No programa Visão Crítica, especialistas analisaram os fatores que mantêm a taxa de juros elevada no Brasil, mesmo com a inflação em queda. Destacaram que a taxa básica de juros (Selic) permanece alta devido a questões estruturais, como o elevado endividamento público e a desconfiança dos mercados em relação à política fiscal.
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NotíciasTranscrição
00:00Um dia eu estava participando de um debate, terminamos o debate, eu falei, mas sem ser inconveniente,
00:05eu falei, nós falamos de tudo e esquecemos de um país que está correndo, atropelando por fora,
00:10sexto, quinto, quarto PIB do mundo, daqui a pouco eu não sei o que vai acontecer com a Índia.
00:14E nós, o nosso comércio com a Índia é pífio, né?
00:18Como é que fica? Quais são as oportunidades que eu vou passar para vocês três,
00:22que se abre para o Brasil nessa conjuntura?
00:24Veja, você é bastante rápido e direto ao ponto.
00:28Eu acho muito difícil ter oportunidades no aspecto de valor agregado, por vários motivos.
00:35O Brasil não tem plano de Estado, o Brasil tem plano de governo.
00:39Esse negócio da nova industrialização brasileira é completamente equivocado.
00:44A taxa de juros deveria cair. Não, a taxa de juros, ela está porque a inflação está 5,5%.
00:51E os rentistas, no final das contas, somos nós.
00:55Nós que determinamos as taxas de juros na curva de juros mais alta.
00:59Mas o problema vem muito mais lá atrás.
01:01Por exemplo, no último PISA, que é o Program for International Students Assessment,
01:06de 77 países da OCDE, de prova de crianças de 15 a 16 anos,
01:1577 países nós pegamos, se eu não me engano, em matemática, 58.
01:18Em ciência, 62º.
01:22Em leitura, 60º lugar.
01:25Ou seja, eu tenho uma educação, aí você fala,
01:28poxa, então o Brasil precisa investir mais em educação.
01:32Não, o Brasil é um dos países que mais investe em educação do mundo,
01:36em termos de percentual do PIB.
01:38Só que nós investimos praticamente 3 mil dólares público
01:42por estudante, por ensino fundamental,
01:46enquanto a OCDE investe 10 mil dólares.
01:50Para ensino superior, pelo amor de Deus, eu não estou falando mal de ensino superior,
01:54mas todo o país que deu certo investiu muito mais no ensino fundamental do que no superior.
01:58Nós investimos 13 mil dólares, 14 mil dólares,
02:01enquanto a OCDE investe 12 mil e 500 mil dólares.
02:04Ou seja, as universidades, hoje em dia, no Brasil,
02:07é praticamente uma instituição financeira.
02:11Todo o país que deu certo investiu muito mais nos fundamentais.
02:14Outro ponto, a nossa infraestrutura,
02:18no último World Competitiveness Center, também da OCDE,
02:22de 140 países, nós pegamos centésimo, vigésimo lugar.
02:26E se a gente entrar um pouco de macroeconomês aqui,
02:30usar a teoria de Solo,
02:33o Robert Solo, ganhador do Prêmio Nobel de Economia,
02:37eu não consigo mais crescer por transpiração.
02:40Porque minha população economicamente ativa não está crescendo.
02:44Capital, eu acabo dando para o governo.
02:46Eu preciso crescer via produtividade total dos fatores.
02:49Produtividade do trabalhador e produtividade do capital.
02:53Produtividade do trabalhador, eu não tenho educação.
02:55Produtividade do capital, eu não tenho infraestrutura.
02:58E outra, pasme, Vila,
03:0048% da população brasileira
03:04não tem acesso ao tratamento de esgoto.
03:09No nosso caso, não tem problema isso daqui.
03:12Porque nós já estamos acima dos 15 anos, né?
03:15Mas crianças que têm de 0 a 7 anos
03:17têm uma neuroplasticidade enorme.
03:20Essas crianças que ficam sem tratamento de esgoto,
03:23neurobiologicamente, elas estão prejudicadas.
03:27Ou seja, eu estou há 22 anos negociando
03:29o tratado com a União Europeia.
03:31Cadê o negócio do saneamento básico que nós não fizemos?
