- 29/05/2025
Alessandro Visacro, analista de segurança e Defesa, comenta a descredibilidade da população na capacidade de segurança eficaz nas gestões públicas e as ameaças do tribunal do crime.
Assista à íntegra: https://youtu.be/mCDrDIT6y-g
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NotíciasTranscrição
00:00Eu fico pensando que o combate a essa construção da territorialidade,
00:08quando o leite ainda não derramou,
00:11ele transborda da polícia, né?
00:14Ele vai muito além do que simplesmente a polícia.
00:17Por exemplo, eu só tô aqui imaginando, me corrija se eu estiver falando besteira,
00:21mas um homicídio e um outro homicídio
00:26que foi cumprido como uma execução decorrente
00:31de uma sentença de um tribunal paralelo,
00:34são coisas diferentes.
00:36Totalmente diferentes.
00:36Esse aqui representa isso que você tá falando, né?
00:41A existência de um tribunal paralelo, de uma justiça paralela,
00:46eu acho que isso hoje não está refletido na legislação penal,
00:51não existe a percepção do Estado de que isso é uma ameaça, né?
00:55Não.
00:56Existe uma leitura um pouco equivocada dessas ameaças.
01:01Até recentemente um colega meu falou uma coisa que é verdade.
01:04Ele disse que a realidade, ela se transforma na velocidade da lebre.
01:10E a norma jurídica, ela se transforma na velocidade do jabutiro.
01:15Então, hoje existe até um gap, um hiato jurídico entre o direito interno,
01:21o direito internacional dos conflitos armados, né?
01:25O direito internacional humanitário e o direito internacional dos direitos humanos.
01:28Então, na verdade, todos esses ramos do direito,
01:31eles mostram alguma inadequação pra lidar com esse tipo de ameaça.
01:35Porque, retornando ao seu exemplo, quando você fala que houve um assassinato por um motivo torpe,
01:43por exemplo, é um crime passional, né?
01:45É diferente de uma execução de uma sentença proferida por um aparato de justiça informal.
01:55Ali a gente já tá falando na aplicação da violência coletiva.
02:01Ali já é a aplicação da violência coletiva.
02:04E é interessante porque onde é que isso ganha a legitimidade, subtrai a legitimidade do Estado?
02:09É porque isso, pra boa parte da população, é percebido como legítimo, como justo, como razoável.
02:17Como foi no caso dos médicos no Rio de Janeiro, o assassinato dos assassinos foi visto por muita gente como justiça.
02:26Olha, a justiça não faz nada, fizeram. Ainda bem que...
02:29Ah, vou contar um caso, até bem elucidativo.
02:32Um amigo meu já há alguns anos, ele teve a moto roubada.
02:36Aí ele foi na delegacia de polícia, registrou queixa, etc.
02:39Ele era um cara de poucas posses.
02:42A moto era o grande xodó dele, né?
02:44Naquele momento era o maior bem que ele tinha.
02:46Ele foi na delegacia, registrou a ocorrência e perguntou o que ia ser feito.
02:50O escrivão, com muita sinceridade, falou pra ele,
02:52Ah, cara, eu vou lançar no sistema aqui, se você der muita, mas muita sorte mesmo, a sua moto vai aparecer.
02:58Aí ele, como trabalhava numa empresa de telefonia, ele tinha acesso às comunidades,
03:03ele acabou falando com alguém da comunidade, que chegou ao dono do morro, a moto dele apareceu.
03:08Então, pra esse cidadão, qual o sistema de justiça que é eficaz?
03:11Aquela trabalhadora que sai de manhã e que tem o celular furtado.
03:16Se ela descobre ali, se o crime descobre quem roubou, né?
03:20Porque dentro daquelas áreas não pode roubar, não pode roubar o morador.
03:24Ele aplica aquela justiça, ainda que seja 100% informal, extremamente brutal.
03:29Mas aquela moradora, ela vai perceber aquela ação como legítima.
03:33Aquele uso da força foi adequado, foi justo, foi oportuno.
