conflito de escala internacional.
06:09Não acredito aqui numa tese de uma terceira guerra mundial, uma segunda guerra fria,
06:14porque as características, o momento no qual nós estamos vivendo hoje é muito diferente
06:18do início do século XX, quando teve a Primeira Guerra Mundial, ou ali metade do século XX,
06:23quando a gente tem a Segunda Guerra Mundial e a própria Guerra Fria iniciando.
06:28Hoje a conjuntura é outra, mas não seria menos grave.
06:32O que eu tenho reiterado, falei até aqui no sábado, no JP Internacional, é que o momento
06:38é de grande gravidade, um momento de grande tensão e que traz preocupações, sim, para
06:45todas as grandes economias, as grandes potências, mas, obviamente, também para todo o sistema
06:50internacional.
06:52Não, sem dúvidas, né?
06:53E essa escalada realmente pode haver, porque o Irã já garantiu, nós vamos contra-atacar,
06:59inclusive fazendo ameaças às instalações dos Estados Unidos, às bases militares que
07:04ficam no Oriente Médio.
07:06Então, obviamente, os Estados Unidos, caso seja atacado de fato, não vão deixar barato,
07:11né?
07:13Exato.
07:14E eu não acredito, David, que acontecerá um ataque direto do Irã contra o território
07:20norte-americano, né?
07:21Na América do Norte, acho muito difícil, até pela capacidade tecnológica, capacidade
07:26de alcance dos mísseis iranianos, né?
07:28Eles têm um alcance muito limitado, mas existe, sim, uma possibilidade real que o Irã adote
07:35um tom de retaliação contra as bases norte-americanas em toda a Península Arábica.
07:41Isso nos remete a onde?
07:43Catar, Bahrein, Kuwait, o próprio Iraque, a presença militar em Oman, lembrando que
07:49Oman é outro país que controla o Estreito de Hormuz, tem uma parceria com os Estados
07:55Unidos, uma proximidade com os Estados Unidos, mas também não deseja um conflito no seu
07:59território.
08:01Tanto que Oman se coloca, quando começa o conflito, como um candidato a mediador entre
08:06o Irã e Israel, entre o Irã e os Estados Unidos, porque não deseja ter um conflito
08:12internacional nas águas do Estreito de Hormuz, porque sabe que isso custaria muito caro para
08:18a sua economia.
08:20Eu acho que para além da gente olhar os impactos geopolíticos desta guerra, é também
08:25olhar para os impactos econômicos e comerciais.
08:29Em se confirmando, David, para quem está assistindo aqui a Jovem Pan News, esse fechamento
08:35ou um maior controle do Estreito de Hormuz, nós estamos falando aí de um escoamento da
08:40produção de petróleo de 20% a 25%, alguns números colocam até 30% do escoamento da produção
08:47de petróleo mundial, que abastece, ou seja, todo o sistema internacional, mas principalmente
08:54China, economias do Sul e Sudeste Asiático, e que causaria um efeito cascata.
09:01Algumas projeções, por exemplo, de bancos norte-americanos e de consultoria de análise
09:06de risco colocam que aquele barril de petróleo que na semana passada chegou em quase 70 dólares,
09:11ele poderia chegar num ápice de 120, 126 dólares, caso o conflito se prolongue e tenhamos este
09:20fechamento do Estreito de Hormuz.
09:23Em termos muito práticos e muito didáticos, o que significaria este aumento do preço do
09:28barril de petróleo? Frete mais caro, combustíveis mais caro, logística mais cara e impacto nos
09:35preços. O que significa impacto nos preços? Inflação, que é o grande temor, tanto do
09:41governo presidente Trump nos Estados Unidos, como dos governos europeus, diria até aqui
09:45do Brasil, do mundo inteiro, uma preocupação com um novo ciclo de inflação global, que
09:51aí afetaria as taxas de crescimento e acirraria, veja como as coisas se conectam, acirraria
09:56aquela guerra comercial que nós vimos no primeiro trimestre deste ano, com a política
10:02tarifária do presidente Trump. Então, a gente tem este momento de hostilidades maiores,
10:10mas evidentemente o governo norte-americano trabalha com este cenário de ter que em algum
10:16momento abrir as negociações com o Irã para evitar esse controle total do Estreito de
10:21Hormuz e afetar a produção e escoamento de petróleo, que teria sim efeitos muito
10:26da nossa efeitos, muito prolongados para a economia mundial, especialmente para as
10:31grandes potências econômicas, como os Estados Unidos e a própria China, em certa medida.
10:35Sem dúvidas, e até trazendo reflexos aqui para o Brasil, porque no primeiro momento,
10:39então, o barril do petróleo sendo valorizado, o Brasil se beneficiaria com a Petrobras, a
10:44estatal, mas também teria impactos aqui, porque se vende para o mercado externo, falta para
10:49o mercado interno e geraria, então, um aumento nas bombas de combustíveis em relação
10:53a diesel, gasolina, os componentes do petróleo.
