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  • 12/06/2025
No Papo Saudável desta semana, a nutricionista Dra. Fabiana Benatti comentou sobre a 'pandemia de obesidade' que vivemos nos últimos anos, segundo pesquisas, desde 2006 o percentual de pessoas acima do peso no Brasil subiu em 9 a 10 pontos percentuais e há diversos fatores que influenciam esse crescimento.

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Transcrição
00:00Eu recebo a nutricionista, professora de nutrição da Unicamp e uma pesquisadora de altíssimo nível.
00:12De quebra ainda é minha amiga, Fabiana Benatti. Obrigado pela presença.
00:17Sou quase o Fabi já. Obrigada, eu, Márcio, pelo convite. Prazer estar aqui.
00:21Fabi, acho que a gente nunca teve tanta ferramenta para tratar a obesidade.
00:27Nunca tivemos tanta informação e agora 31% dos brasileiros obesos, 37% com sobrepeso, somando 68% da população acima do peso.
00:40Como que você vê esse cenário do excesso de peso, da obesidade aqui no Brasil?
00:46E, claro, isso acaba sendo mundial, esse fenômeno.
00:50É, tem... é uma... hoje considerado como uma epidemia, né? Ou até pandemia.
00:54A gente só fala de pandemia do coronavírus, mas há muito tempo, na literatura científica, a gente chama de pandemia da obesidade, há pelo menos 20, 25 anos.
01:03E ela vem crescendo. Como ela vem crescendo poucos pontos percentuais aí ao ano, parece que ela não aumenta muito.
01:09Mas se a gente olhar, é consistente.
01:11Se a gente olhar de 2006 para cá, foram aí pelo menos 10, 15 pontos percentuais, tanto em relação ao sobrepeso quanto à obesidade.
01:19É interessante dizer que no Brasil, parece que a gente atrasou em 10 anos o que aconteceu em outros lugares do mundo.
01:25Então, na Inglaterra, por exemplo, esse aumento foi mais substancial uma década antes do que foi aqui no Brasil.
01:31Então, para a gente, pelo menos até 2019, depois com a Covid, a gente teve um incremento talvez até um pouco maior,
01:36mas a gente ainda está nesse processamento aí de dados, mas até de 2006 a 2019, a gente teve um incremento bastante grande,
01:43quase que com uma década de atraso em relação a países desenvolvidos.
01:46E lá o crescimento tem sido menos acelerado, por assim dizer.
01:52Mas aqui...
01:53Agora, é um paradoxo que eu costumo falar, né?
01:56Ao mesmo tempo que você tem mais informação, como nunca nenhuma outra geração teve, né?
02:02Então, se você perguntar, atividade física faz bem?
02:05Estava vendo agora uma pesquisa, 98% dos brasileiros consideram que a primeira coisa que eles poderiam fazer pelo autocuidado
02:11seria atividade física, quer dizer, existe a consciência do movimento.
02:14Hoje, a gente tem muita informação sobre alimentação, né?
02:18E muita ferramenta.
02:20Sim.
02:21E esses números crescem.
02:22E falando dessas ferramentas novas, talvez a que tem dado maior resultado e maior mídia
02:29seja o que eles chamam das canetinhas, né?
02:32Desses medicamentos que acabam agindo de maneira que a ingestão de calorias diminui muito, né?
02:39Então, a gente fala sempre de Ozempic, o Igov, Monjaro.
02:44Como que atuam esses medicamentos em relação à nossa saciedade e à ingestão de calorias?
02:49Acho que é legal...
02:50Só vou comentar rapidamente o que você falou em primeiro, porque a gente hoje já está muito claro pra gente
02:54que só o conhecimento, ele não basta.
02:56Se a gente fizesse tudo o que a gente sabe que faz bem pra saúde, a gente não teria hoje
03:01doenças crônicas com a prevalência que a gente tem, o próprio sobrepeso e a própria obesidade.
03:06Então, como são condições complexas, tanto o sobrepeso, mas sobretudo a obesidade,
03:11saber o que é bom, o que é ruim, o teoricamente é bom ou ruim, claramente não é suficiente.
03:16E não é suficiente por uma série de fatores, porque a gente acha que a gente escolhe o que a gente faz,
03:21mas a gente não escolhe tanto assim.
03:22Então, é o ambiente em que a gente vive, determina o quanto a gente faz de atividade física ou não,
03:27a nossa condição socioeconômica determina em alguma medida o que a gente come ou não.
