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Nesta quarta-feira (2), às 19h30, o videocast Chá de Canela lança mais um episódio de sua nova temporada, desta vez com a participação da cantora, compositora e pesquisadora paraense Naieme. Com o tema “Ter cara de paraense flopa ou engaja?”, o episódio mergulha nas questões de identidade, regionalismo e representatividade na música e nas redes sociais. O conteúdo pode ser acompanhado pelas plataformas do Grupo Liberal (LibPlay e YouTube) e pelos principais serviços de streaming como Spotify e Deezer.

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Transcrição
00:00Olá, gata garota, esse é o Chá de Canela, a tua roda de amigas em formato de videocast.
00:12Eu sou Bruna Lima.
00:14E eu sou Ana Carolina Matos.
00:15Bom, no episódio de hoje a gente trouxe uma artista que é babado, né Bruna?
00:19Se é!
00:21Cantora, compositora, tem aí uma veia super paraense no que ela faz, no trabalho.
00:26A Amy, seja bem-vinda ao Chá de Canela.
00:28Olá, finalmente deu certo.
00:31Muito obrigada.
00:32Olha, a gente estava alinhando essa entrevista desde o ano passado.
00:35E finalmente deu certo agora nesse novo ciclo.
00:37Tudo novo, tudo novo.
00:39Tudo novo, tudo novo.
00:40Olha aí, tá vendo?
00:43Olha, arrasou.
00:44Comunicação, tudo bem.
00:45Eu gosto das coisas de astros e tal.
00:47Eu também, eu gosto.
00:48É a cara da Bruna esse papo.
00:51Vai ter esse papo.
00:52Na Amy, pra gente começar essa conversa, eu quero saber de ti.
00:55Como a gente sempre começa com a lapada, né?
00:58A lapada de hoje é...
01:00Tu acha que ter cara de paraense flopa ou engaja?
01:03Engaja, horrores.
01:04Ixi, agora engaja, principalmente, né?
01:07Sim.
01:07Uma armada, quando era a época ali de ir a página, Zora Pereira, a Fafá de Belém,
01:12com aqueles peitão, vozeirão, andava toda cheia de trança e tal.
01:16Não era, não engajava.
01:17Não era tanto, né?
01:18Tinha muito mais xenofobia, tinha mais questões, né?
01:23Enfim, que a gente pode falar muito, que é polêmica.
01:26Mas hoje em dia tá bem mais fácil.
01:29Sim.
01:29Todo mundo quer ser paraense, né?
01:30Todo mundo quer ser paraense.
01:31Hoje, paraense é cool, né?
01:32Muito legal.
01:32Agora, tu vê lá na bio do pessoal no Instagram, não sei o que, não sei o que, é Amazônida.
01:37É.
01:37Virou a marca de, tipo assim, um carimbo de...
01:41É o carimbo.
01:42Isso aqui é...
01:43Já olha só, né?
01:44Eu tô valendo porque eu sou Amazônida.
01:45Tem muita gente que realmente vive.
01:47Sim.
01:48E que sempre fez isso de forma muito natural.
01:51E tem gente que faz para aproveitar também, né?
01:53Que tá numa onda aí, legal.
01:54Agora, tu tem isso há um tempo já no teu trabalho, né?
01:57Essa marca, assim?
01:58É, eu tenho na minha alma, eu acho.
02:00Sim.
02:00Na minha vida, não só no trabalho.
02:02É quem tu és, né?
02:03Eu acho que o trabalho, ele começa a traduzir.
02:06Principalmente isso, que eu começo a entender, é, pode crer meu nome, eu, minha família,
02:12minha raiz, o meu trabalho musical, meu trabalho, enfim, como professora, pesquisadora, compositora.
02:19Sempre permeando por esses caminhos, assim, desse lugar.
02:23E que se eu, sei lá, se eu tivesse nascido em outro país, eu ia ter aquela, né?
02:29A gente tem muito a ver com o lugar de onde a gente vem.
02:32Sim.
02:32Eu acho que a sonoridade que a gente faz, o que a gente vive, a nossa realidade que
02:36a gente lê, o que a gente vê, tem muito a ver com esse, eu chamo isso, tem um estudo
02:42que fala que isso é o nosso território auditivo, no meu caso, sou compositora e cantora,
02:48é aquilo que eu cresci ouvindo.
02:49Então, se eu tivesse crescido nos Estados Unidos, na Colômbia, não sei aonde eu ia
02:53ter aquele território, porque era legal, né?
02:55Esse termo.
02:55Mas a internet é bem legal, tem a Carinha Guiá, que é uma cantora maravilhosa, amiga
02:59minha, que é amazonense, e ela fala disso no trabalho dela.
03:03Muito bacana.
03:04Que é muito isso, se a gente tivesse nascido em outros lugares, a gente ia ter outras referências.
03:08A internet, ela amplia esse território, com certeza, né?
03:13A televisão, a rádio, agora os podcasts, enfim, a comunicação, ela tem esse papel também.
03:18Mas eu acho que reflete muito sobre onde a gente tá, né?
03:21O contexto que a gente é inserido, cultural, contexto político, contexto histórico, etc.
03:26Mas eu só fui entender isso, que isso se refletia no meu trabalho, principalmente de uns 5 anos pra cá, assim.
03:34Acho que a pandemia me trouxe muito isso, assim, também.
03:37Essa reflexão também.
03:39Eu acho que é um cair de ficha, porque quando tu tá fechada no teu mundo ali, né?
03:44O que vai acontecer, um monte de gente partindo.
03:48A gente tava ali naquela ansiedade, aí veio não sei o quê, veio a questão do autoconhecimento.
03:54E aí eu falo, olha, pode crer, o que eu faço?
03:56Aí, sim, sim, sim.
03:56Eu comecei a ter essa percepção, né?
03:59Tem algumas fichas, é.
04:00E de fazer todo um processo pessoal que se refletiu em todos os lugares da vida e na carreira também.
04:06Sim.
04:07Mas é muito doido isso, né?
04:08A gente ver essas artistas que vieram antes.
04:11Mas, imagine, acho que há uns 15, 20 anos atrás, quando se falava de música paraense,
04:17vinham açaí e a tapioca, diziam que isso nunca ia ser legal.
04:20Aí veio o Dona Onete, contando a história da garça do urubu, sendo notada pela mídia internacional.
04:27Quebrando barreiras, né?
04:28Então, contra a ponta.
04:28Quantas Donas Onetes existem nos nossos interiores?
04:32E a gente não sabe, né?
04:32Quantos mestres da Macenas existem nos nossos interiores que não têm essa visibilidade, né?
04:37E que eu acho muito legal essa coisa de estar engajando por isso.
04:41Porque quem está ali na cultura popular, quem está ali na base, na periferia e tal,
04:45vai começar a se empoderar muito mais do que é, do que vive.
04:51Dizer, é, agora é minha hora.
04:53Agora é minha vez.
04:53E eu tenho vez.
04:54Sente uma coragem, né?
04:55É, tipo, tenho vez, tenho voz, isso é legal.
04:58Mas também existe a galera que vai surfando ali na onda também.
05:02Tu acha que tem muito isso, né?
05:04Ah, acho, com certeza tem.
05:05Tu és uma artista ainda muito jovem, mas que já vem transitando.
05:09Em algum momento, os teus traços para esse, esse olhinho puxado?
05:13Sim.
05:14Em algum momento isso foi demarcado, foi pontuado?
05:20Positiva ou negativamente?
05:22É.
05:22Mesmo agora a gente estando num momento de moda, mas como a Ana falou, já esteve...
05:27Quando eu era criança, que eu estudava em escola particular, tinha bolsa, né?
05:31Que aí eu tinha coisa, eu não podia tirar nota baixa, se não perdia bolsa.
05:35A gente ia sendo do Coracisa, Tapanã, família do Marajó, enfim.
05:39Vem de uma realidade, né?
05:41De pobreza, de...
05:42Tanto que eu cresci ouvindo isso, eu tava até...
05:44Ah, porque o Marajó é o pior IDH do mundo.
05:47Sim.
05:47Porra, mas...
05:48Não condiz com a riqueza cultural.
05:51Isso eu não entendia muito, né?
05:52Como é que a gente cresce ouvindo determinadas coisas e isso vai enfiando na nossa cabeça?
05:56Uma crença de que, ai, aqui é o pior lugar pra te crescer.
06:00Aqui é menos, né?
06:00O pior do cima da pessoa vai pro...
06:03E aí, tipo, eu não entendia esses recortes, assim.
06:06Mas eu senti uma dor muito, muito profunda.
06:09Não entendia o que era.
06:10Como se fosse um ataque, né?
