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  • 28/07/2025
Nova lei garante mais direitos para pacientes que convivem com dores crônicas e fadiga.
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Transcrição
00:00Gente, vamos falar de saúde? Olha, foi sancionada a lei que equipara a síndrome de fibromialgia
00:06a uma deficiência. Trata-se de uma síndrome crônica, caracterizada por dores generalizadas
00:14no corpo, fadiga intensa, distúrbios do sono, rigidez muscular, alterações de memória e
00:21concentração, além também de sintomas emocionais como ansiedade e depressão. Essa doença,
00:27ela pode afetar de maneira significativa a qualidade de vida. Vamos entender melhor com
00:33o reumatologista, o doutor Rafael Emeric. Doutor, muito boa tarde para o senhor, obrigado pela
00:40sua presença. Eu falei aqui algumas características, mas gostaria que o senhor explicasse o que
00:45é a fibromialgia e como é que eu sei que eu tenho essa condição. Então, é bem isso
00:50que você falou mesmo, são esses sintomas, todos esses que você preencheu e eles tem
00:55que estar caracterizados por mais de três meses. Esse diagnóstico, ele é complexo e
01:00leva em consideração o contexto do paciente também. Então, não basta que você fique
01:04ansioso ou com insônia por alguns dias, você precisa de uma avaliação e hoje o
01:10diagnóstico é basicamente clínico. Então, é através da história clínica mesmo do
01:13paciente e, às vezes, a gente faz algum exame laboratorial para separar doenças que
01:19podem confundir com a fibromialgia. Então, hipotiroidismo, HIV, algumas outras doenças
01:25podem simular os sintomas de fibromialgia e, aí, nesses casos, os exames complementares
01:30podem ser importantes.
01:32Que órgãos do corpo são atingidos, doutor?
01:35Ela não atinge diretamente os órgãos. É mais uma alteração da percepção dolorosa.
01:41Então, a gente, em todos os locais onde, teoricamente, a gente pode sentir dor, a gente pode sentir
01:46a manifestação da fibromialgia. Então, é muito comum dor nas articulações, dor na
01:51pele ou nos músculos, dor de cabeça, dor no pescoço, dor nas costas. É muito comum
01:58confundindo, às vezes, com um quadro de lombalgia, de outra origem. Então, a gente
02:03precisa de um diagnóstico mais adequado.
02:04Agora, quais são os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento?
02:09Essa é uma pergunta difícil, porque a gente vive uma sociedade que tem muitas demandas
02:13e a gente está vendo um aumento de ansiedade, depressão, de estresse crônico e de fadiga
02:18crônica também. Então, de certa forma, são os mesmos fatores de risco para essas doenças.
02:22Essa mudança na lei, como é que o senhor vê isso, como especialista da área?
02:28Isso é importante? Que benefícios essa mudança vai trazer?
02:32Então, toda medida pública que aumenta a atenção sobre as doenças são válidas.
02:37Essa lei, ela não equipara diretamente o paciente fibromiálgico com o deficiente físico.
02:44Ela tem um trecho que é muito significativo, que exige uma avaliação multiprofissional
02:48para que essa conversão de uma síndrome de fibromialgia seja caracterizada como uma
02:55deficiência permanente ou semipermanente, a depender do quadro.
02:58Então, não basta que você tenha o diagnóstico, você precisa passar por uma avaliação
03:02multidisciplinar e pericial para poder concluir que você vai ter os mesmos direitos que uma
03:07pessoa portadora de deficiência.
03:09Agora, a fibromialgia pode causar outros problemas de saúde ou complicações?
03:14Esses problemas que podem ocorrer são basicamente esses mesmos que você já mencionou.
03:19Então, depressão, ansiedade. Nem todo paciente com fibromialgia tem depressão, por exemplo,
03:24mas a gente sabe que é uma porta de entrada o paciente ter fibromialgia, evoluir com depressão
03:29e, às vezes, depressão grave. Também pode ter ansiedade e ter as limitações das suas
03:34atividades do dia a dia por conta da dor intensa. Então, as pessoas ficam mais reclusas, deixam
03:40de participar da vida social e isso tem um impacto na qualidade de vida assustador.