03:31Então, assim, é uma situação bastante complexa, sem mencionar a predisposição genética,
03:35que é clara e está aí.
03:37Então, são vários fatores que levam a pessoa a provavelmente desenvolver essa obesidade.
03:43Não é porque ela quer, não é porque ela é preguiçosa, são vários fatores que levam a isso.
03:48Então, acho que isso já está bem claro pra gente.
03:50O que acontece com esses medicamentos?
03:52Então, eles são os análogos de GLP-1 e existe um que tem dois análogos, né?
03:57Então, tanto de GLP-1 quanto de GIP, que a gente chama,
04:00que são hormônios que são secretados pelo nosso trato gastrointestinal.
04:04E eles, normalmente a gente consome alimentos,
04:06então quando a gente consome alimentos eles são secretados
04:09e vão lá no cérebro e informam saciação e saciedade.
04:12Então, basicamente fazem a gente parar de comer.
04:14E porque atuam também no esvaziamento gástrico, que a gente chama,
04:17então ele diminui o esvaziamento gástrico, então a nossa digestão fica mais lenta,
04:22isso também atua numa saciedade maior por um período mais prolongado.
04:26E aí acaba que com isso a pessoa sente menos fome.
04:30Tem aquelas pessoas que não respondem ao medicamento, elas existem.
04:33Tem gente que ganha peso com esses medicamentos,
04:36mas a grande maioria das pessoas responde efetivamente comendo menos
04:39e como consequência emagrecendo e perdendo grandes quantidades de peso.
04:43E aí, toda vez que você tem uma grande quantidade de perda de peso,
04:48independente de ser com esses medicamentos,
04:50mas, por exemplo, com uma dieta restritiva,
04:52é normal que você perca um pouco de massa magra.
04:55Isso é padrão.
04:57E o que eu observo e vejo é o seguinte.
05:04Primeiro que você tem uma quantidade de pessoas usando esse medicamento sem indicação.
05:08ponto, para perder 3, 4 quilos, se a gente ver.
05:11Mas eu estou mais focando aqui no comportamento, tá?
05:16É normal eu sair para jantar e rapidamente, pela escolha da refeição,
05:22claro que eu conheço a pessoa há muitos anos,
05:24eu vejo se ela está, naquele momento, fazendo uso desse medicamento ou não.
05:29Por quê?
05:30Porque ela simplesmente não tem fome praticamente nenhuma,
05:34ela pede uma saladinha e deu.
05:35Aí a minha pergunta vai.
05:39Essa é uma ferramenta que a gente tem,
05:42para quem tem indicação, ela é bem valiosa para você tratar a obesidade,
05:46mas esse é um momento onde seria uma oportunidade
05:49para se construir um novo hábito alimentar,
05:53não só comer a salada, então, pô, eu vou comer a saladinha,
05:55mas eu preciso da minha proteína, eu preciso do meu carboidrato, enfim.
05:59Eu acho que seria fundamental, na verdade, e essencial,
06:02ainda mais com a evolução desse tratamento.
06:05Então, perder massa magra, para grandes perdas de peso,
06:08é quase que impossível atenuar.
06:10Atenuar é possível, mas é quase que impossível ela não acontecer.
06:14Quanto mais rápido a gente perde peso,
06:16mais massa magra, proporcionalmente, a gente perde.
06:18É um pouco difícil não acontecer.
06:20Com esses medicamentos, e eu queria fazer um parênteses aqui,
06:23porque, às vezes, nós que somos do estilo de vida,
06:25então, da nutrição e da atividade física,
06:27parece que, durante a faculdade, nós somos treinados a odiar qualquer coisa
06:31que não seja intervenção de estilo de vida.
06:34E os medicamentos, até virem os análogos do GLP-1,
06:39eles eram muito pouco eficientes mesmo.
06:40Eles levavam a perdas médias de 5% de peso corporal,
06:43que, com uma intervenção bem feita de estilo de vida,
06:45você conseguia chegar, você consegue chegar nessas perdas.
06:48Esses medicamentos, eles levam a perdas muito maiores.
06:5120, 25.
06:5120, 25, com os novos, a tirzepatida, ela leva 20%, 25% de perda.
06:57Isso é perda quase que de bariátrica.
06:58Chega nessa mesma quantidade.
07:01Então, vai acontecer essa perda de massa magra.
