- ontem
Papo Antagonista é o programa que explica e debate os principais acontecimentos do dia
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NotíciasTranscrição
00:00:00Eu preciso construir uma narrativa para destruir o inimigo.
00:00:03Que vingança.
00:00:04Estou aqui para me vingar dessa gente.
00:00:06Pretendo beneficiar o filho meu sim.
00:00:08Confesso publicamente que eu votei no Lula.
00:00:12Salve, salve. Eu sou Felipe Moura Brasil.
00:00:14Sejam bem-vindos ao Papo Antagonista nessa segunda-feira, 3 de março, segunda de carnaval.
00:00:19E como eu costumo dizer que eu sou rubro-negro de coração, dia de São Zico,
00:00:23parabéns para o maior ídolo da nação rubro-negra que faz aniversário hoje.
00:00:29E nesse clima de folia, de artes, de uma maneira geral,
00:00:33o futebol do Zico também era arte,
00:00:35a gente vai falar aqui de carnaval, de filmes e de livros.
00:00:39Muita gente pede para a gente dar dicas, inclusive,
00:00:43nas redes sociais, fora do noticiário político.
00:00:47E a gente aproveita um feriadão prolongado para falar de temas mais à mesa.
00:00:51A gente volta a cobrir o noticiário, tudo que está acontecendo.
00:00:54A gente sabe que o Brasil não para, que o mundo não para.
00:00:56A gente volta a cobrir o noticiário na quarta-feira,
00:00:59mas hoje a gente vai fazer um programa mais divertido, mais suave,
00:01:04nesse clima de folia.
00:01:06E a gente trouxe um convidado muito especial,
00:01:09colunista da Cruzoec, sabe tudo de cultura, de carnaval,
00:01:13de cinema também, em particular, o Jerônimo Teixeira.
00:01:16Muitos de vocês estão acostumados a ler.
00:01:18Agora vocês estão vendo.
00:01:19Salve, salve, Jerônimo.
00:01:20Seja bem-vindo.
00:01:20Obrigado, obrigado, Felipe, obrigado, Duda.
00:01:23E você não tem nenhum parentesco com o Duda,
00:01:26porque os dois são Teixeira,
00:01:27e o Duda não está fazendo nepotismo aqui no programa, não.
00:01:29Não, não, não é não.
00:01:30Teixeira é bem comum, né?
00:01:32Que nem erva daninha, né?
00:01:34Parece um tuco contra a lagar.
00:01:35Eu sou Teixeira da Silva.
00:01:37Ah, é, olha só.
00:01:38Teixeira da Silva Neto, né?
00:01:39Eu lhe dei o nome do meu avô que eu não conheci.
00:01:41É um nome popular, para uma figura muito erudita.
00:01:45Robson, meu compadre, solta a vinhetinha e vamos com tudo.
00:01:48Aconteceu, você fica sabendo aqui.
00:01:51Papo Antagonista.
00:01:54Muito bem, então vamos começar essa conversa.
00:01:56O Jerônimo que, assim como eu e como o Duda,
00:01:58muitos anos atrás, trabalhou na revista Veja,
00:02:03naqueles outros tempos,
00:02:05a gente sabe que teve várias mudanças por lá,
00:02:08e nós viemos aqui para o Antagonista, para a Cruzoé,
00:02:12e ele trata de assuntos culturais, de assuntos políticos,
00:02:14da fronteira, inclusive, da interseção entre esses assuntos.
00:02:19Agora, eu queria saber qual é o seu vínculo com o carnaval.
00:02:22Porque eu sou do samba, porque eu sou carioca,
00:02:25eu cresci indo para a roda de samba, para as escolas de samba.
00:02:28Eu cresci curtindo isso e curto até hoje.
00:02:31Mas se você quiser detonar o carnaval aqui, também pode.
00:02:35Aqui, cada colunista tem a sua liberdade, como você sabe.
00:02:40O que você acha de toda essa folia?
00:02:42A gente, evidentemente, que faz programa sobre os temas políticos,
00:02:46tem muitos seguidores que detestam o carnaval.
00:02:50São pessoas mais engajadas,
00:02:52que não gostam da sujeira nas ruas, dos blocos,
00:02:55da barulheira, não gostam da música popular,
00:02:57mas também tem o grupo que adora.
00:03:00Você fica em que grupo aí dessa divisão?
00:03:03Eu fico numa zona cinzenta.
00:03:05A cinza não é uma cor muito carnavalesca,
00:03:08mas eu fico aí numa zona cinzenta entre as duas coisas.
00:03:12Eu sou, digamos, um voía de carnaval.
00:03:15Eu sou gaúcho.
00:03:16Que coisa chique.
00:03:17Só um gaúcho para falar isso.
00:03:18Eu sou gaúcho.
00:03:20Você só vê o carnaval passando na janela.
00:03:22Às vezes eu saio num boteco e passo um bloquinho,
00:03:25eu acho legal.
00:03:26Eu acho legal, eu gosto do clima,
00:03:29eu gosto da primissividade do carnaval,
00:03:31eu gosto disso tudo.
00:03:32Já entendi que o genoma é do camarote.
00:03:34Não, não é bem que não.
00:03:36Camarote não.
00:03:36Camarote não é o meu nome.
00:03:37Na sacadinha da baranda.
00:03:39Mas, enfim, o bairro que eu moro aqui em São Paulo,
00:03:43em São Cecília, tem muito bloquinho.
00:03:47Já antes do carnaval, inclusive.
00:03:50Mas eu gosto de sair do boteco com a família e tal,
00:03:53eu vou caipirinha e ver o pessoal passar.
00:03:55Eu não sinto o apelo,
00:03:57não sinto o chamado do samba.
00:03:59Não é que o tamborim me faça mexer as cadeiras.
00:04:02As cadeiras são duras.
00:04:04Eu disse numa crônica...
00:04:06Cadeiras de intelectual.
00:04:07Como eu disse...
00:04:09Pois é.
00:04:11Intelectual bebe, como diziam o Jaguar.
00:04:13É o que eu faço no carnaval.
00:04:16E no ano passado, até, na minha coluna de carnaval,
00:04:21eu comecei dizendo que eu sou ruim da cabeça e doente do pé.
00:04:23E vice-versa.
00:04:25Porque quem não gosta de samba, bom sujeito não é.
00:04:28Eu gosto de algum samba.
00:04:29Eu gosto de algum samba.
00:04:30Só para quem não pegou a referência.
00:04:32Eu estou traduzindo aqui como um sambista que sou.
00:04:34Duísa Teixeira, você quer introduzir o assunto?
00:04:37O carnaval...
00:04:38Eu sou também o voye, que nem o Jerônimo.
00:04:42Mas o que me chamou a atenção já esse ano é que tem...
00:04:46Eu já vi o carnaval passando de patinete eletrônico.
00:04:49Isso é interessante.
00:04:50Eu também estava num barzinho e, de repente,
00:04:52me passa uns quatro, cinco bloquinhos com patinetinho.
00:04:56Todo mundo fantasiado, sabe?
00:04:58Que bairro foi esse, Duda?
00:05:00É Itaí.
00:05:01É perto da Farinha Lima ali, né?
00:05:05Eu estou aqui com o pessoal que só vê o bloco passar.
00:05:08São muito sofisticados, entende?
00:05:10O Duda Teixeira, ele toca violoncelo.
00:05:13É outro patamar, não é mesmo?
00:05:15É, eu agora, no último final de semana,
00:05:18a preocupação do bloquinho era essa, né?
00:05:20Avisar para o cara do Uber,
00:05:22eu estou indo para a sala São Paulo,
00:05:23você cuidado aí com os bloquinhos, né?
00:05:25Olha o caminho que você vai fazer, né?
00:05:27Mas, Jerônimo, você, nesse texto que você escreveu,
00:05:31você trazia uma coisa aí, me chamou muito a atenção,
00:05:33que é o carnaval não é só alegria, né?
00:05:36Ele também tem uma melancolia ali, uma tristeza.
00:05:40Tudo se acabar na quarta-feira.
00:05:41É, exatamente.
00:05:42Você já tem uma coisa, tem uma data,
00:05:43mas, enfim, acho que é próprio dessas festas populares, né?
00:05:47Que são festas de desregramento,
00:05:48com festas de você virar do mundo de cabeça para baixo, né?
00:05:52Quebrar as regras.
00:05:53Quebrar as regras.
00:05:54Homem se veste de mulher.
00:05:55O pobre vira rei, essa coisa toda.
00:05:58É a própria, porque elas têm que ter uma data para acabar, né?
00:06:01E a melancolia faz parte, né?
00:06:03Acho que a melancolia faz parte disso, sim.
00:06:05Aliás, foi música de Vinícius de Moraes,
00:06:08até samba enredo,
00:06:10da Vila Isabel, do Martim da Vila,
00:06:12tudo falar para tudo se acabar na quarta-feira,
00:06:14quando se pendura lá.
00:06:16Tristeza não tem fim, felicidade sim,
00:06:18que é do Vinícius e do Tom.
00:06:19Mas você acha que existe uma obrigatoriedade
00:06:22de aparentar felicidade,
00:06:24pelo menos nessa época?
00:06:26Eu que sou uma figura mais contida,
00:06:29as pessoas me encontram nessas grandes folias,
00:06:33e falam assim,
00:06:33você não está animado, não?
00:06:35Isso acontece desde que eu tenho, sei lá, 12 anos.
00:06:38E eu já tenho a resposta pronta.
00:06:40Eu falo assim, eu estou eufórico.
00:06:41A minha euforia é toda interior.
00:06:48Você não está vendo,
00:06:49mas aqui dentro,
00:06:50você tem a necessidade de sair pulando e tal.
00:06:53Na verdade, estou feliz por dentro,
00:06:54estando a mim.
00:06:55Mas não é disso que você tratava?
00:06:57É, na verdade, eu até citava um conto
00:06:59pouco conhecido do Dionélio Machado,
00:07:02o Dionélio Machado, escritório gaúcho,
00:07:04mais conhecido sobretudo pelos ratos,
00:07:07caiu na fuveste no ano passado,
00:07:10sempre que minha filha fez vestibular.
00:07:13Mas o Dionélio Machado tem um conto,
00:07:15o senhor Ferreira,
00:07:16que é do primeiro livro anterior aos ratos,
00:07:18acho que, se não me engano, é de 1927,
00:07:22que é a história de um agregado,
00:07:26uma pessoa que faz serviços pequenos
00:07:28para repartições públicas,
00:07:31escritórios de advocacia,
00:07:32e que está sempre na pindaíba,
00:07:34que está sempre achacando os outros.
00:07:36Puxa, meu filho pequeno está doente,
00:07:39não sei o que e tal,
00:07:40minha mulher está com tuberculose,
00:07:42estou inventando esses detalhes
00:07:44que eu não lembro exatamente
00:07:45os detalhes do conto.
00:07:47Mas aí tem um momento crucial
00:07:48que o personagem,
00:07:50o narrador do conto e um amigo
00:07:55estão em um bairro de carnaval,
00:07:57em Porto Alegre,
00:07:59e entra esse sujeito,
00:08:05supostamente pobre, etc.,
00:08:07e ele, de fato, era pobre,
00:08:09mas, enfim,
00:08:09entra esse sujeito no salão,
00:08:12acho que vir de Pierrot,
00:08:13o que eu valho, né?
00:08:15E aí, o sujeito,
00:08:16dias antes,
00:08:18uma das pessoas que estava ali no entorno
00:08:20tinha emprestado dinheiro grande
00:08:22para ele,
00:08:23para socorrer a família e tal,
00:08:24ele vai lá e pega o sujeito
00:08:26pelo colarinho,
00:08:26como é que o senhor está aqui
00:08:27no carnaval fazendo, né?
00:08:30Você diz que sua família estava doente,
00:08:32sua mulher estava doente,
00:08:33seus filhos estavam doentes,
00:08:34você deu dinheiro para isso,
00:08:36como é que o senhor vem aqui
00:08:37no carnaval para se divertir?
00:08:40É a resposta do outro,
00:08:41mas eu não estou me divertindo.
00:08:43O que isso significa, Jerônimo?
00:08:47O que você tira de lição desse conto?
00:08:49Eu acho que lição é uma palavra
00:08:51que eu não gosto de usar para literatura,
00:08:52não dá provavelmente lições, né?
00:08:55Exato.
00:08:55Mas eu acho que tem
00:08:57uma série de ambiguidades,
00:08:59enfim,
00:09:00abertas para várias interpretações,
00:09:01isso, mas acho que...
00:09:04Acho que é sobre a multiplicidade da miséria, né?
00:09:08A miséria pode ter várias manifestações
00:09:10e as pessoas podem lidar com ela
00:09:11de maneiras diversas, né?
00:09:14Não é porque o cara realmente estava...
00:09:16Vivia nessa pindaíba,
00:09:17vivia nessa situação de aperto constante,
00:09:21que, aliás,
00:09:22também o personagem dos ratos vive,
00:09:25não é por isso que ele também não pode
00:09:27ter uma noite de carnaval, né?
00:09:29Exato.
00:09:29Mas, apesar disso,
00:09:32apesar de ele estar lá,
00:09:33eu acho que ele pode ter
00:09:34enrolado as pessoas
00:09:36de uma maneira ou de outra,
00:09:37tem um pouco, talvez, exagerado,
00:09:38quem sabe,
00:09:39a situação da família,
00:09:40mas acho que ele estava sendo sincero
00:09:42quando ele disse
00:09:42que eu não estou me divertindo.
00:09:44É, esse aí não estava se divertindo,
00:09:46mas, em geral,
00:09:46o conceito no Brasil
00:09:47é o dos versos, né?
00:09:49Que a gente trabalha o ano inteiro
00:09:50por um momento...
00:09:51Sim, exatamente.
00:09:52...para botar a fantasia
00:09:54de rei ou de pirata,
00:09:55de jardineira,
00:09:56para tudo se acabar
00:09:57na quarta-feira.
00:09:58Quer dizer,
00:09:59é aquele momento
00:09:59de extravasar,
00:10:01é aquele momento
00:10:01de permissividade.
00:10:04e, muitas vezes,
00:10:07me faz lembrar também
00:10:08essa avaliação
00:10:09de que muitos brasileiros
00:10:10vivem
00:10:12numa rotina tediosa
00:10:14e, às vezes,
00:10:17compensam isso
00:10:18com a diversão obsessiva.
00:10:20Se a gente for filosofar
00:10:21um pouquinho mais,
00:10:22talvez falte
00:10:23a muita gente
00:10:25uma realização vocacional
00:10:26que dê uma felicidade
00:10:29no seu conceito
00:10:30mais tradicional,
00:10:32de uma certa plenitude
00:10:33ao longo do ano,
00:10:34para não precisar
00:10:35desses rompantes, etc.
00:10:37Eu acho que eu brinco com isso
00:10:38quando eu dou a minha resposta.
00:10:40Eu estou euforço.
00:10:41Eu sempre busquei
00:10:42uma realização
00:10:43que me dê
00:10:45uma sensação
00:10:45de alegria constante,
00:10:47permanente,
00:10:48e não simplesmente
00:10:49um lampejo nessa época.
00:10:51Embora eu adore essa época
00:10:53por outros elementos.
00:10:54Claro que não gosto
00:10:54de algumas coisas,
00:10:56certos excessos, etc.
00:10:59Mas,
00:11:00eu gosto
00:11:01da música brasileira,
00:11:03eu gosto, enfim,
00:11:04de encontrar os amigos
00:11:05em grandes eventos.
00:11:06Tem muita coisa boa
00:11:07que alguns intelectuais
00:11:10não reconhecem.
00:11:11Eu concordo,
00:11:11eu concordo.
00:11:12Mas não são todos,
00:11:13eu sou uma cheia de intelectuais.