03:40Então, aquilo vai subtraindo a legitimidade do Estado.
03:44E isso é a pior coisa que tem.
03:46É justo dizer hoje que o Estado brasileiro está cego pra esse aspecto da insurgência criminal.
03:54É, se a gente observar, o próprio termo insurgência criminal, né?
03:56Ele é mais comum na literatura lá fora do que aqui dentro.
04:00Não foi incorporado ao léxico jurídico, ao léxico policial, ao léxico militar.
04:06E a gente procura, como eu falei, a nossa estrutura conceitual
04:11distingue de segurança pública e de segurança nacional.
04:14Então, a gente tenta encaixar esse problema no que que dá.
04:17Aí a gente tenta, como se fosse aqueles brinquedos de criança, né?
04:20Que tem a estrelinha, a bolinha, o quadradinho.
04:22A gente está tentando encaixar ali no buraco.
04:27Não dá, né?
04:28Tentando encaixar a bolinha no triângulo.
04:29Porque a gente tenta encaixar somente com um problema de segurança pública.
04:32E isso gera várias distorções.
04:35Porque você pode ter uma determinada área
04:37em que as tradicionais métricas de segurança pública
04:40apontam pra um quadro muito positivo.
04:44Se pegar São Gonçalo hoje, os índices de violência,
04:46os índices tradicionais, índices de segurança pública de São Gonçalo,
04:49vai achar que tá bem.
04:50Só que metade de São Gonçalo é controlada pelo Comando Vermelho, não é isso?
04:54Então, que métrica é essa?
04:56Que quadro positivo é esse?
04:58Porque você pode ter uma métrica pra mensurar ali
05:00a quantidade de roubo de carro no mês.
05:03Mas você não tem uma métrica pra mensurar a soberania do Estado
05:06dentro de uma determinada área.
05:08Então, enquanto a gente procurar...
05:09Isso é um problema que reperpassa toda a sociedade.
05:12Até a ponta dessa sociedade, que é o policial,
05:16que tá numa operação.
05:17Então, boa parte dos policiais ingressam numa comunidade
05:20achando que tá indo reprimir o tráfico de drogas a varejo,
05:24realizado ali por um excluído social.
05:26Não que não exista iniquidade, né?
05:31Bolsões de pobreza, iniquidade.
05:33Mas, muitas vezes, ele entra achando que tá combatendo ali
05:35um excluído social que tá vendendo a droga a varejo
05:38porque é a única opção dele.
05:40Enquanto, na verdade, ele tá ingressando naquela área
05:43pra lutar pela sobrevivência do próprio Estado.
05:46O desenho do problema, a estruturação do problema
05:48é outra, completamente diferente.
05:50E eu acho que é o...
05:51Pela experiência que eu tenho conversando com policiais,
05:54eu acho que é um...
05:56Um grande problema hoje que os policiais não saibam disso.
05:59porque eles...
06:00Exato.
06:01Porque eles, como eles não têm ideia,
06:03eles não têm ideia da importância da missão, né?
06:08Eles, muitas vezes, acham que estão cumprindo
06:10uma tarefa injusta,
06:13que é severamente criticada por outras partes da sociedade, né?
06:18Que não percebe que ali tá uma ameaça
06:19à existência da própria sociedade.
06:21Exatamente.
06:22Assim, observa.
06:24Se ele entra achando que tá combatendo narcotráfico,
06:27ele vai tá focado em quê?
06:29Em aprender droga e aprender arma.
06:31Repito, isso é extremamente importante.
06:32O trabalho dos nossos policiais,
06:34sobretudo nas Forças de Segurança do Rio de Janeiro,
06:36eu repito isso,
06:36eu tenho uma admiração muito grande
06:38pelas polícias do Estado do Rio de Janeiro,
06:41pelo preço que eles vêm pagando há muitas décadas,
06:45de diferentes formas.
06:47Mas se a polícia ingressa numa determinada área
06:50achando que ela tá reprimindo o tráfico de drogas,
06:53o objetivo é aprender drogas e armas.
