00:00No Pecuarista em Prosa de hoje eu converso com uma pecuarista que tem um histórico com a raça caracu,
00:08zootecnista e sempre com um sorriso traz pra gente boas lembranças daquilo que a gente fala que é a história da pecuária.
00:18Aqui ao nosso lado estamos com a Isabel Penteado.
00:23Isabel, prazer falar contigo aqui na Feicorte.
00:27Queria que você trouxesse pra gente, antes de mais nada, um pouco do seu histórico,
00:32porque as pessoas vão conhecer, pessoas que tiveram ali a força de encarar a pecuária, naquela época ainda mulher.
00:42Então, é o seguinte, eu sou de uma família que o bisavô já era, criava caracu, né?
00:53E o avô começou a fazer a seleção, tipo, fazer o caderno dos dados, marcar tudo direitinho, em 1913.
01:09Então, já tá mais ou menos, quer uns 20, 120 anos aí, e eu descendo dessa família.
01:18E eu continuei o trabalho deles.
01:20Então, a vida inteira, eu fui desde pequenininha, fui criada com caracu e depois, quando meu pai morreu e a fazenda ficou pra mim,
01:33em 1987, eu comecei a lidar com o rebanho caracu, né?
01:41E foi aí que eu comecei, e isso faz muito tempo, já uns 40 anos por aí, né?
01:51Enfim, eu acompanhei toda a trajetória do caracu, de lá pra cá, e eu tenho dados de avô, bisavô, coisa assim, antiquésima, né?
02:05Tudo, tô anotadinho, né?
02:09E eu peguei gosto também, amo caracu, não consigo, tô aposentada, não pego mais na lida, mas continuo aqui no circuito.
02:18E sempre de olho?
02:19Sempre de olho, e ó, como você falou, no tempo que eu peguei, você não sabe, não tinha mulher.
02:26Então, como é que era?
02:27Eu fazia um sucesso danado, você não sabe quantas vezes eu fui entrevistada, no fim tinha até prática agora, eu perdi minha prática.
02:37Nada, tá arrebentando, em poucos minutos já entreteu todo mundo.
02:40E como é que foi naquela época, né, encarar tudo isso, né, estar à frente dos negócios?
02:47Hoje você vê muito mais o protagonismo, né, feminino, em vários setores, atividades, né?
02:52Mas naquela época ainda tinha um estigma ainda, né?
02:55Como é que era isso?
02:56Estigma total, me lembro que assim, primeira vez que eu levei um gado pra exposição, eu e o resto era tudo homem, né?
03:05Chegava assim, falava, ih, vamos ver o que que essa loirinha aí vai fazer.
03:12Graças a Deus eu fiz.
03:13Tocou a boiada?
03:14Tocou a boiada, no fim eu tava ganhando todos esses homens que falou, vamos ver o que que essa loirinha vai fazer.
03:20Eu era loira na época, agora eu tô branquinha.
03:23E eu tive uma trajetória muito legal.
03:28Hoje em dia, eu era bem moderninha.
03:33Eu fui, na raça, fui a primeira a fazer transplante de embrião.
03:38Eu fazia, já fazia a seleção do meu gado com a USP.
03:43E também, logo que teve o Gene Plus, eu também fazia com a Gene Plus desde 2000 e pouquinho.
03:51Então, eu sempre, eu era mais mocinha, vamos dizer, naquela época eu tinha muito entusiasmo.
03:56E como eu tinha um rebanho muito antigo e eu queria preservar a linhagem, por isso que eu fiz, peguei as vacas velhas que tinham na fazenda com a antiga linhagem e fiz transferência de embrião.
04:12Naquela época eu não tinha fívia essas coisas.
04:14E, graças a Deus, deu certo.
04:16Eu consegui aumentar a linhagem e fui tocando o resto dos anos.
04:21Algo que eu achei muito interessante é que uma das características que a gente vê de mulheres que a gente entrevista é que todas têm muita coragem, audácia e, principalmente, vou fazer coisas diferentes.
04:33Aquilo que ninguém, vou quebrar a tradição, não só pelo fato de ser mulher, mas de utilizar, no caso, tecnologias.
04:40E você foi adotando isso ao longo do tempo?
04:42Olha, vou te contar.
04:44Em 94, eu fiz meu site na internet.
04:48Há 31 anos.
04:49Veja, há 31 anos, como que era a internet.
04:53Eu vendia a boi pela internet em 1994.
04:59Outra coisa interessante, como nós estamos na feicorte, eu fui em todas as feicortes que tinha em São Paulo.
05:07Em 95, eu comecei a levar o gado.
05:10Eu levava todo ano para a feicorte em São Paulo.
05:14Depois que passou aqui, eu não trouxe mais, mas eu me aposentei também, então parei, né?
05:25Mas eu estava conversando com a Cris.
05:28Ela disse, nossa, começamos juntos.
05:30Eu não sou diretora executiva.
05:33Eu não sei o que é a Cris, mas ela organizava feicorte na época.
05:39Então, conheço a Cris desde que ela era novinha.
05:43Não tinha nem criança, mas uma excelente pessoa.
05:47Exatamente.
05:49E é um exemplo também de liderança, né?
05:52Exato, mulher.
