O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), descartou a instalação de uma CPI para investigar as fraudes no INSS, alegando limitações regimentais. Em vez disso, propôs um "pacote antifraude" que reúne mais de 50 projetos para coibir irregularidades.
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NotíciasTranscrição
00:00Eu vou trazer uma informação adicional. A oposição ainda mantém confiança de que a CPMI, do roubo dos aposentados, será instalada rapidamente.
00:10Uma ala dos conservadores tenta, inclusive, emplacar a deputada Coronel Fernanda, do PL de Mato Grosso, como presidente do colegiado.
00:18Enquanto isso, o presidente da Câmara, Hugo Mota, continua a rechaçar a investigação do Congresso sobre a fraude bilionária no órgão.
00:25O parlamentar tenta convencer os seus pares de que a melhor resposta da Câmara para esse caso seria um pacote de leis, um pacote antifraude.
00:35Para isso, Mota prometeu celeridade e afirmou que escolherá um relator para essa medida até sexta-feira.
00:43Krigner, Hugo Mota agora parece como um defensor, não de uma CPI, não de uma investigação,
00:48mas de um esforço concentrado dos deputados para elaborar um conjunto de medidas para evitar novas fraudes.
00:56E ele tem chamado disso de pacote antifraude.
01:00E aí é preciso lembrar o que o Mota trouxe há pouco.
01:03Foi o próprio Congresso Nacional quem flexibilizou as regras e que permitiu esses descontos em massa
01:09nos contra-cheques de aposentados e pensionistas.
01:13Então, naquela época, foi o quê? O pacotão pró-fraude?
01:17Enfim, é preciso colocar isso também em perspectiva, né?
01:20Exato. A fala do deputado Hugo Mota realmente é lamentável porque ela é muito semelhante,
01:26inclusive, Caniato, à medida tomada pelo ministro Lupe.
01:30Quando, há um ano atrás, ele foi informado aí das fraudes,
01:35as pessoas falam que ele não tomou medidas.
01:37É mentira, ele tomou medidas, mas as medidas dele não tinham nada a ver com interromper as fraudes
01:43ou denunciar e punir aqueles que estão envolvidos.
01:46As medidas que o Lupe sugeriu, na época, né, depois da reunião em que foram apontadas as fraudes,
01:51foram de modernização do sistema.
01:53Ele pediu que, então, o ministério se debruçasse em estudos para modernizar o sistema.
02:00É basicamente o que o presidente Hugo Mota está dizendo agora.
02:02Ele está falando, olha, vamos aqui trabalhar num pacote de lei antifraudes
02:06para que isso não venha a acontecer mais,
02:09ignorando o fato de que existem desdobramentos e um aspecto político dessa investigação
02:14que não pode passar despercebido.
02:17Não pode por uma questão jurídica, por uma questão também moral e uma questão da população.
02:22O povo quer saber quem foram as pessoas que esquematizaram toda essa grande fraude
02:29e se beneficiaram por isso e como essas pessoas utilizaram esse dinheiro.
02:33Isso é importante porque nós estamos falando de um benefício para políticos.
02:38É um benefício que foi destinado para políticos e a gente não precisa ter grandes dúvidas
02:43de que existem grandes figurões da política brasileira que estão envolvidos aí na lista dos beneficiados.
02:48Agora, o que não pode é simplesmente parar de olhar para trás e olhar para frente dizendo
02:54vamos passar aqui um pacote antifraude e feito justamente como foi o argumento trazido aqui pelo Mota,
03:01por essas pessoas que lá atrás também impediram isso de acontecer.
03:04Então, a gente está vendo uma solução aqui que ela não é efetiva e muito menos é aquilo que o povo pede.
03:14E o que me parece dessa gestão do presidente Hugo Mota é que ela tem se distanciado cada vez mais
03:19do que o povo pede, de quais seriam as urgências da rua.
03:24E não foi isso que Hugo Mota prometeu à oposição.
03:27Não foi isso, inclusive, que Hugo Mota disse no seu primeiro dia enquanto presidente da Câmara dos Deputados
03:32que ele disse que ali agora a sua rede social seria o Google Mota.
03:38Não seria o do Hugo Mota, seria o Google Mota.
03:41Que qualquer um poderia ir na rede social dele e descobrir o que está acontecendo no Brasil
03:44e descobrir o que se discutia na Câmara e também contribuir.
03:48Ele abriu esse convite para as pessoas o seguirem lá por esse propósito.
03:52E agora?