06:56Mas se ela tem uma compreensão mais ampla do problema,
07:00que ela tá enfrentando uma insurgência criminal,
07:02ela já passa a entender que ela tá lutando por legitimidade.
07:06Então, isso muda a concepção da forma de atuação da polícia,
07:10porque muda o objetivo central.
07:11Que é uma coisa que você descreve nesse seu livro aqui, né?
07:13Bastante, é.
07:14A gente bastante chama isso.
07:15Muito bom o livro.
07:17A gente chama bastante atenção nisso.
07:19Então, a gente precisa reinterpretar o problema.
07:23Agora, quando a gente fala que tem segurança pública
07:25e segurança nacional,
07:26então, tira da segurança pública e joga pra segurança nacional?
07:29Não, não é isso.
07:30A gente precisa ter uma remodelagem do conceito.
07:34A gente precisa ter uma perspectiva de segurança multidimensional.
07:38O que é que é isso?
07:39é a orquestração, né?
07:41A articulação de todas as capacidades coercitivas e não coercitivas
07:45disponíveis no Estado e na sociedade
07:47pra alcançar efeito estratégico decisivo
07:50na dimensão física, humana e informacional.
07:54Isso indo além, assim, da...
07:56Ah, isso é só uma questão de semântica?
07:58Não.
07:58Porque quando a gente foca na segurança pública,
08:01a gente, inevitavelmente,
08:03nós vamos nos ater
08:04às ações táticas na dimensão física.
08:09Então, diariamente,
08:12as nossas forças de segurança pública,
08:14pela sua qualidade, né?
08:15Pela sua maestria técnica,
08:19pelo seu desempenho,
08:20pela sua capacitação,
08:22elas acumulam diariamente
08:23conquistas, vitórias, táticas na dimensão física.
08:28O problema é que a gente não está conseguindo
08:30ter ganhos estratégicos
08:32além da dimensão física,
08:35na dimensão humana e na dimensão informacional.
08:37Então, a gente...
08:39Esse é o famoso enxugar gelo, né?
08:40Os próprios policiais.
08:41Deixa eu ver se eu consigo traduzir isso
08:43que você acabou de dizer.
08:46A gente tem
08:47forças policiais
08:49entrando em comunidades,
08:50prendendo traficantes,
08:52apreendendo armas e drogas.
08:53Mas a gente não tem, por exemplo,
08:56o sistema de justiça criminal
08:58consciente
09:00de que aquilo ali
09:01não é uma mera operação
09:03contra o tráfico de drogas.
09:04Aquilo ali é uma operação
09:05contra um poder armado
09:08que está querendo
09:09se impor sobre o Estado.
09:12Então, você tem...
09:13Vou dar um exemplo fictício.
09:14Mas você tem um defensor
09:16que vai mover céus e terras
09:18para tirar aquele traficante da cadeia
09:20ou diminuir a pena dele
09:22sem saber que aquele...
09:24Ou sem ter consciência
09:25que aquele traficante
09:26é peça de um mecanismo
09:28que precisa ser desmontado
09:30porque está ameaçando
09:31a existência do Estado.
09:33Exato.
09:33Então, quando...
09:34Aí, quando você fala isso,
09:35a gente está caindo justamente
09:36naquele gap,
09:37naquele ato jurídico
09:38que eu falei.
09:39Porque ele está com uma perspectiva
09:42do direito interno.
09:44Então, aquele...
09:44Aquele...
09:45Aquele criminoso,
09:48ele vai ser enquadrado
09:48como um homicida,
09:49simplesmente,
09:50ele vai ser enquadrado
09:51como um traficante de droga.
09:53Não é isso?
09:53E a gente está vendo
09:55o caso dele isolado,
09:56mas a gente não consegue entender
09:58essa dinâmica
09:59na qual ele está inserido
10:01que é muito mais ampla.
10:02Eu vou até dar um outro exemplo,
10:03que eu costumo dar sempre.
10:04É muito simples,
10:05é muito trivial,
10:06mas é para título de ilustração.