00:11:14Você falou disso,
00:11:15dessas pessoas
00:11:16se guardarem para esse dia
00:11:18e buscarem
00:11:19uma felicidade
00:11:21em alguma outra coisa,
00:11:22uma coisa,
00:11:23sobretudo,
00:11:24na realização profissional,
00:11:25na realização familiar, etc.
00:11:27Tem um documentário interessante,
00:11:29tem alguns problemas,
00:11:30não vou entrar em detalhes,
00:11:31mas tem um documentário interessante
00:11:33que há um tempo atrás
00:11:34estava disponível na Netflix,
00:11:36chama
00:11:36Para Quando o Carnaval Chegar,
00:11:40que é um documentário
00:11:43sobre pessoas que trabalham
00:11:45em pequenas empresas,
00:11:48em uma cidade,
00:11:50no interior do Pernambuco,
00:11:52é um núcleo têxtil que tem lá,
00:11:54esqueci o nome da cidade.
00:11:55Esse nome remete
00:11:56à música do Chico Buarque,
00:11:57Estou me guardando
00:11:58para quando o Carnaval Chegar.
00:11:59Exatamente.
00:12:01Aliás, acho que o título é isso,
00:12:02é completo isso,
00:12:03Estou me guardando
00:12:03para quando o Carnaval Chegar,
00:12:04acho que o título é isso tudo.
00:12:06Embora, até onde eu lembro,
00:12:07acho que a música do Chico
00:12:08nem chega a aparecer na música,
00:12:09mas está citada no título.
00:12:11E é uma coisa muito interessante,
00:12:12porque são pessoas
00:12:14que têm pequenas oficinas de costura,
00:12:18eles vão das indústrias testes,
00:12:19pegam calças jeans,
00:12:20sem adereço, sem nada,
00:12:24eles fazem uma customização
00:12:26dessas calças jeans,
00:12:27passam muito tempo trabalhando,
00:12:30trabalham de 8 a 8 da noite,
00:12:33passam o dia trabalhando,
00:12:34não tem fim de semana,
00:12:35às vezes.
00:12:37Eles são donos do próprio negócio,
00:12:38pequeno negócio,
00:12:39eles não querem trabalhar,
00:12:40eles podem estar trabalhando
00:12:41com CLT, etc,
00:12:42nas indústrias,
00:12:45mas eles preferem,
00:12:46eles acham que tem mais liberdade com isso.
00:12:48E o momento deles é o carnaval.
00:12:54O carnaval, eles vão para o Recife,
00:12:56vocês baldam lá,
00:12:57depois voltam,
00:12:58e depois naquela rotina dura de novo.
00:13:00É bem interessante,
00:13:02é um pouco angustiante,
00:13:03e o que me angustiou,
00:13:05é que é uma economia sem poupança.
00:13:08As pessoas vão acumulando esse dinheiro
00:13:10para o carnaval,
00:13:11depois eles voltam,
00:13:13trabalham o ano todo.
00:13:14Mas é, enfim,
00:13:17é um empreendedorismo meio primitivo,
00:13:22talvez,
00:13:22mas é interessante ver esse documentário.
00:13:26Esse documentário está disponível
00:13:27em algum lugar?
00:13:28Eu vi na Netflix,
00:13:30às vezes,
00:13:30faz muito tempo,
00:13:32e acho que está lá ainda,
00:13:34não sei.
00:13:35As Netflix, às vezes,
00:13:36eles tiram,
00:13:37vai reciclando,
00:13:38vai reciclando os seus...
00:13:40Agora, eu acho que o carnaval
00:13:42não é só essa questão de
00:13:44agora posso me libertar
00:13:46de uma rotina opressora,
00:13:47vou descansar.
00:13:48Porque isso as pessoas já fazem
00:13:49no final de semana,
00:13:51num barzinho,
00:13:51com música sertaneja.
00:13:53Não é só isso,
00:13:53mas é isso também,
00:13:55e em larga...
00:13:56Não, os objetivos não é descansar,
00:13:58porque você não descansa.
00:13:59Não, não é só isso.
00:14:01O Dula vai desenvolver a tese,
00:14:02quero ouvir.
00:14:02Eu acho que tem uma questão
00:14:03mais transcendental,
00:14:04que é essa coisa de brincar
00:14:06com os papéis sociais,
00:14:08de você, de repente,
00:14:10assumir um papel que não é seu,
00:14:13tirar um sarro,
00:14:14também vão tirar um sarro
00:14:15daquele seu papel.
00:14:16Então, por exemplo,
00:14:17alguém se veste de jornalista,
00:14:19pô, eu vou achar super engraçado,
00:14:21né?
00:14:21Como é que se veste de jornalista?
00:14:23Como é que é a fantasia de jornalista?
00:14:25Um blazerzinho, né?
00:14:26Bota um ponto no ouvido,
00:14:28ali que é você, né?
00:14:29É, o ponto no ouvido
00:14:30é um bom adereço carnavalístico.
00:14:33A sugestão de fantasia.
00:14:34Nunca pensei nisso,
00:14:35sair de jornalista.
00:14:35Bloquinho.
00:14:36Você vai de bloquinho
00:14:38e do bloquinho.
00:14:38É um bloquinho, né?
00:14:39O bloquinho e do bloquinho.
00:14:40Olha, já está criando aqui
00:14:42um bloquinho.
00:14:43Mas acho que é
00:14:44essa brincadeira
00:14:45de quebrar as hierarquias,
00:14:47os papéis sociais,
00:14:49que eu acho que também
00:14:51é uma questão também
00:14:52que hoje está mais difícil
00:14:54também fazer isso, né?
00:14:56As pessoas já não têm
00:14:57essa liberdade toda
00:14:58para fazer,
00:15:00assumir qualquer identidade,
00:15:02porque no passado
00:15:02você podia fazer isso, né?
00:15:03A questão da política,
00:15:07da polarização
00:15:08ou do identitarismo
00:15:09não permite...
00:15:10A blackface, por exemplo.
00:15:11Que você faça, né?
00:15:13A blackface ou sei lá...
00:15:15Tem patrulha até
00:15:16para a fantasia de carnaval.
00:15:17Exato, exato.
00:15:18Acho que isso atrapalhou um pouco.
00:15:20Esse ano,
00:15:20talvez tenha alguma coisa
00:15:22a ver com o algoritmo
00:15:23das minhas redes,
00:15:24esse ano eu não vi isso aparecer, né?
00:15:26Mas teve vários anos, né?
00:15:28Isso era muito chato,
00:15:28porque aparecia
00:15:31alguma catraca livre da vida
00:15:33e botava uma lista
00:15:34de interdições aí, né?
00:15:35Você não pode ir de...
00:15:36Homem não pode ir de mulher,
00:15:38porque mulher não é fantasia.
00:15:40Você não tem lugar de fala, né?
00:15:42Para assumir a outra roupa, né?
00:15:44Enfim, não pode...
00:15:45Enfermeira gostosa,
00:15:47não pode...
00:15:48Não pode...
00:15:49Várias coisas dessas, assim.
00:15:51Teve um ano que chegava
00:15:52a sugerir que as pessoas
00:15:53fossem vestidos...
00:15:54Sério, não estou brincando.
00:15:55Chegava a sugerir
00:15:56que as pessoas fossem vestidas
00:15:57de planta.
00:15:59Você não vai ofender ninguém
00:16:00se você se vestir de planta.
00:16:02Não sendo a banjoca,
00:16:03se você for ofender a Dilma.
00:16:05Você pode se vestir de planta.
00:16:07E eu acho que é uma
00:16:08incompreensão profunda, assim,
00:16:10dessa natureza do carnaval,
00:16:12que é realmente transgressiva.
00:16:13Realmente, como você disse,
00:16:14de você assumir outros papéis.
00:16:16Ah, não pode de árabe, né?
00:16:18Que é islamofóbico.
00:16:19Essas coisas todas, né?
00:16:21Sendo que, inclusive,
00:16:22não é todo muçulmano
00:16:24que usa aquela documentária de árabe.
00:16:27Mas, enfim...
00:16:29Mas aí tem essas bobagens todas.
00:16:31E é sempre uma coisa muito chata,
00:16:32porque vinha esse negócio,
00:16:34depois vinha um monte de gente
00:16:34contestando esse negócio, né?
00:16:37E assim, era muito chato.
00:16:39Acho que esse ano,
00:16:40pelo menos,
00:16:41talvez tenha passado,
00:16:44não tenha passado pelo meu radar,
00:16:45pelo meu algoritmo,
00:16:46mas esse ano, felizmente,
00:16:47eu não vi isso.
00:16:47O José Estrófilo fala
00:16:49que o identitarismo está no ápice, né?
00:16:51Vamos ver se,
00:16:51como você está falando,
00:16:52você realmente está dando
00:16:54uma caída agora.
00:16:54Você sabe que eu estava me lembrando
00:16:56de uma fantasia histórica
00:16:58que eu usei,
00:17:00que eu passei ali
00:17:01num salão de beleza,
00:17:03pedi um daqueles aventais
00:17:05de cliente, né?
00:17:06Aquele,
00:17:07não sei como é que se chama, né?
00:17:08Tipo um lençol que você coloca,
00:17:09e tal,
00:17:09mas que tinha uma marca famosa ali
00:17:11de salão de beleza
00:17:12da Zona Sul do Rio de Janeiro.
00:17:14Peguei uma revista,
00:17:15que era a revista Caras,
00:17:16que o pessoal ficava lendo no salão,
00:17:19pendurei um pente aqui,
00:17:20e eu saí no bloco
00:17:21vestido de cliente
00:17:22de salão de beleza.
00:17:24E as pessoas vinham tirar foto
00:17:25comigo porque elas olhavam
00:17:26e riam, assim,
00:17:27porque era aquele salão
00:17:28tradicional ali
00:17:30de madame, carioca,
00:17:32com a revistinha,
00:17:33com o pente, etc.
00:17:35Já saí com cada fantasia,
00:17:37mas hoje, em geral,
00:17:38não me fantasia mais.
00:17:39Eu vou para o samba,
00:17:41até porque não tenho tempo
00:17:42para antecipar,
00:17:44para me planejar
00:17:45para fantasia,
00:17:45porque muita gente
00:17:46fica nas semanas anteriores,
00:17:47nos dias anteriores,
00:17:48escolhendo a sua fantasia,
00:17:50arrumando os seus adereços.
00:17:51Eu, em geral,
00:17:52vou direto de gravação
00:17:53e tal.
00:17:54E só aproveito o samba mesmo.
00:17:56Doutor Teixeira,
00:17:57vamos falar de cinema,
00:17:58que a gente está
00:17:58nesse período de premiações,
00:18:00aí o Jerônimo entende bastante.
00:18:02Eu, quando voltei
00:18:03dessa última viagem
00:18:04que eu fiz
00:18:04para visitar
00:18:05campo de concentração nazista,
00:18:07na Polônia,
00:18:08e passei lá
00:18:09na casa de Anne Frank,
00:18:10na Holanda,
00:18:10eu vi no avião,
00:18:11na volta,
00:18:12o filme Conclave,
00:18:13que está aí
00:18:14em diversas disputas,
00:18:16achei brilhante
00:18:17o desempenho
00:18:18do Ralph Fiennes
00:18:19no papel
00:18:21de um cardeal
00:18:21responsável
00:18:22pelo processo eleitoral
00:18:24de substituição
00:18:27de um papa falecido.
00:18:29E eu acho
00:18:30a dinâmica
00:18:30do filme
00:18:31ótima,
00:18:32envolvente,
00:18:34mostra um pouco
00:18:35como funciona.
00:18:37Agora,
00:18:37eu percebo ali
00:18:38algumas questões
00:18:39ideológicas,
00:18:40e aí a indústria
00:18:41do cinema,
00:18:42em geral,
00:18:43tende um pouco mais
00:18:43para a esquerda,
00:18:44mas assim,
00:18:45eu já estou acostumado
00:18:46a fazer esse tipo
00:18:47de filtro
00:18:48para me divertir
00:18:49vendo o filme,
00:18:49porque tem vários
00:18:50que têm alguns
00:18:50elementos políticos
00:18:51ideológicos,
00:18:52eu acho que tem ali
00:18:53uma postura
00:18:54mais progressista,
00:18:55dos cardeais
00:18:56à esquerda,
00:18:57eles estão tentando
00:18:58evitar justamente
00:18:59que o cara
00:19:00à direita
00:19:00assuma,
00:19:01e o cara à direita
00:19:02é retratado ali
00:19:03como malvadão.
00:19:04O cara,
00:19:05do jeito que ele
00:19:05quer reverter
00:19:06o concílio
00:19:07do Vaticano,
00:19:08do segundo.
00:19:09Pois é,
00:19:10é meio golpista.
00:19:11Ele quer voltar
00:19:13a mista e a latinha,
00:19:14essas coisas todas.
00:19:15É,
00:19:15ele quer,
00:19:16é tudo tratado
00:19:17como um retrocesso.
00:19:19É,
00:19:19é,
00:19:19ao contrário do...
00:19:20Nem sei se hoje
00:19:21existem cardeais,
00:19:22chega a esse ponto,
00:19:23assim,
00:19:24no seu conservadorismo,
00:19:24não sei,
00:19:25você deve entender mais,
00:19:26você deve ser mais
00:19:26vaticanista,
00:19:27mas eu não sei,
00:19:29mas enfim,
00:19:30ele realmente
00:19:31era um cara,
00:19:32né,
00:19:32mais tradicionalista.
00:19:35Tradicionalista,
00:19:35mas ele é um pouco
00:19:36caricaturizado,
00:19:37né?
00:19:37É,
00:19:37ele é meio
00:19:39estereotipado
00:19:40como alguém
00:19:41mais reacionário
00:19:42e tal.
00:19:43É,
00:19:43só que assim,
00:19:44vamos,
00:19:45a gente vai precisar
00:19:46chamar o primeiro
00:19:47intervalo comercial,
00:19:47mas a gente vai voltar
00:19:48comentando alguns filmes
00:19:49aí,
00:19:50que estão indicados
00:19:52em todas essas premiações
00:19:53que vocês vêm
00:19:54acompanhando
00:19:55e a gente volta já.
00:19:57São dois minutinhos
00:19:58na TV BMC,
00:20:00pessoal que está assistindo
00:20:01pelo YouTube,
00:20:02continue deixando
00:20:03o seu comentário.
00:20:06Lembrando a todos vocês
00:20:07que acompanham pelo canal
00:20:08de O Antagonista
00:20:09no YouTube,
00:20:10de darem o seu like
00:20:11em cada transmissão,
00:20:12inclusive essa,
00:20:13para dar mais visibilidade
00:20:14aqui na plataforma.
00:20:16Continuem aí
00:20:17comentando também,
00:20:19que a gente adora
00:20:20ver o comentário
00:20:21de vocês.
00:20:22E estamos de volta
00:20:22com O Papo Antagonista
00:20:23na TV BMC,
00:20:25hoje com o convidado
00:20:26Jerônimo Teixeira,
00:20:27a gente já falou
00:20:27um pouquinho de carnaval
00:20:28em meio a essa folia,
00:20:30hoje é segunda de carnaval,
00:20:32e agora emendamos
00:20:32o assunto de cinema
00:20:34em meio a tantas
00:20:35premiações aí,
00:20:36das quais
00:20:37o Ainda Estou Aqui,
00:20:39o filme brasileiro,
00:20:40tem feito parte.
00:20:41A gente estava falando
00:20:42do conclave,
00:20:43que tem alguns elementos
00:20:44ali políticos e ideológicos,
00:20:46mas tem uma dinâmica
00:20:47interessante e a gente
00:20:48percebe mais ou menos
00:20:49como é que funciona
00:20:50uma substituição do Papa,
00:20:52um assunto que está sendo
00:20:53muito falado nesse momento
00:20:54por causa da saúde
00:20:56do Papa Francisco.
00:20:57o que você achou
00:20:58desse filme,
00:20:58Jerônimo?