06:11Assim.
06:12Eu não presto.
06:12Tu não prestes, exatamente.
06:14E aí, quando eu vejo o Dira Paz na televisão, que era uma série que tinha...
06:19Enfim, a Dira, a dama do cinema maravilhosa.
06:22Tinha a série que ela era a Solineusa.
06:25Sim.
06:25Eu falei, meu Deus, eu pareço com essa mulher, a Dira Paz, a Diba Ité.
06:29Meu avô, o pai da minha mãe é Diba Ité.
06:31Aí, ah, Diba Ité e tal.
06:33Porra, que legal ser Diba Ité.
06:34Olha, meu avô falava pra todo mundo.
06:36Meu avô é Diba Ité.
06:37Minha avó é de Salva Terra, minha mãe Marajoara.
06:40E bababababá.
06:40Então, eu comecei a entender isso muito por causa da minha família.
06:43Sim.
06:44Que sempre teve essa coisa mais cultural.
06:46Meu pai é um mestre de cultura.
06:48Compositor de vários hits da música para a Em São Fredo Reis.
06:51E eu cresci nesse momento.
06:54Então, a cultura popular me empoderou de mim, da minha realidade, da minha vida, da família que veio do interior, para a capital.
07:01Da galera que tem que sair das suas comunidades, seja quilombola ou indígena, para vencer, para ter uma condição melhor.
07:07Sim.
07:08E esse tipo de coisa, do estudo, né?
07:12Dessa coisa de você entender.
07:15Tipo, tinha o boi, tinha o amegoso que era o boi que meu pai fazia na Cidade Velha com outros mestres, compositores, amigos dele.
07:21Tinha lá, coisa de negro que eu cresci indo, porque eu sou do Tapajós, gente, lá do Tapanã, barra ali, Corací, meu amor.
07:28Eu sou de Corací hoje em dia.
07:30E aí, horrores para lá, né?
07:31Cresci ali, Mestre Rai, Mestre Lorival, Igarapé, o pessoal que faz a república antifascista de Corací.
07:39E essa cultura ali sempre foi muito presente para mim em São João, né?
07:44Tio Quadrilha, Boi, Carimbó, Escola de Samba também.
07:49Eu cresci muito nesse meio, então isso me deu essa percepção de que era incrível isso.
07:56Só que é onde eu comecei a estudar depois e a transitar, não era legal.
08:00Então, nas peças, nas coisas da escola, como a gente tinha um acervo, né, da cultura popular, pena, adereço, semente.
08:10Minha avó Rosa, que é amazonense, sempre trazia coisa do boi, capixoso, garantido, sou garantido.
08:16E aí, a gente tinha essa coisa, assim, de valorizar a coisa da cultura popular.
08:20E aí, eu era colocada num lugar de esquivo, assim, me chamavam de búlgria, não entendia.
08:26E eu também, quando vejo a Dira, falo, pois eu tenho essa raiz, é realmente, a gente tem ali nossa raiz indígena, nossa raiz quilombola.
08:34E isso era algo muito longe, assim.
08:36Mas era algo, tinha, ah, é porque o meu avô, e eu lembro do meu avô falar assim,
08:41ah, porque meu avô era indígena, o meu pai era indígena, que se falava índio, né?
08:46E tinha vários estereótipos, era preguiçoso, era não sei o quê.
08:50Mas é porque o tempo era outro, a conexão com a natureza era outra, não era igual a Dira.
08:54E ele dizia assim, ah, porque o fruto que, tipo assim, tem uma mangueira, a mangueira não vai dar pé de acerola.
09:03Então, tipo, se o meu bisavô, meu avô, não sei o quê, tinha essa raiz, eu também tenho, eu tenho que valorizar.
09:10E aí, crescendo no contexto urbano, na periferia, tem todos os outros recortes também.
09:14Então, eu tenho muito isso, assim, eu comecei a entender quando eu vejo o Dira,
09:18quando eu vi as artistas, né, do Brega, com muito pouco, fazendo tudo.
09:24Tinha um programa na televisão que passava, que eu assistia, eu era louca pela Elen Bandeira.
09:30E que era a do, ah, né, Agulinho, todas elas, né, Valeria Pai, Valeria Patrícia.
09:34Que hoje são minhas amigas e que eu convivo.
09:36Olha, que legal.
09:37Eu acho isso muito doido.
09:38Eu não consigo fingir costume.
09:40Eu fico assim, meu Deus, eu fico doida.
09:42É tipo quando elas vêm aqui no chá e a gente fica assim.
09:45Não dá, gente, não dá pra fingir costume, sabe?
09:47Mas isso é muito doido, porque é no momento onde converge a realidade, a periferia, a música popular, a raiz.
09:57E que independente da gente estar em momentos diferentes ou em gerações diferentes,
10:02a gente tem esse olhar de compartilhar, né, de inspirar também.
10:08Eu penso muito assim, eu aprendo muito com essas mulheres.
10:10Então, mano, se hoje tá engajando, se hoje é moda, é porque essa galera passou na frente.
10:15Sim.
10:15E isso é muito forte pra mim, assim.
10:17É bom muito, né?
10:17Sim.
10:18Uma coisa que é, tipo, me ligam, me esculhambam, me puxam a orelha ou perguntam as coisas.
10:24Isso é muito doido, sabe?
10:26É, eu fico orgulhosa, assim.
10:28E o Fafá, que é a minha grande madrinha, assim.
10:30Exatamente.
10:30E a Dira se torna uma madrinha pra mim, assim.
10:32É mesmo.
10:32Uma muito maravilhosa, assim.
10:34A Dira...
10:35Eu vejo a Fafá, sempre te chamam pros shows, pra varanda.
10:39E ela é muito assim, de...
10:41Ela não faz por ti, né?
10:43Como, acho que todo bom professor te ensina ou te dá lições de uma forma muito...
10:52Te vira.
10:53Isso, ó, tá aqui.
10:54É assim que é.
10:55Vai lá, olha aqui.
10:56É fulano de tal.
10:57Te vira.
10:58Vai lá.
10:58E uma coisa que a Dira me disse agora, né?
11:00Que a gente passou várias semanas juntas nessa coisa do carnaval e tal.
11:05Que foi...
11:06Ei, vai lá te apresentar.
11:08Aí ela pegava a minha mão.
11:09Olha aqui essa puca aí.
11:10Aquele ali é fulano de tal.
11:12E fazia...
11:13Vai lá e fala o que tu...
11:14Fala o que tu é.
11:15Tu é cantora, tu é atriz.
11:16Tu fez isso e isso.
11:17Porque se tu não falar, ninguém vai falar.
11:19Aí eu fiquei assim...
11:20É, Guamundo.
11:21Pois é, gente.
11:21Eu sou fulana de tal.
11:23E que, que, que, kkk.
11:24E eu fiquei...
11:25Meu Deus, né?
11:25Isso foi te trazendo até, imagina, uma segurança ali, né?
11:28Naquele ambiente.
11:28Com certeza, mãe.
11:29Muito, muito, muito mesmo.
11:30Então, eu sou muito grata.
11:32Dira.
11:32Te amo.
11:33Te amo, Fafá.
11:34Te amo.
11:34Dona Onete.
11:35Amo todo mundo.
11:36Eu sou uma benção da Dona Onete.
11:37Nazaré, que tá lá na França, né?
11:40Que é também, acho que a primeira que saiu daqui foi pra outro país, enfim.
11:45Temos tantas, né?
11:46Tem a Leila Pinheiro, que foi ali naquele mundo mais da Bossa Nova, naquela época, né?
11:51Dos festivais de música da TV, anos 80.
11:54Muitas maravilhosas, né?
11:55Johnny Dubocco.
11:56Muita, muita, muita cantora, né?
11:57Ela é uma terra de grandes cantoras.
11:58É, é verdade.
11:59É uma terra muito fértil.
12:00Eu acho que isso tudo que tu falaste converge pro ponto de que é tão importante a gente
12:06ter essa representatividade, ter alguém pra gente se inspirar e se enxergar e tipo,
12:11cara, eu pareço essa pessoa.
12:13Essa pessoa, ela vem de onde eu vim, ela conseguiu.
12:16E tu, cara, eu acho que muita gente, pra isso, pra muita gente, isso que tu tá falando
12:19não significa nada.
12:21É.
12:21As pessoas padrões, que é padrão.
12:23É, porque eu acho que são pessoas que não têm essa percepção, assim.
12:27É, é que não tão, né, nesse núcleo aí de que precisa.
12:31Porque às vezes nem conhece, né?
12:32Tá na outra bolha, assim, não faz ideia.
12:34Exatamente.
12:35E já fazem parte do grupo, né?
