Em Belém, brechós promovem consumo consciente e ajudam a preservar o meio ambiente

O Liberal

Os brechós têm promovido sustentabilidade e impacto social na capital paraense. A advogada Ana Gibson e as empreendedoras Gilanna Ferreira e Helaiane Ramos explicam como reutilizar roupas reduz resíduos e fortalece o empreendedorismo feminino, transformando moda em consciência ambiental.  Reportagem: Amanda Martins Imagens: Thiago Gomes

Transcript

00:00Então, o nosso brechó tem dois anos e meio.

00:04De dois anos pra cá, teve um boom dos brechós aqui em Belém.

00:08Quando eu comecei, eu comecei vendendo na Praça da República,

00:12ainda não existiam eventos.

00:14Então, assim, eram coisas bem amadoras, né?

00:18E aí, de dois anos pra cá, começaram a ter vários eventos

00:22envolvendo brechó, sustentabilidade.

00:24Então, vários brechós começaram a surgir e aparecer mesmo no mercado.

00:31E aí, é uma questão de consciência e de educar o nosso público,

00:35o nosso povo daqui de Belém.

00:37É uma coisa que é nova.

00:39E nas redes sociais, por exemplo, o nosso brechó tem esse papel

00:42de vir o tempo inteiro educando.

00:44E eu acho que as pessoas estão cada vez mais conscientes,

00:47as pessoas procuram mais, as pessoas entendem mais.

00:50Ainda existem pessoas que têm preconceito? Sim, muitas.

00:53Inclusive, nas redes sociais, a gente sempre tenta esclarecer isso,

00:58mas às vezes vem algumas pessoas comentar,

01:00ah, mas isso é preço de roupa de boutique?

01:03Por esse preço, eu compro uma roupa nova?

01:06Aí a gente vai lá, com toda a educação,

01:09e tenta esclarecer, né?

01:11E educar aquela pessoa pra que ela tenha consciência.

01:14Porque não é assim.

01:15A gente tem um processo de curadoria, tem um processo de pesquisa,

01:18e no brechó você encontra peças, mas encontra, encontra, encontra.

01:23Mas não são peças de 10, 20 reais.

01:25Existe um valor por trás disso, um valor de quem trabalha,

01:28um valor da peça, de marca, de tudo isso.

01:31E o papel do brechó tem muito esse papel,

01:34de conscientizar as pessoas nesse sentido,

01:36delas entenderem qual é o real fundamento

01:39que está por trás da venda das roupas.

01:41Ainda existe, assim, muito a questão do preconceito,

01:45ainda com roupas de brechó,

01:47porque é roupa usada, é roupa velha,

01:48e muitas vezes não é isso.

01:50Mas, graças a Deus, está aí os eventos, né?

01:53De brechós que está desmistificando

01:55essa questão do preconceito,

01:57e acredito que cada vez mais

01:59esse preconceito está diminuindo já.

02:02Eu acho que é mais a questão do preconceito mesmo

02:04que as pessoas têm,

02:05ou às vezes diminui muito por ver brechó,

02:08pensa assim, hum, não é algo que tem futuro,

02:10não é algo que vai pra frente.

02:11Porque eu acho que ainda tem algo muito enraizado

02:14nas pessoas que vêem o brechó

02:16de uma forma ruim e negativa.

02:19É, eu acho que tem essa quebra de padrão,

02:22mas como o brechó, por exemplo,

02:25o brechó, ele não é uma coisa nova,

02:27ele vem desde 1960 lá com a França, né?

02:31Mas no Brasil ele foi difundido,

02:33não faz, assim, em São Paulo, por exemplo,

02:36a gente tem capitais que são referências

02:39na área do brechó.

02:40Mas como eu falei, Belém está tendo um boom

02:42de dois anos pra cá.

02:44Então eu acho que um dos grandes desafios também

02:46é a questão da formalização,

02:48de profissionalizar os brechóis.

02:51Porque muitos brechóis começam assim,

02:53em casa, com as roupas que têm, sabe?

02:56E é uma possibilidade de renda.

02:59É uma coisa que você consegue começar

03:01sem precisar investir muito.

03:04Mas como é novo,

03:06principalmente aqui na nossa cidade,

03:07acho que uma das dificuldades grandes

03:09que a gente tem também

03:10é de profissionalizar.

03:12Porque é diferente de uma loja

03:14que vende roupa nova.

03:16A gente trabalha com consignação,

03:18então existe todo um processo

03:20por trás dessa roupa de consignação.

03:22Olha, eu comecei fazendo

03:23o controle das roupas por tabela,

03:26em Excel.

03:27Hoje a gente tem um sistema

03:29que a gente paga mensalmente.

03:31Mas até esse sistema existir,

03:33foi todo um processo.

03:35e nem é daqui.

03:35É de uma pessoa que é de Fortaleza,

03:39que tem um brechó,

03:40e por ela ter a necessidade

03:42de ter um sistema específico para o brechó,

03:45ela criou.

03:46E hoje, alguns brechós já usam,

03:48mas ainda são poucos brechós.

03:49Então, eu acho que é uma dificuldade bem grande

03:51essa questão de realmente formalizar,

03:54de ter uma coisa profissional, sabe?

03:56Formalizada dentro do mercado dos brechós.

