A economista Carla Beni explica como a taxa de juros influencia o controle da inflação no Brasil, especialmente diante do cenário de alta do IOF e discussões sobre equilíbrio fiscal.
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00:00Professora Carla Bene, claro que a gente faz um brinco aqui, mas a consagrada professora economista da Faculdade de Atulio Vargas, muito preparada.
00:07Então eu quero submeter à senhora o seguinte raciocínio.
00:12Em agosto de 1971, o presidente Nixon disse que o dólar não estaria mais atrelado ao ouro.
00:19Ou seja, compre dólar, use dólar, a economia tem que ser dolarizada, porque eu digo que o dólar vale.
00:26Fidúcia, ou seja, confie na gente.
00:28E com isso os Estados Unidos conseguem imprimir um monte de dólar, imprimindo até mais do que a sua economia autorizaria a emitir,
00:35porque ele sabe que isso vai ser espalhado por todo o mundo, ou seja, o mundo vai solidarizar-se com a dívida americana.
00:43Isso levou o quê? A uma irresponsabilidade fiscal dos Estados Unidos.
00:47Eu quero que a senhora faça essa análise e até a crítica.
00:50Uma irresponsabilidade fiscal dos Estados Unidos numa emissão desenfreada de dólar,
00:54porque não precisa mais estar atrelado à quantidade de ouro que você tem lá no Fort Knox, lá no Tentucky.
01:00Muito bem, naquele forte que é o banco que tem o ouro americano.
01:02Muito bem.
01:03Isso levou ao aumento da inflação dos Estados Unidos, 680% de lá para cá.
01:07E aí vem o segundo ponto que eu queria ligar.
01:10Em 2008, quando teve a crise do subprime, em dezembro de 2008,
01:14o Fed baixou as taxas de 0% ou 0,25%.
01:18Isso tem gerado inflação, aumentando o déficit fiscal.
01:22E muita gente diz que a economia americana pode ingressar numa situação de perigo.
01:27Porque eles estão pagando de juros 1,2 trilhão de dólares por ano,
01:32num PIB de 29 trilhões de dólares.
01:34Se chegar a mais de 6% do PIB, começa a criar uma situação de irreversibilidade.
01:39Todo esse raciocínio que foi feito vai dizer o seguinte,
01:43é necessário, sim, não é tara, ter respeito pelo equilíbrio fiscal,
01:48porque políticas assistencialistas têm dia e hora para acabar.
01:52E a impressão que nós temos é que estamos vendendo o almoço e o jantar
01:55para pagar o café da manhã.
01:57Estou agora expondo esse ponto para que a senhora explore e esclareça ao telespectador.
02:02Bom, vou organizar um pouco rapidamente a questão da economia americana.
02:06E vou até dar um exemplo.
02:09O presidente do FED, na época, em 2008, Alan Greenspan,
02:13ele deu uma entrevista, na época, na CNBC, inclusive, muito interessante,
02:17onde ele disse que os Estados Unidos poderiam imprimir o que ele quisesse de dinheiro
02:20para pagar a dívida que fosse.
02:22Porque ele sempre pode imprimir dinheiro.
02:25Foi muito interessante, porque o jornalista ficou chocado e tudo.
02:28E eu, inclusive, divulgo esse material, inclusive, nas minhas aulas.
02:33E dentro da crise do subprime dos Estados Unidos,
02:36em 2008, o Banco Central tinha 400 bilhões de dólares internamente dele
02:43e ele terminou 2020 com 7 trilhões.
02:47E a inflação dos Estados Unidos, sinto muito, capês, não subiu.
02:51E, inclusive, esse é um material muito interessante.
02:54Está no livro do Galípolo.
02:56Para quem não sabe, o Galípolo tem um livro com o professor Beluso, excelente,
03:00que é sobre o real poder da abstração, que tem a ver com a moeda.
03:04E, lá nesse livro, você justamente vê a inflação dos Estados Unidos,
03:09que ela ficou muito baixa.
03:10Ou seja, a emissão monetária não necessariamente provoca inflação.
03:14Por quê?
03:14Porque isso tudo foi direcionado para o mercado financeiro.
03:18Então, onde que eu vou entrar aqui com o mercado financeiro?
03:21Nós estamos vivendo, há muito tempo, uma fase específica do capitalismo,
03:26que chama capitalismo financeiro.
03:28Ela não é mais o capitalismo industrial.
03:30Então, você tem, no Brasil e nos Estados Unidos,
03:35o grande poderio é o mercado financeiro.