10:57Agora, eu gostaria da sua avaliação também, quanto a um aspecto muito importante sobre o
11:02Estreito de Hormuz, porque muito se fala sobre a possibilidade de fechamento dele, até o
11:07parlamento iraniano já aprovou essa medida, mas alguns analistas dizem que, se o Irã
11:14fizer isso, ele pode ter problemas também com os países vizinhos que utilizam o Estreito
11:20de Hormuz, né?
11:22Sim, ele pode jogar outros países da região para uma guerra que eles não desejam.
11:26E nós estamos falando aí de aliados dos Estados Unidos, ou até mesmo países adversários
11:31do regime iraniano.
11:32Emiratos Árabes, Qatar, Bahrein, Oman, a própria Arábia Saudita, grande adversária histórica
11:39do Irã, poderia ser jogada para este conflito em se confirmando esse fechamento do Estreito
11:45de Hormuz.
11:46Aí a questão é quem faria a liberação, a libertação do Estreito de Hormuz, eventualmente
11:52se fechado pelos iranianos.
11:54Por isso, David, quando começam as hostilidades entre os dois países, o governo da Arábia Saudita
12:00emite um comunicado que eu considero histórico, defendendo a soberania do território iraniano.
12:07Veja bem, sauditas e iranianos são adversários históricos.
12:11Os inimigos, eu diria, na região, saudistas são o segundo maior aliado dos Estados Unidos
12:16na Península Arábica, em todo o Oriente Médio, em certa medida, e vão defender o Irã
12:21com relação aos ataques preventivos do governo de Benjamin Netanyahu de Israel.
12:26Porque sabe que, se escalasse este conflito, obrigatoriamente a Arábia Saudita teria que
12:34tomar um posicionamento para defender os seus interesses comerciais, os seus interesses
12:39estratégicos.
12:40Então, sim, a gente pode ver, e muito provavelmente a gente vai ver, essa escalada regional com
12:45o envolvimento de outros países.
12:47Ora, solicitando, pedindo uma intervenção diplomática, uma negociação, ou no extremo,
12:54num cenário mais extremado, até mesmo o envolvimento militar.
12:58Então, eu acho que é um momento muito delicado, não apenas para Israel, para o regime dos
13:03ayatollahs no Irã e para os Estados Unidos, mas como para toda a região, porque isso pode
13:08ter repercussões para suas economias.
13:10Sem dúvida alguma.
13:12Inclusive, ainda há pouco, na reunião da ONU que está sendo realizada, a gente tem
13:16acompanhado as imagens ao vivo.
13:17Mas eu vou pedir para, nesse momento, o pessoal projetar na tela para a gente a arte que a gente
13:22preparou, justamente falando sobre as instalações nucleares no Irã, onde elas ficam exatamente
13:27no Terã, porque tem em Fordo, também tem em Condab, tem em Natanz, tem em Isfahan e também
13:36tem em Buzesh.
13:38Então, é justamente essas instalações nucleares que estariam fazendo o enriquecimento de urânio.
13:45Segundo os Estados Unidos, por meio desse ataque, até eles utilizaram uma bomba que é capaz de
13:52penetrar cerca de 80 metros até de distância, de profundidade, porque corresponde realmente
14:00a uma profundidade muito grande, onde ficam essas instalações nucleares.
14:05Eles utilizaram, então, uma bomba especial chamada... vou pedir até para o pessoal projetar
14:11a outra arte na tela sobre a bomba que é capaz de destruir o bunker.
14:16Essa daí, ó.
14:16Então, a GBU-57, a bomba que destrói bunker, pode penetrar o solo e perfurar rocha e concreto
14:23armado antes de explodir.
14:25É uma tecnologia que só os Estados Unidos têm.
14:29E a MOP, então, no primeiro momento, ela é lançada por um avião bombardeiro, um B-2.
14:34Ela pode penetrar cerca de 60 metros de profundidade sob a Terra, apesar de alguns analistas até
14:42dizerem que não, que a profundidade é ainda maior, de 80 metros de profundidade.
14:48Ela tem cerca de 80 centímetros e 6 metros.
14:53E ela pesa 13 toneladas, contém mais de 2 toneladas de explosivos.
14:59E essa bomba, ela foi utilizada, então, pelos Estados Unidos nesse ataque, apesar do Irã dizer
15:07que não houve qualquer abalo estrutural em relação às instalações nucleares.
15:13Na sua avaliação, você acredita que realmente o Irã pode gerar a narrativa de que, olha,
15:19não houve qualquer abalo e os Estados Unidos ter tido êxito ou não?
15:24Mais necessariamente, pode ser verdade de que os Estados Unidos não conseguiu ter êxito.