12:38É, já estão inseridas.
12:39Já estão inseridas.
12:39E quando tem esse discurso da representatividade, fala, ai, que bobagem.
12:43Que besteira.
12:44Sim, sim.
12:45Verdade.
12:45E é interessante porque esse é um movimento que já acontece historicamente há muito
12:48tempo.
12:49Sei lá, quando começou o carimbó, quando o Pinduca meteu guitarra no carimbó, ninguém
12:54queria tocar carimbó.
12:55Porque era música do interior, porque era pejorativo.
13:00As pessoas lidavam com muito preconceito, né?
13:03Até hoje, né?
13:04É.
13:04Mas muito mais, sei lá, 50 anos atrás, era muito mais.
13:08Então, tem toda essa coisa do pau e corda, o carimbó que é mais estilizado, que o Pinduca
13:14fez, que era grande polêmica também, era uma grande polêmica.
13:16Outras coisas que são vistas de forma pejorativa e que hoje viraram moda.
13:22E que, enfim, é bom porque por esse lado vai empoderar as pessoas que nunca tiveram essa
13:27oportunidade.
13:28Mas é negativo nesse ponto onde assumem um protagonismo que não é seu, que não é
13:34uma verdade.
13:35Tem o greenwashing, que é esse termo da lavagem verde, onde existe a coisa de um protagonismo
13:42que não é verdadeiro, que é por outras questões.
13:46Enfim, tem vários termos que tem a Amazônia Fishing, que é quando alguém que tem os nossos
13:51traços ou a nossa taste ou o nosso jeitinho, pega ali o negócio e apropria-se daquilo como
13:59se tivesse vivido de fato.
14:01Então tem outras questões, assim.
14:03Outras questões que esse termo eu não...
14:04É, lá no Rio de São Paulo o pessoal fala, assim, por exemplo, se você... as novelas,
14:11os filmes, né, agora eles procuram muito pessoas com meus traços, por exemplo.
14:15Sim.
14:16Mas tem aquilo, ah, se você tem traço indígena ou, enfim, você tem a sua cara de Amazônia,
14:21cara de paraense, você vai usar coisa de semente, você vai usar pena.
14:26Ah, não, você vai usar coisa de...
14:28Não, gente, isso também faz parte da gente, a gente pode trazer, eu gosto de trazer essa
14:34da sofisticação dos nossos insumos, da nossa moda artesanal, de fato sustentável,
14:41eu compro coisa lá de soro e salva-terra, miçanga, vou nos lugares, eu gosto de fazer
14:47isso e eu fazia isso antes de ser uma moda, entendeu?
14:50Porque isso foi como eu fui criada, não é uma coisa que foi, ah, eu vou fazer porque
14:54é hype, eu vou tentar na moda.
14:56Tu já tá inserido.
14:57Eu não sei te dizer, assim, como que a gente poderia, sei lá, ensinar as pessoas ou
15:06ter uma metodologia para que, de fato, as pessoas valorizem e se empoderem disso, mas,
15:13por exemplo, as escolas.
15:14Ensinar as pessoas que tu fala hoje para isso.
15:15É, e os amazônia, a região norte, os seus oito estados amazônia legal, Maranhão, Mato
15:21Grosso, enfim, pra entender o porquê que é importante preservar, porquê que é importante
15:27ter práticas de fato que vão fazer diferença na vida das pessoas, né?
15:32Então, tipo assim, tem essa noção.
15:37A gente, na escola, a gente poderia ter matérias sobre como é que eu vou plantar um cupuaçu,
15:42como é, o que é uma floresta de manejo, se cair uma castanheira, o que é que eu posso
15:46fazer com o resíduo daquela madeira, sabe?
15:49Educação ambiental básica, né?
15:51Também, assim.
15:52Como é que a gente vive na Amazônia, as pessoas passam fome, entendeu?
15:57Então, são coisas que não entram na minha cabeça e que é uma formulação desde a
16:03educação básica, desde quando a gente tá lá aprendendo alfabeto, pra gente se inteirar
16:08do mundo onde a gente tá inserido, de fato.
16:11E quando a gente não tem essa conexão da natureza, de fato, a gente vive no automático,
16:16a gente adoece.
16:17Eu acho muito doido isso, de Belém ser essa cidade que você, em cinco minutos, atravessa
16:22o rio hoje, em cinco minutos.
16:24Sim.
16:24Porque é só lancha.
16:25Ainda tem alguns que mantêm o popopô, né?
16:29Porque tem o artesão que faz o barco, tem o mestre que vai escrever com a letrinha lá,
16:36que tem o projeto das letras que flutuam, né?
16:39Que é esse projeto de memória mesmo desse trabalho, dos abridores de letras.
16:43E tantas outras coisas que são tão importantes que a gente tinha que aprender na escola,
16:47que a gente tinha que ver quanto mais melhor, né?
16:52Quanto mais estiver, melhor.
16:53E a gente não tem muito essa consciência.
16:55Eu acho que eu só me enxerguei como uma mulher amazônida, assim, depois de vinte e poucos
17:02anos, sabe?
17:02De adulta.
17:03Que eu tive essa percepção, não.
17:04Eu sou da Amazônia, eu tenho uma raiz, eu tenho...
17:07Isso aqui é a minha ancestralidade.
17:09Eu ia no interior quando eu era criança e ia ver lá minhas primas, minhas tias lavando
17:14louça no geral.
17:15Isso faz parte da minha ancestralidade, sabe?
17:18Urubu, rolar o peixe no geral.
17:20É!
17:21Sim!
17:22Então, isso faz parte de quem a gente é.
17:24Isso é tão bacana, né?
17:25Quando a gente tem essa percepção de, tipo, cara, hoje a gente tem, enfim, uma outra
17:30realidade.
17:31Mas isso aqui faz parte de quem a gente é, da nossa construção, da nossa família.
17:35Então, eu demorei a me enxergar como uma mulher amazônida.
17:38E quem vive em outras bolhas, se dá a oportunidade de conhecer também.
17:42Sim!
17:42Porque tem muita gente que eu conheço que nunca foi em Salvador, a Sori, que nunca
17:46foi no Marajó.
17:47Eu nunca fui no Marajó.
17:48Nunca foi em Fortel.
17:49Eu já fui.
17:49Mana!
17:50Tô perdendo.
17:51Pois vá!
17:52Faça isso por você.
17:54Por favor.
17:55Pra separar isso e ver você no mar.
17:57Vai, vem aqui no Marajó.
17:58Não, e assim, né?
17:59O estado que é incontinente.
18:01Sim.
18:02E eu sou uma pessoa que, graças a Deus, a minha família tem essa percepção, assim.
18:08E desde criança, eu lembro, olha, Santarém é uma cidade que tem isso, isso e isso, a
18:16música é assim, assado, cozido.
18:17Existem esses artistas, meu pai, minha mãe, meus avós.
18:22Olha, Manaus, na Amazônia.
18:24Minha avó é de Altazes, no interior do Amazonas.
18:27Então, a cultura do boi de lá é diferente da cultura do boi daqui.
18:30Mas já era uma realidade, assim, ó, legal, similaridade e tal.
18:35E aí, uma vez, eu fui fazer alguns trabalhos em Manaus e eu já tinha uma interação com
18:40a cidade, com a referência da minha avó e da família de lá e tal.
18:45As minhas primas, tudo parecido, assim.
18:47E aí, eu me senti em casa, né?
18:49E eu descobri que tinha coisa da rixa, né?
18:51Das cidades.
18:52Sim, demais.
18:53Eu tenho isso, né?
18:53Que não tinha, tipo, no meu mundo, assim, do jeito que eu percebia a vida, não tinha
18:59e não entendia isso.
19:00É porque, eu acho que pra gente que é paraense, a gente não foca muito nessa rixa.
19:04Não, a gente nem sabe que existe.
19:06Parar, eu acho que lá...
19:06Amazonas.
19:07Vem muito deles, né?
19:08A gente, caso, não sabe que existe.
19:10Mas aí, tu vai buscar, historicamente, o processo de invasão dos territórios, que
19:15é uma prática.
19:16Você é parar pra conquistar.
19:18Você desempodera a pessoa.
19:20Então, desvalorizar a cultura da Amazônia, dizer que, ah, é uma coisa, tipo, pejorativa
19:25você tocar carimbó, você dançar boa e você conhecer isso.
19:29É uma técnica de dominação histórica.
19:35Desde quando o europeu veio pra cá, quando os portugueses chegaram aqui, ocuparam nossos
19:39territórios.
19:40E aí, apaga a memória, desempodera a pessoa de quem ela é.
19:44Então, tudo isso tem um...
