Lygia da Veiga Pereira, pesquisadora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, ressalta a importância da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e avalia o empenho da instituição no fomento dos estudos científicos acadêmicos e industriais.
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00:00Nos Estados Unidos sempre teve uma mistura de linhas de governo federal e estadual.
00:04Agora, nos Estados Unidos, o governo federal entrou numa fase de obscurantismo com a ciência inacreditável.
00:11Uma coisa nunca vista nos Estados Unidos.
00:13Nunca vista.
00:13Com todas as mudanças que nós tivemos de governo republicano e democrata,
00:17há anos nunca houve esse espírito obscurantista que existe hoje no governo Trump.
00:24Mas no Brasil, aqui no estado de São Paulo, especificamente,
00:27a USP, certamente, é uma universidade que tem mais recursos do que qualquer outra universidade.
00:32E a FAPESP, aqui tem a FAPESP, que tem uma linha, sempre teve uma linha de crédito muito importante.
00:38Isso é mais ou menos de forma permanente ou também sofre muita oscilação política?
00:43Não, a FAPESP é um espetáculo.
00:47Eu brinco, vocês devem ter percebido que eu sou carioca.
00:51É uma questão de honra manter meu sotaque, apesar dos 30 anos de São Paulo.
00:55Mas eu brinco que eu troquei Ipanema pela FAPESP.
00:59Eu fiz meu doutorado nos Estados Unidos, quando eu voltei, voltei para o Rio.
01:04Mas aí eu conheci a FAPESP e a USP.
01:09Então, a FAPESP, ela tem essa constância no financiamento à pesquisa.
01:18Você tendo mérito no Estado de São Paulo, não vai faltar dinheiro para a sua pesquisa.
01:25Você tendo mérito, você mostrando resultados, é incrível.
01:30Eu tenho a maior gratidão a São Paulo, porque foi realmente onde eu consegui,
01:34eu tive o ambiente para poder realizar todo o meu potencial, uma vez que eu escolhi ficar no Brasil.
01:42Então, faz toda a diferença do mundo.
01:47E ela, entra governo estadual, sai governo estadual.
01:52Ninguém até hoje teve coragem de mexer com a FAPESP.
01:55A FAPESP recebe 1% da arrecadação do Estado de São Paulo e investe isso em pesquisa.
02:04Pesquisa tanto na academia quanto na indústria.
02:07A FAPESP também tem uma linha de financiamento para startups, para promover inovação.
02:16E isso é absolutamente admirável e com muita eficiência.
02:20Não é aquela agência que gasta uma fração grande na própria administração.
02:26Não, ela é de uma extrema eficiência e totalmente baseada em mérito.
02:31Então, enfim, isso faz com que São Paulo realmente se destaque.
02:34Então, eu brinco que, enfim, os Estados Unidos estão para o Brasil,
02:44assim como acaba que São Paulo está para o resto do Brasil.
02:48E é uma pena, porque é vontade política.
02:51Os outros estados têm as suas fundações de amparo à pesquisa.
02:55Então, é uma questão de vontade política de cada governo estadual
02:58de seguir esse modelo da FAPESP.
03:01Agora, São Paulo também teve uma grande vantagem, né, Enes?
03:04Teve uma alternância política, mas muito dentro do bom senso, né?
03:09Nós nunca tivemos populismo que tem no resto do Brasil.
03:12Acho que isso também ajudou a blindar a FAPESP, né?
03:15Mas o importante é que você está dizendo que a FAPESP sempre teve uma atitude muito técnica
03:19sem direcionamento político.
03:21E isso é fundamental para a pesquisa, né?
03:23Total, exatamente.
03:23Pesquisa, isso não pode ser ideológico em ciência, entendeu?
03:28Aliás, na própria agricultura, Embrapa, tudo isso é um investimento de muito longo prazo, né?
03:33Um longuíssimo prazo.
03:35E olha os retornos.