03:52As ruas têm pedido projetos como, por exemplo, o PL da Anistia.
03:56As ruas têm pedido uma solução rápida para a questão do INSS.
04:00As ruas têm pedido muito mais celeridade em outras questões, inclusive de impacto econômico.
04:06E nós não estamos vendo isso sendo prioridade do presidente Hugo Mota.
04:10Você, Eberaldo, as informações que chegam indicam que prioridade para a Hugo Mota
04:15será avançar com essa agenda do pacote antifraude,
04:19criar um projeto com várias medidas, vários dispositivos
04:24para evitar que crimes e fraudes como essa se repitam.
04:30E aí muitas pessoas também se lembram das notícias que foram divulgadas nos últimos dias.
04:35Na semana passada nós trouxemos uma informação exclusiva, inclusive da nossa reportagem em Brasília,
04:42de que fontes ligadas às entidades, aos sindicatos,
04:46avaliavam fazer uma espécie de delação premiada.
04:49Avaliavam colocar a boca no trombone e falar, mencionar nomes de políticos
04:56que participaram dos esquemas nos últimos meses.
04:59E aí muita gente acaba encaixando as informações.
05:02Bom, por que protelar a investigação?
05:05Será que há algum tipo de preocupação que as entidades comecem a abrir o bico
05:09e citem nomes de políticos que estão aí na ativa, que têm mandato?
05:14Enfim, Hugo Motta agora defende esse pacote antifraude, Beraldo.
05:19Pois é, Caniato.
05:21Esse tipo de postura vindo do Congresso Nacional,
05:24que diante de um desvio, claro, roubo de dinheiro,
05:28bilhões de reais foram roubados de aposentados brasileiros,
05:32com o conluio, ao que tudo indica, de agentes políticos.
05:36Qual é a reação do Congresso Nacional, da liderança da Câmara dos Deputados?
05:40Não, vamos apresentar um pacote antifraude.
05:43É a mesma coisa, Caniato.
05:45Uma família que tem um filho brutalmente assassinado,
05:49aí vai à delegacia.
05:51Olha, aqui, delegado, temos aqui esse assassinato, essa loucura,
05:55precisamos de uma investigação para saber quem foi o responsável por esse crime bárbaro.
06:01E aí o delegado fala o seguinte,
06:03olha, nós precisamos pressionar os nossos deputados,
06:09os nossos legisladores, para eles mudarem a legislação,
06:13para impedir que pessoas como essa tenham arma de fogo.
06:17Mas peraí, isso é uma coisa.
06:19Isso é uma coisa.
06:20Eu estou falando do roubo, do assassinato, do que já aconteceu,
06:24do responsável pelo crime cometido.
06:26Não se pode tratar o crime cometido com esse tipo de proposta,
06:31porque isso, obviamente, é uma manobra para tirar o foco de onde o foco deve estar.
06:37Neste momento, o que precisa acontecer é uma investigação
06:40que chegue aos autores, aos mentores, aos envolvidos dessa mega fraude bilionária.
06:48Qualquer coisa que fuja disso,
06:51não vai ter o efeito necessário que a sociedade brasileira espera.
06:55falar em pacote antifraude?
06:59Mas que parte da lei permite fraude?
07:01O que falta na legislação atual?
07:04Qual foi a invencionice que aconteceu para roubar esses aposentados?
07:10Não teve nada.
07:12Simplesmente fizeram um acordo com agentes políticos,
07:16passaram a possibilidade de se fazer desconto na fonte pagadora das aposentadorias
07:23para beneficiar associações fraudulentas.
07:27Foi isso que aconteceu.
07:28Não tem absolutamente nada de novo no crime cometido.
07:32Não exige um aprimoramento de legislação.
07:36Não exige legislação para tratar de uma grande novidade.
07:40Então, Caniato, realmente, assim,
07:43é um discurso para quem não está sintonizado aí
07:47nas coisas que estão acontecendo no dia a dia.
07:50É interessante você ter trazido esse aspecto,
07:53que parece aquela história da PEC da Segurança, né, Mota?
07:56Você vai fazer uma PEC da Segurança Pública
07:58para instituir algo que pode ser determinado pelos próprios secretários de Segurança.
08:03Ok, vamos integrar os sistemas?
08:05Ok, não precisa de uma PEC para isso, né?
08:07Precisa de um pacote antifraude simplesmente para cancelar os descontos?
08:12Basta querer, né, Mota?
08:14É evidente.