19:46Eu sempre vejo as coisas de forma macro, mas tem aqui um outro negócio.
19:50Tem as formas que a gente tem que conhecer de onde a gente vem.
19:54Então, se o Pará já tem essa extensão de continente, 147 municípios, né?
20:00Então, quantos desses 140 e tantos municípios a gente conhece?
20:04Acho que é 43, né?
20:06Era 143, agora acho que é 147.
20:09É porque tem algumas fazendas no sul do Pará, a sudeste, que viraram municípios, né?
20:12E aí, tipo, tu anda ali pra Transamazônica, é um outro rolê.
20:17Tu anda lá pra Marabá.
20:19E é um outro rolê mesmo, né?
20:22É um outro rolê.
20:22É uma outra galera.
20:24É uma outra parada.
20:26E assim, eu acho maravilhoso que o Pará tenha tanta diversidade, né?
20:29E que exista o norte como uma outra dimensão.
20:34São muitas Amazônias.
20:36Sim, são muitas Amazônias.
20:37Muitas percepções, eu acho muito doido.
20:39E convidar as pessoas, né?
20:41Que não conhecem, que vão pra outro país.
20:43Pra conhecer seus municípios do estado do Pará.
20:47Pessoas que vão pra outros estados.
20:49A gente tem um custo Amazônia que é muito alto.
20:52De você viajar de uma cidade pra outra.
20:54Sim.
20:54Ir pra Altamira, ir pra Santarém, ir pra Macapá.
20:57Às vezes é mais barato tu ir pro Rio de Janeiro do que tu tá dentro do próprio estado, né?
21:01É.
21:01Então, são várias coisas.
21:03Sim, mano, aí...
21:05Bora engajar a Pauline agora.
21:07E Naime, falando disso, de Amazônia, Pará,
21:10Meio Ambiente, aí, claro, a gente lembra de COP.
21:13Sim.
21:13E lembrando de COP, ela reflete não só na questão do meio ambiente,
21:17mas na questão urbana, na questão da cultura.
21:19Tu, como artista...
21:20É, com certeza.
21:20O que tu espera de mudança?
21:22Tu espera, assim, alguma mudança pra tua carreira agora?
21:25Não.
21:25Pela COP?
21:26Eu vou alugar a minha casa.
21:27Só.
21:28É a tua expectativa pra COP.
21:30Ponto, eu e todo mundo.
21:32Mas, não, gente, não tenho expectativa pra minha carreira sobre a COP.
21:36Sou uma professora, uma cantora, uma produtora que trabalha e presta serviço pra outras pessoas também.
21:43Aí é legal.
21:43A minha visão de empresária para a minha carreira era que tivéssemos as grandes oportunidades.
21:49Eu queria muito estar no Global Citizen.
21:51Mas aí a galera vem e faz um show que não vai ter público lá no negócio que vem a Mariah com medo da Cobra Grande.
21:59Que eu fiquei assim, mano, alguém avisou ela, pelo amor de Deus.
22:02Sabe?
22:03Adoro a Mariah, mas...
22:04Virou meme.
22:05Entendeu?
22:05Não precisava, eu também adoro ela.
22:07Não precisava virar meme.
22:07Foi desrespeitoso também, né?
22:09Foi preconceituoso, foi desrespeitoso.
22:11Então, eu acho muito legal quando vem artistas de fora que se interessam em criar um vínculo verdadeiro.
22:18Ou colocam uma musiquinha lá, né?
22:21Tipo, Caetano Veloso e Maria Bethânia cantaram.
22:24Cantaram Joel lá, também.
22:27Gente, olha aqui, eu tô toda arrepiada.
22:28Isso dá um negócio assim, gera uma energia de, meu Deus.
22:33Então, imagina se o mundo entendesse, percebesse e viesse com esse olhar e dizer, não, vamos lá.
22:40Pra gente também valorizar essa galera, empoderar essa galera, financiar essa galera.
22:45Tipo, assim, investir, porque tem muito investimento de obra, de hotéis.
22:50Sim.
22:50E isso é foda.
22:51Desculpa.
22:52Isso é maravilhoso.
22:53Não dobro, né?
22:53Não dobro, né?
22:53Isso é maravilhoso.
22:55Isso é incrível.
22:56A cidade vai ficar com grandes obras.
22:58Mas e aí, né?
23:00Eu sempre penso em como isso vai mudar a vida do Ribeirinho que tá lá, que não vai poder assistir o show da Mariah.
23:06Não vai ser aberta pra todo mundo.
23:08O impacto da velocidade das embarcações que arrebentam a beira das casas e alaga e muda quando é maré alta, invade as casas dos Ribeirinhos e isso é um grande problema.
23:18E essa movimentação vai ser muito mais intensa.
23:21Sim.
23:21Um turismo que é predatório hoje, né?
23:23Que fala-se muito de sustentabilidade, mas cadê a gente ver, de fato, essa mudança?
23:28Então, que maravilhoso que os nossos artistas vão estar em palcos incríveis.
23:33Vai ter Zainara Gabi, Dona Anete, Joelma, Detal, Raidol vai estar no Detal também, meu amor, minha sobrinha.
23:40E, tipo assim, é muito legal a gente ver esse movimento acontecendo.
23:43A gente ver os nossos artistas em puradorias de festivais, de premiações.
23:48Viviane Batidão ganhou o prêmio do Multishow.
23:50Chorei horrores, maravilhosa.
23:52E é isso que a gente quer ver.
23:54Mas também com essa valorização da cultura popular, de quem tá ali nas periferias,
24:00de quem tá ali na beira do rio, que vai sofrer esses impactos, né?
24:04Então, é lindo trazer a Mariah pra cantar pra gente aqui no Rio Guamá.
24:08Mas isso vai mudar na vida da Dona Mariazinha, do Seu José.
24:11O que que isso vai trazer de benefício?
24:13Além da mídia mundial dizendo que isso é maravilhoso.
24:16Sim.
24:16Eu quero muito assistir a Mariah.
24:18Vou assistir lá na minha casa, alugada.
24:21Por meus colegas gringos.
24:23Sabe?
24:23E é tipo assim, eu penso assim.
24:25Então, a gente tem que entender que independente da cópia chegar, a gente vai tá fazendo
24:31o nosso show, a noite de Belém acontece, é uma cena cultural que tem espaços que são
24:35muito importantes pra fomentar a artista, pra fomentar a música autoral.
24:40O que o Apoena faz, o que o Namaré faz, sabe?
24:43A Casa Apoena também na Cidade Velha, que são espaços...
24:45O que o Coisas de Negro faz, que são espaços que independente do que acontecer...
24:51Verdade.
24:52Estão ali numa resistência aos grupos folclóricos, às quadrilhas, às escolas de samba, os boas
24:57dos bairros.
24:58Então, eu penso sempre nisso, né?
25:00De que forma essas grandes...
25:03Enfim, esses grandes eventos, as políticas públicas, os editais, as mídias, elas...
25:09Esse engajamento do ser paraense, do ser Amazônia e tal.
25:12Como isso vai fazer a diferença na vida de quem mais precisa?
25:15Então, quer dizer, parando pra pensar, então esse engajamento de agora acaba sendo superficial?
25:20É isso que tu...
25:20Com certeza.
25:21Eu acho que sim.
25:23Então, quer dizer que daqui a uma...
25:25Passou esse momento, vamos lá pra São Paulo, esse olhinho pode ser...
25:29Voltar a ser...
25:31Ah, não, não serve.
25:32Quem tem esse estereótipo.
25:34Eu acho que sim também.
25:34Porque por muito tempo foi assim, né?
25:37Ai, tem cara de paraense, cara de cabocla.
25:40Porque são esses...
25:42É um ciclo, né?
25:43Esse ciclo que eu te falei, existiu isso com o carimbó, né?
25:45Aí depois, anos 90, a gente tem nosso mestre 92 mil brega pop, a gente tem as aparelhagens.
25:51É muito...
25:52Oscila muito, né?
25:53Aí a gente tem...
25:54Tipo lá no Recife também, em Pernambuco, aconteceu muito isso na época do Mangue Beach, que estourou o Mangue Beach.
26:00E veio todo aquele movimento.
26:02Então, o brega que veio...
26:03É o ciclo do consumo, né?
26:04Ele tá aqui embaixo, aí sobe, vira o hype e depois cai de novo.
26:07Então, eu acho que é o que é esperado dessa questão de ser paraense.
26:11E que não se mantém, não sei porquê também.
26:14Porque aí vamos ver outras questões, né?
26:16Mas, por exemplo, vamos...
26:18Bora lá.
26:19São Paulo, Rio de Janeiro.