10:08O Rio de Janeiro
10:09possui mais de 1.400 comunidades.
10:11Eu não sei se são 1.460,
10:12eu não me recordo.
10:15Cada uma comunidade
10:16tem suas peculiaridades.
10:17É interessante
10:18que a gente observa
10:19em uma determinada comunidade
10:21o Comando Vermelho
10:22colaborando com a milícia.
10:24A comunidade,
10:25na outra comunidade,
10:26o Comando Vermelho
10:26está se digladiando
10:27com a milícia.
10:28Então, assim,
10:29é uma dinâmica muito complexa.
10:31Muito complexa.
10:33Então,
10:33cada comunidade dessas
10:34tem suas peculiaridades,
10:36mas existem alguns pontos em comum.
10:38Degradação ambiental,
10:39por exemplo,
10:40é um problema comum
10:41a todas elas.
10:41a gente nunca
10:43para para pensar
10:45o papel
10:46da Secretaria do Meio Ambiente
10:48ou do Ministério do Meio Ambiente
10:49na regeneração ambiental
10:51desses espaços segregados.
10:54Como você falou,
10:55não oferece o sistema de justiça,
10:57somos indiferentes
10:58à degradação ambiental ali.
11:00Então,
11:01no dia a dia,
11:02as forças policiais
11:03que estão realizando
11:04aquelas operações ali,
11:06estão se sacrificando
11:07em operações
11:08para ingressar
11:09nas comunidades,
11:09para superar
11:10superar as barricadas,
11:13para superar
11:14o volume de fogo
11:15dos criminosos
11:15que é cada vez maior.
11:17Estão realizando ações
11:18e realizam muito bem
11:20no nível tático.
11:23E são ações
11:24na dimensão física.
11:26O que falta?
11:27O que falta
11:28essas ações,
11:29não é que elas
11:29não devam ser feitas.
11:31Sim, elas devem ser feitas.
11:32O problema é que elas
11:32têm que se subordinar
11:34a um arranjo político
11:35estratégico maior,
11:36o que não existe.
11:37Ou seja,
11:39deixa eu simplificar
11:40de uma forma grosseira.
11:42O Brasil deveria ter
11:43um Ministério de Combate
11:45à Insurgência Criminal,
11:46por exemplo,
11:47ou alguma entidade...
11:49O Ministério,
11:50o Estado brasileiro
11:51deveria ser capaz
11:53de articular
11:55todos os ministérios,
11:59fazendo a interlocução
12:00com a administração
12:02no nível estadual
12:03e no nível municipal,
12:05para que isso fosse
12:06enfrentado pelo Estado
12:08e pela sociedade.
12:09E não somente
12:10o que acontece hoje
12:11que é um problema
12:11de polícia.
12:12Porque enquanto a gente
12:13tratar isso como
12:13um problema de polícia,
12:15acontece justamente
12:16isso que a gente
12:17testemunha.
12:18A gente vira as costas,
12:19a polícia fica sangrando
12:21numa guerra
12:22em glória e sem fim
12:23e paga um preço
12:24muito caro por isso.
12:26A nossa polícia
12:27paga um preço
12:27muito caro por isso,
12:28as nossas polícias, né?
12:29E a sociedade fica
12:33de braço cruzado
12:34vendo as polícias
12:37e principalmente os moradores
12:40dessas áreas conflagradas.
12:42As polícias estão
12:44carregando um peso
12:46que deveria ser dividido
12:49com vários outros setores
12:51do Estado e da sociedade.
12:53Sem dúvida alguma.
12:54Por exemplo,
12:55eu vou...
12:56A mídia.
12:56A mídia não entende
12:58o que está acontecendo.
13:00Boa parte da mídia
13:01empurra uma narrativa
13:02simplificada
13:03da polícia
13:05como uma força
13:06ilegítima
13:07que entra na comunidade
13:08para violar a paz
13:10da comunidade.
13:11É.
13:11E aí,
13:12isso é interessante.