15:30Porque, durante a coletiva de imprensa, com o secretário de Estado-Maior, ele falou ali
15:36que os Estados Unidos teve êxito, foi uma operação silenciosa, que nem mesmo o parlamento
15:42teve acesso, até pode trazer questões aí para o Trump em relação a isso, porque
15:47precisa da aprovação, de acordo com as regras deles, para que fosse feito esse ataque.
15:53O senhor acredita que realmente pode haver uma destruição, pode ter tido um abalo ou
16:00não necessariamente?
16:01Porque cada um gera a sua própria narrativa, né?
16:03O Irã garante que não, os Estados Unidos disseram, olha, foi uma operação maravilhosa.
16:08E conseguimos, então, acabar com esse enriquecimento de urânio.
16:14Isso faz parte de uma guerra de narrativas.
16:16Além da guerra militar e econômica que a gente tem observado, temos uma guerra de narrativas
16:22também, que carece de confirmação.
16:24Antes de entrar, que a gente estava acompanhando o que a gente tem de acesso à imprensa iraniana,
16:29e ela, em uníssono, coloca que os Estados Unidos atingiram apenas a entrada dessas unidades
16:34de enriquecimento de urânio e não teria afetado a produção, que, inclusive, é uma grande
16:40preocupação da Agência Internacional de Energia Atômica e, eu diria, da comunidade
16:43internacional.
16:45Não é questão apenas da destruição e da guerra, mas do contágio, porque se existir
16:50algum tipo de derramamento de urânio ou de qualquer outro metal pesado, ou qualquer
16:55outro elemento que possa contaminar o solo, mas também o ar, isso pode ter consequências
17:01muito drásticas para a população civil, que não tem nenhuma relação com o conflito.
17:07Haja vista exemplos que nós tivemos no passado, Chernobyl, enfim, outros lugares no mundo inteiro.
17:12Então, é uma guerra de narrativas.
17:14Os Estados Unidos, por um lado, colocam que teve sucesso.
17:17Eu sou muito cético com ambas as narrativas, prefiro olhar num olhar mais imparcial, considerando
17:24as questões técnicas.
17:25Algumas imagens de satélite apresentadas pela imprensa norte-americana, inclusive imprensa
17:31boa parte que defende as ações do governo Trump, mas também uma imprensa mais de oposição,
17:37ambos também têm colocado que houve, sim, uma mudança nas imagens de satélite com relação
17:43ao solo, mas que talvez essas bombas não tenham alcançado o seu objetivo.
17:49Penso que tudo carece de tempo.
17:51A gente tem que ver qual será a resposta do governo iraniano, se de fato esse programa
17:55nuclear foi ou não comprometido, porque ele pode ter sido destruído ou pode ter sido
18:01atrasado.
18:02Ou seja, aqueles avanços, entrar num processo de stand-by, precisam recuperar o tempo que
18:07foi perdido agora com essa destruição.
18:09Então eu prefiro aguardar quais serão de fato os resultados, vamos ver se a Agência
18:14Internacional de Energia Atômica terá autorização, mais uma vez, do regime iraniano para fiscalizar.
18:21Penso que seja difícil, amanhã vai acontecer uma reunião em Genebra para discutir isso,
18:27inclusive, mas a gente tem também uma guerra de narrativas que é muito difícil saber se
18:31de fato os Estados Unidos alcançou sucesso ou não nesses ataques às instalações de
18:36enriquecimento urânio no Irã.
18:38É, e essas guerras de narrativas, elas sempre são geradas.
18:41Eu me lembro que na década de 70, por exemplo, a Argentina acusava o Brasil de fazer enriquecimento
18:47de urânio, daquela usina nuclear que hoje já existe aqui no Rio de Janeiro, em Angra
18:53dos Reis, até recentemente a conheci, essa usina estive por lá.
18:57Então assim, essas narrativas elas vão sendo geradas, mas algumas coisas causam estranheza,
19:02posso colocar assim estranheza, porque a profundidade, ou seja, realmente são instalações subterrâneas
19:09com uma grande profundidade.
19:12Tem a questão também desses observadores não terem acesso a essas unidades, então fica
19:19realmente a própria fala do representante da Agência Internacional de Energia Atômica
19:25dizendo, olha, há evidência sim que Irã estava fazendo enriquecimento de urânio para
19:31a fabricação de uma bomba nuclear.
19:33Então todas essas narrativas vão sendo geradas.
19:36Mas o fato é que a confirmação dessas informações, ela se torna ainda mais difícil.
19:40Exato, e essa confirmação ela até pode vir pelas imagens de satélites, mas se não existir
19:47uma presença em loco para verificar de fato se aconteceu algum dano estrutural, até por
19:53questões de segurança.
19:54Tudo bem, tem o objetivo geopolítico de Israel e Estados Unidos, desculpa, em destruir o programa
20:02nuclear iraniano, mas também tem a questão de segurança.