03:37A Embrapa revolucionou.
03:39O agro é o que é hoje em dia no Brasil, muito por conta da Embrapa.
03:43E é um investimento a longo prazo.
03:46Mas que se paga, que dá muito lucro.
03:48Agora, Olívia, você estava explicando que essa medicina de precisão,
03:55ela pode abrir ainda mais, vamos dizer assim, entre países ricos e pobres, se nós não...
04:01Porque uma coisa é você descobrir, como você está fazendo toda essa descoberta do DNA.
04:06Mas aí, por exemplo, o laboratório não está interessado em desenvolver remédio específico
04:10que atinge um determinado tipo de DNA, que não atinge outro.
04:14É melhor para fazer para a população branca que tem poder aquisitivo maior.
04:16Como é que isso vai influenciar, você acha, a indústria farmacêutica em parte de pesquisa
04:24e determinadas doenças que afetam mais determinadas populações ou não?
04:28É, olha, a indústria farmacêutica, ela, enfim, é para fins lucrativos, né?
04:36Então, enfim, ela tem lá uma série de critérios para ela escolher as linhas de desenvolvimento
04:42de produtos dela, né?
04:44Por isso que é fundamental você ter apoio de governos à pesquisa, para tratar de doença
04:51negligenciada, para tratar de doenças de populações mais pobres, né?
04:58Então, a gente não pode ficar só dependendo dos interesses da indústria farmacêutica for profit.
05:09Agora, essa medicina preventiva que deve crescer muito, eu imagino que isso vai mudar muito a estrutura,
05:19por exemplo, do SUS, ou seja, o médico da família vai passar a ter uma importância muito maior, né?
05:24A de baixa complexidade vai passar a ter um momento importante como fonte de diagnóstico.
05:30Como é que nós vamos formar essa mão de obra para esse mundo novo, o que você está dizendo na medicina, né?
05:39Essa parceria de ciência e medicina vai... é o mercado que vai direcionar essa mudança de atitude ou isso é uma mudança de política pública?
05:47Olha, eu acho que se a gente for depender do mercado, tem que ser política pública.
05:54Certo.
05:55O salário do médico não é o que vai fazer aumentar...
06:00Na verdade, a prevenção, o médico de família, ele já é, já deveria ser, e já é, o foco.
06:10A gente já pode fazer muita prevenção sem o DNA.
06:14A história do conhecimento do DNA é levar essa prevenção ao extremo, mas com o que a gente já conhece hoje, né?
06:22O Drauzio Varela é que fala, ó, a gente fica falando dessas coisas, mas se você não fumar, fizer exercício e controlar a alimentação,
06:30putz, já ganhou aí uns 10 anos de vida, né?
06:35Enfim, mas você precisa muito das políticas públicas, né?
06:40Para atrair pessoal, para atuar nessas áreas de medicina de família e de prevenção.
06:49Elígia, a USP, especificamente, você tem uma atividade ligada com a universidade, mas agora também você está desenvolvendo o seu lado empresarial.
06:59Talvez essa tua fase de captar recurso ajudou a te criar essa veia empreendedora aí.
07:06Conta um pouco para a gente como é que vai ser trazer, tirar a pesquisa do laboratório e transformar em negócio.
07:11Legal.
07:12Olha, a gente, na verdade, todo cientista é um empreendedor, né?
07:18Todos os projetos de pesquisa que eu já realizei,
07:21seja do camundongo transgênico, da célula-tronco, né?
07:26Agora o DNA do Brasil.
07:28A gente tem que escrever um projeto.
07:32Eu não faço um business model, mas eu faço um projeto de pesquisa que tem que fazer sentido.
07:37Eu tenho que vender isso para algum investidor.
07:40Eu tenho que fazer um pitch.
07:41Só que não é para o pessoal de venture capital.
07:45É para as agências, é o Ministério da Ciência, da Saúde, para a FAPESP, né?
07:52A gente tem que vender o nosso projeto.