26:20Quando tu fala de São Paulo, o que vem na tua cabeça?
26:22Primeira coisa que vem na tua cabeça.
26:25Loucura da cidade, movimento.
26:27Prédios.
26:28Rio de Janeiro, o que vem na cabeça de primeira?
26:31Praia, sol.
26:32Samba.
26:33Ah, sim, em relação à música, sim.
26:34Sim, né?
26:35Ou, enfim, como que a gente traz essa identidade das cidades que o Brasil vende, a imagem.
26:41Então, o Rio de Janeiro, mundialmente, tem toda, né?
26:45Eu amo o Rio de Janeiro, eu acho muito legal.
26:48A galera parecida com a gente, me sinto muito em casa lá.
26:51Parapeca de paraense, mina de gente.
26:53Eu gosto muito de lá.
26:54São Paulo, eu gosto também, mas eu nunca consegui me conectar muito com a cidade.
27:00Por causa dessa coisa, desse movimento, dessa loucura, do workaholic e tal.
27:03Cada um te vira aí, mano.
27:05Fica penando aí, te vira aí.
27:07Então, quando tu fala de Belém do Pará, vem imagens.
27:11O que que vem?
27:12Vem sonoridade, vem sabores.
27:14Vem o encontro de tudo.
27:15Valor humano, sim.
27:17Que é muito diferente.
27:17A galera chega aqui, a gente realmente é muito carente, né?
27:19Muito receptivo, a gente sabe receber.
27:21Mas eu vejo também, a gente é muito receptivo, mas acaba sendo uma carência.
27:25A gente se doa muito.
27:27Ai, vem de fora.
27:27Eu acho que isso é por carência?
27:29Eu acho.
27:30Ou é, eu acho que...
27:32Ou vira latismo, né?
27:33Ou é pelo fato da gente ser acolhedor mesmo?
27:35A gente é muito fofo, nós somos fofas.
27:38Eu acho que os faraíseos são muito agregadores, assim.
27:41Eu acho que é uma fofura.
27:43É muito assim como a gente...
27:44Eu olho o interior.
27:45É muito como eu olho a galera.
27:46A gente é fofa.
27:47A gente é fofa.
27:48Coração, assim, lindo.
27:49Olha, eu sempre morei assim, mais no centro da cidade.
27:52Quando eu fui morar em Coraci, eu sempre falo isso.
27:55Eu percebi uma diferença significativa no comportamento das pessoas.
27:59Aquela pessoa que diz, tudo bem?
28:01Te cumprimentando na rua.
28:03É como são pessoas fofas, de verdade.
28:04Sentar na frente de casa, dar conta da vida da vizinha,
28:07catar a cabeça na sala.
28:08Sei lá, são pessoas mais legais, assim.
28:10Eu acho que são pessoas mais legais.
28:12Verdade.
28:12Mas chega alguém, por exemplo, de fora,
28:14aí essa pessoa vê um brilhantismo.
28:17Você é, meu Deus.
28:18Porque eu acho que é um pouco do vira lata.
28:20Mas é também da fofura.
28:21Eu acho que isso mistura um pouquinho.
28:23E eu acho que pode ser também da curiosidade do novo,
28:26de conhecer uma pessoa de fora, tem uma outra percepção.
28:29Pode ser.
28:31Acho que é tudo misturado, na verdade.
28:33Mas isso também acaba sendo um pouco perigoso.
28:35Eu acho bonito, de verdade.
28:37Eu admiro pessoas assim, que, poxa, tão receptivo, tão acolhedor.
28:42Mas às vezes acaba sendo perigoso também.
28:45Porque é muito mais fácil de enganar, de dar qualquer coisa.
28:49E a pessoa se sentir satisfeito com pouco.
28:53É complicado.
28:55Quando tu fica muito esperto, tu acaba sendo...
28:58Tem uma malícia a mais, né?
29:00Sim.
29:01Eu vejo uma ingenuidade na gente.
29:03Na gente, cooperação.
29:04Eu sinto isso também.
29:05Mas tu sabe que também a gente volta pra questão do histórico.
29:09De um sistema.
29:11De um plano que foi feito para o domínio.
29:16Então, não.
29:16Eu tenho que agradar.
29:17Tenho que receber bem.
29:19A minha mesa tem que estar sempre com as melhores coisas.
29:22Tem essa coisa, o nosso inconsciente coletivo.
29:26Tem essa coisa.
29:27E o brasileiro tem isso, né?
29:29De valorizar o gringo.
29:30De pagar melhor.
29:31De quem vem de fora e tal.
29:33E não por acaso.
29:34Quando eu decidi fazer a minha transição de carreira.
29:39Eu tava indo pra Portugal fazer mestrado.
29:41Que eu tinha passado no mestrado lá.
29:43E eu falei, não, querida.
29:44Eu vou voltar igual a mudica.
29:45Não vai mais ser high.
29:48Aliás, não vai mais ser mudica.
29:49Vai ser high, entendeu?
29:50Eu chegando lá.
29:52Cheguei agora um dia desse na casa da minha avó.
29:54E meu tio, olha a mudica.
29:55Chegou.
29:55Eu falei, é high, tio.
29:56É high.
29:57Mas aí, tipo assim.
29:59Quando é, eu falei, não, querida.
30:01Eu vou chegar das Europa com o meu mestrado na IEM.
30:04Ixi, não vai ter.
30:05Não vai ter.
30:06Vai ser só assim que eu vou resolver a minha vida.
30:09E aí, não aconteceu, né?
30:10Veio pandemia.
30:11Eu não fui mais.
30:12Eu tinha passado sem bolsa.
30:13Eu ia, sei lá, mano.
30:14Eu ia cantar na rua.
30:15Eu ia virar artista de circo.
30:18Eu ia fazer tudo o que desce lá.
30:19E eu fiz isso.
30:21Eu testei, né?
30:21Um amigo meu, gringo lá.
30:23Fiquei lá, cantei meia hora.
30:25Ganhei 400 euros.
30:26Caramba.
30:27Te juro.
30:28E é engraçado que eu andava na rua assim.
30:30O pessoal me olhava.
30:32E aí, eu falei, gente.
30:34E eu normal.
30:35Um cabelão que eu tinha enorme, né?
30:37Aí, oi, tudo bom?
30:39Na IEM, tudo bem?
30:40Aí, eu já era na IEM.
30:42E isso é muito doido.
30:43Porque eu criança, eu já usava, mano.
30:45Eu brincava de televisão.
30:47Fala da transição.
30:48E brincava muito disso.
30:49Pois é, essa coisa do vira-latismo, eu queria usar ao meu favor.
30:52Porque era tipo assim...
30:54Voltei...
30:56Renovada.
30:57Renovada.
30:58Outra skin.
30:59E antes, eu tava assim, na bad.
31:01Tinha terminado um relacionamento.
31:02Meu nome é na IEM de Cássia Silva dos Reis.
31:05Aí, uma época, tu usava Nana Reis.
31:07Usei Nana Reis.
31:07Nana é meu apelido.
31:09Ah, tá.
31:09E Nana é meu apelido porque, quando eu nasci, minha irmã, que era um pouquinho mais velha,
31:13não falava direito.
31:15Aí, lá, não.
31:15Na IEM.
31:16Tipo assim, Nana é Nana.
31:18Aí, ficou.
31:19Por algum momento, tu tinha vergonha de usar o NaEM?
31:22Sim.
31:22Eu acho lindo o teu nome.
31:23Eu também.
31:24Por causa de todo esse contexto aqui que a gente falou.
31:27Porque eu não achava que era legal.
31:30Eu cresci ouvindo.
31:31Ah, é muito difícil.
31:32Que nome difícil?
31:33Que nome diferente?
31:34Aí, hoje, eu já falo.
31:35Sim, que nem a Beyoncé.
31:38Tu vai me achar numa lista rapidinho.
31:40E o nome do meu marido é Tuareg.
31:42Aí, acha eu e ele rapidinho também.
31:44Eu acho legal.
31:44O primeiro nome dele é Tuareli?
31:46Tuareg.
31:47É o sereio, gente.
31:49Eu acho lindo também, Nana.
31:50Pessoal, olha por aí ele.
31:51Ah, tu é o sereio, né?
31:52Ele fica...
31:53Eu falei, tá famoso o sereio.
31:55Pode chamar o marido de sereio, que é bacana.
31:57E eu acho muito...
31:58Porque uma das coisas que eu acho mais chique, falando sério agora, é alguém que tem o nome,
32:03o primeiro nome, tão diferente a ponto de se identificar só com aquele primeiro nome.
32:07Porque o meu nome é Ana Carolina.
32:08É um dos nomes mais comuns que tem.