08:15Você não precisa de uma lei para obrigar as pessoas a cumprirem uma outra lei.
08:22A lei já basta, né?
08:24Mas esse tipo de menosprezo, esse tipo de desprezo pela inteligência das pessoas
08:31já foi muito comum no Brasil, né?
08:34O problema é que o tempo passou, as pessoas ficaram mais bem informadas.
08:41Hoje já existem as redes sociais, hoje as pessoas têm um interesse por política
08:47que não existia há cinco ou dez anos atrás.
08:51As pessoas assistem os pingos nos índios, a maioria das pessoas entende muito bem
08:57o que está acontecendo no Brasil, mas a maioria dos nossos políticos está parada lá
09:02na década de 1980, de 1990, na época em que todo mundo tinha mais interesse
09:10pela escalação da seleção de futebol do que pela política.
09:14Esse quadro mudou, as pessoas entendem muito bem o que está acontecendo.
09:19Por isso, o desespero da classe política de sugerir regulação de mídia,
09:27de criar mecanismos que dificultem as pessoas se comunicarem, compartilharem informações.
09:34Por isso, esse desespero de decretar sigilo de documentação, de impor narrativas.
09:41Assim, quando você olha para o governo, quando você olha para o Estado brasileiro,
09:46até dá para você compreender, é o mesmo jogo de sempre, eles não conhecem outra forma de fazer isso.
09:55Mas a decepção fica grande quando a gente olha para políticos jovens.
10:02Alguns desses políticos são bem jovens, são da nova geração.
10:07Eles deveriam ter uma compreensão melhor do que está acontecendo no mundo.
10:12O mundo hoje mudou.
10:14As pessoas não aceitam mais essa conversa fiada, esse papo bobo.
10:20E eu digo isso baseado nas conversas que eu tenho com as pessoas mais comuns,
10:26que eu encontro pela rua.
10:28É um exercício que eu recomendo a esses parlamentares,
10:32que estão vivendo nesse mundo isolado, dentro dessa bolha,
10:37onde as pessoas são bobinhas e compram qualquer narrativa.
10:41Saiam, coloquem um disfarce, abandonem os seguranças, esqueçam o carro blindado,
10:47saiam andando pelas ruas, conversem com as pessoas,
10:51perguntem a elas o que elas acham da anistia,
10:55perguntem o que elas acham do escândalo do INSS,
10:59e talvez vocês tenham uma surpresa.
11:02Zé Krigner, ontem nós falávamos aqui sobre uma notícia que tinha sido divulgada,
11:08que a base governista já tinha entendido que não daria para lutar
11:13contra uma CPMI no Congresso Nacional,
11:18mas que as articulações deveriam se voltar para alcançar cargos importantes,
11:24cargos estratégicos.
11:25Falamos ontem sobre presidência e relatoria dessa CPMI,
11:29e aí os nossos comentaristas trouxeram suas impressões
11:32sobre o quanto uma investigação poderia ou não ser distorcida,
11:38sendo comandada por governistas.
11:40Agora trouxemos a informação que um grupo de conservadores,
11:44de parlamentares conservadores,
11:46defende a deputada Coronel Fernanda, do PL de Mato Grosso,
11:50para presidir o colegiado.
11:51e eu queria a sua reflexão,
11:53de que maneira uma CPMI tocada e presidida e relatada por governistas
12:00pode ter o seu objetivo desvirtuado?
12:06Bom, diante disso que nós estamos comentando aqui,
12:09a gente fica até na dúvida se dentro da oposição
12:13é garantia de que o processo vai ser conduzido da melhor maneira
12:18e da maneira como o público espera, como a população espera.
12:23Porque a gente está com uma dificuldade agora de entender
12:26quem são aqueles que de fato são oposição
12:28e quem são aqueles que são uma oposição um pouco mais velada,
12:32não tão oposta.
12:33Assim, a figura da Coronel Priscila é realmente uma figura...
12:38Coronel Fernanda, perdão.
12:40Isso, Coronel Fernanda.
12:40Coronel Fernanda.
12:41Ela é uma figura muito forte,
12:43mas uma figura de muito bom trânsito em outros grupos,
12:49não só da oposição dentro do Congresso,
12:51dentro da Câmara especificamente.
12:53É por isso, inclusive, que ela tem sido essa mobilizadora,
12:56foi ela a autora do pedido ali para a implantação da CPMI
13:00e também junto com a senadora Damares Alves.
13:04As duas têm trabalhado nessa frente aí dentro do Congresso Nacional.