07:03Agora, é importante dizer, claro, eu não sou médica,
07:06mas nós, no mundo da nutrição, é interessante dizer que,
07:09nos Estados Unidos, por exemplo, quando os planos de saúde agora,
07:12eles estão bancando esses medicamentos para pessoas com obesidade grau 3,
07:16que a gente chama,
07:18é muito interessante você ouvir as pessoas que estão trabalhando
07:21na parte clínica com esses medicamentos,
07:24dizendo que parece que houve uma mudança, um shift, que eles falam.
07:26E antes, você tentar ajudar as pessoas a comerem menos,
07:30e agora você precisa fazer essas pessoas comerem mais.
07:32E melhor.
07:33E melhor.
07:33Então, e essa foi a tônica, assim, do congresso, né?
07:36Por exemplo, de obesidade que a gente foi no ano passado, no Obesity Week.
07:40E aí, esse é o momento.
07:41Se você quer minimizar perdas de massa magra,
07:43você precisa privilegiar uma alimentação mais adequada.
07:46Agora, se aquela pessoa não consegue comer,
07:48a dose provavelmente está muito alta.
07:50Ela está inadequada.
07:51E isso tem sido bastante recorrente.
07:53Então, quando a gente olha para a prática clínica dos nutricionistas,
07:56olha, meu paciente, ele não come.
07:58Ele passa o dia inteiro, faz uma refeição,
08:00e efetivamente a pessoa não sente fome.
08:02É o momento de você conversar com aquele médico,
08:05trocar uma figurinha ali e abaixar a dose.
08:08Então, há protocolos para isso.
08:10Se a pessoa não está comendo, você precisa reduzir a dose.
08:13Ela precisa comer.
08:14Porque senão você está induzindo um quadro muito pior,
08:17perdendo ainda mais massa magra,
08:19e isso vai piorar, provavelmente, algum tipo de recuperação.
08:23Recuperação, né?
08:23Eu ia falar um reganho, não é uma palavra ruim.
08:26Mas é interessante isso que você falou, né?
08:28Porque a gente tenta ali, nesse momento,
08:31atuar como uma pessoa que vai readequar,
08:35não só a ingestão de calorias,
08:38mas um estilo de vida como um todo.
08:40E quando a gente fala de massa magra,
08:42o estímulo físico, ele é fundamental.
08:45Muito mais, muito mais não, né?
08:46Mas é essencial.
08:49Só que, quando a pessoa está nesse grau de obesidade
08:55e, às vezes, está naquele desespero até de precisar emagrecer,
08:59porque já tem indicadores de saúde que estão comprometendo ali,
09:03e ela consegue isso só via alimentação,
09:07parece que ela não é seduzida a também mexer do outro lado,
09:12que é fazer um estímulo físico.
09:14Você percebe isso de alguma maneira?
09:16Pô, já que eu emagreci, isso já é suficiente para ter saúde?
09:20E esqueço que o sedentarismo, por si só, é um problema?
09:24Ah, muitas... Na verdade, sim, né?
09:25Mesmo na alimentação, o que acontece com esses medicamentos?
09:27É que eles fazem com que a pessoa seita menos fome,
09:29então fica mais fácil para essas pessoas comerem menos.
09:32É como se fosse uma pílula mágica mesmo,
09:34que é o que as pessoas procuram nesse sentido.
09:35Então, se eu estou atingindo esse objetivo,
09:37para quê? Fazer o exercício.
09:39Mas isso serve para qualquer...
09:41Com a bariátrica é a mesma coisa, a gente enfrenta a mesma questão.
09:44Então, aí cabe ao profissional, qualquer profissional da saúde,
09:48explicar para a pessoa o quanto a massa muscular, a massa magra,
09:52ela é importante.
09:52E não só para o momento de emagrecimento, para o resto da vida.
09:56Ainda bem que agora acho que a gente vive meio que um momento de exaltação,
09:59aí a construção de uma reserva muscular que as pessoas chamam.
10:02Mas eu não sei se ainda está chegando em todo mundo.
10:04Acho que ainda a gente precisa trabalhar bastante,
10:06no sentido de entender, talvez, a importância do músculo.
10:09O quanto ele é importante em qualquer situação e, sobretudo,
10:13para quem está fazendo uso desses medicamentos.
10:14Bom, então, deixar que o remédio faça todo o trabalho,
10:18acho que não é a melhor solução.