20:05Essa é uma preocupação, todos nós analistas internacionais, que buscamos aí uma certa
20:10imparcialidade na análise, a questão, bom, se houve um dano estrutural e houver este vazamento
20:17de urânio ou qualquer outro material de autocontágio, tanto do solo, mas também do ar ou cursos
20:23d'água, isso pode trazer um impacto muito significativo para a própria população iraniana e dos países
20:30circundantes, dos países vizinhos.
20:31E isso é uma preocupação que eu acho que não está, digamos, na agenda prioritária,
20:38por exemplo, hoje do Conselho de Segurança da ONU, como a gente está vendo agora, mas
20:41é uma preocupação que deverá ou deveria estar na agenda, porque pode trazer consequências
20:47aí muito significativas para o próprio Irã e também para esses países da região.
20:53Por enquanto a gente fica nessa guerra de narrativas aguardando uma eventual confirmação
20:59do regime dos ayatollahs, o governo iraniano, se de fato houve uma destruição do programa
21:04nuclear e também evidências mais fortes do governo norte-americano e do governo israelense,
21:13se de fato esse programa foi comprometido ou foi destruído.
21:16As declarações recentes, por exemplo, do ministro da Defesa de Israel e também do secretário
21:21de Defesa dos Estados Unidos colocam que, se não se confirmar a destruição total do
21:28programa nuclear, os ataques continuarão acontecendo nos próximos dias contra essas instalações
21:35no território iraniano.
21:37É, e o risco, né, de que realmente eles estivessem fazendo isso muito próximos da conclusão
21:43de uma bomba nuclear e as narrativas, como você disse, né, a gente tem debatido sobre
21:48as narrativas, gostaria de trazer um outro ponto também, Roberto, quanto à manifestação
21:52oficial do governo brasileiro condenando essa ofensiva dos Estados Unidos nas instalações
21:57nucleares no Irã.
22:00Você, de que forma que você interpreta também essa manifestação por parte do Brasil condenando
22:06essa ação dos Estados Unidos?
22:08É, o governo brasileiro ele mete uma nota, né, que segue uma tradição diplomática
22:14sempre quando há um entendimento da política externa brasileira e dos seus atores de que
22:20houve uma violação do direito internacional ou que houve uma violação de soberania de
22:25um Estado, a soberania territorial de um Estado, melhor dizendo, o Brasil condena esse tipo de
22:32violação, né.
22:33Então, segue uma tradição diplomática, digamos assim.
22:38Eu acho que um outro ponto também, David, a ser colocado, o Irã foi um dos países que
22:42ingressou recentemente no Fórum dos BRICS, né.
22:45Então, ele tem um nível de parceria estratégica com o Brasil por meio dos BRICS.
22:53Sim, também tem uma relação comercial importante, o Irã, ele importa muito do que é produzido
22:59substancialmente em questão de proteína animal, né, por parte do Brasil.
23:04Então, há uma relação comercial e uma relação política entre os dois países.
23:09Por isso, o Brasil adota este tom de condenação dos ataques, né, que está comprometido, digamos
23:16assim, com a tradição diplomática brasileira.
23:18Agora, a questão é se, de fato, existirá algum tipo de resposta do governo Trump a esta
23:24declaração, porque implicitamente fica, de fato, o Brasil condenando as ações dos
23:30Estados Unidos.
23:31Me parece, neste momento, que os Estados Unidos, o governo Trump, não está com foco,
23:37com atenção nas declarações de países que condenem as suas ações contra o Irã.
23:41Não foi apenas o Brasil que emitiu notas nesse sentido, ou o Chile, aqui na América do
23:45Sul também emitiu uma nota, até eu diria mais dura, que a do governo brasileiro, né,
23:49o governo da Colômbia também, o governo do México, e aparentemente não houve nenhuma
23:55resposta do governo norte-americano, que me parece estar centrado no seu objetivo, de
24:00fato, de desmantelar o programa nuclear iraniano.
24:05Até porque, né, o nosso país não tem tanto protagonismo em relação à possibilidade
24:09de resolução do conflito, muito menos de intervenção, né.
24:13Então, a nota é mais para, olha, estamos contra essa ação dos Estados Unidos, mas
24:18a manifestação, como você bem disse, tem pouco o efeito em relação à interpretação
24:23dos americanos, os israelenses, apesar de, às vezes, trazer questões diplomáticas após
24:30esse período de tensionamento, porque eles estão mais preocupados, realmente, com os ataques,
24:34de se proteger, de realmente promover uma ofensiva eficaz e não necessariamente nas falas
24:41que estão sendo repercutidas em torno desse tema.
24:44Eu vou pedir para você permanecer aqui com a gente, mas...
Recomendado
44:53
|
A Seguir
4:46