07:54Aí eu vou ter que fazer a equipe e vou ter que apresentar o resultado.
07:58O resultado não é o IPO, não é a saída múltiplo,
08:03mas é um avanço no conhecimento científico.
08:06Então, de alguma forma, a gente já é, eu já tive que fazer várias rodadas disso, né?
08:12Agora eu vi uma oportunidade, pela primeira vez que me fez brilhar muito os olhos,
08:18de fazer isso fora da academia, né?
08:20Então, à medida em que eu fui conhecendo essa área de medicina de precisão,
08:27do estudo de genomas humanos,
08:29e a gente quando começou a ver os primeiros resultados desses genomas brasileiros,
08:34e a gente viu a quantidade de novidades que saía dali,
08:38eu vi que a gente tinha ali uma oportunidade,
08:42porque essas novidades que a gente aprende sobre o nosso DNA,
08:47elas têm um grande potencial para acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos, né?
08:56Então, por exemplo, eu aprendo lá que uma variação genética no gen A
09:01faz com que a pessoa tenha colesterol baixo.
09:03Eu falo, pô, o que é esse gen A?
09:07Qual é a proteína que ele faz?
09:09Ah, então se eu não produzo essa proteína, eu tenho colesterol baixo,
09:13então vou inventar um medicamento para inibir essa proteína.
09:17Então, essas dicas, essas pistas que a gente vai descobrindo
09:22sobre a nossa biologia no estudo do DNA,
09:27isso acelera muito o desenvolvimento de novos fármacos.
09:30E a indústria farmacêutica usa essas informações desses bancos de dados
09:37que existem no mundo todo.
09:40Só que eles só têm DNA de gente branca.
09:43Então, quando eu vi que o DNA de brasileiro tem muita novidade,
09:47eu falei, pô, nossa, isso aqui pode ser, pode ter muito valor
09:51para a gente avançar também o desenvolvimento de novos fármacos, tá?
09:57Mas para eu fazer isso, eu tenho que fazer de uma forma diferente
09:59do que a gente estava fazendo lá dentro do projeto acadêmico.
10:03Então, eu criei, pela primeira vez, eu fui empreender na iniciativa.
10:09Primeiro eu criei um PowerPoint,
10:12que para mim parecia um modelo de negócios de Harvard.
10:16Achei incrível, fui apresentar para um primeiro potencial investidor,
10:21que foi o Eduardo Mufarrete,
10:22que na época ele tinha um fundo que queria investir em empresas
10:26que vão resolver problemas do Brasil.
10:29Eu acho isso lindo, né?
10:30Essa coisa do investidor de impacto.
10:34E na época ele estava até pensando em educação,
10:37mas eu já fui enfiar lá um DNA.
10:40Aí ele olhou aquilo e falou, Lígia, não entendi nada.
10:43Parece bacana, mas não vi se isso aí,
10:47se tem um modelo de negócios que fica em pé.
10:49E aí foi super legal, porque ele contratou um consultor
10:54para trabalhar comigo e com os meus sócios, cientistas também,
10:59para ver como é que aquilo poderia virar um modelo de negócios
11:03que ficasse em pé.
11:04E aí o cara trouxe várias técnicas, o Canvas, o isso e aquilo.
11:08E dois meses depois a gente apresentou para ele
11:11esse modelo de negócios agora profissionalizado.
11:15ele achou bacana, entrou, trouxe dois investidores americanos,
11:20trouxe o Armínio Fraga, que é outro investidor de impacto,
11:23que está interessado...
11:25Muito em saúde, ele está fazendo...
11:26E está, né?
11:27Muita coisa em saúde e está interessado nisso, né?
11:29O que essas empresas vão trazer de ganho para a sociedade brasileira?
11:33Então, muito alinhado com a nossa missão.
11:35E aí comecei a GENTE.
11:37O nome da empresa é GENTE, que é GEM tracinho T.