10:20Eu acho legal dizer assim que são remédios excelentes.
10:23Eu ia falar que a gente, às vezes, é treinado a ser contra esses remédios,
10:26mas, finalmente, hoje temos remédios que são efetivos e eficazes
10:29para quem, de fato, precisa.
10:31Então, um dos efeitos importantes desse remédio
10:33é diminuir o food noise, que a gente chama,
10:34que é como se fosse um, eu vou dizer, um barulho,
10:38alguma coisa assim, que fica no fundo da mente.
10:40Então, você tem relatos de pessoas que dizem,
10:42olha, finalmente, eu não penso em comida o dia inteiro.
10:44Então, esse é o momento de você atuar com outras práticas ali
10:47que, efetivamente, façam com que a pessoa tenha um comportamento mais adequado
10:50e, sim, em algum momento, ela parar de tomar aquele medicamento,
10:53que, talvez, ela consiga seguir ali um comportamento mais adequado.
10:56E aí, a gente estava falando disso, de parar de tomar o remédio.
11:00E essa é uma dúvida que até os fabricantes têm.
11:03Qual é a dose de manutenção?
11:05Existe uma dose segura por muito tempo?
11:08E aí, vem uma pergunta.
11:10Quando eu paro, o nosso corpo volta a produzir todos aqueles hormônios?
11:15E a dificuldade, você falou assim,
11:18ah, finalmente eu parei de pensar em comida.
11:20Volta essa dificuldade?
11:22Então, eu não sei se até a comunidade científica já tem todas as respostas para isso.
11:28O que a gente sabe, que alguns estudos mostram,
11:30é que com a interrupção das medicações,
11:31muita gente recupera o peso perdido.
11:34Às vezes, não totalmente, mas, em alguma medida, recuperam.
11:37O que a gente ouviu muito, por exemplo, no Congresso,
11:40dos pesquisadores da área, foi
11:41não existe parar o medicamento.
11:44Teoricamente, o ideal seria você encarar como um medicamento para o resto da vida.
11:48Assim como as pessoas fazem com a hipertensão arterial, por exemplo.
11:51Eles deram, aliás, esse exemplo muitas vezes.
11:53Se a pessoa é hipertensa, ela é hipertensa para sempre.
11:56Ela não tem hipertensão.
11:57Ela é uma pessoa hipertensa.
11:59E aí, por isso, ela precisa tomar esse medicamento para o resto da vida,
12:02mesmo com a hipertensão controlada.
12:05Então, a ideia, pelo menos até o momento, e assim,
12:08a ciência, ela vem evoluindo mês a mês.
12:11São medicamentos novos.
12:12E nós só teremos boas respostas para essas perguntas,
12:16provavelmente, daqui a alguns anos, até mesmo em relação à segurança.
12:19Então, o que provavelmente, o que parece acontecer,
12:23é que não se deveria interromper esses medicamentos.
12:25Mas, a gente sabe que essa não é a realidade da prática.
12:28Um, porque são muito caros.
12:30Dois, nos Estados Unidos, por exemplo,
12:32onde os planos de saúde cobrem esses medicamentos,
12:35quando a pessoa, ela perde peso e sai da obesidade de grau 3,
12:37eles param de cobrir.
12:38Então, essa é uma luta ali que os clínicos estão tendo
12:42para sempre deixar aquela classificação lá
12:44para que a pessoa possa ter acesso a esses medicamentos.
12:47Então, o que a gente sabe é que existe uma recuperação de peso
12:49quando se para de tomar esses medicamentos.
12:51E você, eu vou lembrar, em 2018,
12:54eu estava nos Estados Unidos fazendo um documentário e tal,
12:59estava lá entrevistando um cara de rabo,
13:03e ele perguntou para mim,
13:04Você acha que a sua genética, ela é uma genética mais para o magro
13:10ou mais para a obesidade?
13:13Aí, eu falei, pô, agora eu vou crescer muito, né?
13:17Falei, claro que para o magro.
13:19E aí, ele falou, então, vamos fazer o seguinte,
13:21a gente aqui tem um teste que mede mais ou menos uns 800 genes
13:24em relação à obesidade.
13:26E a gente vai ver quais você tem e quais você não tem.
13:31Dois dias depois, eu voltei lá
13:33e eu tinha praticamente 60% desses genes para a obesidade.