13:13A gente...
13:13Esses atores armados,
13:15esses grupos armados,
13:17criminais,
13:18é...
13:19Eles operam
13:19de forma empírica,
13:21mas de uma maneira
13:22muito, muito eficiente.
13:23Então, por exemplo,
13:24quando eles realizam
13:25essas...
13:26Esse processo
13:27de territorialização,
13:29eles revestem
13:30as suas ações
13:31de um falso apelo
13:32de banditismo social.
13:35E isso, infelizmente,
13:37encontra eco
13:37na nossa sociedade.
13:39Eu acredito,
13:41sobretudo,
13:41por dois motivos.
13:42O primeiro,
13:43que a nossa elite intelectual
13:44ainda é muito atrasada,
13:46tá?
13:46Muito ultrapassada.
13:47E segundo,
13:48é a tradição
13:49populista
13:50da América Latina.
13:51Então, a demagogia,
13:52ela...
13:53Ela sempre encontrou
13:55um campo muito fértil
13:56na América Latina.
13:57Então, quando a gente
13:58junta esses dois fatores,
14:00esse falso apelo
14:01de banditismo social,
14:02ele acaba reverberando.
14:03E muitas vezes,
14:05a mídia,
14:06especificamente
14:07a grande mídia,
14:08ela acaba dando eco
14:09a essa visão
14:12míope,
14:12distorcida
14:13da coisa, né?
14:15E é interessante
14:16que esses grupos armados,
14:19obviamente,
14:20não são todas
14:21as organizações
14:22não governamentais,
14:23obviamente não são todas
14:24as associações
14:25de moradores,
14:26etc.
14:27Mas eles criam meios
14:28e penetram, né?
14:30Quando a gente falou
14:31que eles agem de forma
14:32direta e indireta
14:33sobre a população,
14:34de forma indireta,
14:35que é a forma mais eficaz,
14:37é justamente atuando
14:38sobre os líderes naturais
14:39daquela comunidade.
14:41Então,
14:42muitas organizações
14:46não governamentais,
14:46elas acabam se tornando,
14:48elas se converteram
14:49em instrumentos
14:52de interlocução
14:53política
14:55desses grupos armados
14:56com o Estado
14:58e com a sociedade.
14:59Então,
15:00é um problema
15:01que vai,
15:02que realmente
15:03ele desafia
15:04a existência
15:05do Estado.
15:06Ele leva
15:06a uma renegociação
15:08das condições
15:09de existência
15:09do Estado.
15:10Ele leva
15:10a uma renegociação
15:11do contrato social.
15:12Isso explica
15:13a existência
15:14desse ecossistema
15:15de ONGs
15:16que,
15:17por uma incrível
15:17coincidência,
15:18todas repetem
15:20o mesmo discurso,
15:22a mesma narrativa
15:23da polícia
15:24como força opressora.
15:27Exatamente.
15:27Assim,
15:28esse ecossistema
15:30que você mencionou
15:31tem diferentes
15:34grupos armados
15:35criminais,
15:36tem partido político,
15:38tem organizações
15:39não governamentais,
15:40tem a igreja,
15:42tem a associação
15:42de moradores,
15:43tem a academia.
15:45Não é isso?
15:45Então,
15:46assim,
15:46e esse ecossistema,
15:48além dessa multiplicidade
15:49e heterogeneidade
15:50de atores,
15:51os vínculos
15:53entre esses atores
15:54são fluidos,
15:55são estáveis.
15:56Então,
15:56esses ecossistemas
15:56são constantemente
15:57dinâmicos.
15:58O problema
15:59é que,
15:59quando a gente
15:59enquadra isso
16:00numa questão
16:01de segurança pública,
16:02qual é a figura
16:04de linguagem?
16:04Como é que a gente
16:05reproduz isso aí?
16:06A gente imagina
16:06um ringue de box
16:07e dois pugilistas.
16:09Um no canto
16:09são as polícias,
16:10no outro canto
16:11é o grupo criminoso.