00:20:59Eu gostei,
00:21:00achei o filme
00:21:00bem interessante,
00:21:02achei uma trama
00:21:04muito bem urdida,
00:21:06tem esses elementos
00:21:08que você falou,
00:21:08de outro lado,
00:21:09ele se arrisca
00:21:11com as coisas,
00:21:13vamos lá pelas tantas,
00:21:14tem um cardeal negro
00:21:16da África,
00:21:17não lembro se ele diz
00:21:19de que país é.
00:21:20Zimbábio,
00:21:20Zimbábio,
00:21:21é Zimbábio,
00:21:22exato.
00:21:23Eu acho,
00:21:24não tenho certeza.
00:21:24eu acho que é,
00:21:25eu acho que é.
00:21:26E aí,
00:21:29enfim,
00:21:30o pessoal,
00:21:31o núcleo progressista,
00:21:33tem o Ralph Fiennes,
00:21:35é um deles,
00:21:36o núcleo progressista
00:21:37da igreja,
00:21:39dos cardeais,
00:21:40quando o cara
00:21:41começa a ganhar
00:21:42a possibilidade
00:21:43de ser eleito Papa,
00:21:45eles começam a dizer,
00:21:46porque as pessoas
00:21:47só vão falar
00:21:47de que ele vai ser
00:21:49o primeiro Papa,
00:21:49vai ser o primeiro Papa negro
00:21:51da igreja católica,
00:21:52eles não veem que é o cara
00:21:53que é mais,
00:21:54mais racionário
00:21:55que os mais conservadores
00:21:57aqui da igreja,
00:21:58o cara que é a favor
00:21:59de leis
00:22:00para prender homossexuais.
00:22:03E isso eu achei
00:22:03uma certa usadia
00:22:05nesses nossos dias.
00:22:07E mesmo no campo progressista,
00:22:09isso eu falo em favor
00:22:10do filme,
00:22:11se descobre ali
00:22:12candidato
00:22:14que tem algum
00:22:16problema no seu passado,
00:22:18porque no meio
00:22:19do processo eleitoral
00:22:20eles vão descobrindo
00:22:21alguns esqueletos
00:22:23no armário
00:22:23de candidatos,
00:22:25isso faz
00:22:25algum contraponto.
00:22:27Duda Teixeira,
00:22:28você assistiu a esse filme,
00:22:29quer indicar outro?
00:22:30Assistindo,
00:22:30eu adorei com o Clávio,
00:22:32indico com o Clávio,
00:22:34o que eu gostei
00:22:35é que ele
00:22:36tem algum momento
00:22:37realmente
00:22:38no enredo,
00:22:39no roteiro,
00:22:40que você
00:22:40não sabe
00:22:41para onde ele vai.
00:22:43O filme
00:22:43vai dando
00:22:44alguns elementos
00:22:46pequenininhos,
00:22:47surge ali
00:22:47um personagem
00:22:48meio misterioso,
00:22:50ele vai ganhando
00:22:51mais importância,
00:22:53de repente
00:22:53você fala
00:22:54o que vai acontecer
00:22:55agora, né?
00:22:57A gente já estava
00:22:58conversando sobre
00:22:59esse filme
00:23:00aqui na redação
00:23:01e foi até
00:23:03o Rodolfo Borges
00:23:04que falou assim,
00:23:04eu não gosto
00:23:05de filme
00:23:05que de repente
00:23:06você não sabe
00:23:06para onde vai, né?
00:23:09E eu gosto.
00:23:10Ele quer ver
00:23:10a sessão da tarde.
00:23:12Esses filmes
00:23:13que tem um enredo
00:23:14muito presinho,
00:23:15que você já sabe
00:23:16que o cara
00:23:16está ali sofrendo,
00:23:17tendo resistência,
00:23:18mas uma hora
00:23:19ele vai conseguir
00:23:19se superar, né?
00:23:21Poxa, isso aí
00:23:21para mim é muito chato
00:23:23e eu lembro
00:23:24muito do Parasita,
00:23:26aquele filme
00:23:26da Coreia do Sul,
00:23:28que tem essa coisa,
00:23:30essa mudança
00:23:30no roteiro,
00:23:31que assim,
00:23:32a hora que você descobre
00:23:33o que está acontecendo
00:23:34ali no porão da casa,
00:23:36você fala assim,
00:23:37meu, agora o roteirista
00:23:38faz o que quiser comigo, né?
00:23:40Eu estou perdido,
00:23:41estou entregue completamente, né?
00:23:43E eu acho que
00:23:43tem esse ponto também
00:23:45no conclave,
00:23:46que se fosse,
00:23:46puxa, agora pode ser
00:23:47qualquer coisa, né?
00:23:48Sim, eu reforço até
00:23:50que eu gostei, né?
00:23:51Estou falando aqui
00:23:51de um elemento
00:23:52que é para o nosso
00:23:54público sempre ficar ligado,
00:23:55que às vezes tem
00:23:56umas mensagens subliminares,
00:23:57políticas, ideológicas,
00:23:59mas repito,
00:23:59a dinâmica do filme
00:24:00torna aquela obra
00:24:03muito envolvente
00:24:04e eu percebi
00:24:05que o Duda Teixeira
00:24:06gosta de ser
00:24:06surpreendido no cinema.
00:24:08É isso que ele espera
00:24:09de um filme.
00:24:10Aconselho a ver
00:24:11Nove Rainhas,
00:24:12filme argentino,
00:24:13de dois trapaceiros,
00:24:14mas que tem
00:24:15uma reviravolta
00:24:16extraordinária
00:24:17no seu roteiro.
00:24:19O que mais que você viu
00:24:20que você destaca
00:24:21dessa leva, Jerônimo?
00:24:22Eu li pouco dessa leva, viu?
00:24:24Ainda estou aqui
00:24:25e eu já escrevi
00:24:25a respeito, né?
00:24:26Do filme que você gostou?
00:24:31Gostei, gostei bastante.
00:24:33Agora, você acha que
00:24:35ele é um filme, assim,
00:24:38tão bom,
00:24:40tão marcante,
00:24:41que mereça prêmios
00:24:43ou ele é um filme bom,
00:24:45ele é um filme correto?
00:24:46Você acha que ele está
00:24:47acima da média?
00:24:47Sim, sim,
00:24:48está acima da média.
00:24:49Está acima da média
00:24:51do que se faz no Brasil
00:24:52e está acima da média
00:24:53do que se faz em Hollywood
00:24:56também, eu acho.
00:24:57É, também tem muito cinema,
00:24:59muito michuruca, né?
00:25:01Muito apelativo,
00:25:02muito óbvio.
00:25:02Eu não sei se nós estamos
00:25:03numa boa fase para o cinema,
00:25:05eu não acompanho tanto assim
00:25:06porque o cinema é caro.
00:25:08E eu sou um anacoleta urbano,
00:25:11eu estou sempre,
00:25:12fico enfurnado em casa
00:25:13vendo coisas no streaming,
00:25:15pelas coisas chegarem
00:25:16em streaming antes, né?
00:25:17Mas, enfim.
00:25:19Mas, do que eu acompanho
00:25:21não me parece, né?
00:25:21Desculpa,
00:25:22o cinema perdeu muito
00:25:23para o streaming,
00:25:24exatamente, né?
00:25:25Tipo assim,
00:25:25perdeu muita capacidade
00:25:26de investimento,
00:25:27de criatividade,
00:25:28porque muita coisa acontece
00:25:30no streaming
00:25:30e não na salão, né?
00:25:32Mas, desculpa
00:25:32a gente interromper.
00:25:33Não, é isso que eu tinha que dizer.
00:25:35Mas, eu ainda estou aqui, né?
00:25:37A gente comentou,
00:25:37inclusive com o Josias Teófilo,
00:25:39ele tem essa abordagem
00:25:41que ela não é primordialmente,
00:25:44pelo menos,
00:25:45política e ideológica.
00:25:47Sim.
00:25:47Do ponto de vista da trama,
00:25:49do ponto de vista do roteiro,
00:25:51é óbvio que,
00:25:52fora do filme,
00:25:53se faz um uso político,
00:25:54ideológico,
00:25:55nesse momento,
00:25:56pós tentativa de golpe,
00:25:58bolsonarista, etc.
00:25:59Mas,
00:26:01o prisma sobre o qual
00:26:03se vê aquela história
00:26:04é de uma família
00:26:06que teve a sua rotina
00:26:07interrompida
00:26:08pelo fato
00:26:10de que o regime autoritário
00:26:11foi lá
00:26:11e tirou o patriarca.
00:26:13Sim.
00:26:13E aí,
00:26:14aquela mãe fica
00:26:16enfrentando um regime
00:26:20numa absoluta
00:26:22desproporcionalidade,
00:26:24como é que se fala?
00:26:25Disparidade de condições,
00:26:27um indivíduo isolado
00:26:28contra o Estado brasileiro
00:26:30e, ao mesmo tempo,
00:26:32tendo que continuar cuidando
00:26:33dos filhos,
00:26:34sem saber o que dizer
00:26:34para eles,
00:26:35porque você nem sequer
00:26:37tem a notícia
00:26:38de que o pai morreu
00:26:39e ele não volta.
00:26:40Então, o paradeiro
00:26:41é desconhecido
00:26:42e ela tem que lidar
00:26:44com as duas coisas,
00:26:45com o enfrentamento
00:26:46de um Estado
00:26:46muito maior,
00:26:47muito mais poderoso
00:26:48e com o cuidado
00:26:50com crianças
00:26:51inocentes
00:26:52que dependem da mãe.
00:26:53Então, assim,
00:26:54essa visão
00:26:55de uma família partida
00:26:57ela torna o filme
00:26:59mais envolvente.
00:27:01Tem o complicador
00:27:01ainda de que,
00:27:02enfim,
00:27:03era uma época
00:27:03que as mulheres
00:27:03não tinham essa autonomia
00:27:05que tem hoje.
00:27:06Pelo menos
00:27:07não a maioria das mulheres.
00:27:10tem uma cena do filme
00:27:13que ela vai ao banco
00:27:14tentar deixar dinheiro
00:27:15e a conta não é conjunta.
00:27:17Ela não sabe lidar com isso.
00:27:20Como não existe
00:27:21um atestado de óbito,
00:27:23ela não pode começar
00:27:24um inventário
00:27:24para ter acesso
00:27:25ao que o marido
00:27:26deixou no banco,
00:27:28não tem o que fazer.
00:27:29O dinheiro fica lá.
00:27:30Ela tem dinheiro
00:27:31na conta,
00:27:32não tem como mexer.
00:27:34Até onde eu lembro,
00:27:35a minha mãe,
00:27:36nessa época.
00:27:36eu sou,
00:27:38enfim,
00:27:39eu tenho 56 anos.
00:27:41Na infância,
00:27:42eu passei ali
00:27:42pelos anos da ditadura.
00:27:44Para mim,
00:27:44meu pai não foi
00:27:46sequestrado
00:27:46pelo DOPS,
00:27:47ou pelo DOI-COD.
00:27:49Mas, enfim,
00:27:51e eu morava
00:27:52no Rio Grande do Sul.
00:27:54Um período em Porto Alegre,
00:27:56um período em Monte Negro,
00:27:57que foi a minha cidade natal,
00:27:58depois outras cidades
00:27:59no interior.
00:28:00E, embora seja
00:28:01muito diferente
00:28:02do Rio de Janeiro,
00:28:04a reconstrução de época
00:28:05me pegou, assim, né?
00:28:07Me deu uma coisa,
00:28:07me deu uma familiaridade,
00:28:09assim,
00:28:09teve um sabor,
00:28:11teve uma...
00:28:12Eu sou carioca,
00:28:14eu entendo perfeitamente
00:28:14o que você está falando,
00:28:15porque a gente fica
00:28:16muito conectado
00:28:19com aquelas cenas,
00:28:21porque a gente vive aqui.
00:28:22Sim.
00:28:23Então,
00:28:23está muito bem retratada
00:28:24a vida de uma família
00:28:26de zona sul
00:28:27do Rio de Janeiro,
00:28:28que morava perto da praia,
00:28:30que tinha aquela vida
00:28:32com muito lazer,
00:28:34com diversão,
00:28:35com a natureza em torno,
00:28:37com aquela convivência
00:28:38amigável,
00:28:39os vizinhos,
00:28:40uma alegria...
00:28:40Uma época em que as crianças
00:28:41jogavam bola na rua, né?
00:28:42Exatamente.
00:28:43Exatamente.
00:28:44E é muito...
00:28:46É muito agressivo, né?
00:28:48A intromissão do Estado
00:28:49em uma vida tão...
00:28:52tão bucólica até, né?
00:28:54Mesmo que, enfim,
00:28:55o Rio seja uma capital,
00:28:57uma metrópole...
00:28:58Enfim, é meio inevitável, né?
00:29:00No atual contexto
00:29:01de guerra cultural,
00:29:02é meio inevitável que...
00:29:05O filme seja lido
00:29:07do prisma, né?
00:29:08De que, veja,
00:29:09um filme de esquerda.
00:29:10É, um filme de esquerda,
00:29:11mas isso não quer dizer...
00:29:12Isso não é nem um mérito,
00:29:13nem um demérito
00:29:14para uma obra de arte.
00:29:17Enfim,
00:29:18sobretudo, né?
00:29:20As pessoas estão colocando em dúvida,
00:29:21não, porque, né?
00:29:23Levantando teorias
00:29:24de que o Rubens Paiva
00:29:25teria trabalhado com a marca,
00:29:28não sei o que,
00:29:28blá, blá, blá.
00:29:29Tem várias coisas aí, né?
00:29:31Fermentando, assim,
00:29:32uma certa...
00:29:34Existe uma porção das redes,
00:29:35inclusive você falou aí
00:29:36do nosso amigo
00:29:37Josias Teófilo,
00:29:38que está defendendo...
00:29:39Às vezes ele tem dificuldade
00:29:40de defender o filme
00:29:42lá no Twitter dele,
00:29:45porque as pessoas
00:29:45partem para cima.
00:29:47Agora, tem que dizer o seguinte,
00:29:48assim,
00:29:48esse não é Bacurau.
00:29:50Sim.
00:29:50Ele não é um filme,
00:29:51enfim, ok,
00:29:52ele está surgindo aí
00:29:53num contexto
00:29:54que a gente está...
00:29:56Em breve teremos,
00:29:56o que tudo indica,
00:29:57o julgamento do Bolsonaro
00:29:59e dos seus colaboradores
00:30:02no suposto drama golpista.
00:30:06Mas eu não creio
00:30:08que é um filme
00:30:08que tenha sido feito
00:30:10especificamente para isso
00:30:11ou que seria diferente
00:30:13se fosse feito
00:30:14em outra época.
00:30:15Ele está contando
00:30:16aquela história ali,
00:30:17ele conta muito bem
00:30:18aquela história ali.
00:30:20Eu, assim,
00:30:21eu não vejo...
00:30:22Não sei se estou discordando,
00:30:24mas, assim,
00:30:25eu não vejo como um filme
00:30:27de esquerda,
00:30:29porque o filme justamente
00:30:30tem essa abordagem
00:30:32da família,
00:30:34da situação da mãe,
00:30:35etc.
00:30:37Agora,
00:30:37se a gente
00:30:38enxerga aqui
00:30:40do mundo,
00:30:40de fora do filme,
00:30:42a situação do momento,
00:30:43ele ter sido produzido
00:30:44nessa época
00:30:45em que essa discussão
00:30:46está muito à tona,
00:30:48o fato de que os atores,
00:30:50em geral,
00:30:50dão posicionamentos
00:30:51ou pertencem a grupos
00:30:54que são mais do campo
00:30:56da esquerda e tal,
00:30:57eu acho que tudo isso
00:30:58acaba contaminando
00:30:59a visão sobre o filme em si,
00:31:01que, eventualmente,
00:31:02um estrangeiro
00:31:03pode ter sem esse tipo
00:31:05de associação
00:31:05que a gente faz
00:31:06em razão das pessoas
00:31:07envolvidas.