13:37E eles falavam que, baseado, claro,
13:40num banco de dados de milhões e milhões de pessoas,
13:43quem tinha aquele tipo de genética,
13:45eles projetavam estar com um peso de 91 quilos.
13:48E eu tenho 74, né?
13:51E aí, ele falou o seguinte,
13:53existe a epigenética, né?
13:55Então, o seu estilo de vida,
13:57o que você fez desde pequenininho,
13:59a atividade física regular, enfim, uma série de coisas,
14:02isso acaba silenciando esses genes,
14:07por isso que você tem o corpo, enfim, a saúde que você tem.
14:12Mas a verdade, e isso me deixou um pouco preocupado,
14:16é que até por conta da evolução da espécie,
14:19mais de 90% das pessoas vão ter uma genética mais para a obesidade.
14:23Por isso que a espécie sobreviveu.
14:25E aí você tocou num ponto muito interessante que eu achei.
14:29O meio ambiente, ele vai induzir você ou não
14:32a ter um comportamento, ativo ou sedentário.
14:36Então, como...
14:37Porra, sempre o meio ambiente exigiu o movimento da gente,
14:44isso talvez tenha ficado silenciado.
14:46E agora, com tanta tecnologia,
14:48talvez isso tenha se manifestado.
14:52Você acha que o raciocínio dele faz sentido?
14:54Faz sentido.
14:56Eu acho difícil ser categórico,
14:57porque na área da genética, a gente ainda está engatinhando bastante.
15:00Mas, primeiro, que a gente tem muito mais do que 800 polimorfismos, né?
15:04A gente tem milhares de polimorfismos que, teoricamente,
15:07ajudam a explicar o fenômeno da obesidade nas pessoas.
15:11A epigenética, ela tem o seu efeito, é claro,
15:14pode ter sido em função do seu estilo de vida,
15:16mas é legal você olhar para a sua família inteira.
15:18Se a sua família inteira não tiver obesidade,
15:21provavelmente a sua família inteira não tem um genótipo
15:24que seja tão predisponente à obesidade como esse teste,
15:28ele trouxe esse resultado.
15:29Os testes ainda não são categóricos, não deveriam ser.
15:33Não deveriam ser determinantes nesse sentido.
15:35Talvez, existem, claro, alguns polimorfismos
15:38que são muito determinantes para a obesidade,
15:41mas são poucos.
15:42Esses que eles normalmente testam,
15:44são vários polimorfismos, cada um tem um pequeno efeito,
15:47e aí, no montante geral, você consegue ter um efeito maior ou não.
15:52Mas, sim, o estilo de vida interfere,
15:55e como a gente chega no estilo de vida mais saudável,
15:57talvez seja a dificuldade que a gente tem.
15:59Isso vale tanto para a atividade física quanto para a alimentação.
16:01É aí que eu ia chegar, na parte da alimentação.
16:06Se eu voltar para a minha...
16:08Eu estava entrevistando um neurocientista mineiro,
16:10da minha idade,
16:12e aí eu fiz uma pergunta para ele.
16:14Quantas pizzarias tinham em Belo Horizonte
16:16quando a gente era o Moeck?
16:18A gente lembrou de duas.
16:21Hoje, talvez, primeiro que você tem aplicativos,
16:24e você tem uma casa esquina.
16:25A oferta de alimento aumentou muito.
16:30Quando eu era moleque e ia no metrô,
16:32você não tinha aquela fartura de opção
16:34para comprar tudo com tanta facilidade.
16:40Hoje, na maior rede de farmácia do Brasil,
16:42os principais produtos vendidos são alimentos.
16:45Sim.
16:45É a barrinha de chocolate, é a passoquita da AIT, enfim.
16:48Sim, sim.
16:48É isso.
16:50Mas eu acho que o nosso cérebro,
16:52ele não é muito preparado para recusar alimento.
16:54Como que funciona ali essa oferta tão grande de alimento
16:58num cérebro ou num corpo
17:01que durante centenas de milhares de anos
17:04foi programado para comer bastante
17:06porque não sabia quando era a próxima refeição?
17:08São muitos estímulos visuais, sensoriais,
17:10olfativos, enfim, o tempo todo.
17:12É difícil mesmo para a gente conseguir lidar com tudo isso.
17:15Tem algumas técnicas, inclusive,
17:17o próprio Mindful Eat, meditação,
17:20e outras técnicas que a gente usa para tentar entender.
17:22Você vai olhar aquele alimento e você vai querer comer.