03:58Eu tenho enxergado como uma boa oportunidade,

04:01inclusive para mais um aliado de consumo.

04:05Essa geração Z veio trazendo, na verdade,

04:10muitas possibilidades para que a gente

04:12não só viva de consumir algo,

04:16de comprar algo,

04:19mas que seja gerada uma experiência

04:22por trás desse consumo.

04:24Então, é muito interessante hoje,

04:26na época de COP,

04:28as pessoas estarem vivendo

04:30a moda de segunda mão,

04:32a moda second hand,

04:33que é a moda de brechó.

04:35E ela consegue adquirir peças

04:37que elas não conseguiriam,

04:39talvez, numa coleção.

04:42Ou então, essa coleção que já foi descartada,

04:44essa moda que já não está mais,

04:46então, em alta,

04:47ela vai para o brechó.

04:49E você consegue dialogar com o teu estilo,

04:52com o teu costume,

04:53com a tua maneira de ser,

04:54com o teu jeito de interagir com as pessoas,

04:57no brechó.

04:58Então, é como se fosse uma verdadeira

05:00Indiana Jones,

05:02atrás de uma peça exclusiva,

05:05feita com mais afetividade.

05:08É.

05:08Eu costumo dizer,

05:10na verdade,

05:10é um dado latente,

05:12que o Bora Garimpa,

05:14já está,

05:14a cada evento,

05:16nós estamos, na verdade,

05:18há três anos,

05:19fomentando os eventos,

05:21e, a cada evento,

05:23a gente consegue reutilizar peças

05:26que iriam para um lixão.

05:28Então, a cada evento,

05:30a gente consegue diminuir

05:31esse consumo desacelerado,

05:33esse consumo desenfreado,

05:35e já conseguimos

05:36uma tonelada ao ano

05:38de reaproveitamento dessas peças.

05:41Através dos dados,

05:42a gente costuma fazer formulários

05:44a cada evento,

05:46para gerar dados,

05:47para justamente a gente ter esse controle.

05:49Então, é um dado latente

05:51de que a indústria da moda

05:53é a segunda mais poluente,

05:55atrás da indústria petrolífera,

05:58e que hoje,

05:59a gente pode ter

06:00esse aliado de,

06:03assim,

06:04braço amigo do meio ambiente.

06:07A moda de brechó,

06:09ela consegue estar aliada

06:11aos três R's da sustentabilidade,

06:14reaproveitar,

06:15reutilizar,

06:16repensar o seu uso,

06:18e, ao mesmo tempo,

06:20estar sendo uma boa aliada

06:21no momento em que nós estamos vivendo

06:23de mudanças climáticas.

06:24Porque, justamente,

06:25essas peças que cairiam no lixão,

06:27elas vão nas camadas

06:29de lençóis freáticos,

06:31e isso, com certeza,

06:32vai causar não só

06:33degradação ao meio ambiente,

06:35como o nosso, também,

06:36modo de viver no mundo.

06:39Então,

06:40nos eventos,

06:41a gente costuma levar

06:42os caixotes,

06:43para as pessoas, justamente,

06:45levarem peças

06:46que elas não estão usando mais,

06:48e ali,

06:48a gente consegue fazer

06:49uma triagem.

06:50Aqui,

06:51na loja,

06:52é um ambiente

06:53onde as pessoas

06:54têm mais tranquilidade,

06:56conseguem tomar um café,

06:57ir subir,

06:58conhecer.

06:59Na verdade,

07:00é como se fosse

07:01a nossa loja conceito

07:02do Bora Garimpar,

07:03para que as pessoas

07:04continuem garimpando

07:05e vivendo

07:06uma nova experiência.

07:08E, aqui,

07:08a gente consegue

07:09fazer a triagem

07:10através de 20 peças

07:12por pessoa,

07:13e, aí,

07:13através dessas 20 peças,

07:15a gente faz a curadoria

07:16das peças que são

07:17para um consumidor final

07:19e as peças

07:20que a gente pode fazer

07:20doações.

07:22Então,

07:22o brechó

07:23é diferente de bazar.

07:25O bazar,

07:25ele tem um fim

07:26filantrópico,

07:28geralmente,

07:29são bazares de igreja,

07:31elas não têm

07:32um preparo

07:33para o público,

07:34para ter um outfit,

07:36para ter uma produção,

07:38e, aí,

07:38já no brechó,

07:39a perpassa

07:40por um fim

07:41mais lucrativo,

07:42comercial.

07:42é, na verdade,

07:45uma empresa

07:46que está

07:46em expansão.

07:48As próprias

07:49empresas

07:49renomadas

07:50de grifes famosas

07:52como a Zara

07:52já estão pegando

07:54peças

07:54que as pessoas

07:56não querem mais

07:57usar

07:58por troca

07:59de peças

08:00que estão

08:01ainda a ser lançadas.

08:03E o brechó

08:04faz justamente

08:04esse preparo

08:06com a curadoria

08:07de upcycling,

08:08de customização,

08:10de cheirinho agregado,

08:11de sacola personalizada,

08:13eco-bag,

08:14além de fomentar

08:15um estilo próprio

08:16de vida.

08:17e, aí,

08:20Legenda Adriana Zanotto

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