00:31:09Então, assim,
00:31:10na minha visão,
00:31:11é um filme
00:31:11que mostra
00:31:13a dificuldade
00:31:15de uma família
00:31:15de lidar com o regime
00:31:16autoritário.
00:31:18Porque,
00:31:19dentro do próprio filme,
00:31:20não há tanto a discussão
00:31:21ideológica.
00:31:23Você tem ali pessoas
00:31:24que, obviamente,
00:31:26estão falando
00:31:28sobre coisas
00:31:28que, se o regime ouvir,
00:31:30não vai pegar bem,
00:31:31quando você tem
00:31:31alguma reunião ali.
00:31:33Mas são pessoas
00:31:34que estão discutindo
00:31:37de uma forma,
00:31:38talvez,
00:31:38clandestina,
00:31:39aos olhos do Estado,
00:31:40sobre um regime autoritário
00:31:41que elas repudiam.
00:31:43Eu acho que ele,
00:31:44talvez,
00:31:44seria de esquerda
00:31:45pela escolha do tema.
00:31:47Então,
00:31:47falar da família
00:31:49que foi vítima
00:31:50da ditadura,
00:31:51talvez,
00:31:52se fosse um filme
00:31:53de direita,
00:31:53teria escolhido
00:31:54uma família
00:31:54que foi vítima
00:31:55dos grupos
00:31:56que estavam fazendo,
00:31:58assaltando o banco,
00:31:59os grupos
00:32:00da extrema
00:32:02esquerda,
00:32:03os grupos terroristas
00:32:04que estavam aqui.
00:32:05Pois é,
00:32:06eu vou ter que chamar
00:32:06o intervalo,
00:32:06Duda vai continuar,
00:32:07mas acho que isso é
00:32:08de fora para dentro.
00:32:09Vou chamar
00:32:10o intervalo na TV BMC
00:32:11e continue comentando
00:32:12no YouTube.
00:32:15Muito bem,
00:32:16continuem deixando
00:32:16o like
00:32:17no canal de YouTube
00:32:18de O Antagonista
00:32:19e agora a gente volta
00:32:20para a TV BMC
00:32:22aqui com o convidado
00:32:23Jerônimo Teixeira
00:32:24nessa edição especial
00:32:25do Papo Antagonista
00:32:26de segunda-feira
00:32:27de carnaval.
00:32:29Duda Teixeira
00:32:29estava falando
00:32:30que o filme,
00:32:32ainda estou aqui,
00:32:33seria um filme
00:32:34de esquerda
00:32:34em razão da escolha
00:32:35do tema.
00:32:36Eu estava dizendo
00:32:36que isso é
00:32:37um pouco de fora
00:32:38para dentro.
00:32:38Então, assim,
00:32:39eu concordo
00:32:40que é um filme
00:32:41da esquerda,
00:32:42mas não que o filme
00:32:43em si,
00:32:44a história,
00:32:46a trama,
00:32:47ela tenha
00:32:47esse componente
00:32:49tão forte.
00:32:49Ele é sincero
00:32:51em descrever
00:32:52aquilo que aconteceu.
00:32:54Ele não tenta
00:32:55aumentar alguma coisa,
00:32:57nem diminuir.
00:32:59Os fatos
00:32:59são aqueles,
00:33:00aquela história
00:33:01aconteceu.
00:33:03E, nisso,
00:33:03o filme está cumprindo
00:33:05uma função
00:33:05didática,
00:33:08informativa,
00:33:08que é muito interessante.
00:33:10Exatamente.
00:33:10Conheço muita gente
00:33:12que tem filhos
00:33:14que estão até
00:33:15na faculdade
00:33:16ou no colegial
00:33:17e que falam
00:33:18eu vou levar
00:33:19meus filhos
00:33:19para saber
00:33:21o que se passou
00:33:22nesse país.
00:33:23E o retorno
00:33:24desses adolescentes,
00:33:26desses jovens,
00:33:27tem sido muito positivo.
00:33:29Realmente,
00:33:29eu não sabia
00:33:30que a coisa
00:33:31era nesse nível,
00:33:33que você podia,
00:33:33de repente,
00:33:34acontecer,
00:33:35acordar um dia
00:33:35e alguém da sua família
00:33:36sumiu.
00:33:38Isso aconteceu,
00:33:39é inegável no Brasil,
00:33:40e aí,
00:33:42essa nova geração
00:33:43está aprendendo
00:33:44o que aconteceu
00:33:45por aqui.
00:33:45É por meio
00:33:46da dramatização
00:33:47que dá
00:33:48a dimensão,
00:33:50justamente,
00:33:51do sofrimento humano,
00:33:53dos sentimentos
00:33:54que vêm à tona
00:33:55diante
00:33:55de um momento,
00:33:57de uma atitude estatal
00:33:58como essa,
00:33:59de uma ação.
00:34:00O que é diferente
00:34:01de você ler
00:34:02um livro-texto
00:34:02na escola
00:34:03com datas,
00:34:04nomes,
00:34:05números, etc.
00:34:06Então,
00:34:07o cinema,
00:34:07ele consegue
00:34:08colocar a experiência
00:34:09humana ali
00:34:10na frente
00:34:11do espectador.
00:34:12Então,
00:34:12nesse sentido,
00:34:14é o que eu estou dizendo,
00:34:14é uma descrição
00:34:15daquilo que aconteceu
00:34:17de fato.
00:34:18É uma história
00:34:18baseada em fatos reais,
00:34:20a história da família
00:34:21Rubens Paiva,
00:34:23assim como
00:34:24o filme
00:34:25O Pássaro Branco,
00:34:26que outro dia
00:34:26a gente viu,
00:34:27Duda Teixeira,
00:34:29dá uma dimensão
00:34:29do que foi
00:34:30o período nazista
00:34:32a partir
00:34:34de uma escola
00:34:35onde as crianças
00:34:37são distinguidas
00:34:39ali pelo regime.
00:34:40Você tem as crianças
00:34:41judias,
00:34:42você tem as outras crianças,
00:34:44entre as outras crianças
00:34:44surgem os caguetes,
00:34:46surgem aquelas
00:34:47que querem proteger.
00:34:49Então,
00:34:49para as pessoas jovens
00:34:51também,
00:34:51a produção colocou
00:34:52aí na tela,
00:34:53é uma dica boa
00:34:54para entender
00:34:54o que aconteceu.
00:34:55E aí eu tenho que trazer
00:34:56o outro lado,
00:34:57cadê o filme
00:34:58da direita?
00:34:59Mesmo que não seja
00:35:00um filme em si
00:35:01de direito.
00:35:03Então,
00:35:03cadê um filme
00:35:05que talvez
00:35:06o Brasil precise
00:35:08e eventualmente
00:35:09nós poderemos
00:35:10ser roteiristas
00:35:11desse filme
00:35:12sobre o que está
00:35:13acontecendo
00:35:13na nossa época
00:35:14agora,
00:35:15sobre o que aconteceu
00:35:16durante os regimes
00:35:17do PT,
00:35:18os anteriores,
00:35:19esse governo Lula,
00:35:21quer dizer,
00:35:21surgiu durante a época
00:35:22da Lava Jato
00:35:23uma série de filmes
00:35:26ali mais policiais,
00:35:27com investigadores,
00:35:30etc.
00:35:30Mas eu acho
00:35:31que ainda
00:35:32não está
00:35:32bem descrita
00:35:33cinematograficamente
00:35:34essa época,
00:35:36isso que eu chamo
00:35:36de República
00:35:37do Escambo,
00:35:38essas intervenções
00:35:39do Judiciário
00:35:41no Poder Legislativo,
00:35:43essas reuniões secretas
00:35:44entre vários poderes,
00:35:46eu acho que isso
00:35:47ainda pode ir
00:35:48para a telona
00:35:48de uma maneira melhor.
00:35:50Mas aí a gente
00:35:50entra nos problemas
00:35:51do mundo
00:35:52fora do filme,
00:35:53Jerônimo,
00:35:53que é que
00:35:54a indústria cinematográfica
00:35:57é mais alinhada
00:35:58à esquerda.
00:35:59Não é que não haja exceções,
00:36:00pode haver,
00:36:00e tomara que haja,
00:36:02mas é difícil você pensar,
00:36:04aí eu volto
00:36:05para a tese do Duda,
00:36:06que algum cineasta
00:36:07vá fazer um filme assim,
00:36:09que coloque ali
00:36:11o dedo na ferida
00:36:12daquilo que
00:36:12o grupo político
00:36:14da esquerda,
00:36:15do Lula,
00:36:16o Gilmar Mendes
00:36:16no STF,
00:36:17do que essa turma
00:36:18andou fazendo
00:36:19nos últimos anos.
00:36:21Sim,
00:36:21é,
00:36:22teria,
00:36:24teria roteiros
00:36:25mais complicados,
00:36:27acho que a gente também
00:36:28não tem muita tradição
00:36:29de fazer,
00:36:29né?
00:36:30É,
00:36:30eu acho que,
00:36:30por exemplo,
00:36:32a HBO
00:36:33conseguiu fazer
00:36:35uma minissérie,
00:36:39não,
00:36:40desculpa,
00:36:40acho que era um filme,
00:36:42né?
00:36:42Sobre a crise
00:36:44das hipotecas
00:36:46lá de 2008,
00:36:47né?
00:36:49E é um assunto
00:36:51complicadíssimo
00:36:51de você colocar
00:36:52na tela,
00:36:53como é que,
00:36:53como é que,
00:36:54de repente,
00:36:55né,
00:36:55o Leman and Brothers
00:36:56lá,
00:36:57truiu,
00:36:57assim,
00:36:58né?
00:37:01Acho que o nome,
00:37:02se não me engano,
00:37:02o nome do filme
00:37:03é Too Big to Fail,
00:37:04né?
00:37:05Que era o que você dizia,
00:37:07né?
00:37:08Que um banco daqueles
00:37:09não poderia jamais
00:37:10o quebrar,
00:37:10né?
00:37:11E eles conseguiram,
00:37:12acharam,
00:37:13acharam alguns,
00:37:13algumas,
00:37:14é tudo,
00:37:15é tudo
00:37:15narrado do ponto de vista
00:37:17do secretário do Tesouro,
00:37:19que da época,
00:37:24acho que era o,
00:37:25como é que eu nomeia?
00:37:27Paulsen,
00:37:28eu acho,
00:37:28né?
00:37:28Só tem que verificar isso,
00:37:30mas, enfim,
00:37:31e,
00:37:31não sei,
00:37:32acho que a gente tem
00:37:33um pouco mais de dificuldade,
00:37:34talvez,
00:37:35de conseguir roteiristas,
00:37:37né?
00:37:37Que consigam transformar
00:37:38coisas complexas.
00:37:40Exatamente.
00:37:40Né?
00:37:40Dessa complexidade
00:37:42em roteiros, né?
00:37:43É,
00:37:43porque se você pensar,
00:37:45quando um regime autoritário
00:37:48se consolida
00:37:49de uma maneira hostil,
00:37:51agressiva,
00:37:52como aconteceu no Brasil
00:37:53naquela época,
00:37:54e como acontece atualmente
00:37:56na Venezuela,
00:37:56e já há bastante tempo,
00:37:59a lógica fica um pouco
00:38:00mais binária,
00:38:02é mais simples.
00:38:04São muitas nuances hoje
00:38:05para você abordar
00:38:07a relação do Congresso,
00:38:08do Supremo Tribunal Federal,
00:38:10do Poder Executivo,
00:38:11da população dividida
00:38:13entre diversos grupos,
00:38:14etc.
00:38:15A luz da história,
00:38:18o período do regime militar,
00:38:19ficou aquela divisão
00:38:20das pessoas autoritárias
00:38:21que estavam no poder
00:38:22e das pessoas
00:38:23que estavam lutando
00:38:24contra aquelas.
00:38:25Você tem ali
00:38:26uma subdivisão
00:38:27que muitas vezes
00:38:28nem sequer é mencionada,
00:38:30né?
00:38:30Porque muitos
00:38:32da luta armada
00:38:33passaram para a política
00:38:34e depois posaram
00:38:35de uma maneira
00:38:36que falseava
00:38:39a realidade passada
00:38:40de democrata
00:38:40quando não era,
00:38:42quando queria
00:38:42uma ditadura
00:38:43do proletariado.
00:38:43mas você tem
00:38:45essa simplicidade.
00:38:47Não é que
00:38:48isso tira o mérito
00:38:50do ainda estou aqui,
00:38:51mas é que é
00:38:52um pouco mais fácil
00:38:53de você escrever
00:38:55sobre uma realidade
00:38:56em que
00:38:57o mal,
00:38:59pelo menos,
00:38:59está muito claro,
00:39:00ainda que o bem
00:39:01seja discutido,
00:39:02do que uma realidade
00:39:03onde você tem
00:39:04eventualmente
00:39:05bem e mal
00:39:05de todos os lados,
00:39:07em que a gente
00:39:07está aqui apontando
00:39:08a sujeira
00:39:08de todos os lados,
00:39:09mesmo sendo atacado
00:39:10por muitos deles.
00:39:11Aproveitando a reflexão
00:39:13cultural e política.
00:39:15A nossa indústria
00:39:16também de cinema
00:39:16depende muito
00:39:17de dinheiro estatal,
00:39:19também tem isso.
00:39:21É difícil a gente
00:39:22ter roteiristas
00:39:24que tenham realmente,
00:39:26sejam totalmente
00:39:27independentes
00:39:28e possam trazer
00:39:29uma visão
00:39:31diferente
00:39:31dessa que a gente
00:39:33tem hoje,
00:39:35que é
00:39:36de esconder
00:39:37o que aconteceu
00:39:38no passado.
00:39:39é como se a Lava Jato
00:39:40não tivesse existido,
00:39:41só tivesse sido
00:39:43uma coisa
00:39:44que só
00:39:45foi contra
00:39:46as cegas do direito,
00:39:47foi um abuso.
00:39:49Então,
00:39:49hoje,
00:39:50majoritariamente,
00:39:51o governo federal,
00:39:54as verbas,
00:39:55tem essa mesma
00:39:56narrativa,
00:39:57a gente não tem
00:39:58muito uma narrativa
00:39:59alternativa.
00:40:01E mesmo
00:40:01se pensar
00:40:03no identitarismo,
00:40:04essa divisão
00:40:05que a gente,
00:40:07essa gente
00:40:07que acredita
00:40:08que as pessoas
00:40:08valem
00:40:09depois que elas
00:40:10entram dentro
00:40:11de um grupo
00:40:11qualquer,
00:40:13seja porque é índio,
00:40:14seja porque é negro,
00:40:15seja porque é mulher,
00:40:17como que testar
00:40:18isso,
00:40:19você ter
00:40:19a gente
00:40:21fazendo um filme,
00:40:23por exemplo,
00:40:23tirando um sarro disso,
00:40:25como foi,
00:40:25por exemplo,
00:40:26ficção americana,
00:40:28os Estados Unidos
00:40:29tem uma indústria
00:40:34cinematográfica
00:40:35super ampla,
00:40:36super rica,
00:40:37que você tem
00:40:38essa possibilidade
00:40:38de, de repente,
00:40:40ter roteiristas
00:40:40que não seguem
00:40:42o rebanho,
00:40:43mas podem questionar
00:40:45tudo o que está acontecendo.
00:40:47Mas há um domínio
00:40:48da esquerda
00:40:48que é apontado,
00:40:49inclusive,
00:40:49pela direita americana,
00:40:51quer dizer,
00:40:52um domínio da esquerda
00:40:53em Hollywood.
00:40:53É, mas a gente
00:40:54não tem
00:40:55ficção brasileira
00:40:56nos mesmos moldes
00:40:57do ficção americana.
00:40:58Em breve,
00:40:59rapidamente,
00:41:00um parênteses
00:41:01sobre o futuro.
00:41:02Em breve,
00:41:03o antagonista
00:41:03produções.