32:10Ana, eu acho que é o segundo nome mais comum no Brasil.
32:13Depois de Maria.
32:13Depois de Maria.
32:14É.
32:15Então, tipo assim, eu não posso falar só Ana Carolina.
32:17De qualquer maneira, eu vou ter que falar um sobrenome.
32:19A Ana tava em crise com o nome dela.
32:20É, eu tava em crise com o meu sobrenome.
32:22Aí, eu sempre vou ter que falar um sobrenome, porque meu nome é comum.
32:25Se eu tivesse um nome, é tipo um teu.
32:26Naime.
32:27Pronto.
32:28Naime, cara.
32:29Cheguei.
32:29Cheguei isso.
32:29É uma maravilha tão devagada.
32:31Até eu ver, ter essa percepção que tu tem.
32:33Demorou, né?
32:34Olha, demorou.
32:34Eu me imagino.
32:35Trinta anos.
32:36Sim.
32:36Vinte e oito anos.
32:38Mas te juro, eu acho muito bonito.
32:39Eu falei, é, pode crer.
32:40Foi quando eu voltei de Portugal.
32:42E eu falei, eu vou fazer esse babado aí.
32:44Porque eu tinha ido fazer as provas e tal, né?
32:47E fiquei quase três meses lá.
32:50E aí, eu voltei decidida.
32:52Será que tu precisar já ser de uma validação?
32:54Porque lá a galera deve ter achado o máximo.
32:56Eu precisava perceber que a gente é muito bom.
33:02E com muito pouco, a gente faz muita coisa.
33:04Exato.
33:04E quando tu tem uma estrutura, tu arrasa.
33:07Eu precisava perceber isso.
33:08Por exemplo, pode crer.
33:10Aí, eu já voltei.
33:12Eu viajei duas vezes pra fora do país, assim.
33:15Primeiro, eu fui pra Alemanha.
33:17E a segunda, eu fui pra Portugal.
33:19E quando eu fui a primeira vez, eu fiquei muito chocada.
33:22Do quanto a nossa música é valorizada.
33:25Do quanto as nossas crenças, os nossos saberes.
33:28As coisas...
33:28Ah, qualquer coisa que tu sabe de ti, da tua vida.
33:31Do lugar que tu és.
33:33É muito legal, assim.
33:35Porque aqui, é como se...
33:39Deixa eu ver como é que eu explico.
33:41Se a gente tem uma garrafa, a garrafa tem um rótulo.
33:43E tu tá lá dentro.
33:44Tu é a Coca-Cola da garrafa.
33:46Tu não consegue ver o que tá escrito lá de fora.
33:48Então, quando tu sai, tu consegue ler.
33:50E diz, é, é, pode crer.
33:52Entendeu?
33:52Tipo assim.
33:53Sim.
33:53Até porque tu vê o outro valorizando, né?
33:56E tu, meu Deus do céu.
33:56E aí, eu falei...
33:58Aí eu comecei a...
33:59Me ajudou muito a entender.
34:02Que cargas d'água eu estou fazendo neste planeta?
34:05Porque eu perdi tanto tempo.
34:06E o que é que eu...
34:07Tipo assim, manda meu nome.
34:08Agora, já que...
34:09Minha mãe só achou o nome, tem toda uma história.
34:11Sério?
34:12É, Laura.
34:13É, então foi babado mesmo.
34:14O negócio, assim...
34:15Agora, causa estranheza, né?
34:17Pro público, quando o artista...
34:18Causa, causa, sim.
34:20Mas tem gente que não sabe que eu sou a Nona Reis.
34:22Eu não sabia até há pouco tempo.
34:24Eu fui saber porque a Bruna me contou.
34:26E eu digo, aí...
34:26Tu parece...
34:26Tu não é a prima, Nona.
34:27Eu falei, é, é a minha prima, Nona Reis.
34:29Mas eu tiro onda.
34:31E eu digo, aí eu explico.
34:32E tem uma série que eu fiz, um documentário que eu fiz.
34:34Que foi...
34:36Eu já tinha essa...
34:37Eu tinha essa vontade, né?
34:39De dirigir, de trabalhar mais com audiovisual.
34:41Dirigindo, escrevendo.
34:42Já fazia roteiros ampliados, enfim.
34:44E passei muitos anos fazendo coisas de roteiro, atuando.
34:48Atuo também.
34:49Sim.
34:50Mas dirigir, eu tinha medo.
34:53Eu achava que eu tinha que fazer o curso de cinema.
34:55Mas eu fiz um monte de outros cursos.
34:57A gente sempre coloca esses empecilhos.
35:00Primeiro, eu vou fazer isso pra eu conseguir fazer isso.
35:03É, síndrome da impostora.
35:04Síndrome da impostora.
35:05E aí, eu fiz, cara.
35:06Quando eu fiz a série, eu falei...
35:07E quando eu assisti, eu falei...
35:09Interessante, né?
35:11Eu já tinha essa minha visão semiótica, assim.
35:14Da construção do artista.
35:16De quem eu sou, de onde eu vim.
35:19Mas isso não era...
35:20Tipo assim, não era uma coisa que eu conseguia ver fora do rótulo.
35:23Sim.
35:23Aí eu viajei.
35:25Aí eu fui fazer curso.
35:26Aí eu terminei a universidade.
35:28Agora, Naime...
35:28Comecei a ter outra percepção.
35:30Outra percepção.
35:31Como tu estavas lá, né?
35:33Tu passaste esse tempo na gringa e tal.
35:34E a gente começou falando desse negócio de ter a cara...
35:37De paraense.
35:38Se isso flopa ou engaja.
35:39E lá, pros gringos, ter essa cara de paraense.
35:42Engaja ou flopa?
35:44Engaja.
35:44Porque é todo mundo louro.
35:45Aí tu chega lá, mora aí na linda.
35:47Ou as mulheres, as negras, as pretas, as indígenas.
35:50Foi por isso que eu perguntei dessa...
35:51Cacheada, brilhosa, alegre.
35:54Eu acho que a grande questão da brasileira...
35:57É que a gente é muito segura.
36:00Mano, a gente é segura.
36:01A gente anda.
36:02A gente fala.
36:03A gente é cheirosa.
36:05Mano, a gente é cheirosa.
36:06E é uma coisa, né?
36:08Pô, meu Deus do céu.
36:09Pessoal, nunca vi um chuveiro na vida deles.
36:12Não posso ser preconceituoso.
36:13Então, amigos, venham tomando banho, por favor.
36:17Mas isso, qual foi o país que a galera não tomava banho?
36:20Ai, gente, eu não quero falar, mas os meus parentes portugueses eram babados.
36:25Era babado.
36:26Os dentes das pessoas.
36:27Verdade.
36:27É tudo muito caro.
36:29Então, tipo, as pessoas não têm acesso.
36:30Não tem SUS.
36:31É isso.
36:32É isso.
36:32Mora, não tem SUS.
36:33Aí a pessoa não tem dinheiro pra ir no dentista.
36:36Exatamente.
36:36Os dentes são amarelados.
36:37São cinzas.
36:38Tem muito agrotóxico nas coisas.
36:39Os dentes das crianças.
36:41É babado.
36:42Mas é assim, muito acessível.
36:43Muita coisa.
36:44Educação de primeira.
36:46Muitas outras coisas.
36:47Eu fiquei dois meses e pouco.
36:49Fui em julho, voltei quase fim de setembro.
36:52Não deu pra seguir.
36:53Cheguei na época do Sírio.
36:54Na pandemia.
36:55Quase que eu não volto.
36:56Eu só voltei porque eu tinha três shows, assim, de contrato muito alto, que era muito
37:01mais caro a cláusula.
37:02Aí eu vim.
37:04Senão eu ia ficar.
37:05Mas aí depois eu passo no mestrado.
37:08E aí vem a pandemia.
37:09Eu tinha vendido tudo.
37:11Tinha dado todos os panos de bunda.
37:13Tinha vendido as coisas.
37:14Aí não fui, né?
37:16Com medo de morrer pra lá.
37:17Sozinha.
37:17Claro, Deus o livre.
37:18Mano, foi um desespero.
37:20Mamãe, tudo vai.
37:21Eu, mãe.
37:23Aí eu voltei.
37:25Eu voltei.
37:28Fazendo o Roberto Carlos.
37:29Não, era mais o volta o cão repetido do Chávez mesmo.
37:33Égua, gente.
37:34Esse momento foi mais a pra mim.
37:36Foi muito...
37:36Meu mundo caiu.
37:38Sério.
37:39Lisa.
37:40Vendido tudo que eu tinha.
37:41Meu Deus.