03:35Cadê o negócio da educação que eu já poderia ter feito
03:38um trabalhador pronto para competir?
03:40E mesmo assim, a indústria fala,
03:44não, me dá mais 10 anos,
03:46ou seja, vão ser 32 a 35 anos
03:49para eu me preparar para competir
03:52com o europeu na indústria.
03:55E eu não vou estar pronto.
03:57São 35 anos que nós estamos querendo.
04:0022 de negociação
04:02e mais 10 a 11 a 12
04:05para cair 92%.
04:07Ou seja, eu não vejo esse tipo
04:09de nova industrialização
04:12que é na educação fundamental,
04:15que é no saneamento básico,
04:18que é na infraestrutura.
04:19Então, infelizmente,
04:21eu vejo o Brasil como o país das commodities.
04:24Claro que você tem ilhas de excelência.
04:27Você tem Hebraer,
04:29você tem WEG,
04:30você tem Frasli,
04:31mas é difícil você falar
04:33as verdadeiras ilhas de excelência
04:35que sejam fora do segmento de commodities.
04:38Você vai falar Vale,
04:39vai falar Petrobras,
04:40vai falar BRE,
04:42vai falar JBS,
04:43tudo isso daí é commodity.
04:45Eu quero saber as ilhas de excelência.
04:48Ou seja, o Brasil está ficando para trás.
04:50E como diz o Marcos Lisboa,
04:51isso é coisa de profissional.
04:54Isso não é coisa de amador,
04:55isso é coisa de profissional.
04:56Nós conseguimos atrasar o Brasil em 20 anos
05:00culpando justamente o termômetro.
05:04O problema é taxa de juros.
05:05Não, o problema não é taxa de juros.
05:07Veja, taxa de juros é alta no Brasil,
05:10pelo amor de Deus.
05:11Porque vamos pensar,
05:13se o teu vizinho, Vila,
05:14gasta demais
05:15e fala para você,
05:17não vou te pagar mais o dinheiro,
05:20vou continuar pedindo emprestado,
05:22você fala,
05:22espera um pouquinho,
05:23meu risco aumentou.
05:25Meu risco aumentou,
05:26eu vou cobrar mais juros de você.
05:29Se eu cobro mais juros de você,
05:31eu expulso o setor privado da economia
05:34para financiar o setor público,
05:38que é o chamado efeito deslocamento.
05:41Então, a gente culpa a taxa de juros.
05:44Mas aí fica aquela coisa,
05:45vendedores de miçanga,
05:46que gostam de vender,
05:48queimar a cabeça de Banco Central na Paulista,
05:51não entendem que quem cobra a taxa de juros,
05:53no final das contas,
05:54somos nós, poupadores,
05:56que temos um restinho de dinheiro
05:58que põe no fundo de investimento.
06:00E não é essa a única razão
06:02do atraso do Brasil.
06:04Esse é o termômetro do atraso
06:07do gasto público do Brasil,
06:09que não tem dinheiro
06:11e que tem um histórico de default.
06:13Não vamos dar calote.
06:16Mas não vamos esquecer.
06:17Uma coisa, obviamente,
06:18muita gente lembra.
06:19Mas em 1980 a 1994, Vila,
06:23a nossa inflação acumulada,
06:25pasme,
06:26foi de 12 trilhões percentuais.
06:30Isso é um calote.
06:32Demos calote em 82,
06:33demos calote em 87,
06:35tivemos o plano Collor.
06:37Quem financia o governo
06:38não esquece dessas coisas.
06:41Então, cobre.
06:41Quando você fala que gasta é vida,
06:43que tem que gastar mais
06:44e que tem que fazer o auxílio gás,
06:46tem que fazer o INSS,
06:47tem que fazer o consignado,
06:49você fala,
06:50gente, vocês não vão cortar mais nada?
06:52Desde 90 trilhões e...
06:549 trilhões de reais
06:56e não vão cortar nada?
06:57Não.
06:57Então, não é a taxa de juros
06:59o problema maior do Brasil.
07:01O problema maior aqui,
07:02eu não estou nem falando
07:03de Bolsonaro ou Lula.
07:04Estou falando de lá para trás.
07:07De 30, 40 anos para trás.
07:09Sim.