00:41:04Olha aí.
00:41:05O que o Duda
00:41:06está falando
00:41:06sobre o mercado
00:41:07cinematográfico
00:41:08é igualzinho
00:41:08no mercado
00:41:09da comunicação.
00:41:10Só que a gente
00:41:11conseguiu aqui
00:41:12fazer com que
00:41:13o antagonista
00:41:14funcione.
00:41:15A gente luta
00:41:16para manter isso
00:41:17e aumentar isso,
00:41:19não manter
00:41:20como o Michel Temer
00:41:21naquela gravação.
00:41:22Quando a gente fala
00:41:22manter isso,
00:41:23a gente lembra
00:41:23da gravação
00:41:23do Joel Embatid.
00:41:24Mas de ter
00:41:27essa voz
00:41:28independente,
00:41:29vigilante.
00:41:30E a gente
00:41:30fica carente,
00:41:32né, Duda?
00:41:33A gente outro dia
00:41:33esquecitou,
00:41:34falta de grupo
00:41:35de humor
00:41:35para tirar,
00:41:36porque você falou
00:41:36tirar sarro,
00:41:38o cinema eventualmente
00:41:39pode tirar sarro,
00:41:40mas assim,
00:41:40falta grupo de humor
00:41:41mais independente
00:41:42para tirar sarro
00:41:43de uma série
00:41:44de situações
00:41:45das quais a gente
00:41:46tira sarro
00:41:46aqui no Papo Antagonista,
00:41:48com algumas pinceladas
00:41:50irônicas,
00:41:51sarcásticas,
00:41:52mas o grupo
00:41:53de humor
00:41:53ter isso
00:41:54como mote,
00:41:55a gente vê
00:41:56aí muito humor
00:41:56chapa branca,
00:41:58tem muito assunto
00:41:59para ser desenvolvido.
00:42:00Então,
00:42:00no mercado
00:42:01da comunicação
00:42:02também tem
00:42:02muita verba estatal,
00:42:03muita verba
00:42:04de governo
00:42:04e isso
00:42:05vai trazendo
00:42:07contrapartidas
00:42:07editoriais e tal
00:42:09e muita gente
00:42:09não fala a verdade,
00:42:10a gente busca aqui
00:42:10falar,
00:42:12expor a realidade
00:42:12como ela é
00:42:13e gostaria
00:42:14que tivesse
00:42:14gente com cabeça
00:42:16livre,
00:42:17independente
00:42:17para produzir filmes,
00:42:18para produzir peças
00:42:19de teatro,
00:42:20para produzir músicas
00:42:21e para produzir humor
00:42:23também,
00:42:24Gerardo.
00:42:25Você mencionou,
00:42:26teve um filme
00:42:26sobre a Lava Jato,
00:42:28só que acho
00:42:29que ele flopou,
00:42:29não houve interesse,
00:42:31não chegou
00:42:31a não...
00:42:31Na época
00:42:32ele fez um...
00:42:34Ele fez um...
00:42:35Uma bilheteria?
00:42:36Fez um barulho,
00:42:37fez um barulho,
00:42:38e foi para o streaming.
00:42:39O mecanismo
00:42:40é do...
00:42:41Não,
00:42:41é a polícia...
00:42:43A lei é para todos.
00:42:44A lei é para todos,
00:42:44é.
00:42:45O mecanismo
00:42:46era do Padilha,
00:42:47teve duas temporadas.
00:42:48Mecanismo é do Padilha,
00:42:49depois de uma série.
00:42:49Até com o Celta Mello,
00:42:50inclusive,
00:42:51que está no...
00:42:53É o que faz
00:42:54o Rubens Pai,
00:42:54fazendo...
00:42:56É,
00:42:58o mecanismo...
00:42:59O mecanismo
00:43:00eu achei bem realizado.
00:43:00O filme eu não gostei tanto,
00:43:02achei ele...
00:43:02O roteiro meio...
00:43:05Você gosta...
00:43:06Diga.
00:43:06Tem algumas escalações
00:43:07ali,
00:43:07algumas escalações ali
00:43:08que também acho que
00:43:09achei meio esquisitas.
00:43:10O filme poderia ter sido
00:43:12melhor amarrado.
00:43:14Ele realmente
00:43:15deixa um mote
00:43:16para continuar.
00:43:17É,
00:43:18ele foi sobre um momento,
00:43:19depois teve muitos
00:43:20desdobramentos daquilo.
00:43:22Agora,
00:43:23eu ia perguntar
00:43:23do Celta Mello,
00:43:24porque o Celta Mello,
00:43:26ele se tornou
00:43:28um dos grandes atores
00:43:30brasileiros,
00:43:30mas reconhecidos pelo posto.
00:43:32As pessoas adoram ele.
00:43:34E até aquela imagem,
00:43:35quando a Fernanda Torres
00:43:36ganha o primeiro prêmio
00:43:38e ele aparece chorando
00:43:38do lado dele,
00:43:39acabou reforçando
00:43:40o carisma dele,
00:43:41o carinho da população
00:43:42brasileira com ele.
00:43:44Outro dia,
00:43:44eu vi que ele gravou,
00:43:45ele está gravando
00:43:45Anaconda com o Jack Black,
00:43:47ele fez um vídeo
00:43:48para a rede social
00:43:49tocando violão ali,
00:43:50fazendo o Jack Black
00:43:51falar português.
00:43:52Você gosta dele como ator?
00:43:54Sim,
00:43:54gosto,
00:43:55gosto.
00:43:56E eu acho que ele está
00:43:56muito bem.
00:43:58A gente vai,
00:43:59vamos continuar falando
00:44:00do Celta Mello
00:44:00no começo do próximo bloco,
00:44:01eu preciso chamar
00:44:02o intervalo na TV BMC,
00:44:04são só dois minutinhos,
00:44:05a gente volta já,
00:44:05continue comentando no YouTube.
00:44:06Continue deixando
00:44:10o seu comentário,
00:44:11o seu like
00:44:11aqui na transmissão
00:44:12do Papo Antagonista
00:44:14no YouTube
00:44:14e agora a gente volta
00:44:15na TV BMC.
00:44:17Jerônimo,
00:44:17o Teixeira estava
00:44:18perguntando para você
00:44:19se você gosta
00:44:19do Celta Mello
00:44:20que fez
00:44:21Volta a Compadecida,
00:44:25fez Lisbella e o Prisioneiro,
00:44:27fez Meu Nome Não é Johnny,
00:44:29fez o Ainda Estou Aqui
00:44:31e vários outros filmes.
00:44:32O Pedro Howard aí também,
00:44:33não era?
00:44:33Vários outros filmes aí
00:44:35que caíram no gosto popular.
00:44:38Você gosta dele como ator?
00:44:39Gosto dele como ator, sim.
00:44:41E eu acho que ele está,
00:44:42evidentemente que ele ficou ali
00:44:43à sombra da interpretação
00:44:47da Fernanda Torres.
00:44:49É, porque o personagem dele
00:44:50desaparece e o dela
00:44:52continua também.
00:44:52Mas assim,
00:44:53acho que ele conseguiu fazer
00:44:56uma figura,
00:44:57tornar o Rubens Paiva
00:44:58uma figura muito calorosa.
00:45:00e a cena dele indo embora,
00:45:06que é a última cena
00:45:07que você vê no filme,
00:45:08é muito boa.
00:45:10Acho que é um pontual
00:45:11do filme, assim.
00:45:12Ele olhando para trás,
00:45:13entrando no carro,
00:45:14ele tranquilizando a filha.
00:45:15Não, estou sonhando
00:45:16com esses senhores aqui,
00:45:17resolvi um problema,
00:45:18já volto.
00:45:20Eu acho que ele está
00:45:21muito bem no filme.
00:45:23O Doutor Teixeira
00:45:24quer levantar uma bola?
00:45:24E ele como ator
00:45:26virou realmente
00:45:27uma figura querida aí, né?
00:45:30Tipo,
00:45:31lembro que teve
00:45:32até um campeonato.
00:45:33Ele está convidado, hein?
00:45:34Para vir aqui
00:45:34ao podcast do A,
00:45:35Celton Mello.
00:45:36Se alguém tiver o contato,
00:45:37me passa.
00:45:38Acho que foi no Rio de Janeiro,
00:45:39Felipe,
00:45:40você quer ir lá?
00:45:40Um concurso para ver
00:45:42quem mais se parecia
00:45:43com o Celton Mello.
00:45:44Essas coisas de...
00:45:46Já começa a ter
00:45:47uma legião de fãs, assim, né?
00:45:49É o tipo de...
00:45:51de gente que...
00:45:53Agora,
00:45:54outra figura famosa
00:45:57que você escreveu a respeito,
00:45:58e aí você acha que seria legal
00:46:00você descrever melhor
00:46:01quem que é o sujeito
00:46:02é o Oruan, né?
00:46:03Eu nem sei direito
00:46:04quem é o sujeito.
00:46:05É uma mudança radical de assunto.
00:46:07É uma mudança muito radical de assunto.
00:46:09Eu sou somente da existência dele
00:46:11porque resolveram fazer
00:46:11uma lei anti-Oruan, né?
00:46:13Mas você vê problemas
00:46:15em uma lei anti-Oruan?
00:46:17Ou você poderia explicar
00:46:18um pouquinho o que ele corre?
00:46:19A gente está falando
00:46:19do rapper,
00:46:21que é família...
00:46:22Ele é filho, sobrinho...
00:46:23Ele é filho
00:46:24do Marcinho VP.
00:46:24Do Marcinho VP.
00:46:25Exatamente, traficante.
00:46:27Traficante, é.
00:46:28E ele, enfim,
00:46:30apareceu aí no debate público
00:46:32porque teve o projeto
00:46:33lá da Amanda Vettorazzo, né?
00:46:35Vereadora aqui em São Paulo,
00:46:37ligada ao Movimento Brasil Livre,
00:46:39para proibir contratação de shows
00:46:41de músicos que faziam
00:46:44apologia à criminalidade.
00:46:46É, e essa lei se reproduziu
00:46:47em várias...
00:46:48acho que mais de uma dezena
00:46:49de...
00:46:50de...
00:46:51de...
00:46:52de municípios do Brasil
00:46:53ou fora,
00:46:54o Kim Kataguiri
00:46:55está querendo fazer
00:46:56uma lei federal
00:46:56nos termos, né?
00:46:59Eu temo...
00:47:00assim, veja,
00:47:02eu não tenho nenhuma simpatia
00:47:03para o Oruan, né?
00:47:04Acho que...
00:47:05os feitos que tem, né?
00:47:07O Elias Malucco
00:47:08tatuado no corpo, né?
00:47:10É...
00:47:11É difícil, sabe?
00:47:13Que é outro criminoso
00:47:14que foi preso
00:47:15e que fazia
00:47:16algumas barbaridades
00:47:17até na cadeia.
00:47:17O Maradona tinha
00:47:21o Che Guevara
00:47:23na barriga e da perna
00:47:25até.
00:47:26Eu diria, assim,
00:47:27que o Maradona
00:47:30pelo menos tinha
00:47:30a desculpa
00:47:31de que existe
00:47:32uma mitologia
00:47:33em torno do Che Guevara,
00:47:34que as pessoas
00:47:35talvez não saibam bem
00:47:36quem ele é,
00:47:36mas têm uma ideia, né?
00:47:38De que é uma pessoa
00:47:39que lutou pelos pobres,
00:47:41né?
00:47:42Pela...
00:47:42Pela...
00:47:43Pela...
00:47:44Pela libertação
00:47:46da América Latina
00:47:46que seja,
00:47:47tudo balela,
00:47:48claro, sabemos,
00:47:49mas tem essa desculpa.
00:47:52Sequer existe
00:47:53essa desculpa
00:47:54pra ser o Elias Malucco
00:47:55tatuado no peito.
00:47:56O cara não topou nada,
00:47:57o cara era um bandido,
00:47:58o cara matou
00:47:59barbaramente, né?
00:48:01Não existe uma historinha,
00:48:03uma mitologia
00:48:04do Elias Malucco
00:48:05salvando o pobre,
00:48:06nada disso, né?
00:48:07Aliás, falando do Maradona,
00:48:08tem digressão aqui,
00:48:11a parte, né?
00:48:11A gente tá aqui
00:48:12pra digredir.
00:48:13Tem o...
00:48:15o Sorrentino,
00:48:17que é um cineasta italiano
00:48:19que eu gosto muito,
00:48:19que é mais conhecido
00:48:20por A Grande Beleza,
00:48:21tem um filme
00:48:22chamado Juventude,
00:48:24ou A Juventude.
00:48:25É com o Michael Caine,
00:48:27o Michael Caine é um maestro,
00:48:28você vai gostar,
00:48:29você que toca violoncelo,
00:48:30o Michael Caine é um maestro
00:48:31que tá numa...
00:48:33num spa na Suíça,
00:48:36e é convidado,
00:48:37tem uma emissária da rainha,
00:48:39convida ele
00:48:39pra conhecer o aniversário
00:48:42do Príncipe Filipe,
00:48:43na época que o filme
00:48:44foi realizado,
00:48:44tava vivo ainda,
00:48:46e ele quer que ele toque
00:48:49um das suas músicas
00:48:52pro Príncipe Filipe,
00:48:53ele diz que não rege mais
00:48:54essa música,
00:48:54depois você vai entender
00:48:55por quê, né?
00:48:57Mas nesse spa
00:48:58tem uma figura
00:48:59que é o...
00:48:59ninguém diz o nome dele,
00:49:01mas é um Maradona,
00:49:02escrito assim,
00:49:02é um antigo jogador
00:49:03de futebol,
00:49:04né?
00:49:06Gordão,
00:49:07assim,
00:49:07decadente,
00:49:07e aí assim,
00:49:10em vez dele ter
00:49:11o Che Guevara
00:49:12tatuado na barriga
00:49:13da perna,
00:49:14que é uma coisa
00:49:15comparativamente discreta,
00:49:17ele tem uma enorme figura
00:49:18do Marx
00:49:19ocupando as costas
00:49:20de todas dele,
00:49:20é muito engraçado
00:49:21essa parte, né?
00:49:23E o Maradona
00:49:23aparece de novo
00:49:25na Mão de Deus,
00:49:26que é um filme
00:49:26que é da Netflix,
00:49:27que é um filme
00:49:28autobiográfico
00:49:29do Paulo Sorrentino,
00:49:31que é torcedor
00:49:33do Nápoles,
00:49:33então ele tem,
00:49:35né?
00:49:35Existe o Maradona
00:49:39quase santificado lá,
00:49:41né?
00:49:42Mas eu fui tão longe,
00:49:43agora a gente
00:49:44tá vindo do Urua.
00:49:46É,
00:49:46o Paulo Sorrentino
00:49:48gosta que ele ainda
00:49:49tem uma pitadinha
00:49:50de Fellini ali,
00:49:51que faz o grande
00:49:52beleza,
00:49:52é oito e meio,
00:49:54né?
00:49:55É um cara
00:49:57que já ganhou
00:49:59o seu dinheiro,
00:49:59tá ali meio que
00:50:00flanando por Roma,
00:50:01né?
00:50:02E vai encontrando
00:50:03uns personagens
00:50:03muito estranhos,
00:50:05e o filme é
00:50:06lindíssimo,
00:50:07assim,
00:50:07né?