37:42Aí fiquei os quatro primeiros meses da pandemia dando aula ainda online.
37:46Aí eu falei, e agora?
37:48Mano, e agora?
37:49Agora é agora.
37:50Agora tu vai fazer tudo que tu queria fazer lá na Zoropa, tu vai fazer agora.
37:53Aqui, trancada no teu quarto.
37:55Entendeu?
37:55Meu Deus.
37:56Te vira.
37:58Aí eu comecei a estudar marketing.
37:59Comecei a pensar estratégia de carreira.
38:02Égua não, porque eu vou fazer 29 mil.
38:04Eu tava com 27, 28.
38:05Aí eu vou fazer não sei o quê.
38:07E tararau.
38:08Sem um real, né?
38:09Aí começou.
38:10Tinha uma grana que eu tinha guardado, que eu não tinha ido.
38:13Mas eu fiquei assim de boa uns quatro meses, cinco meses.
38:18Depois eu aperrei e foi babado.
38:20Imagina.
38:20Mas muitas questões, né?
38:21A questão da nossa cabeça, de não cantar, de não poder expressar aquilo que você tá...
38:30Então, quando eu saí, mano, parece que eu tava igual aquele cachorro da praia.
38:33Como você ser da presa?
38:35O caramelo da praia, eu mesma.
38:38Aí fiz o meu canto e minha história, que foi um DVD, um show ao vivo, de o que é a inauguração da loja.
38:44Da nova fase, da nova era.
38:46Trocamos o brand, a logo, as cores, aquela coisa toda.
38:50Comecei a me posicionar com a minha imagem, principalmente.
38:54Aí eu me visto assim, eu gosto desses elementos aqui, eu gosto disso e disso.
38:58Isso faz parte de mim.
39:00Não foi nada falso, nada criado artificialmente.
39:04Foi muito importante pra mim, assim.
39:06E entendendo, eu falei, não, eu sou minha empresária, eu sei fazer isso, é assim que funciona.
39:13E por eu ser artista que vem da periferia, artista que é desse berço da cultura popular,
39:19eu aprendi fazendo, né?
39:22Então, por mais que eu tivesse, ah, eu tenho que me capacitar, eu tenho que fazer o curso de não sei o quê.
39:26Eu não tinha o dinheiro pra fazer o curso de não sei o quê, né?
39:29Então, tu imagina o mundos e fundos que eu movi, fazia a rifa, lia o tarô, porque eu sou cartomante.
39:37Ah, tu é cartomante, é?
39:40A mulher ranhou.
39:40Joga no cardos pra gente.
39:41Agora eu já faço publicamente, assim.
39:43Até um dia desse não era.
39:45Aí depois veio, vai, mano, eu faço.
39:46Então, tem essa parada, assim, de a questão espiritual pra mim.
39:51E eu fui começando a entender que tem um propósito, tem uma experiência.
39:56Com certeza.
39:56Tem um caminho importante pra se fazer.
39:59E é isso.
40:00E, Ana, tu, não sei se tu te...
40:02A Bruna, ela ainda não se diz...
40:03Não, tudo bem, tudo bem.
40:05É porque o teu apelido também, né?
40:07Meu Deus, perdão, perdão.
40:08Realmente, porque a gente se conheceu como Nana.
40:10Não, gente, é muito engraçado.
40:12A galera da faculdade que eu estudei no FPA, né?
40:14Os meus professores me chamavam alguns de Nana Yemi.
40:17Ou o saldo de Nayemi.
40:18Ou senhorita Reis.
40:20Ou não sei o que, era uma coisa assim, né?
40:21Senhorita Reis é ótimo.
40:22É porque a Nana Reis, cantora, era uma e a pessoa ali da sala de aula.
40:26Nayemi.
40:27E agora que eu uso meu nome mesmo, agora não, desde 2021.
40:30É engraçado.
40:31Às vezes as pessoas ficam...
40:32Nananana.
40:33Eu falei, gente, tudo bem?
40:34Tá tudo certo.
40:35A Nana não entende, né, Nana?
40:37A gente conheceu como Nana.
40:39Entendo, e é muito doido.
40:40Quando eu era criança, na escola, se eu falasse o meu nome inteiro, é igual moleque, eu tava
40:46ferrada, né?
40:47Nayemi, você fica acessível dos reis.
40:49Vem aqui na secretaria.
40:51Eu era um cão, eu era muito atentada.
40:53Eu era uma criança atentada.
40:55Corria, me quebrava, subia na árvore.
40:58Teve infância.
40:59Isso existe em mim, que eu sou essa pessoa espivitada.
41:03Geminiana.
41:04Geminiana, muito geminiana.
41:05E ainda na...
41:06Nayemi, Nayemi.
41:08Deixa eu te falar.
41:09Por exemplo, tu ainda te coloca como uma artista do meio alternativo?
41:17Tá, essa é uma pergunta.
41:19E se sim, tu és uma artista do meio alternativo que tem vontade de ser conhecida pela grande
41:25massa?
41:26Isso é um conflito meio pra essa galera?
41:29É, eu não penso assim não, sabia?
41:30Não, eu não acho que existe o termo alternativo.
41:34Eu acho que existe a cultura popular, que é essa raiz, que vem o carimbó, mas que
41:39também tem aparelhagem, que é super tecnológico.
41:42Sim, na verdade.
41:43Que é super...
41:44Ah, o 360 HD e não sei o que, em fogo e LED.
41:49Sim.
41:49Mano, imagina a coisa dos gringos vir pra cá ver isso, eles vão ficar doidos.
41:52Doidos.
41:53Sabe?
41:53Então, isso é muito genuíno pra mim, isso é muito genuíno pra gente.
41:57Eu não sou uma cantora que canta o brega como minha primeira bandeira, porque existem
42:02aí mulheres que estão carregando brega há 40 anos no peito, na guela, muito bem.
42:06Eu amo brega, faz parte de mim, da minha vida, da minha história.
42:10Eu componho muito brega.
42:11Tem música minha gravada pela Vivi em Batidão, pela Gabi, Amarantos, tem outros bregas
42:17aí vindo.
42:17Canta aí uma.
42:18Da Vivi, tem uma que ela fez com a Gretchen, parceria.
42:22Lembro dessa parceria.
42:24Mano, eu e o Leonardo, Leonardo Augusto, meu amor da Platô, está com Deus, Nossa Senhora.
42:29Sim.
42:29A gente fazia muitas músicas doidas, assim.
42:32Então, aí um dia ele foi e apresentou pra Gretchen e pra Giviane.
42:35Eu falei, menino, isso era brincadeira aí, elas gravaram e foi muito legal.
42:39A Vivi gravou bailarina, teve.
42:41Eu lembro.
42:42Vivi gravou bailarina no DVD dela lá no portal, que era...
42:46Eu quero ser a luz do sol, ganhar teu beijo, seduzir, pra sempre ser tua bailarina, dormir sonhando com você.
42:55É mais fofinha.
42:56Meu amor, te querer, te ter pra toda a vida, viver esse sonho de amor, deixar falar a voz do coração,
43:07Sonhar contigo e me encantar.
43:10Era muito fofinha.
43:11Muito.
43:12Pois meu desejo é te amar, amanhecer contigo todo dia.
43:17Aqueles bregão, tipo pop show, sabe?
43:19Sim.
43:19E a lua te encantar e bailar, quero estar com você pra sempre.
43:29Tem, tem, tem, tem, tem.
43:31É muito bacaninha.
43:32Que chique.
43:32Tem essa, tem...
43:33Olha, a gente ainda não tinha tido um showzinho porque...
43:36Ah!
43:36Nessa nova temporada.
43:37Nessa nova temporada, a gente ainda não tinha tido, assim, uma cantoria aqui no chá,
43:41porque a gente sempre gosta desses momentos.
43:44É, aí tem música que a Gabi gravou minha com Arthur Espíndola, que é...
43:47Requebre comigo pela noite inteira, no samba, merengue, pra lá e pra cá.
43:52Requebre faceira, vem maliciosa, enrolando o seu beijo pra gente, bela.
43:58Deixa teu cheiro, cheiro, cheiroso.
44:01Quebra morena, vem cá.
44:06Égua pequena, beijo gostoso.
44:10Deve ser maravilhoso, né, ter a tua música, né, com essas...
44:13É, que eu amo.
44:14Ali a Sofia gravou a música minha, gravou o Fogo de Palha.
44:16Ai, que legal.
44:17Que grandes artistas.
44:18Tô, sabe, mandando, eu mandando...
44:20Tu sabia que eu já mandei música, assim, na minha cara de pau?
44:23Conta, conta, conta, conta.
44:24Mayara e Maraíza.