13:09Ter alguém por parte da base governista
13:11não me parece que seja uma ameaça direta,
13:14mas essa tentativa, essa necessidade de ter alguém,
13:19essa para mim é a maior ameaça de todas.
13:21Porque ali, para mim, e isso aqui, como eu falei antes,
13:25isso já é uma presunção de culpa também.
13:28Porque qual é o medo?
13:29A base governista tem declarado vez após vez
13:33que esse escândalo começou nos governos anteriores,
13:36de que esse governo, o grande louro desse governo,
13:39é de ter permitido com que a Polícia Federal
13:41investigasse sem nenhum tipo de interferência,
13:44sem nenhum tipo de interrupção,
13:46que o ministro Lupe e também o atual ministro Volney Queiroz
13:50também se comportaram da melhor maneira possível.
13:53Bom, se esses argumentos são, de fato, verdadeiros,
13:58o que precisa temer?
14:01Qual é o grande problema de ter alguém da oposição
14:04coordenando essa CPI?
14:07Qual é o problema agora de ter essa investigação
14:09vindo de alguém da oposição?
14:11Isso, para mim, é o maior tiro no pé da própria base governista.
14:14Não me parece uma grande ameaça de primeiro,
14:17mas a mobilização para ter alguém ali vão ter acordos muito perigosos.
14:22Você, Geraldo, quer trazer também seu ponto de vista
14:24em relação à maneira de você organizar uma comissão
14:29que vai investigar uma fraude de tantos anos
14:32e, possivelmente, teve participação de integrantes dos mais diferentes partidos,
14:39de espectros políticos muito distintos,
14:42ora a oposição, ora a situação, enfim.
14:46É preciso, talvez, ter uma comissão plural
14:48quando a gente olha para os parlamentares, Beraldo?
14:50É, Caneta, é claro que essa queda de braço
14:55para ocupar esses postos mais importantes da CPMI
14:59é importante e vai levar vantagem quem tem mais força
15:03e, nesse caso, obviamente, o governo tem tanta força
15:07que está conseguindo impedir a CPI da Câmara,
15:10está conseguindo jogar para o segundo semestre a CPMI no Senado.
15:15Então, o governo está deitando e rolando, digamos assim,
15:19em relação a esse assunto no Congresso Nacional.
15:23É natural que ele indique, o presidente, o relator,
15:26consiga fazer esse ambiente ficar um ambiente mais favorável ao governo.
15:33Mas tem um aspecto importante da gente observar, Caneta.
15:36Se nós lembrarmos da CPMI dos Correios,
15:40nós vamos nos lembrar também que ela foi presidida
15:46por um senador do PT, Delcídio Amaral,
15:49e isso não impediu que a CPI ou a CPMI dos Correios
15:54produzisse consequências importantes.
15:58Quer dizer, toda a investigação do Mensalão
16:00que levou políticos tradicionais à cadeia,
16:04ela se desenrolou e a CPI teve um papel
16:08do ponto de vista político importante.
16:11Mas as investigações, paralelamente, foram acontecendo,
16:14subsidiaram o Supremo Tribunal Federal,
16:16que fez o seu trabalho sob comando do ministro Joaquim Barbosa.
16:20Agora, passado alguns anos,
16:24o senador Delcídio Amaral, aí já no Petrolão,
16:27acabou ele próprio preso,
16:29acusado de envolvimento em atos de corrupção,
16:33que era justamente o que a CPMI dos Correios
16:35investigava lá atrás.
16:37Então, essas coisas são importantes, Caneta,
16:40mas não são fundamentais.
16:42Ressalto aqui um trabalho bem feito pela oposição
16:45que tem que se esmerar em levar as pessoas certas
16:49na hora certa para fazer as perguntas corretas,
16:52para acabar com essa história
16:54de ficar fazendo piadinha e celebrar
16:57junto a depoentes
16:59para expressar toda a sua emoção
17:02de encontrar pessoas famosas em rede social,
17:05como vimos na CPI das Betes.
17:07A oposição precisa fazer um trabalho sério.
17:09Se fizer um trabalho sério,
17:11o Brasil tem muito a ganhar.
17:13Agora, se entregar os pontos
17:14e participar dos acordos que estão sendo propostos,
17:18aí realmente é perda de tempo,
17:19de dinheiro público,
17:20e a população vai pagar a conta
17:23e vai ter que ficar quietinha,
17:24porque nunca vai descobrir
17:25quem são os autores dessa mega fraude.