00:50:08Mas voltando,
00:50:09eu tava procurando aqui
00:50:10o título de um livro
00:50:12que eu li uma parte
00:50:14quando eu tava
00:50:15na viagem pro Egito,
00:50:17que eu encontrei lá
00:50:18num barco,
00:50:20e é um livro que é,
00:50:21o prefácio é do
00:50:22Michael Caine,
00:50:23só porque você citou
00:50:23o Michael Caine,
00:50:25e é um livro
00:50:26sobre o período nazista,
00:50:28e quando a Inglaterra
00:50:30entrou na guerra,
00:50:33houve uma evacuação,
00:50:35de uma parcela
00:50:36significativa
00:50:37da população
00:50:38de crianças,
00:50:39pro interior,
00:50:41e o Michael Caine
00:50:42tava nessa leva,
00:50:44e o livro
00:50:45ele é escrito
00:50:45por uma
00:50:46dessas outras
00:50:47crianças,
00:50:48que virou
00:50:48um jornalista,
00:50:49um autor,
00:50:51um historiador,
00:50:52que conseguiu
00:50:54coletar
00:50:54todos os depoimentos,
00:50:57todos não,
00:50:57mas muitos depoimentos
00:50:59dessas pessoas
00:50:59que guardaram
00:51:00durante a vida toda,
00:51:01ninguém tava lá
00:51:02consultando,
00:51:02entrevistando
00:51:03essas pessoas,
00:51:04que se afastaram
00:51:05da família ali
00:51:06durante dois anos,
00:51:07três anos,
00:51:07alguns nunca mais
00:51:08viram os pais,
00:51:09e acabaram crescendo
00:51:10em outro lugar,
00:51:11e aí o livro
00:51:13é sobre esse processo,
00:51:15porque eles rapidamente
00:51:16evacuaram as crianças
00:51:17daquele lugar,
00:51:18elas foram viver
00:51:18em ambientes rurais,
00:51:22em casas
00:51:22de outras famílias,
00:51:24o Michael Caine,
00:51:24o autor do livro,
00:51:26foram uma dessas crianças,
00:51:28eu achei muito interessante
00:51:29a história,
00:51:30eu tava tentando pegar aqui
00:51:30pra deixar indicado,
00:51:31mas outro dia
00:51:32eu indico aqui
00:51:33no programa,
00:51:34que mais?
00:51:35Vamos falar de livro,
00:51:36já que eu trouxe aqui
00:51:37essa,
00:51:38a gente vai lembrar
00:51:39um pouquinho
00:51:39do histórico
00:51:40do Jerônimo Teixeira
00:51:41como crítico literário,
00:51:43na antiga revista,
00:51:44coisa que ele ainda faz
00:51:45de vez em quando
00:51:45aqui na Cruzoé também,
00:51:47mas eu vou ter que
00:51:48chamar o intervalo,
00:51:49são dois minutinhos
00:51:50na TV BMC
00:51:51pra gente voltar
00:51:52com esse papo
00:51:53sobre carnaval,
00:51:54filmes e livros
00:51:55nesse momento
00:51:56tão especial de festas,
00:51:57deixe comentário
00:51:58no YouTube,
00:51:59deixem o like,
00:52:01na nossa transmissão
00:52:02no canal de YouTube
00:52:03de O Antagonista
00:52:04e a gente volta agora
00:52:05na TV BMC
00:52:06com esse papo antagonista
00:52:08de segunda-feira,
00:52:093 de março,
00:52:10carnaval
00:52:10em todo o Brasil.
00:52:12Então a gente
00:52:13começou a falar de livros
00:52:14no final do último bloco,
00:52:16Jerônimo,
00:52:17o que você guarda
00:52:18de lembrança assim,
00:52:19quais foram os livros
00:52:19que mais marcaram você
00:52:21quando você escrevia
00:52:22sobre livros
00:52:23numa revista impressa,
00:52:25isso que já parece antigo,
00:52:27né?
00:52:27parece antigo mesmo,
00:52:30eu não sei o que você falou,
00:52:31realmente,
00:52:33ah,
00:52:34poxa,
00:52:36é,
00:52:37tem alguma experiência
00:52:38assim que eu fui entrevistar
00:52:40o Amozós
00:52:41em Tel Aviv.
00:52:42Olha que inveja,
00:52:43hein?
00:52:43E foi o último livro dele,
00:52:46né?
00:52:46O Judas,
00:52:47que é um livro
00:52:49que toma,
00:52:51apesar do título,
00:52:52não é um livro
00:52:53que se passe
00:52:55na época de Cristo,
00:52:56né?
00:52:56Ele falou assim
00:52:57que eu não queria
00:52:58escrever um livro
00:53:00com personagens
00:53:01usando sandálias
00:53:02e túnicas,
00:53:03etc.
00:53:05Mas é um livro
00:53:05que se passa
00:53:07naquela época
00:53:08bastante sombria
00:53:10em Jerusalém,
00:53:11que metade da cidade
00:53:11estava ocupada
00:53:12pela Jordânia,
00:53:14né?
00:53:16E tem um jovem,
00:53:18um jovem
00:53:19israelense
00:53:24que chega na cidade
00:53:25e começa a viver
00:53:27com uma pessoa,
00:53:30um senhor de idade,
00:53:32né?
00:53:33Acho que ele aluga
00:53:33um quarto,
00:53:34e,
00:53:35enfim,
00:53:37e esse cara
00:53:37tem um passado estranho
00:53:39ali,
00:53:39que teria colaborado,
00:53:41com o invasor britânico,
00:53:45enfim,
00:53:46tem uma série
00:53:46de uma coisa
00:53:47intrincada
00:53:48do passado dele
00:53:49que ele é
00:53:49considerado um traidor.
00:53:51E por isso
00:53:52ele não pode
00:53:52meio que sair da toca,
00:53:53né?
00:53:54E esse é um jovem,
00:53:55assim,
00:53:55é um jovem,
00:53:56enfim,
00:53:58vinte e poucos anos,
00:53:59né?
00:54:00Ele tem uma ideia
00:54:01de pesquisar
00:54:02justamente assim,
00:54:03como o,
00:54:04como a figura
00:54:06de Judas,
00:54:07né?
00:54:10Contribuiu
00:54:10para o caldo
00:54:11do antissemitismo
00:54:12religioso,
00:54:13não científico,
00:54:14mas religioso,
00:54:15né?
00:54:16E como,
00:54:16né,
00:54:16os judeus
00:54:17foram associados
00:54:18a Judas,
00:54:19né?
00:54:20E,
00:54:21enfim,
00:54:22está levantando
00:54:22uma série de coisas
00:54:23sobre isso,
00:54:24e,
00:54:24ao mesmo tempo,
00:54:25dentro da casa dele
00:54:25tem uma pessoa
00:54:26que,
00:54:26né,
00:54:27que tem essa...
00:54:28E o,
00:54:28o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:29o,
00:54:30o,
00:54:30o,
00:54:30o,
00:54:30né,
00:54:30exatamente sobre,
00:54:31sobre,
00:54:32assim,
00:54:32sobre o tema
00:54:33da traição,
00:54:34né?
00:54:35Como,
00:54:35às vezes,
00:54:36a distância histórica
00:54:37nos faz reconsiderar
00:54:40figuras que eram tidas
00:54:41como traidores,
00:54:41né?
00:54:43E o traidor como sendo
00:54:45uma coisa positiva também
00:54:46que ele traz isso,
00:54:47né?
00:54:47Sim,
00:54:47em alguns casos,
00:54:48né?
00:54:49No caso da,
00:54:50da,
00:54:50da,
00:54:50da,
00:54:50da,
00:54:52da,
00:54:52do Sadá e da Gordamayir,
00:54:54por exemplo.
00:54:55Tá.
00:54:56Né?
00:54:56Diferentes contingentes,
00:54:58né?
00:54:59Em Israel e no Egito
00:55:00consideraram que eles eram
00:55:02traidores por,
00:55:02fazerem aquele acordo.
00:55:04Mas é um acordo que até hoje
00:55:05está garantindo a paz com o Egito,
00:55:06né?
00:55:06Com todos os percalços,
00:55:08né?
00:55:08Sim.
00:55:09Com os contingentes,
00:55:10né?
00:55:10Que,
00:55:10do lado do Egito,
00:55:11que consideraram o Sadá traidor
00:55:13no Egito,
00:55:14eram mais agressivos,
00:55:15né?
00:55:15Sabíamos.
00:55:16O cara acabou,
00:55:17acabou fuzilado no palanque
00:55:19no Cairo,
00:55:20né?
00:55:22Mas,
00:55:22enfim,
00:55:22é esse tipo de traição
00:55:25que ele está falando,
00:55:25né?
00:55:26Aqui no Brasil,
00:55:27hoje,
00:55:27traidor é quem
00:55:28criticou o Lula
00:55:30durante muito tempo
00:55:32e aí critica o Bolsonaro
00:55:33também,
00:55:33ou quem criticou o Bolsonaro
00:55:34durante muito tempo
00:55:35e aí critica o Lula também,
00:55:37vira o traidor,
00:55:38ou vira o isentão.
00:55:40Tem,
00:55:40tem,
00:55:40tem,
00:55:40o serviço de centro,
00:55:43como disse alguém outro dia.
00:55:44que são 35,1%
00:55:47da população brasileira
00:55:48é de isentões.
00:55:49Apareceu na pesquisa CNT-MDA,
00:55:51um número maior
00:55:52do que os por volta
00:55:54de 30% ali
00:55:55que querem,
00:55:56preferem votar
00:55:57no Jair Bolsonaro
00:55:58ou no candidato
00:55:59indicado por ele
00:55:59ou no Lula
00:56:00ou no candidato
00:56:00indicado por ele.
00:56:02Eu uma vez
00:56:03publiquei um artigo,
00:56:04acho que foi
00:56:04quando eu era
00:56:05colunista do Estadão,
00:56:06que terminava falando
00:56:08vivo o traidor,
00:56:08porque justamente
00:56:10para
00:56:11rebater um pouco
00:56:14dessa narrativa
00:56:15bolsonarista
00:56:16de que todos
00:56:16que fazem qualquer crítica
00:56:17ao Bolsonaro
00:56:18são traidores,
00:56:19etc.
00:56:20Como eles posam
00:56:21de conservadores,
00:56:22eu fui buscar
00:56:23lá em Edmund Burke,
00:56:24o pai do pensamento
00:56:25conservador,
00:56:27como diz
00:56:27o autor americano
00:56:28Russell Kirk,
00:56:30que ele foi chamado
00:56:31de traidor
00:56:32na época dele,
00:56:33justamente porque ele,
00:56:35o conservador,
00:56:36muitas vezes
00:56:37seminal,
00:56:38original,
00:56:38visto na bibliografia,
00:56:42ele agiu
00:56:43por princípios
00:56:44em determinadas
00:56:45situações
00:56:46em que
00:56:47o grupo político
00:56:48ou o campo
00:56:49ideológico
00:56:50do qual supostamente
00:56:51ele faria parte,
00:56:53queria que ele agisse
00:56:53de outra maneira.
00:56:55Só que ele,
00:56:56agindo por princípio,
00:56:57foi visto
00:56:57como um traidor.
00:56:59Então, assim,
00:57:00o tema da traição,
00:57:01ele tem muitas facetas
00:57:01e abordagens,
00:57:03mas eu não pude
00:57:04deixar de trazer
00:57:04esse exemplo.
00:57:05Doutor Deixeira.
00:57:06Eu queria perguntar,
00:57:08porque, Gerardo,
00:57:08você falou do Amozós,
00:57:10mas você tem outros
00:57:11escritores,
00:57:12você também entrevistou,
00:57:13que eu acho que também
00:57:14te marcaram bastante,
00:57:16que é o que eu vejo
00:57:17dos seus textos, né?
00:57:18Um deles,
00:57:19acho que é o Theodore
00:57:20da Rimpel, né?
00:57:21Você falou com ele,
00:57:22não falou?
00:57:22Eu falei com ele,
00:57:23foi uma conversa
00:57:23muito agradável.
00:57:25É, né?
00:57:25Eu citei da semana retrasada.
00:57:29Agora, acho que foi
00:57:30o seu artigo do Boné,
00:57:31se não me engano.
00:57:32Sim, exatamente.
00:57:33O Boné é o fim
00:57:33da civilização.
00:57:35Onde foi essa conversa?
00:57:36Foi na redação da Veja.
00:57:39Eu tinha um programa...
00:57:40Acho que foi virtual
00:57:41ou ele estava aqui no Brasil?
00:57:42Ele estava aqui no Brasil.
00:57:43Ele estava aqui no Brasil.
00:57:45Eu não lembro porque,
00:57:46eu não sei se ele
00:57:47ia lançar algum livro,
00:57:48o que era.
00:57:48Ele até explica
00:57:49que esse nome ele escolheu
00:57:50para ser um nome besta, né?
00:57:52Não era isso?
00:57:53Ele tem um outro nome, né?
00:57:54Ele é Anthony Daniels,
00:57:56se não me engano.
00:57:58Esse é o nome de plume dele, né?
00:58:00O nome de escritor dele.
00:58:02Theodore Daryl Limpol.
00:58:04E ele é um cara muito engraçado,
00:58:06muito ferido,
00:58:07muito rápido, assim,
00:58:08muito elegante.
00:58:11Ele não é...
00:58:12Enfim, tem o lado dele,
00:58:14muito posicionado conservador,
00:58:16alguns graus de conservadorismo,
00:58:18conservadorismo,
00:58:19além de mim.
00:58:21Mas é o cara sempre elegante, assim.
00:58:23Não tem a vulgaridade
00:58:26que algumas figuras
00:58:27que fazem guerra cultural têm, né?
00:58:30E eu citei porque...
00:58:32Eu citei ele naquele texto...
00:58:34Certo da tatuagem, foi?
00:58:36Da tatuagem, exatamente.
00:58:38Ele tinha uma implicância
00:58:41quase idiosincrática, eu diria,
00:58:44com tatuagens, né?
00:58:45Ele achava que, assim,
00:58:47que isso era...
00:58:49Em vez de você ter, né,
00:58:52uma cultura que se venha das elites
00:58:54e transborde para baixo, né?
00:58:57Que eduque as massas, digamos assim,
00:58:59você teria...
00:59:00Essa visão dele.
00:59:02Você teria que ser acontecendo
00:59:03o contrário, né?
00:59:04Isso que a tatuagem
00:59:05era uma coisa que era praticada
00:59:06por alguns grupos
00:59:07muito particulares da sociedade, né?
00:59:10Soldados marinheiros, né?
00:59:12E criminosos, né?
00:59:13Prisioneiros, né?
00:59:14Prisioneiros, sobretudo presidiários, né?
00:59:16Ele foi, muito tempo,
00:59:17ele foi médico
00:59:18numa penitenciária inglesa, né?
00:59:24Tem um livro sobre isso
00:59:25que chama Fakim Trousa, né?
00:59:26Tem um livro sobre essa experiência.
00:59:28Mas, então, era uma cultura...
00:59:30Ele defendia que a cultura
00:59:31tinha que vir de uma elite, né?
00:59:33Mais escolarizada, erudita,
00:59:36e aí espalhava isso...
00:59:37E não o contrário.
00:59:39E não...
00:59:39Ele achava que...
00:59:41De alguma maneira,
00:59:42achava que a popularização
00:59:43da tatuagem
00:59:44era um signo de...
00:59:46Declínio civilizatório,
00:59:49digamos, né?
00:59:51E eu...
00:59:52Eu...
00:59:52Sim.
00:59:54Nunca fez tatuagem?
00:59:55Eu tô pensando em fazer.
00:59:58Não passa aí, sério?
00:59:59Eu tô pensando...
01:00:00Eu já vi a interpretação também
01:00:03de que...
01:00:04Eventualmente,
01:00:05as pessoas não conseguem
01:00:06realizar algo no mundo
01:00:07e aí ficam realizando
01:00:09no próprio corpo, né?
01:00:10Sim.
01:00:11Enfim, uma série
01:00:12de interpretações,
01:00:14de visões,
01:00:15mas as pessoas
01:00:15têm toda a liberdade
01:00:17para fazer suas tatuagens.
01:00:18Eu não tenho nenhum...
01:00:19Eu não tenho nenhum preconceito
01:00:21contra tatuagens.
01:00:23Evidentemente,
01:00:23tem pessoas que pintam
01:00:24o corpo todo.
01:00:25Você pode não achar aquilo
01:00:26esteticamente bonito.