05:53Sim.
05:53E esse quadro, né?
05:55A gente também, que é o nosso Pecuária Simprosa, a gente destaca essas histórias.
05:59E a senhora fez um convite ao passado, mas um passado recente, porque as histórias às vezes acabam se repetindo,
06:05mas elas ganham novos personagens, né?
06:08Mas nesse sentido, né?
06:10Como é que você vê hoje, né?
06:11Como é que a senhora vê hoje toda essa tecnologia sendo adotada?
06:14Hoje nós estamos já na ultrassonografia de carcaça.
06:17Como é que você vê isso?
06:17Eu estava conversando com um rapaz ontem, um veterinário, o genoma que estão fazendo.
06:24Eu tenho o meu genoma.
06:26Eu fiz no ano passado o meu genoma, da minha pessoa, porque eu fiz a minha descendência.
06:34Eu achei super bacana e vou fazer isso com gado, né?
06:38Então, você vai...
06:40Um monte de coisa que você vai descobrir.
06:42Isso eu acho bárbaro.
06:45Você consegue ver toda a linhagem, ver a tendência de doenças que ele pode ter.
06:53Você vê tendência para tudo, para todos os...
06:56Se engorda, se é bom de engorda, se é mal de engorda.
06:59Enfim, você vê tudo que o indivíduo é, seja gado, seja humano.
07:05Então, eu acho que eu sempre fui adepta à modernidade.
07:11E adepta à modernidade fez também entrar nos bancos das universidades, né?
07:15Formada em zootecnia.
07:17Não, eu formei em zootecnia velha.
07:21Porque eu estava do lado da USP.
07:24E a USP tinha um programa que se chamava assim, Universidade para a Terceira Idade.
07:30E eu fui lá fazer e fiz.
07:32E hoje é zootecnista.
07:34É, quer dizer, é tipo, eu tenho todos os diplomas, né?
07:41Mas não que eu seja assim, oficial, porque eu fazia esse programa de terceira idade.
07:48Eu ia para a aula, ficava atenta.
07:50Quando eu olhava assim, lá nos meus coleguinhas, tudo dormindo.
07:56Só eu que estava lá, assim.
08:00Enfim.
08:01Isso é um caso, fazer o quê, né?
08:03Faz parte ali daquela turma.
08:05Eu era da Terceira Idade e eles eram na Primeira ou Segunda, né?
08:10Mas não, mas aí no caso você já estava na melhor fase.
08:13Porque você estava disposta a aprender, né?
08:15E muitas vezes podia até ensinar alguns ali.
08:18Porque eu contava minhas historinhas lá de prática, né?
08:23E muita coisa na prática, né, Dona Zó.
08:24Muita coisa na prática.
08:25Eu lembro que eu sempre fui muito amiga dos professores lá da USP.
08:30E volta e meia, a gente fazia esse tipo assim, um dia de campo na minha fazenda.
08:36Aí eu explicava toda a lida que eu tinha com o gado, como era isso,
08:40como o tipo de seleção que eu fazia.
08:44Os alunos iam lá.
08:45Então, eu sempre fui ligada à USP.
08:51A cultura, a informação, que sempre foi um sumo fundamental.
08:55Agora, Dona Isabel, vamos falar um pouco assim,
08:57de tudo aquilo que a senhora já viu hoje.
09:00Assim, da história do caracu, na pecuária.
09:03Como é que a senhora imagina essa pecuária brasileira?
09:07Num curto espaço de tempo aqui,
09:09há tantos passos, cresce de uma forma assim,
09:12que é impressionante.
09:13Eu acho que está crescendo rapidamente, né?
09:17E você vê, com essa história de genoma agora,
09:20eu acho que vai estourar.
09:22Vai ser uma maravilha.
09:24Tem que fazer esse genoma aí.
09:26Isso aí, a pecuária vai pra frente, rapidinho.
09:31Agora, só pra gente finalizar,
09:33queria que a senhora deixasse um recado
09:35pra pecuaristas que estão assistindo a senhora agora, né?
09:39Que o Pecuarista em Prosa tem essa missão de valorizar
09:41as mulheres que fazem parte da pecuária,
09:44do agro brasileiro.
09:45Uma mensagem de quem já...
09:47Que aprendeu bastante e também ensina bastante pra gente.
09:50É, a mensagem é que continuem com resiliência, né?
09:57Mas hoje em dia as mulheres estão ótimas, sabe?
10:00Muito mais fácil que na minha época.
10:03Então, eu acho que nem preciso dar conselho nenhum
10:07pras pecuaristas de hoje,
10:08porque elas estão top.
10:10mais do que eu, me passaram.
10:13Então, eu sou o passado, elas são o futuro.
10:16Obrigado, dona Isabel.
10:18Obrigada a vocês.
10:19É um prazer falar contigo.
10:21Olha, conversamos hoje aqui no Pecuarista em Prosa
10:24com a dona Isabel, né?
10:26Esse exemplo de pecuarista,
10:28que aí levou adiante a produção do caracu,
10:33apaixonada pela raça,
10:34mas principalmente apaixonada pela vida e pelo que faz.
10:37Então, esse é o nosso Pecuarista em Prosa de hoje,