17:24É difícil olhar.
17:25Não, imagina, eu não gosto.
17:26Mas, normalmente, são alimentos hiperpalatáveis que a gente ama.
17:29Alimentos ricos em açúcar, ricos em gordura,
17:31porque, evolutivamente, isso sempre fez muito sentido.
17:34Então, são alimentos que geram uma resposta de recompensa
17:36muito grande no cérebro,
17:38porque, assim, foram moldados os nossos genes há muitos anos atrás.
17:41Mas não tem uma coisa de efeito marado?
17:43Eu vou te contar uma história rapidinha.
17:44Eu fui palestrar num resort lá na Praia do Forte.
17:51E minha palestra era 11 horas da manhã.
17:538 horas da manhã, estava o café da manhã,
17:55todo mundo comendo loucamente,
17:57porque, realmente, aquele café da manhã é um convite, é isso.
18:01Só que o pessoal vai para a plenária, fica sentado.
18:04Eu tinha duas horas ali, fiz minha atividade física,
18:07dei um mergulhinho no mar, fiz tomar banho, né?
18:0910 e meia da manhã, eu me dirigia a plenária.
18:12Quando eu cheguei, 10 e meia, estava na hora do coffee break deles.
18:16E me colocaram num camarim que estava cheio de coisas gostosas,
18:20igual no coffee break.
18:21Eu, sozinho ali, não estou com fome.
18:26Era tudo muito gostoso.
18:28Independente, enfim, tinha de tudo.
18:31Tinha o pãozinho de queijo que eu gosto,
18:32tinha o cafezinho com leite, mineiro, né?
18:35E eu consegui resistir.
18:37Quando eu comecei a palestra, eu fiz uma pergunta.
18:40Vocês me viram no café da manhã?
18:41Quem comeu bastante?
18:43Todo mundo levantou a mão.
18:44Falei, beleza, fica com a mão levantada.
18:46De todo mundo que tomou o café da manhã,
18:49quem aqui comeu no coffee break?
18:5190%.
18:51E aí eu falei, fica com a mão levantada quem comeu no coffee break.
18:55Todo mundo ficou com a mão levantada, os 90 ali.
18:57Aí eu falei, tá bom.
18:59De vocês que comeram, quem estava com fome?
19:02Às vezes nem sabe.
19:03Entendeu?
19:03É, a maioria não estava, mas, pô...
19:07Entendeu?
19:08Quando o ambiente te convida, fica mais difícil você resistir, né?
19:12Não, com certeza.
19:12Tanto que uma das estratégias que a gente tem...
19:14Porque você vai ter pessoas que têm mais facilidade
19:16e pessoas que têm menos facilidade em resistir.
19:19Ou seja, você inibir aquele comportamento
19:21que você entende que não seja adequado para o momento.
19:23Tem uma questão de sensação, de fome e saciedade,
19:25que tem gente que não tem nenhuma conexão mais,
19:27isso precisa ser trabalhado.
19:28Mas tem uma questão de maior ou menor dificuldade
19:30de você resistir a comer um alimento, por exemplo,
19:33no momento que você acha que você não deveria comê-lo.
19:35Tem estudo sobre isso.
19:37Isso se chama de controle inibitório.
19:38Então, as pessoas são mais desinibidas, que a gente chama.
19:40Mas no sentido de você não conseguir inibir um comportamento
19:44que você acha que você deveria inibir.
19:45Não é que é positivo ou negativo,
19:46mas é algo que você acha que você não deveria.
19:48Então, você inibiu.
19:49Você olhou e pensou, não estou com fome, consegui inibir.
19:52Tem pessoas que têm maior ou menor dificuldade.
19:54Claro que em evento social, isso ainda fica mais bagunçado,
19:57porque você está lá, está todo mundo comendo,
19:58as coisas estão ali,
19:59você nem presta atenção muito no que está acontecendo.
20:01Mas você tem uma maior ou uma menor facilidade de fazer aquilo.
20:05E isso é uma coisa que precisa ser trabalhada nas pessoas.
20:09Tem gente que tem mais, tem gente que tem menos dificuldade.
20:12E isso está diretamente associado a uma maior ou menor
20:15pressuposição à obesidade, digo mais,
20:16associado a uma maior ou menor facilidade de emagrecimento também.
20:20Tchau.
20:21Tchau.
20:22Tchau.
20:23Tchau.
20:24Tchau.
20:25Tchau.

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