01:00:28Mas no Rio de Janeiro,
01:00:29no lugar de praia,
01:00:30é muito comum
01:00:31que os jovens
01:00:33e as jovens
01:00:34colocam aí uma tatuagenzinha.
01:00:35não sei se isso
01:00:38vem aí
01:00:38desse panorama,
01:00:42desse ambiente
01:00:42descrito pelo
01:00:43Theodore Darling Poe,
01:00:45esse nome tão imponente.
01:00:45Você quer compartilhar com a gente
01:00:47qual que é a tatuagem
01:00:47que você quer fazer?
01:00:48Eu tô pensando em fazer
01:00:49uma lucegenia.
01:00:51O quê?
01:00:51A lucegenia.
01:00:52A lucegenia
01:00:53é uma criatura
01:00:54do pré-cambriano.
01:00:56Desculpe,
01:00:56do cambriano.
01:00:57É uma criatura
01:01:00que andava
01:01:01no scuttling
01:01:03across
01:01:04the floor
01:01:05of the silent seas,
01:01:06se arrastando
01:01:07pelo chão
01:01:08dos mares silenciosos.
01:01:11É um verso
01:01:11do Elliot.
01:01:15Tipo uma barata.
01:01:16É um dos animais
01:01:18que tá descrito no...
01:01:18Olha aí,
01:01:19a produção resgatou.
01:01:20Pode ir.
01:01:21Até pra fazer você
01:01:22olhar pra cá,
01:01:22que você tá olhando
01:01:23muito por dúvida,
01:01:23a gente precisa...
01:01:24Você tá ficando
01:01:24de costas pro público.
01:01:25Eu sei que você gosta
01:01:27de olhar pro Duda Teixeira
01:01:28e seu parente.
01:01:29É que eu não tô
01:01:30acostumado com as câmeras.
01:01:31Na época que eu fazia
01:01:32aquele programa
01:01:32do Darlipo,
01:01:33eu sabia exatamente
01:01:33pra onde olhar.
01:01:34Aqui tudo é novo pra mim.
01:01:35Descreva aí esse bicho.
01:01:36O que é isso?
01:01:37Então, isso é...
01:01:38Enfim,
01:01:39isso é uma criatura
01:01:39que tá...
01:01:40É um dos bichinhos
01:01:42que o Stephen Jay Gould
01:01:45trata num livro
01:01:46chamado
01:01:46Wonderful Life.
01:01:48Você quer botar
01:01:49esse bicho aí
01:01:49no seu corpo.
01:01:50Sim.
01:01:51Talvez no braço.
01:01:52Só que eu não quero...
01:01:53Isso aqui é a versão
01:01:54atualizada dela.
01:01:55No tempo
01:01:57que o Jay Gould
01:01:59escreveu esse livro,
01:02:06se tinha a ideia
01:02:06de que aquilo
01:02:07que se vê atrás,
01:02:08que você viu
01:02:09que pareciam espinhos
01:02:09ao longo,
01:02:10ele se imagina
01:02:12que aquilo
01:02:12seria as pernas.
01:02:14Então,
01:02:14era um bicho
01:02:15que realmente
01:02:15parecia uma coisa
01:02:17que você veria
01:02:18no quadro do Kandinsky,
01:02:20ou do Miró,
01:02:21talvez.
01:02:22era um bicho
01:02:24meio geometrizado.
01:02:26Ele tinha umas patas
01:02:27que eram cônicas.
01:02:28As pessoas não conseguiam
01:02:29entender como ele poderia
01:02:30caminhar daquela maneira.
01:02:32Até que um novo
01:02:33reexame
01:02:34dos fósseis,
01:02:36que esses animais
01:02:37não tinham esqueleto.
01:02:38Então,
01:02:39eles deixavam fósseis
01:02:40no xisto.
01:02:41Olha,
01:02:41tem uma outra imagem.
01:02:42Uma espécie de...
01:02:43É,
01:02:43isso aí.
01:02:44Uma ótima ideia
01:02:46de tatuagem.
01:02:48Fica aí para o público.
01:02:50Eu tenho...
01:02:50Eu aposto que muita gente
01:02:51vai fazer depois de assistir.
01:02:53Eu tenho um conto meu
01:02:55que está inédito em livro,
01:02:57mas foi publicado
01:02:58na Piauí
01:02:58há dois anos atrás,
01:03:00que se chama
01:03:00Explosão Cambriana.
01:03:02Que trata desse animal.
01:03:04Quer dizer,
01:03:04não é que trata desse animal,
01:03:05mas enfim,
01:03:06a história transcorre
01:03:07em torno de uma aula
01:03:08de biologia,
01:03:09de uma aula de paleontologia
01:03:10que alguém está vendo,
01:03:11o professor está projetando
01:03:13esse animal na parede.
01:03:14Só que eu descrevo ele
01:03:15da maneira antiga,
01:03:17com as patinhas cúnicas para baixo.
01:03:20Muita gente pergunta para a gente...
01:03:22Mais esquisito,
01:03:22mais legal.
01:03:23Dica de livro.
01:03:24E agora vamos falar
01:03:25um pouquinho de literatura.
01:03:26Sim.
01:03:27O pessoal pergunta,
01:03:28me dá uma dica de um romance,
01:03:30de uma história legal,
01:03:31uma coisa que não seja
01:03:33para um leitor
01:03:35que já está mais aprofundado
01:03:37e tal,
01:03:37que quer ler algo
01:03:38mais leve,
01:03:40mas ao mesmo tempo
01:03:41sofisticado,
01:03:42culto,
01:03:43o que você indica?
01:03:45Desde que eu larguei,
01:03:47desde que eu me tornei
01:03:49editor de cultura
01:03:52e não só repórter de livros,
01:03:54que é como eu comecei
01:03:55na Veja,
01:03:56eu me afastei um pouco
01:03:57da...
01:03:59Mas o livro não tem idade.
01:04:01Os livros antigos
01:04:01também são bons.
01:04:03Deixa eu recomendar
01:04:05para esse perfil de leitor,
01:04:06talvez você queira pegar
01:04:07e começar
01:04:07com uma obra não tão longa.
01:04:09É, não tão longa.
01:04:10eu recomendaria
01:04:13um livro
01:04:13do Julian Barnes,
01:04:16escritor inglês,
01:04:17daquela geração
01:04:18que tem o
01:04:19Martin Ames,
01:04:21com quem
01:04:21ele se desentendeu
01:04:23a certa altura,
01:04:25fofocas literárias,
01:04:26não foi o caso.
01:04:27Sempre tem.
01:04:27Tipo o Mário Vargas Lhosa
01:04:29e Gabriel Garcia Marques.
01:04:30É isso,
01:04:32é só segue sem o soco.
01:04:33Sem o soco.
01:04:33Sem o soco.
01:04:36Ele é dessa geração
01:04:38do Martin Ames,
01:04:39do Ian McKeown
01:04:41e do Christopher Hitchens.
01:04:44O Christopher Hitchens
01:04:44não é ficcionista,
01:04:46mas enfim,
01:04:46ele é da turma.
01:04:49É um livro
01:04:50que se chama
01:04:50O Sentido de um Fim.
01:04:52O Sentido de um Fim
01:04:53e o autor
01:04:54é o Julian Barnes.
01:04:54Julian Barnes,
01:04:55é,
01:04:55editora Roku.
01:04:57Do que trata esse livro?
01:04:59É uma história dos anos 60,
01:05:01né,
01:05:02de um envolvimento
01:05:04que uma pessoa tem
01:05:05com uma mulher
01:05:06naquela época
01:05:06e depois
01:05:07tem uma série,
01:05:09tem alguma coisa
01:05:10que fica mal resolvida ali,
01:05:12tem um suicídio no meio
01:05:13e que só nas últimas partes,
01:05:17até como você falou
01:05:18ali com o Cláudio,
01:05:19que você está na mão
01:05:20do roteirista,
01:05:21e você não sabe.
01:05:22Está aí a capa do livro
01:05:23que o Jerônimo Teixeira
01:05:24está indicando.
01:05:25Julian Barnes,
01:05:26vencedor do prêmio
01:05:27Man Booker Prize
01:05:28de 2011.
01:05:29Não lembrava
01:05:30que a gente teve
01:05:30o sentido de um fim.
01:05:33É,
01:05:34é mais recente,
01:05:34você vê,
01:05:352011 já está ali na capa,
01:05:37quer dizer,
01:05:38não é tão velho assim,
01:05:39Gerônimo.
01:05:39Tem,
01:05:40tem um filme,
01:05:41tem um filme
01:05:42sobre o livro,
01:05:43mas eu não vi.
01:05:45Tem,
01:05:45tem para disponível
01:05:46para lugar,
01:05:46acho que na Apple TV,
01:05:48acho que na Amazon Prime também.
01:05:51Muito bem,
01:05:52Duda Teixeira.
01:05:53Eu quero falar,
01:05:54posso falar mais
01:05:55dos outros escritores
01:05:56que você também entrevistou?
01:05:57Eu acho que você
01:06:01entrevistou o John Gray
01:06:01também,
01:06:02não foi?
01:06:02Intervistei o John Gray,
01:06:03sim.
01:06:03Puts,
01:06:04esse é um baita filósofo.
01:06:05Esse é o que eu entrevistei
01:06:06para a época,
01:06:07não foi para a Viajana.
01:06:07Ah é?
01:06:08Você falou com ele
01:06:09pessoalmente?
01:06:10Não,
01:06:10falei para o telefone.
01:06:11Ah,
01:06:11para o telefone.
01:06:13Na verdade,
01:06:13foi por Zoom,
01:06:15mas ele não,
01:06:17ele manteve
01:06:18até uma fechada.
01:06:19E foi,
01:06:20eu gosto muito
01:06:21do John Gray.
01:06:22Aliás,
01:06:22outro livro aí,
01:06:23foi um livro
01:06:23de uma recomendação
01:06:24de não ficção,
01:06:25também um livro curto.
01:06:27Acho que é até mais curto
01:06:28do que o Sítio de Um Fim.
01:06:31Guarda essa dica
01:06:32para o próximo bloco,
01:06:32eu tenho que chamar
01:06:33o Intervalo,
01:06:35e ele vai trazer
01:06:35uma dica de não ficção
01:06:37para vocês aqui
01:06:38em instantes.
01:06:39Muito bem,
01:06:42deixem o like aí
01:06:43na nossa transmissão
01:06:44ao vivo
01:06:44num canal de YouTube
01:06:45de O Antagonista,
01:06:46essa transmissão
01:06:47simultânea na TV BMC.
01:06:49E agora a gente volta
01:06:50com o Papo Antagonista
01:06:51na TV BMC,
01:06:52hoje recebendo
01:06:53o Jerônimo Teixeira
01:06:53para a gente conversar
01:06:54aqui.
01:06:55Amenidades,
01:06:56vistas pelos olhos
01:06:58daqueles que são
01:06:58mais engajados
01:06:59politicamente,
01:07:00todo o resto
01:07:01é ameno.
01:07:02Mas a gente gosta
01:07:02de trazer aqui
01:07:03as nossas origens
01:07:04da crítica literária,
01:07:06do cinema,
01:07:07de tudo que a gente
01:07:08cresceu vendo,
01:07:11ouvindo e lendo.
01:07:13E o Jerônimo ficou
01:07:13de dar uma dica
01:07:14de livro de não ficção.
01:07:17Para quem não sabe,
01:07:17tem essa separação
01:07:18de ficção e não ficção.
01:07:20Ficção são os romances,
01:07:21novelas, os contos
01:07:22que contam histórias
01:07:23que não aconteceram
01:07:24no mundo real,
01:07:25são inventadas.
01:07:26Ou que aconteceram,
01:07:27mas que são elaboradas
01:07:28pelo autor
01:07:30que quer se disfarçar
01:07:31de algum personagem
01:07:32por meio do seu alter ego.
01:07:34E a não ficção
01:07:34é um livro que descreve
01:07:36alguma coisa
01:07:36real,
01:07:38algum acontecimento
01:07:39do mundo,
01:07:39alguma análise,
01:07:40alguma avaliação,
01:07:40algum ensaio
01:07:41sobre algum assunto.
01:07:42O que você indica?
01:07:44Só para fazer
01:07:45um reparo,
01:07:46existe também
01:07:47uma coisa que
01:07:48pode se chamar
01:07:49de ficção documental.
01:07:51Você é rigoroso
01:07:52nos dados históricos,
01:07:54mas o tratamento
01:07:55que você dá
01:07:56para o personagem
01:07:56é ficcional.
01:07:58Tem um livro extraordinário
01:07:59que se chama M,
01:08:00que é sobre Mussolini.
01:08:02Sobre Mussolini?
01:08:03É, um autor italiano
01:08:05chamado Scurati.
01:08:05E foi lançado
01:08:08aqui para a Intrínseca.
01:08:09Você inventa
01:08:10personagens
01:08:11para traduzir
01:08:11uma época ali.
01:08:13Pior que ele nem
01:08:13sequer inventa personagens.
01:08:14Os personagens
01:08:14são todos reais.
01:08:16Inventa diálogos.
01:08:17Ele inventa diálogos.
01:08:19Inventa diálogos.
01:08:20E ele...
01:08:21Tem uma passagem breve
01:08:24que é em primeira pessoa
01:08:24do próprio Mussolini.
01:08:27E tem vários personagens
01:08:28do entorno dele.
01:08:29Tem um personagem forte
01:08:31da oposição,
01:08:32que era o Matteotti,
01:08:32que era um socialista
01:08:33moderado italiano,
01:08:35que acabou sendo assassinado
01:08:37pelo capangas,
01:08:40por fascistas.
01:08:43E isso instaura
01:08:44a primeira crise
01:08:45do governo Mussolini.
01:08:46Mussolini já tinha,
01:08:47depois,
01:08:47a marcha para Roma e tal.
01:08:50E o Mussolini quase cai
01:08:54por causa disso,
01:08:54mas não cai a história.
01:08:56É isso que a gente sabe,
01:08:57é o que conhecemos.
01:08:59Mas eu ia dar uma...
01:09:00Qual é o autor desse livro?
01:09:01Scurati.
01:09:02Scurati.
01:09:03É M.
01:09:04M, é.
01:09:05M é em relação ao Mussolini.
01:09:06Eu não li o...
01:09:07Eu tenho uma continuação
01:09:08que é da fase posterior.
01:09:10Do fascismo italiano.
01:09:12De nada fora do Estado.
01:09:14É.
01:09:14Acho que seria um...
01:09:15Acho que vai fazer
01:09:16uma trilogia,
01:09:17se não me engano.
01:09:18Mas aqui no Brasil,
01:09:18se não me engano,
01:09:19foram lançados
01:09:19só os dois primeiros.
01:09:20Eu não li o segundo ainda.
01:09:21Tem que ler.
01:09:22Mas eu ia dar uma dica
01:09:23de um livro de não ficção,
01:09:24que é principalmente
01:09:25o João Grey,
01:09:26que o Duda
01:09:26lembrou aqui,
01:09:29que eu entrevistei.
01:09:32É um livro que se chama
01:09:35O Silêncio dos Animais.
01:09:39É um livro...
01:09:42Ele é dividido
01:09:43em pequenas...
01:09:44Em ensaios breves.
01:09:46Cada um sobre um tema.
01:09:48Todos em torno
01:09:49do tema que é caro
01:09:51para o João Grey,
01:09:52que é
01:09:52a...
01:09:54A ilusão do progresso.
01:09:59A tese...
01:10:00Uma das tese
01:10:01fundamentais dele
01:10:02é de que, assim,
01:10:03você pode até
01:10:04falar em progresso
01:10:06na tecnologia
01:10:07e na ciência.
01:10:09São...
01:10:10Existem...
01:10:11O progresso...
01:10:12São campos
01:10:14que é incremental.
01:10:15Você vai...
01:10:16Com pequenas contribuições,
01:10:18você vai...