44:26Que legal.
44:26Oi, Marília Mendonça.
44:27Eu digo, oi, gente, tudo bem?
44:29Eu sou falando de tal.
44:30Elas já te responderam?
44:31Nunca, né?
44:32Um dia, quem sabe, vai dizer, olha teu direct.
44:36O dia que eu ia responder, eu mandei pra Ivete já.
44:38Coisa de axé, porque eu componho de tudo, né?
44:42Inclusive, a gente tem um grupo de composição, assim, eu, Arthur Spindola, Jeff Moray, Raidol,
44:48Júlia Passos, Juliana Sinibu, Amanda de Paula, a gente faz música, exercita essa coisa
44:53da composição em diversos âmbitos.
44:56Mas é aquilo, voltando a tua pergunta, eu não acho que eu sou uma artista alternativa.
45:01Sim.
45:01Eu acredito que eu sou uma artista que tem MPB, assim, Música Popular Brasileira, essa raiz
45:06que é popular nortista, mas que, sobretudo, tá conectada às outras coisas do Brasil,
45:12que eu gosto, que eu cresci ouvindo.
45:14Até pra que eu não me encerre e não me feche em copas e não limite aquele fazer só ali.
45:19Porque, sim, eu estrategicamente penso minha carreira pra ser uma carreira a nível nacional,
45:26que já está nesse caminho.
45:27Claro.
45:27E internacional também.
45:29Então, eu acho a COP uma ótima oportunidade pra artistas criarem conexões, sabe?
45:34Fazer essas relações internacionais, essa coisa da gente ter essa diplomacia mesmo,
45:41de receber, de falar, de apresentar e de fazer isso muito bem e receber muito bem por isso.
45:46Sem tirida, pegar a dica da Girapaz.
45:49Sem tirida.
45:50Vai lá, mana, vai, fala de ti.
45:53Eu sou essa pessoa, eu faço isso.
45:55Eu não tenho uma disposição, assim, tão grande pra ser enxerida no lugar de...
46:02Ah, eu quero estar nos fóruns da COP.
46:05Ah, eu quero estar lá falando, palestrando, dizendo...
46:07Ah, como eu sou da Amazônia.
46:08Não quero, não tenho nenhum interesse.
46:10Eu acho que quem tem que estar lá são as lideranças, indígenas, quilombolas, ribeirinhas,
46:14falar da verdade, das coisas que estão acontecendo.
46:16Dá protagonismo pra essa galera.
46:18Quero aí, de fato, mudar as coisas, porque...
46:20Né?
46:21O planeta tá aí, né?
46:22E a gente quer viver.
46:23A gente não sabe até quando.
46:24Exato.
46:25Que horror.
46:28Exato.
46:28Parece que é assim, sim, gente, eu vou ficar fazendo COP até quando?
46:31Eu tô aqui com os cabelos tudo queimados, tô aqui toda estraçalhada, tô com sede,
46:36com calor, e aí você vai ficar nessa até quando.
46:39Só reunindo aí.
46:40A reunião da reunião da reunião.
46:41É, reunião pra discutir a reunião que teve, a reunião por conta da reunião.
46:46Enfim, gente.
46:46Não vou chamar a gente pra nada agora.
46:48Porque a gente tá cantando, né, Naime?
46:52Olha, deixa eu te falar, até falei ontem.
46:54Eu já mandei vários, vários, vários não, e cinco orçamentos, assim.
46:58Mas nada oficial, coisa de empresas que vão fazer receptivos, restaurantes, seguradoras,
47:05produtoras, coisas corporativas.
47:08Só nesse sentido, sim.
47:09Ah, mas eu não tenho dúvida que tu vai bombar na COP, assim, nesse sentido.
47:12Mas também, eu fiquei muito nessa, eu falei, e aí, será que eu vou criar essa expectativa?
47:17É, é complicado, né?
47:18É, é complicado.
47:19Então eu fico, eu gosto muito de ser essa pessoa aqui, cara.
47:21Pé no chão, né?
47:23Entendeu?
47:24Pelo menos alugar a casa.
47:25Tá certo.
47:27Ai, corretora, as casas da cidade velha.
47:29Entendeu?
47:30É, é isso.
47:30É babado, perto do Rubão.
47:32Bora, Rubão.
47:34Bora, vizinhos.
47:35O Rubão ainda tá abrindo.
47:36Tá reformando lá, tá reformando lá.
47:39Uma época eu morei na Cidade Velha, acho que tu lembra.
47:41Sim, sim.
47:42Vai reformar.
47:43Tinha um...
47:45Tem várias outras opções, né?
47:46A Cidade Velha, ela é um polo gastronômico.
47:49É um polo de cultura, de história.
47:52E, sobretudo, de arte.
47:55Acho que tem.
47:56É muito isso, assim.
47:57Quem nunca, né?
47:59Terminou o rolê, foi lá na Esté, comi um lanche.
48:01É, verdade.
48:02E várias outras coisas, tipo...
48:03Aquele churrasquinho da Hernani.
48:05É, eu adoro.
48:06Também.
48:07Dois irmãos.
48:08Olha, a gente tá só fazendo as públicas.
48:10É, você não vai mandar, gente, os quitudes.
48:12É verdade.
48:12Os quitudesinho.
48:13É, só citar.
48:14Olha, Bacu.
48:16Naêmia, olha.
48:18O papo do chá, ele passa muito rápido, né?
48:20É verdade.
48:22Mas, quero te agradecer, foi muito legal.
48:24Finalmente saiu esse papo.
48:25É, eu assim.
48:27Finalmente conseguimos conversar.
48:29É, meninas.
48:30E tu sabe que eu acho muito legal vocês fazerem um trabalho que é um diferencial.
48:33Chega logo com a polêmica, assim, pá.
48:35Ser da Amazônia engaja.
48:37Mas é importante que, além da gente querer se engajar, né?
48:42As outras coisas também possam ser engajadas por nós.
48:47Porque eu penso na Amazônia como um ser vivo.
48:50E assim, ah, usufruir dessas coisas que a gente tem a oportunidade de nascer aqui, viver aqui, entender.
48:56Legal.
48:58Mas acontece muito o contrário de virem pessoas de fora virem falar daquilo que a gente vive, né?
49:04Que não é uma verdade para outras pessoas.
49:06Sim.
49:06E que é um desejo meu, assim, que a gente possa ter esse protagonismo.
49:11Que essas pessoas mais necessitadas possam ter esses acessos, essas oportunidades, né?
49:17Tem muitas iniciativas legais de formação, de capacitação, de ensinar a galera a falar inglês, né?
49:23Da TESAM, vender o seu negócio, a economia criativa circular.
49:26Eu vejo coisas muito positivas.
49:28Sim.
49:28Eu vejo as obras.
49:29E eu acho que é o futuro, né?
49:31Com certeza.
49:31É botar a galera daqui do Norte e Nordeste, principalmente.
49:36Eu li outro dia que era o Norte e o Nordeste que produz a cultura e o Sudeste vende.
49:42É isso mesmo.
49:43Verdade.
49:44Então, bora fazer o movimento contrário, né?
49:46Então, festivais como Psica, Se Rasgam, as coisas grandes que acontecem aqui.
49:51Esses eventos são legais porque atraem as pessoas para conhecerem mais os nossos artistas
49:55e valorizarem.
49:57E a gente se valorizar também.
49:58Sim, é verdade.
49:59Eu acho que é, sobretudo, sobre isso mesmo.
50:02A gente se valorizar.
50:03Olha, eu quero que esteja lá no aeroporto tocando
50:05Grigoli do Louro, louco de amor pra dar.
50:08Passando sampleados.
50:10Acho que não estou avançada aqui.
50:11Olha, uma boa dica para recepcionar os livros.
50:14É, com certeza.
50:15Ai, já aprendeu sempre.
50:16Uma trilha maravilhosa.
50:17Hello, hello.
50:19Mas é isso.
50:20Obrigada, Naime.
50:21Obrigada, Naime.
50:23Obrigada, meninas.
50:23Foi maravilhoso esse papo.
50:25Vai rolar a próxima, com certeza.
50:27A gente agradece também quem acompanha a gente aí no chat canela, nas nossas redes
50:32sociais, no Libplay também de Oliberal, né, Bruna?
50:37No YouTube, enfim.
50:39Aí pelo mundo, que a gente está pelo mundo aí.
50:41Acompanhe nas redes que a gente me dá toda a informação.
50:44É isso aí, gente.
50:45Até a próxima.
50:46Até a próxima.
50:47Tchau, tchau.
50:48Transcrição e Legendas Pedro Negri
50:56Transcrição e Legendas Pedro Negri

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