16:13não é um ringue de box
16:15com dois pugilistas.
16:17É justamente
16:18o que você falou,
16:18são ecossistemas
16:19complexos adaptativos
16:21que vão mudando,
16:22que vão se adaptando,
16:23se regenerando.
16:25Então,
16:26há pouco tempo atrás,
16:29nós vimos
16:29uma âncora
16:32de um programa,
16:34de um jornal,
16:35um telejornal
16:35das principais
16:36emissoras do país,
16:38ela criticando
16:39uma operação policial,
16:40praticamente na hora
16:41que a operação policial
16:42acontecia,
16:43ela lendo ali
16:44o que teria sido
16:45uma mensagem
16:46de uma moradora.
16:47Na verdade,
16:48sem se aperceber,
16:50justamente por todas
16:51essas circunstâncias,
16:52ela estava lendo
16:53um verdadeiro manifesto,
16:54um verdadeiro editorial
16:57do crime organizado.
17:01Não que ela tenha
17:01vinculação com o crime,
17:07mas isso tudo,
17:08essas dinâmicas
17:09de redes,
17:10desses ecossistemas,
17:11leva a isso.
17:12Eu ligo isso
17:14com o comentário
17:15que você fez
17:15sobre a elite intelectual
17:18ultrapassada
17:19que vê,
17:21primeiro,
17:21ela não consegue enxergar
17:23ou se recusa a enxergar
17:25a questão da insurgência,
17:26ela vê charme
17:27na marginalidade,
17:29por causa do sabor
17:31marxista,
17:32revolucionário
17:33que isso tem,
17:34e ela busca
17:36e ela propõe
17:37uma equivalência moral
17:39entre as forças
17:40de segurança
17:40e o crime.
17:42Então,
17:42é como se fosse
17:43uma disputa
17:44de dois times
17:44de futebol.
17:45Exato.
17:46Exato.
17:46O que é,
17:47na verdade,
17:47assim,
17:49é uma desconexão
17:52com a realidade,
17:54é uma insonância
17:55com a realidade.
17:57Na verdade,
17:57a gente podia falar
17:58até insonância cognitiva,
17:59que o cérebro humano
18:01não aceita duas verdades
18:02ao mesmo tempo.
18:02Então,
18:03se ele é introjetado
18:04ao longo de décadas
18:05de que,
18:06por exemplo,
18:07a polícia é racista,
18:10aí aquela imagem
18:11de um policial
18:13do BOP,
18:14ou a própria polícia
18:15do Rio de Janeiro,
18:15a maioria da polícia
18:17do Rio de Janeiro
18:18se identifica como negra
18:19ou parda,
18:20às vezes,
18:21prendendo um criminoso
18:23que não é negro,
18:25aquilo ali
18:25se contrasta
18:27com aquele artifício
18:30que ela utiliza
18:31para explicar
18:31aquela realidade
18:32complexa dela.
18:33Então,
18:34quando a gente pega,
18:35recorre ao materialismo
18:36histórico,
18:36por exemplo,
18:37o materialismo histórico,
18:39embora ele avoque
18:41uma atemporalidade,
18:43na verdade,
18:44é um conceito
18:44adequado,
18:45moldado
18:45para a sociedade industrial.
18:47E a gente está deixando
18:48a sociedade industrial
18:49para trás.
18:50E a gente,
18:52o próprio conceito
18:53de segurança pública
18:54também,
18:55é um conceito
18:56que eu falei,
18:57a dicotomia
18:57de segurança pública
18:58e segurança nacional,
18:59ela decorre lá,
19:00ela surge em meados
19:00do século XVII.
19:02Então,
19:03a gente precisa,
19:06nós precisamos
19:08nos atualizar,
19:10nos oxigenar
19:12a nossa visão
19:13de mundo
19:14para que a gente
19:14esteja
19:15à altura
19:16do desafio,
19:18à altura da ameaça.
19:19Porque essa ameaça
19:20já está no século XXI
19:21há muito tempo.
19:22do século XVII.
19:23do século XVII.
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