01:10:19Tendo carros
01:10:20cada vez melhores,
01:10:21conhecendo cada vez
01:10:22mais.
01:10:24Versão inglesa.
01:10:25Versão inglesa.
01:10:25O Silêncio dos Animais.
01:10:28O Silêncio dos Animais.
01:10:29E o progresso
01:10:30e outros mitos.
01:10:32John Grey.
01:10:32E aí?
01:10:33E aí?
01:10:35Mas que o ser humano
01:10:36não muda, né?
01:10:37Tipo, se a gente...
01:10:38É, a moral...
01:10:38A moral...
01:10:39Não existe progresso moral,
01:10:40na verdade.
01:10:42Não existe...
01:10:43Não existe...
01:10:44Pelo menos,
01:10:44não existe progresso moral
01:10:45garantido.
01:10:47Qualquer progresso moral
01:10:49que você conquiste,
01:10:51ele pode ser revertido adiante.
01:10:52Ele citava o exemplo
01:10:55da tortura, né?
01:10:56O exemplo clássico dele
01:10:57é que...
01:10:59Assim, no Império Austro-Húngaro
01:11:02baniu a tortura.
01:11:03Certa tortura
01:11:03do século XIX,
01:11:04sabe?
01:11:05E, de repente,
01:11:07assim, no contexto ali
01:11:08da...
01:11:09Da...
01:11:10Da guerra ao terror,
01:11:11do governo Bush,
01:11:12né?
01:11:12Você teve o waterboarding
01:11:13e foi...
01:11:14Utilizado abertamente, né?
01:11:17Pelo...
01:11:18Pelo governo americano.
01:11:19Que era jogar água, né?
01:11:21De um jeito na pessoa
01:11:21que ela se achava
01:11:22que estava se focando, né?
01:11:24Exatamente, é.
01:11:25Você estava a comentar
01:11:26que tecnicamente
01:11:28não era a tortura,
01:11:28mas era.
01:11:29Sim, englantanamo, né?
01:11:31Não só, acho que...
01:11:32É, englantanamo,
01:11:33sobretudo,
01:11:33mas, enfim.
01:11:35Mas sabe que eu...
01:11:35E ele, assim,
01:11:37nesse...
01:11:38Aí tem...
01:11:39Ele começa, inclusive,
01:11:40falando dos livros
01:11:41do Joseph Conrad,
01:11:42que é um escritor
01:11:43que eu admiro muito,
01:11:45que é...
01:11:46É um polonês
01:11:48que se tornou...
01:11:51Se empregou
01:11:53na marinha mercante
01:11:54britânica, né?
01:11:55Viajou o mundo todo,
01:11:56era época...
01:11:57Na época que a Inglaterra
01:12:00era o império
01:12:03onde o sol nunca se põe, né?
01:12:04Ele viajou pelo extremo oriente,
01:12:06viajou para a América do Sul,
01:12:07viajou pelo mundo todo.
01:12:09E depois,
01:12:10quando os navios de...
01:12:12Os veleiros
01:12:13começaram a cair em desuso,
01:12:15porque para existir
01:12:17a avião do motor,
01:12:19ele se recolheu
01:12:20e começou a escrever
01:12:21em inglês,
01:12:23que é a terceira língua dele.
01:12:25Ele aprendeu...
01:12:25Ele sabia...
01:12:26Primeiro foi polonês,
01:12:27depois aprendeu francês,
01:12:28depois inglês.
01:12:29Em inglês,
01:12:30e é um dos maiores
01:12:31cruzadores, né?
01:12:33Da virada...
01:12:35Você está falando
01:12:35de John Gray?
01:12:35Não, de Joseph Conrad.
01:12:36Joseph Conrad.
01:12:37O livro dele,
01:12:39do livro do John Gray,
01:12:40começa falando
01:12:40de alguns livros
01:12:41do Joseph Conrad,
01:12:42da maneira como
01:12:43o Joseph Conrad
01:12:44já demolia
01:12:45na sua ficção
01:12:47a ideia de progresso.
01:12:49Sobretudo a ideia
01:12:50de que o colonizador
01:12:51estaria levando progresso
01:12:52para a África
01:12:53ou para o Oriente,
01:12:55para as terras bárbaras,
01:12:57digamos assim.
01:12:59Depois ele passa
01:13:00por uma série
01:13:00de escritores
01:13:02e casos
01:13:03e sempre com essa ideia,
01:13:05com esse norte,
01:13:06com esse norte,
01:13:07assim, de que...
01:13:08Veja,
01:13:09o que a gente tem
01:13:11com o progresso
01:13:12é um verniz muito fino.
01:13:13em qualquer circunstância
01:13:16ele pode rachar
01:13:18e você regrede.
01:13:20Ele é um pouco desalentado,
01:13:22mas ele escreve muito bem
01:13:23e é um ensaio fabuloso
01:13:25esse sequência dos animais.
01:13:26Essa ideia do John Gray,
01:13:28eu sempre penso nela
01:13:30quando eu estou indo
01:13:30para a reunião
01:13:31de condomínio do prédio,
01:13:32sabe?
01:13:33Você frequenta...
01:13:35Eu não vou
01:13:35na reunião
01:13:36de condomínio do prédio.
01:13:37Tem sorteio de vaga,
01:13:37tem sorteio de vaga
01:13:38se você não fosse dança.
01:13:39Você quer a melhor vaga
01:13:40para você.
01:13:40Mas essa ideia
01:13:41de fazer,
01:13:41puxa,
01:13:42olha que eu estou
01:13:43no elevador,
01:13:43assim, sabe?
01:13:45Estou no elevador,
01:13:45aperto o térreo,
01:13:46eu falo assim,
01:13:47olha,
01:13:47o ser humano
01:13:47ele manda foguete
01:13:49para Marte,
01:13:50o foguete desce
01:13:51de ré, né?
01:13:53Mas olha,
01:13:54essa gente que eu vou ver lá
01:13:55não tem uma evolução, né?
01:13:57Moral,
01:13:57moralmente,
01:13:58a gente está na mesma
01:13:59ou a gente pode regredir
01:14:00qualquer momento.
01:14:01Você está falando mal
01:14:01dos seus vizinhos
01:14:02no programa?
01:14:05O que vai ver?
01:14:06O John Gray
01:14:07tem outro livro
01:14:08que você recebeu
01:14:08o Filosofia Felina,
01:14:09que é o mais recente.
01:14:10Você tem gato também, né?
01:14:12Eu resenhei ele
01:14:13para a época também.
01:14:14Antes do Brasil.
01:14:15Bom, Jerônimo,
01:14:16deixa eu só falar uma coisa.
01:14:17Você sabe por que
01:14:18que o Duda
01:14:19tem essa treta
01:14:20com os vizinhos, né?
01:14:21Porque eles reclamam
01:14:22que ele fica tocando
01:14:23violoncelo alto.
01:14:26Ajuda.
01:14:28Violoncelo alto?
01:14:29Não pode ser um problema.
01:14:31Até, pô,
01:14:32é melhor que uma bateria, né?
01:14:33Incomoda menos a vizinhança.
01:14:35Eu acho que foi um problema
01:14:36maior no começo.
01:14:36Mas eu acho que agora
01:14:37já há um ano, já, né?
01:14:39É que esses meses de cordas,
01:14:41quando você começa
01:14:42a aprender,
01:14:43é meio duro, né?
01:14:44Eles rangem, né?
01:14:46Mas o que você estava falando
01:14:47é interromper.
01:14:49Dos gatos,
01:14:50Filosofia Felina, né?
01:14:51Dos gatos.
01:14:52Que é um livro ótimo
01:14:53do John Gray também.
01:14:54Sim.
01:14:54Que ele traz até
01:14:55alguns conceitos
01:14:56dos outros livros dele.
01:14:57Sim.
01:14:58Mas a ideia é que, tipo,
01:14:59os gatos têm muitos
01:15:00a nos ensinar, né?
01:15:02Sim.
01:15:02Ele faz até uma certa
01:15:04concessão ali
01:15:05aos livros de autoajuda,
01:15:08porque ele faz uma lista
01:15:09de coisas, né?
01:15:10No final do livro tem, né?
01:15:12Acho que são sete coisas
01:15:13que os gatos podem
01:15:16nos ensinar a ver melhor.
01:15:17Uma delas, acho que é assim,
01:15:18dormir
01:15:19pelo prazer de dormir.
01:15:21Olha aí.
01:15:23Saiu.
01:15:23Dormir pelo prazer de dormir.
01:15:25Não é pra dormir
01:15:25pra descansar, né?
01:15:27Dorme porque é gostoso, né?
01:15:29O gato é bem isso.
01:15:30Vocês estão me parecendo
01:15:31as mensagens que eu vejo
01:15:32no Instagram, assim.
01:15:34Dicas, inspire-se nos gatos.
01:15:37Os gatos dormem alegres.
01:15:39Mas tem umas que são
01:15:40mais radicais, assim.
01:15:41Mas, enfim,
01:15:42basicamente,
01:15:44existe um...
01:15:45É, o gato não está
01:15:46preocupado com o futuro.
01:15:48O gato não vive
01:15:48pra realizar utopias,
01:15:51ou sistemas políticos,
01:15:53ou pra...
01:15:54Ou está preocupado
01:15:55com esquerda e com direita.
01:15:56O gato apenas está ali.
01:15:58O momento é agora, né?
01:15:59Eu acho que é uma das coisas mais...
01:16:01Tem um lance ousado
01:16:02desse livro.
01:16:04Ousado por um cara...
01:16:05Um filósofo, né?
01:16:06Porque ele foi professor
01:16:08de pensamento europeu
01:16:10na London School of Economics.
01:16:13Agora está aposentado.
01:16:15Já há uns bons anos.
01:16:16Acho que uns 10, 15 anos
01:16:17está aposentado.
01:16:19E tem um lance
01:16:20que eu acho que é ousado ali
01:16:22que ele diz, assim,
01:16:23que a consciência
01:16:24é supervalorizada.
01:16:26Você diz,
01:16:26não,
01:16:27você pode...
01:16:27Ele diz, assim,
01:16:28você pode objetar
01:16:29que as qualidades todas
01:16:30que eu estou atribuindo
01:16:31ao gato, né?
01:16:34Enfim,
01:16:35uma certa indiferença dele,
01:16:36assim,
01:16:37em relação às coisas
01:16:39que de fato não pode mudar,
01:16:40o gato está ali
01:16:41vivendo o momento,
01:16:43e isso é uma das coisas
01:16:45que a gente podia aprender com ele,
01:16:46que ele é assim
01:16:49apenas porque o gato
01:16:49não tem raciocínio.
01:16:51O gato não tem raciocínio,
01:16:51não tem a cognição
01:16:52que nós temos, né?
01:16:54E ele defende que,
01:16:55na verdade,
01:16:56essa qualidade humana
01:16:57é supervalorizada.
01:16:59Essa qualidade
01:16:59que distingue
01:17:00a humanidade
01:17:01de todas as espécies
01:17:02é supervalorizada.
01:17:05Se o gato,
01:17:06por um milagre,
01:17:07se pudesse
01:17:07dotar o gato,
01:17:09né?
01:17:10Conceder a ele, né?
01:17:12Uma consciência,
01:17:13ele seria do mesmo jeito.
01:17:14Ele seria?
01:17:15Do mesmo jeito.
01:17:16O Dudu tem gatos, né?
01:17:17Você tem também?
01:17:18Eu tenho três gatos.
01:17:19dos Teixeira?
01:17:20Eu tenho três gatos.
01:17:21Eu tenho três gatos
01:17:22e uma cachorra gaúcha.
01:17:23Que beleza.
01:17:24Que tem uma boa história também, né?
01:17:26Tem, tem, tem.
01:17:27É uma refugiada climática.
01:17:31Tá acabando o tempo, produção?
01:17:33É isso?
01:17:33Do programa todo?
01:17:35Um minuto e meio
01:17:35pra gente acabar.
01:17:36Dessas entrevistas
01:17:37com escritores,
01:17:38teve alguma declaração
01:17:39assim que mais marcante
01:17:40sobre a vida deles,
01:17:43a rotina,
01:17:45alguma obra,
01:17:46alguma crítica?
01:17:47Eu não lembro.
01:17:50Eu não lembro
01:17:52do que eu escrevi
01:17:53na última coluna da Cruz Ué.
01:17:54Tanto mais
01:17:54que as pessoas
01:17:55que entrevistei.
01:17:56Essa vida boêmia, hein?
01:18:00Deve ser um Alzheimer
01:18:01precoce.
01:18:02Que isso.
01:18:03Agora, você detonou
01:18:04alguns livros também.
01:18:05Eu me lembro
01:18:06de críticas mais duras.
01:18:07Sim, sim.
01:18:07Sim, sim.
01:18:09E algum te marcou
01:18:11negativamente?
01:18:13Teve um autor,
01:18:14não posso dizer quem,
01:18:15que ficou irritado.
01:18:17Eu já publiquei
01:18:18alguns livros também
01:18:19e já recebi
01:18:19críticas negativas, né?
01:18:21Mas teve um autor
01:18:23em particular
01:18:24que ficou...
01:18:25Deu várias entrevistas
01:18:26depois, né?
01:18:27Porque...
01:18:28Porque o Jerônimo...
01:18:28Porque o Jerônimo,
01:18:29não sei o quê.
01:18:30E tinha a fantasia
01:18:31de que o chefe meu
01:18:33teria pautado aquele livro.
01:18:34O chefe nem tinha ideia
01:18:35do livro aquele.
01:18:36Ah, sempre tem
01:18:37uma conspiração profissional.
01:18:37Eu tenho conspiração.
01:18:38Claro, porque se você
01:18:40ser atacado pelo Jerônimo,
01:18:41ser atacado pelo Jerônimo
01:18:42não é nada, né?
01:18:43Ser atacado pela redação
01:18:45de vejo, né?
01:18:46Aí, de repente,
01:18:48você se torna perseguido.
01:18:50Mas ele se tornou
01:18:51um grande autor
01:18:52extraordinário
01:18:53e a sua crítica...
01:18:54Não, não, não.
01:18:55Você acabou com a carreira...
01:18:57Não, também não.
01:18:58Também não.
01:18:58Acho que a crítica
01:18:59não tem mais esse poder
01:19:00hoje, não.
01:19:01É.
01:19:02Hoje...
01:19:03Muita gente escreve,
01:19:04muita gente fala bem,
01:19:05fala mal,
01:19:06mas o mercado
01:19:07é outra coisa, né?
01:19:08As pessoas podem vender,
01:19:09podem fazer sucesso
01:19:09dentro da sua bolha,
01:19:10do seu público.
01:19:11E nós temos
01:19:13o nosso público aqui,
01:19:14o Antagonista também,
01:19:15apesar de todos os ataques.
01:19:17E você pode ler mais
01:19:19Jerônimo Teixeira
01:19:20na revista Cruzói,
01:19:20entre vários outros cronistas
01:19:22e as nossas reportagens especiais
01:19:24que saem toda semana
01:19:25na sexta-feira de manhã.
01:19:27Muito obrigado,
01:19:27Jerônimo Teixeira,
01:19:28por esse papo cultural
01:19:30aqui na semana do Carnaval.
01:19:32Valeu, Duda.
01:19:33Valeu, bom Carnaval.
01:19:34E agora tem mais.
01:19:35Papo Antagonista
01:19:36às 18 horas,
01:19:39das 18 às 19h30.
01:19:41Bom Carnaval para todos,
01:19:42juízo,
01:19:43mas divirtam-se também.
01:19:45Tchau.
01:19:45Meu filho construiu a narrativa
01:19:47para destruir ao inimigo.
01:19:49Que vingança.
01:19:50Estou aqui para me vingar
01:19:51dessa gente.
01:19:52Pretendo beneficiar
01:19:53o filho meu, sim.
01:19:54Confesso publicamente
01:19:55que eu votei no Lula.
01:19:56Legenda por Sônia Ruberti