03:44Tem alguma faixa etária que é mais atingida e sexo também ou isso...
03:49A gente sabe hoje que é muito mais comum nas mulheres e também na idade mais produtiva
03:55delas. Então, de 20 a 50 anos é o pico de alteração dessas doenças todas, de uma
04:01maneira geral e também da fibromialgia.
04:04Vamos falar de tratamento, né? Antes de falar do tratamento em si, algumas mudanças no estilo
04:09de vida podem aliviar os sintomas ou não?
04:12Não pode só aliviar, mas o tripé do tratamento da fibromialgia é, em parte, medicação, mudança
04:19dos hábitos de vida. Então, ter uma vida mais significativa, aprender para que se veio
04:24a terra, encontrar esse sentido e isso pode ser feito através da terapia e deve ser feito
04:30assim e também ter uma vida fisicamente mais ativa. Então, todos os trabalhos colocam como
04:36principal método de controle das dores exercício físico regular.
04:42E a medicação, como é que é?
04:43Então, a medicação vai ser avaliada caso a caso. A gente também sabe que nem todas
04:48as medicações, de todos os custos, estão disponíveis para todo mundo. Então, cabe ao
04:54médico fazer uma avaliação e adequar essa medicação de acordo com a realidade do paciente.
04:58Mas o tratamento passa por analgésico, na fase aguda ou nas crises. Alguns antidepressivos
05:05têm muitos estudos robustos sobre a sua importância. Não pela ação direta na depressão, mas por conta
05:11de como ele atua também na transmissão da dor. E também outras classes de medicamentos
05:15como os anticovulsivantes, gabapentina e, enfim, dessa categoria podem ser utilizados também.
05:25Agora, qual o primeiro sintoma, doutor, que a gente pode falar de forma simples, além da dor,
05:30que uma pessoa com fibromialgia pode apresentar? E se tem, por exemplo, uma relação com essa
05:37primeira dor, né? Difícil. Eu acho que não tem um sintoma único, não.
05:43Geralmente, a pessoa começa com um quadro mais difuso mesmo, com fadiga, cansaço, insônia.
05:50Às vezes, tem dificuldade de concentração. Tem um termo para isso que se chama fibrofogue,
05:54que é como se fosse um peso na cabeça, uma sensação de que você não consegue se concentrar muito bem.
06:00Pode ser confundido, por exemplo, com problema de coluna?
06:02Pode. Pode, porque uma das manifestações da fibromialgia é dor lombar.
06:07Então, uma dor lombar ou qualquer outra dor que se arrasta por longos períodos,
06:14ela necessariamente deve estar vinculada a uma avaliação médica.
06:17Agora, como é que fica, doutor, a família, não é, de um paciente que também precisa
06:22modificar outras situações? E essa família precisa também de um suporte emocional?
06:26Um suporte emocional para a família, eu não sei se é o termo adequado.
06:32Eu acho que o paciente que tem fibromialgia, ele precisa de um suporte adequado
06:37e a grande dificuldade é que a manifestação física da dor, ela é distante da sensação que o paciente tem.
06:45Então, tem muitas pessoas que não conseguem se sentir reconhecidas dentro de casa pela dor que sentem.
06:51Então, elas manifestam a dor, estão cansadas, estão desanimadas e a família em casa entende como simulação.
06:59E acaba a pessoa não acreditando, né? Fala assim, a pessoa não está acreditando na minha dor.
07:04E isso agrava o problema, porque ela não se sente acolhida.
07:06Então, a gente vê que é o mesmo espectro de doença de depressão, ansiedade e a fibromialgia também está nesse espectro.
07:13E aí, quem não se sente acolhido, se sente rejeitado e piora a dor, piora a sensação.
07:18O Sistema Único de Saúde oferece o tratamento, doutor?
07:22Oferece. A gente não tem todas as estruturas e todas as oportunidades que o paciente precisa.
07:28Então, essa avaliação multidisciplinar que é proposta na lei, ela poderia ser mais bem construída a nível SUS.
07:36Ok. Doutor Rafael Emerick, reumatologista, muito obrigado pela sua participação.

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