03:37É ele que manda, é ele que manda votar o IOF,
03:41é ele que resolve quem financia o jornalismo econômico.
03:45Então, essa construção é muito importante para que a gente entenda
03:49e organize o raciocínio para entender que a taxa de juros no Brasil,
03:55ela subiu de patamar a taxa real.
03:57A média nossa era entre 4 e 4,5, acima da inflação.
04:02A nossa taxa real de juros está beirando 9.
04:05Então, muito maior do que a Rússia, que está há três anos em guerra.
04:09Então, nós temos uma taxa real de juros extorsiva
04:13e tudo que nós compramos, absolutamente tudo, tudo que nós compramos,
04:18está embutido a taxa de juros, porque não existe financiamento sem juros.
04:22Então, sim, o motor da inadimplência entrar no Serasa,
04:28mapa da inadimplência do Serasa, você vai encontrar 72 milhões de adultos negativados, sim.
04:34E o motor disso é a taxa de juros.
04:37Agora, professora, por que que, ao elevar a taxa de juros,
04:41se consegue controlar a inflação?
04:44E por que é tão importante os bancos centrais,
04:47mesmo brigando com os políticos aqui nos Estados Unidos,
04:50manterem alta a taxa de juros com esse foco no controle da inflação?
04:54Qual a relação que existe entre isso e por que, então, essa obsessão?
04:59O Gabriel Galípolo é um economista consagrado,
05:01o Roberto Campos Neto também.
05:03Eu não acredito que eles queiram o mal do Brasil.
05:05Por que que eles colocam a taxa de juros alta
05:07como um pressuposto para o controle da inflação?
05:09Esse pressuposto, ele não é imediato e ele não é linear.
05:14Então, subir a taxa de juros faz reduzir a inflação?
05:19Não necessariamente.
05:21Nós temos quatro causas inflacionárias.
05:24Custo, demanda, inércia e expectativa.
05:27A taxa selic, ela é mais eficiente para demanda,
05:30como foi muito bem dito aqui.
05:32Então, a taxa de juros, se subir a taxa de juros, não faz chover.
05:36Então, nós temos uma inflação de alimentos, no ano passado,
05:40que foi 8% e o IPCA foi 4,8%.
05:44Então, nós temos uma métrica interna do Banco Central
05:48com uma meta de inflação que ela é extremamente rígida,
05:52a material robusto a esse respeito,
05:55que esse 3% nosso é muito fora da nossa realidade.
05:59E quando você tem que perseguir essa meta,
06:03nos 18 meses para frente,
06:05o Banco Central começa a subir a taxa de juros aqui
06:08de uma forma muito elevada.
06:10Então, o deslocamento da nossa taxa real
06:13é algo que a gente nunca viu.
06:16Saímos de 4,5% para 8,9%.
06:19E isso vai dar inadimplência nas empresas, nas famílias.
06:23Já esqueceram que nós tivemos que fazer
06:25o desenrola na pessoa física,
06:26o desenrola na pessoa jurídica.
06:29E esse é um motor.
06:30Isso é um dreno.
06:32Nós precisamos entender.
06:33Nós temos um dreno financeiro
06:35que sai da sociedade e vai para o banco.
06:38Mas não seria o controle dos gastos públicos
06:43que seriam a receita para diminuir os juros
06:46e não uma canetada do Banco Central reduzindo esses juros?
06:49Se o governo não faz a parte dele,
06:51se o governo continua gastando desesperadamente
06:54dinheiro público,
06:55aumentando o déficit fiscal,
06:56ainda que ele tenha diminuído,
06:57mas gastou demais no ano passado.
06:59Isso não tem uma relação direta?
07:00Isso não é a responsabilidade?
07:02Não, mas no ano passado o governo cumpriu o arcabouço fiscal.
07:06Ele cumpriu a meta.
07:07Tirou o Rio Grande do Sul,
07:09que foi o problema externo de enchente,
07:11mas ele cumpriu a meta.
07:13Então, ou seja, você tem um cumprimento de meta fiscal,
07:16não existe nenhum estouro.
07:18Qual a nossa dívida em relação ao PIB?
07:20Terminamos o ano com 76%,
07:22o mercado financeiro esperava 78%.
07:25Na pandemia, ela foi 96% do PIB.
07:28Nos Estados Unidos, a dívida do PIB é 130%
07:32e no Japão é 200%.
07:34Então, os países grandes que se fortalecem,
07:38todos se fortaleceram com aumento de gasto público.